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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 22 – Cap. 04 – A Criança mais Travessa

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Poucos dias depois, fui para o Reino de Asura. Quando perguntei a Orsted sobre a situação no Reino do Rei Dragão, ele prontamente revelou o nome do culpado, sem hesitar.

Tudo estava de acordo com minhas previsões, embora eu simplesmente me lembrasse de um relatório que Orsted havia recebido sobre o assunto. Então, decidi ir sozinho para o Reino de Asura e resolver tudo de uma vez por todas com o mentor por trás de tudo isso.

Para chegar até eles, recorri a Luke, que era uma espécie de primeiro-ministro do Reino. Após explicar a situação, me forneceu a localização e as instruções para chegar lá. Às vezes, ter boas conexões é útil.

Okay, bem, o que acontece é que Luke é meu primo, então é mais como se eu tivesse um irmão mais velho a quem pudesse pedir ajuda. Quando mencionei isso a Luke, ele ficou um pouco corado.

“Ah, pare com isso. Me desculpe, mas você sabe que eu gosto de mulheres…”

O mentor estava em um dos lugares mais fortemente protegidos do Reino de Asura, mas com o salvo-conduto que Luke conseguiu para mim, pude atravessar regiões proibidas até mesmo para os dignitários estrangeiros do mais alto escalão. A segurança era tão rígida quanto ouvira falar. Passei por uma série de pontos de verificação ao longo do caminho, mas, eventualmente, cheguei ao covil do mentor.

Lá estava eu, bem no coração do Palácio de Asura… diante das câmaras da rainha.

Em frente à porta ricamente adornada, havia um homem gigantesco. Ele usava uma armadura dourada brilhante, e seu machado de batalha estava fincado no chão diante dele. O porteiro. Tudo nele gritava “porteiro”. Ele devia ter o dobro do meu tamanho, e… ele não era gordo. Dava para perceber pela maneira como se postava que era revestido por uma grossa camada de músculos. Do tipo bom, também. Ele era musculoso por dentro e não apenas por fora. Seu abdômen era definido. Pessoas com músculos abdominais definidos até mesmo ficam em pé de forma diferente. Eris era igual. Até mesmo a maneira como se posicionam parece mais sólida.

Aliás, das minhas esposas, a que tem o abdômen mais fraco é a Roxy.

É por isso que ela está sempre caindo. Mas isso não é importante agora.

— Bem, olá! — Eu disse. — Espero que não se importe se eu simplesmente entrar.

Passei pelo grandalhão e seguia em direção às câmaras reais, quando…

Trom, trom.

Ele veio pisando forte para bloquear meu caminho.

— Hã? — Tentei ir para a direita, e ele foi para a direita. Tentei ir para a esquerda, e foi para a esquerda. Me bloqueou completamente. — Então, hum, você poderia me deixar entrar? — Tentei.

— Não. Ninguém me falou sobre você. — Ele respondeu. Tentei mostrar o salvo-conduto, que era apenas o brasão de armas de Asura, mas ele não estava aceitando.

Quer dizer, tudo bem, eu não marquei um horário, mas qual foi.

A propósito, não havia porteiro quando passei por aqui não faz muito tempo. Ele é novo? Só pode ser. Nunca o vi antes, e ele não sabe quem eu sou. Com certeza é um novato. Sério, Ariel e Luke, o que vocês estão ensinando aos seus novatos?

— Olhe aqui, novato — Tentei novamente. — É melhor você sair do caminho ou vai me deixar irritado. Eu tenho permissão para estar aqui, tudo bem?

— Não. É noite. Agora, apenas o Lorde Luke, a Lady Sylphie ou o marido da Lady Sylphie podem entrar.

O que é isso? Você o ensinou a se comportar! Muito impressionante, muito impressionante. Então o problema é apenas que ele não sabe como eu sou.

— É isso mesmo? — Eu disse animadamente. — Deveria ter me dito, desculpe. Sou o marido da Sylphie. Meu nome é Rudeus Greyrat. Pode me deixar passar…

— Não. Sem provas.

Provas? Ah, qual foi, como eu deveria provar isso?!

Uma foto minha e da Sylphie se beijando resolveria?

