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Matador de Goblins – Vol. 10 – Cap. 02.2 – Ghouls & Fantasmas

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— Ah, uau…

Quando a névoa se dissipou como se fosse varrida por uma vassoura, Alta Elfa Arqueira foi a primeira a falar. Ela chegou ao topo do túmulo funerário, chutando a terra úmida e musgosa em seu caminho e olhou ao redor.

O céu estava azul, o ar estava limpo e o vento fazia cócegas agradáveis em suas orelhas. Havia uma sensação de paz aqui, como se fosse um lugar diferente do morro envolto em neblina de apenas um momento atrás.

Fileiras e mais fileiras de pilares inertes de terra estavam ao redor deles. Alta Elfa Arqueira bateu em um bem próximo a ela com seu arco e ele se desintegrou em uma pilha de terra macia. Isso foi o que aconteceu com os monstros que os perseguiam e os ameaçavam até que o milagre ocorresse.

Alta Elfa Arqueira estava testemunhando esses milagres divinos com seus próprios olhos por mais de dois anos, mas ainda estava surpresa com o que eles poderiam alcançar.

— Todos eles se transformaram em… poeira…

— Cinzas em cinzas e pó em pó, como dizem. — Lagarto Sacerdote, ainda arrastando seu corpo pesado, parecia completamente relaxado. Era natural que seus movimentos ainda fossem lentos; ele tirou algo de sua bolsa a fim de usar para limpar a boca do gosto ruim, uma fatia de queijo. Alta Elfa Arqueira duvidava, porém, do quão bom poderia realmente ser o gosto quando ele ainda nem tinha enxaguado a boca. — Não conheço os demônios daquele outro reino, mas enquanto os goblins morrerem também, então tudo estará bem na terra e no céu. Essa coisa está bem feita.

— Ei, isso mesmo, a ferida…!

Alta Elfa Arqueira não estava, é claro, falando sobre Lagarto Sacerdote. Ele era o mais resistente entre todos eles. As tranças de seu cabelo voaram enquanto ela corria pela encosta, dando uma pancada na cabeça de Anão Xamã no caminho e recebendo um “Mm!” e um olhar em troca.

— Onde ela está?!

— Lá em cima — disse Matador de Goblins enquanto ela passava. — Vá e cuide dela. — Ele estava derrubando os montes de terra que uma vez foram goblins para garantir que eles, de fato, parassem de se mover.

— Estou indo — disse Alta Elfa Arqueira e redobrou sua velocidade, alcançando o topo da colina em um piscar de olhos. — Você está bem?!

— Desculpe… demorei tanto… — Sacerdotisa estava lá, caída no chão, seu rosto pálido, mas com um sorriso heróico. Havia um grande rasgo em suas vestes de clériga, mas nenhum sinal de que algo tivesse passado por sua cota de malha.

O que chamou a atenção de Alta Elfa Arqueira foi a perna de Sacerdotisa, estendida atrás dela. O sangue escorria através de um curativo enrolado ao redor da ferida. A elfa cruzou os braços sombriamente.

— Em momentos como este, gostaria de poder usar milagres — disse ela.

— Não, eu ainda posso conseguir…

— …É ele falando e eu não gosto disso.

Sacerdotisa só podia sorrir dolorosamente para sua amiga dando-lhe um estalo de língua, enquanto se apoiava em seu cajado e lutava para ficar de pé, mas a força simplesmente não entrava em suas pernas; ela tremia como uma criança aprendendo a andar e não tinha certeza se conseguiria ficar de pé.

Nossa… Alta Elfa Arqueira suspirou, mas então sorriu como se dissesse: Não há outra escolha.

— Venha, se segure em mim.

— O-obrigada…

— Apenas faça isso —, Alta Elfa Arqueira ordenou, dispensando o ar depreciativo  de pedido de desculpas de Sacerdotisa, e então deixou a garota se apoiar contra ela. Alta Elfa Arqueira não era muito menos delicada do que Sacerdotisa, mas os elfos têm habilidades físicas muito maiores do que a dos humanos.

