— Perdoem-me, mas o quê exatamente vocês estão fazendo, garotas?
Com seus firmes e ligeiros passos, Mia adentrou na multidão. Haviam três garotas que cercavam Tiona. Na linha do tempo anterior, ela as conhecia como filhas de notáveis e moderados nobres de notáveis e moderados países. Ênfase em “moderados”.
— Huh? E quem — disse a líder do trio, irritada — você pensa que é, se metendo…
— V-vossa Alteza…?
Ao ouvir a surpresa voz de Tiona, a garota ficou em silêncio, seu rosto empalidecendo.
— O-o quê? Vossa Alteza? Quer dizer…
— Creio que as apresentações estejam na ordem correta. Como você suspeita, eu, sem sombras de dúvidas, sou Mia Luna Tearmoon, Princesa do Império Tearmoon. É um prazer conhecê-la.
Mia deu uma leve puxada em sua saia e realizou uma reverência elegante. A luz do sol que a banhava, atribuía um resplandecer à sua coroa, deixando todas no local deslumbradas. Ela brilhava como se fosse a glória do Império em pessoa, e as garotas quase se prostraram frente a ela.
— Agora, permita-me repetir… O que, exatamente, vocês estão fazendo, garotas?
— Um, bem, n-nós…
Seus rostos empalideceram ainda mais. Sendo a princesa do poderoso Império Tearmoon, Mia era uma pessoa que elas não poderiam dar-se ao luxo de ofender… E neste momento, ela parecia furiosa.
De fato, Mia estava fervendo de raiva. A última coisa que queria fazer era ajudar sua arqui-inimiga, e ainda assim, essas garotas a deixaram numa posição onde ela foi deixada sem nenhuma outra escolha, senão ajudá-la. Ela encarou-as com um olhar cheio de ódio.
— Parecia que estavam se dirigindo rudemente à uma de minhas cidadãs.
— N-não foi isso. Nós só achávamos que, hmm, mesmo sendo da nobreza imperial, ela ainda veio de uma casa nobre de Outlands, então estávamos lembrando-a que qualquer hábito rude não seria tolerável numa sociedade civilizad…
— Precisarei repetir?
Percebendo que estava sem escapatória, Mia decidiu que teria de bancar a salvadora. De qualquer forma, escolheu isso de forma relutante, e Mia era uma má perdedora. Afinal, odiava tanto perder ー sua cabeça na guilhotina ー que estava, literalmente, “re-jogando” todo o jogo. Numa tentativa de fazer ela própria sentir-se um pouco melhor sobre essa violenta virada de eventos, continuou a falar:
— Sabe, eu amo todos os meus cidadãos, e amo todos igualmente. Até a criança dos mais pobres mendigos não deve ficar ausente de meu afeto. Não importa quem sejam, enquanto pertencerem ao Império, não irei tolerar quaisquer descortesias perante eles.
O que ela quis dizer era: não estou ajudando Tiana por ela ser especial ou algo assim, certo? Mesmo que elas estivessem fazendo bullying com uma criança mendiga, ela ainda interviria. No fundo, estava dizendo: Escuta aqui sua imbecil! Não dou a mínima para você! Para mim, você não é diferente de algum pedinte miserável, entendeu?
Agora, no entanto, toda essa energia parecia ser contra-intuitiva. Considerando que ela interviria de qualquer jeito, seria mais produtivo se pusesse sua alma nesse esforço. Mas isso ia requerer que fosse muito energética. E ser energética era algo que Mia não era. Por isso, ela olhou para Tiana, com um sorriso triunfante.
Hah! Eu te ajudei agora mesmo. Você não pode mais falar mal de mim, pode?
Porém, o sorriso de Mia viria a ser gravemente mal entendido.
Tiona não veio de alguma linhagem particularmente grande de nobres. Seu avô era, originalmente, líder de um grupo de faz-tudo, juntamente a seus companheiros fazendeiros. Depois de terem êxito numa luta contra um grupo de bandidos, foram recompensados com terras e um título. Ele não nasceu na nobreza, se tornou nobreza ー um noveau riche faz-tudo. Era um fato de que a região onde Tiana vivia foi anexada ao Império bem depois das outras regiões. Como resultado, a discriminação era frequente. Muitas vezes, nem eram considerados parte do Império, muito menos da nobreza. “Cidadãos de Segunda” dificilmente era o pior insulto que ouviam. Nos dias sombrios, foram chamados de tudo, desde “descendentes de serviçais” à “colônia de camponeses”.
Era por isso que ela veio para Saint-Noel. Estudou com todo o esforço que podia, aprendeu todas as regras da sociedade nobre, e até mesmo se ocupou de aprender esgrima. Dia após dia, ela se esforçava para melhorar, tudo para conseguir se destacar mais que essas garotas nobres que zombavam dela. Ou, talvez, só para não ser mais vítima dessa zombaria. Ela queria ser reconhecida como uma igual ー para olharem em seus olhos e saberem que estavam vendo alguém cujo sangue que corria em suas veias era vermelho como o delas.
Ainda assim, mal havia passado meio dia desde que chegou e já estava encarando os fragmentos despedaçados de suas esperanças. Vozes, com seus tons rancorosos e muito familiares, esfaqueavam suas orelhas e sua alma.
Seu mundo havia escurecido. Ela mordeu seus lábios e elevou seu olhar.
Depois de ter percorrido todo seu caminho até aqui, tinha encontrado a resposta; seu esforço não importava. Nada iria mudar. Não para ela, não para os Rudolvons, não para as pessoas de seu país. Eles nunca seriam vistos como cidadãos plenos do Império Tearmoon.
Assim que o desespero começou a preencher seu coração, ela apareceu.
Como o raio de luz que espanta a escuridão, Sua Alteza Imperial Mia Luna Tearmoon, a mais nobre dentre os nobres e princesa do Império Tearmoon, caminhou e declarou, com convicção, que Tiona era uma de suas cidadãs, e que não importa quem fosse, enquanto fossem do Império Tearmoon, não iria tolerar nenhuma descortesia direcionada a ela.
…Huh?
Por um bom tempo, a mente de Tiona ficou em branco. As palavras de Mia continuaram a ecoar em sua mente, mas seus significados a iludiram. Ela não esperava ajuda alguma, e nem nos seus sonhos mais loucos imaginou que seria reconhecida como uma cidadã do Império. Ela piscou, e a silhueta da garota à sua frente focou-se.
Sua alteza…
O sorriso da garota fora mais gentil e sereno do que qualquer um que já havia visto.
— Ah...
Alguma coisa caiu sobre a bochecha de Tiona. Ela sabia que era uma lágrima. Não era por todo o seu trabalho ter sido retribuído. Nem porque havia dado a volta por cima sob suas agressoras. Era por causa de uma promessa ー a certeza de que não importasse o quão impotente ou insignificante ela fosse, a jovem princesa a sua frente iria amá-la e protegê-la como um dos seus. Depois de passar toda a sua vida cercada pela pressão de ter que provar-se, pela primeira vez, ela se sentiu… segura. O alívio que sentiu saía através de suas lágrimas, as quais, mesmo tentando seu melhor para secar, simplesmente se recusavam a parar.
Tradução: Heu
Revisão: Nero_SL
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