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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 24 – Cap. 09 – Excursão educacional de quatro dias pela Vila Superd

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Voltei para a aldeia Superd com os dois cavaleiros a tiracolo. Viajar com eles significava que não poderia usar o círculo de teletransporte, então fizemos a jornada de um dia de volta a Irelil de carruagem, onde passamos a noite. Eu queria encontrar Sándor no caminho, mas ele disse que ainda não havia localizado nosso informante, então apenas trocamos relatórios de progresso. Desapontado por Geese ter nos evitado por tanto tempo, apressei-me. Depois de mais um dia, chegamos à Vila da Ravina do Dragão da Terra. Como da última vez, estava cheio de gente. A velha mulher estava repreendendo os mercenários com entusiasmo. Isso era de se esperar, considerando que não haviam se passado nem dez dias desde a última vez que estive lá. Queria tranquilizar a vovó, dizendo que estava tudo bem e que o Povo da Floresta estava seguro, mas ainda era um pouco cedo para isso. Haveria tempo depois que o grupo de caça fosse desfeito. Ficamos na aldeia, depois entramos na floresta na manhã seguinte.

— Devemos chegar lá ao pôr do sol se partirmos de manhã. Peço um pouco mais de paciência.

— Lidere o caminho. Não quero perder tempo.

— Meus pés doem.

Meus dois soldados tendiam a resmungar. Primeiro, Galixon: tinha um magnífico bigode com as pontas curvadas para cima e se parecia muito com o oficial na recepção. Podiam até serem irmãos. Seu tom e a maneira como falava eram totalmente diferentes, no entanto. Ao contrário do bigodudo da recepção, Galixon era muito mais direto e parecia um pouco rude. Além de impaciente. Eu ia pagar pela hospedagem na estalagem, mas antes que pudesse dizer uma palavra, ele pagou por tudo, inclusive a minha parte. Na estrada, no momento em que ele via que era hora de acender o fogo, já estava juntando lenha. Houve também a vez em que fomos atacados por monstros e ele até tentou assumir a liderança da luta. No final, fui eu quem lidou com os monstros, é claro. Não podia deixá-lo se machucar.

Quanto a Zander: tinha um rosto longo — uma cara quase equina, se você fosse maldoso, mas ao contrário de Nokopara, onde quer que estivesse, não era realmente um cavalo. Em comparação a Galixon, era mais descontraído. Sempre com um sorriso bobo no rosto e sequer sacou sua espada quando os monstros apareceram. Ele também não era muito de falar… quando não era necessário que falasse, ficava em absoluto silêncio. Curiosamente, porém, era bastante curioso sobre tudo. Quando descobriu que eu podia usar magia não vocalizada, me fez uma série de perguntas maravilhado. Vestia-se como um soldado, mas talvez fosse um mago.

Às vezes, pegava Zander me lançando olhares significativos, como se estivesse me avaliando. Isso me fazia sentir como se estivesse sob observação, mas não podia fazer nada a respeito. Fui eu quem apareceu do nada pedindo para cancelarem o grupo de caça. Provavelmente ele tinha ordens de me vigiar de perto caso fizesse algo suspeito. Era natural que estivesse em guarda, afinal, era literalmente o trabalho deles me observar. Mesmo assim, por algum motivo, isso me dava arrepios. Mal olharam para Dohga, por incrível que pareça. Apesar de sua aparência, era um garoto inocente e suspeitava que ele tivesse inteligência para enganar alguém ou algo assim. Talvez eles tivessem percebido isso e por isso não estavam em guarda.

Na estrada, fiz uma campanha positiva de informações sobre os Superd direcionada a Galixon e Zander.

— A Tribo Superd é composta por boas pessoas. São um pouco diretos, mas desde que você os trate racionalmente, eles responderão de boa fé. Além disso, são gentis com suas crianças.

— Não somos crianças.

— Sim, claro, mas não se preocupe. Também serão acolhedores com vocês.

Infelizmente, eles eram céticos em relação aos Superd. Se aparecessem desse jeito, não importaria se os recebessem bem, iriam suspeitar até da comida colocada na frente deles. Sem mencionar que havia uma praga na vila até recentemente. Eles poderiam hesitar em comer a comida, mas felizmente, os Superd agora tinham as provisões alimentares da equipe médica. Tudo aquilo foi produzido no Reino Asura, então devia ser delicioso. De qualquer forma, queria que vissem os pontos turísticos da vila. Iríamos nos divertir juntos.

