De cada lado do homem barbudo e bem vestido, os guardas da Associação de Ascendentes estavam me olhando com curiosidade, e os dois Conjuradores na fila atrás de mim murmuraram algo sobre “o alto mago”.
Diversão, e algo a mais, algo faminto, brilhou nos olhos do homem quando acenou com a cabeça respeitosamente e gesticulou para que entrassem no prédio. Virando nos calcanhares, se moveu pra longe com a passada leve e confiante de um guerreiro, me deixando na pequena câmara de entrada com guardas ao redor.
Embora a entrada não fosse nada excepcional, a visão do amplo salão depois dela era completamente diferente. Tinha achado que o prédio da Associação de Ascendentes de Aramoor era impressionante, mas esse lugar tinha mais em comum com um templo ou palácio do que um simples salão de guilda.
As paredes, teto, e chão eram de pedra branca, mais brilhante e mais limpa que mármore, e colunas esculpidas marcavam a sala a cada sete metros. Haviam runas douradas embutidas no chão formando caminhos que levavam de uma seção do salão até outra, também podia ver as formas de bestas dispostas em jade em vários lugares.
As paredes continham dúzias de tapeçarias penduradas, que ilustravam ascendentes dentro das Relictombs batalhando contra bestas etéricas. Uma tapeçaria grande me chamou a atenção; ela mostrava três homens em armadura dourada cercados por uma horda de caralians, as criaturas com garras e aspecto de bebê, contra as quais lutei na zona de convergência.
Segui o homem através do salão em silêncio enquanto passávamos rapidamente pelas tapeçarias e decoração. Meu olhar se demorou nas obras de arte extravagantes, imaginando se essas representações eram contos comuns que qualquer Alacryano reconheceria.
Depois de passar por uma série de escrivaninhas e áreas de descanso confortáveis, nós subimos uma escadaria estreita escondida em um canto do salão principal. Ela nos trouxe até uma varanda cercada por corrimões de ferro preto, e que levava a um escritório com vista para o ambiente no andar de baixo.
Apesar da falta de conversação durante nosso trajeto, estava claro que ele estava confortável com o silêncio, ou talvez com sua posição. A maneira com que se esgueirou para seu assento, que ficava atrás de uma mesa enorme esculpida em ébano com filigrana em ouro, sugeria a segunda opção. Indicou uma cadeira macia na frente da mesa, me sentei, sem tirar os olhos dele.
— Então, aqui está você. — O homem deu um sorriso, mas eu conseguia ver o lobo cinzento rosnando atrás da máscara afável.
— Completei minha ascensão preliminar. — eu disse, profissionalmente. — Preciso de meu novo emblema.
— Ah, eu já o providenciei. Meu assistente vai chegar a qualquer momento. — Seu sorriso se transformou em algo mais astuto. — E acho que você também deve ter um artefato de armazenamento dimensional cheio de espólios pra vender, certo? — Seus olhos foram diretamente para o anel no meu dedo. — Você foi esperto, escondendo isso dos Granbehls.
Me ajeitei na cadeira, meu lábio se curvando em zombaria.
— Essa questão está resolvida. — disse friamente.
Ele levantou suas mãos inocentemente.
— Não me entenda mal, Ascendente Grey. Aquele caso inteiro foi ruim para negócios, nossos negócios. — Seu sorriso adquiriu aquela qualidade astuta novamente. — Aquele pequeno sangue nomeado não tem nenhum poder aqui no Domínio Central, de qualquer maneira. Eu estava falando muito sério: você se mostrou ser bastante inteligente.
— Então, como você conseguiu isso?
Deixei a questão pairar no ar enquanto considerava minha resposta. Não ajudava que eu não tinha certeza de qual “isso” ele estava falando.
Não querendo entregar nada sobre mim, eu finalmente disse:
— Não tenho certeza do que você quer dizer.
Ele tirou seu pé da mesa e se inclinou sobre ela, me olhando avidamente.