Mas, azar o meu, não há fotos neste mundo! Talvez se eu trouxesse a Lucie, a manifestação física do nosso amor… isso contaria? Mas era irrelevante, já que ela estava em casa. Tudo o que eu tinha no bolso era o ídolo sagrado.

— Hum, provas. — Eu disse. Ao hesitar, o grandalhão apontou seu machado de batalha para mim.

— Você parece suspeito.

— Uau, espere aí — gaguejei. — Me desculpe, tá? Então, segura por cinco segundos e vamos ficar calmos e conversar como cavalheiros! — Inferno, a lâmina daquele machado era do tamanho da minha cabeça. Parecia pesar cinquenta quilos. Ele poderia simplesmente deixá-la cair, permitindo que a gravidade fizesse o trabalho e me esmagasse.

Bem, agora eu estava usando a Armadura Mágica. Tinha quase certeza de que não morreria instantaneamente. Ainda assim, não queria entrar em uma briga, se pudesse evitar.

Eu sou o chefe de Ariel, e você é o subordinado dela. Não há motivo para nós brigarmos. Paz e amor, cara.

— Eu sou o porteiro. Você não passa.

— Hmm…

O que eu deveria fazer agora? A total inflexibilidade desse cara estava se tornando um problema. Se eu voltasse ao escritório de Luke e o arrastasse até aqui, resolveria isso num piscar de olhos, mas ele parecia estar realmente ocupado… De forma casual, tentei evadir o Sr. Porteiro, primeiro para a esquerda, depois para a direita, mas ele me interceptou facilmente. Podia sentir sua determinação em bloquear minha passagem em absolutamente qualquer circunstância.

— Posso fazer qualquer outra coisa, contanto que não passe por você?

O Sr. Porteiro parecia um pouco confuso, mas grunhiu em concordância e disse:

 — Sim.

Desculpe, cara, mas eu realmente vou entrar.

— Ei, Aaariel! Venha brincaaar! — gritei. Talvez meu corpo não pudesse passar por ali, mas minha voz? Eu poderia fazê-la passar por ele, sem problemas. Já viu tanta engenhosidade assim? Achou que Odisseu era o espertinho? Por favor. É Rudeus que você precisa ficar de olho!

O Sr. Porteiro ficou surpreso, parecendo confuso demais para agir. Pouco depois, a porta se abriu. Saiu uma empregada que eu conhecia bem. A dama de companhia de Ariel. Como era o nome dela mesmo? Lembro de ouvir que ela começou ao mesmo tempo que a Lilia.

— Lorde Rudeus, o que está acontecendo? — perguntou.

— Eu vim pedir uma audiência com Sua Majestade, a Rainha Ariel, mas este cavalheiro aqui está relutante em me deixar entrar.

Os olhos da empregada se estreitaram de raiva.

— M-minhas desculpas! — gaguejou, então se virou para o porteiro. — Dohga! Este cavalheiro tem permissão! Deixe-o passar imediatamente! — Mas o porteiro balançou a cabeça.

— Não. Ninguém me disse. Ele tem armas. É noite. Não posso fazer isso.

— Dohga, este é o Sir Rudeus! — Ela tentou novamente. — Vamos, sei que disseram que você pode deixá-lo passar a qualquer momento.

— Não. Sem provas.

— Eu estou te dizendo… — afirmou, exasperada, mas acho que ele ainda não confiava na empregada também.

Esse novo cara – Dohga era o nome dele, aparentemente – era um osso duro de roer. Um rapaz como esse provavelmente era bem adequado para guardar o quarto da rainha. Ele não parecia do tipo que se deixaria corromper por ouro ou algo assim.

— Dohga. — Veio uma voz refinada de trás da porta. O tipo de voz que encantava todos que a ouviam. Dohga deu um pulo visível. — Esse cavalheiro é o marido da Sylphie. Você deve deixá-lo passar a qualquer momento.

Ariel parecia um pouco irritada, o que fez o Sr. Porteiro se contorcer novamente. Ele se afastou apressadamente da porta e se ajoelhou, grunhindo em deferência.

Posso passar agora? Vou entrar, okay? Estamos bem? Pisando com cuidado nas pontas dos pés, nunca tirando os olhos do machado de batalha, entrei sorrateiramente nos aposentos de Ariel.

