Crônicas do Bahamut Invicto – Vol. 19 – Cap. 02.6 – A Revanche Destinada

Parte 29 

— O Eclipse Sagrado que eu criei… foi um fracasso.

Algumas horas atrás.

Lux, junto com Airi e Aeril, estavam dentro da Central.

A IA de Arshalia, que foi revivida usando o chip de dados, formou suas palavras com hesitação.

— Fracasso? Porque você foi obrigada a remodelá-lo por causa da facção do Clã dos Traidores que a matou? Por isso que o Eclipse Sagrado não realiza apenas a salvação da humanidade, mas também responde à malícia humana e realiza um massacre…

Aeril perguntou com um olhar duvidoso. Em resposta, a imagem projetada de Arshalia balançou a cabeça.

— Não. Não é isso que quero dizer. Desde o início o Eclipse Sagrado não funcionou como eu imaginava.

— …

Lux e Airi permaneceram em silêncio mesmo enquanto se sentiam perplexos.

Eles simplesmente esperaram em silêncio que a verdade fosse dita pela boca da garota.

— O Eclipse Sagrado reagiria ao pensamento das pessoas e agiria. Derrotaria o que a grande maioria considerava mal e, ao mesmo tempo, daria a salvação às pessoas fracas que enfrentaram o infortúnio. Planejei o Eclipse Sagrado para ser tal dispositivo. Mas as pessoas estavam com medo. Temiam a mim e a Fugil do fundo do coração. Elas nos viam como uma ameaça.

— …

— Queríamos salvá-los. No entanto, enquanto as pessoas se sentiam gratas a nós, também oravam em seus corações para que desaparecêssemos ao mesmo tempo. Esse era o pensamento das pessoas daquela época.

Os três não conseguiram entender o significado das palavras de Arshalia a princípio.

No entanto, após uma breve pausa, Airi, Aeril e Lux perceberam.

O Império e o Clã dos Traidores.

O lado dominante e o lado dominado.

Fugil e Arshalia não pertenciam a nenhum desses lados. Eles estavam lutando pelo bem da paz. E então foram evitados por ambos os lados.

— Nós dois continuamos atrapalhando seus desejos. O desejo de governar e explorar o povo. O desejo de se vingar daqueles que os oprimiam. É natural que os humanos possuam esses desejos. Contudo, não percebemos o quão grande era o desejo deles pelo poder das Ruínas.

Fugil, que teve uma grande quantidade de Elixir, que um humano normal não aguentaria, aplicada ao seu corpo, se tornou o Drag-Knight mais forte, se tornou imortal.

As pessoas o reverenciavam por causa de sua imensa força, ao mesmo tempo que também tinham medo dele como alguém a quem não deveriam se opor.

Arshalia era a Deusa da Salvação que podia fazer grande uso das Ruínas, mais do que qualquer um usando sua genialidade.

As pessoas sentiam gratidão por sua benevolência. Ao mesmo tempo, a massa comum que viveu sob opressão por muito tempo e teve muitas coisas tiradas deles também acumulava ciúme dentro de seus corações.

Ciúme da inteligência de Arshalia e de seu status de Princesa Imperial.

Eles estavam convencidos de que tudo o que ela tinha se devia ao seu talento e fortuna. Desejavam do fundo do coração receber essas bênçãos para si.

— O coração das pessoas não é feito apenas de coisas justas. Não, pensar que todos concordavam com o nosso pensamento foi arrogante da nossa parte.

— …

Lux lembrou.

Os corações distorcidos das pessoas que foram exploradas e feridas.

As figuras da massa comum que ignoraram sua mãe, que estava morrendo no acidente de carruagem e até atiraram pedras contra ele, que era apenas uma criança.

Mas mesmo essas pessoas certamente não pensavam seriamente que Lux era alguém que causou as más ações que aconteceram a eles quando ainda era criança naquela época.

Mesmo assim, quando surgiu a chance de se vingar, não puderam deixar de aproveitá-la.

Agora ele entendeu o sentimento deles.

Pessoas… quando perdem seu coração humano se tornam um mero animal.

Eles perdem o coração humano quando perdem algo e se desesperam. Também perdem seu coração humano quando recebem muitos benefícios e perdem todas as restrições.

Os corações de todas as pessoas do Império Arcadia, há mil anos, estavam perto demais de serem uma fera.