Chegamos à Ravina do Dragão da Terra e diante de nós estavam duas pontes.

— Por que há duas pontes?

Uma já estava lá originalmente. A outra era a que eu tinha construído.

— Não queria que a ponte antiga desabasse enquanto estivesse na metade do caminho, então usei magia da terra para construir uma nova.

— Hmm. E qual delas cruzamos?

— Esta aqui — falei, apontando para a minha ponte. Logo de cara, Galixon saltou e começou a atravessar. Apesar da altura e da ausência de corrimão, ele marchou sem hesitação. Não estava com medo? Acho que não. Eu o segui com Zander atrás de mim e Dohga na retaguarda.

— Por favor, não desabe — murmurei. Se eu tivesse cruzado primeiro e a ponte começasse a desabar, poderia ter me salvado, mas Galixon insistiu em ser o primeiro. Igualzinho a Eris. Talvez também fosse um lutador do Estilo Deus da Espada.

— Hum, há Dragões da Terra lá embaixo… — disse Zander. Virei-me e o vi limpando a garganta, olhando para baixo.

— Você é deste país, certo, Zander? Não sabia?

— Sabia, mas é a primeira vez que venho aqui.

Ok, é justo. Poucas pessoas viam todas as atrações famosas em seus países de origem, e este não era um destino turístico. Além disso, ele era um soldado, então não iria entrar em uma floresta onde todos eram proibidos de entrar.

Tomando como exemplo a Cordilheira da Wyrm Vermelha no Reino Asura. Quase ninguém havia escalado aquele conjunto de picos. Era a mesma coisa.

— Mestre Rudeus, você se apresentou como seguidor do Deus Dragão Orsted… — começou Zander. — Mas você já lutou contra um Dragão da Terra?

— Eu não.

— Você fez algumas magias espetaculares na estrada. Se lutasse contra um, acha que poderia vencer? — Sua voz tremia. Talvez estivesse com medo de que um Dragão da Terra subisse pela ravina e nos atacasse. Não podíamos ver o fundo da dela e isso fazia a imaginação voar descontroladamente sobre o que poderia estar nos espreitando lá de baixo… e o que poderia sair voando.

— Não se preocupe — respondi. — Não posso prometer nada se cairmos no meio de um enxame deles, mas posso lidar com um ou dois.

— Um ou dois… — repetiu Zander. — Tudo bem… — Ele não parecia tranquilo.

— Ei! Venham logo! — Galixon gritou. Enquanto conversávamos, ele já havia chegado ao outro lado e estava nos esperando. Acelerei o passo para alcançar nosso companheiro apressado.

— Uma vez que atravessarmos a ponte, estaríamos praticamente dentro da vila Superd.

Então a verdadeira tarefa começaria.

 

Separador Mushoku

 

Bem-vindos à Excursão Educacional da Vila Superd, guiado por Rudeus Greyrat e seu assistente, Dohga! Havia apenas dois turistas.

— A vila Superd tem uma única entrada, com dois guardas vigiando para impedir a invasão de monstros. Eles possuem um órgão sensorial único e, graças a isso, nunca deixam passar um intruso. Inclusive, já estão cientes da nossa aproximação, mas vocês não têm nada com o que se preocupar, são uma raça muito amigável.

— Por que você está falando assim? — perguntou Galixon desconfiado.

— Estou explicando — respondi. Havia muita coisa que não dá para entender só olhando, então preciso explicar tudo que pudesse passar despercebido por eles. É para isso que seu guia está aqui. E para isso que serve a apresentação.

— Já podemos ver a entrada. Estão vendo? Aqueles ali são os Superd. Viram como seus rostos estão voltados para cá, mesmo que ainda estejamos na floresta?

Apontei para a vila e os dois soldados ficaram tensos. Estavam de frente para Superds de verdade.

— O cabelo deles é verde.

— Sim, mas não há nada a temer. Vocês não se dão bem com os ogros, mesmo com sua pele vermelha e chifres?! O cabelo dos Superd é um pouco diferente, só isso. Por dentro, eles são como vocês… embora, como em qualquer tipo de povo, haverá algumas diferenças culturais. Se forem amigáveis, vão gostar de vocês. Se forem hostis, vão expulsá-los. Eles são como nós. Deem uma olhada, por favor.

