Ouvindo o que Olivia disse, Roland não pôde deixar de suspirar com um misto de emoções.
Não era uma história complicada. Na época em que Gerald Wimbledon servia como Comandante da Guarda Fronteiriça, ele havia criado um costume de visitar anualmente a Serra do Vento Congelante durante os Meses dos Demônios para ajudar a Igreja a lutar contra as bestas demoníacas. Em uma de suas estadias, ele conheceu uma garota chamada Olivia em uma taverna e se apaixonou por ela.
Por causa do status de Olivia, era impossível para Gerald se casar com ela ou tornar público o relacionamento deles. No final, ele comprou secretamente uma residência na vila e fez da morada o seu ninho de amor. Roland não pôde julgar pela história se esse era um caso de amor verdadeiro ou não, mas sabia pelas memórias do antigo Príncipe Roland que Gerald havia de fato recusado casamentos políticos com outras nobres e não possuía nenhum interesse romântico na Cidade Real de Castelo Cinza. Por causa disso, havia surgido um rumor de que o Príncipe Gerald era homossexual.
O conteúdo da carta mostrada por Olivia era ainda mais incrível. De acordo com a garçonete, Gerald estava determinado a fazer dela a nova rainha, e, não contente em apenas demonstrar sua intenção, ele preferiu deixar isso por escrito. Se essa carta tivesse vazado naquela época, o Rei Wimbledon III teria ficado furioso com Gerald.
Os bons tempos rapidamente acabaram para Olivia. Logo depois que a notícia de que Timothy havia sentenciado Gerald à morte chegou na Região Norte, sua vida pacífica teve um fim e tormentos contínuos começaram a martirizá-la. Os guardas deixados por Gerald foram embora de uma hora para outra e, logo depois, sua casa foi invadida e saqueada. Sem fonte de renda, ela teve que voltar a trabalhar como garçonete na taverna.
Mas seu sofrimento não parou por aí. O dono da taverna, que ainda estava com raiva por causa de seu sumiço repentino, começou a assediá-la repetidas vezes. Ele até mesmo a coagiu a dormir com ele.
Durante os últimos seis meses, a vida de Olivia havia sido um inferno. A esposa do dono da taverna não se atrevia a descontar suas frustrações no marido dela, ao invés disso, descontava todo o seu ódio em Olivia. O dono geralmente ignorava o que acontecia, e de vez em quando até se juntava à esposa dele para abusar e humilhar Olivia.
Roland nunca iria criticá-la por ser mente fraca, já que não era de todo surpreendente que ela houvesse se submetido a esse tipo de tratamento injusto. Como uma mulher desamparada e sem rumo, ela teve que encarar o maior desafio da vida dela até agora, que era sobreviver. Quanto ao desaparecimento dos guardas e o roubo logo em seguida, Roland achava que isso não era uma coincidência.
Já que o ladrão havia invadido a casa precisamente quando Olivia estava fora e achado rapidamente o local onde ela escondia o dinheiro, com certeza devia ter um dedo dos guardas nisso.
— Então o que posso fazer por você? — Roland perguntou a Olivia.
Ele decidiu ajudá-la. Não por causa de Gerald, que o Roland atual nunca havia conhecido antes e que até mesmo poderia ser considerado um meio-inimigo baseado nas memórias do antigo Roland, mas simplesmente porque Roland queria ajudar essa mulher sofredora que suportou tamanha desgraça, e que ainda esperava pacientemente por uma chance de ter uma vida melhor.
Além disso, ajudá-la não seria uma tarefa difícil para o Roland atual.
E ele também não cobiçaria a mulher de seu irmão mais velho, como algumas pessoas esperariam.
— Eu quero deixar a taverna… Vossa Majestade. O senhor poderia arranjar algum trabalho para mim? — Olivia respondeu com um tom de voz baixo.
— Você tem certeza de que quer permanecer na Região Norte? Se o dono da taverna não conseguir esquecer você, ele pode tentar armar alguma coisa. Você pode ir para a Região Oeste no próximo navio. Você terá trabalho, comida e até mesmo uma casa lá. — Roland disse enquanto dava de ombros.
Após um momento de hesitação, Olivia respondeu com um tom ainda mais baixo:
— Vossa Majestade… Eu, eu quero… ficar na Região Norte.
— Eu acho que ela tem medo de você. Afinal, ela possui pelo menos a metade da beleza de Edith. — Rouxinol sussurrou no ouvido de Roland, provocando-o.
