POV ARTHUR LEYWIN
Forcei minha mão a relaxar em torno da relíquia, com medo de que ela se espatifasse dentro do meu punho cerrado, retirei minha consciência. Meus olhos se abriram para revelar a pequena cela na mansão dos Granbehls enquanto um largo sorriso se espalhava pelo meu rosto.
Ellie estava viva!
Coloquei a mão sobre a boca com medo de cair na gargalhada, interrompida por um suspiro alto dentro da minha cabeça.
— O quê?
— Nada. — disse Regis com um encolher de ombros. — Só sinto pena do pobre coitado que tentar realmente se casar com sua irmãzinha no futuro.
Sufoquei outra risada, na verdade achando o senso de humor de Regis divertido pela primeira vez, o que pegou até meu companheiro de surpresa.
— Obrigado. — sussurrei para a relíquia enquanto a segurava contra minha testa. Repeti isso de novo e de novo enquanto o alívio continuava a me lavar como um bálsamo calmante.
A tensão e o medo que agarraram meu peito como uma garra de ferro se afrouxaram e fui capaz de respirar plena e profundamente de novo agora que sabia que minha irmã estava bem.
Ainda era frustrante tentar juntar as peças da conversa que testemunhei na minha cabeça, mas o importante era que Ellie estava segura.
Isso foi o suficiente por agora.
Eles ainda estavam escondidos no santuário subterrâneo, pelo menos isso estava claro pela arquitetura do prédio enquanto Ellie contava o que havia acontecido com ela em Elenoir. A relíquia não me permitiu ouvir a conversa, mas continuei lendo seus lábios o melhor que pude.
Uma mistura de emoções borbulhou quando percebi que minha irmãzinha havia lutado sozinha com um mago Alacryano totalmente treinado. Estava com raiva dela, com medo e preocupado por ela e ainda, orgulhoso da guerreira que se tornou.
Minhas sobrancelhas franziram considerando a descrição de Ellie de seu tempo no acampamento Alacryano.
Como ela pode ser tão imprudente a ponto de fingir ser de uma raça de pessoas sobre as quais ela nada sabe e se infiltrar em sua base de operações? Pensei com um suspiro.
— Você está sendo deliberado aqui ou está apenas cego para a hipocrisia? — Regis perguntou.
— Cale a boca. — rebati, ignorando a sensação quase tangível de Regis revirando os olhos dentro de mim.
Já era ruim o suficiente que o nome de Elijah tivesse aparecido dos lábios de Ellie. A memória daquela última batalha com meu amigo reencarnado e a Foice, Cadell, estava confusa, mas sua animosidade beirando o ódio por mim era clara, e me deixou doente sabendo que tinha estado tão perto de minha irmã.
Mas não foi até que Virion começasse a falar que as coisas ficaram confusas. Mesmo que eu não tenha conseguido entender cada palavra que ele disse, seu relato do ataque foi claramente diferente do que eu tinha testemunhado.
— Huh. Bem, eu acho que você não pode culpar um cara por querer negar que não é apenas um clã Asura que quer todos vocês mortos. — Regis interrompeu.
— Não acho que era tão simples quanto estar em negação. Ele parecia tão seguro por algum motivo.
— Então talvez ele saiba e só queira a atenção de seus soldados em um inimigo que eles possam realmente lutar. — meu companheiro sugeriu. — Uma tática temporária, mas talvez necessária.
— Talvez. — respondi, mas não estava convencido. Rolei para a posição sentada e descansei meus cotovelos nos joelhos. Ele poderia ter entendido mal o aviso de Rinia, ou talvez ele apenas esteja errado. Não tenho certeza se teria acreditado também, se não tivesse visto Aldir fazer isso.
A segurança e a saúde de Ellie tiraram um peso enorme dos meus ombros, mas também me senti agridoce. Um país inteiro, que eu visitei várias vezes, foi destruído completamente.
Quantos morreram no ataque dos Asuras? Quantos elfos não puderam ser evacuados durante o ataque inicial dos Alacryanos?
E quanto a Tessia?
De pé, comecei a andar de um lado para o outro na minúscula cela.
A batalha de Tess contra Lorde Aldir e Windsom, lado a lado com Nico, se repetiu em minha mente. Imaginei a maneira como ela lutou, como ela se moveu tão desajeitadamente, como se ela estivesse tendo problemas para controlar seu próprio corpo, e como Nico a defendeu, colocando-se entre ela e os ataques de Windsom.