Enquanto eu falava, um dos guardas veio até nós. Em primeiro lugar, precisava que entendessem que os Superd não eram demônios maus. Diga olá com um sorriso e receba um sorriso de volta. Esse era o primeiro passo para boas relações humanas. Levantei a mão e cumprimentei o guarda.

— Jambo!

O guarda me encarou com desconfiança, a mão meio levantada. Então virou-se para olhar para seu companheiro. Oops. Me empolguei um pouco demais.

— Com licença. Estou aqui com emissários do Reino Biheiril e queria mostrar a vila a eles. Se importaria de nos deixar passar?

— Vá em frente. Ruijerd nos contou sobre isso.

— Muito obrigado. também gostaria de conversar com o chefe, se possível.

— Muito bem. Eu avisarei.

Um dos jovens guardas saiu correndo em direção à vila. Vimos ele partir, então eu disse:

— Sigam-me.

Galixon e Zander entraram na vila lentamente atrás de mim, com os rostos tensos. Estavam nervosos. Para impedir que se preocupassem, diminuí meu ritmo.

— Houve uma praga aqui até o outro dia, mas humanos não podem pegá-la.

Eu não sabia disso com certeza. O chá de Grama Sokas parecia curá-la, mas nem sabia se a causa era o Vita ou a praga. Talvez eu já estivesse infectado e, dentro de um mês, o Reino Biheiril fosse mergulhar em uma pandemia… Eu ainda escolheria a sobrevivência dos Superd em vez de arriscar infectar humanos que não conhecia.

— Eles estão preparando comida ali. Acho que estão fazendo o jantar, considerando a hora. Aquele lugar ali é onde cultivam vegetais. Do outro lado, estão abatendo os frutos da caça. Estão vendo a carcaça? Está visível agora, mas é um monstro invisível. Não nos atacaram no caminho para cá, mas estão na floresta. Os Lobos Invisíveis se tornam visíveis depois de estarem mortos há um tempo. Como o nome sugere, são lobos, e são invisíveis. Apenas os Superd conseguem caçá-los bem.

O chefe e os outros precisariam se preparar, então os levei para um rápido passeio pela vila, explicando enquanto andávamos. Nenhum dos Superd se aproximou de nós. Eu também não iria me aproximar deles descuidadamente. Com o quão distantes estavam sendo, precisava me perguntar se isso não teria um efeito negativo na imagem mental que os soldados tinham deles.

Estava me preocupando demais. Tudo o que eles olhavam eram cenas idílicas que você encontraria em qualquer vila. Estava tudo bem. Estávamos todos bem.

— Há um homem da Igreja Millis ali.

— E uma elfa.

Olhei e vi Cliff e Elinalise conversando sobre algo. Estavam andando e apontando para um maço de papéis. Provavelmente ainda em busca da causa da doença.

— Sim, ele é o principal responsável pela recuperação dos Superd de sua doença.

— A fé Millis reconhece os Superd então?

— Não toda a fé Millis, mas algumas de suas facções aceitam demônios. Pelo menos posso assegurar que a Igreja Millis não vai despachar um exército para o Reino Biheiril só porque abrigam os Superd.

Os dois soldados não responderam.

— Devo apresentá-los? — sugeri.

— Não, está tudo bem. — Levantei a mão para cumprimentar Cliff. Ele assentiu para mim e cruzou os braços. A visão dele vivendo pacificamente nesta vila confirmaria que os Superd não eram um perigo.

Cliff parecia severo enquanto olhava para Galixon e Zander. Eu precisava de outra abordagem.

— Ah, olhem ali! Há crianças Superd vindo em nossa direção.

As crianças passaram correndo por nós, segurando bolas e rindo.

— Não são adoráveis suas caudas? Todos os Superd as têm. Elas eventualmente se transformam nas lanças brancas que eles carregam. Crianças são doces e inocentes, não importa de onde você venha — falei, seguindo as crianças com os olhos. — Não acham?

Os soldados não se viraram para observá-las. Será que odiavam crianças? Não era isso. Estavam olhando na direção de onde as crianças tinham vindo. Lá estava uma figura inquietante em um casaco branco e um capacete preto.