— Como você assegurou o posto na Academia Central? Um ascendente sem nome, saindo fresquinho de sua preliminar… não tem precedentes.
Eu soltei um suspiro.
— Complicações surgem frequentemente pelo excesso de conhecimento.
Era a vez do homem deixar minhas palavras no ar por um momento antes que se inclinasse pra trás e risse, uma gargalhada alegre e solta.
— Essa pode ser a maneira mais prazerosa que alguém já me ameaçou. — sorriu, apontando seus dedos pra mim. — Eu gostei de você, Grey! Puta merda, eu gostei de você.
— Você conseguiu atrair outro esquisito. — Regis riu.
Ignorando meu companheiro, observei a mesa para ver se o homem na minha frente tinha uma placa de identificação em algum lugar.
— Temo que eu não—
— Pelo nome dos Vritra, onde estão meus modos? Meu nome é Sulla do Sangue Nomeado Drusus, mas todos por aqui me chamam de Sul. Sou o alto mago deste pequeno estabelecimento. — O mago gesticulou para o salão abaixo.
— Você dá boas-vindas a todos os novos ascendentes assim, Sulla? — perguntei com dúvidas.
— Não. — disse, recostando-se em sua cadeira. — Certamente não. Mas também, não são muitos os ascendentes que recebem um emblema de diretor depois de uma única ascensão, ou se tornam professores na mais prestigiosa academia de Alacrya. — não achei que era possível, mas seu sorriso ficou ainda mais afiado.
— Eu queria ver você por mim mesmo.
Cerrei meus dentes. Esse era exatamente o tipo de atenção que queria evitar.
— Talvez você não devesse sempre fazer um espetáculo de si próprio então. — Regis comentou zombando.
— Gostaria de pegar meu emblema, trocar meus espólios, e pegar meu rumo. — disse com finalidade, deixando claro que eu gostaria de encerrar essa interação. — Ainda preciso fazer o check-in nos Escritórios de Administração Estudantil e me acomodar. Foi uma longa jornada até aqui.
— Ah, é claro. — Sulla respondeu profissionalmente, mas o desleixo em seus ombros e a maneira que se inclinou para trás sugeriram que estava levemente desconcertado. — Novamente, eu deixei meu entusiasmo se sobrepor ao meu bom senso. Mas prometo que você vai estar de volta em breve, Professor Grey. Vou me certificar que sua viagem não será desperdiçada.
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Depois de vender a maior parte do tesouro que peguei da tribo Bico de Lança, escapei do prédio da Associação de Ascendentes e as perguntas de sondagem do alto mago, depois prossegui direto para o campus da Academia Central, ansioso para conhecer meu contato e encontrar meus aposentos, os quais esperava que fossem quietos e livres de quaisquer outros olhos curiosos.
Os portões de metal negro se abriram por conta própria quando me aproximei. No outro lado, o ambiente apertado das ruas da cidade foi deixado para trás em troca de calçadas largas delimitadas por cercas curtas.
Uma parede de cinco metros de pedra branca envolvia o campus, cercando-o e o separando da cidade. Os portões se abriam para uma praça semicircular, da qual três caminhos se ramificavam em direção ao grupo de prédios escolares.
Dezenas de jovens em uniformes preto e azul da Academia Central estavam andando ao redor da praça, alguns conversando animadamente enquanto outros estavam sentados silenciosamente em bancos ou nas terras gramadas entre as cercas. Alguns me deram olhares curiosos, percebi que Briar estava certa: Eu me destacava em minhas roupas simples de viagem, ainda mais do que se eu tivesse vindo à academia em um traje de batalha completo.
Depois da praça, opostos aos portões, ficavam os Escritórios de Administração Estudantil, um complexo semelhante a um castelo com uma dúzia de picos e torres que pareciam pairar sobre a entrada do campus. O caminho central da praça ia direto para esse prédio, sob um túnel arqueado iluminado por esferas brilhantes que estavam penduradas no teto.