Ariel parecia ter acabado de sair do banho. Ela havia trocado para algo casual, e uma dama de companhia estava penteando seus cabelos.

— Bem-vindo, Lorde Rudeus. Devo dizer que é um tanto indelicado se impor a uma mulher solteira no meio da noite assim, não acha?

— Hum, verdade. Desculpe por isso. Era meio urgente.

— Bem, isso é uma questão entre você e eu, afinal de contas… Não se preocupe, certamente manterei em segredo o que acontece entre nós, longe dos olhos de Sylphie.

— Ei. Não há necessidade de segredos, nada vai acontecer. Além disso, sou eu quem relata tudo para a Sylphie.

— É mesmo? Que decepção — disse Ariel. Ela voltava a fazer essa piada de vez em quando. Era para verificar se eu trairia a confiança de Sylphie.

E o que você faria se eu realmente cedesse à tentação, hein? Falando em tentação… talvez por ter acabado de sair do banho, ela cheirava muito bem. Nunca tinha sentido isso em relação à Ariel antes. Ela sempre se apresentava de forma impecável, mas algo sobre ela agora parecia mais humana – deve ter sido isso.

Agh, nem pense nisso! Droga, Deusa, me dê forças!

Inspirei profundamente o ídolo na tentativa de clarear minha mente. Aparentemente, meu voto de castidade me deixou com uma energia reprimida.

— Vejo que você tem bom gosto, Lorde Rudeus — comentou Ariel.

— Isso não é gosto, é minha fé. Agora, será que podemos tirar os outros daqui? Hum, não que eu vá fazer algo. Só não quero que as pessoas vejam.

Ariel não respondeu. Apenas bateu palmas e disse: “Pode ir”, dispensando a empregada.

Parecia um pouco como se eu tivesse empurrado a escada de segurança para longe. Mas agora, pelo menos, poderíamos conversar.

— Ok. Então, Ariel…

— Sim.

— A pessoa por trás de tudo isso… é você. Certo?

— Sim, é isso mesmo… Embora precise ser mais específico. Você pode estar falando de muitas coisas.

Hum… Bem, tudo bem. Acho que Ariel é a rainha.

Trabalhar pelo bem do seu país provavelmente significa se envolver em coisas complicadas.

— Você tem alguma prova de que sou culpada do que quer que você esteja alegando? — perguntou Ariel.

— Não adianta fingir que não sabe! Eu já tenho todas as provas que preciso! — gritei, entrando no personagem.

Imediatamente, a porta bateu com força. Eu me virei e vi Dohga parado ali, com o machado de batalha em mãos. Ele entrou e veio diretamente em minha direção, erguendo o machado…

Whoa, whoa, whoa, só um segundo…

— Fique em seu lugar, por favor, Dohga — disse Ariel.

— Mas, Vossa Majestade, ele te ameaçou.

— Ninguém está me ameaçando. Foi só uma piada. — Dohga deu um grunhido relutante.

— Não entre novamente, a menos que você me ouça gritar. — Ariel concluiu. Dohga grunhiu novamente e voltou para a entrada. Ele parecia abatido depois de ser repreendido.

Foi meio fofo.

— Peço desculpas — disse Ariel quando ele saiu. — Ele é muito rígido…

— Eu me empolguei um pouco com a brincadeira.

— Pessoalmente, gosto quando você faz piadas. O palácio não mantém um tolo.

Haha. Tudo bem, na próxima vez, vou treinar um palhaço e trazê-lo. Alguém que seja bom para proteção, não apenas para risadas. Um cara que vai arrastar seus inimigos para os esgotos e se livrar deles.

— Sobre o que você estava falando? — perguntou Ariel, sentando-se ereta.

Parecia que ela estava levando isso a sério.

— Os três países que estão invadindo o estado vassalo do Reino do Rei Dragão.

— Certo. O que tem eles? — Ela falou como se fosse tão óbvio que ela nem precisasse dizer claramente.

Mas então, era óbvio.

Eu tinha verificado com Orsted e confirmado que os três países que estavam invadindo o estado vassalo do Reino do Rei Dragão eram apoiados nos bastidores pelo próprio Reino de Asura. Ou melhor, Orsted tinha recebido um relatório nesse sentido. Basicamente dizia: Ei, eu quero usar esses três países para invadir esse estado vassalo do Reino do Rei Dragão. Tudo bem? Eu mesmo li o relatório.