Galixon arfou e sua mão foi para a espada. Rapidamente me coloquei na frente dele.

— Uhhh, aquele não é um Superd. Apenas ignorem ele!

— Então quem é?

— Aquele é meu chefe, o Deus Dragão Orsted. Sei que ele parece um pouco inquietante assim, mas está tudo bem. Ele deixará o reino de vocês assim que tudo isso acabar. Ele é inofensivo e não vai ficar aqui. Por favor, estejam seguros disso.

— Entendo — disse Galixon, após uma pausa que durou tempo demais.

Orsted olhou para eles por alguns segundos, então se virou e foi embora. Quando saiu, a tensão dos soldados se dissipou. Sua maldição tinha o efeito de azedar ainda mais as situações tensas. Por outro lado, depois de vê-lo, deveria ficar ainda mais claro que os Superd eram nada mais do que aldeões comuns.

— Há muitos guerreiros entre os Superd, mas como podem ver, mais da metade deles são mulheres e crianças inofensivas. Por favor, deixem de lado seus preconceitos e olhem para eles sem julgamento. Eles parecem demônios cruéis para vocês?

Perguntei-lhes logo após terem visto Orsted. Estava insinuando descaradamente o quanto ele parecia mais diabólico. Eu lhe pediria desculpas depois.

— Não parecem — disse Zander no silêncio que se seguiu. — Deixando de lado esse… uh, Senhor Deus Dragão? A vila em si parece uma vila normal.

— Sim. Parece minha cidade natal — concordou Galixon. Quer Orsted tivesse sido eficaz ou não, as impressões de Galixon e Zander não eram ruins até agora.

Notei o jovem guarda de antes vindo em nossa direção.

— O chefe vai vê-los — disse ele.

— Obrigado. Se os dois puderem me acompanhar, por favor, vou lhes apresentar ao chefe.

O chefe estava pronto para nos ver. Sentindo que isso era um bom sinal, guiei os dois soldados até onde o ele nos aguardava.

O chefe nos esperava em uma casa relativamente grande. Com o salão ainda sendo usado como centro médico, ele teve que fazer arranjos temporários. Havia três pessoas nos esperando: dois dos quatro que estiveram presentes na minha reunião com o chefe, e Ruijerd. Os outros dois anciãos ainda estavam se recuperando.

Norn estava ao lado de Ruijerd, e quando entramos, ela nos trouxe chá que havia preparado com antecedência. Minha irmãzinha era muito atenciosa, se é que posso dizer isso. Antes, ela não teria a presença de espírito para fazer esse tipo de coisa. Suponho que esses fossem os frutos de uma educação formal.

— Bem, Mestre Rudeus? Sobre o que vamos conversar?

— A história dos Superd, sua situação atual e seu pedido ao reino.

— Muito bem.

Após a recepção modesta, a reunião foi relativamente amigável. O chefe falou e os soldados ouviram sobre o passado, o presente e o futuro da Tribo Superd, além de seu pequeno desejo de viver em paz sem prejudicar ninguém. Com o passar do tempo, os soldados também relaxaram. A vila era tranquila e o comportamento do chefe era gentil. Até Ruijerd estava fazendo o possível para baixar a guarda.

— Muito bem. Vamos relatar tudo isso a Sua Majestade, exatamente como ouvimos — disse Zander. — Não se preocupe, não vamos decepcioná-los. — Com isso, a reunião chegou ao fim.

Os soldados passaram a noite na vila e partiriam para casa no dia seguinte. Eu os acomodei na casa que nos havia sido emprestada para Sándor e Dohga, que junto comigo, também íamos ficar lá.

Norn havia ficado com Ruijerd o tempo todo. Estava praticamente colada nele; como se estivesse buscando alguma lembrança de Paul.

— O que acharam da vila Superd? — perguntei a eles antes de irmos dormir.

— Foi uma viagem mais proveitosa do que eu esperava — disse Galixon, e Zander concordou. Ambos pareciam felizes.

— Sempre ouvi dizer que os Superd eram demônios assustadores, mas é diferente quando os vê com seus próprios olhos, não é?

— É uma vila normal. Com uma comida excelente.

— Ainda não estou convencido sobre esses monstros que você não consegue ver, no entanto. Lobos Invisíveis, não é?

