— Ugh, que droga…
Alinhados diante de Mia e seus amigos estavam os membros dos Corvos Brancos firmemente amarrados, embora fosse provável que o único para quem a corda era necessária fosse Jem, que continuava a encará-los com um desafio odioso. Mia o observou silenciosamente por algum tempo antes de se virar para Abel.
— Abel… e Sion também. Tenho um pedido. Vocês poderiam… poupar a vida dessas pessoas?
Abel mal se surpreendeu ao ouvir seu apelo. Na verdade, ele quase esperava por isso.
Tive a sensação de que era isso que ela pediria.
Os Corvos Brancos haviam conspirado para derrubar uma monarquia inteira. Ao contrário do resto dos Corvos do Vento, que limitavam suas atividades à coleta de informações, esses radicais haviam montado um ataque direto. Sentenciá-los à morte seria um ato de misericórdia. Se não fossem atores estrangeiros, toda a sua família e parentes poderiam muito bem ser mortos como punição.
Apesar disso, Mia implorou por suas vidas. Em circunstâncias normais, não haveria como ele atender ao seu pedido. Deveria ser impossível, e ainda assim… ele não pôde deixar de ponderar.
Se fosse a Princesa de Tearmoon quem pedisse, será que o Pai ouviria?
Ele sabia que o Rei de Remno tinha uma fraqueza por garotas que lhe pediam coisas.
Quanto aos agentes de inteligência… Vai ser preciso um pouco de convencimento, mas a melhor concessão que consigo arrancar dele provavelmente será o banimento imediato do reino. Na verdade, o maior problema são os locais que se envolveram nas atividades revolucionárias. Aqueles que apenas foram apanhados na febre podem escapar com uma boa chicotada, mas não há como Lynsha e Lambert saírem ilesos disso…
Ele olhou para Mia, imaginando o que ela pensava sobre as circunstâncias dos irmãos. Ele não tinha certeza do que poderia ser feito, mas também não se sentia particularmente preocupado. Mia, ele sabia, sem dúvida já havia considerado tais questões.
Sion era da mesma opinião. Tendo sido recentemente repreendido por Mia, ele viu isso como uma extensão de seus ideais. Ela estava tentando dar a essas pessoas a chance de se redimirem — de se recuperarem. Suas ações até agora, de fato, eram prova clara dessa intenção. Se as ações dos Corvos Brancos tivessem levado a uma briga sangrenta que ceifou a vida de inúmeras vítimas, seria impossível poupar a vida de qualquer uma dessas pessoas. Além disso, as tensões teriam se acirrado entre Remno e Sunkland, e a guerra seria inevitável. Uma vez que chegasse a esse ponto, não haveria como voltar atrás.
Mas não chegou. Houve apenas danos limitados, e as consequências deveriam ser mínimas. No mínimo, não deveria ser ruim o suficiente para levar Remno a declarar guerra a um oponente do tamanho de Sunkland. Dependeria de como as negociações correriam, mas eles provavelmente conseguiram, ainda que por pouco, evitar que a panela fervesse. O pedido de Mia poderia ser o prato final desta longa e angustiante refeição, o auge de todos os seus esforços.
Não tenho escolha… Não há nada que eu possa fazer… Estas são palavras dignas apenas dos lábios daqueles que fizeram todas as tentativas para efetuar a mudança.
Mia fez essas tentativas. Ela fez o seu melhor. Então…
Cabe a mim utilizar todos os recursos ao meu alcance para ver suas palavras transformadas em ações.
Como um colega beneficiário de sua misericórdia redentora, era o mínimo que ele podia fazer, mas para conseguir isso, ele teria que lidar com muitos interesses muito frágeis.
Supondo que Remno se contente com a pena mais branda de banimento, Sunkland acharia difícil executá-los por medo da repercussão; cheiraria a um encobrimento. Se o Príncipe Abel cuidar da persuasão em Remno, a questão é como devo lidar com os Corvos do Vento em retribuição…
— Hah, acabei de ouvir você dizer que não vai nos executar? Estou enlouquecendo ou vocês todos estão enlouquecendo? Ou o quê? Estão planejando nos torturar ou algo assim? — Jem soltou uma gargalhada lamentosa. — Vão em frente. Façam o seu pior. Não vão tirar uma palavra de mim.
Sion franziu a testa. Algo na voz estridente e desdenhosa do homem o irritava.
Tortura, hã… Vejo que a princesa acha que ele ainda está nos escondendo algo.
Apenas Dion estava pensando em uma direção completamente diferente. Tendo sido informado sobre certos tópicos antes de vir aqui, ele tinha uma visão única da situação. Algo sobre os Corvos do Vento não lhe parecia certo — especificamente, sua mudança para Corvos Brancos. O que antes era uma agência passiva se transformou em uma consideravelmente mais agressiva, e o homem por trás dessa metamorfose estava bem ali na frente dele.
Esse cara, Jem… Definitivamente há algo de suspeito nele.
