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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 17 – Cap. 09 – Campo de Batalha da Ariel

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O local reservado por nós era um dos grandes salões de recepção do Palácio de Prata, usado principalmente para grandes reuniões e festas. Hoje, havia uma única mesa longa na sala, adornada com grandes e belos arranjos de flores; pratos, copos e talheres já estavam arrumados na toalha de mesa. Todos os lugares foram previamente atribuídos a cada um dos convidados esperados. Uma vez que a festa começasse, a comida provavelmente seria levada até eles em bandejas de prata.

O salão estava tão ricamente decorado que você nunca suspeitaria que todo o evento foi organizado em apenas dez dias. Havia algo emocionante em olhar para a sala, pronta e esperando por seus convidados, antes que mais alguém chegasse.

Eu estava oficialmente lá como um membro da equipe. Eris e eu estávamos perto da entrada da sala de espera, estudando os rostos dos participantes enquanto eles chegavam. A sala de espera em si não era muito apertada. Havia uma espécie de pré-festa acontecendo lá, com os convidados circulando entre as mesas de refrescos. Alguns deles tinham expressões impacientes e esperançosas, outros pareciam ansiosos, mas muitos haviam chegado bem cedo.

A maior parte da conversa na sala de espera envolvia especulações sobre o que a princesa Ariel iria dizer e como a facção do príncipe Grabel poderia reagir. O tom daquelas conversas era, em sua maioria, leve, provavelmente porque nenhum dos figurões havia chegado. A maior parte dos primeiros convidados eram nobres menores que não seriam muito afetados, independentemente de quem assumisse o trono.

O primeiro grande jogador chegou um pouco atrasado. Era Pilemon Notos Greyrat, acompanhado de seu filho mais velho.

Pilemon parou na entrada para me encarar com uma hostilidade indisfarçável.

— Hmph. Você realmente acha que pode voltar para a casa dos Notos Greyrat depois de todos esses anos?

Fiquei um pouco surpreso com o veneno em sua voz.

— A ideia nunca passou pela minha cabeça, honestamente.

 — Lembre-se disso, garoto: por todos os direitos, você nem deveria ter permissão para se chamar de Greyrat.

— Hum… certo.

Depois da tentativa confusa de insulto, Pilemon estudou os rostos dos convidados na sala de espera e depois desapareceu em uma sala privada reservada para a alta nobreza.

 — Qual é o problema dele? — sibilou Eris baixinho. Ela parecia muito mais chateada do que eu.

Parando para pensar sobre isso… quando era criança e estava com os Boreas Greyrats, todos pareciam supor que eu estava desconfortável com a posição social estranha da minha família. Não parecia grande coisa na época, mas e se Paul tivesse pedido à família Notos para me acolher, em vez dos Boreas? E se eu acabasse dando aulas particulares para um de seus filhos? Com gente como Pilemon por perto, isso provavelmente teria sido desagradável…

Bem, está tudo no passado agora. Pilemon podia ser o irmão mais novo de Paul e do meu tio, mas também era um inimigo que Ghislaine mataria em pouco tempo. Ainda bem que eu não suportava o cara.

Após a chegada de Pilemon, o restante dos convidados importantes começaram a aparecer em ritmo constante. Os pais das atendentes de Ariel e vários membros da família de Triss estavam entre eles. Os outros patriarcas das quatro grandes casas também apareceram. O clã Euros chegou primeiro, depois Zephyros e, finalmente, Boreas.

Quem é o novo chefe da casa Boreas mesmo? Thomas? Gordon? Eu lembro que era o mesmo nome de uma das locomotivas em “Thomas e seus Amigos”… Oh, certo. James.

De forma muito parecida com Pilemon, ele entrou na sala com seu filho mais velho ao seu lado. O homem parecia mais com Sauros do que Philip, tendo um porte físico musculoso, mas seu rosto estava visivelmente abatido. Pelo que Ariel me disse, ele renunciou ao cargo de Alto Ministro para assumir seu novo papel como suserano de Fittoa. Como tudo em seu território havia desaparecido no Incidente de Deslocamento, ele ainda estava lutando para se estabilizar.

De certa forma, era impressionante como a casa de Boreas não tinha desmoronado sob a pressão. Talvez estivessem alavancando o valor de todas as suas terras vazias de algum jeito. Ou talvez James, com um esforço heróico, estava segurando as pontas.