— Tenho que dizer, porém, que estou impressionada — comentou Alta Elfa Arqueira, ajustando como ela estava apoiando a garota. — Derrubar todos aqueles mortos-vivos de uma só vez.

— Eu apenas assumi que mortos-vivos seriam vulneráveis a qualquer coisa que removesse maldições… Estou feliz que funcionou. — Sacerdotisa colocou a mão no peito em um gesto de alívio, mas enquanto isso, estava coberta de lama da cabeça aos pés. Sua boina, seu lindo cabelo dourado, suas roupas brancas e botas, tudo isso. Para ser justo, era perfeitamente compreensível, já que ela havia caído na lama.

— Sheesh… — Quando Alta Elfa Arqueira olhou para a garota, que parecia feliz, alheia à sujeira que riscava suas bochechas e até a ponta de seu nariz, toda a raiva em relação a ela desapareceu. No entanto, vou ter uma conversa franca com o Orcbolg.

Seus olhos rapidamente o localizaram, tendo algum tipo de discussão com Anão Xamã. É claro que, mesmo a essa distância, seus ouvidos eram bem capazes de captar o que estavam dizendo.

— O que acha?

— Não poderia começar a adivinhar se existe algo como um goblin necromante, mas não diria que aquele demônio anterior era o único por trás disso.

— Você acha que não? — Matador de Goblins disse, parecendo surpreso. — Pensei que esse era o tipo de coisa que os demônios faziam.

— Talvez os maiores, como aquele naquela masmorra recentemente, aquele que era apenas um braço… — Anão Xamã tomou um gole do frasco em seu quadril, então olhou para o céu com um giro pensativo de sua barba. — Mas este me pareceu um servo, não um mestre. Embora, admita que ele era muito forte para um demônio menor.

— Um hobgoblin, se compararmos com goblins.

— Se puder comparar goblins e demônios —, Anão Xamã disse com uma carranca. — Essa coisa era mais forte do que qualquer hobgoblin, mas no que diz respeito a um lugar na hierarquia, suponho que você esteja certo.

— Então havia outro dando-lhe instruções…

— Foi assim na batalha dez anos atrás.

Dez anos atrás, a exploração do labirinto mais profundo deste mundo, a Masmorra dos Mortos. O transbordamento da morte havia criado um exército de mortos-vivos, deixando o mundo louco. As ambições do Caos, às quais os seis aventureiros, ao chegarem à câmara mais interna da masmorra, haviam parado, ainda estavam frescas na memória. Até mesmo este Matador de Goblins e seu grupo haviam desafiado aquele labirinto abandonado.

— A única coisa que não entendo é o que eles queriam. Você não faz uma horda de mortos-vivos apenas para atacar uma vila.

— Isso é o que um goblin faria.

— Não pense que é um goblin — disse Anão Xamã. — Acho que há uma fonte de impureza sob aquele túmulo, ou então isso é o trabalho de algum ritual de algum cultista do mal, ou…

Não havia fim para as possibilidades. Não era exatamente uma missão tola, mas eles não tinham a mão de obra para encontrar a verdade.

— Acho que pode ser melhor deixar a Guilda saber disso para começar. Então podemos fazer com que outros aventureiros investiguem isso.

— Sim — disse Matador de Goblins com um aceno de cabeça. — Se não for um goblin, é mais do que posso lidar.

As orelhas de Alta Elfa Arqueira se recostaram em sua cabeça para descobrir que ele ainda estava falando sobre goblins.

— Vamos, Orcbolg! Você tem que fazer um trabalho um pouco melhor do que isso para cuidar das pessoas!

A resposta que ela recebeu foi brusca, como sempre.

— Sinto muito por isso.

Ela fungou e Sacerdotisa, presa entre os dois, encolheu-se ainda mais. — Ah, não… E-eu estou bem…

— Deixe-me lembrá-la de que não problema em ficar um pouco mais irritado com ele às vezes.

