O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 118 – O Casamento Negro (4)

 

O cenário foi concluído. Este mundo, a História da Academia Sormwin, agora era oficialmente parte da Torre, e os Caçadores podiam explorá-lo. Ainda assim, eles não podiam fazer isso livremente. As Cinco Guildas certamente filtrariam suas viagens primeiro, como um Caçador comum precisava obter uma permissão para entrar no Império Aegim.

Em outras palavras… 

Whoosh! 

Não muito tempo depois que o anúncio do cenário concluído foi feito, luzes brancas brilharam.

Whoosh! Whoosh!

Luzes explodiram de diferentes direções no local do casamento, Caçadores estavam se teletransportando.

— Rei da Morte! Não, Kim Gong-Ja!

Quando a luz diminuiu, vi rostos familiares. Eram os líderes das principais guildas que podiam viajar entre os andares à vontade sem permissão. Uma delas era a Bruxa Negra, a Caçadora Rank 2.

Ofegante, ela exclamou: 

— Como você pode se casar sem nos contar?! Eu me oponho a este casamento!

Permaneci em silêncio. 

— Você representa a Torre, Rei da Morte! O casamento deveria ser realizado em Babilônia, o primeiro andar da nossa Torre, não aqui! Deveria ser transmitido ao vivo para o mundo inteiro! Isso não conta! Este casamento não conta de forma alguma!

Ela não foi a única a falar.

Espada do Luar, o Caçador Rank 1, pigarreou. 

— Ahem. Antes de mais nada, parabéns por concluir este cenário, Rei da Morte. Falo sério. Você conquistou a Duquesa de Ivansia bem rápido. Sei que é rude dizer algo assim aqui, mas como seu sênior, me deixe apenas dizer…

— Não — balancei a cabeça.

O Espada do Luar ficou quieto, tentando suavizar sua natureza boomer ao interromper seu sermão.

— As pessoas na Torre enlouqueceram enquanto você estava concluindo o cenário, imaginando por que vocês dois se apaixonaram. Mas eu fiquei do seu lado, Rei da Morte. Amor à primeira vista é conhecido apenas por aqueles que o experimentaram. Não se preocupe. Eu entendo. Deixe a Mestra do Dragão Negro comigo, eu falo com ela.

A Paladina parecia composta como sempre, mas estava com o nariz ligeiramente erguido por algum motivo. Ela parecia dizer sutilmente que entendia como eu percebia o conceito de amor. No entanto, eu não tinha certeza do que ela queria dizer exatamente

Olhei para Raviel, que parecia impassível. No entanto, porque a amava, eu podia ver os brilhos de interesse em seus olhos vermelhos enquanto ela observava o grupo de recém-chegados.

— Gong-Ja. Meu amor.

— Sim, meu amor…

— Parece que muitas apresentações são necessárias.

Ela estava certa. Era um pouco tarde, mas era hora de eles se conhecerem.

Eu achava natural que as famílias e conhecidos do noivo e da noiva se encontrassem antes do casamento. No entanto, havia diferenças culturais aqui também. No Império, era o contrário.

— Não é natural? — Raviel inclinou a cabeça. — Muitos membros da família vivem longe, no interior, mas mesmo eles são convidados para um casamento quando tal evento ocorre. A noite do casamento é quando a noiva, o noivo e os membros de ambas as famílias finalmente se encontram.

— Ah, você está certa.

Fui convencido. Sim, o casamento também era uma união de famílias. Os Caçadores haviam escapado do mundo exterior, então famílias estavam fora de questão. No entanto, era diferente no Império. A vontade de uma família era muito mais importante do que a de um indivíduo.

Nosso casamento era mais do que uma união entre famílias. Ele transcendia mundos. Raviel representava o Império, assim como eu representava a Torre.

— Haha… — O chefe dos mordomos imperiais – meu pai adotivo – sorriu amargamente o tempo todo. — Nunca imaginei que as coisas tomariam esse rumo… não sei quantos pombos enviei para Sua Majestade hoje. Agora nem sei mais o que escrever nas minhas cartas.