Esforço heróico, hein?

Bem… a reconstrução de Fittoa estava avançando. De forma muita lenta? Sim. Mas a exaustão em seu rosto era a prova de que não estava apenas sentado o dia todo. Ele provavelmente teve que lutar muito por sua própria sobrevivência após aquele desastre. Embora eu não tenha certeza de quantas vítimas do desastre sentiriam tanta simpatia por sua posição…

Depois de um breve olhar em nossa direção, focado em Eris, na verdade, James foi para uma sala de espera privada também.

Finalmente, depois que todos já haviam aparecido, o Alto Ministro Darius chegou. Seu único companheiro era um único guarda-costas.

Assim que colocou os olhos em mim, Darius desviou o olhar com uma careta de medo. Mas o guarda-costas veio em minha direção.

Foi interessante dar uma boa olhada no homem em plena luz do dia, embora isso não o tornasse menos peculiar. Estava vestido casualmente, seu cabelo o fazia parecer um cogumelo venenoso e havia quatro espadas em sua cintura.

— É um grande prazer conhecê-lo, senhor. Eu sou o Imperador do Norte Auber Corbett, embora seja comumente chamado de Lâmina Pavão.

Olhei para baixo e vi que Auber estava de pé confortavelmente em ambas as pernas. Ele nem parecia mancar. Mas dada a diversidade em Asura, não é uma surpresa que tivessem curandeiros que pudessem curar uma lesão como essa de forma tão rápida.

— O prazer é todo meu. Já ouvi muito sobre você. Meu nome é Rudeus Greyrat.

— Ah, Rudeus Atoleiro… ou talvez você prefira Rudeus, o “Cão do Dragão?”

Hum. Isso faria de Orsted o novo Mestre do Canil? Que nostálgico. Nos meus dias de aventura, eu era quem segurava a coleira, mas a situação aparentemente virou. Orsted provavelmente não se incomodaria em tentar melhorar a reputação do meu povo, no entanto…

— Minhas desculpas, senhor. — Auber continuou com um sorriso. — Parece que seu grupo foi atacado várias vezes nos últimos dias?

— Temo que sim.

— Dizem que você evitou as emboscadas covardes de seus oponentes com grande habilidade.

Uh, você está se chamando de covarde? Okay

Auber estava sorrindo levemente, como se tudo isso fosse apenas uma pequena brincadeira entre nós. Mas seus olhos não pareciam nada divertidos.

— Da próxima vez, talvez você tenha uma luta mais justa.

Por apenas um momento, seu rosto ficou estranhamente sério. Então, ele se virou e foi embora.

Era essa sua maneira de declarar guerra?

Em nossos dois encontros até agora, parecia me ter como alvo. Talvez ele realmente fosse o terceiro discípulo.

De qualquer forma, o convidado mais importante, o Primeiro Príncipe Grabel, não iria para a sala de espera. Em vez disso, esperava-se que aparecesse diretamente no salão principal assim que a festa começasse.

Em outras palavras, todos os jogadores estavam reunidos.

A festa havia começado para valer.

Os nobres entraram no salão em uma ordem específica e tomaram seus assentos ao longo da enorme mesa central. Assisti tudo isso da periferia da sala, junto com muitos outros guarda-costas. Ariel tinha arranjado para que quase não houvesse guardas do palácio de plantão, então a maioria dos nobres trouxe os seus. Eris e Ghislaine estavam ao meu lado, mantendo um olhar cauteloso ao redor.

Sylphie não estava presente. Ela tinha um papel importante a desempenhar nas próximas cerimônias e estava esperando em outro lugar.

Ariel estava atrás do lugar de honra, na cabeceira da mesa. Assim que todos os convidados se acomodaram em seus assentos, ela deu um passo à frente.

— Muito obrigada a todos por tirarem um tempo de suas agendas lotadas para participar desta festa.

A princípio, seu discurso de boas-vindas foi bastante convencional. Começou mencionando a doença do rei, fez algumas observações sobre o estado das coisas em Asura e falou sobre como se sentiu assistindo os desenrolares de longe durante seus estudos no exterior… esse tipo de coisa.

No entanto, logo a sua investida começou.

— Há uma razão específica pela qual reuni todos vocês aqui hoje. Tenho duas pessoas que gostaria de apresentar a vocês.

