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Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 09 – cap. 12 – Elenco de Personagens Arco 3: A Furadeira Princesa do Império

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No final do 11º mês, 1547º ano, Calendário Continental

A capital imperial, Valois

 

Aconteceu por volta da hora que Souma estava na União das Nações Orientais.

O lugar era o escritório da irmãzinha general Jeanne, no castelo de Valois, onde a Imperatriz Maria Euforia vivia, próximo ao centro da capital imperial Valois no Império Gran Caos.

Lá, Jeanne e o embaixador friedoniano Piltory Sarraceno estavam sentados de frente um para o outro.

Piltory curvou-se para Jeanne. — Sinto muito. Preciso retornar ao reino novamente.

Com um sorriso irônico, Jeanne disse suavemente:

— É a irmã mais nova desta vez, certo? Não é algo a ser celebrado?

— Fico grato por ouvir isso de você.

Depois de descobrirem que Anzu, esposa de Piltory, estava grávida, ele retornara ao reino temporariamente para deixá-la sob os cuidados de sua família, a Casa de Sarraceno.

Uma vez que Anzu deu à luz a um filho com segurança, ela retornara ao império com a criança para ficar com Piltory.

Agora, imediatamente após isso, a irmã de Anzu, Shiho, era quem estava grávida.

Pensando que seria melhor que, como Anzu, desse à luz na casa da família, Piltory mais uma vez pedira licença para retornar para a casa do reino e do Império. Tendo o seu pedido aceito, ele veio para dar os cumprimentos.

— Retornarei assim que deixar Shiho na casa da família, como da última vez, então Anzu vai cuidar da comunicação com o reino durante esse tempo — disse ele. — Caso surja algo, por favor pergunte a ela. Parece que meus assuntos pessoais têm interferido nos meus deveres e me deixado longe do império, e isso me dói, mas…

Piltory tinha um olhar realmente de arrependimento, mas Jeanne acenou em negativa.

— Não, não, não se preocupe. Você está fazendo isso pela criança que nascerá. Além do mais, o próprio Sr. Souma vai ter um filho em breve, não vai?

— Sim, é o que ouvi.

— A Princesa Liscia, uma mãe… sinto que ela passou na minha frente de certo modo.

Jeanne deu um leve suspiro.

Ambas foram princesas travessas que deram trabalho para os servos quando eram crianças, então onde tinha se formado essa diferença entre elas? Era verdade que Jeanne não tivera um encontro especial como o de Souma e Liscia, mas a maior razão era provavelmente aquela irmã mais velha dela.

Eu não posso sair à procura de um parceiro enquanto minha irmã ainda é solteira. Se ela apenas encontrasse um cavalheiro maravilhoso logo, eu poderia ser mais proativa…

Pela sua mente passou a imagem daquele homem de robes negros com os olhos astutos, porém calorosos.

Espera! Não, não, isso está fora de cogitação!

Jeanne chacoalhou a cabeça como que para eliminar essa noção de sua mente.

Sei que ele não é o tipo de pessoa que eu possa dar conta só sendo mais proativa. Ele é um homem distante, em vários sentidos dessa palavra. Mas se… se nosso império fosse mais estável, e minha irmã achasse alguém legal… Eu poderia ser mais honesta com meus sentimentos…

Imaginando-se ao lado dele, Jeanne sentiu os lábios formarem um sorriso.

— Bem, imaginar não faz mal, eu acho — dizia ela a si mesma.

A propósito, Maria faria vinte esse ano (vinte e um pelo calendário da Terra). No mundo de Souma, teria sido cruel agir como se ela tivesse demorado muito para se casar nessa idade. Porém, Jeanne estava preocupada que sua irmã estivesse próxima de se tornar uma solteirona.

Isso era porque a idade que as mulheres podiam se casar nesse mundo era catorze anos. Então, nas classes mais altas, nas quais casamentos políticos eram a norma, recomenda-se que uma mulher estivesse casada até os vinte anos.

Perdida nos seus pensamentos, Jeanne refletia…

— Ahm, Madame Jeanne? — Piltory perguntou. — Aconteceu alguma coisa?

— Oh! Não, me desculpe. Vejamos… Sr. Souma provavelmente está fora no momento, então quando retornar ao país e a criança nascer, por favor dê os parabéns da minha irmã a ele.

— Ohhh! Obrigado por isso.