Isso era algo que não podia ser mudado.

Era extremamente natural para eles invejarem alguém que nunca experimentou o fracasso nem uma vez.

E então, o protótipo do Eclipse Sagrado detectou esse fato e o percebeu.

Que o alvo que as pessoas do mundo desejavam apagar: “se ele simplesmente desaparecesse”, era Fugil Arcadia.

O homem que Arshalia acreditava ser o herói.

— Meu pensamento caiu no caos naquele momento. Pensei que algo assim estava errado. Fugil lutou pela paz e se sacrificou por ela mais do que ninguém. Mas pensar que as pessoas iriam realmente evitá-lo assim. Ajustei o sistema de telepatia do Eclipse Sagrado. No entanto, não importa o que eu fizesse, o sistema que criamos naquela época continuava nos designando como vilões. Enquanto o sistema continuasse refletindo a vontade do povo, julgaria Fugil como uma existência desnecessária para sempre.

— …

Um guerreiro absolutamente poderoso.

Uma existência imortal.

As pessoas que sabiam da existência de Fugil rejeitaram uma existência absoluta como a dele.

E se por acaso Fugil enlouquecesse?

E se alguém o ofendesse, mesmo que por acidente? Não seria morto? A massa comum tinha esse medo. Isso distorceu o objetivo do pensamento do Eclipse Sagrado.

— Então, quem reescreveu o sistema do Eclipse Sagrado foi…

A projeção de Arshalia acenou com a cabeça à pergunta de Lux.

No passado, há mais de mil anos, Arshalia enfrentou a rebelião do Clã dos Traidores e foi morta.

No entanto, como esses rebeldes poderiam reescrever o sistema do Eclipse Sagrado?

Era apenas essa parte da história que parecia um tanto estranha.

— Sim, fui eu. Os membros do Clã dos Traidores que poupei… eu estava refazendo o Eclipse Sagrado antes de me atacarem. Traria salvação ao povo e concederia seu desejo. Por outro lado, também reagiria a forte hostilidade e malícia. Isso destruiria os alvos e os transformaria em fonte de energia. Eu refiz o Eclipse Sagrado para também ter o aspecto de uma arma biológica que causa matança.

— Por que você… não…

Aeril percebeu no meio de seu sussurro.

— Foi para tornar Fugil em um herói…

A projeção assentiu fracamente.

— Originalmente, planejei ordenar que ele agisse como um Abyss furioso que não tinha relação comigo e com o Fugil. Eu faria isso apenas uma vez antes de sua conclusão. Então ordenaria que Fugil o derrotasse sem que soubesse da verdade. Eu queria mostrar a figura dele salvando o mundo para as pessoas, para que soubessem que ele é um herói.

Uma farsa, um drama, não importava como se chamasse.

A questão é que Arshalia queria torná-lo um conhecimento comum nos corações das pessoas.

Como Fugil lutava para salvar o mundo e as pessoas.

Que seu poder seria necessário daqui em diante também.

Ela planejou orientar a opinião pública para que a consciência das pessoas mudasse. Para que o Eclipse Sagrado, que refletiria o pensamento conjunto do povo não, designasse Fugil como inimigo.

Para conseguir isso, ela até pensou que não se importaria, mesmo que uma pequena parte do exército rebelde do Clã dos Traidores fosse sacrificada.

Afinal, Fugil os salvou muitas vezes antes.

— No entanto, isso é…

— Sim, eu estava errada. Eles não abandonariam seu ódio, não importa quanto tempo passasse e continuaram causando conflitos. Sem que eu percebesse, passei a desprezá-los no fundo do meu coração.

Arshalia desejava constantemente a paz e tratava o povo com bondade. Mas os intermináveis ​​conflitos a deixaram exausta e por isso ela escolheu essa opção.

— Eu fui…

E então, agora.

A IA de Arshalia disse a Fugil, que estava em processo de conexão com a Central, de dentro do <Ouroboros>.

[Eu fui… incapaz de me tornar a deusa da salvação.]

Aquela voz estava cheia do desespero da garota que tinha os olhos postos no fim do mundo.

A garota que descobriu seu ideal em meio às guerras intermináveis de uma era destruída.

Ela finalmente expôs seus verdadeiros sentimentos como alguém que não conseguiu realizar seu sonho.

