Depois disso, Akane e seu esquadrão encontram os corpos dos três cavaleiros e retornam à Universidade Nishino.
O portão para a base está bem trancado.
A noite é quando os guardas ficam mais alertas.
Afinal, é quando as feras estão ativas.
O perímetro da amurada é iluminado por luzes brilhantes, e cavaleiros de olhos aguçados patrulham por toda a noite. O objetivo das paredes altas é duplo: impedir que as bestas entrem e facilitar o soar do alarme, se alguma se aproximar.
Neste dia, porém, o que os guardas encontram não é uma fera, é Akane e seu esquadrão.
— E isso é tudo o que você tem para relatar?
O primeiro a encontrá-la é seu irmão, Akira Nishino. Ele está usando óculos e um jaleco e tem um olhar ansioso e franzido no rosto.
— Sim. Assumo total responsabilidade pelo que aconteceu.
Akane acabou de entregar seus companheiros de pelotão feridos para a equipe médica e contar ao irmão o que aconteceu.
Foi ela que tirou um bando de cavaleiros da base à noite sem permissão. Ainda acha que seu irmão estava errado, mas não tem intenção de tentar evitar as consequências do que fez.
— Isso não cabe a você decidir.
— Os outros estavam apenas seguindo minhas ordens.
— Sério?
— Sério.
Akira dá à sua resposta um sorriso retorcido.
— Depois também irei até todos os outros perguntar o que aconteceu. Será interessante ver como se lembram disso, se estavam obedecendo suas ordens ou agindo por vontade própria.
— …
Akane não deu uma única ordem a seus companheiros de pelotão. Pelo contrário, estava planejando ir sozinha. Foram eles que a forçaram a deixá-los vir.
— Me dar falso testemunho não vai te fazer nenhum favor, sabe?!
Akane abaixa a cabeça.
— Ainda assim, não sou um monstro. Ouvi dizer que você trouxe de volta dois refugiados, e que um deles era um Desperto.
— …Isso mesmo.
— Onde estão? Leve-me a eles.
— Estão inconscientes. Devemos esperar que acordem e se orientem antes de…
— Leve-me a eles, agora.
— …Sim senhor.
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Akane deixou os dois refugiados na enfermaria na área residencial da base.
Como toda base, sua área residencial está extremamente superlotada. Mesmo nesta seção, onde fica o quarto de Akane, há pessoas claramente dormindo nos corredores.
— Estão aqui — diz Akane.
Quando ela entra no cômodo, é saudada por uma voz alegre lá de dentro.
— Akane, é você? Na hora certa. Uma das crianças acabou…
Uma mulher se aproxima vestindo um jaleco e com um sorriso amigável.
Quando ela vê Akira parado atrás de Akane, porém, as palavras ficam presas em sua garganta.
— Está tudo bem, Dra. Yuuka. Pode dizer a ele.
Por insistência de Akane, Yuuka, vestindo um jaleco, continua hesitante.
— O garoto acabou de acordar.
Há duas camas no quarto. Uma delas está com um garoto, a outra com uma garota.
Os olhos da garota ainda estão fechados, mas o garoto está sentado olhando para eles.
— H-Hm… Onde estou? — pergunta ele, nervoso.
— Você está na Universidade Nishino. Descobrimos que você desmaiou no hospital e o trouxemos — diz Yuuka gentilmente. — De quanto você se lembra?
— O hospital…? Por que eu estaria no hospital…?
Yuuka abaixa até ficar em silêncio.
— Ele parece estar sofrendo de problemas de memória.
— Ele está bem? — Akane pergunta.
— Provavelmente é temporário, algo causado pela superexposição à magia.
— Ele pode ter visto o Bruto em primeira mão — teoriza Akane.
— A besta de ápice do seu relatório? — diz Akira. — Se isso for verdade, precisa recuperar as memórias dele, agora.
Yuuka dá-lhe um aceno fraco, depois se volta para o garoto.
— Consegue se lembrar de alguma coisa? Qual é o seu nome?
— Meu nome…? É, uh… é Minoru.
Quando o garoto chamado Minoru diz seu nome, não parece ser fácil para ele.
Ao ouvir isso, Akane se lembra dele.
O garoto na frente dela meio que a lembra dele.
Não consegue apontar o motivo, mas lembra.
— E o seu sobrenome? Lembra?
— É Kage… err, não, não lembro…
— E a garota com quem você estava?
— A garota… — O garoto arregala os olhos. — Espere, você quer dizer Natsume?! Natsume está bem?!
— Então o nome dela é Natsume? Não se preocupe, ela está bem ao seu lado.
Minoru suspira aliviado.
— Oh, graças a Deus… Se minha irmãzinha se machucasse, não sei o que faria.
— Ah, então ela é sua irmã. O que você pode nos dizer sobre ela?
— Ela, hm… Bem, uh…
— Está tudo bem, já sabemos. Ela é uma Desperta, certo?
— Huh? Ah, claro, sim! Ela tem orelhas pontudas e cabelos prateados…
— Mas ela é uma boa garota, certo?
— Huh? Ah, sim, com certeza! É só que, a coisa é, ela não consegue falar.
— Sério…? Isso deve ser difícil.
O fato de a garota ter perdido a capacidade de falar significa que sua mutação deve ter sido muito grave.
O garoto deve ter passado por péssimos bocados tentando chegar até ela.
— Me chamo Yuuka, a médica daqui. No que diz respeito aos cuidados dela, pretendo tomar total…
— Vou cuidar dela pessoalmente — diz Akira, interrompendo-a e falando diretamente com Minoru.
— E-Espera… quem é você?
— Me chamo Akira Nishino, uma das pessoas a cargo aqui. Também sou pesquisador, e passo meus dias trabalhando o máximo possível na pesquisa de magia e Despertos para poder ajudar as pessoas.
— E-Entendo…
— Sua irmã teve dificuldades por causa de sua mutação, e isso é algo que posso entender melhor do que a maioria. Minha irmã também é uma Desperta.
— Sério?
— Pode confiar sua irmã a nós? Juro para você, farei tudo ao meu alcance para ajudá-la a falar novamente.
— N-Não sei… Eu teria que perguntar a ela primeiro.
— Perguntar a ela? Pensei que ela não pudesse falar.
— Ah, uh… Certo, ela não pode falar, mas ainda conseguimos nos comunicar através de gestos e outras coisas.
— Entendo. Então ela manteve um certo grau de sanidade…
Akira mergulha em pensamentos. Sua expressão é mista.
— Irmão querido — diz Akane —, ela ainda nem acordou, e o garoto claramente ainda está se orientando. Talvez seja melhor se você voltar mais tarde e perguntar a eles.
— Você está certa — responde ele, então se volta para Minoru. — Tenho certeza que tudo isso é um pouco repentino para você. Para esta noite, apenas descanse. Vocês agora são convidados do Messias.
— O-Obrigado por ser tão acolhedor.
Depois de confortar gentilmente o menino, ele pega Akane e sai do cômodo.
Assim que saem, ri friamente.
— Que criança ingênua.
— O que você planeja fazer com eles?
Akira não responde. Apenas solta uma risada sinistra e se dirige para a escola.
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A voz de Cid ecoa pela enfermaria mal iluminada.
— A área está limpa.
Já faz um tempo desde a conversa anterior, e a doutora também foi embora, o que significa que Beta e Cid agora estão sozinhos.
— Mestre Shadow…
Quando Beta abre os olhos, encontra seu senhor sentado no peitoril da janela e olhando para a lua. Ela pode ver a angústia à espreita logo abaixo da superfície de sua expressão. Aqueles seus olhos de ébano estão fixos no futuro distante; certamente está tecendo planos elaborados em sua cabeça.
