POV Arthur Leywin
A zona tremeu quando o seu protetor, o behemoth, entrou em colapso, o peito perfurado com flechas de mana translúcidas e cacos de pedra. O último rugido digno de pena dele foi sufocado com sangue negro.
Mica, suando e coberta de sujeira, cutucou o grandão com a ponta do pé, balançando o enorme cadáver. Os seus minúsculos olhos negros estavam olhando cegamente para mim de cima do focinho e presas de porco.
— E… mais outro… para a vala.
Disse Mica, caindo no enorme antebraço dele como se fosse um sofá desgrenhado.
Um tremor percorreu o éter na zona e examinei o nosso entorno.
Estávamos no topo de uma coluna de rocha seca e em ruínas. Tivemos que atravessar de coluna em coluna, lutando contra vários monstros de tamanho e poder crescentes, para chegar a essa batalha final. O solo era um deserto de arenito indistinto a um quilômetro e meio, tão longe que as colunas ficavam borradas antes de alcançar o chão. Com elas desaparecendo devagar em uma neblina de calor, onde encontravam o azul suave do céu no horizonte, a zona parecia continuar para sempre em todas as direções.
Boo grunhiu, me chamando a atenção. Ellie estava de pé ao lado dele, lhe dando tapinhas reconfortantes.
— Quem teria adivinhado que uma besta guardiã criada por Asuras poderia ter medo de altura?
Riu Regis.
O tremor veio de novo.
Ela deu a Regis um olhar grosseiro, mas parou quando viu meu rosto.
— Irmão, o que tem de errado?
— Eu não…
A pedra aos meus pés rachou, atraindo os olhares de todos. A rachadura era de apenas alguns metros de comprimento no início, porém correu pela superfície áspera do topo plano da coluna, a dividindo em dois e fazendo com que Boo e Ellie pulassem para um lado. Então, uma dúzia de outras fraturas se separaram da fenda central, vibrando os meus ossos e a pedra sob os nossos pés começou a se mover.
Em torno de nós, a zona explodiu com a cacofonia de rocha quebrando, uma espessa nuvem de poeira cobriu o ar.
O portal de saída, que estava inserido no chão e havia sido guardado pelo behemoth, ganhou vida, nos oferecendo passagem para a próxima zona.
Lyra avançou para lá, os pés mal tocando a superfície em ruínas.
— Não atravesse!
Gritei e ela deslizou até parar logo além da estrutura quadrada.
— Estabilize a plataforma, se puder!
Enquanto Mica e Lyra se apressavam em seguir minha ordem, peguei Ellie e pulei metade da largura do topo da coluna para pousar no portal, a Bússola já na mão.
Colocando Ellie no chão, canalizei o éter na Bússola e me concentrei no portal. Se o meu mapa mental de Sylvia estivesse correto, a terceira ruína djinn estava do outro lado. Como não tínhamos simuladores, os outros poderiam acabar não chegando lá, a menos que eu estabilizasse o portal primeiro.
Mica saltou para o ponto central da rachadura e bateu com o martelo nele. Em vez de fazer a coluna explodir, a magia correu do martelo ao longo do rompimento, puxando de volta pedra contra pedra. Lyra correu ao redor do lado de fora do pilar com uma rajada de vento mágico fluindo por trás dela e para baixo da borda para estabilizá-la, apoiando a estrutura com uma faixa de ar fortificada.
— É como se outra coisa estivesse controlando a mana!
Gritou Mica, uma ponta de pânico na voz.
— As paisagens das relictombs são imutáveis.
Bufou Lyra, correndo.
— Construíram este lugar usando éter, ele resiste à adulteração até mesmo pelos magos mais poderosos…
Com o fragmento de atenção que dei a tudo, exceto à Bússola e ao portal, percebi que nunca havia considerado esse fato antes. Perdi o núcleo de mana antes de entrar nas relictombs, por isso sempre confiei no éter para sobreviver aqui. Embora fizesse sentido que a intenção dos djinns impedisse que aqueles dentro refizessem as zonas com mana, também sugeria que, com a utilização adequada do éter, o tecido delas em si poderia ser reescrito.
