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Calmaria Divina – Vol. 01 – Cap. 00 – Prólogo

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“Por que você assume que deuses e demônios são opostos?”

Na primeira vez em que uma fenda rasgou os céus, revelando a infinidade de cores que compõem a trama do nosso universo, surgiram pontes que conectam cada um dos vinte e cinco planos da existência. Residentes de um desses distintos universos tropeçavam nessas passagens e caíam em realidades completamente desconhecidas.

Esses outros mundos recém descobertos foram chamados de Planos da Existência.

Os incidentes começaram inofensivos e imperceptíveis, até se intensificarem ao longo dos séculos.

Conforme os incidentes aumentavam em tamanho e número, os deuses encontraram meios de controlar a situação.

Por isso, os divinos passaram a conviver diariamente com os mortais. Muitos apoiavam e veneravam esses seres, mas havia aqueles que eram contra sua presença.

As relações entre os originários de cada Reino Planar foram se fortalecendo, mas não era o suficiente para impedir completamente os conflitos que se formavam. O caos começava a surgir conforme os danos dos incidentes eram maiores que os benefícios.

Mais de um milênio se passou desde que os Deuses começaram a agir ativamente através dos planos, e dois irmãos mortais conversavam em uma clareira.

— Você acredita que esses deuses vão embora em algum momento? perguntou o mais novo.

— Tenho estudado essas criaturas há muito tempo e posso dizer que é possível expulsá-las. Afinal, elas não serão mais necessárias após selarmos as pontes planares — Ao perceber a expressão de interesse no rosto do mais jovem, o irmão mais velho afirmou: — Isso é possível se considerarmos suas origens.

Grupos se formavam, líderes saíam às ruas em busca de seguidores. A fé nos deuses diminuía lentamente. Profecias eram escritas e ferramentas eram forjadas.

Os Celestiais foram traídos. Eles não perceberam que a proposta que acabaria com os conflitos era uma faca de dois gumes.

Os Divinos não questionaram, pois quem sugeriu o plano era um deles, a Deusa da Natureza e do Mar, Meryl.

Hoje, tanto tempo se passou que poucos sabem contra o que os Deuses e Antigos lutavam. A última profecia escrita, há muito esquecida, dizia: “Um dia, um andarilho retornará e anunciará a cada Reino o retorno dos Deuses”.

 

 

Aldeia de Alaéria.

— O continente de Celestíria é dividido ao meio por uma cadeia de montanhas. Do lado ocidental há o reino de Vantrol, nele vivem em sua maioria Humanos e Halflings; ao sul do continente fica o reino de Aurinthal, onde vivem os anões, mas eles não são muito receptivos com forasteiros; ao norte oriental, fica o reino de Aldoria, onde vivem os elfos e a maioria dos Ferais, ainda que existam aqueles de nós preferem viver em aldeias isoladas ao sudeste do continente, no Reino das Bestas, uma grande floresta amada pelos caçadores e aventureiros por ser o lar de poderosas criaturas. Por isso, pense bem sobre para onde vai.

O jovem Arthur, notável pela peculiaridade de seu corpo, dividido entre o lado direito pálido e o esquerdo escuro, cabelos bipartidos em branco e preto, e um chifre que brotava de seu lado esquerdo — formando uma espécie de meia coroa —, tinha uma expressão concentrada enquanto absorvia as palavras de Gazoh, seu pai adotivo. Além de sua aparência única, o garoto possuía um par de asas com penas igualmente divididas entre o puro branco e o negro profundo.

Nesse momento, o Aviano com um rosto que lembrava uma águia, as asas exibindo uma variedade de tons, desde o marrom até o vermelho e uma longa cauda branca, estendeu a mão, segurando um colar com um pequeno pingente em forma de espiral verde.

— Este é um presente de sua mãe — disse Gazoh, — com ele, você poderá andar livremente através de nossas aldeias e além.

Arthur, o garoto de não mais que 13 anos, não pôde conter sua surpresa. Enquanto colocava o colar em seu pescoço, suas asas e chifre começaram a se retrair, sua pele e cabelos assumiram uma única tonalidade, o tom de pele tornou-se bronzeado e o cabelo, castanho. Sentia uma estranha sensação de limitação, mas não se importava. Agora poderia acompanhar seu pai e seu irmão — um aviano que nascera sem asas — em suas visitas às outras aldeias e, quem sabe, um dia explorar o mundo fora do Reino das Bestas.

 

Vila do Clã do Gelo.

Espalhadas pela vasta cadeia de montanhas que divide o continente, encontram-se as vilas dos Golias, cada uma delas sob o controle de um Clã.

No Clã do Gelo, o Sol ainda não terminara de nascer, mas um homem já havia acabado de direcionar suas preces a Solarith, o Brilho do Amanhecer, e já tinha seu tridente e escudo em mãos para praticar.

Era sempre o primeiro a chegar no campo, onde se alongava enquanto os outros não chegavam. Sempre ajudava os outros com conselhos e os tratava quando se feriam.

Ao fim de cada treino polia seus equipamentos e retornava para casa.

Junto com sua família, fazia orações antes de cada refeição. Logo após, voltava para os campos de treinamento e lá ficava até o anoitecer.

Em casa novamente, repetia a oração ao jantar e por fim ia dormir, mas não antes de mais uma prece.

Embora muitos questionassem suas escolhas, ele acreditava que algo maior o aguardava além dos limites do Clã, por isso se preparava para sua partida.

Sua família se encontrava dividida entre o orgulho e a incerteza. Sua mãe, sentada à mesa, perguntava com preocupação:

Thorian, você tem certeza de que isso é o melhor para você? — Sua resposta permanecia inalterada

Eu sinto que Solarith reservou algo para mim e eu preciso descobrir o que é.

Thorian media pouco menos de dois metros e meio, com pele cinza-azulada, barba castanha bem cuidada, um cristal azul-escuro cravado em sua testa careca e olhos completamente brancos.

 

 

Sua família seguia uma linhagem ancestral de adoradores de Solarith, desde a infância Thorian recebeu os ensinamentos sagrados e foi guiado no caminho divino, tornando-se assim um paladino.

Sempre se mostrou um homem justo, tanto em suas batalhas como na vida cotidiana, buscando espalhar a luz divina para todos ao seu redor, essa dedicação era um dos fatores que o motivava a explorar o mundo, pois acreditava que nenhuma sombra seria forte o suficiente para apagar a chama de sua fé.

Sua família via tudo isso nele, embora não concordassem inteiramente com sua decisão, não o impediram.

Que a luz sagrada o guie — declarou sua família em uníssono, antes que Thorian repetisse o gesto e, em seguida, em voz alta e decidida, firmasse seu juramento solene:

Pela minha família, clã e Deus Guia, juro que enquanto viver, levarei a luz até mesmo aos recantos mais sombrios!

E então começou a se mover até uma grande cidade próxima ao topo de uma região da Grande Muralha — outro nome pela qual a grande cadeia de montanhas era conhecida —, parte da rota comercial entre os reinos de Vantrol e Aldoria: Vale Cinza.

 


 

Autor: HaltTW

Revisão: Bravo

 

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