O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 92 – Caindo (2)

 

Regra 1 da Fantasia Romântica: Qualquer homem próximo aos personagens principais é suspeito.

Regra 2 da Fantasia Romântica: O homem mais comum é, na verdade, o mais extraordinário.

Por nervosismo, meu coração batia dessincronizado, como um piano quebrado. Era assim que a risada do Inquisidor soava. Sentia como se o chão sob mim tivesse cedido e eu estivesse deslizando por um buraco escuro cujo fundo não conseguia ver.

— Inquisi…

— Você parece estar bem, Lady Taça Dourada.

Lady Lírio de Prata pronunciou o nome dado por este mundo antes que eu pudesse dizer o nome dado pela Torre.

— Ouvi dizer que foi atacada por assassinos… Você realmente é uma garota que cresceu nas periferias. Persistente como uma erva daninha. Acho que alguns assassinos não são nada para você — zombou Lady Lírio de Prata.

O Inquisidor deu um sorriso sarcástico. 

— Veio até aqui tão tarde da noite para elogiar minha saúde? Estou profundamente tocada, minha lady. Estou feliz que o Príncipe Herdeiro e muitos outros estejam preocupados comigo, apesar das minhas falhas! Até sinto que a tragédia desta noite foi, na verdade, um golpe de sorte!

Percebi um pouco depois que havia um tom de escárnio em sua voz. O Inquisidor normal nunca teria dito essas palavras. Havia duas farpas nos comentários do Inquisidor. Uma era uma ameaça: “Não foi você quem contratou o assassino?” Outra era uma provocação: “O Príncipe Herdeiro estava preocupado comigo e veio me ver.”

Os olhos de Lady Lírio de Prata se tornaram venenosos.

— …Até os pensamentos na sua cabeça são bagunçados, como ervas daninhas. Uma linha tênue separa a imaginação da ilusão. Cruzar ou não essa linha é a medida da dignidade de uma pessoa. Espero que mantenha suas maneiras como uma nobre adequada deveria.

— Oh, me desculpe! Então não é contra a etiqueta dar um tapa na bochecha de alguém durante um baile? Ah, cresci em uma família de uma região remota e não conhecia a etiqueta de uma família ducal!

“Se me permite, seria tão gentil a ponto de me convidar para o seu salão algum dia? Adoraria receber uma aula de etiqueta de você. Olhe, não estou acostumada a bater nas pessoas, então acho que preciso aprender mais sobre o ângulo e a força da mão que vai num tapa.”

A boca do Inquisidor estava em chamas. Ouvi um estranho som de tambores que não conseguia identificar. Quando escutei mais atentamente o barulho… Que porra? O som vinha do meu coração.

Uma sensação apertou meu coração e subiu pelo meu pescoço.

— Lady Taça Dourada! Que grosseria!

— Você é apenas a filha de uma família de barões provincianos, mas continua fazendo comentários ultrajantes…

A valsa verbal do Inquisidor deixou os servos do Duque indignados. Alguns deles haviam cedido à persuasão do Príncipe e traído seu mestre. Não sabia se havia um traidor ou muitos, mas isso não era importante agora.

— Minhas desculpas! — Me coloquei rapidamente entre o ouro e a prata.

As sobrancelhas de Lady Lírio de Prata se franziram. 

— Você é…

— Lady Taça Dourada está muito chocada devido ao infeliz incidente desta noite. Como seu servo, por mais humilde que seja, acredito que ela precisa desesperadamente de descanso. Dadas as horas, talvez as ladys devam encerrar a conversa por aqui? Acredito que podemos resolver o mal-entendido amanhã.

Lady Lírio de Prata franziu os lábios. Seus servos bufaram atrás dela, mas nada mais. Quando sua mestra levantou a mão direita, todos pararam de se mover e ficaram em silêncio. Isso seria impossível se ela não fosse sempre muito rígida com seus subordinados.

— Espere um minuto, mordomo. Do que está falando? — O Inquisidor – Lady Taça Dourada – de todas as pessoas, resistiu à minha mediação. — Ainda tenho muito a conversar. Não termine a conversa como quiser…

— Fique quieta — agarrei o pulso do Inquisidor e praticamente o arrastei para longe.

— Ah, espera, mordomo! — O Inquisidor lutou para se soltar. — Espera um pouquinho!

Mas não soltei seu pulso. Realmente não podia deixar seu nível de imersão aumentar mais do que já estava.

— Minha lady — olhei para trás pouco antes de sair do corredor.

Lady Lírio de Prata nos olhava com uma expressão enigmática. 

— …O que é?

— Sempre admirei quão disciplinados são os servos da sua família, e esta noite tive a chance de ver isso novamente. Sua disciplina é realmente admirável, diferente de mim. — Me curvei para ela. — Aprendi muito com todos vocês. Embora eu seja de origem humilde, gostaria de oferecer meu respeito a você, minha lady. Com licença.