Mas o Reino de Asura não estava interessado em conquistar o estado vassalo ou expandir seu território. Não era sobre isso. O objetivo era desgastar o Reino do Rei Dragão – pura e simplesmente assédio. Além disso, o motivo pelo qual os preços ao consumidor estavam subindo no Reino do Rei Dragão era graças ao Reino de Asura que aumentava levemente os impostos sobre importações e bens comercializados.

— Você se importaria de parar com a invasão? — perguntei. — Isso me ajudaria nas negociações com o Reino do Rei Dragão.

— Claro! — respondeu Ariel.

Ela pegou uma caneta e rabiscou algo em um pedaço de papel à sua frente. Em seguida, pegou o que deveria ser o selo real, carimbou e dobrou o papel, selou-o e finalmente me entregou.

— Entregue isso ao Luke, e a invasão deve acabar alguns dias depois. Use-o sempre que quiser.

— Hahah! — Comemorei, aceitando com gratidão.

Agora eu tinha uma carta na manga. A amizade é importante, mas o poder também é.

— Ah, certo. A outra coisa é que eu queria saber se você me deixaria usar a embaixada Asurana no Reino do Rei Dragão? Previsivelmente, parece que as pessoas não respeitam “O Braço Direito do Deus Dragão”.

— Permissão concedida. Vou providenciar isso — disse Ariel.

Ela bateu palmas novamente e a dama de companhia que estava lá antes entrou. Ariel sussurrou algo, e a outra mulher assentiu antes de sair novamente.

— A embaixada tem tudo à disposição, mas por favor avise o embaixador se precisar de algo.

— Obrigado por tudo isso.

— De nada — respondeu Ariel, olhando para mim com olhos de corça. Era sedutor. Eu não gostei disso.

— É por isso que você me elevou a essa posição? — Ela perguntou.

— Não… quero dizer, isso é o que Sir Orsted queria, mas eu só queria fazer a Sylphie feliz.

— Heh heh. Então eu devo agradecer à Sylphie, né?

— Hahaha. Ambos vamos ficar em dívida com a Sylphie para sempre, não é mesmo?

Rimos mais um pouco juntos. Heh heh, hahaha. Era divertido conversar com Ariel como se estivéssemos planejando algo maquiavélico. Quer dizer, nós basicamente podíamos fazer qualquer coisa.

— Sinto muito pelo Dohga antes. — Ela continuou.

— Oh, o Sr. Porteiro?

— Ele é um porteiro muito confiável, mas um pouco inflexível.

Eu tinha que me perguntar o que “confiável” significava aqui para um porteiro, mas um grandalhão como aquele parecia ser a escolha ideal para ficar de guarda em uma entrada. Ou ser um apanhador de beisebol. Com um corpo daqueles ele certamente seria um ótimo rebatedor também.

— Perdoe-o desta vez. Vou garantir que ele seja mais cuidadoso no futuro.

— De jeito nenhum, não posso culpar um jovem que é dedicado ao trabalho. Por favor, não o demita ou algo assim por causa disso.

— Nunca faria isso.

Eu não sabia se ele era jovem dentro daquela armadura, mas não havia motivo para entrar em detalhes.

— Certo, então. Não seria apropriado ficar no quarto de uma mulher solteira, então vou embora.

— Meu deus, você não poderia simplesmente aparecer sem aviso no quarto de uma dama, fazer exigências e depois sair assim?

— Sou um perfeito cavalheiro — afirmei indignado. — Sylphie não precisa se envergonhar de seu marido.

— Pelo menos você poderia me contar a situação — pontuou Ariel.

— Ah, é verdade.

Tinha enviado a ela as notícias do que aconteceu em Millis por meio de uma pedra de comunicação, mas algumas coisas eram melhores ditas pessoalmente, como eu mesmo escrevi. De qualquer forma, expliquei o que aconteceu em Millis e o que eu tinha feito desde então.

— Em conclusão, parece que vou ter que lutar contra Geese. Estou reunindo minhas forças agora.

— Entendo… — disse Ariel. — Também estou reunindo minhas próprias forças. Quando chegar a hora, ficarei feliz em emprestá-las a você.

