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Super Minion – Cap. 31 – Refrito

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— Cara! Isso é insano! — exclamou Tim.

— É realmente “insano” — eu concordei. Eu estava mentindo, mas concordar nessa situação era a resposta social adequada.

Tim havia recebido uma notificação enquanto comíamos, de uma de suas “webzines”, especializada em informações sobre heróis para os “setores externos ao leste”. Aparentemente, era uma “publicação de fãs” que Tim usava com frequência, para se manter atualizado sobre as novas informações sobre os heróis de E13 e setores vizinhos. Pedi a ele que me passasse o link; parecia maravilhosamente útil.

A notificação foi devido a uma atualização no “blog” do vilão Trebla. A filmagem da luta dele contra os heróis da manhã de hoje havia sido postada logo após o término da luta, mas a notificação que alertava Tim se devia ao segundo vídeo a ser postado no site: Ifrit e minha luta com os ajudantes. Nós quatro estávamos agora amontoados em torno de seu celular para assistir, embora Cindy e eu por razões diferentes de entretenimento. Eu estava apenas mantendo a aparência de ser um “adolescente interessado”, enquanto Cindy… parecia um pouco pálida e preocupada, na verdade. Espero que não haja nada no vídeo que denuncie sua “identidade civil”. Isso lançaria suspeitas sobre Mikey e eu estarmos trabalhando com uma criminosa “com poderes”… embora eu duvidasse que Tim suspeitasse de seu melhor amigo. A designação de “melhor amigo” parecia dar muita margem de manobra em questões sociais; Mikey e Tim frequentemente trocavam insultos, mas os tratavam como se estivessem contando piadas.

— Aw, caramba. Essa é Jennifer — disse Tim, sua empolgação com o vídeo subitamente diminuída.

— Jennifer? — perguntou Cindy.

— A garota com as armas brilhantes. Ela estudou na nossa escola — disse Tim.

Mikey deu uma cotovelada nas costelas de Tim:

— Cara, não tão alto e não diga isso em todo lugar.

Tim o acotovelou de volta antes de dizer:

— Ela já se formou, caramba, ela despertou no meio de sua partida de esgrima; todo mundo viu.

— Mesmo assim cara, você nunca sabe o quão longe está espalhado. Alguns idiotas podem nem pensar em verificar até ouvir um boato. Se a pessoa errada ouvir…

— Acho que ela vai ficar bem, olhe pra ela — disse Tim, apontando para a tela.

Poena (ou Jennifer Heartly, por assim dizer) estava de fato bem na maior parte da luta, embora isso fosse principalmente porque não tínhamos o objetivo de matá-la. Ela, no entanto, estava aproveitando ao máximo o fato de que seu poder não matava, e na tela ela esfaqueou Ifrit, que detonou a explosão (com exclamações de surpresa apropriadas vindo de Mikey e Tim), e de lá as coisas foram mais ou menos bem, com apenas o pequeno soluço de ter Humano.exe encerrado à força. Fiquei feliz em ver que, mesmo com Humano.exe desligado, minhas ações não pareciam muito estranhas de uma perspectiva externa.

…Até eu olhar para os outros. Tim estava olhando para a tela com os olhos arregalados e a boca aberta, e Mikey estava fazendo o mesmo, exceto que ele estava olhando para mim em vez do vídeo. Hmm, isso seria uma conversa mais tarde. E por que Cindy também estava olhando para mim? Ela estava lá! Ela viu a maior parte em primeira mão!

Revi o que lembrava da luta. Certo, eu usei muitos tentáculos tentando agarrar o metamorfo, e em alguns pontos meus membros dobraram de forma não natural, mas isso era normal para um metamorfo, certo? E eu não deixei nenhum ferimento permanente! Alguns ossos quebrados talvez, mas ossos não eram nada; ossos curavam facilmente.

— Uau — exclamou Tim, finalmente saindo de seu torpor. — Eu… não consigo decidir se isso foi terrível ou karma.