— Sim, é compreensível, mas nunca foi nossa intenção confundir as pessoas do Império aparecendo sem aviso — respondeu a Bruxa Negra. Ela estava extremamente calma, aparentemente nunca tendo ofegado contra mim.

As pessoas no poder do Império e da Torre se sentaram lado a lado à mesa. Eles estavam cautelosos, porém igualmente perplexos uns com os outros.

— Mas acredito que isso é uma sorte acidental, não uma desgraça. Nós, da Torre, conseguimos chegar ao Império e conhecer todos vocês pela primeira vez nesta ocasião alegre.

Ainda assim, eles superaram sua cautela e perplexidade para conversar.

— Vocês estão dizendo que todos são de outro mundo, sim? Este não é apenas um fenômeno incomum que será difícil de explicar a Sua Majestade, mas também não pode ser facilmente anunciado ao público.

A Bruxa Negra assentiu. Ela parecia acostumada a reuniões diplomáticas como essa, ciente de como pisar na linha para ser educada e competente. 

— Sim, entendo completamente as razões do Império. No entanto, senhor, vocês devem ter testemunhado a invasão de seres de outros mundos. Se uma pessoa nega a realidade, a realidade algum dia a negará em retorno. Esse é o futuro que me preocupa.

— Esse é um bom ponto.

— Obrigada, senhor. O que temos que trabalhar daqui para frente é o entendimento mútuo, mesmo que leve cinco, dez, vinte anos ou mais.

Ambos os lados conversavam calmamente. Era inerentemente difícil para pessoas no poder se reunirem em um só lugar. No entanto, nosso casamento tornou isso possível. Raviel tinha controle sobre as pessoas no Império, e eu tinha a confiança total das pessoas da Torre. Nosso casamento era uma grande bênção para ambos os lados. O início da nossa vida de casados não poderia ter sido melhor.

Sentado à cabeceira da mesa com Raviel, estendi a mão por baixo dela e segurei sua mão. Ela entrelaçou seus dedos com os meus como se fosse a coisa mais natural do mundo. Esse simples gesto foi suficiente para me tranquilizar.

Era tarde da noite, e as estrelas estavam brilhantes. Enquanto as pessoas conversavam ao lado das velas que balançavam na mesa, não pude deixar de achar tudo belo.

— Raviel.

— Fale. — Ela sussurrou.

— Há algumas pessoas que gostaria de apresentar a você, Raviel.

— Além das que estão aqui?

— Sim.

— Então devo conhecê-las. — Raviel se levantou da cabeceira da mesa. As pessoas do lado do Império ficaram em silêncio. — Temos uma longa noite pela frente hoje. Tomem seu tempo para conversar. Vou sair por um momento e conhecer as pessoas do meu consorte.

Ela era certamente a Duquesa de Ivansia. Ninguém podia impedi-la de sair. Se sair quando quisesse era um sinal de poder, minha esposa desfrutava de onipotência aqui.

Levei Raviel até onde todos os seguidores do Culto do Demônio Celestial estavam sentados em grupos.

O Rei Demônio da Espada gargalhou enquanto levantava seu copo. 

— Oh, Jovem Céu! Você é um recém-casado agora!

Todos os seguidores do Culto estavam bêbados com o álcool fornecido no casamento. Quando o Rei Demônio da Espada me viu, ele se levantou e tentou me cumprimentar, mas eu o dispensei com um aceno. Os cultistas ofereceram sua saudação bao-quan em seus assentos.

— Parabéns!

— Ofereço meus mais sinceros parabéns, Senhor Jovem Céu!

— Gosto do licor daqui! É único e tem um ótimo sabor!

— Vida longa ao Demônio Celestial!!

— Wow, vocês dois realmente ficam ótimos juntos!

Com quase mil cultistas enlouquecendo, o local do casamento rapidamente ficou barulhento. Não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.

Sorri amargamente. 

— Rei Demônio da Espada, venha aqui por um momento.