— Mas a floresta estava estranhamente silenciosa. Até mais quieta do que a perto da capital que costumo caçar

— Acho que é verdade que eles estão caçando os monstros invisíveis, então, né?

Os dois foram achando isso e aquilo para elogiar a vila até a hora de dormir. Parece que a Excursão Educacional pela Vila Superd foi um sucesso retumbante.

 

Separador Mushoku

 

No dia seguinte, decidimos que eu levaria os soldados de volta à capital. Disse a eles que, se ficássemos mais dois ou três dias, poderiam ver um Lobo Invisível de verdade, mas eles disseram que precisavam voltar imediatamente para contar ao rei e fazer o grupo de caça ser desfeito. Partimos de imediato. Tinha sido uma viagem realmente turbulenta e queria muito deixá-los usar o círculo de teletransporte, mas me contive. A pressa é inimiga da perfeição, como diz o ditado. Se eu errasse aqui, seria mortificante.

Fui avisar a Ruijerd que os acompanharia de volta, e então deixei a vila.

Os Superd devem ficar bem agora. Hora de seguir para Geese. Eu queria saber onde estavam o Deus do Norte e o Deus Ogro também. A coleta de informações de Sándor parecia ter estagnado por enquanto, e talvez já tivessem fugido deste país para outro lugar… Isso poderia significar que Sylphie estava em perigo. Esse “outro lugar” poderia ser o Santuário da Espada.

Eu me perguntava como Sylphie estava. Esperava que ela conseguisse entrar em contato com Nina em segurança. E como estava Eris? Espero que ela não tenha causado nenhum problema. Provavelmente estaria bem enquanto Roxy estivesse com ela, mas até Roxy às vezes cometia erros. Não conseguia deixar de me preocupar. Quanto a Aisha e seu grupo… Eles ficariam bem, de um jeito ou de outro.

— Você vai voltar sozinho? — Galixon perguntou.

— Hã? — Eu estava caminhando, perdido em pensamentos, quando ele se virou e me perguntou.

Olhei ao redor. Galixon, Zander e eu.

— Aquele cavaleiro…? Ele estava dormindo profundamente quando partimos. Nem estava roncando — disse Sandor, e percebi que Dohga não estava conosco. Eu não tinha notado nada. O cara era enorme, mas não tinha presença. Mais importante, ele dormiu?

— Ah, bem — disse despreocupadamente —, por favor, não se preocupem. Eu vou conseguir protegê-los muito bem, mesmo sozinho.

Os outros dois trocaram olhares. Não pareciam convencidos. Nada para se preocupar, isso não era um problema. Se chegasse a uma luta, a presença de Dohga não faria diferença.

Eu também tinha sido instruído a não ficar sozinho, é claro. Poderia fazer esses dois esperarem por mim em uma Fortaleza de Terra enquanto eu ia buscar Dohga, mas íamos nos encontrar com Sándor na Segunda Cidade de Irel…

Percebi que a floresta tinha se aberto em uma clareira. Chegamos à Ravina do Dragão da Terra e à nossa frente havia duas pontes. Perfeito. Do outro lado da ponte, quase não havia Lobos Invisíveis, então era relativamente seguro. Eles poderiam me esperar uma vez que estivéssemos do outro lado.

— Eu vou primeiro — disse Galixon como se fosse a ordem natural. Zander e eu o seguimos. Talvez devesse ter ficado na retaguarda para garantir que eles não caíssem, pensei. Fiquei alerta, pronto para agir caso qualquer um deles caísse.

De repente, Galixon parou.

— O que foi? — perguntei. Galixon se virou. Seu rosto estava inexpressivo. Não combinava com seu magnífico bigode.

— Você vai fazer isso? — A pergunta foi direcionada a Zander. Virei-me e o vi dar de ombros.

— Ele é todo seu. Vá em frente.

Desculpe? Do que estão falando?

— Pessoal, se vocês têm algo para discutir, podem esperar até atravessarmos a ponte? — sugeri.

— Hã? — Galixon exalou algo parecido com um suspiro e então moveu sua mão direita para o pulso esquerdo. Enquanto eu me perguntava o que estava acontecendo, ele enganchou o dedo na manopla e lentamente tirou a luva. — Achei que você notaria — comentou.