[Eu queria mudar esse mundo distorcido. Lutando junto com você, Fugil, pensei que seria capaz de mudar o coração das pessoas pouco a pouco.]

Sua voz continha solidão, mas também felicidade.

A garota relembrou seu sucesso e fracasso.

[No entanto, não fui capaz de me tornar uma Deusa como as pessoas que me elogiavam desejavam. Não importa o quão longe eu fosse, no final não passava de uma humana. Percebi isso pela primeira vez quando fiquei com medo depois de saber que as pessoas sentiam ódio e desprezo por você, Fugil.]

Arshalia também era humana, tingida de ego.

Também lutava para que o que era importante para ela não lhe fosse tirado.

[O Herói e a Deusa].

Não importa quão grandes tenham sido suas conquistas, ainda eram humanos.

O que tentaram carregar era um fardo muito pesado para eles.

— …

Fugil não disse nada ao ouvir essas palavras.

Não houve qualquer contração em sua expressão.

Estava simplesmente concentrando sua audição na voz da IA.

[Aquele Eclipse Sagrado foi algo que remodelei para você subjugar. Sua finalidade é diferente de sua função original. Fugil, você deve estar tentando cumprir sua promessa comigo… sem saber disso.]

— …

Mesmo que fosse um dispositivo de salvação defeituoso, ele o usou porque era algo que Arshalia deixou para trás. Fugil, que foi abandonado sozinho, continuou a lutar junto com o Eclipse Sagrado.

Para cumprir sua missão como aliado dos fracos, como herói, para criar um mundo sem qualquer conflito, para continuar mantendo o equilíbrio.

Ele acreditava que isso seria a continuação de seu sonho.

Arshalia contou essa verdade a Lux e companhia há algumas horas e os solicitou.

— É por isso que, por favor, parem o Fugil. Por favor, faça-o deixar de ser um herói e voltar a ser um humano. Eu sei que o que estou pedindo é egoísta, mas, por favor, estou te implorando.

E então, Lux e os demais desafiaram Fugil para uma batalha.

Para ter sucesso no último desejo de Arshalia, e encerrar todas as batalhas.

Parte 30

E então, no momento presente. Acima do templo dentro da Floresta Antiga.

Lisha rugiu na frente do <Ouroboros> que usava o <Sobre-Limite> e estava se transformando.

— O que diabos estou pensando agora!

Ela respirou fundo e se animou novamente.

Lisha se virou em direção à instalação esférica — a Central que estava atualmente desmontando e combinando. Ela levantou seu <Seven Heads> e mirou.

[Irmã…? O que está fazendo!?]

Alma, que estava assistindo a batalha, usou a Comunicação Dracônica e levantou a voz para Lisha em pânico.

Não, todos que lutavam lá estavam observando aquela visão enquanto duvidavam de seus olhos.

Como esperado, o processo do <Sobre-Limite> ainda levaria algum tempo até sua conclusão devido ao tamanho do corpo, que era muito grande.

A julgar pelo que seus olhos estavam vendo, o processo levaria mais de um minuto, mas não parecia que levaria muito tempo.

— Dane-se tudo isso. Neste momento estou lutando com a ajuda de todos. Além do mais, há algo que posso fazer para derrotar o Fugil. Não há necessidade de hesitar se for para abrir um caminho para a vitória!

Esse foi o grito da alma da própria Lisha.

A realidade onde certamente morreria.

Ela destruiu aquela algema absolutamente desesperadora com sua própria vontade.

— Pare! Se o dano desse ataque for refletido de volta, você vai morrer com certeza, sabe!?

A alguma distância do templo onde Lisha estava, do outro lado do <Ouroboros> em transformação, dentro do lado oeste da floresta, Krulcifer gritou com sua voz rouca quando viu Lisha atacando com seu <Seven Heads>.

Ela não sabia se sua voz alcançaria Lisha ou não.

No entanto, não conseguiu evitar gritar.

Como sua amiga com quem passou algum tempo na academia até agora, interagindo, lutando e às vezes brigando entre si como rivais no amor, Krulcifer tinha que impedi-la.

— …A Princesa está falando sério.

Philuffy apareceu atrás de uma árvore próxima e conversou com Krulcifer.

Ela também estava segurando seu Dispositivo Espada e se concentrou nele para invocar o <Typhon> mais uma vez, mas parece que ainda não tinha conseguido.