Mikey e Cindy voltaram seus olhares para Tim, antes de Mikey bufar e dar um tapinha no ombro de Tim. — Definitivamente, um pouco dos dois, cara.

— Karma? Não estou sabendo de algo? — perguntou Cindy.

 Tim e Mikey explicaram suas experiências nada agradáveis com Jennifer para Cindy, ao que Cindy teve um olhar pensativo em seu rosto antes de perguntar: — Jennifer… Heartly?

— Sim, essa— confirmou Tim — Você a conhece?

— Me lembro dela. Ela era uma vadia de primeiro grau no ensino médio — disse Cindy.

— Bem, não mudou nada — confirmou Mikey.

— O verdadeiro mau é sem fim, a menos que você o jogue em um vulcão — disse Tim, olhando para o telhado enquanto acariciava o queixo. Não entendi o que ele quis dizer, mas deve ter sido algum tipo de piada, porque Mikey e Cindy riram.

Terminamos nossa refeição e Tim tentou sugerir nosso plano para Alley Run, mas parecia que Mikey e Cindy não estavam dispostos a isso. Mikey tinha movido caixas o dia todo, e Cindy, é claro, estava lutando contra os ajudantes comigo, embora não disséssemos isso. Em vez disso, decidimos tentar alguns dos outros jogos no VRcade, coisas que exigiam menos caminhada. Parece que eles também tinham alguns jogos não VR, como Gribblins n ‘Ghouls.

Eu estava discutindo Gribblin Tamer com Tim no caminho de volta para o VRcade. Estranhamente, ele próprio não jogava Gribblin Tamer, alegando que não gostava de controles de tela de toque, mas aparentemente havia um “anexo de console” que você poderia comprar que transformava seu celular em um verdadeiro console portátil, além de fornecer acesso a uma maior variedade de jogos. Ele tirou o seu da bolsa de dispositivos e me mostrou como funcionava. Eu queria um, e Tim disse que eu poderia comprá-los no shopping, mas eram caros. Olhei com pesar para o saco de doces que carregava. Eu… posso ter gasto muito em lanches ultimamente. Espero que o dinheiro do trabalho de Trebla chegue logo.

Eu ainda estava me acostumando com o fato de que havia coisas valiosas além de comida, armas e aliados. Nesse ponto, eu havia satisfeito a maioria das minhas necessidades de sobrevivência; me aliei a uma facção poderosa, fiz grandes avanços no aprimoramento de minha utilidade de combate e acumulei energia suficiente para não ficar mais vigiando minhas reservas constantemente.

Massa 298% da norma.

Reservas de energia = 25 dias de operação contínua.

Os humanos perseguiam objetivos que não eram baseados em sobrevivência, uma vez que todas as suas necessidades estavam sendo atendidas. Eu não tinha interesse na maioria deles; “Carreiras”, “sexo” e “drogas” eram irrelevantes para mim. Atividades científicas eram úteis e interessantes, mas considerando a enorme vantagem que os humanos tinham, era mais eficiente deixar isso para cientistas e tinkers. Por enquanto, eu simplesmente continuaria minha pesquisa sobre videogames. Eu os via como uma forma de treinar para possíveis cenários, mas os humanos os viam quase inteiramente como entretenimento, então era um bom ponto de partida para preencher a lacuna entre nossas formas de pensar. Eu precisaria desviar mais alguns recursos para esse objetivo, em vez de canalizar tudo para adquirir combustível.

Ainda assim, doces eram muito bons.

Peguei um pedaço de “doce” da minha bolsa e comi lentamente. Se eu misturasse alguns pequenos flocos de metal com o doce, ele emitia um barulho estranhamente satisfatório e metálico contra meus dentes quando eu esmagava. Eu mastiguei mais alguns pedaços de doce, mas fiquei surpreso quando alguns gritos orgânicos vindos do shopping foram adicionados à cacofonia em minha boca. Os outros também perceberam, e nos mudamos para o corrimão que separava a passagem de uma queda de vários andares.

