Quando os dois escudeiros da Igreja entraram na varanda, não se sentiram desconfiados. Afinal de contas, esse restaurante era um lugar só para pessoas de alto status social na cidade, e uma investigação ali seria apenas uma parte rotineira de seu trabalho.
— Que horas vocês chegaram a este restaurante? Vocês saíram deste lugar nas últimas horas? — perguntaram os dois escudeiros.
Embora um barqueiro transeunte tivesse relatado à Igreja que ele havia testemunhado um jovem usando uma cartola preta e um monóculo invocando uma bola de fogo poderosa, o barqueiro não conseguiu descrever a aparência física do atacante em detalhes.
Assim que a testemunha mencionou o sujeito de cartola preta, Haulies percebeu quem era o atacante. No entanto, a informação que esses escudeiros tinham ainda era limitada demais para que percebessem que o jovem nobre que estava bem na frente deles era o próprio assassino que eles procuravam.
— Às nove e quarenta. Chegamos a este restaurante às nove e quarenta, — Lucien respondeu calmamente: — Tenho um compromisso com a srta. Graça hoje e não me ausentei deste restaurante.
Lucien disse a palavra “restaurante” em vez de “varanda” a fim de parecer honesto aos olhos de Graça.
— Sr. E… Hmm… Esse cavalheiro é meu amigo, e estávamos discutindo dedilhados de piano agora mesmo. — Graça estava bem ao lado de Lucien e ela também não tinha ideia de que ele realmente havia feito tantas coisas nos quinze minutos em que esteve no banheiro.
— Suas palavras são com certeza confiáveis. — Um dos escudeiros assentiu. — Eu realmente gosto da sua performance no piano, senhorita Graça.
E depois de uma busca casual naquela varanda, os dois escudeiros foram embora.
Quando a porta da varanda foi gentilmente fechada pelo lado de fora, Lucien sorriu.
— Vamos continuar agora?
De fato, matar Brown nunca havia sido uma tarefa tão desafiadora para ele. No entanto, conseguir escapar do cerco dos patrulheiros noturnos e cavaleiros após matá-lo seria a parte mais difícil de toda a missão. Além disso, o melhor caminho seria fazer com que o próprio Brown saísse de perto da proteção que tinha.
— Claro, — respondeu Graça ansiosamente. Ela nunca imaginou que poderia ter uma chance preciosa como essa, para receber aulas de Lucien Evans em pessoa.
Lucien ensinou Graça com muita paciência até o meio-dia. Quando esperavam pelo almoço, ele disse a ela:
— Algum plano para o seu futuro?
Graça abaixou a cabeça, mas não respondeu imediatamente. Embora continuasse dizendo a si mesma que havia sido a sua vida difícil que a forçou a roubar o nome de Lucien Evans e viver em uma grande mentira, ela sabia que, apesar de todas essas razões, o que esteve fazendo se devia a sua própria ganância.
— Eu farei o que você quiser que eu faça, Sr. Evans, — Graça abriu a boca com grande esforço.
— Você me fez um favor. Você me ajudou a resolver um problema entre meu amigo e o Sr. Granneuve, e eu realmente agradeço, — disse Lucien sinceramente. — Se você realmente quer ser uma boa musicista, vá para Aalto, junto com sua família. Eu posso escrever uma carta para você ao presidente da Associação de Músicos, como seu instrutor.
— Sério? — Graça ficou muito surpresa.
Lucien assentiu com a cabeça e continuou:
— Ou, se você quiser continuar usando meu nome e permanecer em Sturk para desfrutar da sua reputação, eu não vou admitir nem negar isso. É com você.
Graça olhou para a impecável toalha de mesa branca e permaneceu em silêncio. Tinha muitos pensamentos passando ao mesmo tempo pela sua mente. Sabia que, sem uma base sólida real quanto à teoria musical e também na prática, mais cedo ou mais tarde sua falsa reputação de ser estudante de Lucien Evans se tornaria um fardo pesado para ela.
No entanto, pensando no estilo de vida luxuoso que ela estava vivendo agora em Sturk, seria muito difícil para ela dizer adeus a ele.
Lucien não apressou Graça. Não importa qual opção ela escolhesse, sua escolha realmente não tinha nada a ver com ele.
Um par de batidas gentis na porta trouxe Graça de volta dos seus pensamentos. Ela se sentou um pouco mais ereta e, quando o garçom deixou a varanda, disse a Lucien com determinação:
— Eu vou para Aalto, Sr. Evans.
Lucien colocou um guardanapo no colo e começou a cortar seu bife:
— Vou escrever cartas de recomendação ao Sr. Victor e ao Sr. Christopher.