Só de olhar para isso, Krulcifer entendeu como Philuffy estava se sentindo agora.

Lisha faria o que pudesse agora pelo bem de Lux. Ela se sentiu irritada por não poder impedi-la de fazer isso.

O <Fafnir> não tinha poder de fogo para impedir a transformação do <Ouroboros>, mas Krulcifer certamente faria o mesmo que Lisha, se pudesse.

Mesmo assim, não sabia se isso mudaria alguma coisa.

Todos decidiram que iriam travar esta batalha. Mesmo que esta fosse a única coisa que pudesse ser feita para ter uma chance de vitória…

Parte 31

Naquela hora, na cabine dentro da cabeça do <Ouroboros>.

Lá, a Autômata Arshalia estava instalando Fugil no peito de <Ouroboros> enquanto controlava sua combinação com a Central. Também estava olhando intensamente para a situação diante de seus olhos, confusa.

— De jeito nenhum, é impossível. Ao contrário de nós, Autômatas, ela não poderá ser salva se seu corpo de carne morrer. Ela também é uma Princesa, para fazer algo assim…

Eles ativaram o <Sobre-Limite> mesmo que Lisha, que ainda podia lutar, estivesse por perto porque tinham proteção por conta da alteração dos princípios pelo <Interminável>.

[Todos os ataques serão refletidos de volta para quem os realizou com o dobro do poder.]

Lisha morreria se atacasse com força total sob esse efeito. Mas não seria capaz de causar nenhum dano se atacasse apenas usando um mero canhão.

Além disso, a Autômata julgou que Lisha não tinha motivos para sacrificar sua vida nesta batalha.

Todos estavam lutando pelo bem de seu próprio futuro, para serem felizes.

Eles não seriam destruídos imediatamente, mesmo que não conseguissem derrotar Fugil.

Alguém realmente daria tudo de si até esse ponto por causa de sua própria convicção e justiça?

— Eu nunca vi nenhum humano assim, mesmo dentro de todas as histórias repetidas até agora. Além de Fugil e a Srta. Arshalia que me criaram…

A Autômata acreditou nisso e se concentrou na transformação que levaria mais algumas dezenas de segundos até terminar.

— <Seven Heads>!

No entanto, Lisha disparou. Além do mais, não foi com o bombardeio normal que causava calor e impacto.

O que ela disparou foi o orbe roxo criado a partir do <Supressor >.

Era uma esfera de gravidade letal que sugaria tudo o que tocasse e os esmagaria.

Estava preenchido com toda a força restante de Lisha. Foi realmente o maior ataque que ela poderia fazer.

— Vou deixar o resto para você! Lux!

Lisha gritou para a pessoa em quem mais confiava.

 

Logo depois disso, enquanto a Autômata Arshalia e todos naquele lugar observavam com os olhos arregalados de surpresa, um Drag-Ride Divino preto azeviche dançou pelo céu tempestuoso.

*DOUUUNN!*

— <Recarga em Chamas>!

Quando o orbe gravitacional atingiu o <Ouroboros>, que se transformava no <Sobre-Limite>, a estrutura de metal resistente foi deformada.

Naquele instante, a projeção de Arshalia que persuadia Fugil também desapareceu.

— O <Interminável> está… O território de sete luzes está desaparecendo…

Airi, que usava seu Traje de Piloto, murmurou com um olhar surpreso da cobertura do templo onde estava escondida.

A armadura interna do <Ouroboros> foi destruída pelo orbe gravitacional. Ele causou danos ao Núcleo de Força, por isso tornou-se incapaz de manter o efeito da sua Veste Divina.

Mas era um efeito que veio depois que o núcleo recebeu dano. Isso não significava que o dano refletido que seria causado a Lisha foi invalidado por causa disso.

Ela podia ser esmagada junto com <Tiamat> pelo campo de supergravidade.

Todos estavam tremendo de medo dessa possibilidade. Mas no meio disso, Lux apareceu no céu com Lisha nos braços. Parecia que a armadura dela fora dissipada.

— O quê? Então você veio. Eu estava com medo, sabe…

Os membros da força aliada que viram isso entenderam o que aconteceu um pouco mais tarde.