— Não acredito que você já aprendeu a falar a língua deste mundo.
De tudo o que aconteceu até então, sua conversa anterior com os moradores é o que mais surpreendeu Beta.
Aprender a ler o idioma em apenas algumas horas foi um choque, com certeza, mas quem poderia imaginar que ele também seria capaz de descobrir as pronúncias e até mesmo colocar esse conhecimento em prática?
— Escutei suas conversas enquanto estávamos fingindo estar inconscientes e reuni seu significado através de uma combinação dos sons que faziam, a maneira como moviam a boca e as expressões que faziam. É um truque simples.
A indiferença de Shadow em relação à sua própria façanha fez com que o olhar espantado de Beta se tornasse ainda mais fervoroso.
Ele pode ter ouvido uma conversa, mas foi apenas uma conversa curta. Além disso, Beta podia dizer pelas reações dos moradores o quão absurdamente proficiente era a pronúncia de seu senhor.
O feito que ele realizou; chegar tão diretamente à resposta para entender a lógica subjacente de uma linguagem, e mesmo chegar tão longe a ponto de dominar sua fonética, só pode ser descrito como divino.
— Serei Minoru neste mundo, e disse a eles que você se chama Natsume. A história que seguiremos é que você é minha irmãzinha.
— Somos irmãos?
— Achei que seria melhor assim. Além disso, falei a eles que você não consegue falar.
— Bem, tecnicamente não consigo, então isso serve muito bem. Embora esteja fazendo o meu melhor para corrigir isso, é claro.
— Nah, acho que você deveria ficar do jeito que está. Apenas sinto que esse é um caminho melhor.
— Ah, entendo… Então, nesse caso, permanecerei muda.
Claramente, ele quer que eu continue fingindo ser incapaz de falar como uma maneira de reunir informações, fazendo com que o outro lado baixe a guarda. Usar sua mudez a seu favor é um truque inteligente.
Para que esse truque funcione, no entanto, preciso aprender o idioma local o mais rápido possível.
— Agora, o plano está avançando. Quero usar esta base como um local para coletar informações.
— Entendo, então coleta de informações é o nome do jogo…
Em outras palavras, ele está dizendo que veio a este mundo para ganhar poder.
Que tipo de poder, entretanto?
Fácil: o conhecimento e a tecnologia deste mundo.
Comparada ao seu velho mundo, esta civilização é muito mais avançada.
Levar seus frutos de volta permitirá que o Shadow Garden progrida aos trancos e barrancos. Para o Shadow Garden, esse é o tipo mais valioso de poder que existe. É isso que ele quer. Tenho certeza disso.
— Bem, minha sugestão é que ajamos de forma independente — diz ele.
— O que quer dizer?
— Como as orelhas e a cor do cabelo de Natsume são diferentes, eles têm a impressão equivocada de que você tem uma doença.
— Ah, claro.
Ele deve ter usado suas habilidades magistrais de conversação para gerar esse mal-entendido. Agora, poderão coletar informações de dois lugares ao mesmo tempo.
Participar de uma comunidade existente é a melhor maneira de obter informações rapidamente.
Graças ao quão habilmente ele permaneceu flexível e improvisou, foi capaz de fazê-los ser aceitos aqui sem que ninguém suspeitasse de nada.
Agora, tudo o que têm a fazer é ordenhar essas pessoas para toda a inteligência e conhecimento tecnológico que valem a pena e, em seguida, voltar para casa.
No que diz respeito à parte de ir para casa, simplesmente precisam rastrear a magia de Mordred. Ele se fundiu com Ragnarok, e está definitivamente ligado ao seu mundo original.
Assim que o encontrarem, poderão reativar a Rosa Negra. Beta tem certeza disso.
— Bom, um dos figurões daqui quer examinar a doença de Natsume pessoalmente.
— Entendido. Então é isso que está havendo…
Em suma, ele está me dizendo que meu trabalho é se colocar no coração da comunidade e roubar informações de lá.
— É exatamente isso. Apenas lembre-se de fingir estar doente o tempo todo. Certifique-se de não andar por aí de jeito nenhum.
— Claro. Nunca estragaria meu disfarce assim.
Ele está dizendo que ela precisa garantir que sua atuação seja impecável para que seus anfitriões a subestimem. Dessa forma, poderá usar proativamente sua posição para roubar as informações de que precisam.
— Esse tal de Akira Nishino vai passar aqui amanhã cedo para pegar você.
— Entendido. Como quer que eu lide com meus relatórios?
— Vou pegá-los pessoalmente.
Em outras palavras, não há um horário fixo, e está deixando os detalhes a critério dela.
— Como desejar.
— Certo, certo.
Com um olhar composto em seu rosto, seu senhor pega a jarra próxima e se serve de um copo de água.
Estão em um lugar desconhecido, até mesmo um mundo desconhecido, e ainda assim ele não parece nem um pouco nervoso ou tenso. É como se já pensasse neste lugar como sua segunda pátria.
A única explicação para isso deve ser sua inabalável autoconfiança.
Seu senhor está confiante de que não importa o tempo, lugar ou situação, será capaz de superar qualquer coisa que esteja em seu caminho.
Beta se esconde sob seu cobertor e marca este momento em As Crônicas do Mestre Shadow para que nunca esqueça.
Amanhã, a missão de coleta de informações começará de verdade.
No entanto, levou apenas algumas horas para seu senhor dominar a linguagem deste mundo, reunir as informações essenciais e criar o plano perfeito. Ele até conseguiu inserir Beta bem no coração desta comunidade local.
Levará apenas alguns dias para despojar seus anfitriões involuntários de qualquer informação que valha a pena.
Beta tem certeza disso.
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Chegou uma nova manhã, e caramba, como esperei por ela!
Assim que o sol nasce, imediatamente jogo Beta para Akira Nishino e encho o pulmão de ar fresco.
Isso deve servir bem para restringir seus movimentos.
Também vai inibir a capacidade dela de estudar japonês, e todas as minhas mentiras estarão seguras por muito mais tempo. Agora, só tenho que usar esse tempo que comprei para encontrar uma maneira de voltar ao nosso mundo original.
— Heh-heh-heh… É o plano perfeito.
A questão é, quanto tempo ela levará para aprender a língua? Quero dizer, ela sempre foi inteligente.
Vejamos… seis meses, provavelmente?
Eu deveria manter uma estimativa conservadora, por segurança, então vamos com três.
Com três meses para trabalhar, tenho certeza que posso encontrar uma pista de como nos levar de volta para casa. O fato de termos chegado aqui, para começar, significa que deve haver algo em algum lugar ligando de volta ao nosso mundo.
Por agora, no entanto, enquanto estou reunindo informações sobre o buraco negro e qualquer magia poderosa que possa encontrar… Não vejo por que não posso me divertir um pouco aqui no Japão.
Tenho quase certeza de que este é o mundo em que vivi durante minha antiga vida.
Tem a minha casa – destruída – e até mesmo minha velha colega de sala, Akane Nishino. Quando a vi agora, parecia ter uns vinte anos.
Isso significa que já se passaram alguns anos desde que morri aqui. Algo aconteceu durante esses anos, e o que quer que fosse, era grande e mágico.
Posso sentir isso. Algo muito, muito divertido está acontecendo.
Acho que está na hora de um certo malandro todo-poderoso de outro mundo fazer sua aparição aqui nos destroços do Japão.
Quando um sorriso profundo se espalha pelo meu rosto, ouço uma batida na porta.
— Bom dia, Minoru.
— E-Eu lembro de você. Da noite passada…
— Ah, certo, não me apresentei. Me chamo Akane Nishino, uma cavaleiro aqui no Messias.