Uma mulher em trajes de batalha apertados estava de pé na porta do túnel, seus olhos olhando ao redor como se estivesse procurando alguém.
Conforme me aproximava, indo em direção ao caminho de entrada para os escritórios, os olhos âmbar dela pararam em mim, correndo de cima a baixo várias vezes. Seu cabelo loiro caía em ondas sobre os ombros, saltando de uma forma que parecia desafiar a gravidade quando pulou no lugar antes de dar alguns passos em minha direção.
— O cabelo dela não é a única coisa que desafia a gravidade… — Regis disse sugestivamente. — Se você morrer, ela pode ser minha nova mestre?
— Por que esperar? — respondi, empurrando com meu éter como se eu quisesse expulsar o lobo das sombras de meu corpo.
— Hey! — Regis lamentou. — Não precisa ficar nervosinho.
A mulher fez uma reverência rasa quando nos aproximamos.
— Roupas simples, olhos lindos, jovem demais… você só pode ser nosso novo professor de Táticas de Aprimoramento Corpo a Corpo de nível um, certo? — sorriu para mim e pulou nas pontas dos pés. — Eu sou Abby do Sangue Redcliff. Ensino em alguns cursos de nível superior de especialização em vento para Conjuradores.
— Hmm, olá. — disse, pego com a guarda baixa pela sua precocidade. — Eu não estava esperando—
— Um comitê de boas-vindas? — disse com uma risada feliz. — Bom, um cara tímido como você pode não querer ouvir isso, mas você já é praticamente uma celebridade por aqui.
Maldito seja, Alaric, pensei de maneira rabugenta.
— De qualquer forma, só queria realmente ser a primeira a te conhecer, depois de tudo que eu ouvi. — me deu um sorriso cativante, enrolando uma mecha de seu cabelo dourado ao redor de seu dedo. — Você realmente quebrou as correntes de contenção em seu julgamento?
— Me perdoe, mas estou atrasado para encontrar meu contato na administração. — disse rigidamente, desviando dela e indo em direção à porta.
Uma mão surpreendentemente forte agarrou meu cotovelo.
— Pode ser meio opressor aqui no começo. Ficaria feliz de te mostrar como as coisas funcionam, Grey. É só me avisar, ok?
Com uma piscadela, minha companheira professora me soltou e se virou.
Estava distraído conforme caminhei em direção aos escritórios da administração e me apresentei para um dos jovens balconistas na recepção. Ele me disse para ir ao escritório do quarto andar onde o contato de Alaric poderia ser encontrado, me dando um sorriso perplexo quando admiti que precisava ouvir as instruções novamente.
— Tudo certo, chefe? Por que você tá tão abalado?
— Primeiro o chefe da Associação de Ascendentes, depois essa outra professora… Nós estamos ganhando atenção demais, Regis.
— Você está pensando em vazar disso tudo. — Não era realmente uma pergunta já que ele podia ler minha mente.
— Não… Sim… Eu não sei. — admiti. — Não gosto de me sentir aprisionado.
Regis soltou uma risada em minha mente.
— Você acabou de ficar três semanas em uma jaula.
— Pedra e barras não estavam me segurando. Escolhi ficar, deixar aquilo rolar. Estava tentando evitar atrair atenção demais.
— E como isso funcionou pra você?
— Quase tão bem quanto o pedaço de acclorite que Wren Kain me deu. — respondi com um sorriso, subindo três degraus de uma vez na escada para o 4° piso.
— Me sinto pessoalmente atacado. Quer saber de uma coisa? Eu vou dar um cochilo. Me acorde quando você estiver se sentindo menos venenoso, beleza, princesa?
Apesar de minha conversa com Regis, ou talvez por causa dela, me senti melhor no momento que estava batendo na porta do escritório do homem chamado Edmon do Sangue Scriven, um escriturário intermediário dentro do escritório da administração.