Enquanto Ariel falava essas palavras, uma mulher voluptuosa em um lindo vestido entrou no salão. Sem dizer nada, ela caminhou lentamente pelo corredor para ficar ao lado de Ariel.

Quando Darius deu uma olhada no rosto dela, seus olhos se arregalaram. Alguns outros nobres à mesa se levantaram, a cor sumindo de seus rostos. Esses provavelmente eram os representantes da família Purplehorse.

— Esta é Tristina, a segunda filha da Casa Purplehorse. Por pura coincidência, eu a conheci em minhas viagens e no mais improvável dos lugares.

Segurando a borda do vestido, Triss fez uma reverência impecável. Foi muito mais suave do que qualquer coisa que Eris poderia ter conseguido, no mínimo.

— Muito obrigada pela apresentação, Alteza. Senhoras e senhores, meu nome é Tristina Purplehorse.

Houve uma comoção de vozes por todo o salão.

— Ela não desapareceu?

— Eu pensei que ela estivesse morta!

— Aquela garota está viva?!

— Ela certamente se tornou linda…

Depois de alguns momentos, no entanto, os comentários começaram a se concentrar em uma questão em particular.

— Mas… o que ela está fazendo aqui?

— Quando a encontrei e a levei sob minha proteção, Tristina estava terrivelmente enfraquecida — continuou Ariel. — Mas ela me disse que tinha várias coisas a dizer a todos vocês, então a trouxe comigo para esta reunião.

Após isso, Triss deu um passo à frente e se aproximou de Darius, que estava sentado em um lugar de destaque. Olhando-o com o desdém de quem observa um porco particularmente imundo, começou a contar sua história.

Ela não falou no tom áspero de um bandido. Suas palavras eram limpas e elegantes, como as de uma nobre. Falou da traição de sua família a vendendo para o Alto Ministro Darius. Expôs como ele a manteve como um animal de estimação, um cachorro. E contou como quase perdeu a vida após o Incidente de Deslocamento.

Contou a história da gangue de bandidos que a comprou e de sua vida como um brinquedo de seu líder. E, por fim, explicou como Ariel a resgatou.

Triss contou tudo em um tom de voz calmo e firme, de forma levemente dramatizada com o intuito de tocar o coração de qualquer um que a ouvisse. Acabou por deixar de fora a parte em que ela mesma se tornou uma bandida, implicando que simplesmente suportou todo o abuso até que nosso grupo a resgatou.

Vários nobres começaram a chorar durante a história e eu tive a sensação de que Ariel havia pedido de antemão para que fizessem  isso. Mas muitos dos outros, especialmente os aliados de Darius, tinham expressões claras de choque e consternação estampadas em seus rostos. Particularmente, os membros da família Purplehorse estavam pálidos de medo e suando visivelmente.

O próprio Darius, no entanto, manteve uma expressão plácida. Em momento algum fez menção de perder a compostura, pelo menos aparentemente. Aquele era o rosto de um homem que já tinha escapado de situações muito mais difíceis do que a atual.

— E essa é toda a minha história.

Triss finalmente havia encerrado a sua fala, e quando deu um passo para trás, Ariel avançou.

— Agora — disse a princesa, exprimindo seu habitual sorriso vibrante. — Isso tudo é bastante surpreendente, ministro Darius. Eu certamente não esperava ter eventos tão chocantes revelados na frente de todos assim. É realmente difícil de acreditar… você poderia realmente ter abusado de seu poder tão descaradamente? Sequestrou uma garota de nascimento nobre e a tratou como sua escrava pessoal?

Seu tom, calmo no início, começou a esquentar rapidamente enquanto avançava com a fala. Naquele momento, a princesa Ariel estava cuspindo as palavras em Darius com a voz carregada pela fúria.

— É assim que um Alto Ministro de Asura se comporta? Este é realmente o comportamento de um homem que administra todo o nosso reino? Que vergonha. Tem algo a dizer a seu favor, senhor?

Com um bufo desdenhoso, Darius se levantou lentamente.

— Princesa Ariel, hoje você levou seus joguinhos um pouco longe demais. — Seus olhos estreitos brilharam com malícia. Ele se virou para encarar Triss. — Eu dificilmente esperava que você pegasse uma mulher na rua e insistisse em chamá-la de filha da Casa Purplehorse. Ah, eu sei que meus inimigos se deliciam em espalhar rumores maldosos desse tipo pelas minhas costas, mas, na verdade, esta é a primeira vez que alguém joga essas mentiras diretamente contra a minha pessoa.