Abaixo de nós, um enxame de ratos emergia de uma das lojas no andar mais inferior. Eles estavam perseguindo uma pequena multidão de pessoas e, após alguns momentos, um aviso de evacuação anunciando um enxame de ratos foi transmitido pelo sistema de alto-falantes do shopping. Estranhamente, notei que vários humanos não deram atenção ao aviso até que viram os ratos os cercarem.

— Uoou, nunca vi um enxame tão grande antes — disse Tim. Eu tive que concordar; vi sessenta e cinco ratos lá embaixo e contando.

— E em plena luz do dia? Eles devem estar desesperados — respondeu Mikey.

Na verdade, o enxame estava agindo de maneira estranha. Na minha experiência, eles odiavam luzes fortes e tentavam selecionar um alvo fraco para atacar usando seus números superiores. Os ratos abaixo estavam atacando mais como indivíduos do que como um grupo, simplesmente escolhendo os alvos mais próximos de si mesmos e atacando-os. Ainda mais estranho era que os ratos estavam ignorando alguns alvos fáceis em favor de atacar alguns dos maiores mutantes na multidão. Totalmente bizarro, por que eles teriam como alvo um mutante de 2,10 metros de altura com cristas pontiagudas em seus braços em vez de uma criança normal de um metro de altura?

— Meu deus, o que diabos eles estão fazendo? — exclamou Mikey — Nunca vi eles tão irritados antes.

— D-devemos ligar para o 190? — perguntou Tim hesitando.

— Eles já estão a caminho se anunciarem uma evacuação — disse Cindy. Ela estava batendo os dedos no corrimão enquanto franzia a testa para o enxame.

— Nós também devemos ir— eu disse, começando a puxá-los para longe do corrimão e em direção à saída mais próxima. Sério, os humanos nunca parecem reagir tão rápido quanto eu gostaria.

A próxima saída estava localizada algumas lojas abaixo e nós viramos em um corredor que levava a elevadores e escadas. Em alguns andares, os corredores também levavam a uma ponte que se conectava aos edifícios ao redor, mas não havia nenhuma neste andar. Estávamos indo para as escadas quando um dos elevadores à nossa frente apitou e abriu.

E um rato enorme saiu. Não era tão grande quanto o que tinha me perseguido no esgoto, nem pela metade, mas mal cabia no elevador. E seu rosto estava errado. Pontos transformaram seu rosto em uma mistura de características, e seu pelo foi removido em outros lugares para permitir uma costura maior ao longo de sua coluna. Costura ineficiente e desleixada. Seus músculos estavam sendo puxados em ângulos inadequados, o que tornava seus movimentos rígidos e bruscos. Meio que deu a impressão de que estava usando um disfarce de rato. E um péssimo.

Design inferior.

Ameaça estimada: baixa.

Eu não apostaria meu saco de doces que este rato foi feito por quem fez as bioarmas, mas se apostasse, me sentiria confiante em minha aposta.

— Uh, um, isso, uh… — balbuciou Tim, que congelou ao vê-lo.

— É um puta dum rato enorme — disse Mikey.

Eh, era grande. Mas eu havia visto maior. O mais importante era como lidar com essa situação. Matar essa coisa seria fácil para mim ou Cindy, mas não poderíamos fazer isso na frente de Tim sem comprometer nossas identidades civis. Talvez Cindy pudesse levar Tim e Mikey para fora do shopping enquanto eu lidava com o rato? Ou talvez eu pudesse matá-lo enquanto Tim não estava olhando.

O rato decidiu por mim. Depois de se estabelecer em uma posição melhor, farejou o ar e seu olhar vagarosamente se desviou para nós, antes de se fixar em Cindy. Droga, eu mesmo tinha detectado que Cindy era mutante pelo cheiro, e parecia que o rato também era capaz disso. Parece que esse enxame realmente tinha como alvo os mutantes.

