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Império Tearmoon – Vol. 02 – Cap. 01 – Uma Premonição Sombria

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As portas da Academia São Noel estavam se fechando para as férias de verão, e uma debandada de estudantes já tinha pegado a estrada de volta para casa. Mia, claro, não era exceção. Acomodada em sua carruagem, ela sacolejava pela estrada esburacada a caminho de Tearmoon. Com tempo de sobra pela frente, decidiu desenterrar seu diário manchado de sangue e dar mais uma lida em seu conteúdo. Fazia um bom tempo que não o folheava e, ao abri-lo, agarrou-se a um fio de esperança de que, desta vez, as últimas páginas revelassem um futuro diferente.

— Bem, isso… não é exatamente uma surpresa, eu suponho.

Ela se recostou no assento, soltando um suspiro desanimado. O diário ainda terminava com sua cabeça rolando na guilhotina, e o roteiro geral de sua história permanecia o mesmo. Vinha a fome, depois a revolução, que selava o destino da linhagem imperial. Claro, algumas coisinhas haviam mudado. Enquanto na linha do tempo anterior as massas malhavam a família imperial sem dó, o diário atualizado descrevia o surgimento de uma milícia voluntária, formada em sua maioria por moradores do Distrito Lua Nova.

A lealdade deles não era à família imperial como um todo, mas à própria Mia, e eles correram diretamente para ajudá-la. Embora fossem poucos, lutaram lado a lado com os guardas imperiais e conseguiram dar umas boas pancadas no exército revolucionário. Além disso, um número considerável de pessoas em Tearmoon clamava para que Mia fosse poupada. Embora não ficasse claro o peso que essas vozes tinham, as condições do cativeiro de Mia de fato melhoraram um tiquinho. Em vez de uma cela úmida na masmorra, ela foi mantida em um quarto no castelo e, a pedido gentil do chefe de cozinha, recebia refeições decentes. Na véspera de sua execução, eles até prepararam um banquete para sua última ceia, como comprovado por uma anotação em seu diário que descrevia o evento em detalhes. Ela fizera questão de mencionar que o ensopado de tomate lua amarela estava uma obra de arte. Só isso já era um atestado de qualidade.

Havia também Sion, cuja atitude também havia mudado. A pedido de seu assistente, ele somou sua voz àqueles que se opunham à execução de Mia.

Por outro lado, suas ações fizeram com que algumas coisas piorassem. Anne, por exemplo, teve um destino muito mais trágico. Uma tentativa ousada, porém fracassada, de resgatar Mia resultou na desintegração de sua família e na própria Anne sendo presa como criminosa. E depois, houve Abel, que organizou seu próprio resgate audacioso. Movendo-se às escondidas, ele conseguiu se infiltrar na fronteira de Tearmoon, apenas para ser descoberto antes de chegar a Mia. Ele lutou contra seus captores com unhas e dentes, abrindo um caminho sangrento em direção ao castelo antes de dar seu último suspiro nos degraus. Em seu rastro, ficou a visão macabra dos inúmeros corpos que haviam cruzado seu caminho. Como resultado, as relações com o Reino de Remno azedaram, mergulhando Tearmoon em dificuldades ainda maiores.

— Isso… definitivamente não foi uma leitura agradável.

As frases que descreviam a notícia da morte de Abel foram escritas com uma caligrafia fraca e trêmula, que traía o choque da escritora. Muitas das palavras na página estavam borradas, sugerindo que haviam se molhado. Suor, talvez, pelo pavor das implicações do evento. Ou talvez…

Apesar dessas diferenças sutis, no entanto, seu fim permaneceu o mesmo.

A fome parece não ter sido tão devastadora quanto antes, mas…

Pelo visto, a escassez de alimentos ainda era o estopim da revolução. A comida que ela instruíra Ludwig a estocar havia dado algum alívio, mas não fora suficiente para impedir que a fome se instalasse. No fim das contas, eles ainda não conseguiram acumular comida o bastante.

E ainda tem o conflito com a tribo minoritária perto da fronteira.

O diário descrevia um conflito regional com os Lulus, uma tribo do povo da floresta. Isso poderia ter acontecido na linha do tempo anterior também, mas Mia mal se lembrava. Na época, o assunto não lhe interessava nem um pouco, então ela ainda não fazia ideia do que o havia causado. O que ela entendia agora, no entanto, era o porque aquilo havia resultado em problemas para ela.

