Esperava que o número de pessoas que se reuniram neste lugar tivesse diminuído depois de uma hora e meia, mas a entrada do templo seguia cheia de um grande número de nobres e sacerdotes, e foi um pouco difícil encontrar Lilia e as outras.
Mesmo assim, a maioria das pessoas que se reuniram neste lugar são nobres e sacerdotes, então não é tão barulhento e descontrolado quanto um festival, e não está tão lotado ao ponto de eu não conseguir passar pelas pessoas.
Porém, havia muitos nobres vestidos com roupas caras aqui e ali, o que tornou um pouco cansativo me movimentar enquanto tentava evitar esbarrar neles.
— Com licença. Desculpe por fazê-las esperar.
— Bom trabalho aí, Kaito.
Quando me juntei a elas depois de um tempo, fui cumprimentada por Lilia com um sorriso gentil.
Como esperávamos, o número de pessoas se reunindo estava aumentando, o que nos fez optar em voltar para a carruagem antes de ficarmos presos neste lugar, e à medida que nos movíamos, conversamos um pouco.
— Arehh? O que é isso na sua mão, Miyama?
Tendo priorizado o encontro com as outras, não guardei o pequeno jarro que recebi na minha caixa mágica e Yuzuki o percebeu.
— Hã? Ah, essas são folhas de chá que Shiro… A Deusa me deu.
Nesse instante, por algum motivo, Lilia e Lunamaria, que estavam andando na minha frente, pararam no meio do caminho.
— Kaito, errr, o que você acabou de dizer?
— Hmm? Este jarro me foi dado pela Deusa…
— Sr. Miyama, q-que tipo de meios usou para fazer a Deusa gostar tanto de você quando se conheceram?
— E-Errr… Apenas tomamos uma xícara de chá e conversamos…
— — Tomou chá com a Deusa?
As palavras que falei sem nenhuma consideração, pelo visto soaram inacreditáveis para as duas, já que ambas pararam de se mover e me encararam com olhos arregalados.
Arehh? O que diabos está acontecendo? Talvez tenha cometido algum tipo de erro ao ter contado sobre nossa conversa?
— Luna… Quantas vezes nós visitamos este lugar? Por todas essas vezes, nunca tive uma conversa adequada com a Deusa, muito menos tomei chá com ela…
— Minha dama… Por favor, controle-se… É provável que não seja culpa da minha dama. Suponho que sejam apenas as habilidades sociais do Sr. Miyama que são muito avançadas.
— Si-Sim… Sinto que estou exagerando… Eles acabaram só conversando um pouco…
— Sr. Miyama, interagir com a Deusa também mostra que ganhou uma certa confiança do Reino Divino. Especialmente na sociedade dos nobres, que dá grande valor às conexões horizontais, pode até ser considerado um tipo de influência.
— …
Ehhhhhhh? Co-Como no mundo isso de repente se tornou um grande problema?
Nã-Não, não, sério, vocês estão interpretando mal a situação. A razão pela qual me dei bem com Shiro foi em grande parte devido à influência daquela garotinha demônio, e até mesmo aquele tópico sobre eu ter algum tipo de poder de comunicação devastador é…
Quanto a Lilia, sinto que está me olhando com respeito e se não consertar esse mal-entendido logo…
— Não, Lilia, é só um mal-entendido…
— Ahh! Ora, ora, se não é a Vossa Alteza, a Duquesa Albert? Não é este um excelente encontro?
— Este é um encontro bastante inesperado, não é? Conde Ducas.
— Não te vejo desde a festa de ontem à noite. Duquesa Albert. Veio para receber sua bênção também?
— Sim, acabei de receber a minha.
Parece que quem apareceu em um momento desagradável foi um conde chamado Ducas.
As roupas que está usando são um traje ornamentado bastante brilhante e chamativo, como se estivesse proclamando que “ele é um nobre”. Incrível, sinto que tem cerca de duas vezes o tamanho do meu corpo… Em termos de largura, quero dizer. Talvez seja aquilo, um possível híbrido entre um orc e um humano ou algo similar.
— Sr. Miyama, acho que tenho alguma ideia do que está pensando… Contudo ele é um humano de sangue puro.
Meio que adivinhando meus pensamentos, Lunamaria sussurrou para mim.
Ao que tudo indica, não é um híbrido ou algo assim, é apenas gordo. Se for esse o caso… Acho que seu tamanho não é bom para sua saúde.
Combinado com o número de pessoas neste local, ele deve se sentir muito pressionado. Não posso dizer com certeza, já que acabamos de nos conhecer pela primeira vez, no entanto acho que ele deveria cortar as coisas oleosas.
— Você também está junto com as princesas do outro mundo, hein. Nossa, que bela reunião de flores.
— — !?
— Sem mencionar a linda Duquesa Albert, as princesas do outro mundo devem ter ficado ótimas em suas vestes litúrgicas. Eu adoraria ter visto.
Quando o Conde Ducas voltou sua atenção para nós, seus olhos pousaram em Kusunoki e Yuzuki, como se dissesse que não se importa comigo, e então, seu rosto carnudo se contorce no que suponho que seja um sorriso.
Uwaaahhh… Parece meio assustador quando sorri desse jeito. É como se fosse um sapo ou coisa do tipo, mas ficou bastante evidente que Kusunoki e Yuzuki se sentiram assustadas. O fato de ser capaz de olhar sem qualquer descaro para elas com esse tipo de luxúria em seus olhos o torna, de certa forma, uma pessoa incrível.
Como esperado, não me sinto confortável deixando-as expostas a um olhar que parecia estar as lambendo, então dei um passo à frente e me intrometi entre as duas e o Conde Ducas.
— Muhh?
Bem, já esperava essa reação, o Conde Ducas fez uma careta de mau-humor quando me interpus na frente do seu campo de visão. Como devo dizer, é um homem tão fiel aos seus desejos que é fácil de entender.
Embora tenha dito tudo isso, a outra parte segue sendo um Conde. Nesse momento está me encarando, e se devolvesse a encarada desrespeitosa, isso causaria problemas para Lilia. Sendo assim, esbocei um sorriso falso e me curvei para ele.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Conde. Sou uma das pessoas do outro mundo, Miyama Kaito. Não sei se estou sendo rude por me intrometer no meio da sua conversa, todavia sinto que ainda não tive a chance de cumprimentá-lo.
— Hohh, desculpe minha falta de educação. Você é tão simplório que pensei que fosse o cocheiro ou algum outro servo.
Wow, ele apenas me desrespeitou sem sequer tentar disfarçar. Na verdade, admiro esse tipo de interação revigorante.