— É, ele não parece amigável — disse Mikey.

— Não é. Deveríamos começar a correr — eu confirmei. Correr me daria tempo para descobrir como matar essa coisa sem Tim me ver fazê-lo.

Ainda demorou um momento para tirar Mikey e Tim de qualquer atordoamento que estivessem passando, mas o rato soltou um skrre-eek quebrado e isso os fez correr a toda velocidade. Corremos de volta para fora do corredor do elevador e voltamos para a praça de alimentação, o grande rato correndo bem atrás de nós.

À nossa volta, outras partes do shopping estavam começando a ficar um pouco caóticas. O rato que nos seguia não era o único grande, e enquanto os mutantes maiores se defendiam decentemente bem dos ratos pequenos, os grandes causavam problemas. Também havia muitos mutantes com apenas pequenas mutações, como olhos ou membros extras, que não eram bons em combate. Algumas pessoas sendo atacadas por ratos pareciam completamente normais, mas eu suspeitei que tivessem mutações menos visíveis, semelhantes a Cindy.

Nossos pés batiam no chão enquanto corríamos à frente do rato costurado, mas eu já estava percebendo um problema. Tim não era bom em correr, e Mikey e Cindy estavam começando a cair abaixo de suas velocidades máximas, ainda cansados do longo dia de atividades. O rato não era rápido em comparação com a variedade sem costura, mas ainda era rápido o suficiente para nos acompanhar, mesmo que não pudesse nos alcançar. Eu me certifiquei de estar atrás do grupo para interceptá-lo caso necessário.

Chegamos à praça de alimentação, que no curto período de tempo que ficamos fora, havia se transformado em um caos absoluto. Os ratos atacavam qualquer mutante que viam, bem como saqueavam as barracas de comida. Parece que o que quer que tenha sido feito com eles não poderia anular completamente seus instintos.

Isso não era o ideal. Havia uma saída do shopping nos fundos da praça de alimentação, mas teríamos que percorrer toda a praça de alimentação para chegar lá. Facilmente feito se o objetivo era permanecer vivo, mas eu também não queria comprometer nossas identidades civis, nem deixar Tim e Mikey se machucarem.

O grande rato costurado chegou atrás de nós, derrapando até parar em confusão com todo o barulho e atividade, e fomos forçados a entrar na praça de alimentação para nos mantermos longe dele. Mikey pegou uma bandeja de comida abandonada e jogou no rato para ganhar tempo. Em sua capacidade reduzida, duvidei que tivesse percebido o golpe, mas a comida na bandeja o distraiu.

— Para onde… huff… devemos ir? — perguntou Tim.

— Fundo da praça de alimentação, pegue o que puder para lutar — respondi.

— E cara, larga a bolsa — acrescentou Mikey. Tim estava correndo com a bolsa pesada cheia de dispositivos.

— De jeito nenhum… huff… demorou muito para obter tudo… huff… isso — respondeu Tim.

Peguei a bolsa dele, pois não iria me atrapalhar, e começamos a atravessar a praça de alimentação rapidamente. Infelizmente, não havia muito para usar como armas além das bandejas de comida, embora fossem melhores do que usar uma de minhas facas, já que eu poderia usá-las para bater e afastar os ratos. Cindy começou a derrubar ratos de qualquer pessoa por quem passamos, e Mikey e eu seguimos seu exemplo. Era uma boa ideia, já que os mutantes se juntariam ao nosso grupo e formariam um bom escudo humano. O rato maior ainda estava nos seguindo lentamente, e fiz questão de atirar comida nele sempre que possível para distraí-lo. Quem quer que tenha modificado os ratos certamente os tornou muito mais burros; os originais nunca teriam caído em uma distração tão óbvia (embora os originais provavelmente apenas pegassem a comida e corressem para começar).

