— Hã?
— Raramente tive qualquer conversa com um humano. Nesta rara ocasião, vou lhe conceder uma coisa que deseja. É o poder de fazer o que deseja? Sabedoria o suficiente para tocar na verdade do mundo? Riqueza maior do que poderia usar em toda a sua vida? Reputação que faz com que todas as pessoas o respeitem? O que quiser está bom.
— …
— Agora, me diga o que deseja. Posso lhe dar algo que ninguém jamais esperará alcançar.
A Deusa me pergunta, como se fosse algo que pudesse fazer com um simples estalar de dedos. Que possa me conceder qualquer coisa que desejar… Que possa me transformar em qualquer coisa que desejar…
Qualquer coisa que eu desejar pode se tornar realidade… Se pedir a ela, posso ser especial. Meu coração oscilou frente a essa possibilidade. O que não consegui mesmo depois de lutar e sofrer, a Deusa na minha frente está dizendo que vai me conceder.
Não há razão para recusar. Não deveria haver razão… Porém, me pergunto, por quê? Há algo profundamente dentro do meu coração que está me impedindo de falar…
Fechando meus olhos, reviro os recessos da minha mente que enfim posso começar a sentir mais próximos.
O que quero… o que no mundo quero de verdade… Perguntando a mim mesmo, abro meus olhos aos poucos para encarar os olhos oniscientes da Deusa, e pronuncio a resposta que obtive.
— Não, obrigado.
— Por quê?
— É porque acredito que você não possa me dar o que eu realmente quero, então…
— …
Embora seja tarde demais agora, o que falei pode ter sido uma declaração muito rude para um Deus com um poder tremendo. Ainda assim, não conseguia acreditar que essa pessoa era quem poderia realizar meus desejos.
Não vou negar meu desejo por ser poderoso. Na verdade, já desejei isso incontáveis vezes.
Tornar-me um guerreiro incomparável que construiu seu próprio harém e viveu como quis… Não me cabe dúvidas que ficarei muito satisfeito vivendo uma vida assim. É com certeza uma das coisas que anseio.
Contudo… o que veio à minha mente foi o sorriso inocente de Kuro.
— Me disseram isso uma vez. Ela me disse… que estou bem do jeito que estou agora, que só temos que procurar por aquilo…
— …
— Naquele momento, fiquei tão feliz. Embora estivesse lutando e sofrendo, mesmo que tivesse de me debater sem qualquer elegância apenas para seguir em frente, ela ainda empurrou minhas costas.
— …
— Eu sou apenas um humano fraco e impotente… Não acha que sou indigno de tal coisa? O que está tentando me dar é um pouco pesado demais para carregar.
— Se desejar algo além de dinheiro, acho que não pesaria nada.
Não pude deixar de rir das suas palavras, ditas sem nenhuma mudança em sua expressão. Shiro é sem dúvida uma pessoa bem divertida, não é?
— De toda forma… Seja poder inigualável, sabedoria absoluta, grandes quantidades de propriedades ou aplausos intermináveis de outras pessoas, não preciso de nada desse tipo. O que desejo de verdade… É algo que devo obter com minhas próprias mãos, não importa se tiver de lutar, sofrer e procurar cegamente para adquiri-lo.
— …
Acho que essa é uma resposta que posso dar com base no fato de que fui abençoado. Sim, de fato fui abençoado. Sejam as pessoas ao meu redor ou o ambiente em que estou, posso dizer que sou muito abençoado nesses aspectos, que posso dizer com toda seriedade esse tipo de desejo ingênuo, mas sonhador.
Porém, esta é uma resposta que eu mesmo obtive, então ainda que aquele diante de mim seja um Deus… Minha resposta não mudará.
— Embora tenha me sugerido isso, terei que pedir desculpas. Minha resposta não mudará, recusarei o que está propondo.
— …
Shiro não respondeu. Apenas ouviu em silêncio meu monólogo e olhou para mim enquanto abaixava minha cabeça.