No entanto, para sua infelicidade, já estou acostumado a reações como “Quem diabos é esse cara?”, e já recebi o olhar de pessoas muito mais poderosas, como Acht, então não me sinto intimidado por seu olhar. Foi por esse motivo que apenas respondi sua provocação com um sorriso no rosto.
— Peço desculpas pela minha aparência miserável. Infelizmente, sou um jovem que veio de um mundo sem relação com a nobreza, então apreciaria se fosse leniente com relação às nossas maneiras.
— Hmph.
Não sei para onde foram aquelas palavras gentis “Noblesse Oblige”1La noblesse oblige é uma expressão francesa que significa que a nobreza se estende além do mero direito, exigindo que as pessoas que detêm tal status cumpram responsabilidades sociais. Por exemplo, uma obrigação primária de uma nobreza pode incluir generosidade para com aqueles ao seu redor. De acordo com o Oxford English Dictionary, o termo sugere “ancestralidade nobre constrange comportamento honrado; obrigação acarreta responsabilidade”., e sei que pode estar bravo, entretanto espero que pelo menos retribua minha saudação.
Bem, embora o diga, mesmo que tenha um sorriso no rosto enquanto me cumprimenta na superfície, não deve estar muito satisfeito comigo escondendo Kusunoki e Yuzuki atrás das minhas costas. Dessa forma, o Conde Ducas apenas me lançou um olhar abominável e desviou sua atenção.
E no final, sem retribuir minha saudação, o Conde se limitou a trocar algumas palavras com Lilia antes de sair. Sério, que belo exemplo de um nobre inútil.
— Sr. Miyama, isso foi esplêndido.
— Como devo dizer, ele é uma pessoa bem fácil de entender, não é?
— Como pode imaginar, é um Conde bem conhecido por sua natureza lasciva… Mesmo na festa da noite passada, ele tentou falar com a Srta. Kusunoki e a Srta. Yuzuki muitas vezes.
— Ter esse tipo de fidelidade aos seus desejos, eu meio que o respeito… De qualquer forma, vocês duas estão bem?
— Si-Sim. Muito obrigada, Miyama.
— Ugghh, não gosto desse tipo de pessoa.
Parece que o Conde Bajulador é um oponente de nível traumático para as duas, pois é evidente o quão aliviadas ficaram quando saíram de trás das minhas costas.
Aquele sorriso certamente era assustador. Até eu, como homem, tive arrepios ao vê-lo, e teria sido difícil para meninas jovens quando confrontadas com algo dessa natureza. Poderia até dizer que Lilia, que conseguiu lidar com a situação sem se alterar, era a verdadeira personificação de um nobre.
— Bom, a maioria dos homens que abordam minha dama são assim, afinal.
— Por favor, não diga nada… Luna.
— Não deveríamos confiar no poder do Sr. Miyama e fazê-lo escolher um bom candidato para você, minha dama?
— Ughh, eu invejo Kaito.
Pensando agora, lembro de ter ouvido falar sobre isto antes. Apesar de Lilia ser da realeza, como chefe de sua própria casa nobre, ela acabou de se tornar uma Duquesa, então vinha tendo dificuldade em fazer conexões com os outros.
Para um nobre, suas conexões com aqueles iguais aos seus podem ser consideradas seu poder. Embora tivesse uma conexão realmente ótima com a realeza, como membro da Ordem dos Cavaleiros, ela ficou fora dos círculos sociais por um tempo. Além de sua conexão com a realeza, acabou não tendo muitas conexões com as pessoas que têm uma grande influência.
— Em outras palavras, Miyama se tornou um manekineko2Manekineko (gato acenando) é aquele gato balançando uma das patas para cima e para baixo que se costuma ver em lojas., hein!
— Hina, o que é esse manekineko?
— É um ornamento do nosso mundo que traz mais sorte. Dizem que traz boa fortuna… Seja com dinheiro ou pessoas.
— Entendo! Ou seja, se eu rezasse para Kaito…
— Não há benefício em rezar pra mim, ok?
Graças às palavras desnecessárias de Yuzuki, Lilia juntou as mãos enquanto olhava para mim, como se estivesse rezando. Mesmo se fizer algo assim, nada vai acontecer, sabe?
É claro, Lilia também não estava falando sério, pois logo depois riu e retomou a caminhada. Pensei em dizer algumas palavras para Yuzuki, que era a causa de toda essa confusão, porém foi quando percebi. Os dedos de Yuzuki, que seguravam as mangas das minhas roupas como se as estivesse beliscando sem que me desse conta, estavam tremendo um pouco em contraste com o sorriso brilhante que tinha antes.
Entendo, costumo ser descuidado e esquecer, contudo ela é a mais nova entre nós.
Sendo esse o caso, a insegurança que carrega por trás de seus sorrisos é talvez a maior também. Lembrando agora, também a ouvi chorar em nossa primeira noite neste mundo…
— Se algo assim acontecer no futuro, pode se esconder atrás de mim. Posso não ser tão confiável, no entanto… Bom, devo ser capaz de ajudar.
— !?
Apenas dizendo essas palavras, e fingindo não notar que seu aperto em minhas roupas ficou um pouco mais forte, comecei a andar enquanto combinava o ritmo dos meus passos com o de Yuzuki.
Não posso dizer coisas legais como se eu estivesse protegendo-a, mas mesmo sendo um inútil, acredito que preciso mostrar a elas o que significa ser seu veterano. E se isso puder aliviar sua ansiedade, mesmo que só um pouquinho… Embora não seja do meu feitio, vamos tentar o nosso melhor para fazer algo.
— Muito obrigada… Além disso, Miyama agora… Esteve muito legal…
Ouvindo o sussurro baixo de Yuzuki, parecendo estar mais tranquila, também sorri um pouco.
Ainda que tenhamos encontrado alguns problemas ao longo do caminho, conseguimos sair do templo em segurança. E quando o número de pessoas diminuiu, o ambiente de repente ficou barulhento.
— Ela chegou! A Deusa do Tempo está aqui!
Ouvindo essas vozes, os ruídos ficaram cada vez mais altos.
Por que… Bem nesse momento? Não, sério…
— Minha dama, pelo visto, rezar para o Sr. Miyama trouxe uma bênção imediata.
— Não, como esperado, não desejei que nada tão ultrajante assim acontecesse…
Se tivesse que descrever, seria uma onda branca… Não, uma parede branca.
A visão de um grupo de pessoas trajadas com vestes brancas puras marchando em um único passo ordenado é sem dúvida uma visão impressionante. Os arredores, que deveriam estar barulhentos um momento atrás, foram envoltos em um silêncio congelante, e para essas pessoas que estavam prestes a passar, a multidão se dividiu em duas.
Seguindo a liderança de Lilia, nos alinhamos na beira da rua, ajoelhados em uma posição de oração com ela assumindo a frente.