A porta da enfermaria é aberta. Akane Nishino está de pé atrás dela, vestida com um uniforme que me lembro com carinho.
Seus cabelos são pretos e olhos vermelhos. Seus olhos costumavam ser igualmente pretos, mas acho que algo mágico deve ter acontecido para torná-los vermelhos. Não sei o que, no entanto.
Quanto à roupa, porém, está vestindo um blazer branco, uma saia xadrez e meia-calça preta. É o uniforme da minha alma mater, Colégio Sakurazaka. Estava vestida da mesma forma ontem à noite também.
— Esse uniforme…
— O que, isso? É do Colégio Sakurazaka. No Messias, todos os cavaleiros usam isso. Sabe como policiais usam uniformes? É a mesma ideia.
Ela dá uma pequena volta.
— Oh, huh. Acho que minhas memórias ainda estão bem confusas…
— Não te culpo. Vá devagar e lembre-se do que puder, certo? Se há coisas com as quais está confuso, pode me perguntar.
— Obrigado, isso significa muito. Na verdade, tinha algo que queria perguntar.
— Claro. Antes que o faça, no entanto…
Ela sorri gentilmente.
— …o que diria de um café da manhã?
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Há um grande grupo de pessoas reunidas em torno de um dos pavilhões da universidade, esperando na fila para que a comida seja entregue.
Nós dois nos juntamos ao final da fila.
— Surpreso? — pergunta Akane.
— O quê? Ah, claro.
Não sei com o que é que deveria estar surpreso.
— É realmente incrível, quantas pessoas o Messias é capaz de alimentar. Geramos energia elétrica no local, então podemos usar equipamentos de última geração para produzir alimentos — diz ela com um toque de orgulho. — Graças a como as coisas são pacíficas e consistentes aqui, somos a base mais populosa da região.
— Isso é incrível.
— Embora essa prosperidade seja uma faca de dois gumes.
— Oh?
— Não temos cavaleiros suficientes para fazer as rondas. Cada um de nós é responsável por proteger mais de cem residentes. Isso está nos complicando, e já começamos a sofrer mais baixas. É aí que ela entra.
— Quem?
— Era… Natsume, certo? Eu a vi no laboratório do meu irmão nesta manhã.
— Ah, sim, imaginei que ele seria a melhor pessoa para tratá-la.
— Ah… Sinto muito.
— Sente muito pelo quê?
Akane fica quieta por um momento, depois balança a cabeça.
— Não é nada. Apenas deixe-a conosco. Farei tudo que puder para ajudar.
— Obrigado, estou contando com vocês.
Estou contando com vocês para mantê-la sob rédea curta.
— Meu irmão é… Ele é um pesquisador incrível. Foi ele quem colocou o gerador e todo o equipamento em funcionamento, mas essas mesmas instalações nos tornam um alvo para outras bases.
— Ah, faz sentido.
— É por isso que estamos com tanta pressa para expandir nossos meios de combate — diz ela baixinho para não ser ouvida.
Nós dois finalmente pegamos nossa comida e vamos para uma clareira próxima em um gramado.
— A propósito, sobre aquela pergunta — digo enquanto nos sentamos e começamos a comer.
— Claro, pergunte.
Nosso café da manhã é arroz integral e mingau de legumes temperado com algo com sabor de miso. É saudável, mas definitivamente não ganha nenhum prêmio.
Ainda assim, dado o quão orgulhosa Akane parecia quando falou sobre isso, acho que é uma refeição bastante farta para os novos padrões do mundo.
— Minhas memórias estão bastante confusas e há um monte de coisas que não me lembro, então esperava que você pudesse me dar uma rápida atualização, começando desde o início.
— O que quer dizer com início?
— Tipo, o dia em que o Japão ficou assim.
— Ah, quer dizer o evento há três anos?
Interessante. Então, esse é o tempo que passou.
— Sim. Apenas o resumo geral está bom.
— Claro. Bem, tenho certeza que você se lembra de como, três anos atrás, as feras apareceram do nada e viraram o mundo de cabeça para baixo durante a noite. Nossas armas existentes serviram para pouco mais do que desacelerá-las e, no ano seguinte, os números da raça humana despencaram. Estimam como se estivéssemos em um décimo ou um centésimo de nossa população original, mas ninguém mais sabe os números exatos. Porém, durante esse mesmo tempo, estávamos aprendendo lentamente.
Ela termina o mingau e abaixa a tigela.
Ainda estou na metade da minha.
— As feras são noturnas. Durante o dia, dormem em ninhos. Quando percebemos isso, começamos a fazer as coisas durante o dia e a passar as noites vigiando. No início, tínhamos medo de ataques o tempo todo, mas agora sabemos que não precisamos nos preocupar com isso. Pouco a pouco, acumulamos mais conhecimento e poder.
Quando ela diz “feras”, acho que está falando sobre aquelas fracas bestas mágicas.
Faz sentido; a maioria das bestas mágicas são noturnas. No entanto, nem todas, então ela provavelmente ainda deve ter cuidado.
— Pelo que entendi, os primeiros a descobrir magia foram um grupo de pesquisadores do exterior. A maioria dos antigos métodos de comunicação não funciona mais, então era difícil verificar qualquer coisa, mas a mensagem era de que havia pessoas em países estrangeiros chamadas de cavaleiros que podiam lutar contra as feras. Uma vez que esses rumores se espalharam por aqui, o Japão também começou a pesquisar magia. Naquela época, teríamos tentado qualquer coisa.
Parece que as coisas por aqui ficaram muito interessantes bem rápido.
As duas luzes mágicas que vi antes de morrer podem ter sido um presságio das feras que estavam prestes a chegar. Na verdade, tenho certeza que sim.
— Depois disso, há cerca de um ano, o Japão recebeu seu primeiro cavaleiro. Seu cabelo dourado era uma raridade para um japonês, e as pessoas olhavam para ela como um farol de esperança e a chamavam de Cavaleira Original. No entanto, não demorou muito para que encontrassem essas esperanças traídas. Como uma Desperta, seu tremendo poder teve um impacto igualmente tremendo em sua personalidade. Eventualmente, massacrou o povo de Arcádia e desapareceu.
Por alguma razão, a voz de Akane está tremendo.
Engulo o resto do meu mingau. Café da manhã dos campeões, baby.
— Arcádia era uma base aclamada como a última utopia verdadeira no Japão. Estudiosos reunidos lá de todos os lugares, inúmeros cavaleiros se tornaram Despertos lá, e toneladas de pessoas viajaram para lá em busca de abrigo. A única razão pela qual foi capaz de existir foi por causa das enormes multidões de feras que a Cavaleira Original matou, mas, ao mesmo tempo, foi isso que tornou a perda de Arcádia um golpe tão grande. Foi como se tivéssemos perdido nosso único paraíso.
Ela segura os ombros, quase como se estivesse com medo de alguma coisa.
— Você está bem?
— Está… Tudo bem.
Bem, se você diz.
Não tenho certeza se estou acompanhando todas essas coisas sobre a “Desperta”, mas acho que provavelmente é semelhante ao possuído.
— Uma vez que nossa esperança foi arrancada, a humanidade se tornou cada vez mais egoísta, e as batalhas começaram a estourar entre as bases. Cavaleiros foram sequestrados, suprimentos foram roubados e vidas foram perdidas pela legião. Agora, o Japão está em ruínas.
Duvido que algum dos outros países tenha se saído muito melhor.
— Pelo que entendi, meu irmão é um sobrevivente de Arcádia.
— …Não tem certeza?
