Um caminho pavimentado de pedras vermelhas conduzia à propriedade dos Denoir, flanqueado por arbustos de um metro de altura, que mesmo com o frio das montanhas estavam florescendo com botões azuis. A mansão em si era enorme, facilmente três vezes o tamanho da propriedade dos Helstea onde morei em Xyrus, e os terrenos ao redor dela rivalizavam com os quintais do palácio real da minha vida anterior.
Depois de parar um momento para me certificar de que Regis ainda estava bem ao meu alcance, comecei a andar.
Artefatos de luz flutuantes começaram a piscar ao longo dos jardins conforme nos aproximávamos, banhando o terreno com um brilho amarelo suave. Uma das portas duplas enormes da propriedade se abriu e uma mulher em um uniforme cinza-acinzentado saiu correndo, movendo-se rapidamente para nos encontrar. Seu cabelo laranja brilhante estava preso em um coque, assim como quando eu a vi do lado de fora do portal de descida das Relictombs.
— Senhora Caera!
Disse calorosamente, parando em nossa frente e se curvando.
— E ascendente Grey.
Curvou-se novamente.
— Bem-vindo à propriedade dos Denoir.
— Obrigado.
Disse, retornando seu sorriso caloroso.
— E você seria Nessa, correto?
A mulher ficou claramente surpresa, mas fez um esforço para esconder, curvando-se pela terceira vez.
— Você me honra.
Embora seu tom fosse firme, podia ver um rubor vermelho se espalhando por suas bochechas.
— Não precisa ser tão humilde.
Disse, gesticulando para ela se endireitar.
— Caera expressou que você é metade da razão pela qual ela permaneceu sã sob o teto dos Denoir.
Nessa corou ainda mais e pareceu ficar sem saber como responder. Caera a salvou pegando o braço da mulher e indo em direção à casa.
Depois de alguns passos, Caera lançou um olhar para trás por cima do ombro mostrando uma expressão brincalhona e repreensiva.
Ela tinha me preparado para essa noite, dizendo-me os nomes de todos e explicando o protocolo, até mesmo delineando os prováveis tópicos de conversa, caso seus pais adotivos tentassem me envolver em algum debate político.
Caera provavelmente me via como uma espécie de bruto insociável que preferia brigar com bestas de mana a ser sociável, acho que ela não estaria totalmente errada, mas ela não sabia que eu tinha sido um rei na minha vida anterior, o que me deu anos de prática em lidar com pessoas como os Denoirs.
Mais alguns criados esperavam no saguão de entrada. Embora a maioria mantivesse os olhos baixos em uma reverência respeitosa, uma mulher mais jovem deu uma espiada apenas para encontrar meus olhos. Dei a ela um sorriso educado, respondeu com um olhar em pânico antes de desviar os olhos de volta para o chão. De lá, fomos conduzidos a uma sala de estar chique. Móveis luxuosos estavam dispostos em pequenos grupos ao longo da grande sala, que explodia de cor e possuía um bar inteiro que corria ao longo da parede oposta.
De pé, ao lado do bar, estava Lauden Denoir, que conheci no auge do meu julgamento. Uma mulher com um vestido marrom largo com cabelos brancos brilhantes que caíam sobre os ombros estava recostada em uma poltrona, a mãe adotiva de Caera, Lenora Denoir. O espadachim loiro, Arian, estava em um canto.
Lenora se levantou graciosamente quando entramos, praticamente flutuando para fora de sua cadeira e nos dando um sorriso bem treinado, mas acolhedor. Seus olhos captaram tudo, desde minhas botas até meu cabelo loiro cor de trigo em um único olhar, eu praticamente pude ver as engrenagens girando por trás de seus olhos perceptivos.
Nessa curvou-se e deu um passo para o lado.
— Senhora Lenora do Alto Sangue Denoir. Senhora Caera voltou. Ela traz consigo um convidado, o ascendente Grey.