Olhando ao meu redor, parece ser um costume aqui, e as pessoas que aparentam ser o chefe de cada família estão ajoelhadas na frente de seu grupo, enquanto seus atendentes estão atrás, e eles são divididos nas posições esquerda e direita enquanto rezam. Quase metade das pessoas aqui são nobres… Em outras palavras, pessoas que têm um certo nível de status neste país, mas todas estão ajoelhadas enquanto curvam suas cabeças.
Colocando de outra forma, significa que nenhum nobre pode ser desrespeitoso com os seres que estão prestes a passar por aqui, e essa é a melhor prova… De que os Três Deuses Supremos são seres com uma autoridade extrema.
No centro das pessoas vestidas com vestes brancas puras, pude ver a Deusa caminhando, envolta em uma presença que seria a esperada de uma divindade.
Seu cabelo longo, diferente do azul claro de Lunamaria, mas um azul tão profundo quanto o mar, estava preso atrás do pescoço, e ela tinha olhos heterocromáticos de vermelho e azul. Sua altura é maior que a minha, com meus 170cm, com um corpo alto, esbelto e bem proporcionado, como o de uma modelo. Passa uma impressão graciosa e nobre para aqueles ao seu redor.
A maneira como caminha com suas pernas longas enquanto se mantém cercada pelos sacerdotes, é como se este fosse um desfile de moda que foi realizado apenas para aquela Deusa.
Esta é… A Deusa do Tempo.
A Deusa do Tempo caminhou calmamente ao longo do caminho cercada pelas orações enterradas no silêncio.
Nesta atmosfera, que pode até ser chamada de misteriosa, com apenas o som de suaves passos ressoando, a Deusa do Tempo segue em direção ao templo… Porém acaba por parar no caminho.
— …
Os sacerdotes ao redor também pararam em uníssono, e enquanto o som de passos que ecoaram antes desapareceu, o silêncio tomou conta do lugar. A Deusa então vira seu olhar em nossa direção… Eh?
Sou só eu ou sinto que a Deusa do Tempo está olhando pra cá? Não, está mesmo olhando aqui. Não é que fizemos contato visual por coincidência ou algo assim, seu olhar está voltado para mim. Parece que está tentando me matar com seu olhar, sabe? Por quê?
Por algum motivo, a Deusa do Tempo parou e me encarou, e depois de um momento de contemplação, andou em nossa direção… Até ficar de frente para Lilia.
— Você é uma nobre deste país, certo?
— Hã? Si-Sim… Lilia Albert… É… Meu… Nome…
A Deusa do Tempo para na frente de Lilia e pergunta em voz baixa, ao passo que Lilia responde mesmo com seus lábios tremendo.
Suponho que não esperava ser abordada. Eu não consigo ver seu rosto porque estou atrás de suas costas, contudo pude notar seus ombros tremendo um pouco.
— O homem atrás de você é seu assistente?
— Nã-Não, ele é… Hmm…
— Fumu… Não, desculpe. Se é uma pergunta difícil para responder, pode ignorá-la.
Depois de dizer isso, a Deusa do Tempo moveu seu olhar para mim e silenciosamente me encarou com seus olhos heterocromáticos vermelhos e azuis.
— Parece que você foi abençoado com um destino bem estranho, hein?
— Hein?
— Não, não sei muito sobre essas coisas, pois elas estão sob o domínio do Deus do Destino… No entanto, é bastante interessante. Essa pressão que estou sentindo ao seu redor… Qual demônio da carnificina gostou de você à primeira vista?
— …
Eu, com toda honestidade, não faço ideia do que está falando, todavia pensando bem, acho que Shiro também usou esse tipo de frase.
O humano que Kuromueina gostou à primeira vista… O que essas palavras poderiam implicar?
Não respondi nada. Ou melhor, eu mesmo estou tão confuso com aquela pergunta que não consigo responder. Tirando o olhar de mim, a Deusa do Tempo volta a olhar para Lilia.
— Seu nome é Lilia Albert, certo…? Se não me engano, foi você quem foi responsável por invocar os heróis dessa vez, não foi?
— Si- Sim… É como a Deusa do Tempo diz…
— Parece que escolheu um ser muito interessante… Adoraria poder conversar mais, entretanto tenho outros negócios para atender hoje, então não tenho tempo. Gostaria que pudéssemos conversar mais tarde, se estiver tudo bem para você.
— Si-Sim. Sempre que a Deusa do Tempo desejar… Está tudo bem para mim…
Quando a Deusa do Tempo disse que queria falar com ela mais tarde, os ombros de Lilia estremeceram por um momento antes que oferecesse sua gratidão com as mãos no chão e, ao mesmo tempo, uma confusão surgiu ao nosso redor.
Talvez, essa proposta seja algo que pode ser chamado de sem precedentes. Lunamaria, que estava ao meu lado, também ficou tão surpresa que congelou no lugar com os olhos bem arregalados.
Porém, os eventos sem precedentes não terminaram aí. Quando a Deusa do Tempo ouviu a resposta de Lilia, assentiu satisfeita e então estendeu a mão em sua direção…
— Entendo, sinto muito por incomodá-la naquele momento. Bem, sendo assim, lhe transmitirei meus planos mais tarde… Isso pode ser informal, mas em troca dos problemas que estou lhe causando… Concedo-a as “Bênçãos do Tempo”…
— !?
À medida que a luz transbordava de sua mão estendida, começou a envolver o corpo de Lilia.
A bênção de um Deus Supremo… Ainda que eu não esteja muito familiarizado com este mundo, posso entender o que tal evento significa.
Até mesmo o rei de um país mal conseguia receber a bênção de um Deus de alto escalão, contudo os Deuses Supremos são seres muito mais elevados do que eles… E esta é a bênção de tal ser que é visto apenas em raras ocasiões fora o Festival do Herói. Esta bênção não é mais apenas algo que pode ser comprado com dinheiro.
— F-F-F-Foi uma honra receber sua benção.
— Umu. Bom, eu te encontro quando pudermos conversar novamente. Vou “lembrar” seu nome.
Depois de dizer essas palavras, a Deusa do Tempo voltou seu olhar para mim mais uma vez antes de caminhar em direção ao templo, e os sacerdotes, que estavam congelados no lugar pelos eventos que acabaram de presenciar, seguiram o exemplo.
Falando da própria Lilia, ela ainda está ajoelhada no chão, sem se mover nem um pouco. Ou melhor, parece estar completamente congelada no lugar.
Depois de um tempo, quando o grupo da Deusa do Tempo desapareceu de vista, enquanto todos permaneciam estupefatos, Lunamaria se moveu em grande velocidade e agarrou Lilia, levantando-a em seus braços e nos disse.