— Sinto muito — disse Sacerdotisa, encolhendo-se ainda mais, e Alta Elfa Arqueira simplesmente suspirou.

Anão Xamã, sentindo seu momento, interrompeu facilmente.

— Não grite, bigorna. Sabe que o Corta Barbas se importa à sua maneira.

— Sim, bem… Sim.

— Mais importante: há mais alguma coisa se movendo por aqui?

— Não, nada. Nem um som. Além de nós. — Alta Elfa Arqueira deu um puxão orgulhoso de suas orelhas.

— Tudo bem — disse Anão Xamã, forçado a reconhecer a superioridade da audição dos elfos.

Então a batalha acabou, por enquanto. Sacerdotisa finalmente relaxou, curvando a cabeça para Matador de Goblins, que havia chegado ao topo da colina.

— Sinto muito, Matador de Goblins, senhor. Se ao menos eu pudesse ter feito um trabalho melhor…

— … — Matador de Goblins não respondeu imediatamente, mas o capacete girou na direção de Alta Elfa Arqueira. Houve um estrondo baixo, então virou para Sacerdotisa. — …Você não tem nada para se desculpar.

É isso? Não, não era. Sacerdotisa já entendeu: Esse era o silêncio dele procurando as palavras.

— Você fez bem… Foi uma ajuda para nós.

— Sim senhor! — Essas palavras eram tudo o que ela precisava ouvir. Seu rosto se iluminou e ela assentiu ansiosamente. Se tivesse uma cauda, a estaria abanando agora.

— Você gostou disso, Orcbolg? As coisas não saíram de acordo com o plano e não havia tesouro, mas… — Arqueira Alta Elfa deu um orgulhoso “Heh-heh”, abrindo bem as mãos. — Lutamos contra monstros desconhecidos, abrimos caminho através de uma horda de inimigos e triunfamos sobre os mortos-vivos! Se isso não é uma aventura, nada é.

— Sim… Embora, não foi matar goblin.

Isso só parecia deixar Alta Elfa Arqueira mais feliz. — Com certeza não foi! — Ela disse.

Talvez estivesse muito ocupada estando satisfeita em ouvir isso, mas Sacerdotisa captou o sussurro quieto.

Matador de Goblins, não tentando esconder o desagrado em sua voz, rosnou baixinho: — Então… onde estão os goblins?

 

Separador Tsun

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Existem apenas algumas coisas que se movem mais rápido do que boatos: vento, luz. Talvez um raio.

— Ei, você ouviu? No Templo da Mãe Terra, há…

— Ah, sim, o goblin…

Os sussurros na taverna barulhenta pareciam inumeráveis, mas isso era típico para o estabelecimento de bebidas ligado à Guilda dos Aventureiros. Aqueles dentro muitas vezes acreditavam sem provas e com a mesma frequência afirmavam saber o que não tinham visto nem ouvido.

Não era simplesmente que eles eram fofoqueiros irresponsáveis. Em todo este mundo, não havia nenhuma informação que pudesse ter certeza absoluta, mesmo que tivesse confirmado por si mesmo. Você pode ser enganado por ilusões; sua própria ignorância pode levá-lo a confundir o que estava bem na frente do seu nariz; ou pode haver alguém puxando as cordas das sombras.

No submundo, dizia-se que se for jantar com sua avó, é melhor ver se ela não está escondendo algo. Era verdade, e muito mais quando se estava lidando com aventureiros novatos. Na melhor das hipóteses, conheciam os mitos e histórias que ouviram de seus anciãos da aldeia ou de seus pais, histórias vagas de tempos há muito desaparecidos. Sim, eles podem ser corajosos e podem saber como aproveitar uma oportunidade, afinal, deixaram suas cidades e se tornaram aventureiros, mas pouquíssimos desses jovens sabiam ouvir um boato, muito menos saber sua veracidade.