— Não me lembro muito daquela época. Aparentemente, minha magia causou estragos às minhas memórias — diz ela sombriamente. — Nossa família deveria estar toda aqui na universidade, mas ele foi para Arcádia fazer suas pesquisas. É por isso que sabe muito mais do que todos os outros sobre cavaleiros e os Despertos. Tudo o que ele está fazendo é ajudar as pessoas… Pelo menos, quero acreditar que é. Contudo a coisa é que, toda a sua pesquisa é tão complicada, ninguém entende nada disso, mas ele…
— Ah, cara…
Faço o meu melhor para parecer impressionado.
— Sinto muito, Minoru. Sei que falar sobre essas coisas não vai consertar nada.
— Está tudo bem. Não precisa se preocupar com isso.
— Não sei por que, mas parece que te conheço desde sempre. Fico com esse tipo de calma nostálgica quando estou com você, e começo a pensar no passado… Isso é estranho, né? — Ela me dá um sorriso triste. — Mas e você? Alguma coisa disso ajudou a refrescar sua memória?
— Huh? Ah, uh, sim, sinto que as coisas podem estar começando a voltar…
— Se não lembra, não se preocupe, mas poderia me dizer o que aconteceu com a base em que vocês dois estavam antes? Foi atacada por feras? Ou por pessoas…?
— Rrgh… Minha cabeça…!
— N-Não se esforce!
Graças às minhas “memórias confusas”, não preciso “lembrar” das respostas às perguntas que prefiro não responder. Não adianta desperdiçar a bondade dela, certo?
— Tudo bem, você pode ir mais devagar se precisar.
Ela esfrega minhas costas enquanto seguro minha cabeça em concentração fingida.
O resto da nossa conversa é inofensiva e sem inspiração, e eventualmente ela tem que fazer coisas de cavaleira, então volto para a enfermaria.
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— Para onde você fugiu?!
Quando volto, encontro a Dra. Yuuka me esperando com um suspiro, suas bochechas infladas. Digo a ela o que aconteceu e peço desculpas.
— Aquela Akane… Ela deveria ter me contado. Fiquei preocupada! Há uma debandada chegando em breve, então todo mundo está correndo em estado de confusão. Lá fora é perigoso!
Enquanto fala, também verifica minha temperatura e pressão sanguínea e outras coisas.
— Uh, o que é uma debandada?
— Você esqueceu tanto… Não há nada de errado com seu corpo, então suas memórias devem voltar assim que os efeitos colaterais mágicos passarem. A maneira mais simples de explicar uma debandada é que é quando um bando de feras entra em fúria.
— Mas por quê?
— Você sabe como bandos de feras se juntam para construir ninhos, certo? É onde se reproduzem para aumentar a população delas. E, uma vez que sua população cruza um certo limiar, entram em fúria. Achamos que fazem isso para dividir a matilha quando fica muito grande.
— Então, o que acontece durante esses tumultos?
— Começam a juntar comida e fazer os preparativos para construir um novo ninho. E por comida, quero dizer nós. Uma vez que uma fera começa a debandada, a única maneira de fazê-la parar é matá-la. É isso que torna as debandadas tão perigosas.
— …Então, em outras palavras, há um ninho nas proximidades que é tão grande que vai ter uma debandada?
— Exatamente isso — diz a Dra. Yuuka gravemente. Ela abre um mapa. Está coberto de marcas e datas. — Este é o hospital em que encontramos vocês dois. Era o ninho mais novo da área, então foi sorte termos conseguido destruí-lo antes que saísse do controle.
Com isso, ela desenha um corte através da marca no hospital e escreve a data de ontem e a palavra “destruído” ao lado dela.
— Uau — digo. — Há tantos deles.
— Existem alguns. Havia originalmente vinte e nove ninhos na área ao redor da Universidade Nishino, e só conseguimos destruir quatorze deles.
— Ou seja, ainda faltam quinze…
— Como pode ver, lidamos com a maioria dos que estão por perto. Esses são os que temos mais facilidade em encontrar antes de ficarem grandes demais.
— O que acontece se isso acontecer?
Dra. Yuuka balança a cabeça.
— Messias não tem poder humano para destruir ninhos maiores por conta própria. Temos que nos unir a outras bases para destruí-los e, mesmo assim, isso vem com seus próprios problemas. Por causa da distância que os ninhos maiores tendem a estar de nossa base, enviar cavaleiros para destruí-los deixa o Messias desprotegido. Isso nos torna vulneráveis a ataques de feras e ataques de bases inimigas…
— Ah, faz sentido. E, ao mesmo tempo, enviar uma força menor não faria sentido.
Ela balança a cabeça.
— Depois de se afastar uma certa distância da base, você começa a ver ninhos enormes por toda parte. Dê uma olhada nessas datas. Mais sete deles apareceram apenas neste último ano.
— Parece que você quer pegá-los enquanto são pequenos.
— Nossos cavaleiros fazem o que podem para destruir ninhos menores que encontram em suas patrulhas, mas há poucas patrulhas que podemos enviar com nossos números atuais. E não é como se as outras bases estivessem se saindo melhor. — Ela solta um suspiro pesado. — Mas não é com os ninhos distantes que precisamos nos preocupar, é com os próximos. Quando as debandadas começam nos distantes, há uma boa chance de que as feras furiosas nem cheguem ao caminho do Messias.
— Está dizendo que podem ir atrás de outras bases. Nossa, podem até mesmo ir para longe.
— Isso mesmo, e é por isso que este ninho é um problema tão grande.
Dra. Yuuka aponta para um ponto no mapa. É um lugar que me traz muitas lembranças.
— Colégio Sakurazaka… — murmuro.
— Bem aqui, a menos de um quilômetro da universidade, fica o maior ninho da região. Há uma debandada lá a cada três meses, e sempre que isso acontece, as feras sempre vêm atrás de nós.
— Ah, então só porque as coisas estão boas dentro do Messias não significa que a área ao seu redor seja realmente segura.
— Esse ninho é um pesadelo para nós. Tentamos conseguir bases próximas para nos ajudar a destruí-lo, mas nunca conseguimos que ninguém concordasse.
— Bem, claro. Sabem que se o ninho do colégio debandar, vai atacar o Messias. Não há razão para quererem ajudar.
— Tentamos oferecer todos os tipos de acordos diferentes, mas ninguém nunca aceitou. É por isso que o Messias precisa tanto de novos meios de combate. A cada debandada, perdemos cavaleiros. Às vezes, até dezenas deles… E desta vez, também podemos ter que nos preocupar com uma fera de ápice.
— Quê?
— É uma subespécie que é muito mais poderosa do que as feras comuns. Encontramos evidências de uma na área recentemente. Suspeitamos que todos os traços tenham sido deixados pela mesma fera de ápice, e então Akane o chamou de Bruto.
— O Bruto, hein?
Então, do que estamos falando aqui, tipo, uma fera mágica meio forte?
— Se o Bruto participar desta debandada que se aproxima, vamos perder muito mais do que apenas alguns cavaleiros desta vez. As pessoas estão com medo de que o Messias acabe ficando sem cavaleiros e seja exterminado. E porque estão com medo, toda vez que a debandada acontece…
De repente, ouço vozes raivosas e barulhos violentos vindos de fora da sala.
Isso não é uma ou duas pessoas sendo barulhentas. Deve haver pelo menos uma dúzia de pessoas envolvidas.
— …há brigas. Às vezes são tão ruins que as pessoas morrem. Certifique-se de não sair da sala até que os cavaleiros apareçam. Se não fosse pelas debandadas, o Messias estaria florescendo. Poderíamos até nos tornar uma segunda Arcádia. É por isso que as coisas costumam ser tão pacíficas aqui. Temos nossa parcela de problemas, claro, mas as pessoas sabem quando começar a ouvir a razão.