A habilidade de celebrar o nascimento de uma criança na família real de outro país se devia às relações cordiais entre o reino e o Império.

Enquanto os dois conversavam…

Boooom! Crash!

Houve uma grande explosão, e castelo chacoalhou para cima e para baixo fortemente.

Piltory pensou que devia ser um terremoto súbito, mas o tremor terminou inesperadamente rápido.

Enquanto se perguntava o que era, notou que Jeanne tinha posto a mão na testa.

— Algum problema, Madame Jeanne?! Machucou-se no tremor de agora?!

— Não… Só fiquei com uma dor de cabeça pensando em toda a limpeza que eu vou ter que fazer depois disso. Honestamente, aquela garota…

— Aquela garota?

Quando Piltory ia pedir mais detalhes, a porta foi aberta com força. Quem veio correndo para dentro do quarto era a própria Imperatriz Maria Euforia.

— Jeanne! Essa explosão foi…— Irmã, o que faz vestida desse jeito?! — gritou Jeanne, interrompendo-a.

Maria estava usando pijamas e um gorro, suas roupas de dormir. Era depois do meio dia, mas o cabelo dela estava bagunçado como se estivesse dormindo até alguns momentos atrás.

Para Piltory, que apenas conhecia a beleza nobre da mulher chamada de Santa do Império, a discrepância era tão grande que os seus olhos se incharam.

— Por favor, vista-se direito! Sr. Piltory está aqui, sabe?! — gritou Jeanne.

— Ah céus, Sr. Piltory. Bom dia. — Maria o cumprimentou elegantemente apesar de estar usando pijamas.

Contanto que houvesse um sorriso em sua linda face, mesmo que usasse apenas pijamas, ela possuía uma beleza pitoresca.

Jeanne pôs as mãos na cabeça.

— Já é de tarde. Já passou da hora de dizer “bom dia”.

— Bem, eu estava trabalhando até de manhã, e finalmente consegui achar um tempo para dormir, sabia? Bem quando eu estava partindo numa jornada agradável para a terra dos sonhos, fui acordada por aquela explosão. Acha que aquela garota é a causa?

— Mais ninguém causa explosões no castelo. Me pergunto o que ela destruiu dessa vez…

— Ela fez um grande buraco no muro do castelo da última vez, não fez?

As lindas irmãs deram um suspiro compartilhado.

Jeanne deu uma ordem às guardas femininas a postos do lado de fora do quarto.

— Capturem a culpada imediatamente e tragam-na para cá.

— S-SIM, SENHORA!

As guardas imediatamente saíram correndo.

A culpada… se elas sabiam a quem se referia a partir de uma descrição tão vaga, isso significava que as guardas conheciam quem era a culpada, também?

Nesse caso, era uma ocorrência comum?

— Ahm… Quem exatamente é essa garota de quem vocês duas tem falado? — perguntou Piltory hesitante.

Maria e Jeanne olharam uma para a outra e responderam em uníssono.

— NOSSA IRMÃZINHA.

“Por volta de dez minutos depois…”

Parecendo a imagem de um “alien” sendo levado embora por homens de preto, uma garota de uns quinze anos foi trazida pelas guardas reais.

Ela tinha o mesmo cabelo loiro de Maria e Jeanne, e uma aparência fofa e feminina, mas o seu jaleco branco e a forma como o cabelo dela estava em pé expunham a sua natureza desleixada.

Uma característica definidora era o seu penteado. Seu longo cabelo estava preso em uma espiral do seu lado direito.

Quando a garota capturada foi trazida a frente de Jeanne, na qual tinha uma aura de ira, ela cumprimentou-a timidamente.

— B- Bom dia, Irmãzona Maria, Irmãzona Jeanne.

— Parece que estamos tendo um bom dia, Trill? — Jeanne perguntou olhando com raiva.

— Eek?! S-Sinto muito!

Trill encolheu como um gatinho se enrolando no frio, e curvou-se repetidamente enquanto Jeanne lhe dava um sermão.

As três tinham o sangue da família real, mas quando você via elas desse jeito, eram como irmãs normais quaisquer.

Vendo Piltory desnorteado e incapaz de acompanhar a situação, Maria falou em voz alta com um sorriso incomodado no rosto:

— Permita-me apresentá-lo, Sr. Piltory. Esta é nossa irmã mais nova, Trill.

— Eu… Eu sou Trill Euforia.