Quando Lucien e Graça estavam conversando sobre a Associação de Músicos em Aalto, alguém bateu na porta novamente.
— Sim? — perguntou Graça em um tom alegre. Depois de tomar essa decisão difícil, Graça se sentiu mais relaxada.
— Somos nós, Graça. — Era Green, o violinista da banda.
— Por que vocês estão aqui? — perguntou Graça novamente, confusa.
— Precisamos ensaiar juntos esta tarde, não se lembra? Vamos juntos! — Era Piola.
Graça não respondeu imediatamente.
— Graça, abra a porta, — disse Green. — Você combinou com a gente. Você concordou em fazer isso. E nós temos que fazer isso.
— Sim, não temos escolha, — concordaram os outros membros da banda.
Ouvindo suas palavras, Graça forçou um sorriso no rosto e sussurrou para Lucien.
— Depois da noite em que te encontrei no restaurante, eu estava nervosa e ansiosa demais, então eu não fui aos nossos ensaios regulares. Eles pensaram que eu queria sair.
Lucien realmente não se importou. Ele colocou um pedaço de carne na boca e disse:
— Lide com isso da forma que quiser.
Graça assentiu e caminhou em direção à porta, abrindo-a parcialmente.
— Não se preocupem. Eu não desistirei desse concerto, — disse Graça aos outros membros da banda. — Mas, depois disso, vou para Aalto para aprender mais sobre música.
— Você está de brincadeira? — Green parecia um pouco chateado. — Agora você tem dinheiro e reputação, e você quer ficar longe de nós?
Embora os outros membros da banda fossem bastante famosos na cidade, eles não chegavam nem perto de Graça, pois ela era a única na banda que tocava piano. Claro, eles não achavam que aquilo era justo.
Portanto, gradualmente, esses jovens que se uniram por causa do mesmo sonho musical começaram a perder o foco e até a si mesmos.
— Graça, — disse Sharon, que não estava olhando para ela, mas sim para o chão, — você sabe que podemos contar aos jornais o que você está fazendo agora.
Embora Graça ainda estivesse se sentindo culpada, depois de ouvir as palavras de Sharon, soltou um longo suspiro e respondeu:
— Vá em frente, Sharon. Ninguém vai acreditar em você.
— Essa encenação de um mês realmente fez você acreditar que é uma aluna do Sr. Evans? — disse Green sarcasticamente.
Graça abriu a porta completamente:
— Eu tenho alguém que me apoia nisso.
— Sr. Evans?! — Os membros da banda ficaram chocados.
Eles não tinham ideia de quando Lucien Evans chegou a Sturk ou quando Graça desenvolveu um relacionamento tão bom com ele.
Lucien largou a faca e o garfo, enxugou a boca devagar e caminhou até Graça.
— Mandarei as cartas para você mais tarde. Quando estiver em Aalto, leve as cartas para o sr. Christopher.
— Obrigado, Sr. Evans… Não, obrigado… meu professor, — disse Graça animadamente.
Lucien assentiu, e quando ele passou pelos outros membros do grupo, disse para eles:
— Espero que vocês nunca esqueçam dos seus sonhos na música. Vocês não poderão depender da fama de outra pessoa pelo resto da vida.
Isso também era o que Lucien queria dizer para si mesmo. Quando Lucien saiu daquele corredor, indo embora, alguns dos membros da banda baixaram a cabeça, envergonhados.
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No dia seguinte, estava ensolarado e quente.
Lucien e Barqueiro estavam ambos em uma pequena gôndola, se movendo ao longo do canal. Lucien olhou confuso para Barqueiro. Não podia acreditar que o feiticeiro aparecesse em público assim na cidade.
— Não se preocupe, meu amigo. Minha Benção veio de uma criatura especial, e sou muito bom em me disfarçar. É por isso que estou aqui. — Barqueiro sorriu. — Obrigado, Sr. Evans. Você é fantástico. Você mesmo fez o explosivo? Com os materiais que lhe dei?
Barqueiro não conectou a questão da ponte de pedra a Lucien. Ele pensou que havia sido apenas um acidente, afinal, Lucien estava no barco dele naquela hora.
Lucien percebeu que a atual aparência física de Barqueiro podia não ser real, mas ele não queria se incomodar muito com esse assunto agora.
— Sim, fui eu. É uma fórmula singular e antiga, — respondeu Lucien casualmente.
— Entendo. — Barqueiro olhou para frente. — Dado que você cumpriu com sucesso a missão, agora é minha vez de cumprir minha promessa. Vou levá-lo para a casa de um estudioso mais tarde. Até vocês saírem de Sturk, sugiro que não saia de lá.
— Estudioso? — Lucien estava um pouco confuso.
Tradução: Vermillion
Revisão: Barão
QC: Bravo
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