E quando olhei para cima e encontrei seus olhos… A atmosfera ao seu redor havia mudado por completo.
Aqueles olhos dourados, que não sei para onde estavam olhando há um tempo atrás, aqueles olhos certamente refletiam minha existência agora, e embora seja tão tênue que ninguém seria capaz de ver a menos que estivesse prestando atenção, a expressão em seu rosto, que nunca mudou e não mostra um pingo de emoção… Parece que os cantos de sua boca se levantaram de forma tênue.
— Mudei de ideia.
— Hã?
Informando-me com sua voz sem inflexão, Shiro se levantou da cadeira e fez um leve aceno de dedos para o lado.
Nesse momento, meu corpo voltou a emitir um leve brilho e, pouco depois, pensei ter ouvido um som como o de vidro quebrando.
— Apenas concordei antes por causa do pedido de Kuro, mas eu mesma não tinha interesse na sua pessoa, então apenas realizei a bênção imitando o que os deuses de nível inferior fazem… Porém mudei de ideia e a cancelei.
— Errr…
Aquele som anterior era o som da bênção sendo revogada… Será que a ofendi? Não, com certeza fui muito rude antes, não tenho como discutir.
Posso ter feito algo ruim, apesar de Kuro ter se dado ao trabalho de lhe fazer o pedido…
Enquanto pensava, o cenário a minha volta mudou de repente.
— !?
Não estávamos mais naquele jardim flutuante em que estávamos há pouco, estamos literalmente flutuando no ar. Abaixo de mim está a terra verde e o mar azul, e o céu está dividido em duas cores no meio, com um céu azul e um céu estrelado aparecendo respectivamente.
No meio dessa cena bizarra, meu corpo flutua pelo ar, como se fosse uma colcha de retalhos de mundos, e posso ver Shiro um pouco mais ao longe.
— Agora estou interessada em você… Portanto, farei isso com seriedade.
— !?
Murmurando tais palavras, uma tremenda sensação de intimidação foi liberada do corpo de Shiro a ponto de não conseguir encontrar uma forma de descrevê-la, contudo parecia que o mundo na minha frente tremia em resposta.
— Pelo meu nome… Pelo nome de Shallow Vernal… Eu digo ao mundo.
Com suas palavras, o ar tremeu e a terra pulsou.
— Que essa pessoa… Miyama Kaito… É alguém que reconheço como digna da minha bênção.
Ela não parece estar forçando a voz nem usando nenhuma ferramenta, no entanto sua voz ecoa como se alcançasse o mundo inteiro.
— Portanto… Pelo meu nome… Pelo nome de Shallow Vernal… Eu comando o mundo.
A terra brilhou, o mar reluziu e o céu se tornou mais radiante.
— Oh, Terra… Torne-se o berço que o protege. Oh, Mar… Torne-se a vestimenta que o nutre. Oh, Céu… Torne-se suas asas, embalando seu próprio ser. Oh, Estrelas… Tornem-se seu farol e o guiem para o futuro.
Milhares e milhares de luzes emitidas da terra, mar, céu e estrelas, e assim como meteoros, elas começaram a girar ao meu redor.
— Pelo meu nome… Pelo nome de Shallow Vernal… Que o nome deste… Que o nome de Miyama Kaito… Como aquele a quem concedi minhas bênçãos… Seja inscrito no mundo… Em conjunto ao meu nome.
E quando a tremenda luz convergiu a ponto de eu não conseguir manter meus olhos abertos, certamente a vi.
Era como se toda a beleza do mundo estivesse condensada… No sorriso daquela linda deusa…
— Miyama Kaito… A criança que se desviou de outro mundo, apreciada à primeira vista por Kuro… Magnífico! Assim como se declarou, você de fato se esforçou com suas próprias mãos… E de mim… Você certamente conseguiu adquirir meu interesse em seu nome… Portanto, eu lhe concedo… A bênção do mundo!