Uma voz esganiçada e nervosa me convidou para o escritório, que não pareceria deslocada em um dos velhos filmes de detetive do meu mundo anterior. O artefato de iluminação suspenso no teto estava trêmulo e sombrio, lançando uma névoa cinzenta sobre o pequeno escritório, incluindo uma mesa simples cheia de pergaminhos e rolos com o homem curvado atrás dela.
— Feche a porta. — disse impacientemente, seus olhos marejados me seguindo conforme fechava a porta antes de sentar na cadeira gasta do outro lado dele.
— Edmon, eu—
— Eu sei muito bem quem você é. — o homem magro e pálido retrucou limpando o nariz com a manga de seu manto marrom. — O que que aquele filho-de-um-verme-escondido pensou que estava fazendo, te forçando a entrar aqui, juro aos Vritra que eu não tenho ideia… — O homem resmungou por baixo de sua respiração, como se não soubesse que eu ainda poderia ouvi-lo.
Nós nos encaramos sobre a superfície de sua mesa por um momento antes que eu soltasse um longo suspiro.
— O que eu preciso saber, Edmon?
Ele fungou e enxugou o nariz novamente enquanto mexia em alguns dos pergaminhos em sua mesa.
— Uma vez que você assinar seu contrato, você pode pegar seu horário e currículo, e seguir seu caminho. Depois que você deixar esse escritório, eu sinceramente espero não te ver novamente até o final de seu emprego aqui.
Baseado na hostilidade clara do homem, só poderia presumir que seu acordo com Alaric não havia sido completamente justo.
Edmon empurrou uma pilha de pergaminhos para fora do caminho e desenrolou um documento explicando os detalhes do meu emprego na Academia Central no jargão jurídico. Fiquei surpreso ao notar o pagamento, que não havia nem cruzado minha mente.
— No caso de você não entender alguma linha de seu contrato… — Edmon encolheu seus ombros curvados. — Não é meu trabalho explicar isso tudo para você.
Pegando a caneta de pena oferecida, escrevi meu nome falso, minha mão traçando automaticamente as mesmas letras que eu havia usado para assinar documentos oficiais como um rei. Edmon puxou o contrato no instante em que terminei e ele o substituiu por um único pedaço plano de pergaminho e dois longos pergaminhos amarrados com anéis de ferro.
— Isso. — apontou para o pergaminho — Tem seu horário nele, enquanto esses, — acenou para os outros dois. — são seu currículo para Táticas de Aprimoramento Corpo-A-Corpo e uma lista das regras da Academia. Leia-os bem, bem minuciosamente, porque eu juro pelos Vritra, eu não vou ser preso por causa do seu tio criminoso…
— Ouça. — eu disse, começando a perder minha paciência com as observações sarcásticas do homem. — Eu não sei que tipo de acordo você e—
— Acordo? — chiou, seus olhos arregalados. — Aquele bêbado malvado me intimidou e me forçou a contratar seu sobrinho wogart, e você chama isso de um contrato? Só porque ele pensa que você vale o risco, não significa que eu acho. Agora saia da porra do meu escritório, e não volte, ou eu—
A boca do homem se fechou rápido quando minha intenção etérica tomou conta dele, empurrando-o de volta em sua cadeira. Seus olhos se esbugalharam, que nem os de um inseto, e seus dedos arranharam a superfície da mesa, rasgando vários dos pergaminhos.
— Eu fico igualmente feliz quanto você em fingir que essa conversa não aconteceu. — disse, minha voz quieta e sem emoções. — Mas eu não vou ser ameaçado. — Para enfatizar meu ponto, fortaleci minha aura, assistindo enquanto a respiração do homem pálido parava pela pressão. — Eu não sei por quê você está com medo do Alaric, mas recomendo ter esses sentimentos por mim também… pelo menos.
