POV ARTHUR LEYWIN
Supostamente, a casa da vovó Rinia não era muito mais longe de onde estávamos. Após nossas breves saudações e um forte abraço da elfa idosa que passei a apreciar, dirigimo-nos para a sua morada.
— Você se tornou um jovem muito bonito, Arthur. Se eu fosse apenas cem anos mais jovem, poderia ter te pego para mim.
Rinia brincou. Foi perturbador, para dizer o mínimo, ouvir isso de uma mulher que tinha quase três vezes a minha idade, mas vindo dela, eu apenas sorri de volta.
— Bem, eu teria que ver como você parecia quando era cem anos mais jovem.
— Hmph! Pergunte a Virion como eu era deslumbrante! Os homens ficavam me admirando reunidos como um formigueiro assim que eu estivesse em suas miras!
Rinia coloca uma das mãos no quadril e usa a outra para virar o cabelo trançado.
— É verdade, Arthur. Minha mãe me contava como todas as garotas da idade dela ficavam com ciúmes da tia Rinia.
A mãe de Tess deu uma risadinha.
— Bah! Ela estava acima da média, na melhor das hipóteses!
Virion acenou.
— Bem, é claro que houve apenas uma garota que chamou a atenção de Virion…
A voz de Rinia foi sumindo e pelo olhar em seu rosto, ela parecia ter se arrependido de ter mencionado isso.
Olhei em volta, completamente perdido. A floresta sombria pela qual estávamos pisando parecia ainda mais sombria pela mudança repentina no ar. Olhei para Tess e ela parecia desconfortável, mas mais tão confusa do que deprimida como todo mundo.
— … Sinto muito, Virion. Eu fui um pouco insensível.
Rinia colocou a mão no ombro afundado de Virion.
— Está… está tudo bem. Devo ser eu quem está arrependido. Eu sei como você se sentiu.
Ele rejeitou. Continuamos com apenas o som de folhas caídas esmagando e o estalo de galhos preenchendo o silêncio. Meu olhar estava focado em Sylvie, que estava se divertindo à procura de formas de vida sob as pedras cobertas de musgo e troncos. Enquanto seu rabo balançava furiosamente de emoção, não pude deixar de deixar escapar um pequeno sorriso contente, apesar da atmosfera sombria. Dando uma olhada rápida em vovô, minha mente começou a coçar com perguntas que eu sabia que não deveria fazer. Rinia, que aparentemente viu isso, gentilmente colocou a mão no meu ombro e me deu um sorriso tenso.
Quando entramos em uma pequena clareira, um som estrondoso de água corrente encheu nossos ouvidos. Era como se as árvores ao redor daquela área tivessem atuado como uma barreira, bloqueando todo o som. Em vista, podíamos agora ver uma grande cachoeira caindo de um penhasco de mármore branco em uma pequena piscina de água com cerca de seis metros de diâmetro.
— Uau, eu não sabia que um lugar como este existia.
Tess ficou boquiaberta com admiração.
— Pai, não era este o lugar que você costumava me levar quando eu era criança?
Alduin perguntou enquanto olhava ao redor.
— Vejo que você ainda se lembra. Sim, você adorava vir a este lugar.
Virion deixou escapar um pequeno sorriso ao relembrar.
— É lindo…
Merial respirou fundo. Era realmente lindo. Não havia muita luz solar capaz de alcançar esta pequena clareira, tornando a área mais surreal. Os finos raios de luz que eram capazes de espiar através das copas das árvores criaram holofotes que faziam o musgo, a grama, e toda a vida vegetal brilhar. A cachoeira descia pelo penhasco branco sem qualquer intrusão, tornando-se uma cortina de água transparente.
— Estamos aqui.
Rinia afirmou enquanto se adiantava. Sem palavras, todos nós a seguimos enquanto eu meio que esperava que ela conjurasse uma cabana do chão. Não era tão chique assim, no entanto. Em vez disso, Rinia soltou alguns cantos inaudíveis com as mãos levantadas, levantando raízes debaixo do lago em uma ponte improvisada que leva à cachoeira. Pisando com cuidado nas raízes sujas, Rinia assumiu a liderança conosco seguindo de perto. Com um aceno de braço, ela varreu a cachoeira para o lado.
No entanto, antes de fazer qualquer outra coisa, ela olhou em volta, como se para se certificar de que ninguém estava nos espionando. Depois de respirar fundo, Rinia colocou a mão no penhasco atrás da cachoeira, que agora começou a brilhar com runas irreconhecíveis. Assim, o penhasco de mármore branco se abriu como uma porta deslizante para revelar uma passagem mais profunda no interior.
— Não invoque nenhuma luz. Vamos abrir caminho no escuro.
Instruiu Rinia, como se estivesse se referindo diretamente a mim. Perdi a conta de quantas voltas fizemos, contando apenas com Rinia nos guiando com sua voz.
— Esquerda.
— Direita.
— Direita.
— Esquerda.
Finalmente, pudemos ver uma luz bruxuleante no final do túnel.