Então se endireitou e recuou até ficar quase pressionada contra a parede ao lado da porta da sala de estar, ainda como uma estátua.
— Por favor.
Lenora disse, apontando para o sofá mais próximo.
— Junte-se a mim e ao meu filho para uma bebida enquanto esperamos pelo meu marido. Ele deve descer a qualquer momento.
Lauden levou dois copos do bar, um dos quais entregou à mãe, depois se virou e estendeu a mão para mim. Eu peguei com firmeza, encontrando seus olhos.
— Que bom ver você de novo, ascendente Grey. Ou você prefere professor, agora?
Suas maneiras eram impecáveis, mas não podiam esconder completamente a tensão óbvia que carregava em seus ombros e sobrancelhas.
— Por favor, Grey seria mais do que adequado. — respondi.
Lauden entregou o segundo copo para Caera. Assim que seu irmão adotivo deu as costas para ela, torceu o nariz e pousou o copo disfarçadamente. Lauden não pareceu notar quando voltou para o bar.
— Bem, então, Grey, o que você gostaria de beber? Meu pai tem muito orgulho da qualidade de nossa coleção. Aqui você encontrará apenas as melhores e mais potentes bebidas, feitas sob medida para serem apreciadas por aqueles com o metabolismo elevado proporcionado pela força da magia.
— É apropriado que eu espere pelo o Lorde. Como manda a tradição, ele deve tomar o primeiro drinque quando estiver bebendo com os convidados.
Respondi corretamente antes de piscar para ele.
— Mas eu gostaria da oportunidade de provar sua bela coleção, é claro.
Lauden deu uma risada.
— Um homem de cultura. Meu pai sem dúvida apreciará sua adesão às normas sociais, embora eu espere que você me perdoe por começar sem você.
Passada essa formalidade, Lauden continuou a bater papo enquanto Lenora questionava Caera sobre a academia. A Senhora Denoir e Caera mantinham uma atitude rígida e profissional uma com a outra, notei Caera olhando em minha direção mais de uma vez.
Depois de alguns minutos, o barulho de passos pesados e sem pressa no corredor anunciou a chegada do Lorde Corbett Denoir.
Todos nós nos levantamos quando o Lorde entrou na sala de estar, sem demonstrar qualquer preocupação em me fazer esperar, uma tática comum entre a nobreza. Seus olhos inteligentes pularam para cada um de nós, por sua vez, embora tenham permanecido em mim por mais tempo. Seu terno branco e azul marinho parecia custar tanto quanto as casas de algumas pessoas, usava um sabre de punho dourado ao lado.
Cruzando um braço sobre o peito com o punho logo abaixo do ombro e o outro atrás das costas, me curvei ligeiramente, apenas uma inclinação suave das minhas costas. Era o tipo de reverência que alguém fazia para mostrar respeito, mas não subserviência. Esse simples gesto, que deixava claro que eu considerava nossas posições iguais, acendeu as perguntas em sua mente, uma vez que os Denoirs já suspeitavam que eu era secretamente um Alto Sangue.
— Bem-vindo à nossa casa.
Disse ele, imperturbável, antes de se mover para trás de onde sua esposa estava sentada e pousar a mão em seu ombro.
— Este encontro demorou muito para acontecer, não foi, meu amor?
— De fato.
Ela respondeu, sorrindo para ele. Para mim, disse:
— Você nos proporcionou uma experiência tão nova, já que nenhum de nós está acostumado a ver nossos convites rejeitados.
Sua execução foi perfeita, provocando educadamente com farpas escondidas entre suas palavras e uma lâmina em seu sorriso.
— Você tem minhas desculpas.
Respondi com um sorriso cansado.
— Era meu desejo egoísta de expressar aos outros professores da Academia Central que havia merecido um cargo lá por meu próprio mérito.
— Vamos lá, nós só estamos brincando.
Lenora disse com uma risada.