No entanto, não havia tempo para tais considerações agora. Da minha visão periférica, vi quando Mica começou a tremer, seus bíceps flexionados segurando o martelo com todas as forças. A pedra sob Lyra desabou, ela desapareceu no buraco. De algum lugar abaixo, senti a coluna se mexer e entortar, o barulho do movimento perdido na queda cacofônica de rochas de todas as direções.
A coluna quebrou.
Lyra e eu estávamos de pé na borda da moldura do portal, que não se moveu. Ellie estava bem ao meu lado, mas um pé estava fora da moldura. Quando a superfície desmoronou, ela arregalou os olhos e estendeu a mão para mim enquanto era puxada para trás pela gravidade.
Atrás dela, Boo, Regis e Mica mergulharam com os escombros, o urso guardião soltando um rugido desesperado e tentando usar as garras para se segurar na pedra que não era mais capaz de suportá-lo.
Quase perdi o controle da Bússola ao pegar Ellie. Os meus dedos roçaram os dela, contudo eu estava focado em estabilizar o portal…
O cabelo dela ficou na frente do rosto, chicoteando ao vento feito uma bandeira. Suas mãos arranhavam o ar como se pudesse segurá-lo de alguma forma. Tardiamente, seu grito perfurou o ar numa súplica.
Xingando, pulei para o lado dela e ativei o Passo de Deus.
Os caminhos surgiram a uma velocidade difícil de processar, ainda mais com o meu coração na garganta. Com os olhos em Ellie, deixei o resto dos meus sentidos se concentrarem nos caminhos.
Voltando o meu corpo em sua direção e me tornando o mais aerodinâmico possível, corri atrás dela, no que pareceu demorar muito tempo. O seu corpo estava girando em queda livre, quando envolvi os braços nela, foi com força o suficiente para a fazer perder o fôlego. Se esforçou para me segurar de acordo com o possível, puxando o meu cabelo e enfiando o polegar no meu olho. Nós dois começamos a cair de ponta a ponta, presos por seus dedos se agarrando a mim e o meu braço em volta de sua cintura.
— E-Ellie! Você tem que…
Os meus dedos enfim seguraram o seu pulso, a puxei para me encarar.
— Se acalmar!
Ela se aproximou e me abraçou com força, gritando.
— Boo!
Cerca de seis metros à nossa direita, o enorme urso estava girando. Um rosnado longo, baixo e irracional saía dele, tremia sem controle.
— Eu sempre pensei que gostaria de saltar de paraquedas.
Transmitiu Regis. Estava perto, quase que na minha frente e fez uma espécie de manobra no ar para olhar para mim, a língua balançando do lado da boca.
— E se esquivar de uma avalanche de milhões de toneladas de pedras assassinas com certeza contribui para a experiência.
A forma de lobo das sombras dele derreteu, deixando para trás apenas um pequeno fogo-fátuo, que começou a subir em direção ao portal.
— Precisamos salvar Boo!
Gritou Ellie no meu ouvido.
— Você terá que convocá-lo do topo.
Gritei de volta ao vento.
Assentindo determinada, as sobrancelhas dela franziram, apesar das lágrimas nas suas bochechas sendo puxadas pelo vento.
Meu foco se voltou para os caminhos etéreos, procurando por um que nos devolvesse ao portal agora bem acima. Então o aperto de Ellie ficou mais forte, percebendo o olhar horrorizado dela, eu o segui.
Mica estava quase trinta metros acima de nós, os caminhos etéreos se alterando e desaparecendo enquanto a posição relativa dela para nós continuava mudando. Xinguei de novo, lutando para calcular como eu poderia chegar a ela e, em seguida, o portal a tempo.
— Irmão, me segura!
Se agarrando com firmeza ao meu manto, Ellie ergueu a mão brilhando à Lança, se estabilizando. Um raio branco enevoado foi disparado, mal passando por uma rocha caindo antes de encontrar o alvo.
Com a infusão repentina de mana, Mica parou de cair. Ela hesitou, olhando para nós, mas balancei a cabeça. Assentiu e voou direto de volta para o ar.