— Bem-vindos à minha pequena cabana.
Com a quantidade escassa de luz, eu mal conseguia distinguir o leve sorriso de Rinia. A essa altura, eu não tinha ideia de onde estávamos, mas a pequena cabana caseira que não poderia ser maior do que um único cômodo no castelo da família Eralith era bem-vinda aos meus olhos.
— Uau.
Tessia se agachou quando finalmente conseguiu liberar sua tensão.
— Este… este é o lugar, tia Rinia.
Alduin deslizou a mão contra a parede da caverna onde ficava a cabana.
— Onde estamos?
Não pude deixar de perguntar enquanto inspecionava nossos arredores também.
— Em algum lugar do reino dos elfos.
Foi tudo o que ela disse enquanto caminhava para a cabana. Iluminada por alguns orbes brilhantes e fracos nos cantos da caverna, o lugar que Rinia chamava de lar me lembrava uma espécie de masmorra usada para manter os piores criminosos, não um lugar onde um amigo próximo da família real residisse.
— Tenho certeza que você tem seus motivos, tia Rinia, mas era realmente necessário se trancar em um lugar como este?
Merial franziu a testa enquanto seus olhos focavam na cabana em que Rinia acabou de entrar.
— Apenas uma velha sendo excessivamente cautelosa. Não se preocupe comigo! Na verdade, é bastante aconchegante quando você se acostuma.
A cabeça de Rinia apareceu para fora da porta de lençóis da cabana.
— Posso ver o interior também?
Tess tinha Sylvie em seus braços, enquanto olhava com curiosidade para o interior da cabana.
— Claro! Todos, entrem.
Rinia acenou para que entrássemos. Todos nós olhamos um para o outro em dúvida, mas Virion apenas nos reuniu enquanto falava.
— Venham agora, o lugar não vai comê-los. É bastante espaçoso por dentro, apesar de sua aparência. Vamos pegar algo para beber! Estou faminto.
Assim que nos acomodamos no abrigo contra desastres minimamente projetado que era a nova casa de Rinia, afundei no sofá. Apoiando a cabeça na mão, devo ter adormecido, porque quando acordei, todos também estavam dormindo. Esfregando os olhos, levantei-me para ver que Rinia era a única ainda acordada, bebericando algo que cheirava a um tônico de ervas.
— Eles não vão acordar por um tempo, Arthur. Vamos conversar.
Rinia disse simplesmente, sem nem mesmo olhar para mim. Ela gesticulou para que me sentasse na cadeira em frente a ela enquanto continuava tomando seu chá.
— Bem, como você provavelmente drogou todo mundo menos eu, estou supondo que isso é algo que só eu posso saber?
Meus olhos se estreitaram, mas confiei em Rinia. Além disso, se quisesse nos matar, tenho certeza de que, com seus poderes de previsão, já poderia ter feito isso. Sem dizer nada, sentei-me e recostei-me, esperando que a elfa idosa falasse.
— Apesar das circunstâncias imprevistas, você está bem composto, Arthur.
O tom de Rinia parecia dizer que ela esperava por isso.
— Tenho certeza de que se você quisesse que o pior acontecesse, isso já teria acontecido. Dei de ombros.
— Mm.
— …
— Agora, por onde eu começo? — suspirou.
— Uma suposição lógica.
Concordou Rinia.
— Bem, vamos começar com uma pequena lição sobre meus poderes como uma Adivinha.
Meus ouvidos se animaram com isso. Aprender sobre uma forma rara de desvio de magia não acontecia com frequência, pois os livros didáticos continham apenas uma quantidade limitada de informações sobre eles. Percebendo o interesse em meu rosto, Rinia continuou.
— Como você deve saber, ao contrário de magos regulares que extraem energia das partículas de mana na atmosfera, os desviantes precisam encontrar sua própria fonte de energia para alimentar sua magia.
Balancei a cabeça em concordância.
— Por exemplo, sua mãe, uma Emissora, tem a habilidade de curar a si mesma e aos outros de uma forma que os feitiços de recuperação elemental não podem ser comparados.
Balancei a cabeça para isso também. Havia vários feitiços de recuperação que podiam ser aprendidos pela água, vento, e magos de atributo planta. Infelizmente, fogo e terra não tinham atributos de cura inatos, então era impossível criar um feitiço de recuperação a partir deles. No geral, porém, os feitiços de recuperação ainda eram fracos e não podiam ser comparados à cura de que os Emissores eram capazes.
— Os emissores têm núcleos que acumulam naturalmente um tipo especial de mana que é usado para alimentar seus feitiços. Ao longo da minha vida, conheci alguns desviantes, cada um com propriedades únicas em sua magia. Todos eles têm uma coisa em comum; diferente de um desviante elemental como você, cada um dos desviantes tem sua própria reserva de mana que usam para alimentar sua magia desviante.
Ela parecia um pouco distraída ao dizer isso.
— Deve ser um incômodo para eles, já que não conseguem extrair mana da atmosfera. — acrescentei.
