Eu tratava minha morte como as pessoas gerenciavam suas vidas diárias. Desde o início, era um pouco mais fácil para mim morrer do que o normal – eu podia cobrir meu cérebro com minha aura e explodi-lo. Dessa forma, encerrava minha vida instantaneamente e sem dor. Era fácil e simples, exatamente por isso que eu não morria assim.
Fácil. Simples. Conveniente. Quando as pessoas se acostumam a essas três qualidades, baixam a guarda. Não importa quão afiada seja a mente de alguém, ela enferrujará algum dia.
A razão pela qual consegui matar o Imperador das Chamas foi que ele se tornou complacente.
Para manter meus sentidos e julgamento afiados e frescos, eu persistentemente escolhia uma morte mais dolorosa. Minha adaga era sempre confiável. Era assim que fazia, mas hoje seria diferente.
— Está tudo bem. Vai acabar bem rápido. — Lentamente, liberei minha aura na mão de Lady Lírio de Prata.
As sobrancelhas dela se ergueram com a sensação incomum da minha aura vermelha se infiltrando.
— …É quente.
— É mesmo?
— Parece que água quente está se infiltrando nas minhas veias. Se essa é a temperatura do seu corpo, você é um pouco mais quente que eu, mordomo. — Lady Lírio de Prata olhou nos meus olhos. — …Estou nervosa. Nunca me senti assim em nenhuma das minhas regressões até agora, porque eu estava bem contanto que não me perdesse. Mas… hoje, não quero te perder. Se eu regredir primeiro e você não se lembrar de mim…
Se os murmúrios de Lady Lírio de Prata me deixavam feliz, eu era um babaca? Ela estava nervosa por minha causa, e eu estava feliz. Sim, provavelmente eu era um babaca.
— Não se preocupe. Estarei com você. — A tranquilizei.
Mas eu era o babaca dela e somente dela.
O mundo estava sendo destruído ao nosso redor enquanto nos aquecíamos no calor um do outro. Com um estrondo, o chão se abriu, o sangue jorrando das rachaduras. Os demônios do subsolo, as invocações de Lady Lírio de Prata, agora corriam soltos, livres do seu controle. Havia tantos quanto gotas d’água no oceano, e cada gota era tão grande quanto uma montanha.
Gritos ecoavam ao longe.
— Ahhhhhhhh!
— É um demônio! Um demônio está aqui!
— Estamos amaldiçoados.
No fim dos dez dias prometidos, o ar estava cheio de gritos constantes. Como ela desejou, o amor de Lady Lírio de Prata era atemporal, mas uma Constelação incompleta não conseguia mais contê-lo. Agora, ele estava desenfreado.
No entanto, em meio a tudo isso, ela me olhava calmamente, como se seu coração ainda fosse revestido de prata.
— Não tolerarei erros.
— Entendido.
— Se você ou eu morrermos mesmo que seja um décimo de segundo antes do outro, nunca te perdoarei. Grave o que acabei de dizer no seu coração. Esta é a única chance que te darei.
— Tudo bem.
— Você…
[O Coração Prateado olha para você.]
— Você me fez confiar em alguém novamente. Assuma a responsabilidade pelo que fez.
— Eu assumirei — segurei sua mão um pouco mais forte.
Enquanto os demônios devastavam o chão, o pôr do sol se estilhaçou como um espelho, e uma enxurrada de sangue desceu, lentamente afogando o solo. O som de bolhas abafava os gritos. No entanto, o amor de Lady Lírio de Prata fora de controle não era a única razão pela qual o mundo estava chegando ao fim.
[O apóstolo da Vaca Ceifadora da Ruína apareceu.]
Eram os apóstolos de outras Constelações que ela mencionou uma vez.
[O apóstolo do Cavalo de Guerra das Planícies Eternas apareceu.]
[Os apóstolos do Pregador da Felicidade Imortal apareceram.]
Através das rachaduras no céu arruinado, seres de outros mundos estavam descendo. Neste mundo, apenas Lady Lírio de Prata, uma Constelação incompleta, permanecia, então a barreira deste mundo estava praticamente inexistente. Em vez de manter as aparências e seguir a formalidade de completar a missão, esses seres jogaram fora sua graça e aproveitaram a chance para lançar uma invasão em grande escala neste mundo.
— Sério, eles não têm ideia de como ler o clima. — Lady Lírio de Prata estalou a língua.
— Você tem razão.