Ele não parecia temer a tortura. Na verdade, ele os desafiou a fazer o pior. Isso não seria uma postura muito surpreendente se estivessem lidando com alguém que jurou lealdade à sua nação. Espiões, em particular, precisavam ter uma bússola firme de lealdade em seus corações. O que Dion ouviu na voz de Jem, no entanto, não era mera lealdade. Era outra coisa. Se ele tivesse que colocar em palavras, seria…
Fanatismo. O tipo de paixão louca que apenas os verdadeiros crentes de alguma causa maior podem reunir.
Ele olhou para Mia, formando sua própria hipótese. Por que ela estava pedindo que esses homens fossem poupados? Tinha que ser porque ela havia farejado a toxina sob a podridão. Os Corvos do Vento haviam se rebelado, mas não o fizeram sozinhos. Havia uma intenção por trás de sua corrupção; uma mão nas sombras os empurrando.
Aquela garota pode ser estranhamente perspicaz às vezes. Ainda assim, ele mesmo disse, esse cara vai ser um osso duro de roer. Eu me pergunto o que está se formando naquela cabecinha dela… Ou, heh, talvez a grande reviravolta seja que não há nada se formando lá em cima…
Dion estava certo. Pelo menos sobre a última parte. E todos vocês já deveriam ter previsto isso. Mia tinha um desejo, ela o fez, e foi até onde chegou. Ela não havia pensado em como isso deveria acontecer de fato. Sem mencionar que até mesmo o dito desejo era resultado de sua dedicação inabalável à sua política “Mia Primeiro”…
Isso mesmo. Enquanto Abel e Sion acreditavam, sem sombra de dúvida, que Mia era a benevolência encarnada, eles estavam redondamente enganados. Obviamente, não foi a compaixão que a levou a pedir que os culpados fossem poupados. Mia não era santa, e também não tinha exatamente um coração grande. Na verdade, era do lado pequeno e tinha uma tendência embaraçosa a grasnar. Como qualquer outra pessoa, ela ficava com raiva quando injustiçada, e agora, ela estava olhando para um bando de pessoas que a haviam injustiçado muito. Estes eram os mesmos homens cujas ações a levaram à guilhotina da primeira vez. A última coisa que ela queria era ajudá-los. Ao contrário de Dion, no entanto, ela não suspeitava que estivessem retendo informações. Então, por que, você provavelmente está se perguntando, ela fez esse pedido? Bem, é porque havia uma preocupação particular que não parava de a atormentar, e essa preocupação era…
E se a mesma coisa acontecer com eles? Quer dizer, eu tive uma segunda chance na vida. É possível que eles também tenham uma segunda chance?
Tendo ela mesma saltado no tempo, não podia negar que havia uma chance de que outras pessoas também pudessem fazê-lo.
Se sim, então quais são as condições necessárias para que isso aconteça?
Não estava claro, e como ela não sabia ao certo, teria que fazer suposições com base em suas próprias experiências. Por exemplo, ser morto no mesmo dia, na mesma hora e no mesmo lugar poderia resultar na mesma ocorrência. Ou talvez tivesse algo a ver com morrer na guilhotina, ou mesmo morrer com arrependimentos.
Se as pessoas envolvidas nesta conspiração forem executadas… poderia acontecer com elas também?
Pensando mais adiante, se matar esses homens da mesma forma que ela foi morta lhes desse uma segunda chance na vida, o que aconteceria? Tudo o que ela havia feito poderia ser em vão. Todo o trabalho duro que ela teve para mudar o curso da história poderia muito bem ser revertido.
D-De jeito nenhum. Eu não vou voltar para a guilhotina! Eu me recuso!
Era um sentimento que a acompanhava desde seu salto no tempo, tão vívido agora quanto fora então. No entanto, ela estava ciente de que algo mais havia florescido dentro dela — algo mais forte, que ela sentia com ainda mais paixão.
Mas essa não é a única razão… Eu não quero voltar… porque gosto daqui. Desta linha do tempo. Deste… agora.
Ela olhou ao redor. Para as pessoas. Para a cena. Tentou absorver tudo. Era um pouco avassalador. Havia seu antigo inimigo, Sion. Havia seu assistente, Keithwood. Havia até mesmo o homem que havia pessoalmente cortado sua cabeça, Dion… Ao lado dele, Abel, que fora pouco mais que um estranho… Tiona, cuja ajuda lhe permitira chegar tão longe… Chloe e Rafina…
Enquanto antes ela não tinha ninguém ao seu lado além de Anne e Ludwig, agora estava cercada por um círculo inteiro de amigos. Era como se ela tivesse entrado em um mundo alternativo — um que a acolhia de braços abertos. Ela gostava daqui. Gostava muito mais do que imaginara ser possível. E isso a fez parar para pensar. Ela percebeu que, no fundo, estava realmente esperando que até mesmo Sion e Tiona continuassem ao seu lado, e não tinha certeza de como se sentia sobre isso.