Meu coração batia acelerado no peito. Lá, em seu dedo, estava um anel que reconheci.

— Quando vi Cliff Grimor com aquele Olho de Identificação, meu coração estava na boca! Sem as luvas, ele teria nos descoberto. — Virando-se, vi que Zander também tinha tirado a luva. Ele usava o mesmo anel. Eu o reconheci porque era igual ao anel no meu dedo. O implemento mágico do Reino Asura que mudava seu rosto.

Galixon exalou profundamente.

— Aquela encenação estúpida. Meus ombros estão tão tensos — resmungou, então tirou o anel. Diante dos meus olhos, seu rosto começou a mudar. Seu bigode desapareceu e foi substituído pelo rosto de um homem de meia-idade, na casa dos quarenta. Um rosto parecido com o de um lobo faminto, combinando com seu jeito de falar. Era uma pessoa completamente diferente.

— Tenho uma mensagem de Geese: “Não presuma que qualquer item mágico é único” — disse Zander. Virei-me para ele e vi que seu rosto também havia mudado. Não estava mais com cara de cavalo. Agora, era um garoto com cabelo preto e um rosto ainda redondo com os últimos traços de uma carinha de bebê. — Preciso ser sincero, estou desapontado. Tinha grandes esperanças depois que você derrotou Auber…

Fiquei sem palavras. Minha boca estava seca. Tanto Galixon quanto Zander me olhavam com hostilidade assassina.

— Geese disse: “Se colocarem o Chefe em um lugar apertado com má posição, todos os truques dele vão falhar”. Embora eu não esperasse que você fosse entrar tão complacentemente e se deixasse flanquear…

— Que… quem são vocês? — gaguejei. Não sei se já tinha adivinhado àquela altura ou não.

— Gall Falion, lutador do Estilo Deus da Espada.

— Sou o Deus do Norte Kalman Terceiro, Alexander Rybak. — Eles falaram ao mesmo tempo. O ex-Deus da Espada, Gall Falion, e o Deus do Norte Kalman Terceiro. Eles haviam usado o nome de Geese, então esses dois eram meus inimigos.

No momento em que tive certeza disso, levei a mão à cintura e pressionei o botão para liberar o pergaminho da Armadura Mágica Versão Um.

Porém, meu braço não se moveu.

Vi meu braço direito cair diante dos meus olhos, bater na ponte e depois mergulhar no desfiladeiro. Galixon… quero dizer, Gall Falion, tinha sua espada desembainhada. Ele cortou meu braço, percebi, tarde demais.

— Aaaggghhh! — Finalmente, uma onda de dor excruciante percorreu meu corpo. Tentei cobrir o coto do meu braço direito… mas meu braço esquerdo também não se mexia.

Não, não era que “não se mexia”. Não estava . Tinha sumido. Pelo canto do olho, vi meu braço esquerdo cair no desfiladeiro.

— Então esse é o seu rosto, hein? Nada mal. Bem mais bonito do que aquela cara que você tinha antes.

Gall olhou para meu rosto e riu. Quando meu braço caiu, o anel deve ter parado de funcionar.

— “O chefe lança magia com as mãos. Corte-as e você talvez consiga derrotá-lo” — acrescentou Zander. Sangue jorrava dos cotos dos meus braços. Ele estava certo. Eu não conseguia usar magia. Como se os circuitos que acionavam minha magia estivessem nesses braços, nada saía.

— Poderíamos ter vencido ele sem tudo isso, não poderíamos?

— Nah, não se sabe o que pode acontecer quando você luta de igual para igual. Geese estava sendo muito cauteloso.

Acho que não. Quando ele tinha aquele guarda-costas, Dohga, era uma coisa. Duvido que eu perdesse para ele sozinho.

Minha magia não saía dos meus braços. Quando percebi isso, comecei a enviar energia mágica para a Armadura Mágica.

— Opp…

Aumentei a potência dos segmentos das pernas e, em seguida, me virei. Encarando Zander, me lancei. Não estava atacando, estava mirando além dele, para escapar, e voltar para a vila Superd…

— …sie!

Algo me atingiu nas costas. Eu já sabia que era uma espada. Um golpe que cortou a Armadura Mágica como manteiga. A Espada da Luz. Meu torso foi partido em dois… ou não? Eu pensava que sim, mas sentir um impacto nas costas não fazia muito sentido.