E aquele olhar que compartilharam, no final…
Sentei-me novamente e rolei a relíquia distraidamente entre meus dedos.
— Embora eu normalmente encoraje esse tipo de momento sentimental para uma lata como você, não acho que Nico dando em cima da sua garota deva ser—
— Não é tão simples assim. — interrompi, a minha mandíbula cerrada.
Nos últimos momentos antes de Sylvie se sacrificar por mim, a memória que eu estava enterrando tão desesperadamente, ressurgiu:
— Você disse que pegar Tess não vai trazer Cecilia de volta, certo? Bem, e se for? — Nico tinha me perguntado.
Tess era o receptáculo de Cecilia. Eles queriam reencarnar Cecilia no corpo de Tessia. Nico me disse isso.
Estreitei meus olhos, focando em uma rachadura específica no teto. Respirando fundo, me forcei a me acalmar. Precisava dar um passo para trás mentalmente para que pudesse pensar com clareza.
Sabia que minha própria reencarnação tinha sido de alguma forma o catalisador para Agrona descobrir como trazer Nico a este mundo. Nico amou Cecilia e dedicou toda a sua vida a ela… e eu a matei bem na frente dele.
Assistindo isso acontecer, vivendo com aquela raiva, medo e culpa enquanto me tornava rei e me desligava da minha antiga vida… não poderia culpar o ressentimento de Nico.
Ou Agrona fez algo para deixá-lo assim?
Culpar Agrona pelo estado atual de Nico era fácil, mas também fui eu tentando transferir a culpa. Provavelmente, o Vritra só poderia manipulá-lo por causa de nossos laços em nossa vida anterior.
Agora, Nico queria Cecilia de volta…, mas tinha que haver mais em toda essa coisa de reencarnação do que apenas isso. Agrona era calculista e manipulador, eu não conseguia imaginá-lo sem fazer nada que não fosse um benefício para si mesmo ou para seu objetivo. Ele não teria prometido reencarnar Cecilia apenas para fazer Nico feliz.
Claro, ele pretende usá-la. Assim como Vera me usou. Tudo que Cecilia queria era paz, por isso ela tinha…
Balancei minha cabeça, me afastando dos pensamentos da minha vida passada e me forçando a focar no presente.
A Anciã Rinia havia dito que precisávamos manter Tess longe de Agrona, que tudo dependia disso. Não se trata de Nico. É sobre Cecilia.
Talvez sempre tenha sido.
Quão forte seria Cecilia, este assim chamado “legado” neste mundo?
— Bem, dado que um mago de núcleo branco quadra elemental e um Vritra vomitando escuridão são necessários até mesmo para invocá-la… — Regis começou. — Eu diria que é forte pra cacete.
— Não está ajudando.
Meus pensamentos estavam dispersos, pulando de um fio para o outro antes que eu pudesse decidir por qualquer ideia.
Sentei-me novamente e esfreguei meu rosto.
Mas nada disso responde à pergunta, por que Indrath escolheria atacar agora? A menos que, eu engoli um caroço na minha garganta, Agrona tivesse sucesso.
— Droga! — dei um soco, parando apenas perto da parede mais próxima. A última coisa que eu precisava era escapar acidentalmente desta cela e piorar as coisas.
Mesmo se Tess fosse agora… Cecilia, isso não mudava o fato de que eu precisava fazer esse teste para me mover livremente em Alacrya. Não podia correr o risco de enfrentar Agrona e os Vritra e Foices antes de estar pronto.
— O que você acha, Regis? — perguntei, ansioso para ouvir qualquer pensamento além do meu.
— Que a resposta que vou dar não é a que você quer ouvir. — respondeu ele rispidamente.
— Você já me deu uma resposta que eu queria ouvir? — Soltei um suspiro profundo. Você tem minhas memórias e uma parte da minha personalidade, junto com algumas das de Sylvie e Uto. Seja honesto.
— Bem, há uma boa chance de sua amada ter sido apagada e substituída pela garota superpoderosa que você assassinou em uma vida anterior. É isso?
Mordi de volta minha resposta irritada imediata.
— Sim, Regis, como você disse com tanta eloquência, mas o que posso fazer a respeito?