— Hã? — O Rei Demônio da Espada piscou sem expressão, segurando seu copo. Ele parecia não esperar que eu o chamasse.

Os outros seguidores bêbados ao seu redor riram.

— Viu? Eu sabia que o Senhor Jovem Céu daria uma bronca nele algum dia!

— Aquele idiota sempre esquece de adicionar “senhor” ao chamar o Senhor Jovem Céu.

— Acaba com ele, Senhor Jovem Céu!

O Rei Demônio da Espada colocou seu copo no chão e se aproximou hesitantemente. O espírito que ele tinha quando decapitou o general do exército de fantasmas havia desaparecido completamente. Ele encolheu como uma criança que cometeu um erro.

— E-eu sinto muito, Jovem Céu. Nunca fui do tipo acadêmico, então realmente não sei como funciona o discurso formal. Ainda assim, penso muito bem de você…

Enquanto o Rei Demônio da Espada continuava com suas desculpas, coloquei a mão em seu ombro. 

— Raviel, este é o Rei Demônio da Espada.

— …

— Ele é subordinado da minha Mestra. Ela era a líder do Culto do Demônio Celestial. Dentre os cultistas, ela selecionou quatro pessoas particularmente notáveis e as chamou de Quatro Reis Demônios. Ele é um deles.

— Oh. — Raviel observou cuidadosamente o Rei Demônio da Espada, que se encolheu em resposta. — Ele parece um homem simples, porém genuíno. Sua maneira de falar é rústica, e seu comportamento é inabalável. Isso prova que sua Mestra não julgava as pessoas com base nas aparências. Considerando que ela encontrou um indivíduo valioso em um lugar áspero e estéril, ela deve ter sido uma pessoa nobre.

— …

— Meu nome é Raviel Ivansia. Sou a Duquesa do Império e a esposa do Jovem Céu que você serve. Espero que nos demos bem.

— Sim, sim. Hm… prazer em conhecê-la…?

Virei a cabeça. 

— Rei Demônio do Luar.

— …

— Por favor, venha aqui.

Um dos cultistas se levantou e então fez uma reverência educada. 

— Sim, Senhor Jovem Céu.

Um silêncio bizarro caiu sobre o céu noturno. O falatório bêbado diminuiu. Um a um, chamei os Quatro Reis Demônios, e todos cumprimentaram Raviel com a máxima polidez.

Então, chamei a pessoa que acreditava que deveria ser apresentada em seguida. 

— Preta.

— Sim, Mestre.

— Venha aqui.

— Tudo bem.

Preta, que estava sentada entre os cultistas, se levantou. Ela parecia estar esperando pelo meu chamado. Suas roupas estavam impecáveis.

— Esta é Preta. Ela nasceu como um monstro sem nome com a habilidade de doppelganger. Ela podia imitar o que havia comido. No início, Preta devorava animais como sapos e cobras, mas então acidentalmente comeu um humano, e…

Preta manteve a cabeça baixa. Seus ombros tremiam levemente de vez em quando. O silêncio bizarro continuou no local enquanto eu contava a Raviel suas histórias e, por extensão, a minha própria.

Eu estava recontando silenciosamente as histórias dos meus seguidores sob o céu noturno. Isso, por si só, era sagrado.

— E… Ah, sim — tirei a espada sagrada do meu cinto. — Esta é Brilhinho.

— Brilhinho? — perguntou Raviel.

— Sim, seu nome verdadeiro é um pouco melhor que isso. Ela é a Deusa da Proteção, mas um cara mau a enganou e a selou nas espadas. Achei que seu nome verdadeiro era um desperdício para ela, então apenas a apelidei de Brilhinho. Bem, ela brilha… muito intensamente…

— Entendo. — Raviel riu baixinho. — O apelido que você deu é um pouco cruel. É duro. Se dependesse de mim, eu pelo menos a chamaria de “Luminária”.

[Brilhinho jurou lealdade à sua esposa!]

Brilhinho rapidamente mudou de ideia sobre a quem era leal.

Finalmente, apresentei o Guardião, meu parceiro.