Sendo liberta do sermão, Trill foi rápida em se apresentar e tentar manter as aparências.

— Não tenho ciência de quem você é, mas é um prazer conhecê-lo.

— P-Perdão. Fui enviado aqui pelo Reino de Friedônia. Meu nome é Piltory.

— O Reino de Friedônia?! — Os olhos de Trill se arregalaram. — Quando diz Reino de Friedônia, você quer dizer o que costumava ser o Reino de Elfrieden?! Eles têm a Genia da Casa de Mawxell!

— B-Bem… Eu não conheço essa Madame Genia… seja ela quem for, mas já ouvi falar da Casa de Maxwell. Eles se tornaram conhecidos por pesquisarem as ruínas de um calabouço ou algo assim, creio eu.

Para um homem militar como Piltory, não estava ligado aos detalhes de quem eram os diferentes burocratas. No entanto, a Casa de Maxwell era tão infame por ser uma família de esquisitões que até ele tinha ouvido falar.

— Ahm… porque a irmã mais nova de Madame Maria estaria interessada na Casa de Maxwell? — atreveu-se.

— Porque eu sou uma grande fã dos Maxwells! — Trill declarou com os olhos brilhando. — Quando li a publicação deles, A conversão e acumulação de energias mágicas, fiquei maravilhada! Podia perceber que era o que faria minha ambição se realizar…!

— Trill! Ainda não terminamos! — gritou Jeanne com ela.

Os ombros de Trill se contraíram.

A terceira princesa do Império falara apaixonadamente sobre a infame Casa de Maxwell do reino. Será que excêntricos atraem excêntricos? Pensou Piltory.

Jeanne soltou um suspiro irritada.

— Ora, Trill, o que exatamente você quebrou hoje?

— Jeanne, não tem porque concluir apressadamente que ela quebrou alguma coisa…

— Por favor, fique fora disso, irmã. Você ouviu o barulho sentiu os tremores. Devemos nos preparar para algumas perdas.

— P-Perdas, não… não foi nada grande. Só fiz um buraco pequenininho no teto do meu laboratório subterrâneo…

— Vocês duas — resmungou Jeanne, ignorando as declarações de Trill e falando com as guardas que a trouxeram —, quão ruins foram os danos?

As guardas prestaram continência e relataram exatamente o que tinham visto.

— Havia um grande buraco aberto no pátio.

— Ele parecia ter mais de 5 metros de diâmetro.

— Isso não é buraco pequeno! — Jeanne bateu na mesa.

O barulho fez não só Trill, como Maria pular também.

Jeanne ordenou que as guardas saíssem, e depois de confirmar que tinham saído, ela suspiro de novo.

— Suas ações ultimamente têm sido completamente inaceitáveis. Toda vez que você causa um problema, toda vez que você destrói alguma coisa, isso diminui a dignidade de nossa irmã mais velha e dá mais trabalho para mim.

— I-Irmãzona, a minha pesquisa é…

— Entendemos que a sua pesquisa servirá para beneficiar o futuro deste império. É por isso que não pedimos que realize seus deveres como terceira princesa do império, e em vez disso, permitimos que faça como quiser em seus estudos. — Jeanne bateu na própria cabeça como se estivesse com dor. — Porém, você está chegando muito próxima dos limites. Não conosco, com os vassalos. Eles estão começando a expressar a opinião de que já era hora de punirmos você, percebe?

— Urkh…

O fracasso pode ser a mãe do sucesso, mas no caso dela, Trill tinha nascido com o sangue errado para isso

Ela era a irmã mais nova da Imperatriz Maria, que governava um vasto império, mas permanecia confinada no seu laboratório criando coisas o dia todo, falhando incrivelmente, e ocasionalmente explodindo as paredes ou causando danos.

Essa má reputação não afetava apenas ela; era um risco que poderia impactar na autoridade de Maria também.

Com um olhar sofrido, Jeanne disse a Trill:

— Isso está saindo do controle. Já não era hora de desistir? Porque não desistir dos seus estudos, e retornar a sua posição como terceira filha da casa imperial?

— …

Trill olhou para baixo, incapaz de dizer algo de volta.

Uma atmosfera pesada pairava no quarto. Tendo de repente sido envolvido nas questões da família delas, Piltory nervosamente pensava sobre o que fazer com si mesmo.

Como se fosse trazer um respiro de ar fresco no quarto, Maria bateu palmas.