Rindo alto, virou-se para encarar todos ao redor da sala, intuitivamente  encorajando os outros nobres a concordarem que Triss era de fato uma impostora.

— Você afirma que a história dela é falsa? — indagou Ariel.

— Naturalmente. Agora, tenho uma pergunta para você, Princesa Ariel. Você tem alguma prova de que esta… Senhorita Tristina é de fato a segunda filha da Casa Purplehorse?

— Tristina.

A pedido de Ariel, Triss enfiou a mão no busto do vestido e pegou algo.

Era um anel. Tinha uma bela joia roxa no centro, com a imagem de um cavalo esculpida em sua superfície.

— Ah! Uma ametista com a imagem de um cavalo. Certamente é isso que os membros da Casa Purplehorse usam para provar sua identidade.

Darius admitiu tudo isso com bastante facilidade, porém seu rosto não perdeu a compostura. Muito pelo contrário, seu sorriso ficou ainda mais nítido e odioso.

— Entendo, entendo. Já que esta linda garota carrega aquele anel, parece que realmente é uma Purplehorse… — Fazendo uma pausa para dar efeito, Darius olhou para Ariel e Triss como o velho sujo que era. — Ou assim se poderia acreditar inicialmente.

Naquele momento, o sorriso presunçoso em seu rosto era doentio de se olhar.

— Por acaso, tenho notícias para compartilhar sobre Tristina Purplehorse. Receio que ela tenha sido identificada recentemente.

— Identificada? — Ariel inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, em um claro sinal de dúvida.

— Tenho certeza de que todos se recordam, senhoras e senhores, de uma certa operação que realizamos na capital há cerca de um mês — disse Darius. — Seu objetivo era encontrar todos os membros de certas organizações criminosas que se enraizaram na capital real. No decorrer dessa operação, temo que o corpo da senhorita Tristina tenha sido descoberto.

Ariel respirou fundo com isso.

Um mês atrás? Ele estava se preparando para isso com antecedência?

— Claro, seu anel já havia sido vendido no mercado negro, então foi difícil para nós estabelecermos sua identidade de forma conclusiva. No entanto, o corpo da senhorita Tristina tinha uma característica distintiva que apenas sua família conhecia: uma marca de nascença em forma de lua crescente em seu peito…

Isso era apenas uma mentira, não era? Triss não tinha nenhuma marca de nascença desse tipo. Pelo menos, não em nenhum lugar que eu tenha visto… e ela usava roupas bastante reveladoras.

— Acredito que o chefe da Casa Purplehorse poderá confirmar tudo isso para nós. Não é mesmo, Lorde Freitus Purplehorse?

Ainda assim, não tínhamos como provar que Darius estava mentindo. Se o chefe da Casa Purplehorse o apoiasse nisso, essa falsidade se tornaria a verdade. E se Darius então exigisse que Triss expusesse sua pele, ele poderia “provar” que ela era uma impostora.

E agora, Ariel? Você estava pronta para isso? Gravamos sete cicatrizes no peito dela só por precaução?

A princesa ainda mantinha seu sorriso inexpressivo, então não consegui decifrar suas emoções. Espero que ela não esteja gritando internamente agora.

Um homem que parecia ser o chefe da família Purplehorse levantou-se silenciosamente.

Analisando-o de perto, pude ver uma semelhança precisa com Triss… embora seu rosto pálido e lábios trêmulos sugerissem que não era muito parecido com sua filha bandida descarada.

— Vá em frente, Lorde Freitus. Você mesmo identificou o corpo, não foi? Você sabe tão bem quanto eu que Tristina está morta, não desaparecida.

Como um demônio sussurrando em seu ouvido, Darius murmurou suas palavras em um tom quase reconfortante e o sorriso que esboçou para Freitus foi provavelmente uma tentativa de parecer amigável.

— A mulher que está diante de você é uma impostora que assumiu o nome de Tristina. Talvez possa testemunhar nesse sentido, senhor? Apenas para acabar com essa farsa desagradável? A menos que você faça isso, temo que deveremos  pedir àquela senhora que se exponha em público, o que seria realmente muito desagradável.

Darius parecia completamente seguro de si. O leve sorriso de Ariel também não havia deixado seu rosto.