— Todos! Rápido, de volta para a carruagem!
— !?
Dizendo isso, começamos a correr e quando chegamos à carruagem estacionada, Lunamaria literalmente jogou a Lilia, ainda congelada, na carruagem.
Ei, você só a jogou como se fosse um objeto qualquer. Está tudo bem fazer algo assim com sua senhora?
Pulando direto para as rédeas da carruagem depois de confirmar que nós três tínhamos corrido para dentro, Lunamaria fez os cavalos começarem a correr.
A razão pela qual estava com tanta pressa é compreensível pelos aplausos ensurdecedores que vieram logo após começarmos a nos mover.
Lilia, que recebeu a bênção de um Deus Supremo, o que é considerado sem precedentes, agora é considerada a mulher do momento, e se tivesse ficado lá, teria sido bombardeada com muitas perguntas, o que teria sido uma situação terrível de se lidar.
Graças ao seu raciocínio rápido, conseguimos sair de lá antes que o inferno emergisse entre nós. Como não somos criminosos, não fomos perseguidos nem nada do tipo, então, depois de um tempo, Lunamaria também soltou um suspiro de alívio ao deixar as rédeas para o condutor que estava originalmente administrando a carruagem, voltando para dentro.
Então ela se virou e acordou a rígida Lilia, que seguia naquela posição quando foi jogada na carruagem.
— Minha dama! Minha dama! Por favor, controle-se!
— Hã? Lu-Luna? Eh, ah, awawawawa, o que devo f-f-fazer…
— É incrível! Minha dama! A Deusa do Tempo não só se lembrará do seu nome, como até te abençoou, mesmo que seja apenas de maneira informal! É uma conquista brilhante!
— Awawawa! C-C-Como pensei, não foi só um sonho, hein? A-A-A Deusa do Tempo… M-M-Me deu sua bênção…
Isso não vai funcionar. Lilia segue presa no próprio pânico.
Está tremendo descontroladamente em contraste a sua aparência sempre calma, parecendo um bezerro recém-nascido, movendo seu olhar por todo o lugar. Para ser honesto, sua aparência de agora é muito fofa.
— Acalme-se, minha dama. Não entendo o que está dizendo. Por favor, recomponha-se.
Devo dizer que é de se esperar, Lunamaria foi capaz de cortar até mesmo o raciocínio de Lilia, que está naquele estado.
Entretanto, por infelicidade, parece que ela não é o tipo de pessoa que consegue se recompor quando começa a entrar em pânico.
— I-I-Isso é impossível! Como algo assim pode acontecer… Awawa… Kyuuu!
— Minha dama? O quê? Minha dama?
Ah, Lilia ficou tão em pânico que seus olhos começaram a girar. Sinto como se pudesse ver vapor saindo de sua cabeça.
Por ora, fizemos uma pausa até que Lilia se recuperasse, e enquanto a carruagem parava a uma curta distância da estrada principal, ela se deitou em seu assento com uma toalha molhada no rosto.
— Unnyyuuu!
Deixando escapar um sorriso ao vê-la fazer gemidos tão fofos, conversamos sobre o que aconteceu antes.
— O poder manekineko do Senpai… É bem assustador, não é?
— Sim… Até eu estremeci com tal resultado. Estou feliz por não ter rezado para o Miyama.
— Hã? Como é que virou minha culpa?
— Seja culpa de Miyama ou não, a Deusa do Tempo estava interessada na sua pessoa.
Imagino se é esse o caso. Ela disse algumas coisas estranhas, e também tem o detalhe das falas da Deusa do Tempo coincidirem com as que Shiro me disse. Não sei se sou realmente abençoado por um destino estranho ou não, todavia…
— Por sinal… Estou mudando de assunto, mas no final, qual é o nome da Deusa do Tempo?
— Não sei. Os deuses não se nomeiam, de forma que nós apenas os chamamos pela autoridade que exercem, então pelo menos eu não sei. Se for um deus de baixo escalão, alguns dos sacerdotes do templo deles podem saber… Porém se for um deus de alto escalão acho que ninguém saberia além dos outros deuses.
— …
Certa deusa que acabei de conhecer é diferente. Caramba, ela é a primeira a se apresentar!
Bem, como é conhecida de Kuro… Vamos apenas dizer que Shiro está fora do normal por enquanto, contudo há outras coisas que estão na minha mente agora.
— No entanto, com ela reagindo dessa maneira, Lilia pode ter uma discussão “cara a cara” com a Deusa do Tempo?
— Hyyiiii! Ca-Cara a cara?
Aparentemente tendo ouvido o que acabei de dizer, a inconsciente Lilia pulou. Quero dizer, foi ela quem foi convidada para conversar, e também é a responsável por nos convocar…
— Lu-Luna… Me ajude…
— Como esperado, isso será impossível. Não importa como olhe para essa situação, sou apenas uma mera serva, não seria capaz de sentar junto em uma discussão na presença de um Deus Supremo. Ou melhor, não acho que teria permissão.
Lilia a olhou com olhos que pareciam transmitir seu desejo de confiar nela, mas Lunamaria soou apologética enquanto balançava a cabeça.
— É impossível para mim também, sabia? Só de pensar em falar com um Deus Supremo faz meu corpo tremer, além do mais será uma conversa cara a cara…
Lilia começou a chorar. Realmente desabou em lágrimas.
— Miyama não teria permissão para se apresentar na conversa?
— !!!
— Ehh?
— De fato, a Deusa do Tempo parecia estar interessada no Sr. Miyama, e tenho certeza de que essa é a principal razão pela qual está interessada em conversar com minha dama…
Arehh? De repente a situação começou a me soar ameaçadora. Nesse instante, Lilia olhou para mim com lágrimas nos olhos. Parece estar muito confusa enquanto olha para mim.
— Nã-Não, sou só um plebeu comum…
— Por favor, venha comigo! Kaito!!!
— Uwaaahhh!
Por ora, desejo me abster de ir a um lugar que possa fazer meu estômago revirar, então pensei em dizer um não indireto… Contudo, Lilia literalmente pulou em mim.
— Por favor! Por favor, me ajude!
— Li-Lilia? Seu rosto, seu rosto está muito perto! E seu aperto é muito forte!
— Não tenho mais ninguém a quem recorrer! Encontrá-la sozinha é sem dúvida impossível!
As palavras “evidentemente desesperada” eram perfeitas para descrevê-la nesse momento, no entanto o verdadeiro problema é que estou sendo abraçado por ela.
A combinação dessas coisas que são extremamente suaves, o doce aroma de seu perfume fazendo cócegas em minhas narinas e seus olhos marejados… Seu poder destrutivo é imensurável.