Os Lulus… A assistente de Tiona veio daquela tribo.

Liora Lulu, como o nome sugere, nasceu entre o povo Lulu. Se algo terrível acontecesse com sua tribo, e Mia por acaso estivesse envolvida nisso, não era difícil imaginar que Tiona a odiaria pelo resto da vida. Na verdade, o diário até especificava que esse evento foi o que rachou a relação delas. Por outro lado, isso sugeria que, se Mia conseguisse dar um jeito nesse problema específico, talvez pudesse evitar transformar Tiona em sua inimiga.

Tenho que admitir, todas aquelas colheitas que os Rudolvons produzem estão parecendo bem apetitosas. Se eu conseguisse de alguma forma cair nas graças deles e convencê-los a me descolar um pouco de comida, faria maravilhas pela escassez que se aproxima.

Aquele suprimento sozinho não resolveria a fome, mas poderia melhorar significativamente a situação deles.

Enfim, continuando… Hmm, esta parte também me intriga.

Os olhos de Mia foram atraídos para a seção que descrevia o evento que desencadeou a revolução — o sequestro do Conde Rudolvon das Terras Distantes. Segundo o diário, vendo que seu povo estava passando fome, o conde distribuiu seus próprios estoques para alimentá-los. O subsequente aumento em sua popularidade irritou o imperador, que ordenou o sequestro do conde num acesso de inveja. Isso enfureceu as massas, que se levantaram em protesto, acendendo assim as chamas da revolução.

Este incidente permaneceu inalterado em relação à linha do tempo anterior, mas Mia não conseguia afastar a sensação de que algo parecia… estranho. É verdade que seu pai, o imperador, não era nenhum santo, e as negociações duvidosas de dinheiro e moedas que tantas vezes acompanhavam os altos cargos certamente poderiam ser rastreadas até ele com a mesma frequência que qualquer outro nobre. No entanto, ela tinha sérias dúvidas se ele ficaria tão invejoso de algum nobre que por acaso se tornasse popular.

Simplesmente não consigo imaginar o Papai se importando com algo assim. A única coisa que o interessa é tentar me fazer pensar que ele é o máximo.

Ele iria tão longe a ponto de começar uma guerra se sua filhinha querida pedisse, mas, de resto, era um homem bastante inofensivo. Certo, o grau em que ele a atendia beirava a loucura, e ela realmente gostaria que ele parasse com isso às vezes, mas isso era um problema de princesa. Na maior parte do tempo, ele era apenas um sujeito inofensivo que não fazia muita coisa. O que, considerando a coroa em sua cabeça, era indiscutivelmente um problema bem grande, mas pelo menos ele não era uma pessoa ativamente má. Irritante, talvez, mas não malévolo.

Algo sobre este incidente não me cheira bem… Não parece algo que o Papai faria.

Ela tentou continuar lendo, mas a dúvida persistia em sua mente. Agarrou-se a seus pensamentos como piche, escura, viscosa e totalmente desagradável. Desceu lentamente, escorrendo por seu peito e alojando-se na boca do estômago, onde se solidificou numa sensação de profundo mal-estar. Era como se tudo fosse intencional… Como se alguém tivesse fabricado este incidente para incitar propositalmente a revolução… Ou, de fato, como se fosse vontade de Deus, e a mão invisível do destino estivesse empurrando o império para a ruína. A premonição sinistra revirou desconfortavelmente em seu estômago antes de subir para sua garganta. Essa sensação terrível desafiava qualquer descrição, mas se fosse preciso colocar em palavras…

— Ugh… Estou enjoada…

…Seria enjoo de carruagem. De fato, toda aquela leitura que ela vinha fazendo na carruagem sacolejante a deixara terrivelmente enjoada.

— A-Anne… Ugh… Anne… Estou passando mal… — ela choramingou enquanto buscava a ajuda de sua leal criada, que no momento estava sentada na boleia porque Mia havia pedido um tempo sozinha para ler seu diário.

Anne logo apareceu na porta da carruagem, onde descobriu uma Mia com os olhos marejados, encolhida como uma bola em seu assento. A visão era totalmente incongruente com a imagem da princesa sábia, tão respeitada por seus colegas em São Noel. Felizmente, eles não estavam lá para ver.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Matface

 

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