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O Começo Depois do Fim – Cap. 101 – Visitantes

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POV ARTHUR LEYWIN

A silhueta de um enorme castelo envolto na escuridão continuou crescendo, mas se eu estava me aproximando dele ou ele estava vindo à minha direção, não tinha ideia. À medida que a figura se aproximava, pude gradualmente ver os seus detalhes; a bandeira tremulava apoiada no topo da torre mais alta, a fonte esplêndida esculpida com características intrincadas, os portões altos com espinhos afiados e arame farpado.

Pouco a pouco, as sombras que cobriam o castelo recuaram, expondo mais do exterior do castelo. Podia ver a imagem de uma fênix flamejante na bandeira e corvos se reunindo em cima do portão. No entanto, um sentimento horrível surgiu nas minhas costas quanto mais perto me aproximava. Cheguei abaixo dos portões e tranquei os olhos a um corvo particularmente grotesco. Me observou por alguns segundos, mas depois soltou um *caw* e voltou ao banquete.

O que é?

Não podia ver do fundo do portão, mas por alguma razão, senti a necessidade de saber o que estavam comendo.

Essa implacável vontade de descobrir…

Comecei a subir pelo portão, ignorando os espinhos do arame farpado cravando em minhas mãos. Quanto mais alto subi, mais corvos se reuniam no topo, juntando-se às festividades. Em algum momento, fiquei envolto em penas ao ponto de só poder ver preto. Rugi para que desaparecessem, porém nenhum som saiu. Apesar do grito inaudível, o grupo se dispersou, revelando o que estavam consumindo tão alegremente.

Eram as cabeças decapitadas de Tessia e minha família empalada em espinhos pretos. Havia pedaços de carne faltando nos seus rostos; pálpebras, olhos leitosos pareciam não focar em nada em particular e as bocas sem lábios estavam abertas.

Quando os alcancei e tentei removê-los dos espinhos, todo os olhares de repente se concentraram em mim e gritaram, revelando insetos que haviam se enfiado dentro de suas bocas.

— Tudo culpa sua!

O volume repentino das vozes me fez perder o controle sobre o portão e fui enviado de volta, caindo enquanto seus olhos sem vida continuavam a olhar para mim.

Me levantei assustado do chão de pedra em que estava deitado. Suor frio já tinha encharcado as minhas roupas comigo sentado lá, respirando forte.

— Foi apenas um pesadelo…

Olhei as minhas mãos e as vi tremendo. E enquanto tentava controlar a minha respiração, uma voz desconhecida me assustou.

Armei o meu corpo em direção ao som, apenas para encarar uma figura escura no canto da cela.

Quando saiu em minha direção, pude ver quem era.

— E aí

Disse a mulher com persuasão, exceto que sua boca não se movia. A voz dela tinha um timbre reconfortante que fazia cócegas na minha orelha.

Percebi que era a Lança restante de Alduin. Tive um vislumbre dela hoje cedo, exceto, assim como antes, ela estava coberta por um manto que escondia sua aparência.

O que mais me surpreendeu foi o fato de que, apesar de quão perto estava de mim, não era capaz de sentir sua presença. Isso me lembrou de quando Virion liberou o segundo estágio de sua forma bestial, embora, para ela, parecesse natural feito respirar.

— Não fale. Trago uma mensagem do rei Eralith — sussurrou debaixo do manto, inclinando-se perto de mim enquanto me entregava um pedaço de papel.

Li assim que a carta chegou à minha mão.

Querido Arthur, Embora as explicações e desculpas pelos recentes eventos relativos ao desastre na Academia Xyrus estejam em ordem, temo que a escala deste incidente seja muito mais profunda e sinistra do que parece. Você não tem muito tempo. Em algumas horas, o Conselho considerará você e Cynthia Goodsky como os autores do ato de terrorismo que aconteceu em Xyrus. A diretora Goodsky será sentenciada à execução pública, mas você e seu vínculo só serão presos. Sinto muito, eu não poderia ajudá-lo muito neste assunto, pois minha voz simplesmente não pode vencer contra a frente unificada dos anões e humanos. O que vou te dizer a seguir é algo que não foi feito para meus ouvidos. Ainda não encontrei todas as peças que faltam, mas o que ouvi entre o rei Glayder e Dawsid foi que estão planejando entregá-lo a alguém. Não sei quem, mas parece ser a única razão pela qual estão te mantendo vivo e intacto. Já enviei o meu pai, junto com algumas escoltas, para levar a sua família a um local seguro onde estarão a salvo daqueles que desejam usá-los contra você. Pense nisso como uma pequena compensação por tudo que você fez por Tessia. Espero que isso, pelo menos, te dê um pouco de calma. Mesmo que a minha Lança possa libertá-lo de sua cela, uma vez que você sair, todas as outras serão notificadas. Minhas desculpas, pois isso é tudo que posso fazer por você por enquanto. Mantenha-se forte e firme.