— Apesar de tudo, Corbett e eu estamos bastante curiosos sobre você. Por que não vamos para a sala de jantar e você pode nos contar sobre si durante um maravilhoso jantar que nossos cozinheiros prepararam em sua homenagem?
Levantando-me, estendi o braço para a matrona Denoir, que o segurou com um sorriso curioso.
— Mostre o caminho, Senhora Denoir. — disse educadamente.
Ela o fez, com o resto dos Denoirs nos seguindo. Corbett falou baixinho com Lauden sobre alguns negócios enquanto Lenora exibia a mansão, me contando sobre os muitos itens em exibição por toda a propriedade, incluindo várias pinturas e tapeçarias muito finas, pelo menos uma dúzia de artefatos diferentes recuperados das Relictombs.
Uma longa mesa dominava a sala de jantar, com capacidade para pelo menos trinta pessoas. Haviam três lustres pendurados em um teto alto, enchendo o espaço com uma luz brilhante. Outro pequeno bar corria ao longo de um lado da sala, enquanto o outro estava coberto por armários e prateleiras cheias de pratos finos e talheres em dezenas de estilos diferentes. Era claramente uma coleção valiosa e provavelmente algo de que Lenora tinha muito orgulho, um fato que arquivei para nossas conversas.
A mesa já estava posta e Lenora me conduziu até a outra extremidade, gesticulando para que eu me sentasse à esquerda da cabeceira da mesa, onde o Lorde Denoir se sentou um momento depois. Lenora sentou-se à minha frente, Caera à minha esquerda e Lauden à sua frente, ao lado de sua mãe. Era uma posição de honra estar sentada à esquerda do Lorde, que presumi ser normalmente reservada para seu filho.
Lenora continuou a conversar enquanto os canapés eram servidos, sorria e respondia entre mordidas de figos apimentados cobertos com pedaços crocantes de carne. A conversa mudou para Corbett por causa de um aperitivo de cogumelos recheados, mas ele evitou qualquer assunto sério, expressando interesse em minha aula na academia e me contando sobre seu interesse por literatura enquanto se gabava sutilmente das doações dos Denoirs para a biblioteca da Academia Central. Caera manteve uma espécie de silêncio frio, não interferindo na conversa a menos que fosse abordada diretamente.
Só quando a salada chegou é que a conversa mudou para algo mais sério.
— Então, Grey.
Corbett começou, enfiando o garfo na tigela.
— Esperava aprender mais sobre o seu sangue. Não é tarefa fácil, garantir uma posição na Academia Central. Isso fala muito bem das conexões de seu sangue.
Eu dei ao homem um largo sorriso e encolhi os ombros com indiferença.
— Lamento desapontar, mas não há mistério a descobrir, sejam quais forem os rumores que possam estar circulando. Meus pais são de uma aldeia remota e ambos eram pessoas simples. Meu pai foi morto na guerra.
Disse passivamente, minha voz sem emoção.
— Depois que a guerra acabou, me voltei para as Relictombs e me tornei um ascendente, tentando cuidar de minha mãe e irmã.
Corbett ouviu como se só acreditasse em mim pela metade, mas a mão de Lenora se moveu para cobrir a boca.
— Muitas vidas se perderam lutando contra aqueles selvagens em Dicathen.
Lauden resmungou tristemente, afastando-se da conversa e dando um longo gole em seu copo.
Vendo uma oportunidade de tomar as rédeas da conversa, eu disse:
— Verdade, muitos, especialmente em… como se chama? Floresta mágica de Dicathen?
— Elenoir.
Respondeu Lauden, olhando para a bebida com uma expressão azeda.
— É isso.
Disse, batendo os nós dos dedos na mesa de madeira.
— Pobres almas. Embora, pelo que Caera me disse, o Alto Sangue Denoir não estivesse presente lá.
Corbett e Lenora trocaram um rápido olhar.
— Não.
Respondeu Corbett após um momento.
— Reconheci que já tínhamos tudo o que precisávamos em Alacrya. Manter um controle em uma terra tão distante, e ainda cheio de turbulência, parecia uma complicação desnecessária.