No máximo, poderia ser considerado um privilégio concedido apenas aos jovens: a coragem de enfrentar o mundo sem conhecimento e sem experiência, com apenas a própria inteligência. Era algo grandioso demais para ser desprezado como simples tolice ou estupidez.

Então os rumores que circulavam pela taverna eram uma personificação do vigor juvenil, mas ainda assim.

— Urrrgh…

Não era assim que eles se sentiam com Sacerdotisa, recém-chegada de derrotar goblins mortos-vivos inquietos e o demônio que os comandava. Ela soltou um som que estaria em algum lugar entre um gemido e um choro de onde ela estava caída, um copo vazio na mão. Seu rosto e pele, tão pálidos até um momento atrás, estavam vermelhos brilhantes agora e o entusiasmo de sua bebida fez até os olhos de Anão Xamã se arregalarem.

Era muito incomum para ela, talvez a primeira vez, na verdade, mas ela estava bem e verdadeiramente afogando suas preocupações na bebida.

— G-gee, você realmente deveria deixar isso te atingir assim? — Alta Elfa Arqueira esfregou as costas de Sacerdotisa consoladoramente. — Os rumores têm uma vida útil muito curta. Todo mundo vai esquecer isso muito em breve, estou te dizendo.

— Um boato que desaparece “muito em breve” para os elfos é uma lenda que é contada há séculos entre nós — disse Anão Xamã.

— O que mais eu deveria dizer? — Alta Elfa Arqueira atirou de volta, levantando as sobrancelhas com um olhar de mantenha-se fora disso.

Anão Xamã, no entanto, a ignorou, servindo-se de mais vinho do jarro e bebendo-o em um único gole. As sobrancelhas de Alta Elfa Arqueira ficaram ainda mais altas com o que parecia ser sua total falta de preocupação com Sacerdotisa.

— Meu Deus — disse Anão Xamã, como um mestre confrontado com um aprendiz denso. — Às vezes você precisa de vinho ruim. Deixe a garota beber até sentir vontade de parar.

— Ainda acho que devemos fazer alguma coisa…

— Nós vamos, se ela estiver prestes a se afogar. Às vezes é melhor vomitar tudo.

Além disso, a garota guarda muita coisa reprimida por dentro.

Eles não sabiam muito do passado um do outro, a amizade precisava de algum prólogo? Mas já fazia pouco mais de dois anos desde que eles se reuniram como um grupo. Ele sabia apenas que essa garota havia sido criada como órfã no Templo da Mãe Terra. No entanto, também entendia bem que ela colocava os sentimentos e a felicidade dos outros antes das suas.

 

 

 

— Acho que o Corta Barbas poderia se dar ao luxo de pegar mais leve com ela. — Anão Xamã deu um tapinha nos ombros magros de Sacerdotisa com uma mão áspera, gentilmente, enquanto ela fazia um tipo de gemido inarticulado.

Divertido ao ver Sacerdotisa tão completamente inarticulada, Lagarto Sacerdote revirou os olhos alegremente em sua cabeça. — Céus, tenho certeza que ela deseja se exibir para o nosso Matador de Goblins. — A clériga estava relaxando em seu assento, um barril que estava usando no lugar de uma cadeira. — Se ela fosse mais tenra, acredito que um pouco de indulgência não faria mal, mas gostaria que percebesse que a casca deste ovo saiu.

Ainda assim, o homem-lagarto refletiu, era demais para suportar, muito embaraçoso para reclamar e delirar, e muito humilhante para ser incapaz de agir. Assim, ela se viu apoiada no resto deles. Lagarto Sacerdote riu baixinho. Era inconfundivelmente a risada de uma fera carnívora, mas, ao mesmo tempo, continha um profundo poço de amor, a risada de um monge.

Alta Elfa Arqueira gemeu como se não estivesse impressionada, então se esparramou sobre a mesa imitando Sacerdotisa. A elfa estava ali deitada com os braços estendidos, a cabeça pendendo para um lado, apenas os olhos se virando para contemplar Lagarto Sacerdote.