— Para que você está reunindo forças? — indaguei.

— Eu poderia ser assassinada a qualquer momento, então estou construindo um exército privado. Tenho certeza de que, para Sir Orsted, quanto mais fortes forem seus aliados, melhor, não?

— Não tenho argumentos contra isso — concordei.

Huh… Ela é realmente boa nisso.

Desde que Ariel se tornou rainha, se adaptou às suas responsabilidades como peixe na água. Ela não precisava que ninguém lhe dissesse o que fazer, sabia o que queria e estava sempre seguindo em frente. E seus passos eram muito mais longos que os meus.

Tornar-se rainha não era o objetivo final. Havia muito em sua lista de desejos. Ela não ficaria sem objetivos até o dia em que morresse, nem deixaria de lutar para alcançá-los.

Cara, poderia aprender algo com isso. Será que eu poderia pegar emprestado suas botas por um tempo e tentar dar alguns passos nelas?

Mas não iria perguntar. Se eu fizesse isso, ela as entregaria com muita empolgação – aposto que ela até incluiria as meias de brinde.

— Sabe, você é um pouco assustadora, Ariel.

— Ah, querido. É mesmo?

— Sinto que se você me visse em meu momento mais fraco, trairia a gente.

— Você me fere. Depois de tudo o que te devo, essa ideia…! Se você está preocupado, no entanto, eu poderia te contar uma de minhas fraquezas?

— O quê? Não! Não precisa ir tão longe. Fui apenas lembrado de que você está sempre em busca de uma vantagem, só isso.

— Também sou uma mulher que age com base nos sentimentos — rebateu Ariel, fazendo um biquinho. Então, como se algo tivesse lhe ocorrido, ela pressionou um dedo nos lábios. — Mas é uma ideia divertida.

— O quê?

— Bem, se eu tivesse um filho, poderia chamá-lo de Rudeus Júnior. Não seria divertido?

— O quê?! Por favor, não faça isso.

Nada poderia ser mais suspeito! Imaginei Sylphie olhando para mim, com seus olhos frios, e Luke com descrença chocada no rosto. Se ela dissesse isso abertamente, eu poderia desprezar como uma piada, mas dar silenciosamente o nome de uma criança em minha homenagem era basicamente declarar que o filho era meu. Não importava o quanto eu insistisse que Ariel e eu não tínhamos nada, todos tirariam suas próprias conclusões erradas.

Isso não tem graça nenhuma. É uma traição épica! Não de Orsted, mas de mim e Sylphie.

— Hmm, na verdade, eu estava falando sobre trair Sir Orsted. Não só eu.

— Sabe, eu estava presente quando a Deusa da Água, Reida, foi morta. Você realmente acha que poderia te trair depois dessa experiência aterrorizante?

A morte da Deusa da Água Reida… Ela estava certa. Isso tinha sido um evento terrível.

Reida era esmagadoramente poderosa. Ficamos encurralados, até mesmo Perugius. Então Orsted apareceu na sala de baile, repeliu todos os seus ataques e a nocauteou com um único golpe de mão com a faca.

Ele não fez isso porque favorecia sua força ou porque era a técnica que ele dominava melhor. Ele a matou dessa maneira porque era conveniente. Se eu fosse uma figura importante, a ideia de sofrer um destino semelhante me gelava o sangue. A morte poderia chegar a qualquer momento, não importa quem tentasse te proteger… Como em um filme de terror, não é?

— Não acredito sinceramente que você nos trairia — tranquilizei Ariel. — Mas, apenas por precaução, fique de olho em qualquer pessoa que apareça dizendo que recebeu conselhos em um sonho.

— Vou fazer isso. Mas você não precisa se preocupar comigo. Realmente aprendi o quanto esse trono vale a pena.

— Isso significa que eu devo me preocupar se parecer que você pode perdê-lo?

— Estou oferecendo meus favores ao servo do grande e assustador Deus Dragão exatamente por essa razão.

— Aceitaremos de bom grado o que você tiver a oferecer.

Ela riu.

— Estou contando com você para me ajudar a me agarrar pateticamente ao trono, se chegar a esse ponto. Certo?

Acho que posso dar uma mão.

Embora, de acordo com Orsted, o regime de Ariel duraria até que ela mesma morresse.