O <Bahamut> de Lux, que estava na forma <Sobre-Limite>, usou a <Recarga em Chamas>. Seus primeiros cinco segundos de fortalecimento de compressão reduziram drasticamente o efeito de gravidade que Lisha recebeu.

Por causa disso, não importava que mesmo que o dano refletido fosse o dobro do original, o dano a Lisha poderia ser reduzido até quase zero.

Lux imediatamente tomou essa decisão, agiu de acordo e salvou Lisha.

— Será que ela calculou isso desde o início!? Tal ação imprudente…

A Autômata Arshalia ficou pasma dentro da cabine do <Ouroboros> meio destruído.

Lux e Lisha conseguiram escolher a melhor ação contra <Ouroboros>, que estava se transformando na forma <Sobre-Limite> sob a proteção da alteração dos princípios pelo <Interminável>.

— Não… não é isso.

Fugil respondeu ao murmúrio da Autômata que não conseguia esconder sua perplexidade.

Pouco antes do orbe gravitacional atingir, Fugil separou-se do <Ouroboros> a tempo e escapou do ataque com seu <Bahamut>.

— Pouco antes do <Ouroboros> ativar o <Sobre-Limite>, não houve nenhum sinal de que os dois se comunicaram com a Comunicação Dracônica.

Isso significava que Lisha, sem dúvida, lançou seu ataque com a determinação de morrer.

Ela fez isso não por desespero, nem porque estava sendo teimosa.

Estava simplesmente ciente de qual era a melhor coisa que poderia fazer em seu estado atual. Ela julgou que fazer isso era a única coisa que poderia fazer para impedir o <Sobre-Limite> do <Ouroboros> naquela situação. Ela pesou essa opção contra sua vida e seguiu em frente com coragem.

Como Rei, como Princesa…

Havia pouquíssimas pessoas que poderiam fazer tal coisa.

Pessoas que poderiam morrer por seguirem cegamente suas crenças podiam ser encontradas em qualquer lugar. O número de pessoas que falavam coisas como honra ou sonho enquanto lançavam ataques suicidas, embora em seus corações pensassem que não queriam morrer, também não era pequeno no campo de batalha.

Também haviam pessoas que morreram porque ficaram encurraladas e com o caminho de fuga bloqueado, pensando que não havia outro caminho.

O que Lisha fez não foi nenhum deles.

Ela deu um passo à frente com sua vida em risco, ao mesmo tempo que deu tudo de si para encontrar um caminho onde seria salva e sobreviveria.

E então, Lux percebeu a situação difícil de Lisha e apostou em tudo ou nada para salvá-la.

— …

Depois de desvendar o vínculo entre Lux e Lisha, a voz da IA de Arshalia que falava com ele também foi cortada.

No entanto, os olhos de Fugil foram desviados pela visão diante dele, em vez de prestar atenção a isso.

A confiança entre os dois. Em seguida, a confiança dos seus companheiros que os apoiavam.

Ver aquela cena fez com que Fugil tivesse uma visão por alguns momentos.

A cena que aconteceu há mais de mil anos entre ele e Arshalia.

A memória de sua batalha para mudar o mundo.

(Por que… estou me lembrando de tal coisa agora? Eu… quem sou eu?)

<Ouroboros> foi seriamente danificado. A armadura gigante caiu sobre um joelho.

Fugil, que conseguiu evacuar antes do ataque, virou-se para Lux e se posicionou com sua grande espada.

Ele podia ouvir uma voz.

Não era a voz da projeção criada pela IA agora há pouco. Era a voz da Arshalia que dormia profundamente na consciência de Fugil.

“Ei, Fugil. Está ouvindo? Você e sua família são chamados de Clã dos Traidores, mas acho que não existe ninguém que seja realmente mau por natureza.”

Sua voz soava brincalhona e provocadora.

O vestido da Princesa de cabelos prateados tremulou.

No início, ele apenas riu da declaração dela. Ele pensava nela como uma Princesa idiota, obcecada pela paz, que dizia bobagens nesta era horrível de guerras onde todos lavavam sangue com mais sangue.

Mas a garota era real.

Ela foi abençoada com talento, não fugiu do trabalho duro, não se curvou diante da realidade, seguiu em frente para alcançar seu sonho.

Movido por seu zelo, Fugil também perseguiu o sonho dela antes que percebesse.