Agarrando os papeis de sua mesa, liberei minha intenção etérica e saí do escritório dele.
— O que eu perdi? — Regis perguntou, a projeção mental de sua voz prolongada como se estivesse bocejando.
— Só fazendo mais amigos. — brinquei. — Você me conhece.
Meu companheiro bufou, e eu senti sua consciência indo para longe novamente conforme foi “dormir”, o que, pra ele, era mais uma atitude meditativa enquanto absorvia éter do meu núcleo.
De volta ao andar térreo, o balconista da recepção olhou pra cima quando eu pisei no salão de entrada.
— Terminou tudo aqui na administração? Posso arrumar alguém pra te dar um tour do campus ou te apresentar ao resto do corpo docente?
— Não, eu tive uma longa jornada aqui e eu apenas gostaria de ver meu quarto. — respondi, usando mesma desculpa que eu havia dado ao alto mago na Associação de Ascendentes. — Alguém pode me mostrar o caminho?
O jovem sorriu em compreensão.
— Com certeza, Professor Grey. Vamos acomodá-lo. Adelaide?
— Hm? — Uma jovem distraída olhou pra cima, tirando seu nariz de um pergaminho em outra mesa.
— Você pode vigiar a recepção enquanto eu mostro ao Professor Grey seus quartos?
— Hm. — disse em afirmação enquanto seus olhos saltavam de volta à sua leitura.
Balançando sua cabeça e me dando um olhar de desgosto, o jovem me levou para fora do prédio e virou à direita. Nós passamos entre duas fileiras de cercas que separavam áreas grandes e gramadas onde estudantes estavam descansando e conversando, lendo pergaminhos e lutando por aí.
— As aulas não começaram ainda, obviamente, mas espera-se que os estudantes cheguem cedo, e a administração mantém as coisas mais ou menos abertas para que todos que estão voltando do recesso possam se divertir por um momento antes do trabalho começar.
Meu guia continuava a tagarelar, aparentemente sentindo a necessidade de me dar o tour apesar de minha insistência de não ser necessário. Me disse o nome dos prédios, jardins e praças, assim como a história das famílias as quais eles haviam sido nomeados.
Embora tivesse perguntas, não estava confortável em fazê-las, e, em vez disso, mantive o ar de cansado, com uma indiferença levemente entediada. Sem necessidade de dar ao jovem falante alguma razão para suspeitar de mim.
Foi apenas quando estávamos passando por um prédio sombrio, que parecia ameaçadoramente pairar sobre o caminho, que eu vi algo que realmente me interessou.
— Aquilo é um portal? — perguntei, olhado para o arco de pedra esculpida de runas. Parecia exatamente com os portais de teleporte em Dicathen.
— Com certeza! — meu guia falou sarcasticamente. — Como eu estava prestes a falar, a Capela… — apontou com seu dedão para o prédio em pedra negra taciturno. — foi um presente do próprio Alto Soberano, e abriga a coleção da Academia Central de relíquias e artefatos. Foi colocada aqui exatamente porque o Alto Soberano queria que vigiasse e guardasse o portal das Relictombs.
Não havia nenhum portal cintilante de energia pairando no ar dentro da moldura no momento, mas podia ver uma série familiar de controles próximos a ele.
— Esse portal pode ser programado para ir em qualquer lugar, ou apenas as Relictombs? — perguntei, fingindo uma leve curiosidade enquanto pensava em Dicathen e minha família.
— Ah, na verdade, isso é o que é interessante. — meu guia disse. — Aparentemente, há muito, muito tempo atrás, esses tipos de portais estavam por todos os lugares, conectando toda a Alacrya. Mas por conta de alguma guerra antiga, a maioria deles foi destruídos ou desativados. A Academia Central foi construída nesse local, que costumava ser muito longe do centro da cidade de Cargidan, exatamente porque esse portal ainda existia.
Esperei.
O jovem atendente me deu um sorrisinho por um segundo antes de se sobressaltar.