Usei um segundo para ver o chão se aproximando cada vez mais rápido, depois tentei me concentrar por inteiro nos caminhos etéreos. Quando não se aglutinaram de imediato na minha mente, fechei os olhos, os sentindo da maneira que Three Steps tinha me ensinado.
Pronto.
Com Ellie nos braços, “pisei” no éter. Nós aparecemos no topo da borda fina de pedra ao redor do portal brilhante.
— Boo!
Exclamou ela, a voz estridente.
Com um leve estalo, uma sombra apareceu acima e o enorme urso guardião caiu sobre mim.
Sob o amontoado de pelo, vi as botas de Mica pousarem ao nosso lado.
— Boo!
Gritou minha irmã, abafando os soluços e empurrando o rosto contra a lateral do vínculo.
— Cuidado para não mandar a besta de mana cair da borda de novo.
Me livrei do seu volume e me afastei. Regis voltou para dentro de mim, cantarolando uma melodia sem se importar com o fato de que todos quase haviam morrido.
O resto de nós compartilhou um olhar, mas ninguém falou nada.
Mais uma vez, peguei a Bússola e comecei a trabalhar na estabilização do portal para que ele não enviasse os outros por aí. Quando terminei, assenti e Lyra entrou em cena, parecendo estar afundando em areia movediça. Mica descansou um pouco a mão no ombro de Ellie. As duas trocaram sorrisos pálidos antes da Lança entrar, após a Retentora.
Minha irmã hesitou bastante antes de chegar a falar.
— Sinto muito, eu deveria ter…
Levantei a mão para evitar que ela continuasse.
— Pare de achar que precisa se desculpar por tudo.
Olhando por cima da beirada, um arrepio a percorreu. Boo não precisava de incentivo para entrar no portal, e ela, depois de assentir para mim, seguiu com uma determinação sombria.
Observei a zona uma última vez e entrei no portal, absorvendo a destruição causada com um suspiro.
Do outro lado, nos encontramos em um corredor familiar iluminado por painéis de luz ao longo do topo das paredes. Mica, Lyra, Ellie e Boo estavam olhando ao redor. Sentindo uma sensação de déjà vu, me virei para ver o portal pelo qual entramos desaparecer.
— Bem, isso é estranho.
Falou Regis, saindo pela minha sombra. Balancei a cabeça, percebendo que ele havia dito exatamente a mesma coisa quando encontramos a primeira ruína.
Antes, o ambiente estéril me deixava nervoso, mas agora eu sabia o que esperar. Confirmando os meus pensamentos, um momento depois, runas se iluminaram ao longo das paredes e as luzes assumiram uma fraca cor violeta.
Outra vez, uma irresistível força se apossou de mim, de todos nós, e de repente o grupo estava derrapando pelo chão ladrilhado, nos levando a um enorme portão de cristal preto.
Xingando, Lyra se virou, mas o corredor branco havia desaparecido.
— O que está acontecendo?
— Está tudo bem.
Assegurei a ela.
— Do outro lado desse portão, encontraremos o que estamos procurando. Vou enfrentar algum tipo de teste ou desafio. Vocês não poderão me ajudar, então devem ter a chance de descansar lá.
— Quem precisa… descansar…?
Perguntou Mica, se encostando no lado de Boo para se manter ereta.
— Bem-vindo, descendente. Por favor, entre.
— O que foi isso?
Questionou Ellie.
— Você ouviu as palavras?
— Não palavras, apenas… algo. Como um sussurro além do limite da minha audição.
Franzi a testa, refletindo. Faria sentido se ela pudesse ouvir a mensagem, já que também era descendente dos djinns, mas ela não tinha nenhum insight do éter, então talvez as relictombs a vissem de maneira diferente.
— É melhor ficar dentro de mim, só por precaução.
Sugeri a Regis.
— Não quero você preso no lado errado da porta.
Ele se tornou incorpóreo e entrou no meu corpo, a sua forma se instalando perto do meu núcleo.
— Me acorde quando algo interessante acontecer.
— Essa próxima parte pode ser um pouco confusa.
Falei, estendendo a mão e roçando os dedos pelo liso portão.