Freitus, por outro lado, estava tremendo como um bezerro recém-nascido. A tensão no ar era grande. Eu era um mero espectador, e mesmo assim a minha boca ficou completamente seca.

— M-Minha filha…

De forma lenta e hesitante, Freitus começou a falar.

— Minha filha foi roubada de nós… pelo Ministro Darius…

Suas palavras… não foram exatamente as que eu esperava.

— Senhor Freitus! — gritou Darius. — O que você está dizendo?!

— Aquela mulher parada ali é minha filha, Tristina Purplehorse! Não há dúvida em minha mente! Princesa Ariel, eu imploro, dê a este homem uma punição justa pelo sequestro e abuso da minha filha!

— Não seja ridículo, Freitus! — Darius se inclinou sobre a mesa, derrubando sua cadeira no processo. — Você colocou seu selo naquele documento de identificação pessoalmente!

Ariel sorriu levemente.

— Não existe tal documento, Lorde Darius.

— O quê…

Ah, certo. Agora eu entendi. Claro, isso faz sentido…

Ariel já havia conquistado a Casa Purplehorse para seu lado. Ela antecipou o tipo de truque que Darius poderia fazer, e assim o minou com antecedência.

Eu tinha muito a aprender com essa mulher. De verdade.

— Então agora,  Alto Ministro. Dado este testemunho do chefe da Casa Purplehorse…

Ariel ainda tinha seu sorriso estampado no rosto, mas eu estava começando a sentir alguma malícia por trás disso.

— Parece que você realmente sequestrou, aprisionou e estuprou uma garota inocente de nascimento nobre. Independentemente de sua importância para este reino, tais crimes não podem ser desculpados. Espero que você seja punido de acordo com nossas leis.

O rosto de Darius se contorceu horrivelmente em medo e raiva, e seus olhos correram ao redor de toda a sala. Porém, ele não tinha mais um único aliado sequer sentado naquela mesa. Agora que havia sido completamente superado, sua queda estava garantida. Se seus velhos amigos tivessem saído em sua defesa, talvez pudesse até ter conseguido sair dessa situação. Contudo, parecia que nenhum deles queria assumir o risco de ser marcado como seu co-conspirador.

Havia uma explicação simples para isso: todos que apoiavam o Primeiro Príncipe Grabel acreditavam que ele já tinha assegurado o trono, mesmo sem a ajuda de Darius. As bases para sua vitória foram lançadas por Darius e pelo próprio Grabel na ausência de Ariel, e essas bases eram sólidas. Basicamente, a remoção de Darius do tabuleiro neste estágio só mudaria uma coisa: todos eles subiriam um posto na hierarquia de sua facção. E aquele que conseguisse garantir a antiga posição de Darius se tornaria o nobre mais poderoso de toda Asura.

Todos os antigos aliados do Alto Ministro, os homens e mulheres que comiam de sua mão há anos, abandonaram-no num piscar de olhos.

E com isso, Darius estava destruído. Ariel o havia destruído.

Neste ponto, ela provavelmente poderia apenas dar um passo para trás, e os outros nobres o arrastariam para baixo por conta própria. Mesmo que ele conseguisse facilmente salvar seu pescoço no tribunal, nenhum membro que se preze da aristocracia asurana perderia a chance de esmagá-lo logo em seguida.

Existia apenas uma pessoa nesta festa que ficaria incomodada com a queda de Darius. Alguém que tinha seu papel nos muitos esquemas do homem exposto.

— Esta festa parece mais… turbulenta do que eu esperava.

O homem em questão apareceu de forma repentina. Era quase como se estivesse esperando por este exato momento.

Um homem loiro, de meia-idade e com uma expressão digna de sua posição. Este era o Primeiro Príncipe Grabel.

Entrando na sala por trás do assento de honra, fixou os olhos em Ariel, mas manteve a expressão serena e neutra.

O segundo round estava prestes a começar.

 

Separador Tsun

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Grabel Zafin Asura caminhou direto para sua irmã mais nova sem desviar seu olhar dela.

— Qual é o significado dessa agitação vergonhosa, Ariel? Você esqueceu que o nosso pai está gravemente doente?

— Que agitação? Estou simplesmente defendendo a honra de nossa nobreza como um todo.

— Estou dizendo que há momentos e lugares para esse tipo de coisa — disse Grabel, balançando a cabeça irritado. — Com nosso pai incapacitado, o Reino de Asura dificilmente pode se dar ao luxo de perder os muitos talentos de nosso Alto Ministro.