Arrastei o Inquisidor para fora do corredor. Ele gradualmente se tornou mais dócil.

Um amplo jardim de flores se estendia entre o salão de baile e o dormitório. As magnólias recém-florescidas pendiam, e sua fragrância flutuava entre as árvores de flores brancas. Um pássaro noturno, encantado pelo perfume das flores, tocou uma das magnólias pálidas com suas garras, fazendo-a cair.

— Nossa. — O Inquisidor pisou na magnólia caída. — Ah.

Ele parou e olhou para o céu noturno. Depois de um tempo, se virou para mim, parecendo atordoado. O Caçador, dito como o mais louco da Torre, murmurou em descrença. 

— Senhor Rei da Morte… O que acabei de dizer ali?

O Inquisidor e eu ficamos quietos enquanto caminhávamos para o dormitório. Não trocamos palavras. O silêncio me desacelerava, tornando um pouco difícil caminhar.

O caminho do jardim até o dormitório veio naturalmente à minha mente. Talvez quanto maior o nível de imersão, mais claras se tornavam as memórias do personagem. Neste momento, era difícil julgar se isso era bom ou ruim.

— Vamos criar uma palavra-código — disse assim que fechei a porta do dormitório atrás de mim.

— Uma palavra-código… — O Inquisidor piscou. — Uma palavra-código secreta…?

— Isso será realmente perigoso se não fizermos nada a respeito. Precisamos nos recompor.

— Sim, devemos, senhor Rei da Morte. Você está certo. Sim… — O Inquisidor falava mais rápido do que pensava. Ele parecia estar tentando desesperadamente segurar algo que estava escapando. Era um sinal de que a pessoa na minha frente estava em perigo.

Segurei a cabeça do Inquisidor com força com ambas as mãos e o forcei a encontrar meus olhos. 

— Quando a primavera chega, as magnólias caem.

— O quê…?

— Quando eu disser “Quando a primavera chega”, você responde “As magnólias caem”. Essa é nossa palavra-código para acordar. Agora me diga se entendeu. Quando a primavera chega?

— Magnólia…

— De novo. Quando a primavera chega…

— As magnólias caem. — Os olhos do Inquisidor clarearam aos poucos e olharam para mim em vez de para o vazio. Ele balançou a cabeça e depois assentiu. Após repetir o código várias vezes, ele disse: — Certo! Sou eu mesmo agora!

— Bom trabalho.

— Obrigado, senhor Rei da Morte! Hahaha. Parece que fui surpreendido por maravilhas o dia todo hoje. Acho que nunca esquecerei este dia.

— Quer uma xícara de chá para se acalmar?

— Sim, por favor! — O Inquisidor assentiu.

Bom. Era cedo demais para desistir desta tentativa. Enrolei um cobertor ao redor do Inquisidor e fui para a cozinha. Como esperado de uma academia frequentada por filhos da Família Imperial e famílias nobres, havia uma cozinha no quarto de Lady Taça Dourada no dormitório, embora pequena.

Encontrei folhas de chá e uma chaleira sem problema.

— Wow — fiquei estupefato enquanto preparava o chá. — Meu corpo simplesmente se move sozinho…

Por toda a minha vida, nunca tinha realmente preparado chá usando algo além de saquinhos de chá. Mas minhas mãos se moviam como se eu tivesse usado uma chaleira por muito tempo. Meu corpo até gostava de preparar chá. Esse era um efeito colateral da imersão.

Lady Taça Dourada gosta mais quando misturo leite no chá preto e adiciono uma colher de mel. Eu cantarolava. Pedi a um servo da academia para conseguir mel para momentos como este. É um pouco caro, mas como ela é sempre muito frugal, tudo bem…

[Seu nível de imersão no personagem aumentou.]

[Seu nível de imersão é 6%.]

…Não estava bem! Não estava nada bem! Porra! Essa merda de novel de romance! Por que caralhos as pessoas neste mundo ficavam tão felizes por colocar mel no chá preto!? Eu prefiro abrir o crânio delas e espalhar mel sobre suas sinapses. Depois, enchê-los com favos de mel!

[Brilhinho está preocupada com você… mas ainda expressa sua opinião minoritária de que você fica bem no uniforme de mordomo.]

Minha espada piscava alegremente. Talvez eu estivesse imaginando coisas, mas a luz dela parecia mais radiante hoje, embora seu dono estivesse agachado, segurando a cabeça de dor.

Não posso deixar o mordomo tomar conta da minha mente. Cerrei os dentes. Não posso… não depois de tudo o que passei para concluir os cenários!

O despeito cresceu dentro de mim. Decidi não fazer chá como meu personagem original faria. Usei uma chaleira e peguei uma xícara que o mordomo normalmente não usava. Quando terminei, entreguei o chá ao Inquisidor.

O Inquisidor tomou alguns goles de chá e inclinou a cabeça. 

— Senhor Rei da Morte.

— Sim?

— O chá tem um gosto estranho!