Além do mais, mesmo quando tento afastá-la para longe de mim, não sei onde tal poder se esconde em seu corpo esbelto, mas ela segue agarrada a mim com uma quantidade absurda de força ao ponto que não consigo rivalizar de jeito nenhum.
Esse estímulo é forte demais para um homem da minha idade que nunca teve uma namorada desde que nasceu. Ou melhor, minhas costas doem pra caramba com esse abraço!
Quer dizer, é quase como se estivesse tentando me partir ao meio…
— En-Entendi! Também estarei presente! Vou estar lá!
— Kaiittttoooooooo!
— E-Espera, Lilia… Isso dói…
— Obrigada… Muu…
— Espera… Calma… Estou sofrendo aqui…
Se as coisas continuassem desse jeito, esqueça minha razão, até minha vida estará em perigo. A única maneira de escapar foi concordar em encontrar a Deusa do Tempo junto, então assenti quase em desespero ao seu pedido de estar presente naquele momento.
Depois, o rosto de Lilia foi tomado por emoções, como se estivesse vendo o próprio Buda de baixo dos poços do inferno… Que acabou me abraçando “com ainda mais força do que antes”. Acho que estou ouvindo um barulho muito desagradável estalando nas minhas costas… E minha consciência escureceu.
Um caloroso abraço de uma linda beldade. Soa tão maravilhoso quando apenas coloco em palavras, porém como uma pessoa que desmaiou sob aquele abraço, agora estou traumatizado.
Desde que vim a este mundo, fui traumatizado por bolinhos castellas e agora, estou traumatizado pelo abraço de uma beldade… Sinto um pouco de vergonha de mim mesmo.
Bem, vendo-a se desculpar várias vezes enquanto estava meio chorosa, me fez sentir pena… Não tenho como não a perdoar, embora…
De qualquer forma, estarei presente na reunião com a Deusa do Tempo, apesar da ideia fazer meu estômago embrulhar. Todavia a permissão da Deusa do Tempo deve ser dada antes que eu também possa comparecer.
Há uma grande probabilidade de que esteja presente nessa reunião, contudo falaremos sobre isso depois que entrarmos em contato para saber quando elas terão essa conversa.
Depois do jantar e de uma conversa rápida com Kusunoki e as outras, tomei um banho e voltei para o meu quarto.
— Bem-vindo de volta!
— …
Ah, é verdade. Falando nisso, esse pacote de absurdos tem aparecido no meu quarto todas as noites…
Por mais frustrante que seja, não há como negar o fato de que estou aliviado em ver seu sorriso brilhante de sempre. Não sei se tenho medo de estar me acostumando, ou talvez o sorriso de Kuro seja um de astúcia…
— Você conheceu Shiro hoje, certo? Como foi… Arehh?
— Unnn?
Kuro falou comigo com o sorriso usual de sempre, no entanto, por algum motivo, parou de falar no meio da história e olhou com mais atenção para mim.
Um pouco depois, uma incomum… Ou melhor, talvez esta seja a primeira vez que vi uma expressão de surpresa em seu rosto.
— Kuro?
— Kaito. O que aconteceu quando você encontrou Shiro?
— Hã?
— Bem, acho que Shiro deve ter dito que pedi para lhe conceder sua bênção. É só que a bênção que adquiriu não é o que imaginei que seria. Pensei que sua bênção fosse mais segura do que uma de um deus de nível inferior, mesmo que ela concedesse sem compromisso… Porém para seriamente lhe conceder sua bênção? Como conseguiu?
Pelo visto, ela está surpresa com a bênção que recebi de Shiro.
Deve ter esperado que apenas atendesse seu pedido de forma descompromissada, contudo ainda assim a pediu porque seria melhor do que uma bênção de um deus de nível inferior.
De fato, a princípio, Shiro o fez sem se comprometer. Não estou enganado sobre isso, já que a própria pessoa afirmou tê-lo feito, no entanto acabou cancelando-a depois e me concedeu sua bênção outra vez, só que agora fazendo com seriedade.
Quando expliquei a Kuro a situação, incluindo as coisas que aconteceram hoje e o conteúdo das conversas que tivemos, seus olhos se arregalaram de surpresa outra vez.
— Ku… Kukuku…
— Unnn?
— Ahahahahahaha!
— Hã?
— Kaito, você disse mesmo algo assim? Ahaha, Shiro provavelmente nunca pensou que um humano diria “É algo que você não pode fazer”.
— Errr… É tão engraçado da minha parte ter dito?
— Pode dizer que é realmente incomum, entretanto é algo incrível com certeza! Acredito que deveria se orgulhar! Não é todo dia que alguém desperta o interesse de Shiro!
Kuro me elogiou com um sorriso que parecia dizer que estava feliz por algum motivo.
Eh? Eu fiz algo tão ultrajante assim? Não, na verdade, pensando melhor essa pode ter sido uma declaração bem rude para se dizer a um deus.
Rindo por um momento, Kuro começou a me explicar com um sorriso no rosto, para o eu que seguia sem entender.
— Se eu fosse descrever Shiro, acho que poderia dizer que ela tem uma doutrina de absoluta imparcialidade em relação a todos os assuntos. Poderia ser estranho vindo de mim, mas ela é alguém incomum!
— De fato, Shiro tinha aquela vibração misteriosa ao seu redor, porém…
— Por exemplo, numa situação normal haveria, mais ou menos, uma diferença entre o que você gosta e o que não gosta, certo? No meu caso, prefiro doces saborosos em comparação com aqueles doces que têm gosto ruim, e se alguém me perguntasse de qual gosto, responderia que são os doces saborosos.
— Unnn.
— Contudo, Shiro é diferente. Para Shiro, sejam doces que têm gosto ruim ou doces que têm gosto delicioso… Não só isso, sejam as vidas que vivem no mundo ou os cenários que pode encontrar nele, a maioria das coisas que podem ser encontradas no mundo têm “o mesmo valor” aos seus olhos, e nada tem superioridade ou inferioridade diante dos olhos de Shiro. Nesse sentido, poderia dizer que ela é alguém de extrema benevolência, no entanto, também significa que não demonstra amor por nada. Colocando a maior parte do mundo no mesmo nível e observando-o da mesma forma… Esse é o tipo de Deusa que Shallow Vernal é.
Quando ouvi sua explicação, a primeira coisa que me veio à mente foi a imagem daquele bolinho castella com um gosto horrível e assassino… Embora Shiro tenha dito que o gosto é horrível, não pareceu se importar nem um pouco e continuou a comê-lo como um bolinho de chá normal.
E também, aqueles olhos que me deram arrepios na primeira vez que os vi, olhos que me deixaram incerto se estavam olhando para mim ou para o cenário ao redor… Significa que para Shiro eu era tão valioso quanto o cenário à sua volta, as flores e gramas naquele jardim suspenso, o que é, por assim dizer, algo natural para ela sentir.