Cada um deles parecia tão distinto quanto as Constelações que os enviaram. Isso facilitava lembrar suas aparências.
— Eu deveria dar uma lição neles.
— Que lição?
— Interferir no encontro de outra pessoa pode te matar.
— Gostei. — Lady Lírio de Prata sorriu. — Mas você não precisa fazer isso agora.
Ela estava certa. Não tínhamos tempo para isso agora, de qualquer forma.
— Minha lady!
O pôr do sol estava estilhaçado, e o sangue descia incessantemente. Enquanto os demônios rastejavam do subsolo, os invasores desciam do céu.
A pessoa à minha frente havia suportado tudo neste apocalipse sozinha até hoje.
— Mordomo — disse ela — Me mate agora.
O mundo agora era vermelho, exceto pelo raio de três metros ao redor do barco onde ela e eu estávamos. Inúmeras bocas surgiram e riram de nós.
Do lago tingido de vermelho, me permiti uma morte confortável pela primeira vez e acendi a aura que preenchia nós dois.
Artes do Céu Demoníaco,
Nona Forma:
Morte por Autodeterminação1O raw é 자결(自決, jagyeol). Geralmente seja traduzido como “suicídio”, o significado específico se refere a um tipo de suicídio cometido para proteger ou manter os próprios princípios, honra ou convicções. É um ato de decisão consciente e, muitas vezes, considerado nobre ou trágico em contextos históricos ou morais..
[Você morreu.]
Morremos sem a menor discrepância.
[Retrocedendo vinte e quatro horas.]

https://tsundoku.com.br
Quando abri os olhos novamente, estava encostado em uma árvore branca. A julgar pelo céu amarelo brilhante, era fim de tarde. Não era estranho que eu tivesse acordado aqui. Desde o dia em que decidi me tornar o mordomo de Lady Lírio de Prata, eu a levava para um passeio todas as tardes.
— …Você está acordado?
No momento em que estava prestes a me levantar, um sussurro fez cócegas no meu ouvido.
— Finalmente.
Olhei ao meu lado.
— Que mordomo horrível. — Lady Lírio de Prata estava de pé com as costas voltadas para o pôr do sol brilhante. Um guarda-sol estava em sua mão, e sua sombra se projetava aos seus pés.
Quando o vento soprou e bagunçou seu cabelo prateado, minha respiração foi roubada.
Funcionou? Meu coração disparou. Será que falhei?
Ainda não podia dizer, então apenas a observei. Seus dedos seguravam frouxamente o cabo do guarda-sol. Ela usou a outra mão para afastar levemente uma mecha de cabelo que o vento havia despenteado. Seus lábios estavam bem fechados, como de costume. Cada movimento que ela fazia causava um grande impacto em mim.
— Mordomo, havia uma pequena mentira no que você me disse — disse Lady Lírio de Prata, finalmente. — Você prometeu que compartilharíamos o mesmo tempo, mas eu retornei nove dias antes de você. Mesmo que não estejamos namorando de verdade, você deixou a pessoa que ama sozinha por nove dias. Você cometeu um pecado terrível.
Ah, eu consegui.
— Esperei por você por nove dias. Tive que suportar a ansiedade completamente sozinha. Você prometeu estar ao meu lado, mas falhou em cumprir sua promessa. Isso não é negligência da sua parte?
Funcionou.
— Você terá que trabalhar muito para compensar o pecado que cometeu desta vez.
Realmente funcionou.
— Hmm. Estou com sede. Mordomo, me sirva o chá que você trouxe…
Lady Lírio de Prata não conseguiu terminar suas palavras porque me levantei e a abracei. O impulso era tão forte que não consegui me conter.
O vento soprou. Lady Lírio de Prata deixou o guarda-sol cair, permitindo que ele rolasse pelo gramado.
Mesmo estando já em meus braços, não era suficiente. Mais. Com mais força. Eu sabia que o desejo vinha de uma vontade de que meu abraço alcançasse seu coração.
— Desculpe por fazer você esperar nove dias sozinha.
— Agora está tudo bem. — Lady Lírio de Prata também colocou os braços ao meu redor. — Não posso dizer que te observar, sem que você tivesse passado o último dia comigo, foi totalmente entediante.
— Você está mentindo.
— Sim, menti. Não foi nada divertido, mas está tudo bem. Sou muito boa em esperar.
— Desculpe.
— Eu te perdoo. — Lady Lírio de Prata acariciou meu pescoço.