Alduin Eralith

Assim que dobrei a carta, ela se desintegrou em cinzas entre os meus dedos. Olhando para trás, a Lança chamada Aya, que eu esperava ver, não estava mais lá, desaparecendo tão silenciosamente quanto havia aparecido.

Tive que admitir que um fardo pesado foi retirado do meu peito. A segurança da minha família tinha sido uma preocupação a mim o tempo todo. Devido às informações que recebi de Windsom, o comportamento do Conselho desde a nossa primeira reunião me levou a questionar a possibilidade de os Vritra participarem em tudo isto. No entanto, agora que decidiram sobre a execução pública da diretora, eu estava quase com certeza de que os asuras estavam envolvidos.

No começo, suspeitei do possível envolvimento dos Wykes, de alguma forma inclinando as probabilidades contra a meu favor por matar Lucas, afinal, eram uma família de alta riqueza e influência. Mas eles não têm razão para envolver a diretora no meio. Mesmo que ela não fosse de uma casa influente, seu nome por si só tem peso em todo o continente, e não seriam capazes de influenciar o Conselho o suficiente para convencê-los a fazer algo tão precipitado quanto condená-la à execução pública. Por mais que culpá-la aliviasse parte do fardo que enfrentariam do público, a morte dela não valeria a pena…

A menos que houvesse um terceiro envolvido em dar as ordens, subornando ou os forçando.

Deixando escapar um suspiro profundo enquanto me sentava, pensamentos de como me recusei a me apegar a alguém em minha vida passada porque não queria que nenhuma fraqueza vieram à mente. Balançando a cabeça para tentar dispersá-los, inclinei as costas contra a parede fria, pensando e bolando um plano.

— Levante-se! Uma voz grossa surgiu.

Meus olhos se abriram com o brado abrupto e o barulho do portão de metal. Me levante, esticando os ossos doloridos por ter dormido no chão duro de pedra.

Esperava ver Olfred, já que foi quem me trouxe aqui, porém, em vez disso, tive o infeliz prazer de acordar com o rosto lindo de Bairon; e, com lindo, quis dizer uma carranca impaciente e cheia de ódio pela minha própria existência. Não o culpo, já que fui eu quem matou o seu irmão mais novo, mas senti, por algum motivo, que a sua morte não era a única razão para a sua animosidade flagrante.

— O Conselho está esperando. — falou brusco, abrindo o portão. Agarrou forte o meu braço e me arrastou para fora da cela depois de amarrá-los e prender o selamento de volta ao meu peito.

— Bom-dia para você também. Vejo que você não é uma pessoa muito matinal. — ri, tentando evitar que caísse enquanto ele continuava a sacudir o meu braço.

Não disse nada em resposta, embora seu olhar frio falasse muito.

Conforme caminhávamos à saída, notei que a cela da diretora Goodsky estava aberta.

Chegamos em frente a uma sala diferente de ontem: as grandes portas duplas que se elevavam o suficiente para admitir gigantes estavam fechadas, sons abafados vindo do outro lado.

— Você não sabe o quanto estou ansioso pelo julgamento. — afirmou Bairon, as mandíbulas tensas, apertando ainda mais a mão. — Não se preocupe, vou tratar a sua família do mesmo jeito que tratou a minha.

Se virou para mim, os lábios curvando-se num sorriso malicioso, apenas o suficiente para revelar seu canino afiado.

Caso eu não tivesse recebido a carta ontem à noite, estaria preocupado de verdade, mas sabendo que estavam escondidos em segurança e que, por enquanto, o Conselho precisava de mim vivo e intacto, as suas ameaças vazias não significavam muito.

— É sério que você “tá tentando arranjar uma briga com uma criança de treze anos?” — Balancei a cabeça, usando a minha melhor expressão de decepção.

Um puxão afiado me levantou do chão e fiquei cara a cara com ele.

— Acho que não está entendendo o que está prestes a acontecer contigo agora. Você vai acabar morto ou desejar ter morrido, e o seu animal de estimação vai se tornar um bicho valioso para um dos reis. Acha que isso tudo afeta somente você? Vou me certificar de que sua família e qualquer pessoa com quem se importasse enfrentem uma morte miserável.

— Sim, sim, a grande Lança Bairon vai se vingar pelo seu irmão mais novo lunático, que escolheu ir pro lado negro e matar inocentes, atormentando o adolescente que o tirou de sua miséria e matando a família dele também. Salve, Lança Bairon!

Tentei parecer surpreso, mas suspeitei que a minha voz monótona me entregou

Pude ver a mão direita dele fechando, contudo apenas estalou a língua em desgosto, jogando-me de volta ao chão com força suficiente para me fazer rolar em direção às portas. Me limpei o melhor que pude amarrado e permaneci sentado, apoiando a cabeça nas portas enquanto piscava para ele.

Ou Bairon não me viu ou escolheu ignorar, entretanto, quando pensei em dizer algo, ouvi sons fracos vindo do outro lado das portas. Depois de similar com a Vontade de Sylvia, todo o meu corpo foi fortalecido, incluindo sentidos e reflexos. Não ao ponto em que eu seria capaz de durar alguns minutos contra uma Lança sem magia, mas a audição era forte o suficiente para distinguir um pouco algumas das vozes familiares dentro da sala protegida.