Os meus dedos atravessaram, o cristal tilintando de leve enquanto se dobrava para longe da minha mão a fim de abrir espaço para a minha passagem. Respirando fundo, entrei na superfície sólida, a pele formigando pela estranha e quente carícia do cristal negro que fluía ao meu redor.
Tudo ficou escuro por um momento, parecia que estava andando no fundo de um oceano quente. O véu de cristal se abriu de novo. Desta vez, quando vi os padrões geométricos, os reconheci como sendo semelhantes aos que vi na pedra angular ao aprender o Réquiem de Aroa. Algo sobre aquela magia e essa era o mesmo, embora compreender o que, ainda estivesse além de mim.
Não esperava perigo, entretanto ainda examinei rápido o espaço do outro lado da porta de cristal.
Era iluminado por um grande número de artefatos que emitiam um brilho semelhante ao do sol. A sala era composta de prateleiras de vidro, no meio havia mais de uma dúzia de mesas baixas envoltas também em vidro.
Me aproximando da exibição mais próxima, procurei uma placa ou cartão que pudesse explicar o que estava vendo, mas não havia rótulo no conteúdo. Dentro do vidro, repousando sobre uma almofada de veludo roxo, estava um cubo sem traços característicos.
O ar mudou atrás de mim, os cristais negros se dobraram apenas a tempo o suficiente para Lyra Dreide entrar na sala, então o fenômeno se derreteu mais uma vez.
Ela olhou em volta com a boca aberta, os olhos arregalados.
— Isso é… algum tipo de museu?
Caminhei devagar pelo corredor entre duas fileiras de mesas de exibição, examinando os artefatos.
— É algo assim, realmente. Isso é diferente do que já vi, e não reconheço nenhum desses artefatos.
O sussurro tilintante da porta de cristal surgiu de novo, e desta vez Ellie entrou, seguida por Boo.
— Uau, isso é tão legal.
Murmurou, saltando na ponta dos pés, empolgada.
O volume de Boo era tão grande que ele não podia se mover sem esbarrar em alguma coisa, porém as telas aparentavam estar fixas no lugar, sem se mover mesmo quando o urso se esfregava contra elas.
Mica chegou somente segundos depois e, após olhar em volta por um momento, encolheu os ombros.
— Então, essa grande coisa de teste vai acontecer em um museu velho e empoeirado? Isso não é meio estranho? Eu acho estranho.
Não respondi, enfim vendo algo que reconheci. Na parede oposta de onde cheguei, uma das prateleiras continha três esferas idênticas. Mais Bússolas, notei, traçando os dedos ao longo do vidro da frente. Com cuidado, tentei mudá-lo ou abri-lo, mas não respondeu à força sutil.
— Também não sei nenhuma maneira de abri-los.
Comentou Lyra, passando a mão pela beirada inferior de uma mesa.
— Nós poderíamos arrombá-los. O conteúdo deste museu…
Eu surrei o vidro com a força que se usava para rasgar aço. O revestimento não resistiu à força nem se quebrou. Em vez disso, o meu punho passou, a imagem balançando de forma incoerente até que puxei a mão para trás. Uma vez sólido de novo, pressionei o dedo indicador contra. Parecia sólido.
Quando Caera e eu chegamos à segunda ruína, o lugar estava desmoronando. O saguão de entrada e a biblioteca do outro lado tinham sido fundidos um no outro. Não eram bem reais. Este museu devia ser o mesmo: uma representação visual de um lugar inexistente.
— É mais como…
Parei, tentando pensar em uma comparação apropriada.
— Como uma imagem tornada real.
Respondeu Ellie, olhando com curiosidade para uma vara opaca e metálica, com cerca de meio metro de comprimento.
— É, algo assim. Até as zonas das relictombs que limpamos reiniciam depois de sairmos. Elas são feitas para serem manipuladas, contudo, para nos testar. Este quarto não é nada, na verdade. É apenas uma distração.
— Certamente está funcionando.
Falou Lyra, a voz cheia de admiração enquanto quase pressionava o rosto contra uma das exibições.
Me inclinei para ver o que ela estava olhando e senti um súbito choque de reconhecimento do punhado de cristais multifacetados descansando na almofada de veludo. Imagens, rostos de djinns, estavam projetadas em cada faceta com expressões firmes, mas desamparadas. Imbuindo o éter em minha runa de armazenamento extradimensional, chamei por um cristal correspondente que eu havia tirado da segunda ruína e depois esquecido.