A família imperial Arcadia e o rebelde Clã dos Traidores, os dois lados que foram tomados pelo desejo e pela vingança e causaram disputas horríveis sem fim.

Por trás dessas batalhas, a miséria dos animais chamados humanos podia ser vista de forma transparente.

Ele acreditava que se fosse ela, seria capaz de mudar este mundo infernal.

“Se não houver ninguém que possa ajudar… então, por favor, torne-se um herói que o fará. Acredito que você tenha qualificação suficiente para isso.”

— Arshalia… eu sou…

Fugil olhou para a visão da garota no fundo de sua mente e murmurou.

Ele quase morreu muitas vezes e sempre aplicou Elixir para se recuperar. Acidentalmente se tornou um sobre-humano como resultado disso.

Buscou mais poder para controlar <Ouroboros>, que tinha o poder de mudar o mundo.

Ele adormeceu e sonhou em salvar o mundo junto com Arshalia.

Depois que acordou, mesmo depois de descobrir que ela havia morrido, continuou perseguindo o sonho como havia prometido.

Juntamente com os restos destruídos do seu sonho, o Eclipse Sagrado continuou a repetir a história sem fim.

Ele preservaria a semente, a protegeria do conflito e confiaria o futuro pacífico à próxima geração.

E então, quando o equilíbrio do mundo estava gradualmente desmoronando mais uma vez, quando havia pessoas oprimindo outras, quando havia pessoas que não podiam fazer nada exceto se deixarem explorar.

“Se as pessoas não conseguem parar de lutar entre si, não importa o que aconteça. Se tudo realmente ficar sem esperança, vamos esquecer tudo e refazer.”

O Artefato <Ouroboros>.

Ele usava a lembrança de Arshalia para reiniciar o mundo e lutava para proteger o equilíbrio. Mas…

— Um herói… algo como um herói… não existe em lugar nenhum.

Em pouco tempo tudo voltava ao nada.

A paz desmoronava sem falhar, junto com o fluxo do tempo.

Deixando para trás apenas Fugil, o Drag-Knight mais forte e habilidoso.

Junto com o maior e mais forte artefato, <Ouroboros>.

— A voz de agora… era falsa? Ou talvez…

Não havia resposta.

Mas ele continuou a lutar em busca da resposta.

Para cumprir a missão do herói, até que seu corpo se transformasse em pó e desaparecesse.

— Fugil! O inimigo está vindo! Prepare-se para enfrentá-lo!

Quando recobrou o juízo, Fugil estava segurando a alavanca de controle do <Bahamut>.

Havia uma coisa da qual tinha certeza.

Se não houvesse ninguém para ser o herói, então o próprio Fugil teria que ser um.

Neste momento, neste lugar, havia uma pessoa que ele criou e guiou, alguém que estava extremamente próximo de ser o Rei ideal. No entanto, ele não tinha essa qualificação há cinco anos atrás.

Portanto, julgou essa pessoa como a “mais fraca” no dia da revolução há cinco anos e a rejeitou.

Mas essa pessoa agora, o receptáculo do Rei que ele mesmo criou estava em seu caminho mais uma vez neste lugar.

Desde aquele dia, Lux construiu e acumulou muitas coisas.

Agora, neste lugar, usaria todas essas coisas para enfrentá-lo e provar sua própria qualificação como Rei.

— É impossível para você, meu sábio irmão mais novo. Sua justiça é inadequada para cumprir a missão do herói!

O Drag-Ride preto se transformou em uma aparência fantástica com o <Sobre-Limite> e dançou no céu.

Pairando acima da floresta, Fugil apontou sua espada para seu semelhante de cabelos prateados que apareceu diante de seus olhos.

No estômago do <Ouroboros> que caiu de costas.

Usando a armadura gigante desgastada que parecia uma colina de metais salientes como apoio para os pés, os dois cruzaram espadas três vezes.

Parte 32 

— Você está bem, irmã…!

Enquanto Fugil olhava atordoado para o céu, Lux confiou Lisha, que estava em seus braços, a Alma.

— Estou bem. Está exagerando, Alma. Desde o passado você é…

Lisha sorriu ironicamente com a cabeça deitada impotentemente no colo de Alma.

O dano da pressão gravitacional que Lisha recebeu foi reduzido pela <Recarga em Chamas>, então felizmente seu corpo não sentiu tanta dor.