As brigas lá fora não parecem estar parando. Na verdade, estão ficando mais intensas.
Esse corpo a corpo vai se transformar em uma briga de cem homens?!
Assim como o desejo de invadir ameaça me tomar, ouço a voz de Akane à distância.
— Parece que Akane chegou lá, então as coisas devem se acalmar agora — diz a Dra. Yuuka com um suspiro de alívio. — Agora, é hora de eu ir lá fora e tratar os feridos.
— Tenha cuidado.
Ela arregaça as mangas e sai da enfermaria.
Enrolo as minhas e espalho o mapa.
— Uni, duni, tê, e o escolhido foi você…
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O sol começa a se pôr, lançando no céu um tom brilhante de vermelhão.
Akane olha para isso e suspira. Ela finalmente terminou o trabalho.
Ela tinha o turno do dia, dividido em duas responsabilidades principais: patrulhar o exterior da base e patrulhar o interior.
O primeiro envolve principalmente fazer rondas e encontrar novos ninhos de feras antes que fiquem fora de controle, mas às vezes também há outras coisas que os cavaleiros são convidados a investigar. Aparentemente, Akira disse à equipe externa para investigar alguns possíveis rastros. Ela não estava com aquele esquadrão, então não sabe os detalhes.
Hoje, estava encarregada de patrulhar dentro da base, uma tarefa que geralmente envolve interromper brigas como um policial faria. Normalmente, é muito fácil.
No entanto, os dias antes de uma debandada dificilmente são normais. Uma grande briga eclodiu naquela manhã, e houve comoções menores durante toda a tarde.
Além disso, a partir de amanhã, vai estar no perigoso turno da noite.
Ela faz um grande alongamento de braços.
— Estou tão cansada…
— Bom trabalho hoje.
Ela ouve uma voz chamando por trás. Se vira e encontra uma mulher atraente em um jaleco.
— Dra. Yuuka…
— As coisas estavam muito difíceis hoje, hein?
— Para você também, aposto. Muita gente se machucou lá.
— Temos sorte de ninguém ter morrido. Se você não tivesse chegado aqui tão rápido, não sei se isso ainda teria sido verdade.
As duas trocam sorrisos cansados.
— Agora, sobre nosso amigo…
— Quem?
— Minoru. Passei a maior parte do dia cuidando dele e, fisicamente falando, está bem. Tudo o que resta é esperar que suas memórias voltem.
— Ah, isso é tão bom de ouvir.
— Bem, posso mantê-lo na enfermaria esta noite, mas vai ter que sair amanhã. A luta de hoje deixou a enfermaria lotada, e simplesmente não há espaço para ele ficar.
— Ah, claro. Vou pedir à equipe de Instalações para arranjar um quarto.
Yuuka franze a testa sem jeito.
— Na verdade, sobre isso…
— O que houve?
— As memórias de Minoru ainda estão confusas, e há muitas coisas que ele parece não entender. A coisa é, nós ainda precisamos ensiná-lo sobre as regras do Messias, e uma vez que se instalar, vai precisar começar a trabalhar. Não sei o quão bem ele vai ser capaz de viver sem alguém cuidando dele. Esse normalmente seria o meu trabalho, mas com a briga hoje e o quão ocupada a enfermaria está…
— Ah, tem razão…
Agora que pensou sobre isso, é óbvio. As coisas estão pacíficas no Messias, claro, mas um garoto com amnésia ainda vai ter muitos problemas, especialmente com uma debandada logo ali.
O rosto dele passa pela sua mente, e ela tem uma ideia.
— Eu cuidarei de Minoru.
— Você vai?
— Claro. Há muito espaço na minha casa.
— Espere, você realmente planeja coabitar com ele? Você sabe que Minoru é um cara, certo?
— Ele tem o quê, quinze anos? Ele é uma criança.
— Você tem apenas vinte anos.
— Claro, e isso me torna uma adulta. Além disso, sou uma cavaleira. Bem, qual é a pior coisa que poderia acontecer?
— Você realmente está falando sério sobre isso. Bem, tenho certeza de que você sabe o que está fazendo… — diz Yuuka derrotada.
Mesmo Akane não tem certeza de por que está tão ansiosa para cuidar dele. Seria muito mais lógico pedir a um de seus colegas cavaleiros para levar Minoru em vez disso.
Por alguma razão, porém, quer tê-lo ao seu lado.
— Então ele é todo seu. Vou mantê-lo na enfermaria esta noite, e você pode vir buscá-lo pela manhã.
— Acho que provavelmente deveria limpar minha casa, hein?
As duas se separam com um sorriso.
Já está bem escuro, então Akane acelera o passo.
Isso não faz bem a ela.
— Isso ali atrás foi interessante.
Um homem grande sai de trás de um prédio próximo.
Akane faz uma careta.
— Vice-Comandante Saejima… Bom trabalho hoje, senhor.
Yuudai Saejima estreita seus olhos e sorri.
— Ei, uau, não fique toda formal e pomposa comigo. Nós nos conhecemos há muito tempo, você e eu. Mesma escola, mesma sala…
O físico de Yuudai é duro e volumoso, e embora seu rosto se assemelhe ao de um gorila, dizem que as pessoas o acham muito bonito. Akane não vê esse apelo, mas por todos os relatos, ele é o cara mais desejado de Gorillaville.
Quando estava no Colégio Sakurazaka, era um valentão do clube de judô e até foi para os nacionais. Akane era sua colega de classe na época, mas mesmo naquela época, nunca se importou muito com ele.
Não, isso não é tudo. Ela o despreza e sempre o fez.
O que odeia mais do que tudo é a maneira como ele sempre parece estar tentando despi-la com os olhos.
— Você ainda é meu superior, senhor.
— Vamos lá, não seja assim.
Ele bate no ombro dela de uma maneira excessivamente familiar.
Isso lhe dá arrepios.
Por mais horrível que ele seja, ainda é o vice-comandante da ordem dos cavaleiros do Messias, o que significa que está acima dela. E também é um cavaleiro habilidoso e, sem contar Akane, é uma das pessoas mais fortes do Messias.
— Então, ouvi dizer que você pegou um cara ontem à noite. Todos os cavaleiros estão falando sobre isso.
— Estou de folga, então vou me despedir por agora.
— Ei, não tão rápido. Estou aqui a negócios. Você se saiu bem, pegando aquela garota de cabelo prateado. Uma nova Desperta será uma boa adição à nossa disposição, mas você deveria ter deixado o garoto. Você sabe tão bem quanto qualquer um como nós cavaleiros somos. Não vá nos arrumar mais trabalho.
— Sei que não temos cavaleiros suficientes para a ronda, mas certamente um único garoto não vai nos fazer quebrar.
— Ei! Lembra do que disse sobre eu ser seu superior? Não me responda.
Yuudai aperta o ombro de Akane com força.
— …Sim senhor.
— Essa sua atitude é um problema, querida. Claro, um único cara não vai fazer grande diferença, mas e se todos começarem a seguir sua liderança e a receber retardatários? Muito irresponsável da sua parte não perceber o quão importante um cara pode ser, “Salvadora”. — Parece que ele está tentando ver através do rosto dela. Ela odeia tanto essa sua cara feia. — Você ignorou suas ordens ontem à noite e feriu alguns de nossos cavaleiros. Você precisa se mancar. Merdas como essa são o motivo pelo qual você nunca será vice-comandante.
— Quem disse que quero uma promoção?
— Eu disse para não me responder. — Yuudai puxa Akane em sua direção, quase como se a estivesse abraçando.