— Uma sábia decisão. Muitos outros não foram tão sábios.
Me virei para Lauden.
— Você perdeu pessoas em Elenoir?
Ele inclinou o copo, terminando sua bebida em um gole.
— Muitos dos que foram a Elenoir para se estabelecer eram herdeiros de sangue, ou segundos filhos. Conhecia muitos deles. Alguns sangues inteiros, aqueles que mais se dedicaram a este empreendimento, foram exterminados, privando Alacrya de muitas vozes poderosas e acabando com muitas linhagens potentes. E me pergunto o que nós realizamos—
— Lauden.
Corbett repreendeu, sacudindo sutilmente a cabeça para o filho.
— Este não é o momento para tal conversa. Grey, espero que se retire comigo para o meu escritório depois do jantar. Uma boa lareira e um jogo de Disputa dos Soberanos formam um cenário melhor para uma discussão política do que a sala de jantar, você não concorda?
Embora desapontado, eu queria me aprofundar mais nessa tensão que Lauden exibia, para ver o quão profundo ela era, apenas balancei a cabeça educadamente e a conversa voltou a assuntos mais mundanos pelo resto do jantar.
Depois de comermos tanta carne assada e tortas de frutas quanto era educado, deixando a última mordida em nossos pratos para mostrar que estávamos bem alimentados e não éramos gulosos, a mesa foi tirada e Lenora levou Caera embora.
Lauden recostou-se na cadeira e me lançou um olhar curioso.
— Sua fama parece estar subindo rapidamente, Grey.
Disse com a fala apenas levemente arrastada, mesmo após vários copos de licor âmbar forte.
— Boa sorte no Victoriad. É o lugar para cimentar sua posição entre a nobreza, ou para ver a si mesmo cair a toda velocidade de volta ao chão.
— Fale com sua mãe e irmã antes de se retirar.
Disse Corbett com firmeza, olhando fixamente para o filho. Ele estendeu a mão para uma porta lateral da sala de jantar.
— Grey?
Sem dizer nada, segui Corbett pela casa e subi até um escritório. Conhecia pessoas cujas casas inteiras caberiam neste escritório de dois andares e havia tantos livros quanto a biblioteca da cidade de Aramoor. A lareira já estava acesa.
— Sente-se.
Disse Corbett, apontando para uma cadeira de couro muito fina apoiada ao lado de uma mesa de mármore esculpida, que tinha um tabuleiro de jogo gravado na superfície e peças já dispostas.
— Presumo que você jogue?
Concordei com a cabeça, então dei uma espécie de encolher de ombros impotente.
— Devo dizer que joguei. Caera gosta de me lembrar que ela se beneficiou de muito mais prática e treinamento do que eu.
A expressão de Corbett não mudou quando serviu mais uma bebida para nós dois e se sentou à minha frente. Tomei um gole do copo oferecido. Queimava ao descer, mas se acomodou quente e pesado em meu estômago. Um pouco da minha surpresa deve ter passado para o meu rosto porque os lábios de Corbett se contraíram em um sorriso vazio.
— Bafo do Dragão. — anunciou.
— Não estou surpreso que você nunca tenha tomado. É feito com uma especiaria rara que só cresce ao longo das margens do Redwater perto de Aensgar. Os guerreiros de Vechor costumam beber antes de uma batalha.
— E é isso que vai acontecer?
Eu perguntei, descansando meu copo na borda do tabuleiro.
— Uma batalha?
O breve brilho de um sorriso sem humor voltou.
— Isso depende da sua habilidade.
Ele me deu o primeiro movimento e comecei o jogo de forma conservadora, movendo um escudo para o meio do tabuleiro.
— Os eventos em Elenoir deixaram um gosto amargo pros Altos Sangues em relação à guerra?
Perguntei em tom de conversa, embora observasse o rosto de Corbett com cuidado.