Quando o cristal apareceu na minha mão, a Retentora estendeu a mão de imediato, depois se impediu e a abaixou. Seus olhos voltaram para a coleção de cristais djinns protegidos sob a tela de vidro, a confusão clara.
— São como livros. Ou diários.
Disse em resposta à sua pergunta não feita.
— Ou, pelo menos, essa é a impressão que tive antes. Tenho carregado isso por um tempo.
— O que isso diz?
— Eu… não tenho certeza.
Admiti.
— Nunca ouvi a mensagem do criador.
Ellie se aproximou, se apoiando em mim para dar uma olhada melhor.
— Então você poderia estar andando por aí com o segredo da magia antiga no bolso e nem sabia?
Balançou a cabeça, as sobrancelhas erguidas.
— Duvido muito disso.
Falei. As palavras dela me deixaram desconfortável.
Peguei o cristal da biblioteca em colapso, que se sobrepunha à segunda ruína, mais ou menos por capricho e me senti culpado por isso na época. Meu foco depois, porém, tinha sido apenas na pedra angular e eu nunca tinha pensado a respeito do cristal.
— Você pode ativá-lo para que todos nós possamos experienciar?
Questionou a Alacryana, apontando para o rosto falando sem som através das várias facetas.
— Eu ficaria incrivelmente interessada em ouvir o que esse homem tinha a dizer, pois nunca ouvi falar de tal repositório de conhecimento dos magos antigos.
Virei o cristal na mão, refletindo, então o enviei de volta para a minha runa dimensional. Olhando para a minha mão vazia, Lyra parecia cansada, mas a ignorei. Algo estava errado. Antes, mesmo na biblioteca em colapso da segunda ruína, eu só tinha que ativar o éter para acessar as ruínas escondidas abaixo da superfície. Mas acabei de usar o éter para acessar o meu armazenamento dimensional duas vezes.
Mica disse algo, talvez uma pergunta, mas não captei nenhuma das palavras. Canalizei o éter na mão, liberando uma explosão inofensiva de energia sem forma e que se manifestou como uma luz roxa brilhante.
Outra vez, nada aconteceu.
Para ser mais intencional, empurrei a mão no chão usando éter. Nada mudou.
Tateei com os dedos, as palavras de Lyra no topo da coluna desmoronando voltando para mim.
— Eu me pergunto…
Ativei o Realmheart.
Era estranho. A mana estava lá, todavia, o normal era que a presença de partículas de mana fosse com os atributos físicos do espaço em questão. Seria de se esperar ver uma alta concentração de mana de atributo terra no chão e às paredes, mana de atributo ar flutuando na atmosfera e, em um lugar que nem este, apenas vagos traços de água e fogo.
As partículas de mana não se alinhavam com o espaço que estávamos vendo.
Era como se eu estivesse olhando para uma segunda imagem sobreposta sob a que os meus olhos estavam me mostrando; uma coleção de pontos delineando as características do tal outro espaço.
Porque a mana está alinhada com as realidades da câmara. As ruínas, o pedestal, o anel, como nas outras duas ruínas.
Mais uma vez, considerei as palavras de Lyra. Um mago usando mana pode lutar para alterar as características físicas das relictombs, mas tinha que haver uma maneira de eu perfurar o véu de separação entre o museu e a ruína logo atrás dele.
O éter começou a irradiar de mim, enchendo a câmara de luz violeta. Na mente, cheguei às costuras invisíveis, os lugares onde a ilusão se continha em oposição ao real. Era como sentir a lacuna de uma porta escondida, um lugar onde as duas peças separadas não se alinhavam com perfeição.
Os ávidos dedos do éter sondando tocaram uma borda irregular, toda a sala oscilou entre ficar dentro e ficar fora de foco.
Mica resmungou, os olhos tentando acompanhar.
— Me lembra de quando tentei vencer Olfred em um concurso de bebida, ugh. Você está tentando nos deixar todos enjoados?