Ficamos cada vez mais perto da saída, mas os ratos estavam começando a se aglomerar ao nosso redor; simplesmente havia mutantes demais em um local para eles ignorarem, e apesar do quão estúpidos eles estavam agindo, ainda havia muitos deles. Precisávamos encontrar uma maneira de dividir o enxame crescente.

Eu bati em um rato quando ele pulou em Cindy. Os ratos ainda tinham a intenção de atacar apenas mutantes, e eles ignoraram Mikey, Tim e eu completamente, apenas nos atacando se estivéssemos entre eles e um dos mutantes. Os ratos estavam atacando mutantes sem sinais visíveis de mutações, então sua forma primária de rastreamento provavelmente era o cheiro…

Formulei um plano e coloquei minha mão na bolsa de dispositivos de Tim. Minha palma começou a inchar rapidamente enquanto eu a inundava com sangue e micro unidades, formando uma grande pústula na qual eu poderia envolver meus dedos. Gastei energia e acelerei minhas microunidades para mudar rapidamente o sangue armazenado dentro, e fiz a “pele” que a cobria mudar para uma cor cinza e metálica. Em seguida, separei a esfera bulbosa do resto da minha mão, deixando-a com apenas um fino cordão de nervos para continuar a transmitir para as microunidades e evitar que se degradasse muito cedo. Então verifiquei para ter certeza de que Tim não estava olhando e tirei minha mão da bolsa para jogar a esfera para o lado. Para qualquer espectador, deve parecer que joguei um objeto que encontrei em sua bolsa.

A camada superficial da esfera começou a se quebrar rapidamente, liberando o conteúdo: uma mistura de líquidos e gases destinada a simular os cheiros das várias amostras mutantes que acumulei nas últimas semanas, bem como tudo o que achei que teria um cheiro apetitoso. A esfera rolou pelo chão, sua superfície rompida vazando a substância aromática por onde ia. Até que as microunidades se autodestruíssem em alguns segundos a partir de agora, ela teria o cheiro de um mutante incrivelmente pungente misturado com o cheiro de tofu grelhado.

Os ratos ficaram malucos.

Metade do enxame mais próximo da esfera imediatamente a perseguiu, enquanto a outra metade tentou correr através do nosso grupo para chegar até ela, uma vez que determinaram que não éramos a fonte do cheiro. Alguns dos ratos ficaram conosco, mas a maioria deles agora estava em uma pilha frenética tentando alcançar a fonte do cheiro.

— O que diabos deu neles? — disse um grande mutante na minha frente (este tinha chifres que se enrolavam nas laterais de sua cabeça para proteção extra).

— Quem se importa? Vamos sair daqui — respondi à sua provável pergunta retórica. Por que deixá-los questionar uma coisa boa?

O grupo correu para a saída, e o mutante maior com os chifres alcançou as portas primeiro, batendo numa delas com tanta força que o vidro quebrou. Ele não foi muito longe antes de eu ouvir gritos do lado de fora do shopping, exigindo “Deitem no chão!” e “Não se mexam!”

Do lado de fora do shopping havia um amplo espaço aberto, destinado a ser uma área de refeições ao ar livre, se as mesas e os bancos servissem de referência. Um pequeno esquadrão de polícia estava se dirigindo para as portas antes de nós sairmos, e eles agora estavam apontando armas para o mutante que quebrou a porta. Ao vê-los, o mutante havia caído no chão, gritando — Minhas braçadeiras foram rasgadas! Minhas braçadeiras foram rasgadas!

Na verdade, tanto as mangas de sua camisa quanto os próprios braços estavam bem rasgados pelos ratos, e se ele tivesse braçadeiras, elas não estavam mais lá. Felizmente para ele, a polícia o ignorou ao ver a multidão que o seguia para fora do shopping e rapidamente passou a ajudar a evacuar os feridos para um canto da área de alimentação vazia. Isso só mudou quando o som de vidro quebrando veio do shopping, e me virei para ver o grande rato costurado estupidamente quebrando outra porta de vidro, ignorando a que já estava aberta.