— Se não conseguimos dar conta dela, porque não a deixar com alguém que consiga? — disse ela numa voz descontraída.

Os olhos de Jeanne arregalaram-se.

— O que é isso, do nada?

— Só tive uma pequena ideia. Sabe, desde que formamos uma aliança com o Reino de Friedônia, Piltory tem ficado aqui como embaixador residente no Império, mas não enviamos ninguém em retorno, enviamos?

— Você está certa. É uma aliança secreta, então escolher alguém tem sido difícil… Espere, Irmã, você não quer dizer…

Jeanne tinha um mau pressentimento. Maria sorriu amplamente e disse:

— Sim, eu quero. Vamos enviar Trill ao reino como nossa embaixadora residente.

 

Separador Herói Realista

 

— …Então, é isso, Sr. Souma. Por favor cuide bem de nossa irmã.

— É isso? — repeti. — É isso o quê…?

Deixe-me contar o que aconteceu. Eu voltei da União das Nações Orientais, estive presente quando Liscia deu a luz, fui forçado a ir de volta para o castelo quando os gêmeos nasceram, e três dias depois, tive uma pestinha do império empurrada para mim. Vocês… Vocês acham que eu não sei do que estou falando. Vocês estão certos. Eu não faço ideia do que está acontecendo…

— Trill, você não deve causar problemas para Sr. Souma, tudo bem? Cuide-se — disse Maria.

— Eu sei, Irmãzona Maria.

Bem agora, uma jovem garota de uns quinze anos com o cabelo loiro enrolado, que tinha sido enviada pelo Império, estava do meu lado, acenando para Maria pela Transmissão de Voz da Joia.

Seu nome era Trill Euforia.

Seus rostos eram similares, mas as personalidades não. Parece que a irmãzinha de Maria era uma pesquisadora.

Seus enormes fracassos repetidos tinham aparentemente dificultado que ela permanecesse no Império, então estava sendo enviada para meu reino como a até então não escolhida embaixadora deles.

Eu tinha sido informado sobre isso por Piltory, que retornou ao Império depois de voltar para casa por um curto tempo.

Honestamente… Gouran deixa Kuu comigo, depois Fuuga me deixa responsável por Yuriga, e agora isso. Essas pessoas não são muito rápidas para deixarem pessoas importantes no meu país?

— Sei que nosso castelo tem uma creche, mas só cuidamos de bebês, sabe — disse

— Poderia gentilmente não me tratar como uma criança? Você está desrespeitando uma senhorita — protestou Trill, mas ignorei ela.

Maria estava dando uma risadinha.

— Minha nossa. Pensava que você gostasse de pessoas criativas e hábeis, Souma? Trill é a pesquisadora mais única e criativa no Império. Tenho certeza que gostará dela.

Suspirando, perguntei:

— Que tipo de pesquisa você faz afinal?

— Hum. — Trill tombou a cabeça de lado de forma fofa. — Para explicar isso, preciso contar-lhe aquela velha história.

— Hã? Velha história?

— Sim, isso mesmo. Muito, muito tempo atrás, num certo país…

 

Separador Herói Realista

 

Muito, muito tempo atrás, num certo país, havia o guerreiro mais forte.

Esse guerreiro era abençoado com um corpo resistente, junto com uma coleção de armas e armadura superiores.

Esse guerreiro olhou para a lança que segurava e disse:

— Minha lança é a mais afiada do mundo. Não há nada que ela não atravesse.

Então, apontando para sua armadura, o guerreiro disse:

— Minha armadura é mais resistente que as muralhas de uma fortaleza. Nada no mundo pode atravessá-la.

Ouvindo isso, o mestre do guerreiro perguntou:

— Se você apunhalar a armadura que não pode ser atravessada com a lança que pode atravessar qualquer coisa, o que acontecerá?

O guerreiro não pode responder, e ficou muito envergonhado.

 

Separador Herói Realista

 

— Essa é a velha história — disse Trill.

— …

A história de Trill era só o conto por trás da etimologia da palavra que significa contradição ou inconsistência em Japonês e Chinês, só que com a alabarda trocada por uma lança, e o escudo trocado pela armadura.

Veio de Han Feizi, acho?

O autor dessa obra, Han Fei, escreveu sobre como um soberano deve governar da perspectiva de um realista, mas o conteúdo dessa obra era tão duro que mesmo Maquiavel não era nada em comparação.