— E essa Shiro disse que “está interessada em você”, Kaito. É ainda mais incrível do que se pode imaginar. Afinal, significa que ela reconhece sua existência. O que significaria que o colocou acima de todos os outros que sente que têm o mesmo valor.
— E-Errr…
— É raro vê-la ter interesse por alguma coisa. As coisas que captam seu interesse podem ser contadas em uma mão.
Como devo dizer… A história parece estar crescendo cada vez mais.
Para ser honesto, minha cabeça foi ficando bem confusa enquanto ouvia as palavras sendo ditas uma após a outra. Ou melhor, Shiro-san… Parece ser uma Deusa mais ultrajante do que pensei a princípio, e entendi uma vez mais por que Lilia e Lunamaria ficaram tão surpresas quando as contei sobre nossa conversa. E, tendo entendido o porquê, uma sensação de desconforto surgiu do nada.
Unnn. Isso mesmo… Em meu íntimo, em vez de sentir que fiz algo incrível, acho que estou mais ansioso sobre o que vai acontecer agora.
— É por esse motivo que o que você conquistou hoje é incrível, Kaito… No entanto…
— Hmm?
Começava a me sentir em um turbilhão de agonia e considerações, entretanto com um tom gentil, Kuro de repente puxou minha mão.
Por causa da diferença em nossa altura, fui puxado para baixo, tão confuso que não consegui resistir, e em uma postura que parecia que tinha acabado de cair em seu corpo, Kuro me abraçou com seu toque suave.
Meu rosto tocou seu peito, e pude sentir o calor e a maciez de seu corpo através de suas roupas. O doce aroma penetrando em minhas narinas e indo direto para meu cérebro, senti uma inexplicável sensação de conforto enquanto sua voz gentil ressoava em meus ouvidos.
— Não me importo com isso… Estou muito mais feliz por você ter sido capaz de pensar sobre o que queria e por tê-lo colocado em suas próprias palavras.
— !?
— Você tem se esforçado bastante. O Kaito de agora foi muito legal.
Como imaginei, ela realmente é astuta.
A confusão e ansiedade que sentia um momento atrás foram apagadas da minha mente com apenas essas frases, me dando uma sensação calorosa e segura que não consigo conter, como se pudesse naturalmente falar as palavras que mais anseio ouvir.
Tenho certeza de que estava cansado depois de todos esses problemas pelos quais passei hoje, todavia é estranho que não consiga evitar sentir a vontade de fazer o meu melhor novamente.
Uuuuuh. Mas essa posição em que uma garotinha está me abraçando enquanto acaricia minha cabeça, é muito embaraçosa para mim… Não é bom. Sinto que já perdi o momento em que queria me entregar a essa sensação reconfortante de segurança, mesmo que por um pouco mais de tempo.
Fui capaz de falar o que penso contra a Deusa. De alguma forma, fui capaz de me opor até mesmo contra um nobre. Consegui me preparar para participar de uma reunião que fará meu estômago revirar. Porém, contra ela… É um pouco impossível. Ou melhor, o simples pensamento de resistir nem passou pela minha mente, e qualquer trauma que pudesse ter sentido em relação a abraços foi eliminado de mim.
Em vez disso, pode ser muito simplista da minha parte, contudo estou feliz em pensar que esse abraço é a melhor recompensa que recebi hoje.
Depois que Kuro me abraçou por um tempo, comecei minha prática de usar magia, embora sigo estando envergonhado. Apesar de tudo dito, sigo não conseguido nem sentir meu próprio poder mágico, então estava no nível em que estou tentando lembrar como sentir o poder mágico, me movendo vestido com o poder mágico de Kuro, que foi ajustado para que eu possa vê-lo.
— Hmmm. Nesse ritmo, acho que levará mais 3 dias antes de conseguir produzir seu próprio poder mágico, Kaito.
— Ohhh… Espera, você não disse que se fosse talentoso conseguiria fazer depois de um dia?
Se não me engano, Kuro disse que levaria um dia no mínimo e um mês no máximo para usá-lo. Comecei a aprender magia com Kuro na noite depois que cheguei a este mundo, então este deve ser o quinto dia da minha prática.
Sendo esse o caso, se puder usá-lo em três dias, seriam 8 dias no total… Acho que é bem normal, hein? Não, tive uma excelente instrutora chamada Kuro e se ainda vai me tomar oito dias para usá-lo, acho que posso dizer que sou bem lento.
— Não, quando disse aquilo me referia a uma situação em que alguém pratica por um dia inteiro. Kaito pratica apenas por cerca de uma hora por dia, então acho que seu ritmo é bem rápido.
— Ohh, se você diz, isso me dá mais confiança.
— Ahaha, bom, de qualquer forma, poderá usar seu poder mágico em breve… E com isso, te trouxe um presente para hoje!
— Um presente?
— Unnn! Veja, nós fizemos churrasco juntos ontem, então o medidor de “Afeixão” deveria ter subido e aquele “ebentu” também deveria ter acontecido, é por esse motivo que trouxe este presente!
— Peraí, o quê?
Wow, fui descuidado por um momento e ela começou a dizer coisas estranhas outra vez.
Vendo que apenas inclinei minha cabeça, Kuro assumiu uma postura confiante enquanto continuava a falar com um sorriso no rosto.
— Fufufu, estou muito bem informada a respeito, sabia? Ouvi falar sobre aquela cultura do seu mundo onde se faz amizade com pessoas de outros mundos chamada “doisdi”, e quando fala com elas, a afeixão aumenta. E quando acumula o suficiente dessa afeixão comendo juntos ou coisas do tipo, ganha uma recompensa, como uma arma ou um item conveniente!
— …
Por onde diabos devo começar a mandar meu tsukkomi?3Relembrando, tsukkomi é um termo da comédia japonesa que se refere ao papel do homem sério em um espetáculo de manzai. O tsukkomi é o parceiro do boke, o homem engraçado, sendo este primeiro o mais inteligente e razoável do duo, e critica o boke por seus erros e exageros. O manzai é um estilo de comédia tradicional japonesa, semelhante à comédia de dois atos. Os comediantes manzaishi trocam piadas rapidamente, muitas vezes baseadas em mal-entendidos e outras gags verbais. Por que diabos o conhecimento de Kuro sobre o outro mundo é tão estranhamente inclinado a uma coisa, ou melhor, que tipo de rota tomou para que seu conhecimento seja tão meia boca desse jeito?
Ela falou sobre 2-D e Afeição, mas dizendo que acumular Afeição lhe rende uma recompensa, o que tinha em mente era provavelmente uma mistura de todos os tipos de jogos.