— Você deveria ser um monge; poderia dizer algo mais monacal.

— Bem, agora… — Confrontado com seu olhar, Lagarto Sacerdote tocou a ponta de seu nariz com a língua pensativamente. Um Alto Elfo estava olhando para ele com os olhos cheios de espíritos de vinho, claramente indignados. Qualquer homem normal ficaria intimidado. Lagarto Sacerdote, no entanto, não se comoveu; apenas abriu a boca e disse calma e sobriamente: — Pode-se, acredito, desconsiderar com segurança essa conversa fiada como a que ouvimos… Pelo menos, como minha opinião pessoal.

— Olha, não temos ideia se é verdade ou não — disse Alta Elfa Arqueira, esticando o dedo indicador e desenhando um círculo preguiçoso no ar. — Mas deve haver alguém que começou esse boato, certo? E eles são culpados de falar mal da freira sênior da nossa garota.

Os rumores a enojavam e não era como se tratassem de um completo estranho. Alta Elfa Arqueira tinha visto seus amigos e sua floresta sendo alvo de goblins. Ela mesma já havia sido submetida a eles uma vez. Ela não era do tipo que se demorava com lembranças desagradáveis, mas não havia dúvida de que tinha sido uma experiência aterrorizante. Então agora suas longas orelhas caíram lamentavelmente e ela murmurou: — Você não se pergunta… o que eles estavam pensando?

— Rumores infundados são o material fundamental da batalha. Não são encantamentos nem maldições. — Lagarto Sacerdote balançou a cabeça suavemente, mas falou com firmeza, como se quisesse anular as palavras calmas da elfa. — Onde há hostilidade, mas não há coragem, então é mais certo do que a queda de uma estrela que o inimigo será silenciado pela força.

— …Você não odeia ouvir algo horrível sendo dito sobre você?

— Se isso é suficiente para me quebrar, significa que eu era o mais fraco. E não valia a pena me temer em primeiro lugar. — Sua declaração brusca soou muito em caráter.

Mas foi demais para Alta Elfa Arqueira, que murmurou: “Bár-ba-ro”, mas deu uma risadinha.

— Bem, não estamos nos divertindo muito? — Brincou o Anão Xamã.

— Como não poderíamos quando estamos bebendo com nossa querida clériga? — Lagarto Sacerdote respondeu.

Os dois homens sorriram um para o outro e deram de ombros como se dissessem que não havia mais nada a fazer. Quando eles precisavam, contavam com a ajuda de algumas outras aventureiras para levar as garotas para seus quartos. Enquanto isso, eles beberiam a noite toda, era isso que eles estavam planejando, de qualquer forma, quando:

— Tudo bem, a comida está aqui! — Com um palmo de pés, a garçonete se apressou até a mesa do grupo. A bandeja que ela carregava trazia uma cesta de pão e uma espécie de panela de metal fumegante.

— Comida…? — Alta Elfa Arqueira perguntou, levantando a cabeça e farejando o ar.

— A refeição está aqui, tudo bem — disse Anão Xamã. — Agora saia de cima da mesa antes que você se queime.

— Yaaay, comida! — Alta Elfa Arqueira levantou as mãos em comemoração.

Lagarto Sacerdote, enquanto isso, estendeu a mão e gentilmente reorganizou Sacerdotisa em uma posição sentada.

— Mrrf…?

— Acho que é melhor você colocar um pouco de comida nessa barriga junto com seu vinho, ou pode ficar com o estômago bastante agitado.

— Uh-huh —, Sacerdotisa murmurou como uma criança cansada, mas ela conseguiu se manter ereta. Por pouco tempo, logo depois sua cabeça caiu perigosamente onde ela estava sentada…

— Um peixe-gelo seco em óleo de alho, aqui está! — No espaço recém-esvaziado da mesa, Garçonete Felpubro colocou uma pequena panela que parecia muito, muito quente. Azeite borbulhava por dentro. Havia talos de cebola, fervidos até ficarem moles, e depois um pequeno peixe, cozido com alho e especiarias. Produzia um aroma indescritível. As narinas de Lagarto Sacerdote se dilataram quando ele o comeu. Embora talvez ele estivesse na verdade farejando o pão e o queijo na cesta que acompanhava o peixe.