— Me solta…
— Pense nisso como uma ação disciplinar. Uma das minhas cavaleiras problemáticas pegou um cara, e além do mais, está pensando em deixá-lo ficar na casa dela. Que merda aconteceu com o bom senso, huh? Quero conhecer esse cara. Ver do que ele é feito.
— Esquece… isso…
— O que, está dizendo que não posso? Posso jogá-lo em um ninho de feras, se você preferir. Digo, quem sabe do que esse cara é capaz? Como vice-comandante, é meu trabalho me livrar dele o mais rápido possível! Mas você sabe, Akane, você pode ser capaz de me convencer a deixá-lo numa boa. Entende o que estou dizendo?
Yuudai aproxima seu rosto do dela.
— PARE.
Então, ele sai voando como se tivesse levado um soco.
O corpo de Akane está envolto em uma densa concha de magia. É em uma ordem de magnitude mais forte do que qualquer coisa que Yuudai seja capaz de gerar, e ela nem está usando todo o seu poder.
Suor frio escorre pelo rosto de Yuudai.
Seu rosto fica vermelho enquanto ele berra, como se estivesse tentando esconder o quão assustado está.
— S-Sua… Quem diabos você acha que é?!
— Sei exatamente quem eu sou, muito obrigada.
— Nah, você não sabe merda nenhuma! Mas eu sei. Eu sei de tudo!
— Tudo? O que você está…?
— Você é uma assassina.
A expressão de Akane congela.
— Sei todos os seus segredos, sua assassinazinha.
Todo o sangue é drenado de seu rosto, e seus olhos se arregalam como se ela tivesse acabado de testemunhar algo em que não consegue acreditar.
— Você vai querer pensar muito sobre a posição em que está. Estou deixando você fora de perigo agora, mas esta não é a última ação disciplinar que receberá.
— I-Isso não é verdade… Eu não…
— Claro que é verdade. Você é uma assassina.
Yuudai se vira e se afasta, deixando Akane em pé, chocada e sozinha.
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O corredor é tão branco quanto o branco pode ser.
Tudo, do teto às paredes e ao chão, é frio e branco. Akane Nishino, com seu cabelo preto e olhos vermelhos, caminha por sua extensão com uma expressão igualmente fria e vazia.
Seu andar é rítmico e desapaixonado. É como se tivesse deixado suas emoções para trás, em algum lugar.
Chega a uma porta e pára em frente a ela.
A porta também é branca. Coloca sua senha para desbloqueá-la e entra.
— Ah, ei, ela está acordada — observa com um sorriso. Sua expressão fria e vazia desapareceu como se nunca tivesse existido.
— Ah, olá Akane. Sim, ela acordou por volta do meio-dia — responde um pesquisador de jaleco. O pesquisador é um dos funcionários de Akira.
O quarto tem uma cama branca, e uma linda garota de cabelo prateado sentada nela. A garota, Natsume, a Desperta, tem uma verruga sob um de seus olhos azuis felinos.
— Prazer em conhecer. Meu nome é Akane Nishino.
Quando Akane se apresenta, Natsume dá a ela uma pequena inclinação adorável de cabeça.
— Tanto quanto podemos dizer, ela não consegue entender uma palavra do que estamos dizendo — diz o pesquisador.
— Ela não sabe nem ler e escrever?
— Parece que não. Estava mostrando um livro de imagens para ela. Parece interessada, então tenho certeza de que, se continuarmos assim, eventualmente poderá falar.
O pesquisador abre o livro novamente.
É um livro ilustrado e relativamente obscuro.
O catálogo da biblioteca da universidade contém muitos livros ilustrados mais conhecidos, mas provavelmente já foram todos verificados. A taxa de natalidade da base vem aumentando ano a ano.
Estão tendo problemas para apoiar a população que já têm, mas não é como se pudessem simplesmente forçar as pessoas a parar de ter filhos. Sem descendência, a raça humana murchará e morrerá.
— Ela é uma criança bonita…
— É mesmo.
Devido à sua aparência, qualquer um pode dizer em um único olhar que Natsume é uma Desperta, e entre isso e ela não entender japonês, provavelmente já passou por mais do que a sua quota de dificuldades.
Apesar disso, porém, a maneira como está olhando para Akane é francamente angelical. Ela não parece ter medo das pessoas. Provavelmente era uma alma gentil antes de se tornar uma Desperta.
— O que será que ela está olhando?
Os olhos azuis de Natsume estão fixos na mesa da sala. Há um fino relógio de cristal líquido em cima dela.
— Quer ver o relógio?
Akane o entrega e os olhos de Natsume se arregalam e se iluminam de prazer. É apenas um relógio velho normal, mas a curiosidade que ela mostra em seu rosto enquanto brinca com ele parece ser genuína.
Sua personalidade é como a de uma criança. É como se fosse uma criança inocente que não sabe nada sobre o mundo.
— Heh, parece que ela está se divertindo — diz Akane.
E realmente está. Ela o vira de novo e de novo, mexe em seus componentes e o encara de perto. Sua expressão é como a de uma criança que acaba de ganhar um brinquedo novo.
— É incrível como ela está interessada em tudo. Passou um bom tempo verificando a estrutura da cama e arregala os olhos sempre que encontra um parafuso — diz o pesquisador.
— Parece que temos uma curiosa em nossas mãos — responde Akane.
— Pois é. Quando lhe emprestei meu lápis mecânico, levei meia hora para recuperá-lo dela.
— Que adorável.
— Ah, é mesmo.
Então, algo começa a apitar.
— Ah!
Natsume fica tão surpresa, que acaba soltando o relógio.
Akane dá um tapinha na cabeça e diz suavemente:
— Ah, o despertador do relógio disparou. Isso te assustou? Desculpa.
Natsume observa melancolicamente enquanto o pesquisador pega o relógio e o coloca de volta na mesa.
— Ah, ei, a hora está errada — aponta Akane.
— Acho que ela deve ter trocado quando estava brincando com ele.
O pesquisador vai reajustar o relógio.
Ao colocar a mão no bolso, no entanto, para e inclina a cabeça em confusão.
— Huh, onde deixei…?
— Qual é o problema?
— Tenho um relógio digital com o qual ia acertar as horas, mas não está no meu bolso…
— Deixou no seu quarto ou algo assim?
— Sempre estou com ele, então provavelmente não. Que estranho…
— Poderia ter deixado cair em algum lugar?
— Pode ter caído em outro lugar. A pulseira está bastante desgastada, então talvez seja isso.
O pesquisador solta um suspiro derrotado. Seus olhos e os olhos de Natsume se encontram.
Os olhos azuis da garota estão focados diretamente nela e em Akane. É quase como se as observasse.
O pesquisador tem certeza de que está apenas imaginando coisas.
Nem um momento depois, Natsume dá um sorriso inocente e inclina a cabeça. É como se estivesse dizendo: Quem, eu?
— Ela realmente é adorável.
— Sim, como uma princesinha.
As duas esquecem tudo sobre o relógio e afagam a cabeça de Natsume, que aceita as carícias na cabeça com um sorriso.
No entanto, seu olhar está fixo na maneira como suas bocas estão se movendo.
Enquanto observa, as imita e move os lábios e a garganta da mesma maneira. Toma cuidado para não fazer barulho ou ser vista, mas repete os pequenos movimentos repetidamente.
Então, a porta é aberta.
— Ei, alguma de vocês viu minha câmera?
É Akira Nishino.
— Que câmera, aquela que você usa para manter registros?
— Sim, essa. Juro que estava com ela nesta manhã…
Akira sempre carrega uma pequena câmera digital para poder documentar as coisas.
— Bem, não está aqui. Talvez você tenha deixado em algum lugar?
