Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 27 – Um Exército de Dez Mil Homens

Mia sentou-se na banheira, a água até seus ombros, sentindo o calor afundar em seu corpo. Assim que uma névoa confortável começou a se instalar em sua cabeça, ela ouviu Rafina falar.

— A propósito, princesa Mia, você sabia que haverá uma festa de comemoração de entrada depois de amanhã?

— Uma festa de comemoração de entrada? Acredito que não…

Mia franziu a testa perplexa. Nunca tinha ouvido falar de tal coisa, e não se lembrava de comparecer na linha do tempo anterior. Se perguntou por que, embora não por muito tempo – ela obteve sua resposta imediatamente.

— Você não ouviu? Estamos fazendo uma festa de dança para dar as boas-vindas aos novos alunos. Eu pensei com certeza que alguém já teria te convidado para ser seu parceiro de dança.

No segundo em que ouviu “dança”, um choque percorreu a espinha de Mia.

Ah-há! Eu me lembro agora! Que época terrível foi aquela! Eu tinha apagado da minha memória!

Na linha do tempo anterior, Mia acreditava que ela e Sion estavam destinados a ficar juntos. Portanto, imaginou que Sion seria aquele que a convidaria para a festa, e as fofocas que ouviu daqueles ao seu redor só fortaleceram essa crença. Isso, claro, levou à tragédia. Afinal, seu suposto parceiro de dança não tinha absolutamente nenhuma intenção de assumir esse papel. Além disso, como já havia espalhado a notícia antes, ninguém mais pediu para ir à festa com ela. Quando alguém percebeu isso, a festa já estava na metade. Alguns rostos familiares eventualmente apareceram e, com sorrisos desajeitados, a convidaram a participar. Seu orgulho, porém, não podia suportar a pitada de piedade em seus olhos. No final, ela passou um dia longo e solitário em seu quarto comemorando sua matrícula sozinha.

N-Nunca mais! Eu me recuso a passar por algo assim novamente!

Felizmente, desta vez ela não mentiu sobre ir ao baile com Sion. Outras pessoas iriam convidá-la… Eles devem. Eles têm que chamá-la.

E-Eles irão, certo? Por favor, me diga que irão…

Mia se conteve quando estava prestes a rezar para um poder superior. Ela rapidamente balançou a cabeça.

Não. Esse tipo de atitude fraca não é bom. Preciso ser mais assertiva. Esta é uma chance única na vida de fazer essas conexões que salvam vidas!

Mia levou um momento para reafirmar seus dois objetivos. O primeiro era não se associar com pessoas perigosas. O segundo era associar-se intimamente com pessoas que a ajudariam. É certo que o primeiro já parecia bem instável, mas o segundo parecia tender a um bom começo. Ela tinha que aproveitar ao máximo suas oportunidades.

Houve um tempo em que Mia desejava ganhar o afeto de Sion Sol Sunkland, a quem ela considerava o homem dos seus sonhos. Era um sujeito bonito com um sorriso encantador, afinal, e Mia só se importava com a aparência. Além disso, sua habilidade com a espada era inigualável; mesmo os alunos mais velhos não conseguiam se comparar a ele. Durante o concurso de esgrima, lutou corajosamente contra um oponente muito maior que ele. O resto do tempo, irradiava bondade e compostura. Em suma, era simplesmente impecável.

… Ou assim Mia tinha pensado. Agora, sabia o quanto estava errada. Embora indiretamente, ele era a razão pela qual foi levada para a guilhotina. Tendo visto através de sua personalidade perfeita – ou assim ela acreditava, de qualquer maneira – sabia que ele era uma farsa. No entanto, existia uma questão mais fundamental do que se seu caráter era genuíno ou não; tomar um príncipe herdeiro como marido era, antes de tudo, uma proposta impossível.

Sendo a única herdeira do trono imperial, Mia não poderia deixar seu Império para se casar com alguém. Da mesma forma, o Reino de Sunkland também não poderia enviar Sion para ser seu marido.

Se qualquer coisa, eu deveria estar mirando em segundos príncipes, ou até mais jovens. Pessoas que não têm muita chance no trono.

Enquanto estava considerando suas opções, alguém veio à mente. Embora não tão poderoso quanto os dois grandes – Tearmoon e Sunkland – entre os reinos de tamanho médio, havia um que era relativamente grande e ostentava um exército bastante substancial. Além disso, embora um pouco distante, estava situado no lado oposto de Sunkland, criando uma espécie de sanduíche geográfico. Era chamado de Reino de Remno e, para grande fortuna de Mia, seu segundo príncipe, Abel Remno, era seu colega de classe. Se pudesse se casar com Abel – ou pelo menos estabelecer um relacionamento com ele – quando Sunkland montasse sua invasão, ela poderia pedir reforços. Dessa forma, eles podem derrotar Sunkland com um ataque de pinça.

Eu estava planejando me aproximar lentamente depois que as aulas começassem, mas parece que não tenho tempo para perder!

Depois de sair dos banhos comunitários, Mia rapidamente voltou para seu quarto. Assim que a porta foi fechada, ela se virou para Anne.

— Hora de uma reunião de estratégia. Anne, preciso de conselhos sobre relacionamentos. Não se segure. Diga-me tudo o que sabe. Quero uma mobilização em grande escala.

Ao ouvir esta ordem, Anne imediatamente ficou em posição de sentido.

— Entendido, princesa Mia. Você tem todo o meu compromisso. Com sua permissão, fornecerei a você todo conhecimento que tenho.

Vendo a resposta entusiasmada de sua empregada, Mia assentiu com satisfação.

Sem que soubesse, o “conhecimento” com o qual estava contando era inteiramente baseado no romance que a irmã de Anne havia escrito. Em outras palavras…

Nem uma vez ela suspeitou que Anne – cinco anos mais velha – era uma novata completa em relacionamentos que nunca tinha se apaixonado antes.

— Que promissor — disse ela, completamente inconsciente de seu terrível equívoco. — Com você ao meu lado, Anne, sinto que ganhei um exército de dez mil homens!

Um exército de dez mil, de fato, mas ela mal sabia… O que tinha em número, faltava em conteúdo.