— Mas que diabos? — disse um dos policiais.

— Esse é um dos ratos! — disse um civil alarmado, e sons de consternação e alarme se ergueram da multidão de pessoas que escaparam do shopping.

— Isso é um rato!? — exclamou o policial.

A polícia rapidamente formou uma barreira entre o rato e os civis, gritando algumas vezes para que ele parasse e se rendesse antes de abrir fogo (suponho na chance que fosse um mutante?). Quaisquer que sejam as modificações que o rato possa ter sofrido, ser à prova de balas não era uma delas, e rapidamente caiu pela chuva de tiros junto com qualquer um dos outros ratos que o seguiram. Quando tudo acabou, dois policiais voltaram a ajudar os civis e os demais entraram no shopping como um esquadrão.

A equipe médica apareceu logo depois e começou a mandar pessoas para casa depois de verificá-los. Meu grupo de amigos não tinha sofrido nenhum ferimento e logo pudemos sair depois que um dos policiais deu uma olhada completa na bolsa de dispositivos de Tim. Todo mundo estava estranhamente quieto enquanto caminhávamos para casa. Finalmente Tim falou.

— Aquilo… foi muito intenso.

— … É — disse Mikey, aparentemente cansado demais para continuar a conversa.

— Eu não fui o único que viu os pontos, certo? — perguntou Tim.

— Eram óbvios no grandão — confirmei — mas todos os ratos que vi tinham.

— Isso é tão estranho. Você acha que eles estavam sendo controlados? O que estou dizendo, eles estavam totalmente sendo controlados. Como zumbis! E aquele grandão! Nunca vi um tão grande antes! Acha que um poder o fez crescer?

— Não, eu vi ratos maiores. Muito provavelmente, a pessoa responsável apenas causou os pontos e comportamentos estranhos.

— Ratos ainda maiores? Besteira!

A conversa voltou ao “normal” depois disso, Tim e eu discutindo sobre o tamanho máximo possível dos ratos que vivem no esgoto. Mikey interferia ocasionalmente, mas Cindy havia ficado em silêncio novamente. Eu tinha visto um rato arrancar seu aparelho de respiração de sua “bolsa” durante o tumulto, mas não fui capaz de ajudar a recuperá-lo devido à situação. Provavelmente sua voz já havia voltado ao normal.

Por fim, chegamos ao ponto em que tínhamos que nos separar para seguir caminhos separados. Mikey e Tim seguiram para oeste pela rua Ashwood depois de se despedirem, e Cindy encobriu sua despedida rouca com uma tosse falsa imediatamente depois (eu teria que me lembrar dessa tática).

Nós fomos na direção do nosso prédio, mas no momento em que Mikey e Tim estavam fora do alcance da voz, ela pegou o celular com pressa, falando em voz alta enquanto o fazia.

— Preciso ligar para Sandra. Esses ratos tinham como alvo apenas mutantes; isso tem cara de Espada!

— Hmm… — Duvidei muito que os Espada fossem os responsáveis, considerando que estavam todos mortos. Hesitei sobre o que dizer, mas finalmente decidi:

 — Aqueles ratos não estavam apenas atacando, eles estavam capturando.

Ela fez uma pausa e se virou para mim:

— Quê?

— Eu vi vários mutantes sendo puxados por grandes grupos de ratos. Isso não parece o procedimento normal de operação dos Espada.

— Isso é ainda pior! — ela exclamou, e terminou de digitar o número de Sandra. Houve uma conversa frenética, da qual eu só ouvi o lado de Cindy, seguido por Cindy ligando no “viva-voz” para que eu pudesse discutir com elas quais detalhes eu lembrava. Eu dei uma estimativa sobre o tamanho e as capacidades do enxame para ela, bem como quantos mutantes eu acreditava terem sido capturados.