Respondeu de forma mais agressiva do que eu esperava, desenhando um lançador ao longo da borda do tabuleiro. Era a mesma manobra de abertura que Caera costumava usar.
— Meu filho é obstinado e tem motivos para estar frustrado. Vários de nossos amigos e aliados foram perdidos no ataque dos Asuras.
— Embora, para ser justo, muito mais vidas de Dicatheanos devam ter sido perdidas no ataque do que as de Alacryanos.
Apontei, continuando a avançar com meus escudos.
— Mais uma razão para abraçarem o Alto Soberano.
Grunhiu ele, de olho no jogo. Mesmo assim, havia algo nas rugas ao redor de seus olhos e em sua postura rígida que me dizia que ele achava o assunto Elenoir e todas aquelas mortes incômodas.
— Talvez.
Respondi, fingindo pensar sobre meu próximo movimento enquanto tomava outro gole do licor ardente.
— E, no entanto, não posso deixar de me perguntar… se isso significasse evitar mais conflitos entre os Asura, valeria a pena desistir de Dicathen?
Ele franziu a testa profundamente, o que destacou suas rugas e o fez parecer cerca de uma década mais velho.
— Você quer dizer retirar as forças de lá e abandonar o continente?
Ele esfregou o queixo pensativamente.
— Essa é uma proposta arriscada. O golpe para a moral—
— Deixe-me colocar de outra forma.
Disse, arrastando um atacante pelo tabuleiro para tirar seu lançador.
— Se o custo da guerra, o custo em vidas de alto sangue, tivesse sido esclarecido desde o início, eles ainda a teriam apoiado?
Fizemos alguns movimentos em silêncio pensativo, embora os olhos de Corbett continuassem a desviar-se do tabuleiro para mim. Depois de um ou dois minutos, disse:
— É comum para os sangues inferiores superestimar o poder e a autoridade dos altos sangues.
Reprimi um sorriso ansioso por seu deslize.
— Certamente, se a maioria dos altos sangues falasse como um, os Soberanos—
— Você teve muito sucesso, e muito rápido.
Disse Corbett, afastando as mãos do tabuleiro e recostando-se na cadeira.
— É evidente na maneira como você fala, como se você não tivesse nenhuma experiência com os níveis mais altos da política em Alacrya. Você deveria ter cuidado, Grey. A palavra errada no ouvido errado pode fazer com que você morra.
Como se para enfatizar seu ponto, passou um atacante por uma fresta em meus escudos e matou um de meus conjuradores. Isso deixou a peça do atacante aberta para um contra-ataque, mas enfraqueceu o círculo interno de defesa em torno da minha sentinela.
— Ir com pressa, ser ousado… foi isso que aqueles sangues que morreram em Elenoir fizeram. E agora muitos deles são menos do que os mais baixos sem nome.
Quando respondi matando o atacante, notei que os nós dos dedos de Corbett estavam brancos quando pegou a peça, apertando-a entre os dedos como se pudesse esmagar a pedra esculpida em pó.
— Por que incentivar um investimento tão pesado em Elenoir se ainda existia tanto risco?
Perguntei, meu tom inocente e despretensioso.
Corbett largou a peça com um tilintar agudo e olhou nos meus olhos.
— Talvez os Soberanos não achassem que os Asuras tinham coragem de quebrar o tratado…
Mas a verdade estava lá, brilhando como fogo em seus olhos. Ele não acreditava que os Vritra, as próprias divindades, pudessem ser pegos tão desprevenidos. O que significava…
— Você acha que foi uma armadilha.
Eu disse categoricamente, uma declaração de fato.
— Isca, para fazer os Asuras quebrarem o tratado.
Corbett ficou tenso.
— Você está ciente da relação entre Caera e os Denoirs, correto?
Concordei com a cabeça.
— Você sabia que, se falharmos em nosso dever para com os Vritra e Caera, o Alto Sangue Denoir poderia ser despojado de todos os títulos e terras? Lenora e eu podemos ser executados.
Novamente, eu balancei a cabeça em resposta.