[Seu nível de imersão no personagem aumentou.]
[Seu nível de imersão é 71%.]
Queria mostrar o quanto estava loucamente apaixonado por ela.
— Você está chorando?
— Não, não estou — enterrei minha cabeça no pescoço dela.
— Você está mentindo.
— Sim, estou.
— Odeio mentiras. Está tudo bem brincar, mas não conte uma única mentira ou mesmo insinue uma. Eu também não farei isso com você. — Ela soltou um breve suspiro.
— E você? Está com vontade de chorar?
— …
— Quando não quisermos falar, vamos exercer nosso direito de permanecer em silêncio. Não faremos perguntas nem pressionaremos um ao outro. Esperaremos pacientemente até estarmos prontos para falar.
Ela assentiu.
Eu tinha sorte por ter me apaixonado por ela. Tinha sorte por poder amá-la.
— Tenho um favor a pedir.
— O que é?
Queria perguntar se podia beijá-la, mas me contive. Também tinha sorte por não conseguir ver seu rosto agora.
— Desculpe de verdade — pedi —, mas você pode esperar um pouco mais?
— Isso é rude. Quanto mais você está me dizendo para esperar?
— Oito dias.
— Por quê?
— Sete dias
— Hã?
— Seis dias, vou encurtar um dia de cada vez até que possamos estar juntos no primeiro dia.
Após um breve silêncio, Lady Lírio de Prata sussurrou:
— …Que ousadia. Você está dizendo que vai me matar mais nove vezes.
— Doeu, por acaso?
— Não doeu. Como você disse, acabou em um instante, mas acho terrivelmente ousado que você vá tirar minha vida novamente depois de já ter feito isso uma vez.
— Posso te beijar?
Eu me sentia mal, mas não conseguia mais me conter. Lady Lírio de Prata moveu a cabeça e encontrou meus olhos. Vermelho. Lá estava a cor que eu mais amava.
— Exerço meu direito de permanecer em silêncio — respondeu ela.
Então, eu a beijei. Nos abraçamos mais forte. Minha respiração passou do meu lábio para o dela. Enquanto oferecia o calor do meu coração, liberei minha aura. Tinha sorte que a cor da minha aura também fosse vermelha.
O som das nossas respirações se misturou. E…
[Você morreu.]
[Retrocedendo vinte e quatro horas.]
No momento seguinte em que abri os olhos, Lady Lírio de Prata ainda estava ao meu lado. Não falamos. Talvez já tivéssemos falado muito, mas ela apenas segurou minha mão. E eu a beijei para estar um pouco mais perto dela.
[Você morreu.]
[Retrocedendo vinte e quatro horas.]
[Você morreu.]
[Retrocedendo vinte e quatro horas.]
Abaixei minha cabeça um pouco mais perto de Lady Lírio de Prata, que disse que seríamos para sempre linhas paralelas uma da outra. Antes que nossos tempos se sobrepusessem um pouco mais, nossos lábios se encontraram, e nos beijamos no corredor fresco da sua vila.
[Você morreu.]
[Retrocedendo vinte e quatro horas.]
E então nos encontramos no porão escuro.
[Você morreu.]
[Retrocedendo vinte e quatro horas.]
Sob as folhas brancas de magnólia, exalei silenciosamente.
— Minha lady, você escovou os dentes antes de vir aqui, não foi?
— Este parece um bom momento para exercer meu direito de permanecer em silêncio.
— Isso não é justo.
— Há dois tipos de momentos neste mundo em que o engano é perdoado. Um é quando você está em uma guerra, e o outro é quando está compartilhando amor. Além disso, nove dias, oito dias, sete dias… Você me fez esperar um total de trinta e nove dias. Um pouco de engano da minha parte ajudará a aliviar sua consciência, então seja grato.
Lady Lírio de Prata estava calculando a lacuna no nosso tempo. Quando eu morria, voltava vinte e quatro horas atrás, mas ela retornava ao primeiro dia, que era durante o baile.
— Em outras palavras, posso te beijar por trinta e nove dias…
— Você é fofo, mas cale a boca.
[Você morreu.]
[Retrocedendo vinte e quatro horas.]
Na próxima vez que abri os olhos, eu estava no quarto particular de Lady Taça Dourada no dormitório.
— Senhor Rei da Morte! — O Inquisidor, que ainda não havia se tornado Lady Taça Dourada, riu calorosamente.