Isso foi porque Han Fei vivera num tempo de caos, quando sete grandes homens estavam em guerra, e ele vivera na corte imperial, que era repleta de conspiração. Se alguém fosse pôr fielmente em prática o que ele escreveu, o rei não teria mais em quem pudesse confiar.

Zhen, o Rei de Qin, que se tornou Qin Shi Huang, o primeiro imperador da China, era um fã de Han Fei e tinha um elemento disso nele, mas eu pessoalmente não queria nunca ir tão longe.

Mas estou divagando…

De qualquer forma, contanto que houvesse palavras, haveria paradoxos lógicos, então talvez não fosse tão estranho que uma história parecida fosse criada aqui.

Com um olhar insatisfeito, Trill continuou:

— Mas acho essa história estranha.

— Bem, lógica estranha é como você consegue paradoxos, afinal.

Fiquei pensando porque ela estava mencionando algo tão óbvio.

Mas Trill chacoalhou a cabeça.

— Não foi isso que eu quis dizer. A lança ganha.

— Oh-ho. Porquê? Agora fiquei interessado.

Trill ergueu o dedo indicador e começou a explicar:

— Uma vez que você põe uma armadura, é isso. No entanto, uma lança tem espaço para melhoras. Vamos assumir que a armadura tem uma dureza de dez, e a lança tem uma dureza de dez. Primeiro, tem a velocidade da estocada. Se você atacar duas vezes mais rápido, seu poder de ataque se torna vinte. E atacando girando, você dobra o poder de penetração de novo. Portanto, a força de ataque da lança deve poder subir para quarenta.

— I-Isso faz sentido…

Aisha, que estava ao meu lado como guarda-costas, parecia convencida.

Até parece que isso tá certo!

— Não, essa lógica está errada, ok? — gritei.

O que era essa lógica saída de um computador de batalha? Não tinha como simplesmente dobrar desse jeito.

Mesmo assim, Trill continuou com um olhar incrivelmente sério.

— Naturalmente, esses números não são claros. Mas se você der uma estocada com uma ferramenta com formato de broca numa tábua de madeira e dois centímetros de espessura, ela não atravessará facilmente. No entanto, se você a pressionar contra um mesmo ponto e girá-la continuamente, se torna possível fazer um buraco na tábua.

Bem, sim… Isso é verdade. Hã? A um dado momento, ela tinha começado a me convencer.

— O que eu estava estudando era um sistema para manter essa lança girando. — Trill sorriu mostrando os dentes e fez o movimento de uma estocada com lança. — Há limites físicos que a nossa estrutura corporal impõe em quanto giro podemos colocar numa estocada. É por isso que eu estava estudando desenvolver uma que gire constantemente. Durante o processo de testes, entretanto, o protótipo saiu voando e fez um grande buraco nas muralhas do castelo…

— Que constantemente gira… ah!

Entendi! Ela estava falando de fazer uma lança girar, então não fez sentido imediatamente, mas estava tentando criar uma broca! Ou, mais precisamente, um motor que pudesse manter uma broca girando. Isso em um mundo que não tinha nem o motor a vapor.

Se ela realmente conseguisse fazer um, seria uma revolução tecnológica.

— Você disse que fez um grande buraco nas muralhas do castelo? — perguntei — De quão grande estamos falando?

— Eu descobri que se eu forçasse energia mágica num pilar de suporte descoberto num calabouço, ele revolveria, então consegui fazê-lo girar. No entanto, sem conhecer uma forma de aplicar energia constante e estável, houve repetidas falhas.

Fiquei em silêncio.

Eu sabia disso porque havia visitado o laboratório do calabouço de Genia, mas não parecia provável que a tecnologia neste mundo seguisse o mesmo caminho que a da Terra. Usando materiais descobertos em calabouços, eles podiam ter acesso a tecnologias que eram um salto adiante.

Além disso, a solução para fornecer energia constante de que Trill falava não era o minério de maldição que usamos no Pequeno Susumu Mark V?

— Eu estava estudando várias coisas depois de ler a publicação da Casa de Maxwell, A Conversão e Acumulação de Energias Mágicas, mas não consigo achar o material certo — disse Trill, soando frustrada.

A casa de Genia tinha lançado um livro assim?

Hum… Se o império estava estudando suas próprias maneiras de acumular poder mágico, eles podem descobrir o uso do minério de maldição num futuro não muito distante. Outros países também.