Tive que rastrear onde estive duas vezes antes de encontrar a borda outra vez. Assim que a toquei, um borrão estático vibrou pela câmara, irritando os meus olhos. Boo grunhiu em agitação e Ellie fez ruídos suaves para acalmá-lo.
Fechando os olhos para deixar os outros sentidos fazerem o trabalho, segurei essa borda com éter. A imaginei como um pedaço de pergaminho colocado sobre nossos sentidos, essa era a coisa mais apropriada que eu poderia pensar. A rasguei em duas.
Os meus companheiros explodiram em gemidos abalados, parecia que Mica estava quase vomitando. Alguém caiu de joelhos. Lyra xingou baixinho, ou ofereceu uma oração aos Vritra, era difícil dizer qual.
Ao abrir os olhos, estávamos cercados por uma pedra cinza clara.
A terceira ruína, pensei, ainda desconfiado.
Ao contrário das duas últimas, no entanto, este lugar não era uma ruína. As paredes de pedra e o chão pareciam ter sido moldados ontem. Não havia supercrescimento, nem paredes quebradas ou teto desmoronando. Estava tudo em perfeitas condições.
Mesmo a estrutura no centro da sala não estava danificada. Os quatro anéis que deveriam estar orbitando o pedestal estavam dormentes, entretanto, o cristal em si estava escuro.
— Isso foi simplesmente horrível.
Reclamou Mica.
Ellie estava ajoelhada no chão ao meu lado com Boo a cutucando. Descansei a mão no cabelo dela, olhou para mim. O suor estava escorrendo pelo seu rosto.
— Concordo.
Falou fracamente.
— Foi como… ter os meus olhos arrancados e depois jogados no ar enquanto ainda estavam conectados a mim.
Comentou Lyra, se recostando na parede de pedra imaculada.
Regis se manifestou ao meu lado, suas chamas lançando uma luz roxa e saltitante sobre a cantaria.
— Vocês, Vritras, com certeza têm jeito com as palavras. Mas, e agora, chefe? Este lugar parece morto feito bicho atropelado.
Pus a palma da mão contra o frio cristal. Não houve reação ao toque.
Mantendo parte do foco no Realmheart, canalizei éter adicional para o Réquiem de Aroa. Brilhantes partículas de energia restauradora fluíram pelo meu braço até o cristal. Empurrei mais e mais partículas para o objeto grande, observando-as se aglomerarem na superfície e se reunindo em todas as fendas, procurando algo para consertar.
Algumas foram absorvidas, derretendo através da superfície do cristal. Mantive em mente a compreensão do artefato, o seu propósito e o que devia estar armazenado dentro, dando à runa divina um padrão para construir se encontrasse algo quebrado.
Depois de cinco minutos, nada mudou.
Liberei a runa divina, fazendo com que as partículas desaparecessem devagar.
— Não acho que está quebrado.
— Talvez seja algo como… sem energia?
Perguntou Ellie, hesitante. Estava andando lentamente pelos anéis circulares.
Franzindo a testa, coloquei o éter em minha mão e o impregnei no cristal de projeção. O cristal o absorveu, porém não ganhou vida.
Como se estivesse em transe, estendeu a mão para o cristal também. As pontas dos seus dedos apenas roçaram a superfície e uma faísca de mana saiu de seu núcleo, atravessou as veias dela e entrou no cristal.
Ele cintilou com uma luz nebulosa e fraca vinda de dentro.
— Parece ter feito alguma coisa.
Disse Lyra, enrolando um fio de cabelo vermelho-fogo em torno dos dedos.
— Eleanor, pode dar mais mana?
— Acho que sim.
Sussurrou minha irmã, pressionando as duas mãos com firmeza contra o cristal. As suas mãos arderam com luz branca enquanto mana pura entrava no dispositivo.
O cristal emitiu um brilho suave e um zumbido audível. Os anéis mudaram, sacudindo um pouco, mas não se ergueram do chão ou começaram a orbitar o pedestal, como vi na primeira ruína.
No entanto, meu pressentimento cresceu. Eu só podia esperar que os restos capturados de qualquer mente djinn que assombrasse o lugar ainda permanecessem.