— Talvez sim, talvez não. De qualquer forma, seus crimes são reais.

— Mesmo que essas acusações sejam verdadeiras, Darius é um alto nobre, e os membros da Casa Purplehorse são de nível médio. Deve ser óbvio qual deles é mais valioso para o nosso reino.

Na minha vida anterior, em que chegamos a dizer que todos eram iguais, um comentário como esse teria feito esse cara ser demitido de seu emprego em pouco tempo. Mas este era o Reino Asura; as pessoas definitivamente não nasciam iguais aqui, e ninguém fingia que eram.

— Não contesto isso, Grabel, mas repito: seus crimes são reais. Como um reino regido por leis, não podemos simplesmente ignorá-las.

— Então ele deve ser punido? Entendo. Você não está totalmente errada, Ariel… Mas você sabe tão bem quanto eu que há muitos outros nesta sala que deveriam ter seus atos expostos e julgados. Você pretende jogar cada um deles em uma cela de prisão?

— É claro. Se for necessário.

Lendo nas entrelinhas, Ariel estava prometendo que não puniria ninguém que fosse “necessário” para ela. Ninguém ligou para isso, é claro. Era incrível o quão fedorento e podre este reino realmente era.

— Hmph. Então você está convencida de que punir Darius é necessário. E eu acredito no contrário. — Com uma pequena risada, Grabel sorriu condescendentemente para sua irmã. — Parece que estamos em um impasse!

— Creio que sim — respondeu Ariel.

Balançando a cabeça teatralmente, Grabel finalmente voltou sua atenção para os outros na sala.

— Lamentavelmente, nós dois não conseguimos chegar a uma decisão sobre este assunto. O Alto Ministro normalmente mediaria tais disputas, mas como isso diz respeito a ele pessoalmente…

Fazendo uma pausa, olhou ao redor da mesa, estudando os rostos dos nobres um por um.

O que ele está fazendo agora?

— De acordo com a tradição, devemos colocar o assunto em votação. Convenientemente, parece que temos quase todos os principais homens e mulheres de Asura nesta mesma sala. Vocês fariam a gentileza de decidir qual de nós está certo?

Parecia quase democrático. Mas é claro, ele estava apenas falando com os aristocratas. E o que estava realmente perguntando a eles era: “Vocês acham que eu vou ganhar esta luta, ou Ariel?”

Havia também uma ameaça implícita naquela fala. Qualquer um que votasse contra Grabel seria adicionado à sua lista de inimigos e provavelmente expurgado do poder assim que tivesse a chance.

Os nobres não pareciam particularmente surpresos com o desenvolvimento do conflito, pois provavelmente sabiam que algo assim aconteceria em um futuro próximo. Talvez um evento semelhante já tenha ocorrido, quando Grabel estava competindo com o Segundo Príncipe.

De qualquer forma, eles é quem vão decidir, aqui e agora, de que lado realmente estavam. Muitos secretamente já estavam aliados a uma facção ou a outra há algum tempo, mas isso seria uma declaração pública de sua lealdade. Eles iriam avaliar a situação como estava e tomar sua decisão com base nisso.

Darius estava acabado. Isso foi uma perda séria para a facção de Grabel. No entanto, ainda tinham muitos outros nobres de grande influência e poder ao seu lado. Isso incluía Notos e Boreas das quatro grandes casas, ao lado de vários outros altos nobres.

As forças de Grabel eram simplesmente esmagadoras. Sua vitória estava essencialmente garantida.

Mas assim que os nobres estavam começando a chegar a essa conclusão, Ariel falou com um sorriso brilhante no rosto:

— Isso soa muito razoável, Grabel. Mas antes de chegarmos a isso, uma outra pessoa a qual eu queria apresentar a todos.

— O quê?

Ariel estalou os dedos. Ellemoi, que estava esperando no terraço do lado de fora, enviou um sinal usando seu anel.

Em um rugido ensurdecedor, uma enorme coluna de fogo subiu em espiral no ar logo além das janelas do palácio.

Era o feitiço Intermediário Pilar de Chamas, com seu tamanho grandemente ampliado pelo uso de técnicas silenciosas de lançamento de feitiços. As chamas subiam sem parar no ar, queimando as paredes do palácio à medida que avançavam. Provavelmente nem preciso dizer, mas tudo isso foi obra de Sylphie.