Se isso acontecesse, nossa vantagem desapareceria.

Tinha o Fuuga para considerar também, então eu queria estimular uma revolução tecnológica.

— Parece que tem algo em mente, Sr. Souma — Maria interrompeu de repente.

Enquanto eu estava perdido nos meus pensamentos, parecia que ela estava fitando o meu rosto.

Droga… quase fora enganado por seu sorriso suave e aura calma, mas Maria não era alguém para quem eu podia dar brechas.

— Você tem talvez alguma pista que possa ajudar na pesquisa de Trill? —perguntou Maria. — Creio que o reino é o lar da estimada Casa de Maxwell que ela respeita tanto.

É- É isso! Adoraria conhecê-los! — Trill interrompeu animada.

Eu queria evitar o assunto, mas… mentiras ruins não iam funcionar contra Maria.

— Acho que, com o conhecimento de Genia, poderíamos conseguir de algum jeito — disse relutante.

— Isso é maravilhoso. O que acha? Porque não fazermos da pesquisa de Trill um projeto de pesquisa conjunto para ambos os nossos países?

— Pesquisa conjunta… você diz?

— Penso que a tecnologia que Trill está tentando desenvolver vá ter vários usos. A ponto de talvez revolucionar a tecnologia deste mundo.

Isso era um fato. Uma máquina sem graça era uma coisa, mas um motor era outra. Havia infinitos usos para ele.

Se algo pudesse girar sozinho, havia uma centena de coisas que poderiam ser feitas.

— Eu não quero revelar muitas das minhas cartas, sabe…

— Oh? Não está interessado nas técnicas que Trill tem, Sr. Souma? —perguntou Maria.

— Eu as quero, é claro…

— Nesse caso, não é perfeito? Há uma tecnologia que ambos queremos. Deixe nossos países estudarem-na juntos, e compartilharemos os resultados.

A proposta de Maria soava altamente tentadora.

Era difícil que um país pesquisasse tudo porque havia pessoal, fundos e tempo limitados. Eu tinha sentido isso na pele enquanto estava reformando o sistema médico.

Se necessário, eu às vezes teria que trazer pessoal, financiamento e tempo de outros países. Se era o Império sob o comando de Maria poderia confiar nele também.

— Nesse caso, vou fazer você arcar com metade dos custos de pesquisa também, sabe? — perguntei.

— É claro. Vai aceitar nossa oferta, então?

— Não, não posso te dar uma resposta imediata. Vou discutir com Hakuya, e daremos um retorno com nossas condições depois.

— Isso faz sentido. Parece que meu ânimo fez eu me precipitar.

Maria recuou, um pouco desapontada. Ela parecia um cachorro para que tinham pedido que esperasse logo depois de mostrar um agrado.

Com um sorriso irônico, eu disse a ela:

— Mas eu, pessoalmente, fico entusiasmado com essa ideia. Acho que vou fazer Madame Trill se encontrar com Genia.

Minhas palavras fizeram os olhos de Trill brilharem.

— Eu posso conhecer as pessoas da Casa de Maxwell! Ora, isso me deixa muito feliz!

Maria riu.

— Que bom, Trill. Mas você está aí como embaixadora, então não pode negligenciar esse trabalho para focar nos seus estudos, ok? Se fizer isso, Jeanne pode ir aí te trazer de volta para casa.

— Urkh! Não ia querer isso. Vou fazer meu trabalho direito.

A Princesa Trill fez uma continência firme para a irmã.

Dessa forma, outro indivíduo estranho e talentoso veio ao reino.

Por agora, ao menos, eu a deixaria aos cuidados do guarda de Genia, Ludwin.

Tomara que ele não coma o pão que o diabo amassou de novo…

— Oh, a propósito, Sr. Souma — acrescentou Maria — Ouvi falar que teve gêmeos.

Agora que as coisas já estavam decididas, Maria disse como se tivesse acabado de lembrar, e levantou a barra da saia numa reverência graciosa.

— Como imperatriz do Império Gran Caos, rezarei para que seu filho e filha cresçam saudáveis, e pelo desenvolvimento continuado do reino.

— Obrigado. Vamos ambos dar o nosso melhor, pelos nossos lares e nossas famílias.

— Sim.

E assim, os laços entre o reino e o Império aprofundaram-se mais uma vez.

 


 

Tradução: Enzo

Revisão: Merovíngio

 

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