Se tivesse perguntado sobre isso a uma das pessoas que ocupavam o papel de Herói naquela época, imagino como a explicariam que só têm um conhecimento bem descabelado do nosso mundo? Além do mais, seu sorriso presunçoso quando explicou é meio fofo, porém é também de alguma forma irritante.
Como fiquei confuso com o conhecimento bizarro de Kuro sobre meu mundo, ela tirou um livro do casaco e colocou na minha frente.
— Um livro?
— Unnn. Veja, havia aquele livro que Kaito estava lendo outro dia chamado Introdução à Magia, certo? Depois que te vi lendo antes, pensei em fazer minha própria versão.
— W-Whoa… Isso é bastante incrível…
— Fufufu, na minha opinião, acredito que está muito bem escrito!
O presente que Kuro preparou para mim é a Introdução à Magia que Lilia me deu… Aquele livro complicado… E Kuro, que é bem versada em magia, parece tê-lo reescrito, levando em consideração minha reação ao livro nos últimos dias e as diferenças entre a cultura mágica dos humanos e dos demônios. Pegando-o e folheando algumas páginas… É com certeza mais acessível para eu entendê-lo.
Se fosse comparar a Introdução à Magia que Lilia me deu a um livro de referência usado para exames, a Introdução à Magia que Kuro fez para mim era como um livro didático escolar, explica o básico com muito cuidado de uma forma que é fácil de entender, mesmo como iniciante.
Sou muito grato por sua consideração. Tenho certeza de que poderei progredir em meus estudos no futuro apenas lendo-o em meu tempo livre.
— Muito obrigado, Kuro. Contudo, errr, tenho uma coisa que preciso discutir com você…
— Unnn?
— Este livro… Posso mostrá-lo para Kusunoki e Yuzuki… Errr, as outras crianças que vieram comigo de outro mundo… Ou não posso? — começando com meus agradecimentos, prossegui escolhendo cuidadosamente as palavras que quero falar.
Este livro é tão fácil de entender. Por essa razão, pensei em Kusunoki e Yuzuki.
Sou abençoado, para dizer o mínimo. Tenho a orientação de Kuro, que não está de forma alguma em um nível que poderia ser considerado normal, então há uma grande diferença entre nós em termos de nossas circunstâncias.
Acredito que as duas gostariam de usar magia, no entanto o método original de ensino para humanos leva alguns meses, mesmo para uma pessoa talentosa. Em média, seria necessário passar um ano para poder usá-la.
Entretanto neste livro, Kuro me ensinou apenas dois tipos de magia, e explica em detalhes as diferenças entre a chamada cultura mágica dos demônios e dos humanos, e até mesmo como lidar com o poder mágico em si. Acredito que se usassem este livro como referência, também seriam capazes de usar magia muito rápido.
Todavia, se mostrar este livro para elas, acho que seria educado da minha parte também contá-lo para Lilia, que tem estado as ensinando magia.
Nesse caso, também teria que contar sobre como estou sendo ensinado por Kuro… E, partindo daí, teria que explicar como Kuro vem a esta residência todas as noites. Essa também é a razão pela qual estou hesitando.
De acordo com Lilia e Lunamaria, Kuro tem usado Magia de Ocultação de Informações em si mesma e também costuma só aparecer quando estou sozinho. Até quando me convidou para um churrasco, ela usou o nome de alguém que conhecia para me convidar.
Isso significaria que está escondendo sua identidade, e por essa razão nunca fiz nenhuma pergunta sobre seu passado. Este é o motivo pelo qual mantive o fato de nos encontrarmos em segredo de Lilia e das outras.
Então estou tentando consultá-la indiretamente se está tudo bem em contar a Lilia e as outras sobre suas visitas, por assim dizer, e agora quebrava a cabeça pensando em uma maneira de como perguntar sobre.
Tenho uma grande dívida de gratidão com Lilia neste mundo… Mas, mesmo assim… Se tivesse que escolher entre as duas neste momento… Daria prioridade a Kuro. Embora tenha passado pouco tempo desde que nos conhecemos, ela se tornou uma parte indispensável da minha vida e não quero fazer nada que possa parecer uma traição aos seus olhos.
Dessa forma, está não é uma sugestão ou um pedido, e sim uma discussão… Se ela mostrar qualquer sinal de estar desconfortável com a ideia…
— Sei que está escondendo sua identidade, porém se for possível…
— Hein?
— Hã?
No meio do meu nervosismo, virei-me para Kuro para transmitir meus pensamentos… Contudo parei de falar quando vi o olhar estranho em seu rosto enquanto tirava “vários livros que parecem iguais ao livro que acabei de receber”.
Arehh? Sua resposta foi bem diferente do que imaginei.
— Errr, Kuro? O que é isso?
— Hã? Não, é só que pensei que se fosse você, era provável que pedisse algo desse tipo, então me adiantei e preparei várias cópias do mesmo livro.
— Errr, há uma coisa que quero confirmar…
— Unnn?
—Você está escondendo sua origem das pessoas ao seu redor?
— Como? Não, não é como se estivesse tentando esconder.
— O quê?
Arehh? O que diabos está acontecendo aqui? Por alguma razão, sinto que há algum mal-entendido em relação à premissa principal desde o início.
Pensei que estivesse usando Magia de Ocultação de Informações para esconder sua identidade porque não queria que as pessoas soubessem sobre seu respeito, e esse era o motivo para ter que se esgueirar para cá… Não me diga, estou enganado?
— Kuro, por que está usando Magia de Ocultação de Informações?
— Unnn? Meu passatempo é comer enquanto estou na rua e, como sou bem famosa no Reino Humano, estou usando-a para não fazer uma cena.
— Por que sempre passa pela Barreira de Detecção para entrar nesta residência?
— Hã? Não é que não tenha pensado em apenas dar meu nome para entrar do jeito normal, entretanto escrever uma carta apenas para visitar um Ducado é problemático.
— Então, por que enviou aquele convite para o churrasco com um nome diferente?
— Enviar com o nome de uma criança que vive no Reino Humano torna a conversa mais fácil, certo?
— …
Umu, o que ela quer dizer é isso. Para resumir… É um pouco famosa no Reino Humano e sente que fazer uma cena seria problemático. Tendo isso em consideração, ela usa Magia de Ocultação de Informações o tempo todo. Todavia não é como se estivesse tentando esconder sua identidade, e é perfeitamente aceitável para ela distribuir esses livros para outras crianças e contar a Lilia sobre suas visitas…
Qual era minha preocupação e de que valeu minha determinação em consultá-la?
— Ahh! Errr, Kaito? Se quiser, quer que eu visite com meu nome e explique a elas nossa situação?