— Droga, onde está aquela coisa? — Enquanto olha ao redor da sala com irritação, seu olhar pousa nos olhos azuis que estão olhando diretamente para ele. — Foi você? Você pegou? O último lugar em que vi foi aqui, nesta manhã, logo antes de você chegar aqui.
— E-Espera, Akira, espera — Akane se intromete. — Por que ela faria algo assim?
Natsume dá a Akira uma adorável inclinação da cabeça e sorri para ele como uma criança com a cabeça vazia e um coração de ouro.
— Faz sentido…
Nem Akira pode ficar bravo quando vê um rosto assim. Ele solta um longo suspiro para colocar a cabeça no lugar.
Abre o laptop da sala, coloca sua senha e começa a trabalhar.
— Irmão querido, acha que será capaz de curar a mutação de Natsume?
— Quem sabe? — responde ele sem rodeios. E continua trabalhando.
Ao fazê-lo, os olhos de Natsume disparam como balas. Ela está olhando para a tela do laptop e para a forma como os dedos de Akira se movem.
— Você ao menos se importa em ajudá-la?
— No momento, tenho peixes maiores para fritar. A debandada está logo aí, e a inspeção de hoje encontrou novas pegadas do Bruto. Se o Messias for atingido por ambos ao mesmo tempo, é o nosso fim.
— O que faremos?
— Minha esperança era que pudéssemos pelo menos matar o Bruto antes que a debandada começasse, mas não estou otimista. Tudo o que podemos fazer é fortalecer nossas tropas e rezar.
— Já pensou em pedir ajuda a outras bases?
— Ha. Se eu tentasse, tentariam nos tomar o nosso gerador. Nem pensar.
— O que você quer que façamos, então? Não está pensando seriamente em usar aquela cabeça de monstro do incidente da semana passada, está?
— E por que não estaria? O poder que aquela coisa escondia dentro dela vem de uma dimensão totalmente diferente das feras. Se pudermos apenas aproveitá-lo…
— Você está falando sério…?
— E isso não é tudo. A garota também é abençoada com um tremendo poder, e seu exame de sangue revelou todos os tipos de coisas fascinantes.
— Fascinantes como?
— Heh-heh-heh…
Akira solta uma risada inescrutável e se recusa a elaborar mais.
Depois de um tempo, termina seu trabalho e sai. Akane e o pesquisador seguem logo em seguida.
— Nos vemos amanhã! — dizem à medida que saem. Natsume os vê partir com um sorriso recatado.
No entanto, seus olhos azuis estão observando tudo. Ela está observando a estrutura da porta, os mecanismos da fechadura e a maneira como os dedos das pessoas se movem ao inserir suas senhas.
Uma vez que fica sozinha, as luzes se apagam.
Seus olhos azuis se movem na escuridão, e seu olhar se dirige diretamente para o laptop.
O som de cliques enche o quarto pelo resto da noite.
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Acabei sendo expulso da enfermaria da Dra. Yuuka.
Aparentemente, a grande briga de ontem resultou na falta de leitos. Faz parte.
Honestamente, isso serve muito bem para mim.
O fato é que havia muitas pessoas na enfermaria para que eu escapasse facilmente. Estava animado para escolher os ninhos que destruiria, mas no final, tive tanta dificuldade em sair que tive de desistir depois de acabar com o ninho na escola primária.
Minha teoria atual é que checar lugares com toneladas de feras mágicas me ajudará a encontrar pistas sobre o buraco negro.
Então, o que fazer? Devo tentar desenterrar mais informações aqui, ou devo ir esmagar mais um ou dois ninhos? Acho que também posso tentar procurar a cabeça do Sr. Morcegão.
Há tantas boas opções para escolher, mas há um grande problema.
— Isso vai ser divertido, Minoru.
— Sim, divertido…
Nunca pensei que Akane Nishino cuidaria de mim, mas aparentemente, vamos morar juntos por um tempo.
Ela e eu éramos colegas de classe no passado e, embora ela obviamente não tivesse ideia de quem eu era, sabe sobre alguns incidentes dos quais não tenho muito orgulho.
O problema não era ela; ela tinha todos os ingredientes de uma protagonista fantástica. Ou talvez fosse ser um dos interesses amorosos do protagonista, não sei.
De qualquer forma, porém, a grande tragédia era devido à eminência amadora que eu era naquela época. Devido à minha inexperiência geral, a maioria das minhas vitórias surgiram como retornos de último segundo depois que tive minhas costas empurradas contra a parede. Isso não é maneira de uma eminência nas sombras ser.
Esses momentos são como uma mancha negra no meu legado. O que eu não daria para poder refazê-los.
Agora que penso nisso, porém, essa situação é minha chance de fazer exatamente isso. Os movimentos de agente das sombras que tenho à minha disposição podem eliminar o tempo do ensino médio.
Esta pode ser a oportunidade de uma vida.
Além disso, seus deveres de cavaleira a mantém longe a maior parte do tempo, então será muito fácil escapar.
Acho que é meu dia de sorte.
— Vocês são tão parecidos…
— Hã…?
Enquanto passo meu tempo imaginando todos os meus movimentos perfeitos de agente das sombras, a garota ao meu lado continua olhando para o meu rosto.
— O que, há alguém que eu pareço?
Literalmente mudei meu rosto inteiro, então a possibilidade parece pequena.
— É realmente estranho. Não sei o que é, mas essa expressão que você faz quando está pensando é igual a dele. No que você estava pensando?
— Nada que valha a pena compartilhar…
Ela ri.
— Sabe, ele fazia a mesma coisa. Não quer contar a ninguém, certo? Quer guardar seus segredos para si mesmo.
— Não sei do que você está falando, senhora.
Minha negação entra por um ouvido e sai pelo outro.
— Tudo bem, eu entendo. Esse era o tipo de pessoa que ele era. Havia algo precioso para ele sobre o que nunca falava. E agora, ele se foi.
Esse cara de quem ela está falando se mudou ou algo assim?
— Mas mesmo que ele não falasse muito, gosto de pensar que o entendi um pouco. Afinal, passei muito tempo observando-o.
O que você é, uma stalker?
— Ah, e Minoru, você não precisa ser tão formal.
— O que quer dizer?
— Não precisa me chamar de “senhora”. Não é como se você estivesse fazendo isso porque realmente me respeita, certo?
Merda, fui pego.
Vou dizer, no entanto, que não é bem isso. Não é que eu não a respeite, só não sinto que dizer um “senhor” ou uma “senhora” aqui e ali é uma demonstração significativa de respeito de uma forma ou de outra. No entanto, a sociedade não vê dessa forma, e como um personagem de fundo obediente, sempre me certifico de obedecer às normas da sociedade.
Pessoalmente, porém, mostro meu respeito pelas pessoas que respeito à minha maneira.
— Te respeito bastante — digo, para esclarecer as coisas.
Ela ri, aparentemente entretida.
— Pensei que você poderia dizer isso.
A partir daí, nós dois compartilhamos mais algumas conversas enquanto caminhamos pela área residencial.
Isso meio que me lembra do passado.
— Aqui estamos. Essa é a minha. — Ela para diante de uma porta. Leva a uma sala em um dos prédios de salas de aula da universidade. — Os dormitórios dos alunos eram muito pequenos para acomodar todo mundo, então os expandimos e construímos mais quartos, mas mesmo isso não foi suficiente, então acabamos remodelando as salas de aula também. Sou uma cavaleira, então acabei com um dos um pouco maiores.
Ela abre a porta e revela a pequena sala de aula lá dentro. Todas as cadeiras e mesas em que as pessoas aprendiam foram removidas, mas o grande quadro branco na parede foi deixado no mesmo lugar.