— Pensei que a estação dos peixes-gelo fosse o inverno, pouco antes deles botarem seus ovos. Está bom agora? — Anão Xamã olhou para dentro da panela com interesse, apertando os olhos para o vapor levemente pungente.

— Ei! — Garçonete Felpubro fungou, estufando o peito bem torneado. — A primavera foi fria este ano, sabe?! Ainda pode pegar alguns peixes-gelo carregando suas ovas!

Agora toda a prova estaria na degustação. Anão Xamã pegou uma porção de peixe e cebola e começou a mastigar. Houve um formigamento de especiarias, seguido por carne macia de peixe estourando em sua boca, encontrando a textura das cebolas, estava além das palavras.

Alta Elfa Arqueira parecia desconfiada no início, mas quando finalmente experimentou uma cebola, ficou muito satisfeita ao descobrir que estava boa. Lagarto Sacerdote, por sua vez, estava colocando o queijo no pão, mergulhando-o na sopa e depois comendo, acompanhado de gritos de “Doce néctar!”

— O que há com ela? — Garçonete Felpubro perguntou, gesticulando para Sacerdotisa. — Ela partiu seu pobre coraçãozinho? — A clériga estava sorvendo apaticamente de sua colher. — Trouxe essa comida pensando que talvez ela estivesse deprimida…

— É esse boato que está circulando — resmungou Alta Elfa Arqueira, olhando para Garçonete Felpubro sob as pálpebras pesadas. — Rumores sujos e podres! O que há de tão divertido neles?

Ela não parecia estar falando, ou mesmo encarando, ninguém em particular, mas sim todo o fenômeno de espalhar histórias.

— Ah! — Garçonete Felpubro disse, imperturbável pelo evidente mau humor de Alta Elfa Arqueira. — Sim, não posso dizer que sou uma grande fã desse tipo de coisa, mas acho que as pessoas com os ouvidos mais aguçados já começaram a agir.

— O que quer dizer? — Lagarto Sacerdote perguntou incisivamente, interrompendo o progresso de seu pão e queijo.

— Hum? — Garçonete Felpubro respondeu, pressionando as pontas de suas patas em suas bochechas. Talvez não esperasse uma resposta tão afiada dele. — Quero dizer, já tem um comerciante da Cidade da Água perguntando se não queremos comprar o vinho dele em vez das coisas do templo da Mãe Terra.

— Um comerciante, hein…? — Anão Xamã rosnou.

— Mais rápido para atacar do que qualquer predador que eu conheça — disse Lagarto Sacerdote.

— Bem, se serve de consolo, o velho recusou.

Assim como se poderia esperar. O Chef Rhea era uma pessoa de muito bom coração, capaz e confiável demais para tal travessura. Sabia a diferença entre o que ele tinha visto e ouvido por si mesmo e um mercador que tinha vindo à deriva nas correntes de boatos.

É claro que, às vezes, seguir essas correntes pode levar ao melhor resultado. Era, com efeito, uma questão de posição pessoal. Viver e morrer eram tão próximos quanto os dois lados de uma folha de papel. Era tão verdadeiro para os mercadores quanto para os aventureiros.

— O que você acha disso, Mestre Conjurador de Feitiços?

— Receio não saber mais do que você, Escamoso.

Anão Xamã e Lagarto Sacerdote realizaram uma conferência sussurrada sobre essa postura. Eles questionaram se era possível responder tão prontamente a uma história que só começou a circular nos últimos dois dias. Com os comerciantes, porém, seria uma surpresa se não houvesse algo acontecendo nos bastidores.