Mas ela realmente usou tudo o que tinha agora. Atualmente não conseguia nem mover um único braço.

Mas Lisha sentiu uma misteriosa sensação de satisfação envolvendo-a.

Agora há pouco, ela usou o <Seven Heads> para dar ao Lux uma chance de vitória, sem considerar sua própria vida.

No passado, o pai de Lisha, o grande herói Conde Atismata, a abandonou em prol da grande causa que era a revolução. Em troca, Lisha traiu seu pai e mudou de lado para o Antigo Império.

Mas mesmo tendo feito isso, se tornou a Princesa do Novo Reino devido ao seu status de criança deixada pelo grande herói. Ela ficou com a consciência pesada todo esse tempo por causa disso.

Naquela época ela não lutava pelo bem das pessoas que sofriam.

No entanto, agora…

— Desculpa, irmão…! Até agora, eu nunca tentei entender você…

Alma agarrou-se à sua irmã enquanto segurava as lágrimas. Lisha sorriu ao ver sua irmã assim.

Pela primeira vez, ela sentiu que realmente havia lutado como Princesa do Novo Reino.

Sentiu que persistiu com seu orgulho.

Porque ela tinha Lux ao seu lado.

Porque tinha suas companheiras do Syvalles ao seu lado.

Ela foi capaz de fazer isso porque estava lutando junto com eles.

— Posso me sentir assim graças a todos vocês. Não morra, Lux…

Lisha orou com apenas um desejo em seu coração.

E então, olhou para seu cavalheiro que lutava acima da colina de aço.

Parte 33

Os sons de espadas se chocando explodiram violentamente na nevasca.

Drag-Rides negros dançavam livremente em uma colina feita de parede prateada.

Lux e Fugil estavam lutando até o limite máximo usando o <Sobre-Limite>.

Mesmo que os sons fossem chocantes, misteriosamente não parecia barulhento aos ouvidos.

Sua mente estava clara e afiada como uma lâmina, mesmo agora com seu corpo extremamente exausto.

Tal como no dia da revolução, há cinco anos, quando enfrentou o Antigo Império.

— HAAAAAAAAH!

Lux gritou como se estivesse rugindo e reuniu suas forças restantes.

As táticas dos dois eram semelhantes, mas diferentes.

Fugil, que tinha Batismo aplicado em todo o corpo, era superior em termos de capacidade física e resistência contra Lux.

Portanto, poderia ignorar o estresse que o <Sobre-Limite> colocava em seu corpo e usar a mobilidade da armadura até o limite máximo para desferir um golpe poderoso que um Drag-Ride comum não poderia bloquear. Cada um de seus golpes era preenchido com força que mataria instantaneamente se atingisse diretamente.

Isso inevitavelmente corroía a coragem do oponente com a extrema pressão de que não tinham permissão para cometer um único erro.

Em contraste, a tática de Lux era defender usando sua grande espada enquanto contra-atacava.

No entanto, ele seria derrotado se bloqueasse descuidadamente o ataque de Fugil, apesar dos dois usarem o mesmo <Sobre-Limite>.

Ele desviou os ataques do inimigo para que o foco do ataque não atingisse seu alvo.

Fora isso, também dava um passo à frente antes que a espada do inimigo pudesse atingir a velocidade suficiente e esmagar o ponto inicial do ataque.

Lux não seria capaz de aguentar se não reduzisse o poder de ataque de Fugil em uma porcentagem.

Mesmo assim, sua armadura rangia cada vez que se protegia contra o ataque dele.

Usando seu discernimento de que treinou durante o torneio na Capital Real e de seu aperfeiçoamento mesmo depois disso, mal conseguiu suportar os ataques ferozes de Fugil.

No entanto, apenas ser capaz de bloquear os ataques de Fugil não os tornava iguais.

Lux não tinha nem mais três minutos antes de se tornar incapaz de lutar.

Em contraste, Fugil ainda tinha forças restantes.

Nesse ritmo, ele definitivamente perderia.

— Você vai me derrotar e parar o Eclipse Sagrado? Está dizendo que assumirá a missão do herói em meu lugar? Isso é impossível, meu sábio irmão mais novo. Você não está apto para esse dever. Um incompetente como você, que só consegue defender assim, não pode…

— …

Fugil tinha compostura para falar mesmo enquanto desferia inúmeros golpes.