Sinto como se tivesse recebido algum tipo de bênção devastadora, entretanto não encontrei nenhuma mudança específica em meu corpo e antes que pudesse me dar conta, estávamos de volta na mesa a beber nosso chá.
— Bem, não é como se minha benção fosse melhorar suas habilidades físicas ou algo assim.
Shiro, que havia voltado a ter uma expressão vazia no rosto, também se encontrava sentada na minha frente.
Se bem me lembro, Lilia disse que uma bênção é como algum tipo de magia defensiva.
Todavia, mesmo se perguntasse que tipo de bênção recebi, Shiro provavelmente apenas diria “não sei”…
Isso vai me impedir de pegar doenças locais ou algo desse tipo?
— Sim.
Fumu, entendo… Acho que estou começando a entender como falar com Shiro um pouco melhor.
— Shiro.
— O que é?
— Por que ainda está comendo esses bolinhos castellas? Não tem um gosto bom, certo?
— Sim, tem um gosto tão ruim que sinto que deveria ser considerado um dos desastres do mundo.
— Nesse caso, por que não traz outra coisa para comer? Por exemplo, alguma comida que Shiro ache deliciosa…
— Entendo.
— Ah, embora tenha dito isso dos bolinhos, esse não é o caso do chá preto, ok?
— …!
Como devo colocar, é como se eu pessoalmente sentisse que os humanos realmente são criaturas que se adaptam ao ambiente.
Ou melhor, acho que depois daquela bênção, estou começando a ganhar um pouco mais de compostura mental em relação ao que quero dizer.
Ao contrário da última vez que a conheci, Shiro estava olhando para mim corretamente, e graças a essa mudança, compreendi que ela tinha emoções e o peso que sentia drenando meu espírito só de tentar manter uma conversa se foi.
Agora, preciso manter um olhar atento para poder entendê-la, mas… Posso até ver uma leve mudança em sua expressão facial.
O canto de sua boca está subindo e descendo em ligeiras oscilações de alguns milímetros, e o fato de ter piscado duas vezes por um breve momento talvez seja um sinal de espanto por ter sido surpreendida.
— É verdade.
Sua voz segue com a falta de inflexão, porém me acostumei e não me incomoda tanto quanto antes, pois percebi que também faz parte da sua personalidade.
Ao confirmar minha opinião, Shiro faz um novo conjunto de biscoitos aparecer na mesa.
À primeira vista, eles parecem biscoitos comuns, contudo possuem um sabor magnífico. Há algo até em sua aparência que o faz parecer sublime por algum motivo.
— Por sinal, Shiro e Kuro são próximas? Você acabou de dizer que concedeu a benção porque havia sido um pedido dela.
— Sim, nós tomamos chá juntas às vezes.
— Por algum motivo, posso imaginar uma cena com Kuro tagarelando muito.
— Antes que eu possa dizer uma palavra, Kuro teria terminado de dizer três.
— Ahaha.
Hmmm. A combinação de Kuro e Shiro… É uma combinação bem estranha, já que as duas diferem em físico e personalidade, mas Kuro continuaria levando a conversa adiante, sem se importar com pequenos detalhes, pode ser uma boa combinação para a cabeça oca Shiro, que não inicia conversas, embora responde às conversas quando são lançadas contra ela.
Pelo menos, sinto que Shiro pensa bem de Kuro, pois pude ver os cantos de seus lábios subindo alguns milímetros agora.
Unnn. De alguma forma, estou começando a entender as mudanças nas suas emoções e estou pegando o jeito da nossa conversa.
Para o bem ou para o mal, Shiro aceita minhas palavras independentemente de como as digo, e responde de forma direta e honesta. A combinação de sua expressão imutável e voz sem entonação pode dar a impressão de ser uma pessoa fria e indiferente, todavia, por mais inesperado que seja, é uma pessoa divertida para se conviver.
