Liberte Aquela Bruxa – Vol. 04 – Cap. 576 – Dentro do Palácio

Otto Luoxi e Oro Tokat se escondiam atrás de um jardim ornamental do palácio na Cidade do Resplendor, no Reino do Alvorecer.

Claro, eles não estavam completamente escondidos. Pelo menos, ao entrar no palácio, eles passaram pela porta, bem debaixo do nariz dos guardas. Nenhum guarda os impediria de visitar qualquer lugar do palácio, exceto as áreas proibidas, porque todos os guardas sabiam que os Luoxi e os Tokat sempre foram apoiadores leais da Família Real, e que esses dois jovens se tornariam ministros do príncipe mais velho quando assumiram suas respectivas Famílias.

— Ei, você tem certeza disso? — Otto estava um pouco nervoso.

Se o castelo do Amanhecer, onde o Rei do Amanhecer passava algum tempo, era uma zona proibida, seu quarto era ainda mais proibido. No entanto, eles conheciam um caminho secreto do jardim para este quarto. Esse estreito canal subterrâneo que eles haviam explorado com Andrea e o Príncipe Appen na infância era uma das rotas de fuga do palácio. Eles consideravam sua própria base secreta e realizavam pequenas festas lá ocasionalmente.

Dado que eles tinham apenas 10 anos de idade naquela época, o pior castigo, mesmo que fossem encontrados por Sua Majestade Moore, seria uma leve bronca. Agora, quando adultos, se entrassem no palácio sem permissão, o que Sua Majestade pensaria?

— Ah, qual o problema? Reunir as três Famílias para descobrir o motivo pelo qual Appen está agindo de forma estranha… não é esse o plano? — Oro sorriu maliciosamente — E agora, neste momento crucial, você quer recuar?

— Eu… — Otto abriu a boca, mas ficou sem palavras.

— Céus, como você é estúpido! Para poder falar com o Conde Quinn, você contou a ele a situação recente de Andrea. Se você não fosse o namorado de infância dela, o velho teria matado você! — Oro disse enquanto olhava em volta — E agora é o melhor momento para dizer a verdade, você vem ou não?

Após um momento de hesitação, Otto rangeu os dentes e assentiu.

O que o Conde Quinn havia dito a eles era surpreendente.

Desde o momento em que Sua Majestade adoeceu, o Príncipe frequentemente se encontrava com um alquimista no palácio, expulsando seus visitantes. Dizia-se que um medicamento especial da alquimia poderia resistir a doenças e permitir que Sua Majestade permanecesse acordado por uma ou duas horas por dia. Como Primeiro-Ministro, o pai de Andrea naturalmente tinha acesso ao palácio para ouvir e fornecer conselhos políticos de Sua Majestade. O velho vislumbrou o alquimista e, para sua grande surpresa, viu que era na verdade uma jovem mulher, coberta com um véu preto e apenas os olhos sombrios cinza-prateados apareciam.

Com essa descrição, Otto imediatamente pensou na Igreja.

Se não fosse por sua recente viagem ao Reino de Castelo Cinza, ele não pensaria assim. Depois de se encontrar com Roland Wimbledon, as mensagens sobre a Igreja secretamente treinando bruxas purificadas, tentando subverter os Quatro Reinos e acumulando seu poder para resistir à Batalha do Juízo Final, tudo isto estava muito bem gravado em sua mente.

Ele não contou o que sabia de Roland ao Conde Quinn. Afinal, o impacto das notícias era tão grande que Otto precisava confirmar suas hipóteses antes de decidir o próximo passo.

Ao ouvir do Conde que o alquimista apareceria hoje, Otto imediatamente pensou no canal secreto de sua infância.

Agora que era impossível obter o apoio do Príncipe mais velho, essa era sua única maneira de descobrir a verdade.

Com esse pensamento, ele acenou para Oro, que imediatamente cutucou as ervas daninhas na altura dos joelhos, usando uma adaga para erguer uma cobertura disfarçada de pedra atrás do jardim ornamental. Barras de aço enferrujadas apareceram na frente deles. A cerca, que só podia ser aberta por dentro, tinha cerca de um comprimento de braço, mas isso não era um problema para os dois que estavam totalmente preparados.