— Somos um dos Altos Sangues mais influentes no domínio central, até mesmo em toda Alacrya.
Disse ele, embora não houvesse presunção na declaração.
— E, no entanto, um passo em falso significaria nosso fim repentino e violento. Não servimos reis ou rainhas, como fazem os Dicatheanos. Nossos senhores são os próprios deuses, e todos nós estamos sujeitos inteiramente à sua vontade, desde o mais baixo sem nome até o mais rico alto sangue. Você faria bem em não esquecer esse fato, Grey. Não se considere intocável porque encontrou algum sucesso.
Ponderando isso, fiz uma série de movimentos rápidos para encerrar o jogo. Embora eu tivesse certeza de que poderia ter terminado com uma vitória verdadeira, levando minha sentinela até a fortaleza de Corbett, meu gosto e paciência para o jogo haviam desaparecido. Além disso, duvidava que ganhasse mais alguma coisa de Corbett ou de sua família naquela noite.
Quando meu lançador finalmente matou sua sentinela, ele deu um suspiro resignado e ergueu o copo para mim.
— Diga-me, Grey, geralmente é depois que você a derrota que Caera o lembra das aulas particulares dela neste jogo?
Eu deixei um sorriso genuíno aparecer através da calma estoica que eu mantive durante a maior parte da nossa conversa.
— Como você adivinhou?
Assim que voltamos ao térreo, Caera me pegou pelo braço.
— Grey, temo que realmente devêssemos ir. Ainda há muito a fazer na preparação para o Victoriad.
— Você está certa, claro. O Lorde Denoir e eu…
— Por favor, me chame de Corbett.
Disse ele, seu tom mudando visivelmente para algo que se aproximava de amizade. Me deu um tapinha no ombro e disse:
— Gostei do nosso jogo, embora tenha medo de que você tenha me distraído com uma conversa, intencionalmente, eu imagino.
Disse ele, lançando-me um olhar penetrante.
— Você me deve uma revanche, o que, é claro, significa que você e Caera terão que voltar para jantar em uma data posterior.
Caera tinha um olhar descarado de surpresa direcionado a seu pai adotivo e até Lenora pareceu surpreendida por um momento antes de deslizar o braço ao redor do Lorde.
— Eu até diria que você deve isso a nós por nos fazer esperar tanto tempo!
Lenora e Corbett riram baixinho.
Me curvei novamente, um pouco mais profundamente do que antes.
— Obrigado, tanto pela boa comida quanto pela conversa estimulante.
Caera olhou para mim como se um terceiro olho tivesse acabado de crescer na minha testa.
— Ok, nós vamos indo, então… adeus.
Com isso, os Denoirs se despediram de nós, e Lady Lenora abriu a porta pra nós, ao invés de Nessa. Caera deu uma despedida superficial antes de nos conduzir rapidamente para fora da propriedade e para a rua, onde poderíamos fazer sinal para uma carruagem nos levar de volta ao terreno da academia.
— O que em nome do Vritra, você fez com Corbett?
Disse, quando estávamos bem longe das portas.
— O quê?
Perguntei inocentemente, minha mente já organizando tudo que Corbett tinha me contado.
— Eu juro, você é como uma linda e misteriosa cebola.
Disse ironicamente.
— Cada desafio que enfrentamos juntos revela mais uma camada sua. Como exatamente que um auto proclamado ninguém, vindo da periferia de Sehz-Clar, aprende a se socializar com altos sangues?
Antes que eu pudesse responder, continuou.
— Não, esquece. Sinceramente, não quero saber.
Ri baixinho enquanto jogava sobre os ombros a capa branca que Kayden tinha me dado.
— Tive motivos para aprender muitas habilidades. Uma sala de jantar pode ser tão mortal quanto qualquer campo de batalha.
— E sua língua é afiada como uma espada.
Zombou quando uma carruagem puxada por um lagarto laranja brilhante parou para nós.
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Um vazio escuro.