— … Autora de…

— … Recusa em responder…

Parecia que o Conselho estava prestes a finalizar a sentença de quem eu poderia afirmar, com segurança, ser a diretora.

— … Condenada à execução pública.

A última declaração soou particularmente alta da voz estrondosa de Dawsid.

Após um momento de silêncio, as portas contra as quais fiquei encostado de repente balançaram para dentro sem um rangido, me fazendo inclinar. Olhando do chão, vi o mesmo guarda que admitira Varay, Olfred e eu durante a primeira reunião do Conselho comigo.

— O Conselho está pronto. — disse, desviando o olhar de mim a Bairon.

Levantando, consegui olhar a ex-diretora da Academia Xyrus sendo escoltada de volta por dois guardas.

O seu olhar estava firme ao passar por mim, mas suas mandíbulas estavam tensas de raiva reprimida.

Mantendo a expressão intacta e ilegível caminhando em direção a eles, estudei cada um de seus rostos.

Sentado na única cadeira livre, sem palavras, esperei que começassem. Bairon apareceu atrás de Blaine Glayder e, quando as portas duplas se fecharam, o silêncio predominou. O rei anão foi o primeiro a falar, os olhos grudados na pilha de papéis que havia começado a embaralhar.

— Garoto, saiba que o Conselho é misericordioso. Mesmo que suas ações hediondas contra um colega normalmente resultassem em pelo menos a incapacidade de usar seu núcleo de mana, concordamos que, uma vez que foram para o bem maior, sua sentença será a seguinte: Arthur Leywin deve ser despojado de seu título anterior como um mago e de todos os benefícios que vêm com. Também deve ser mantido preso até segunda ordem.

Falou de uma maneira grandiosa, como se realmente se olhasse para si mesmo como uma pessoa benevolente.

Houve um breve silêncio; suspeitei que ele estivesse esperando que eu o banhasse em gratidão e outras formas de lisonja antes que ele falasse de novo.

— Há mais alguma coisa que você gostaria de dizer? — questionou.

— Apenas algumas perguntas… sua majestade. Embora minha primeira punição seja aparente o suficiente, o que você quer dizer com aprisionado até “segunda ordem”? — Inclinei a cabeça.

— Nas próximas semanas, vamos monitorar como o desastre na Academia Xyrus se saiu com as vítimas e suas famílias. Assim que virmos que o tempo suficiente passou e as memórias das suas ações foram mais ou menos dissipadas das mentes do público, vamos libertá-lo. Pense nisso como uma espécie de detenção provisória em vez de prisão.

Blaine explicou, reunindo um sorriso que não alcançou seus olhos.

— Entendo. É justo, acho. E o meu vínculo?

Perguntei. Assim que fui liberado da minha cela esta manhã por Bairon, tentei me comunicar com ela, apenas para ser recebido por nada.

— O Conselho já está sendo gentil o suficiente para deixá-lo viver, mas você pede mais?

Glaundera estalou, batendo a palma grossa na mesa levantada.

— Manter o seu vínculo é outra questão, Arthur. Parte da sentença em que você perde os seus direitos como mago significa que você não será mais capaz de mantê-lo.

Alduin disse. Se fosse qualquer outra pessoa, eu teria reagido de forma diferente, mas entendendo as entrelinhas de sua entonação e palavras, sabia que estava apenas tentando me manter longe de problemas.

Trocamos olhares por mais alguns segundos, até eu forçar um aceno rígido.

— Entendo, suas majestades.

— Bom. Bairon, leve-o de volta para a cela, mas mantenha-o acorrentado.

Blaine mandou.

Observei as expressões de todos lá uma última vez. O rosto de Blaine estava mais confiante do que ontem, e sua esposa ainda parecia pálida de culpa. Os anões eram ambos arrogantes, tornando-me mais certo de que eram os mais envolvidos com os Vritra, enquanto os Alduin e Merial assumiram expressões estoicas como máscaras.

Podia dizer que Bairon estava furioso, mas ficou em silêncio durante a ida de volta à cela. Decidi que era melhor não antagonizá-lo no seu estado atual, então permaneci mudo também.

Esperava ser levado à mesma cela em que estava antes, mas fui levado a um lugar de espera diferente. Com uma cama e um sanitário, teria confundido com um quarto, se não fosse pelas barras que me impediam de fugir.

Depois de me jogar para dentro com um pouco mais de força do que o necessário, a Lança saiu sem palavras. Meus braços ainda estavam acorrentados e o artefato permanecia embutido no meu peito, limitando minhas habilidades.

Eu não podia dizer quantas horas passaram ou se era noite ou dia, uma vez que não havia janelas, entretanto sentei lá pacientemente. E, de repente, o som de passos suaves se aproximou.

— Parece que você estava à minha espera. — Suspirou.

Meus lábios se curvaram enquanto eu observava um rosto surpreendentemente familiar.

— Merda, bem na merda da hora, Windsom!

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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