— Falando em se agarrar — apontei — ,outro dia, a filha da Roxy, a Lara, estava… — Conversamos sobre coisas cotidianas por mais uma hora ou algo assim, e então, com isso, saí do quarto da rainha.

Quando saí, dei de cara com vários cavaleiros.

Dohga e mais três outros. Eles estavam ali parados como se estivessem me esperando. Confesso que isso me assustou um pouco. Pensei que eles me arrastariam para as entranhas do castelo e me interrogariam. Todos pareciam seriamente intimidadores.

O mais assustador era alguém que eu conhecia, o que mudou tudo.

— Faz tempo, Ghislaine. — Eu disse.

— Sim. — Ela respondeu, acenando solenemente como sempre fazia, mas pude perceber pelo jeito que sua cauda balançava que estava contente em me ver novamente. Ela usava uma armadura dourada, mas, ao contrário da placa completa dos dois homens ao lado dela, sua armadura leve só cobria os pontos mais cruciais – o mínimo necessário. Sejamos sinceros, parecia impressionante. O dourado da armadura combinava perfeitamente com sua pele marrom, a fazia parecer durona pra caramba. Ela emanava uma aura de personagem de nível S.

Aposto que o Paul teria caído na risada com o quanto ela parece boba.

— Desculpe, acho que te fiz esperar. Vou me retirar… — Tentei sair, mas ela segurou meu cabelo.

— Espere.

— Há algo que você precisa?

— Eris está bem?

— Você consegue imaginá-la de outra forma?

— Não.

— Sim, ela está ótima. Como sempre.

— Que bom…

Tínhamos muito para colocar em dia, mas Ghislaine estava de serviço naquele momento. Quer dizer, ela estava ali fora das câmaras da rainha no meio da noite, toda equipada com aquela armadura brilhante. Deve ser alguma emergência. Melhor não atrapalhar.

— Embora eu adorasse colocar o papo em dia, preciso ir. Tenho certeza de que você também está ocupada…

— Não, hm, espere. — Ela murmurou.

O que é isso? Poderia falar um pouco mais claro?

— Luke me disse que você estaria aqui.

— Ah, você tem algum assunto comigo? O que é?

Você sabe que farei qualquer coisa que me pedir, Ghislaine. Bem, dependendo. Estou um pouco ocupado com outras coisas agora. Talvez tenha que esperar até mais tarde se for algo muito complicado.

— Não é nada sério. Ele disse que queria te ver.

Quem disse isso? Eu me perguntei. Então olhei para os dois homens ao lado dela. Ambos pareciam homens de meia-idade completamente comuns. Um deles era baixo, com cabelos loiros salpicados de branco. O outro, de forma incomum, tinha cabelos pretos. Os colocaria em uma idade próxima dos quarenta anos, talvez chegando aos cinquenta, e ambos se comportavam com o ar digno de guerreiros experientes. O de cabelos loiros deu um passo à frente.

— É uma honra conhecê-lo. Meu nome é Sylvester Ifrit. Defendo este castelo como capitão da guarda do palácio e coloco-me à sua disposição.

— Sou Rudeus Greyrat, um amigo da rainha, graças à benevolência de Sua Majestade. É um prazer conhecê-lo.

Se ele era o capitão da guarda do palácio, isso o tornava o cavaleiro mais importante de todo o Reino de Asura. Isso explicava a armadura dourada brilhante. Mas espera, todo mundo aqui estava vestindo a mesma armadura.

— Você é muito modesto; ouvi dizer que é um velho amigo de Sua Majestade — disse Sylvester.

— Na verdade, minha esposa que é a velha amiga.

— Lady Sylphiette, eu acredito. Tão etérea e delicada beleza, combinada com uma força inabalável.

— Exatamente. Você a conhece bem.

Descrição A+, sem notas.

— De qualquer forma, é tudo graças à minha esposa que posso me impor a Sua Majestade.

— Você pode dizer isso, mas me disseram que você teve um papel de destaque na luta pelo trono…

Luta pelo trono. Isso fazia parecer que tinha sido uma luta justa entre todos os diferentes castelos e que nós tínhamos saído vitoriosos.

— Bem, sabe… Quero dizer, eu estava apenas seguindo as ordens do meu chefe.