A sala de aula é dividida com divisórias de madeira, e a seção em que estamos agora é a maior sala de estar e jantar combinada do lote. O quarto ao lado é meu.
— É aqui que você vai ficar.
Meu novo quarto tem pouco mais de trinta metros quadrados. É mobiliado com uma cama, uma pequena escrivaninha e nada mais.
— E este quarto ao lado dele é meu. Não vá me espiar — diz ela com um sorriso brincalhão enquanto continua a turnê. Não há nenhuma porta separando nossos quartos, apenas outra divisória.
Do outro lado, o quarto dela é basicamente o mesmo que o meu. A única diferença é que ela tem um armário cinza.
— Essas são as únicas roupas que você tem, certo?
— Uhum.
Ainda estou usando o capuz dos Tanakas. Dito isso, estou com pouco estoque de roupas.
Akane abre o armário e pega uma roupa.
— Aqui, prove esse tamanho.
Droga, isso desperta memórias. É um uniforme de estudante masculino do Colégio Sakurazaka.
— Mas não se supõe que apenas cavaleiros usem isso? — pergunto.
— Não pode sair do quarto com isso, mas deve ser bom para vestir aqui. Você vai precisar de algo para vestir enquanto lava a roupa.
— Bem, ei, obrigado.
Pego o uniforme.
— Agora se apresse, experimente!
— Espera, agora?
— Vamos lá, o tempo está correndo! Tenho muita coisa que quero fazer.
Ah, isso faz sentido. O tempo está bom hoje, então vão secar bem rápido.
Ela me dá um empurrãozinho, e eu vou para o meu quarto e deslizo meus braços pelo uniforme pela primeira vez em anos.
— Huh.
Curiosamente, cabe tão confortavelmente quanto uma luva velha. Fica ainda melhor em mim do que o meu traje de slime, o que não deveria ser possível.
— Huh?
Então, vejo uma mancha em um dos punhos. Quase parece uma mancha de sangue e, além do mais, está exatamente no mesmo local onde manchei meu próprio uniforme em uma briga.
Tenho certeza que é só uma coincidência. Já faz tanto tempo que mal me lembro como era aquela mancha.
— Como vai por aí? Serviu? — Akane chama.
— Uhum.
— Bem, vamos ver como você…
Ela enfia a cabeça na divisória e fica sem fala no meio da frase.
É como se tivesse visto um fantasma.
Eu me viro e verifico, só para ter certeza. Nenhum fantasma.
— D-Desculpa. Eu só… Desculpa.
Não sei por que ela está se desculpando.
Ela enxuga uma lágrima e solta uma risada estranhamente triste.
— Desculpe por isso, acabei de ser atingida por muitas memórias…
— Não se preocupe. Pensar no passado me faz cair na gargalhada e outras coisas assim o tempo todo.
Toda vez que me lembro de uma vez em que consegui fazer algum movimento de agente das sombras, acabo sorrindo como um idiota.
— Vou lavar a roupa, mas voltarei em breve.
Ela vira o rosto, pega minhas roupas e sai.
— Agora estou sozinho.
Aprecio que ela esteja lavando minhas roupas, mas não teria me importado com um pouco mais de explicação antes que ela saísse.
Não tenho nada para fazer por enquanto, então vou para a nossa sala de estar e me sento em seu sofá esfarrapado. A universidade deve ter guardado isso para visitas ou algo assim.
Em cima da mesa, vejo um copo, uma caneta, um bloco de notas e também…
— Espere… são drogas?
Há dois tipos diferentes. A primeira é uma pílula branca que reconheço como uma espécie de medicamento de venda livre, mas as outras são grandes cápsulas azuis que nunca vi antes.
— Vamos lá, crianças. Digam não aos estimulantes.
Se for se drogar, há toneladas de drogas que são muito melhores. Ela parece bem certinha, então acho que provavelmente não é isso.
Então o que são?
Penso um pouco sobre isso e, em seguida, concluo:
— Ah, tanto faz.
Faço um grande alongamento.
— Hnnngh…
Então, do nada, sinto alguém se aproximando. Rapidamente endireito minha postura.
Um momento depois, a maçaneta chacoalha. Então, continua chacoalhando. Barulho, barulho, barulho.
Me pergunto se quem quer que seja já ouviu falar de fechaduras.
Passo um minuto pensando se devo ou não fazer algo a respeito, mas acabo apenas observando as coisas acontecerem depois de decidir que não quero ser incomodado.
O barulho fica cada vez mais alto até que eventualmente a fechadura se rompe.
— Estou entrando.
É um gorila.
Acho que o Japão já era mesmo. Enquanto olho para ele em estado de choque, porém, percebo que não é um gorila, apenas uma pessoa que por acaso é muito parecida com um.
Parece familiar, mas posso estar imaginando coisas.
— Então, você é o garoto que Akane adotou, hein?
Me certifico de tremer como um bom personagem de fundo deveria fazer.
— V-Você não pode simplesmente entrar assim!
— Ei, não precisa ter tanto medo. Sou Yuudai Saejima, vice-comandante da ordem dos cavaleiros. Sou um dos mocinhos.
— Yuudai Saejima…
Isso definitivamente soa familiar. Então, assim, lembrei.
É o gorila que ficava na minha classe.
Com uma aparência como a dele, sabia que seria um ótimo personagem coadjuvante, então me certifiquei de lembrar quem ele era.
Estou tão feliz que se tornou um gorila adulto tão esplêndido!
— V-Você estava procurando a Akane?
— Não, estava atrás de você. Veja, há algo em você que simplesmente não se encaixa para mim.
Yuudai se joga bem na minha frente.
— O que eu fiz?
— Temos um rato em nossa base. Um espião, se isso não for claro o suficiente. Alguém de uma base inimiga está mexendo com o Messias.
— E-Eu não sou um espião!
— Você diz isso, claro, mas a ordem dos cavaleiros não pode simplesmente acreditar em tudo que ouve.
— N-Não, sério, eu não sou!
— Calado!
A voz de Yuudai de repente se torna áspera e ameaçadora. Ele me agarra pelo colarinho…
— Eu poderia jogá-lo em um ninho de feras agora mesmo, sabe?!
…e grita comigo com aquela cara de gorila.
Como um humilde personagem de fundo, tudo o que posso fazer em face de uma ameaça tão terrível é tremer.
— Ahhh!
Então, a cavalaria chega.
— Que merda você pensa que está fazendo?
Akane se aproxima, tremendo de raiva.
— O que quer dizer? Estou interrogando ele, duh — responde Yuudai, não soltando meu colarinho.
— Você o quê? Com qual autoridade?
— Pela minha autoridade como vice-comandante, é claro. Você sabe sobre o rato tão bem quanto eu. A meu ver, ele é praticamente a única pessoa suspeita que apareceu ultimamente.
— Ainda não faz dois dias inteiros que ele chegou. Temos a confirmação de que o rato está aqui há mais tempo do que isso.
— Talvez sim, talvez não. De qualquer forma, ainda tenho que interrogá-lo.
Yuudai e Akane se encaram e, eventualmente…
— O que você espera conseguir com isso…? — pergunta Akane.
— Você sabe exatamente o que eu quero.
…Yuudai me solta e se vira.
— Ah, certo, e o comandante estará realizando uma reunião de emergência esta noite. Nos vemos lá, querida.
Ela dá uma breve limpada nos ombros e sai.
— Aposto que isso foi muito assustador. Não se preocupe com ele, certo?
Akane sorri como se nada tivesse acontecido e começa a me explicar como é a vida no Messias.
Parece que vai trabalhar hoje à noite, então vou ser capaz de fugir para o deleite do meu coração.
Tradução: Taipan
Revisão: NERO_SL
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