As runas cobrindo o pedestal e os anéis dormentes brilharam, uma voz emanou do cristal, aguda, antiga e cautelosa.
— Vida em meus velhos ossos, mas…
Ela parou por um momento. As runas escureceram, apenas para voltar a piscar em seguida.
— Minha missão não está… completa? Testes realizados, pedra angular recompensada… dormi por tanto tempo. Com que propósito fui agora despertado?
Olhei para Regis, compartilhando o sentimento ruim que emanava de nossa conexão.
— Djinn, você está dizendo que a pedra angular sob o seu cuidado já foi dada a outra pessoa?
A luz dentro das runas mudou, quase como se estivesse se concentrando em mim.
— Um descendente digno se apresentou… Há muito, muito tempo. Ele passou nos meus testes e reivindicou o conhecimento que eu guardava e assim a estrutura que abrigava minha mente e memórias foi dormir, a energia que me sustenta passou a ser utilizada em outro lugar.
O meu coração deu um baque doloroso e, de repente, pareceu extenuante respirar. Cerrando os punhos, estabilizei a respiração com força.
— Você pode me dizer quem era esse descendente? Ou que conhecimento estava contido na pedra angular?
— Essa informação não está armazenada neste remanescente.
Eu estava bem ciente dos olhos de meus companheiros, todos persistindo em mim, mas não retribuí com nenhum olhar.
— E quanto ao seu teste? As manifestações anteriores, ou guardiões, ou o que quer que vocês se chamem me testaram e através desses testes fui capaz de obter o insight. Mesmo sem a pedra angular…
— Esta habitação carece de energia para se comprometer com outro teste. Quaisquer artes que você usou para me acordar são suficientes apenas para a aplicação mais superficial da minha consciência armazenada e já posso senti-la se esgotando. O meu propósito foi cumprido. Posso ver a angústia em sua mente, mas não posso lhe oferecer nenhum bálsamo para a sua dor. Eu… sinto… m-muito…
A voz perdeu a integridade, ganhando uma qualidade minúscula como se estivesse ecoando de uma lata, desapareceu por completo. A última luz deixou as runas e o cristal.
— Porra.
Falou Regis sucintamente, se recostando no quadril.
— Agrona deve ter.
Falei de imediato, me virando para olhar para Lyra.
Ela encolheu os ombros impotente.
— É possível. Esta “pedra angular” pode ser o que lhe permitiu formar nossa nação, para começar, ou sobreviver às tentativas de assassinato enviadas pelos outros Asuras, ou mesmo desbloquear o conhecimento dos reencarnados e do Legado. Ou tudo. Mas receio não ter certeza.
Mica voou do chão, de repente no rosto de Lyra. Ela empurrou o martelo contra o ombro da Retentora, a empurrando contra a parede.
— Você não é uma das generais dele ou o que quer que seja? Como pode não saber? Não minta para nós!
Lyra ergueu o queixo e olhou para a anã.
— O Alto-Soberano é bastante eficaz em compartimentar suas forças. Ninguém, exceto o próprio Agrona, tem conhecimento de tudo. As Foices e os Retentores são figuras políticas e carrascas dos civis. Os trabalhos mais profundos do império dele são em grande parte deixados para o próprio clã Vritra, aqueles que ainda permanecem depois de fugir de Epheotus ao lado dele há muito tempo. O seu exército de Assombrações não faz nada além de treinar e se preparar, um segredo até mesmo da maior parte de seu próprio continente.
— Uma história provável.
A Lança rebateu, empurrando com mais força o seu martelo.
— Mas Agrona não poderia ter entrado aqui, certo?
Questionou Regis, descuidado com a tensão entre as duas poderosas mulheres.
— Quem poderia ter entrado aqui além de você?
Balancei a cabeça, inseguro. Atravessando a sala, peguei o martelo de Mica e o afastei suavemente de Lyra.
— Não temos tempo para brigar uns contra os outros.
Resmungando, ela abaixou a arma. As duas se entreolharam.
Ellie as observava, nervosa, enquanto brincava com a lateral da camisa.
— Então, o que fazemos?
— Ainda há mais uma ruína lá fora, falei com firmeza.
— Precisamos encontrá-la. Agora.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
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