De repente, me senti sem peso. Eu estava caindo.

Minha visão girava, mas consegui distinguir Gall e Alexander olhando para baixo, sobre a borda da ponte desmoronando, para mim. Ahh, pensei, dei um chute com toda a força da Versão Dois aprimorada e atravessei a ponte.

Continuei a cair. Com os dois braços perdidos e sem nada que eu pudesse fazer, continuei a cair. Toda a força tinha deixado meu corpo e o medo tomou seu lugar. Eu estaria morto em um instante.

No momento em que me entreguei à morte inevitável, algo atingiu meu corpo com força e apaguei.

 

Separador Mushoku

 

Gall Falion olhou para o desfiladeiro onde Rudeus havia acabado de cair e suspirou:

— Ele caiu?

— Você pegou leve no final, Gall? Pareceu que você quase não o cortou — comentou Alexander também espiando o desfiladeiro, suas sobrancelhas franzidas em dúvida.

— Até parece… É essa bosta aqui. — Ele ergueu a espada. Estava quebrada na empunhadura. Qualquer pessoa que entendesse do assunto poderia dizer que a espada era de aço fundido, uma daquelas distribuídas aos soldados regulares de Biheiril. Não era sucata, mas não era uma espada feita para durar.

— A armadura daquele bastardo era muito mais dura do que eu pensei…

Ainda assim, Gall Falion era um mestre da espada, e um artesão nunca culpava suas ferramentas. Não havia necessidade de usar uma lâmina famosa para cortar um oponente de carne e osso. A espada fundida deveria ter sido mais que suficiente, mas a armadura de Rudeus foi mais resistente do que previu. Ele encontrou uma resistência mais forte do que nunca ao golpear Rudeus pelas costas.

— Deveria ter trazido minha própria espada — murmurou Gall enquanto jogava a espada no desfiladeiro.

— Não se culpe por isso — disse Alexander, dando de ombros. Ele continuou a olhar para o desfiladeiro. — Se tivéssemos nossas próprias espadas, nossas identidades teriam sido expostas. — Ele também tinha uma espada regular de Biheiril no cinto. Sem dúvida, não era uma lâmina adequada para o Deus do Norte.

— Bem, e agora? Descemos lá e terminamos o trabalho?

— Depois que ele perdeu os braços, não conseguia mais usar magia. Contanto que isso não tenha sido uma farsa, acho que estamos tranquilos. — Alexandre murmurou indeciso.

— Além disso, está cheio de Dragões da Terra lá embaixo.

— Ele mesmo disse que podia enfrentar um ou dois, mas definitivamente não um enxame — concluiu Alexander. Ele também não estava com vontade de descer até o fundo do desfiladeiro só para verificar se Rudeus estava morto. Matar Rudeus nunca foi o objetivo.

— Certo, nosso maior obstáculo está fora do caminho. Vamos voltar agora?

— Mal posso esperar pela luta contra Orsted — suspirou Alexander. — Ei, eu deixei você pegar o Rudeus, então vai me deixar pegar o Orsted, certo?

Os dois voltaram pela ponte em ruínas, conversando como se nada de importante tivesse acontecido, voltando para a estrada que levava à capital do Reino de Biheiril.

— Hein? Você só quer subir no ranking dos Sete Grandes Poderes. O que importa se eu for primeiro?

— Você está errado. Não quero um ranking mais alto. O que quero é ser um herói. Um maior do que meu pai foi… um Deus do Norte maior do que ele foi.

— Hah! — Gall zombou.

Ninguém os seguiu. Ninguém estava observando aquele lugar, nem mesmo um Superd com seu terceiro olho. No rescaldo do caos causado pela praga, suas equipes de caça não se aventuravam longe da aldeia. Se alguém estivesse observando, os dois homens não teriam lançado seu ataque na ponte.

— Nada de pular sua vez. Vamos lá, vamos seguir o plano. Essa era uma das condições.

Gall chiou entre os dentes.

— É muito lento. E depois que o Vita se precipitou, quem se importa com o plano agora?

Com isso, Gall Falion e Alexander Rybak desapareceram entre as árvores.

O desfiladeiro ficou vazio. Só restava a ponte em ruínas. Apenas a ponte e o silêncio.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: Merovíngio

 

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