— Com certeza é. Depois de entrevistar muitos desviantes, todos eles me contaram como era difícil aprender até mesmo feitiços elementais básicos, já que não tinham núcleos que pudessem aproveitar as partículas de mana na atmosfera. No entanto, com seus poderes desviantes, compensaram essa deficiência.
Houve um momento de silêncio onde eu só pude ouvir o ronco suave de Sylvie nos braços de Tess antes que Rinia falasse novamente.
— Quanto aos Adivinhos, é bem diferente. Em primeiro lugar, nossos poderes podem despertar em qualquer momento de nossas vidas, o que é bastante diferente dos magos convencionais e outros desviantes. Nossos poderes vêm principalmente em explosões erráticas, onde, muitas vezes, imagens borradas e clipes do futuro simplesmente passam pelas nossas mentes; às vezes eles são úteis, na maioria das vezes, eles são muito vagos e minuciosos para fazer alguma coisa. Esses pequenos flashes do futuro não gastam nenhuma mana, na verdade.
— …
Fiquei em silêncio, uma sensação estranha se apoderando de mim.
— Se você sentir meu núcleo de mana, na verdade eu tenho um núcleo de mana bastante normal, capaz de controlar e refinar as partículas de mana na atmosfera, e é por isso que sou adepta da magia de atributos de água.
Exclamou Rinia zombeteiramente.
— Não parece um poder muito útil se eu não posso controlá-lo, parece? — continuou.
— E o feitiço que você usou para me permitir localizar meus pais e até mesmo falar com eles quando eu era pequeno? — questionei.
— Ah, esse é um pequeno feitiço bacana que eu fiz que envolve meus poderes únicos como uma Adivinha, mas não realmente. Veja, Arthur, a verdadeira adivinhação é ler o futuro; saber quando e onde algo vai acontecer.
Eu estava me perdendo.
— Então, se esses são seus verdadeiros poderes como uma Adivinha e você disse que seu núcleo de mana não fornece energia para essa magia, como você…
— Com minha própria vida. Ela amaldiçoou.
— Nós, Adivinhos, encurtamos nossa expectativa de vida cada vez que escolhemos olhar para o futuro conscientemente. Esse é o verdadeiro poder de um Adivinho. Todo o resto é apenas um pequeno feitiço útil que não pode ser considerado nada mais do que truques de chapéu.
Sentei lá, com os olhos arregalados, sem saber como responder.
— O que falamos antes, o único amor e esposa de Virion, era outra rara Adivinha que era muito mais poderosa do que eu. Suas adivinhações e profecias inconscientes eram muito mais longas, muito mais detalhadas do que as minhas, e muito mais frequente nisso. O sorriso reminiscente de Rinia desapareceu enquanto continuava falando.
— Juntamente com sua beleza física e temperamento gracioso, ela era a inveja de todas as elfas de nossa geração. Ela era o orgulho de nosso reino e um ídolo para os cidadãos. As coisas estavam perfeitas quando ela se apaixonou por Virion e os dois se casaram em uma bela cerimônia. No entanto, o destino não foi tão bom com ela como todos pensavam.
Não pude deixar de fazer uma careta com o tom dessa tragédia acontecendo.
— Neste momento, a guerra entre o Reino de Sapin e Elenoir havia começado a morrer, com a conversa de um tratado no ar. No entanto, o rei de Sapin na época fez um último esforço para causar o máximo de danos possível ao nosso reino antes da assinatura do tratado. Ele executou um plano para extinguir o futuro herdeiro do trono.
— Você quer dizer…
— Sim, Virion foi o único alvo de uma missão de assassinato realizada pelo próprio rei.
Rinia falou quase em um sussurro.
— …
— Zombeteiramente, sua esposa foi repetidamente atormentada por visões da morte de Virion. Suas profecias inconscientes diziam pouco sobre como Virion morreria e cada vez que ela fazia algo para tentar mudar o futuro, o resultado apenas levou a uma causa diferente de morte. Virion conhecia o tributo de sua esposa usando seus poderes, mas ela o fez mesmo assim, pelas costas, desesperada para impedi-lo de sua morte inevitável. Cada vez que uso meus poderes para olhar para o futuro, posso sentir os dias, semanas, às vezes até meses sendo drenados do meu corpo. Só posso imaginar o quão terrível deve ter sido para ela usar repetidamente esse poder amaldiçoado por aquele que amava.
Não sabia o que dizer e, mesmo que soubesse, seria insensível dizer, vindo de alguém que não sabia como era. Os olhos de Rinia brilharam com as lágrimas que estava segurando.
— No fim, ela foi capaz de manter Virion vivo por tempo suficiente para que o tratado de paz fosse assinado, mas tendo queimado tanto de sua vida para proteger o homem que amava, morreu alguns meses depois em seus braços, com sua bela aparência juvenil substituída por uma anciã idosa e doente. Você sabe quem era aquela Adivinha, Arthur?
Ela olhou para cima com uma torrente de lágrimas rolando por sua bochecha direita.
— Ela era minha irmã.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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