— Mmm… Eu também tenho um amigo que você provavelmente nunca conseguirá ver ou conhecer de forma alguma. Ele está em uma situação um pouco incomum que o impede de aparecer na frente de outras pessoas. Ele xinga como um marinheiro, cerca de trinta vezes mais que o Rei Demônio da Espada. Mas ele é muito forte. Foi o primeiro a me ensinar como usar minha espada e aura.

Sorrindo levemente, Raviel assentiu. 

— Ele parece uma ótima pessoa para ter na sua vida.

Vestindo um uniforme de artes marciais surrado como de costume, o Guardião permaneceu em silêncio, com os braços cruzados. Em vez de falar como fazia normalmente, ele apenas olhou para Raviel e para mim em silêncio.

— Se não fosse por ele, provavelmente não teria conseguido suportar meu tempo sozinho.

— Entendo. Então é justo que eu expresse minha gratidão a esse amigo. — Raviel fez uma reverência, mesmo sem ver ninguém à sua frente. — Fiquei feliz após conhecer Gong-Ja. Se você, amigo dele, não o tivesse ajudado, minha felicidade não teria sido possível. Sou grata por toda a sua ajuda, pois trouxe Gong-Ja até este momento.

— Ele é um tremendo maluco, então, por favor, cuide bem dele.

Em seu nome, eu disse 

— Se esse amigo tivesse te ouvido, ele provavelmente teria pedido para você cuidar bem de mim porque sou um maluco.

— Você tem um amigo maravilhoso.

Respirei fundo. 

— Raviel, eles são meu tudo.

Essas eram todas as pessoas que eu amava. Elas haviam passado pela porta do meu coração e se tornaram minha família.

Raviel segurou minha mão com força. 

— Meu amor.

— Sim.

— Vamos dançar — pediu Raviel, seus olhos sérios.

Eu nunca poderia dizer não a ela quando ela me olhava assim.

— Nunca dancei de verdade antes.

— Você ainda deve ter algumas das memórias do mordomo. Use-as.

— E se eu acidentalmente pisar nos seus pés, Raviel? Eu prefiro me matar.

Em vez de responder à minha pergunta, Raviel se abaixou e tirou seus sapatos pretos. Um momento depois, ela pisou descalça na grama. Seus pés eram brancos. Embora tivesse apenas tirado os sapatos, ela parecia tão leve quanto o vento.

— Venha. — Ela fez um gesto para mim.

Quando hesitantemente tirei meus sapatos brancos e meias, Raviel imediatamente pegou minha mão e me guiou. Um passo. Dois passos. Ela pisou nas pétalas de flores na grama, tornando as pétalas de magnólia branca e flor de cerejeira ainda mais brancas.

Ninguém disse nada. Não havia música ou lustres encontrados em salões de baile sofisticados. Neste baile, éramos apenas nós e o luar que havia se estabelecido no jardim de flores como geada.

— Viu? — sorri enquanto dançava. — Sou um desastre. Já pisei nos seus pés três vezes. Dançar realmente não é minha especialidade. Você está planejando me envergonhar até a morte?

— Tudo bem. Vou pisar nos seus pés tanto quanto. — Raviel pisou no meu pé com todo o seu peso. Ela então riu travessamente. — Estamos quites agora.

Havia aquele sorriso que ela mostrava apenas para mim. Ela era minha joia vermelha, meu coração e minha música.

Um lustre de luar brilhava sobre nossas sombras.

Nossa dança não era sobre não pisar nos pés um do outro. Mesmo que o fizéssemos, não nos soltávamos até o fim. Nossa dança era sobre sorrir diante de qualquer infortúnio, mesmo que fosse um sorriso fraco, e então encontrar consolo nos olhos um do outro.

Sim. Eu pertencia apenas a Raviel, e ela era apenas minha.

Nós dançamos. O luar iluminava nosso entorno, compondo o salão de baile para mim e Raviel. Com apenas nós dois, qualquer mundo era nosso palco. Hoje nos casamos, e nossa próxima história começaria em um palco ligeiramente mais alto.