Nada além disso.
O que eu não estou entendendo? Me perguntei enquanto nadava pelo reino da pedra angular. Tem algo aqui. Eu senti isso.
O verdadeiro problema era o contexto. Os djinn transmitiam seu conhecimento de uma forma esotérica, projetada para despertar compreensão e não para permitir a memorização ou a construção de uma habilidade. Eles provavelmente tinham uma compreensão instintiva de seus próprios métodos de ensino, da mesma forma que eu fui capaz de ler enciclopédias e tomos sobre magia quando nasci neste mundo. O método Dicathiano de ensino e aprendizagem operava nos mesmos princípios da Terra. Mas as pedras angulares dos djinn não.
E ainda assim havia compreendido uma parte do Requiem de Aroa desde a primeira pedra angular.
Uma ideia me ocorreu, fazendo meu coração disparar. Me retirei da pedra angular e segurei o cubo preto. Se estava danificado de alguma forma, talvez…
A runa dourada ganhou vida nas minhas costas, brilhando através da minha camisa, partículas de ametista de energia dançaram e saltaram ao longo do meu braço, fluindo para a pedra angular até que enxamearam sobre ela como vaga-lumes roxos.
Mas não pareciam estar fazendo nada.
Não havia rachaduras para entrar, nenhum dano para consertar. Mais frustrante ainda, não sabia se a runa divina não estava funcionando porque não havia nada para consertar, ou porque ela não poderia consertar o dano, igual o portal de saída na zona da Three Steps.
Amaldiçoando meu entendimento incompleto da runa, a liberei e as partículas piscaram e desapareceram.
Vários minutos depois, ainda estava sentado lá olhando para o cubo preto quando a porta do meu escritório se abriu de repente e Enola marchou para dentro e se sentou na cadeira do outro lado da minha mesa.
— Claro, pode entrar.
Disse, colocando o cubo pesado na minha mesa e olhando para a jovem precoce. Ela estava olhando para suas mãos, que estavam apertadas juntas em seu colo. Minha voz suavizou um pouco quando continuei.
— Você não apareceu na aula depois da concessão. Você recebeu uma runa tão poderosa que te deu o direito de faltar o resto das aulas?
Ela esfregou o rosto, em seguida, passou os dedos pelos cabelos curtos e dourados.
— Não. Minha matrona de sangue me chamou de volta para nossa propriedade por alguns dias.
Disse rigidamente.
— Para discutir o meu futuro.
Quando me tornei um conselheiro de adolescentes? Quase disse as palavras em voz alta, mas mordi minha língua.
— Recebi uma regalia.
Disse, sua voz rouca com emoção contida.
— A única na academia a receber uma nesta cerimônia, mesmo entre os alunos mais velhos.
Soltei um assobio baixo.
— Isso é sério.
Com um bufo, Enola se levantou repentinamente, quase derrubando a cadeira, então estremeceu e a colocou de volta no lugar. Ela ficou atrás da cadeira, as mãos apertando o encosto.
— Meu sangue já arranjou um posto para mim em Dicathen depois desse semestre. Eu deveria ter mais dois anos e meio de academia, mas eles estão me movendo como uma peça em um tabuleiro de Disputa dos Soberanos, usando minha regalia para elevar o status do nosso sangue.
— E colocá-la numa posição central caso o conflito com os Asura se intensifique ainda mais.
Indiquei cuidadosamente. Pensei em dizer mais, dar-lhe um conselho ou uma palavra de conforto, mas não consegui consolá-la; ela estava sendo enviada através do mar para ajudar a manter meus amigos e familiares sob controle.
Enola ergueu o queixo com orgulho.
— Não tenho medo de ir nem nada. Sou uma guerreira. Mas…
Ela engoliu em seco.
— Será que ainda é uma guerra, se estamos lutando contra Asuras? Parece mais um extermínio para mim. Com regalia ou não, como soldados podem fazer alguma diferença em tal conflito?