— Unnn. Se puder fazê-lo, seria uma grande ajuda. Quero dizer, queria que tivesse feito desde o começo…
— A-Ahaha, desculpe, desculpe. Não estava muito interessada em ninguém aqui além de você, e também estive pensando… Porém decidi esperar quando você me perguntasse a respeito!
No final, meus ombros penderam de tanto ficar nervoso por nada. Depois de sorrir ironicamente e se desculpar comigo, Kuro tira um pequeno cartão de mensagem do casaco, escreve algo nele, coloca em um envelope e me entrega.
— Bom, aqui está, tenho algumas coisas que preciso fazer amanhã… Vou vir depois de amanhã, então poderia entregar esta carta a dona da casa?
— Sim, entendido.
Recebi o envelope de Kuro, que pelo visto contém uma carta solicitando uma visita rápida.
Como devo dizer, estou meio cansado, contudo e de qualquer forma, agora posso contar a Lilia sobre Kuro.
Eu me senti estranho escondendo coisas de Lilia, que na verdade tem sido uma grande ajuda para mim, e se soubesse que Kuro concordaria tão fácil, teria trazido essa conversa à tona antes…
Depois que a noite passou, expliquei de maneira resumida a situação para Lilia enquanto tomávamos café da manhã.
Não tenho certeza de quanto efeito a Magia de Ocultação de Informações tem, no entanto, pelo menos, parece que recebeu a mensagem de que tenho me encontrado com um demônio todas as noites até agora, e que o demônio me disse que gostaria de vir fazer uma visita oficial, ao que Lilia assentiu como se estivesse um pouco convencida.
— Entendo, é verdade que um demônio de alto escalão seria capaz de passar pelas Barreiras de Detecção, então não é surpreendente que tenha uma conexão com a Companhia de Ferramentas Mágicas Seditch.
— Depois de tudo é uma empresa originária do Reino Demoníaco. Em vez disso, o fato de ter se tornado tão próximo de um demônio de alto escalão que costumam não ter muito contato com humanos… Acho que poderia dizer que é de se esperar do Sr. Miyama.
As reações de Lilia e Lunamaria não foram tão ruins quanto esperei e, na verdade, foi bom que tenham reagido favoravelmente.
Parece que desde o começo as duas pareciam estar cientes da possibilidade de o ser que encontrei quando me perdi ser um demônio de alto escalão, e não queriam entrar em uma situação em que fossem recebidas com hostilidade.
E depois de ouvir o que contei, Lilia ficou aliviada ao descobrir que Kuro me favorece e que não tem a intenção de antagonizar os outros.
Também evidencia o quão ultrajante o poder de um demônio de alto escalão deve ser.
— Mesmo assim, com aquele demônio de alto escalão adicionado à lista, só mostra o quão incrível a habilidade de Kaito de ter conexões com os outros é. Se for alguém que visita o Reino Humano com frequência, já devemos ter conversado alguma vez antes.
— Sim, ela disse que era bem famosa.
— Fufufu, isso meio que me deixa nervosa. Enfim, já que tem aquele incidente com a Deusa do Tempo, duvido que haja algo que seria…
Em vez de dizer que está calma sobre a situação, acho que seria melhor dizer que Lilia recebeu o envelope de mim com um sorriso um tanto resignado no rosto. Ela então abriu o envelope enquanto falava sobre o grande evento que estava por vir com um olhar distante no rosto, como se estivesse escapando da realidade, tirando o cartão de mensagem dobrado de dentro do envelope, abriu-o… E rapidamente o fechou.
— …
— Minha dama?
— Devo estar vendo coisas… Agora mesmo… Só posso ter imaginado… Ter visto coisas…
— Minha dama… O que foi que aconteceu…
Depois de fechar o cartão de mensagem mais uma vez, logo após abri-lo, Lilia começou a resmungar algo, e Lunamaria e nós apenas inclinamos nossas cabeças sem entender o porquê.
Após respirar fundo, Lilia voltou a abrir o cartão de mensagem… E imediatamente depois, bateu na mesa com seu rosto.
— Minha dama?
Lunamaria correu até o seu lado, contudo Lilia não reagiu enquanto se deitava na mesa, e depois de alguns momentos, olhou para cima segurando sua cabeça em suas mãos, só que, por algum motivo, seu rosto estava muito azul.
— Não aguento mais… As conexões amigáveis de Kaito… São assustadoras…
— Errr? Minha dama? O que houve?
Depois de olhar para mim com olhos trêmulos cheios de medo, estendeu o cartão de mensagem dobrado com sua mão trêmula na frente de Lunamaria, que tinha um olhar preocupado em seu rosto.
— Tudo bem, Luna. Por favor, respire fundo… Depois de preparar seu coração, abra-o.
— Ha-Hahh… Entendido.
Vendo-a tão pálida e tremendo em seu assento, o que era bem incomum, com uma expressão duvidosa no rosto, Lunamaria respirou fundo, assim como lhe foi dito, e com uma expressão séria no rosto, abriu o cartão de mensagem… E alguns segundos depois, caiu de joelhos.
— Luna? Luna! Por favor, controle-se!
— …
Lilia a chama apressadamente, mas Lunamaria enrijeceu e assumiu uma face estupefata com os olhos arregalados.
Vendo-a parecendo ter desmaiado enquanto estava ajoelhada ali, Lilia sente que não conseguiria nenhuma resposta de sua parte, e dá algumas instruções a outra serva.
Poucos momentos depois, uma enxurrada de servas chegou à sala de jantar, uma após a outra com pressa… E se não me engano, as pessoas que deveriam estar encarregadas de vários departamentos se reuniram. Na minha frente, que seguia incapaz de acompanhar a situação, a pálida Lilia abriu a boca.
— Todas, prestem bastante atenção! Amanhã ao meio-dia, receberemos um convidado muito importante! Qualquer tipo de desrespeito na presença dela não é permitido! Preparem nossa melhor hospitalidade possível. Além disso, enviem nesse exato momento um “cavalo veloz” para transmitir minha mensagem! Ignorem o custo dos ingredientes… Não, digam ao Rei para “enviar os ingredientes do palácio real, junto com os chefs”!
— Hã? Mi-Minha dama… O que está acontecendo…?
Posso entender por que elas estão assim só de ouvir todas essas instruções absurdas que estão recebendo. Quero dizer, as servas também estão confusas, como se não entendessem a situação.
E, quando um dos servos timidamente pergunta, Lilia para de se mover… E com lágrimas nos olhos, responde.
— …chegando… Amanhã…
— Hein?
— Como eu disse! Amanhã ao meio-dia!! O “Rei do Submundo” está vindo aqui amanhã!!!
— — — ????????
A voz de Lilia, que soava como um grito, ecoou e desapareceu dos arredores.
Tradução: Shuraragi
Revisão: Matface
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