Mas Lux não conseguiu encontrar nenhuma abertura em cada movimento dele.

Fugil estava constantemente raspando a armadura dele enquanto mantinha sua vigilância em relação a Lux sem afrouxar.

Quer fossem as técnicas secretas de controle de Drag-Ride, ou o uso da Veste Divina, <Rugido Uivante>, ou <Remover Armadura>.

Para Lux, parecia que Fugil havia preparado a solução para cada movimento que pudesse fazer.

— …!?

Lux deslizou para trás para se distanciar, mas Fugil o perseguiu para impedir isso.

Mesmo assim, ele continuou se movendo e usou a irregularidade da superfície — da armadura do <Ouroboros> que usavam como ponto de apoio — como vantagem de terreno enquanto evitava os ataques.

— A determinação para destruir, para eliminar os outros. Você não pode ser um governante sem isso. Uma causa absoluta e princípios precisam de determinação para realizá-los, não importa o custo. Seu caminho terminará se tentar chegar a um entendimento com alguém e ele te trair.

No passado, Arshalia foi morta pelos membros do Clã dos Traidores que ela poupou.

Fugil não conseguiu impedi-la de tentar salvá-los.

Porque quem salvou Fugil, alguém que originalmente era membro do Clã dos Traidores que deveria ser inimigo do Império Arcadia, também foi ela.

A intensidade da grande espada que Fugil brandia aumentava.

Ele fortaleceu a força de seus golpes para abrir a dura guarda de Lux.

Se Lux usasse a mobilidade do <Bahamut> para reduzir o impulso do ataque de Fugil, ele mudava o impulso de seu movimento para compensar.

Ele transferiu o impulso da força de propulsão do Drag-Ride para a ponta da espada, aproximou-se de Lux e cortou.

— Você é o mais fraco. Alguém que não consegue jogar fora sua ingenuidade não tem qualificação para ser Rei!

Fugil sabia.

Que com o método de Lux de fazer as coisas, não seria capaz de salvar e proteger aqueles que são importantes para ele. No entanto…

*BAKIIINN!*

— …!?

A <Marca do Caos> que foi brandida com toda a força de Fugil foi repelida pela grande espada de Lux. Ele observou isso acontecer com os olhos arregalados de surpresa.

O movimento especial para defender os ataques do oponente concentrando-se no ponto onde o ataque começava, empurrando o ataque para trás e destruindo a arma — <Critical Hit>.

A técnica que Lux aperfeiçoou usando a <Espada Escalar> que Lisha criou para ele. Isso destruiu o equilíbrio desta batalha.

— Então você estava se defendendo não porque era incapaz de mudar para o ataque, mas sim para desviar e contra-atacar ao mesmo tempo.

Se Fugil estivesse em guarda contra todos os métodos de contra-ataque e observando todos os seus movimentos preliminares, então Lux teria como objetivo quebrar o equilíbrio do oponente enquanto mantinha sua defesa.

— <Rugido Uivante>!

Lux lançou o <Rugido Uivante> usando a abertura quando Fugil foi empurrado para trás com ambos os braços blindados levantados, fazendo-o voar.

Atrás dele, estava a armadura do <Ouroboros> que estava quebrada e estilhaçada como um pingente de gelo.

Lux não se concentrou apenas na batalha de inteligência usando a tática.

Ele percebeu também o formato do terreno e se preparou para a chance de virar a mesa.

— <Recarga em Chamas>!

— <Recarga em Chamas>!

Fugil aplicou fortalecimento de compressão na área ao seu redor para parar o movimento de Lux.

Lux também ativou a Veste Divina do <Bahamut> quase ao mesmo tempo, desacelerando o fluxo do tempo ao seu redor na mesma proporção.

O fluxo dos tempos de ambos os lados foi extremamente desacelerado e parecia que ambos os combatentes estavam parados.

Lux estava avançando com sua grande espada erguida, enquanto Fugil se posicionava para bloquear o ataque. Os movimentos dos dois foram interrompidos nos primeiros cinco segundos de sua Veste Divina.

Nos últimos cinco segundos, eles certamente entrariam em sua última batalha de inteligência enquanto seus movimentos eram acelerados para serem dezenas de vezes mais rápidos.

No entanto…

Havia pessoas que queriam mudar o destino desses dois.