Quem realmente deveria receber o crédito é o meu mestre, o Deus Dragão Orsted.

— Vejo que você também é leal.

Chamar isso de lealdade? Duvido, para ser honesto.

De qualquer forma, espero que, por meio de pequenas coisas como essa, eu possa fortalecer a autoridade de Orsted.

— Se não fosse por você, eu nunca teria sido promovido a este posto — continuou Sylvester.

— É mesmo?

— No fim das contas, sou filho de nobres pobres de classe média e nada mais, mas graças a esta posição, consegui colocar até mesmo meu filho mais novo na escola.

— Fico feliz em ouvir isso. — Eu disse. Quando ouvi “capitão da guarda real”, pensei que ele era de uma das famílias nobres mais importantes de Asura. Mas parece que não. Ariel acredita na meritocracia e tem elevado talentos. Esse cara deve ser um dos contratados por ela.

…Espere um segundo, se esse cara é o capitão da guarda real, ele deve ser incrível! Ele pode ser um amigo útil para fazer.

— Uh, sinta-se à vontade para me chamar se precisar de conselhos com seu filho — retomei.

— Desculpe? — Ele respondeu confuso, mas depois animou-se. — Ah! Hahaha. Você é tão engraçado quanto disseram. Não se preocupe. Meu filho é talentoso, assim como o pai.

— Pessoas talentosas ainda têm suas próprias preocupações e enfrentam problemas.

— Verdade. — Ele concordou. — Vou manter isso em mente.

Com isso, virei-me para o próximo homem que estava vestido em sua própria armadura dourada. Sylvester, Ghislaine, Dohga e esse cara – com todos eles brilhando, a sala parecia estranhamente brilhante.

— E, uh, você é? — perguntei.

O homem de cabelos pretos encontrou meus olhos e soltou uma risada. Ri também. Eu sou um firme crente de que um sorriso é o primeiro passo para uma boa comunicação. Sorrisos salvarão o mundo.

— É uma honra conhecê-lo. Meu nome é Rudeus Greyrat.

O homem me encarou intensamente. Seus olhos percorreram todo o caminho, da parte superior da minha cabeça até a ponta dos meus pés. Ele até andou ao redor para me observar por trás. Ele tinha a aura de alguém avaliando um animal raro, isso me pareceu estranhamente familiar. Isso mesmo, ele me lembrou Kishirika. O que significava que esse cara provavelmente tinha um olho demoníaco.

— O que foi? — indaguei.

— Nada, nada. É muito raro que eu tenha a oportunidade de ver um servo do estimado Deus Dragão, isso é tudo.

— É verdade que não somos tantos assim.

— Imagino que sim. — Ele falava como alguém que já tinha encontrado Orsted antes.

— Uh, aliás, seu nome era…?

— Oh, que rude da minha parte — disse. — Eu sou… — Então ele congelou e fechou a boca. De repente, soltou outra risada rápida e me lançou um olhar de soslaio. — Receio que ainda não seja a hora certa para você saber meu nome — retomou abruptamente. Diferente de antes, sua voz agora soava desnecessariamente dramática. — Você saberá quando for o momento certo. Meu nome, minha identidade…

Com isso, o homem de cabelos pretos e meia-idade se virou e partiu com passos teatrais amadores.

— Qual o problema dele? — perguntei a Ghislaine.

Ela parecia preocupada.

— Foi ideia dele. Ele queria te conhecer.

Sério, qual é o problema dele? Será que ele nunca superou sua fase rebelde de adolescente?

— Maldito, Chandle. — Ela murmurou após seu colega partir. — Rudeus é meu antigo professor, seu idiota.

Chandle era o nome dele, anotado. Como aconteceu, Sir Sylvester confirmou imediatamente que o homem de cabelos pretos era Chandle von Grandeur, o capitão dos Cavaleiros Dourados de Asura.

Eu realmente não tinha ideia do que se passava com ele. Ainda assim… hah. Tive uma sensação engraçada de que o encontraria novamente.

Acho que faremos nossa primeira apresentação quando nos encontrarmos pela segunda vez. A linha provavelmente teria sido engraçada se eu tivesse pensado nela na hora, mas me contentei em pensar isso para mim mesmo.

 


 

Tradução: Rlc

Revisão: Pride

 

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