Eles não podem, eu queria dizer. Aldir havia queimado uma nação inteira como se Elenoir havia sido construído na cabeça de um palito de fósforo.
— Meu…
Ela fez uma pausa e deu a volta ao redor da cadeira, sentando-se novamente.
— Meu irmão foi morto em Dicathen. Nos primeiros dias, em um de nossos primeiros ataques. A mesma batalha em que Jagrette, a retentora Truaciana, foi morta.
Ela sorriu amargamente, olhando para além de mim em vez de encontrar meus olhos.
— Eu me lembro porque eles anunciaram isso como se morrer ao lado de uma retentora fosse algum tipo de honra.
Eu não pude evitar, mas estremeci. Eu tinha lutado e matado a bruxa venenosa Jagrette em um pântano perto de Slore e uma percepção repentina me atingiu. Enquanto eu estava zangado, preocupado com o que as famílias desses alunos haviam feito, nem sequer parei para considerar o fato de que eu poderia ter matado seus parentes em uma batalha.
— Você deve odiar os Dicateanos
Disse, me sentindo um pouco culpado por enganá-la.
— Não.
Ela disse imediatamente, sua resposta firme.
— Meu irmão morreu em uma batalha honesta. Guerra é guerra. Eles eram nossos oponentes. Embora eu sinta saudades dele, meu irmão teve sorte de ter uma guerra para lutar.
Enola ficou em silêncio, e eu sabia o que ela estava pensando.
— Mas lutar contra Asuras… — insisti.
— Eu quero ser um soldado, ou talvez uma ascendente poderosa.
Ela cruzou os braços e recostou-se na cadeira.
— Mas eu não quero ser jogada fora ou queimada como lenha em uma batalha entre seres maiores.
Seus olhos se fixaram nos meus, como se estivesse me desafiando a discutir com ela.
Apoiando meus cotovelos na mesa, suspirei. Meu olhar vagou até a pedra angular, e Enola fez o mesmo.
— Qualquer soldado pode mudar o curso de uma batalha. — declarei.
— O guerreiro mais forte pode cair inesperadamente, enquanto o mais fraco e covarde pode cambalear até a vitória.
Peguei a pedra angular e virei-a na mão, lembrando das palavras da projeção da djinn.
— Mas o seu caminho é o seu, e só você pode percorrê-lo. Você pode escolher desistir de sua vida, se necessário, mas ninguém pode jogar sua vida fora como se ela não significasse nada.
Enola ficou tensa, sua mandíbula visivelmente apertada enquanto seus olhos me perfuravam.
— Você realmente acredita nisso?
Sorri e bati levemente o cubo contra a mesa, quebrando a tensão.
— Com cada fibra do meu ser.
Ela me deu um único aceno de cabeça afiado e olhou novamente para a pedra angular.
— O que é isso?
— Ah, essa coisa velha?
Disse, lançando-a no ar e pegando novamente.
— É apenas uma ferramenta para me ajudar a meditar e canalizar meu… minha mana.
Enquanto tropeçava na palavra, quase dizendo éter, minha mente conectou dois pontos que eu não havia considerado anteriormente. As duas vezes que vi o movimento difuso dentro da pedra angular, foi quando alguém se aproximou de mim, interrompendo minha meditação. Eu tinha pensado que era apenas azar, com as interrupções chegando exatamente na hora errada, mas e se…
— Aqui, deixe-me mostrar como funciona.
Disse rapidamente, canalizando o éter para a pedra angular.
Minha mente correu para a escuridão. Estava cheia de movimento. Ao meu redor, fluxos sutis de tinta preta se contorciam e corriam como óleo sobre a água.
A pedra angular reagia à presença de mana. O que explicava por que eu não conseguia sentir nada dentro.
Como um cego tentando navegar em um labirinto, pensei animado com uma motivação repentina diante de tal desafio.
Eu encontraria o entendimento armazenado dentro dela e ficaria um passo mais perto de descobrir o édito do Destino.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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