Quando havia grandes somas de dinheiro envolvidas, muitas vezes havia corredores nas sombras. Havia moedas para contar, lucros e perdas potenciais para calcular; e onde o dinheiro estava envolvido, o conhecimento dos anões era frequentemente aplicado, mas…

Simplesmente não sei.

Ele ainda não tinha bebido vinho suficiente; esse era o problema. Anão Xamã assentiu sabiamente, encheu outra taça com vinho do Templo da Mãe Terra e tomou um gole.

— Onde está aquele seu amigo esquisito, afinal? — Garçonete Felpubro perguntou, colocando as mãos nos quadris enquanto pegava o fio da conversa. — Agora, de todos os momentos, ele deveria estar cuidando dessa garota…

— Matador de Goblins? — Para sua surpresa, foi Sacerdotisa quem falou, em uma voz que era calma, mas, muito parecida com a dele, bem arrastada. — …Ele fez seu relatório de costume e foi para casa, como sempre faz.

— Argh — disse Garçonete Felpubro, pressionando as almofadas das patas na testa e olhando para o teto. Estranho é uma coisa, mas ele é estúpido também!

 

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— Eles não eram goblins.

— Sério?

— Eram mortos-vivos — disse ele. Em seguida, acrescentou: — Aquilo se movia.

— Entendo, goblins mortos-vivos… Mais alguma coisa?

Seu capacete se inclinou com a pergunta. Ele ficou em silêncio, evidentemente pensando. Houve uma pausa.

— E um demônio.

— Demônio?

— Era vermelho. — Parecia que era tudo o que ele ia dizer, mas então pareceu se lembrar de outra coisa. — Voava no céu.

Entendi. Garota da Guilda deu um aceno rápido, sua caneta riscando o papel do relatório que estava no balcão na frente dela.

Depois de qualquer aventura, era trabalho da Guilda tirar o relatório do aventureiro, formalizando-o como papelada. Era importante, principalmente porque esses relatórios formariam a base para quaisquer promoções em potencial, eles refletiam, por assim dizer, os pontos de experiência do aventureiro. Claro, alguns dos aventureiros mais falastrões eram conhecidos por exagerarem suas próprias realizações, então sempre era preciso ter cuidado. Os funcionários da guilda não podiam simplesmente aceitar como verdade a palavra de todos, e descobrir em quem confiar fazia parte de seu papel.

Então, novamente… Garota da Guilda soltou um suspiro mental, dando uma olhada no capacete à sua frente… Esse aventureiro em particular não parece ter nenhum interesse em mais promoções.

Significando que esta era sua chance de se esgueirar para uma pequena conversa, chame isso de benefício extra. Claro, não se deve misturar a vida profissional e a privada e ela nunca pensaria em dar menos do que o seu melhor esforço ao seu trabalho, mas…

— O que está errado?

— Ah, uh, nada.

Ela não esperava a pergunta; rapidamente balançou a cabeça, fazendo sua trança balançar.

Sua caneta deve ter parado de se mover. Ou talvez ele a tivesse notado olhando para ele. Garota da Guilda limpou a garganta para esconder seu constrangimento e mudou de assunto forçadamente.

— Então, aham… O que você acha?

— Sobre o que?

— Aquela garota — disse Garota da Guilda, discretamente olhando para baixo. — Você sabe, existem todos aqueles rumores…

Embora ainda houvesse uma qualidade infantil em Sacerdotisa, já fazia dois anos desde que ela se tornou uma aventureira. Ela havia completado dezessete anos. Mesmo enquanto crescia em sua feminilidade, ela estava amadurecendo como uma aventureira e, em um futuro próximo, eles teriam que falar sobre promovê-la novamente.

E no meio de tudo isso vieram esses rumores desagradáveis sobre goblins. Ela era como uma irmã mais nova, uma amiga valiosa e alguém que estava a caminho de se tornar uma corajosa aventureira. Isso não estava confundindo o profissional e o privado: neste caso, os sentimentos profissionais e privados de Garota da Guilda apontavam na mesma direção e ela não podia deixar esse assunto para lá.