— E daí? — perguntei.

— A menos que meu paladar tenha mudado, esse salgado vem de sal. Estou errado?

— Esse chá deve ter esse sabor.

— Oh, é mesmo? Acho que isso está mais para água salgada do que chá. Se eu medisse a salinidade, provavelmente seria classificado como água salgada pura.

— Apenas cale a boca e beba.

— Entendido! Vou calar a boca e beber! — O Inquisidor sorveu o chá, sorrindo brilhantemente. — Obrigado pelo chá! Estava salgado!

Sim, era assim que deveria ser. Meu psicopata nato finalmente recuperou sua inocência habitual.

— Então, o que você vai fazer agora?

— Devemos fazer a vilã e o Príncipe Herdeiro se apaixonarem — suspirei. — Ou, pelo menos, devemos esmagar qualquer romance entre Lady Taça Dourada e o Príncipe. Vamos tentar fazer um desses dois finais acontecer.

— Operação Esmaga-Esmaga…

O Inquisidor nomeou a operação como quis, mas, bem, isso não importava. Eu também preferia o último dos dois finais.

Nunca estive em um relacionamento, então não sei muito sobre amor, mas não será mais fácil separar um casal do que formar um? Pensei.

Tanto o Inquisidor quanto eu concordamos cem por cento nisso.

— Para que isso aconteça, o amor do Príncipe por Lady Taça Dourada tem que morrer! Você tem algum plano para fazer isso acontecer?

— Sim, tenho. — A ideia me veio quando estava fazendo chá antes e quase perdi a cabeça. Precisávamos tomar medidas especiais para este cenário.

Havia, na verdade, uma maneira muito eficaz de enfraquecer o amor entre eles enquanto também mantínhamos nossa sanidade – especialmente a minha.

— Qual é o seu plano?

— Deixando tudo de lado, quanto mais você agir como Lady Taça Dourada e quanto mais eu me imergir na mentalidade de um mordomo, mais nosso nível de imersão aumentará. Vamos pensar ao contrário: o que aconteceria se não agíssemos como Lady Taça Dourada e seu mordomo? Nosso nível de imersão pode diminuir. Mesmo que não diminua, pelo menos não aumentará. O que acha?

Os olhos do Inquisidor brilharam. 

— …De fato. É um método simples, mas bom, como esperado de você, senhor Rei da Morte! Você é realmente o Caçador que concluiu o décimo andar, antes impossível, e chegou ao vigésimo andar rápido como um raio!

— Obrigado pelo elogio. Eu gosto. Bem, de qualquer forma, meu plano é simples — estalei os dedos e ativei minha Habilidade. — De agora em diante, você será a jovem lady nobre delinquente, e eu serei o mordomo mau.

O Inquisidor inclinou a cabeça. 

— Hã?

A Reencarnação da Legião de Monstros estava ativa. Eu não precisava convocar muitos como fiz na Crônica do Demônio Celestial. Precisávamos de um monstro específico – e desesperadamente.

Minha sombra lentamente se transformou em um homem com rabo de cavalo. Ele parecia a pessoa mais arrogante do universo.

— Ei… — Seu nome era Yoo Soo-Ha, o Imperador das Chamas. Assim que o convoquei, seu rosto se contorceu como um pedaço de papel higiênico amassado. — Seu filho da puta, que tipo de merda você está tentando me obrigar a fazer dessa vez…

— Abracadabra. É hora de ficar quieto — estalei os dedos mais uma vez.

—Ugh, ugh! Ughhhhh!

Não importava o quão grosseiro ele falasse, não podia desobedecer minhas ordens. Ele apenas se contorcia como uma lagarta presa em uma teia de aranha. Olhar para Yoo Soo-Ha dissipava muito da minha melancolia. Como posso explicar? Sentia como se estivesse fechando a tampa de uma lata de lixo. Também parecia que a poeira fina no meu coração estava sendo lavada. O homem era como o saco de poeira de um aspirador de pó.

— Senhor Inquisidor.

— Sim, senhor Rei da Morte!

— Você parece demais com um aluno modelo — disse, sério. — Tudo o que você faz é feito com intenções muito puras e inocentes. Você está muito longe da jovem lady perfeitamente delinquente. Muito longe.

As orelhas do Inquisidor se animaram. 

— Ah, se há algo que me falta, por favor, me ensine! Vou aprender!

— Sim, vou organizar uma aula particular para você — olhei lentamente para Yoo Soo-Ha. — Tenho o melhor tutor para te guiar pelo caminho da delinquência.

— Haha, estou ansioso por isso! — O Inquisidor sorriu como um filhote de cachorro.

— Ugh… Ugh! Ugh! —Yoo Soo-Ha fez uma careta como o filho da puta que era.

Entre o filhote e o filho da puta, me encontrei assentindo seriamente. Sério.

— Beleza, vamos nos tornar delinquentes.

No dia seguinte, a Academia Sormwin virou de cabeça para baixo.