— Qual é o significado di…?!

— O quê…?!

— Hum?!

— Não pode ser!

Os nobres se levantaram para ver as chamas. O feitiço em si não os surpreendeu, no entanto. Era fácil ver magia dessa qualidade na capital de Asura, se quisesse. Em vez disso, seus olhos estavam fixos no que estava além dela. Algo enorme se movia pelo céu noturno, iluminado pelas chamas crescentes. E era algo que não se via todos os dias, mesmo em uma cidade como Ars.

— Essa é a fortaleza flutuante?!

— Quando chegou em Asura?!

A fortaleza flutuante Destruidora do Caos havia chegado.

O majestoso castelo de Perugius se aproximou a uma velocidade absolutamente assustadora, voando tão baixo que parecia provável que se chocaria contra nós. E enquanto os aristocratas trêmulos a observavam através das janelas… com os olhares vidrados naquela monumental estrutura…

Ela parou bem acima de nós.

A fortaleza flutuante pairava no céu logo acima do Palácio de Prata.

A sala ficou em completo silêncio.

Foi nesse momento que me peguei imaginando exatamente como Perugius estava planejando chegar. Ele não ia pular ou coisa assim, certo?

Não seja estúpido, Rudeus… O cara é especialista em Invocação e Teletransporte. Ele provavelmente pode se transportar até aqui muito bem.

— Espere… ele está vindo?!

— …

— Não, isso não pode ser verdade… ainda assim…

Os nobres estavam começando a sussurrar para si mesmos agora, com a tensão e o medo em seus rostos dando lugar à excitação enquanto olhavam para fora das janelas.

Ellemoi se posicionou ao lado da porta ao pé do salão. Alguns dos aristocratas pareciam intrigados com isso.

— Ele não entraria pela cadeira de honra? — Alguém murmurou, mas ninguém tinha uma explicação.

Depois de um tempo, ouvimos passos se aproximando. Com base nesse som, parecia que havia apenas uma pessoa lá fora. Porém, como alguns dos guarda-costas perceberam claramente, ele não estava realmente sozinho.

Havia doze outros que o acompanhavam silenciosamente.

Aqueles que notaram isso estavam tremendo de onde estavam. Perceberam que as histórias eram verdadeiras.

Os passos pararam do lado de fora da porta.

— Nosso convidado chegou — disse Ellemoi. Parecia que todos na sala estavam prendendo a respiração naquele momento.

Mas quando a porta finalmente se abriu, o clima mudou imediatamente.

— Oh! Oh! É ele! É realmente ele!

Um homem de cabelos grisalhos e olhos dourados com uma capa branca entrou na sala. Ele não era tão igual a sua pintura, é verdade; mas sua presença avassaladora e os doze servos que o seguiam logo atrás não deixavam margem para dúvidas.

Alguns dos que o viram estremeceram ou se encolheram de medo. Outros olhavam com profundo respeito e admiração em seus olhos. Indiferente a tudo isso, ele atravessou a sala, separando a multidão de nobres enquanto caminhava.

Finalmente, chegou até Ariel e Grabel.

Seus doze espíritos se dividiram em dois grupos de seis e se posicionaram em ambos os lados do salão. Um grupo agora estava ao meu lado, o guarda-costas de Ariel; o outro ao lado de Auber, que servia a Darius. Sylvaril, que parecia um pouco arrumada demais para a ocasião, ocupou o lugar bem ao meu lado. Era difícil dizer com certeza por causa de sua máscara, mas eu tinha a sensação de que estava com um humor excepcionalmente bom.

— Meus agradecimentos pelo seu gentil convite, Ariel Anemoi Asura… Mas parece que estou um pouco atrasado para a festa, não?

— De jeito nenhum. O convidado de honra deve ser sempre o último a entrar.

Perugius tinha um pequeno sorriso no rosto, e Ariel estava radiante de alegria.

Grabel, por outro lado, parecia não ter ideia do que fazer consigo mesmo. Ele estava apenas olhando para Perugius com os olhos esbugalhados.

Virando-se, Ariel falou em um tom confiante:

— Todos, permitam-me apresentá-los ao Rei Dragão Blindado, um dos lendários Três Matadores de Deuses!

Perugius não se curvou, mas simplesmente correu os olhos pela multidão como um verdadeiro lorde faria. Quando os nobres cruzaram seus olhares com o dele, ajoelharam apressadamente e curvaram suas cabeças em respeito.