Percebendo isso, as conversas que tive com Shiro se tornaram mais agradáveis, e nós conversamos tão naturalmente, que o tempo passou voando sem que me desse conta.
Depois de conversarmos por um longo tempo com um delicioso chá e biscoitos, Shiro de repente moveu seu olhar para o lado.
— Parece que suas companheiras terminaram de receber suas bênçãos.
— Arehh? Já é essa hora?
— Sim. 93 minutos se passaram desde que você chegou aqui.
Pelo que disse, uma hora e meia se passou antes enquanto conversávamos aqui.
Ao mesmo tempo, uma porta surge ao seu lado. Deve ser a que me levará de volta ao edifício de antes.
A conversa foi divertida, e embora esteja me sentindo um pouco relutante, decidi me levantar do meu assento.
— Você é uma pessoa bem incomum, não é? Ninguém antes descreveu uma conversa comigo como agradável.
Em resposta ao seu comentário, dito enquanto o canto de seus lábios se erguia de leve, apenas inclinei minha cabeça.
É verdade que senti que não conseguiria continuar nossa conversa no começo, mas conforme interagimos, esse sentimento desapareceu.
— Poderia dizer que essa sua adaptabilidade é seu talento.
— Ahaha, na verdade eu que devo ser fácil de ser levado pelo fluxo das coisas.
— Pode ser.
— Você não vai negar, hein?
Bom, Shiro é esse tipo de pessoa. Essa também é a razão pela qual sinto uma sensação diferente de prazer ao conversar com ela em comparação à quando estou falando com Kuro…
— Se estiver tudo bem para você, posso convidá-lo para tomar chá comigo novamente?
— Sim, claro. Ah, porém poderia parar com o teletransporte repentino, por favor? É ruim para o meu coração. Por favor, me desculpe por qualquer coisa.
…
— Vou pensar a respeito.
— Gostaria que pudesse tomar uma decisão rápida sobre isso, se puder.
— Vou pensar.
— Não estou falando sobre aquela pausa antes da sua resposta, sabe?
Sempre imaginei que uma festa do chá seria algo nobre, elegante e estiloso, e que não combinaria comigo, contudo quando enfim pude experimentar, descobri que conversar com outras pessoas enquanto saboreio uma boa xícara de chá era divertido, e acho que entendo um pouco como esses riajuus se sentem enquanto conversam em um café.
Enquanto pensava sobre isso, Shiro vira a palma da mão para mim e faz um objeto que lembra um pequeno jarro aparecer nela.
— Pode ficar com ele.
— Posso?
— Sim.
Pegando o jarro que me foi estendido, vejo que há algumas folhas de chá secas dentro… Ah, seria aquele chá preto absurdamente saboroso? Fico muito feliz de poder ganhar um pouco.
— Muito obrigado.
— Não, eu também aproveitei nosso tempo.
Dizendo isso em sua voz que não tem nenhuma inflexão como de costume, os cantos de sua boca se levantam levemente, Shiro balançou o dedo. Com esse movimento sozinho, minhas roupas voltaram a ser o que eram antes de trocar para minhas vestes.
E então, agradecendo-a mais uma vez, abri a porta.
Depois de ver Kaito passar pela porta e desaparecer, Shallow Vernal permaneceu imóvel no jardim flutuante.
— Então é por isso que ela gosta dele, hein. De fato se parece com você de alguma forma, Kuro. Não em termos de personalidade, mas no brilho de sua alma…
Murmurando para ninguém, os cantos de seus lábios se ergueram levemente.
— Acho que será divertido voltar meu olhar para uma vida de vez em quando.
Enquanto murmurava essas palavras, o vento soprou e as flores no jardim flutuante balançaram como se estivessem dançando. O céu sem nuvens era cristalino, e a vasta terra permanecia calma enquanto o tempo passava pacificamente.
É como se o céu refletisse o interior de seu coração… O fato de que ela realmente se divertiu…
Tradução: Shuraragi
Revisão: Pride
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