N-Não me entenda mal, ok? N-Não é como se eu estivesse começando a gostar de vocês ou algo assim! Só para deixar claro!
Sempre que Mia não se sentia confortável com suas próprias emoções, ela recorria a seu mecanismo de enfrentamento testado e aprovado — uma explosão tsundere em sua própria cabeça.
Além disso, deve-se mencionar que Dion era a única pessoa por quem sua opinião não havia mudado.
E-Eu preferiria não chegar mais perto dele do que o necessário, para ser honesta…
Havia uma plataforma à qual Mia se agarrava, e era o Anti-Dionismo.
— Abel, sei que isso lhe causará muitos problemas, mas… — disse ela, terminando a frase hesitantemente.
Abel mostrou-lhe um sorriso cansado e balançou a cabeça.
— Com certeza vai. Mas tudo bem. Sem você, esta crise nunca teria sido resolvida tão pacificamente. Você fez sua parte. Agora, deixe-me fazer a minha. Vou descobrir uma maneira de convencer meu pai.
— Mas… — Sion deu a Mia um olhar inquisitivo. — Se suas vidas forem poupadas, o que você planeja fazer com eles?
Era uma pergunta muito boa — uma para a qual Mia não tinha resposta. Ela lançou a Sion um olhar desentendido e piscou algumas vezes.
— Hm… O que eu vou fazer com eles?
Honestamente, ela não se importava muito, desde que fossem deixados vivos.
Aprisione-os em Remno e eles provavelmente serão mortos. Assassinos ou algo assim. Aprisione-os em Sunkland e Remno provavelmente fará um escândalo. Acho que posso levá-los comigo para Tearmoon, mas…
Foi quando Jem deu uma risadinha.
— Ah, cara, vocês, crianças, vão mesmo nos deixar viver? Vocês com certeza são um bando de santos, não são?
Mia franziu a testa. O sorriso dele quase a fez querer chutá-lo novamente.
Esse cara está começando a me irritar.
Ao contrário de Sion, sua irritação resultou em um flash de inspiração. Um plano brilhantemente ardiloso surgiu nela. Ela ia se vingar, e sabia exatamente como faria isso!
— Sim, nós somos. Na verdade, somos tão santos que vamos deixá-los aos cuidados da própria Dama Sagrada. Vocês podem passar três anos inteiros sendo sermoneados pela própria Senhorita Rafina todos os dias. Agora, isso não parece maravilhoso?
A ideia foi bem recebida por Sion e Abel, e ambos assentiram para ela. Objetivamente falando, era na verdade uma proposta decente. Belluga era, na verdade, o lugar menos contencioso para colocar essas pessoas. Dion murmurou algo sobre deixá-los escapar com muita facilidade, mas até ele falou com mais humor do que hostilidade.
Os Corvos Brancos encararam Mia com olhares perplexos, como se ela tivesse acabado de contar uma piada particularmente densa. Havia apenas uma pessoa cuja reação foi diferente.
— V-Vá se foder! Você não ousaria!
Apenas Jem gritou em protesto, com os olhos arregalados e os dentes à mostra. Seu rosto parecia um pouco mais pálido do que antes. Sua confiança outrora irritante havia desaparecido, substituída por um pânico crescente. Mia espelhou o sorriso desdenhoso que ele usara de volta para ele.
— Ora, que estranho. Quem foi que disse que a tortura não ia funcionar? E quem foi que disse que eu podia fazer o meu pior? Não foi você?
Bem feito!
Apesar da risada triunfante de Mia, ela não compreendia totalmente as verdadeiras implicações de sua proposta. Nem em seus sonhos mais loucos ela imaginou que essa sua decisão lançaria o primeiro feixe de luz no armário escuro da história e começaria a expor os esqueletos que jaziam escondidos em suas sombras.
E assim, a série de distúrbios que abalou Remno começou a se dirigir para a resolução. A nuvem de incerteza que pairava sobre os destinos de Lambert e Lynsha também se dissipou, pois os dois irmãos — juntamente com todos os membros centrais do exército revolucionário — receberam clemência. O crédito por isso pertencia a Ludwig que, tendo passado por seu processo usual de deduzir as intenções de Mia e chegar à conclusão correta, havia se dirigido ansiosamente à capital real para solicitar seu perdão. Ele argumentara que culpar o próprio povo de Remno, de certa forma, lançaria Sunkland sob uma luz mais simpática. Em vez disso, focar toda a culpa em Sunkland lhes permitiria extrair mais concessões durante a negociação. Sua lógica se provou persuasiva, e o Rei de Remno seguiu seu conselho.
Assim concluiu-se o incidente, permitindo que a brigada de Mia voltasse para casa. Ao chegar à academia, Mia enfrentaria o desespero das provas de meio de período, mas essa história lamentável terá que ser contada em outra ocasião.
Tradução: Gabriella
Revisão: Matface
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