— Saudações. Eu sou Perugius Dola.

Era quase cômico como ele era bom no papel de rei. Tinha autoridade real aqui. Verdadeiro prestígio. Em termos de influência, ele pode comandar ainda mais do que o próprio rei.

— Agora, todos, por favor, levantem a cabeça. Eu me junto a vocês esta noite como um convidado, nada mais, nada menos. Não há necessidade de mostrar tal deferência a um homem com quem logo compartilharão o pão.

A estas palavras, os nobres levantaram-se incertos. Logo, todos os convidados haviam tomado seus lugares mais uma vez.

— Oh? — disse Perugius, olhando ao redor da mesa com curiosidade.

Restavam apenas três lugares vagos: o lugar de honra na cabeceira da mesa e outros dois ao lado. Três participantes ainda estavam de pé. Ariel, Grabel e o próprio Perugius.

— Bem, isso é um problema. Parece que só temos três lugares disponíveis. Diga-me, Ariel Anemoi Asura, Grabel Zafin Asura, qual deles devo ocupar?

Grabel inspirou o ar bruscamente, e outros na mesa engoliram sua saliva audivelmente. Isso tudo era uma farsa. E se eu sabia disso, todos na sala também sabiam. Todos perceberam com quem Perugius havia falado e em que ordem.

— Por todos os modos… por favor, tome… a cadeira de honra, Lorde Perugius — disse Grabel, com a voz trêmula.

Ele não poderia ter dito mais nada naquele momento. Estava tão embasbacado quanto qualquer outra pessoa. Perugius não tinha autoridade para decidir o próximo rei, ou para atribuir-se um assento nesta mesa. Não havia necessidade de Grabel ceder tão facilmente.

Alguém na mesa poderia ter apontado isso. Normalmente, alguém teria. Mas neste momento, a maioria dos convidados era incapaz de considerar o assunto com tanta calma e frieza. Provavelmente haviam algumas exceções, mas estavam relutantes demais em nadar contra a corrente e se colocar em perigo.

A essa altura, entenderam o porquê de Ariel ter destruído Darius pouco antes de encenar isso.

Perugius falou, num tom de voz quase casual, e ninguém ousou interrompê-lo.

— Não, acho que não. Passei muitos anos longe deste país para me colocar no lugar de seu próximo governante.

Estendendo a mão, empurrou suavemente as costas de Ariel, ao mesmo tempo em que falava as palavras “próximo governante.

— Ariel, você pega em vez disso. Vou me contentar com a cadeira ao seu lado.

Naquele momento, todos os nobres na sala sabiam que Ariel seria rainha.

 

Separador Tsun

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Ariel havia triunfado.

Ela me usou para afastar Auber, seus próprios talentos para controlar Luke, Triss para derrubar Darius e Perugius para assim derrotar Grabel. E agora sua vitória estava garantida.

Claro, ela provavelmente teria muitas outras batalhas para travar nos próximos anos. Mas neste momento, havia triunfado. Darius e Grabel não tinham cartas que pudessem superar Perugius.

Mas é claro, esses dois não eram os únicos jogadores neste jogo.

— Lorde Perugius!

Assim que Sylvaril gritou essas palavras, o teto do salão cedeu.

Um grande lustre caiu no chão, esmagando um nobre debaixo dele. Fragmentos de pedra e metal voaram ferindo vários outros.

A escala do dano não foi particularmente grande. Foi apenas a parte do teto no centro da mesa que caiu.

Não, não foi o teto que caiu. Era uma mulher. Ela mergulhou de cima, rasgando direto. Ela era pequena em estatura, e sua pele estava enrugada com a idade. Ela segurava sua linda espada amarelo-dourada como se fosse uma bengala.

Havia uma velhinha parada no meio dos escombros.

— Minha nossa. Acho que era sobre isso que aquela profecia falava… — murmurou para si mesma enquanto descia para o nosso palco.

E lançando um olhar feroz ao redor da sala, falou com um nobre em particular.

— Bem, suponho que estou aqui para salvá-lo.

Era a Deusa da Água Reida Lia, e ela disse essas palavras para Darius.

O Deus-Homem tinha acabado de jogar sua última carta.

 


 

Tradução: Bucksius

Revisão: Pl4y_C4bs

 

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Vol. 17 – Cap. 09