— Um burro gnorte que passa pode lhe dizer que não há absolutamente nada que você possa fazer a respeito disso agora. — interrompeu meu companheiro. — Você está tentando resolver um quebra-cabeça com metade das peças. Nesse ritmo, você receberá a resposta errada ou terá um colapso mental ao tentar.
Passei meus dedos pelo meu cabelo, mais uma vez me lembrando de quão longe eu tinha ido, o quanto havia mudado, desde que vim a este mundo.
— Então o que acontecerá se Agrona puder resolver o quebra-cabeça antes mesmo que eu possa juntar todas as peças?
— Então você perde. — disse ele categoricamente. — Mas lembre-se do que o djinn disse, Agrona não tem percepção do éter como você, e é por isso que você ainda tem a chance de vencê-lo. Por que desistir disso para tentar fazer exatamente o que Agrona vem fazendo há séculos para tentar vencer?
Ponderei sobre as palavras de Regis por um momento antes de responder.
— Você está certo.
A raiva veio de meu companheiro
— Não, não, você não está me ouvindo. Você… espere, você acabou de dizer que estou certo?
Balancei a cabeça.
— Obrigado… não, quero dizer, claro que estou certo. — continuou Regis. — Além disso, enquanto você está realmente me ouvindo, para variar, não acho que aquela relíquia vá fazer bem para sua saúde mental, se é que você me entende. Não fique viciado em espionar sua irmã.
Eu deixei escapar uma risada.
— Obrigado, Regis.
A relíquia ainda estava descansando em minha mão, lisa e afiada. Olhando para ele, tive uma ideia repentina.
Eu só esperava que a relíquia tivesse energia suficiente para um segundo uso.
Segurando-a com cuidado entre o indicador e o polegar, empurrei o éter dentro dela e pensei, Tessia.
A névoa rodou pela superfície da pedra, mas nada mais aconteceu.
Cecilia.
As nuvens escureceram e a relíquia começou a emitir uma luz roxa suave ao absorver meu éter, mas não recebi uma visão.
— Morta de novo?
— Não, está absorvendo o meu éter, mas não está me mostrando Tessia ou Cecilia.
— Bem… tente outra pessoa, talvez? Para ter certeza de que ainda está funcionando.
Sentindo-me mais calmo agora, parei um momento para considerar minhas opções, mas havia apenas uma outra pessoa em quem eu poderia pensar que eu queria ver, então pensei em seu nome.
A névoa branca rolou ao meu redor, e de repente estava de volta ao santuário subterrâneo sob o deserto em Darv. A enorme caverna se abriu ao meu redor, e havia um pequeno riacho aos meus pés.
Do outro lado do riacho, minha mãe estava sentada em um tronco cinza com os pés batendo na água. Seu rico cabelo ruivo, uma característica que eu não compartilhava mais, tinha mechas de cinza por toda parte, e novas rugas formaram vincos sob seus olhos e sobre suas sobrancelhas.
Eu não sabia o que eu tinha esperado, o que eu tinha esperanças, enquanto observava minha mãe, mas aguardei em silêncio.
Foi um estranho momento de realização quando pensei comigo mesmo que Alice não era realmente minha mãe, não de uma forma convencional, pelo menos. Eu era adulto muito antes de nascer neste mundo, com memórias e experiências anteriores que deveriam ter me impedido de ver essa mulher como uma figura materna.
No entanto, ficou cada vez mais difícil observá-la assim, pequena e sozinha. Memórias de seu sorriso, sua risada, suas lágrimas enquanto navegava em meu caminho por este mundo ressurgiram, me lembrando que eu nunca estive sozinho, pelo menos, não neste mundo.
De repente, minha mãe ergueu os olhos e soltou um suspiro. Seus lábios se moveram e, mesmo sem som, pude ouvir claramente o que ela disse.
— Como você está aí com nosso filho, Rey?
Senti um nó na garganta e, no momento em que tentava me afastar da visão, um peixe cintilante do tamanho de uma grande truta nadou e mordiscou os dedos dos pés de minha mãe.
Naquele momento, não queria nada mais do que dizer a ela que ainda estava vivo e que continuaria lutando.
Um breve sorriso apareceu em seu rosto, apenas uma pequena curva para cima de seus lábios antes que o peixe voasse rio abaixo.
Mas foi o suficiente para mim.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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