— Ah, certo. Qualquer que tenha sido a mágica que fazia o portal funcionar no passado já não funcionava mais, mas os Soberanos o modificaram para que fosse usado como um tempus warp que leva diretamente ao segundo nível das Relictombs. Você precisa de um token para ativá-lo, mas o seu deve estar esperando nos seus aposentos.
Que pena, pensei. Mas mesmo que o portal ainda operasse normalmente, talvez não alcançasse Dicathen, e conectá-lo até minha casa seria muito perigoso de qualquer forma.
— Talvez você possa usar a… coisinha de Aroa para consertá-lo? — Regis sugeriu. — Como você fez com o portal dentro das Relictombs.
Se nós algum dia precisarmos deixar Alacrya sem planos de voltar, vou tentar. — respondi. — Mas por agora, preciso de acesso às Relictombs para obter controle sobre o aspecto do Destino.
— Então a academia foi construída ao redor dessa coisa? — perguntei enquanto continuávamos a andar.
— Isso mesmo. A Academia Central costumava ser uma cidade em si mesma. Ainda opera separadamente de Cargidan, e o diretor responde diretamente à Taegrin Caelum. — respondeu, com ar de importante. — Tenho certeza que você já sabe disso, mas os Soberanos valorizam muito a educação e a melhoria de jovens soldados e ascendentes, que é o motivo pelo qual escolas como a Academia Central tenham seu próprio lugar na política, fora do governo padrão e da estrutura dos sangues.
Relaxei quando percebi que esse jovem me diria qualquer coisa que eu quisesse saber enquanto continuava explicando alegremente o que deveriam ser fatos básicos e bem conhecidos sobre a academia e seu papel na sociedade Alacryana. Suprimindo um esgar, imaginei como esse fluxo constante de informações seria irritante para um verdadeiro professor Alacryano.
Para mim, no entanto, sua conversa infindável fazia dele o guia perfeito, e me permitia sondar informações sem me preocupar muito em cometer algum deslize.
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Finalmente, quase uma hora depois, me arrastei até o sofá estofado no meu aposento particular, num prédio chamado Windcrest Hall. Aparentemente tinha sido nomeado em agradecimento a alguma família pelas suas contribuições à academia, mas já tinha filtrado a maior parte da improvisada lição de história que eu havia recebido do meu jovem guia tagarela.
A suíte de três quartos era significantemente melhor do que esperava. Aparentemente a Academia Central tratava até mesmo seus novos professores com as melhores acomodações. Não era grande, mas a área de estar continha um cristal de projeção, como aquele que eu tinha visto fora da loja de artefatos, assim como uma pequena mesa feita especificamente para o jogo que Caera tinha me ensinado a jogar nas Relictombs.
Havia uma estante de livros vazia e uma pequena mesa de escrita, assim como o sofá no qual estava sentado, e uma grande janela de sacada que dava vista pro campus. Um quarto confortável e um banho luxuoso eram acessíveis da sala de estar.
Tinha ficado surpreso que não havia uma cozinha ou alguma forma de preparar refeições dentro dos meus aposentos, mas o guia tinha me garantido de forma risonha que eu podia ter comida ou qualquer livro da biblioteca entregue no meu quarto.
— Não é tão ruim. — Regis disse de onde ele estava aconchegado no chão. — Teria sido legal se eles tivessem nos dado uma segunda cama para você usar, mas acho que você vai ficar de boa no sofá, certo?
Eu soltei um suspiro cansado. Apesar do fato de que era ainda no começo da tarde, minha jornada desde Sehz-Clar parecia ter levado dias. Podia lutar por dias, até mesmo semanas sem parar, mas lidar com todo esse drama e subterfúgio tinha me deixado exausto.
Era difícil acreditar que me encontrava de alguma forma de volta à academia, novamente como um professor. Mas dessa vez, havia muito mais coisa em jogo.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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