Oro tirou um frasco de vidro do bolso, abriu a tampa e despejou o líquido amarelado na trava. Uma nuvem branca de fumaça pungente subiu e as barras de aço emitiram um som escaldante, como manteiga sendo jogada em uma panela quente.

O líquido era a água de derretimento de ferro criada por um Mestre Alquimista da Cidade do Resplendor, e um frasco do tamanho de um punho custava mais de 10 peças de ouro. Foi dito a Oro que o ferro se derreteria num piscar de olhos ao usá-lo. Tal não aconteceu. A trava diminuiu pela metade e não caiu da cerca até que ele tivesse usado o segundo frasco.

Os dois homens se curvaram para entrar no buraco, e Oro não esqueceu de se virar e fechar a entrada.

Depois que eles rastejaram mais de 10 degraus, o canal ficou um pouco espaçoso e eles puderam caminhar. Otto procurou habilmente a lamparina a óleo pendurada na parede, e a acendeu com pederneira. A fraca luz iluminava as profundas fendas dos lados e o teto arqueado. Este lugar ainda era o mesmo, mesmo depois de mais de 10 anos, como se o tempo estivesse parado aqui. Ao passar pelo salão no meio do caminho, eles ainda podiam ver os assentos macios e as taças de vinho que trouxeram ali para festas.

O caminho começou a ficar mais íngreme e Otto Luoxi sabia que eles haviam entrado no castelo do Alvorecer.

As muralhas do castelo eram divididas em duas camadas, como um sanduíche. A parte do meio entre as duas camadas era reservada para câmaras e túneis secretos. Finalmente, os dois chegaram ao final do canal secreto, que ficava no fundo da lareira, no quarto do rei.

Como o mecanismo precisava ser aberto por dentro, eles não podiam entrar diretamente no quarto. Mas eles podiam ver a cena no quarto através do pequeno espaço no alçapão. As vozes da conversa na sala podiam ser ouvidas se estivesse quieta o suficiente.

Otto apagou a lamparina e espiou pela abertura.

O Rei do Amanhecer, Sua Majestade Deegan Moore, estava deitado na cama de frente para a lareira. E Appen, o Príncipe mais velho, estava andando ao lado da cama, parecendo preocupado.

Eles se entreolharam, depois assentiram tacitamente e cuidadosamente se apoiaram na porta. Era óbvio que Sua Alteza estava esperando pela alquimista.

Cerca de uma hora depois, houve um som na sala.

Eles imediatamente viraram a cabeça, cerrando os olhos.

Duas mulheres entraram no quarto. Uma era a alquimista de véu preto que Conde Quinn havia mencionado, e a outra provavelmente era a assistente da alquimista. Ela carregava uma espécie de bolsa, vestia uma espécie de bata sacerdotal vermelha e um manto branco, além de possuir lindos cabelos cacheados dourados.

— Vocês estão atrasadas. — Appen disse, descontente.

— Desculpe. — A loira curvou-se e respondeu — Nos atrasamos devido a uma situação inesperada no caminho.

— Não há necessidade de explicar. Tudo o que precisamos fazer é acordar o pai. Não importa se chegamos cedo ou tarde. — A mulher de véu preto disse isso com uma voz gélida.

— Você não deveria dizer isso! Ainda precisamos da ajuda de Sua Alteza. — A loira tirou um frasco de porcelana verde da bolsa — É bom que as duas partes mantenham um relacionamento harmonioso, não é?

— Dê-me o remédio. — Appen deu dois passos na direção delas, mas foi parado pela mulher de véu preto.

— Você esqueceu nosso acordo? Este medicamento só é eficaz se for ministrado por mim e, em troca, você deve atender aos requisitos de Sua Santidade.

Sua Santidade! — Otto ficou chocado. Este honorífico só poderia ser usado para nomear o Papa. Ele se perguntou se eles realmente foram enviados pela igreja.

Ele não pôde deixar de morder o lábio. Aparentemente, elas não eram alquimistas, mas bruxas purificadas.