Roland disse em silêncio:
— Bobagem. — Após falar com Rouxinol em linguagem labial, Roland acenou com a cabeça para Olivia e disse: — Tudo bem. Pedirei ao Duque Calvin que encontre algo para você na Cidade da Noite Eterna. Já está tarde. Sean vai arranjar um lugar para você passar a noite.
— Eu nunca esquecerei sua bondade, Vossa Majestade. — Ela ajoelhou no chão e disse. — Mas… eu ainda tenho que voltar para a taverna.
— Você que decide. — Roland ergueu a sobrancelha e disse. Ele se virou para Sean e ordenou. — Dê uma carona a essa dama.
Quando Olivia estava prestes a sair, Roland de repente perguntou:
— A propósito, você teve… algum filho com Gerald?
Ela pareceu alarmada por um momento, mas logo respondeu:
— Sinto muito, Vossa Majestade… Eu não tenho nenhum filho para carregar o nome da família Wimbledon.
Depois que Olivia foi embora com o guarda, Rouxinol saiu do mundo da névoa e disse:
— A última frase dela foi uma mentira.
— Humrum, eu sei. — Roland contorceu os lábios e disse. — Ela não é boa em mentir, e isso também explica por que ela tolerou os abusos do dono da taverna.
— Pela criança?
— O dono deve saber que foi o Príncipe Gerald Wimbledon quem a levou embora. Ele também deve estar ciente do que aconteceria à criança se Timothy descobrisse a verdade. Para proteger a criança que teve com Gerald, ela teve que fazer o que o dono da taverna queria. Eu acho que foi isso o que aconteceu.
— Você quer que eu investigue? — Rouxinol perguntou.
Roland olhou para Rouxinol por um longo tempo até que um sorriso apareceu no canto de seus lábios.
— Você está preocupada que eu planeje enterrar esse segredo para sempre, como Timothy faria? Relaxe, eu não vou machucar pessoas inocentes. Até mesmo os membros da família do Duque Ryan ainda estão sob prisão domiciliar na Cidade de Primavera Eterna.
Um governante feudal não pouparia ninguém da família de seus inimigos, mas Roland não gostava da ideia de punição coletiva, quanto mais matar um filho bastardo de uma mulher comum, que aparentemente não era uma ameaça ao trono.
— Não importa qual seja o seu comando, eu cumprirei. — Rouxinol disse lentamente.
— Entendi. Bem… Então me dê uma massagem. — Roland pegou a mão de Rouxinol e colocou em seu ombro.
Olivia voltou ao seu quartinho de madeira. A casa onde ela estava havia sido construída para abrigar refugiados da Serra do Vento Congelante, que estavam sendo evacuados.
Seus passos acordaram o bebê que dormia.
“Wahhh-Wahhh-Wahhh”
O bebê chorou.
A esposa do dono da taverna imediatamente começou a gritar do cômodo ao lado.
— Droga! Faça ele calar a boca! Senão vou jogá-lo no rio!
— Me, me desculpa. Eu vou fazer com que ele fique quieto.
Não se importando com a frieza da noite, Olivia tirou seu vestido sujo e usou-o para cobrir o bebê em seus braços. O bebê instantaneamente chegou mais perto dela, procurando o peito.
Ela finalmente deu um suspiro de alívio.
Ela sentiu que teve sorte, já que conseguiu sair de casa e voltar sem que o dono da taverna percebesse.
Depois que eles foram evacuados da Serra do Vento Congelante, o dono da taverna ficou ainda mais mal-humorado. Ele passava mais tempo nos bares locais e casas de apostas, e raramente a tocava. Foi por esse motivo que Olivia teve a chance de sair escondida desse quarto e pedir ajuda ao irmão mais novo de Gerald.
Ela não se atrevia a contar a Roland que tinha um filho com Gerald ou ir para a Região Oeste, que estava sob o completo domínio do rei. Ela temia que Sua Majestade quisesse eliminar seu precioso filho.
Olivia gentilmente acariciou o cabelo cinza do bebê, que era uma característica marcante da família Wimbledon.
Ela sentia que era uma pena que Gerald não havia chegado a conhecer o próprio filho. Ela só foi saber que estava grávida dias após receber a carta de Gerald na Serra do Vento Congelante.
Depois que o bebê se alimentou, ele logo pegou no sono novamente.
Olivia abaixou a cabeça e beijou a testa dele.
Ela havia se decidido que iria criá-lo sozinha, não importando o que tivesse que sacrificar.
Tradução: Kabum
Revisão: Kabum
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