Meu tempo continuava, mas o do Inquisidor não. Então, meu nível de imersão permanecia o mesmo, enquanto o nível de imersão dele era reiniciado conforme eu me aproximava do primeiro dia em que chegamos aqui.
— Lady Lírio de Prata veio nos visitar! Haha. O que você acha que a trouxe aqui tão tarde da noite? Ouvi dizer que ela fica em uma residência separada, não no dormitório. Considerando que ela veio até aqui a essa hora, algo está…
— Onde ela está agora?
— Ah, ela disse que vai esperar no jardim em frente ao dormitório.
Abri a porta e comecei a correr.
— Senhor Rei da Morte? — O Inquisidor chamou atrás de mim.
Não tinha tempo para responder. Havia alguém esperando por mim, então precisava me apressar.
Lady Lírio de Prata estava sob uma árvore de magnólia. As magnólias pareciam lótus brancos florescendo no céu noturno. Esses lótus pareciam corações sem o vermelho.
Algumas pessoas provavelmente estavam espiando o jardim pelas janelas do dormitório. Mas isso não nos impedia de nos puxarmos para os braços um do outro e nos beijarmos.
— Sabe de uma coisa? — sussurrei.
— Não sei. Me conte.
— Meu nome é Gong-Ja, e as pessoas no meu país chamam uma filha de Duque como você de ‘Gongnyeo’. Juntos, somos Gong-Ja e Gongnyeo. Claro, pode soar diferente no seu país, mas ainda assim…
— Somos um par feito no céu?
— É o que eu escolho pensar.
— Você está terrivelmente confiante sobre uma coincidência.
Ri baixinho.
— Eu te amo.
Nossos lábios se encontraram novamente, e nossas respirações se tornaram uma só. Nosso tempo se sobrepôs um pouco mais.
[Você morreu.]
Finalmente.
[Retrocedendo vinte e quatro horas.]
Abri os olhos novamente e me encontrei em um magnífico salão de baile. Lustres que lembravam salgueiros-chorões pendiam do teto. Sob eles, dezenas de jovens ladys e lordes dançavam lentamente em pares.
Este era o lugar onde nos encontramos pela primeira vez, onde o Inquisidor havia levado um tapa na bochecha. Eu estava de volta ao lugar onde o tempo dela e o meu se cruzaram pela primeira vez. Era meu primeiro dia neste mundo.
Lady Lírio de Prata e eu estávamos frente a frente no meio do salão de baile. Movi meus pés, e ela também deu um passo. Tudo aconteceu tão rápido que nem nós sabíamos quem agiu primeiro. Sob um lustre branco, onde dezenas de sombras balançavam, nossos lábios se encontraram.
Não eram necessárias palavras. Suspiros chocados ecoaram ao nosso redor, mas os ignorei. A orquestra no salão de baile parou de tocar. As jovens ladys e lordes também pararam de dançar para nos encarar, e eu os ignorei também.
Mergulhei nos olhos de Lady Lírio de Prata, em sua voz e em cada detalhe de sua existência. Encostei minha testa na dela.
— Ainda estamos no nosso Dia 1?
Lady Lírio de Prata ergueu os cantos da boca.
— Sim, é. Será para sempre o Dia 1.
— Para sempre?
— Se assim desejarmos.
Nos beijamos novamente, nos entregando ao momento como se ele durasse uma eternidade. Todo o enorme salão de baile estava completamente silencioso, exceto por nossas respirações suaves.
O Inquisidor, de pé atrás de nós, finalmente conseguiu falar.
— Hã…? Hum… perdi alguma coisa?
Ninguém conseguiu responder.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
💖 Agradecimentos 💖
Agradecemos a todos que leram diretamente aqui no site da Tsun e em especial nossos apoiadores:
- decio
- Ulquiorra
- Merovíngio
- S_Eaker
- Foxxdie
- AbemiltonFH
- breno_8
- Chaveco
- comodoro snow
- Dix
- Dryon
- GGGG
- Guivi
- InuYasha
- Jaime
- Karaboz Nolm
- Leo Correia
- Lighizin
- MackTron
- MaltataxD
- Marcelo Melo
- Mickail
- Ogami Rei
- Osted
- pablosilva7952
- sopa
- Tio Sonado
- Wheyy
- WilliamRocha
- juanblnk
- kasuma4915
- mattjorgeto
- MegaHex
- Nathan
- Ruiz
- Tiago Tropico
📃 Outras Informações 📃
Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.
Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.
Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!


Comentários