— Tudo bem — disse Sandra — quero que vocês dois voltem para a base imediatamente. Se os Espada estão tentando algo, não quero que fiquem por aí.

— E quanto às pessoas no shopping? — perguntou Cindy.

— Desculpe querida, vamos precisar deixar isso para os Cs. Não tenho ninguém que possa resolver isso agora.

— Mas Sandra…

— Sinto muito, mas os únicos capuzes que temos disponíveis agora são Imp e sua mãe. Não posso pedir algo assim aos funcionários do dia a dia.

— Eu provavelmente poderia rastreá-los — eu ofereci.

— Absolutamente não — respondeu Sandra — Os túneis não são seguros, duplamente se os Espada estão tentando algo.

— Estou razoavelmente certo de que posso lidar com isso. Eu vou lá embaixo o tempo todo.

— … e por que você está indo lá em baixo quando eu expressamente disse para não ir?

— Você não disse para não entrar lá. Você disse que eu não deveria morar lá.

— … Tofu… isso é… argh! — Eu ouvi algumas exclamações abafadas que eu não consegui entender, embora tenha ouvido Lily rindo ao fundo. Finalmente Sandra continuou.

— Tofu… Vamos ter uma conversa sobre isso quando você voltar.

Droga.

 

Separador Tsun

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A porta do apartamento de Cindy se fechou atrás dela. Sua bolsa foi abandonada na porta e os sapatos rapidamente descartados. Então ela se arrastou para o quarto antes de cair de cara na cama, exausta. Tecnicamente, ela ainda tinha coisas para fazer, lavar roupa entre elas (droga, Natasha), mas decidiu firmemente deixá-las para amanhã.

Que dia.

Dormir parecia uma boa ideia agora, mas ela estava simplesmente agitada demais para fechar os olhos. Imagens dos eventos do dia continuavam passando rapidamente pelas suas pálpebras quando ela tentava dormir, e ela se virou para, em vez disso, ficar olhando para o teto.

Provavelmente também não devia ter usado o inalador; terei uma grande dor de cabeça mais tarde, e agora preciso encher Socket por um novo. Ratos estúpidos. Espada estúpidos.

Eles não podiam dar a ela nem uma tarde em paz. Uma tarde para se sentir uma pessoa normal. Ela levantou um braço enluvado e olhou para ele. Então ela tirou a luva preta revelando… outra luva preta, ou pelo menos o que parecia ser uma. Suas mãos, da ponta dos dedos até logo abaixo do cotovelo, estavam envoltas em uma cobertura preta como tinta. Não exatamente quitina, nem exatamente pele, a textura e cor de borracha faziam com que parecesse que ela havia mergulhado os braços em alcatrão. A única mudança de cor eram as duas glândulas embutidas em cada pulso, parecendo hematomas roxos e amarelos, se você não soubesse o que era. Se ela flexionasse a combinação certa de músculos, as glândulas liberariam seu conteúdo em uma câmara em suas mãos, misturando e criando uma substância semelhante a napalm que era então ejetada de um orifício no centro de suas palmas.

Lança-chamas orgânicos.

Cindy não tinha certeza de qual situação esotérica poderia ter causado uma mutação em seu pai dessa maneira específica, mas foi o único “presente” que o pai ausente já lhe deu. Um que era na verdade forte o suficiente para deixá-la lutar com supers, mesmo que ela mesma não fosse uma.

E agora Jennifer Heartly é uma.

— Argh! — ela socou um travesseiro próximo.

Que lembrete maravilhoso foi aquele. Cindy quase conseguiu esquecer os nomes das crianças que a atormentavam no ensino fundamental. Heartly não tinha sido a pior daqueles bullies, mas ela tornou a vida de Cindy miserável. O que resultou em ser transferida para uma escola do ensino médio na outra extremidade do setor, e as luvas, e implorar a Socket para fazer o inalador, e seu impulso para terminar todas as matérias e se formar do ensino médio o mais cedo possível. No final, ela tinha um histórico acadêmico exemplar, estava em excelente condição física (graças ao treinamento de Adder) e tinha uma habilidade nata que poderia estar a par dos supers. Além disso, ela havia encontrado uma nova motivação para se juntar à companhia de sua mãe. Estar perto dos empregados de sua mãe a fazia se sentir… aceita, se não normal. Graduar cedo a deu tempo para treinar com os funcionários de sua mãe (e ganhar alguns créditos universitários), e quando completou dezoito anos, ela se inscreveu oficialmente. Ela não tinha ilusões de que a companhia de sua mãe não era uma organização criminosa, mas ela ainda poderia fazer muito bem aqui. Os Capangas de Hellion eram uma bênção para E13, e foda-se quem disser o contrário.

Cindy suspirou e rolou até sair da cama. Se não conseguia dormir, ela poderia muito bem fazer alguma coisa. Agarrou seu cesto e saiu para o corredor, determinada a lavar roupa. Chegando na lavadora a seco em um pequeno nicho no corredor, ela abriu a tampa e começou a despejar suas roupas, apenas levando um momento para se certificar de que cada item não estivesse amontoado demais. A tarefa infelizmente não foi distrativa o suficiente, e seus pensamentos se voltaram novamente para… Poena.

Claro que ela conseguiu um poder. E se o que Tim disse sobre a luta de esgrima estava certo, mal conseguiu há duas semanas! Eu tive que treinar todos os dias durante meses antes que minha mãe sequer pensasse em me deixar ir em um trabalho. Droga! Deveria ter deixado Tofu esfaqueá-la, aquelas lanças doem pra caralho.

E então ela precisou ser resgatada por Tofu, que de alguma forma recebeu uma daquelas lanças e continuou lutando. Ela teria sentido ciúmes, Tofu vinha se destacando quase desde o momento em que entrou, mas era óbvio que ele havia se esforçado para obter seus resultados. Claro, ele tinha um poder excelente e versátil (que caiu em seu colo por definição), mas isso não o tornava automaticamente bom em luta, e Tofu era bom. Sua técnica era bem ruim quando começou a treinar com Adder, mas ele ainda tinha instintos de lutador, e já havia alcançado Cindy (e isso apenas salgou o ferimento em seu orgulho). Ainda assim, seu poder não lhe dava tolerância à dor, pelo que ela sabia, e quando ela se lembrou da lança que ele havia sido atingido… ela tremeu. Tolerância à dor. Ficava louco por coisas simples como doces. Não sabia o que era uma maldita planta em um vaso. Estava disposto a matar (e já tinha). De onde quer que Tofu tivesse vindo, provavelmente não era um lugar legal.

O que tornava ainda mais incrédulo o fato de ele ter amigos tão normais! Mikey estava no negócio, verdade, mas Tim e ele eram tão normais quanto poderiam ser. Passar a noite no fliperama e discutir tudo, desde a origem dos poderes até o álbum Mega-B00t mais recente (cacete, Mikey tinha um gosto musical péssimo), provavelmente foi a tarde mais divertida que Cindy teve nos últimos tempos. Os ratos podem ter interrompido, mas eles trocaram números com a promessa de que a convidariam novamente, o que a deixou animada. Ela não havia feito muitos amigos no ensino médio (ou nenhum), e uma organização de supervilões não era exatamente o lugar mais fácil para encontrar amigos da sua idade, então as três novas entradas em sua lista de contatos eram motivo de comemoração.

Cindy terminou de carregar a lavadora a seco e deu um sorriso malicioso.

E eu pude testemunhar a surra de longa data de Jennifer. Aquela surra foi épica; justiça kármica, de fato.

Talvez agora ela pudesse finalmente deixar essa parte de seu passado para trás…

… nah. Da próxima vez que visse Poena, iria botar fogo nela.

 


 

Tradução: Lodis

Revisão: MoriSan

 

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