— Bem… — Matador de Goblins grunhiu de dentro de seu capacete. — Ela parecia estar um pouco desanimada.

— …Vai ficar de olho nela, não vai?

— Duvido que isso significaria muito se eu falasse com ela. — Ele balançou a cabeça lentamente. — O máximo que posso dizer é que ela está bem, então não há nada para se preocupar, mas de que serviria?

— Bem, você não está errado, exatamente… — Garota da Guilda pensou de volta. De volta à primeira aventura de Sacerdotisa.

Os membros do grupo que ela conheceu na Guilda. Um grupo de pessoas que ainda não se conheciam, mas que seguiram em frente com base em sonhos e esperança e um senso do que era certo.

Seria fácil ridicularizá-los, dizer que eram imprudentes e tolos, mas ela não via assim. Tinha certeza de que havia algo lá, algo precioso dentro deles que eles compartilhavam com todos os aventureiros. O único problema, o fato simples e lamentável, era que eles se excederam, se adiantaram ao crescimento daquela coisa…

E apenas um aventureiro sobreviveu. Uma menina, órfã pela segunda vez.

Todo o fato de ela ter se levantado e progredido foi graças a uma coisa: ele e os demais membros do grupo.

Então, o que ele poderia dizer? É por isso que você não deve se preocupar com isso; os rumores não são sobre você de qualquer maneira?

Verdade, isso não seria nenhum tipo de ajuda para ela.

Ela achava que sabia no que ele acreditava. Que se alguém não se levantasse e se movesse por conta própria, sua situação não mudaria.

Garota da Guilda, porém, largou sua pena e deixou um sorriso surgir em seu rosto, diferente daquele que ela tinha de colocar à força.

— Quando se está sofrendo, às vezes… pode te fazer surpreendentemente feliz quando alguém se esforça para fazer algo por você, sabe?

Como se você estivesse enterrada em missões e aparecesse alguém que as aceitasse. Ou se você foi atacada na noite de um festival e alguém veio resgatá-la.

— …Entendo. — Matador de Goblins parecia estar pensando sobre isso, e então, abruptamente, ficou em silêncio. Respirou fundo antes de seu próximo murmúrio suave. — Admito, não faz muito sentido para mim.

Garota da Guilda passou mais alguns minutos ouvindo o relatório de Matador de Goblins e fazendo a papelada. Quando terminaram, ele se levantou com um simples “Tudo bem”, e começou a andar com seu habitual passo pesado, mas então parou de repente e seu capacete virou na direção da taverna. Sacerdotisa estava lá, seu rosto corado com vinho, cercado por seus amigos, que estavam tagarelando.

Por um momento, ele se levantou e os observou, então lentamente saiu da Guilda.

Confrontada com a porta balançando suavemente, Garota da Guilda só conseguiu suspirar.

 

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— Psst, ei… Venham!

Ele tinha acabado de sair pela porta noite afora, quando Matador de Goblins encontrou seu braço agarrado. Arrastado para as sombras, conseguiu soltar o braço e dar uma olhada no interlocutor. Era uma criatura viva, humanoide, completamente escondida sob um sobretudo surrado.

Um goblin?

Não, não um goblin. Era alto demais e sua voz muito alta. Ele baixou os quadris e colocou a mão na espada, completamente alerta. Atrás do visor de seu capacete, ele movia apenas os olhos, examinando a área. Eles estavam atrás da Guilda, onde eram guardados os materiais para a oficina e os ingredientes para a cozinha. Ele vinha aqui muitas vezes quando a ajudava. Ele tinha noção do terreno. Poderia se movimentar. Não haveria problema.

— O que é?

— …Você não tem que rosnar para mim assim — disse a figura de sobretudo, rindo sem jeito. — Não é como se não nos conhecêssemos.

— Nesse caso — respondeu Matador de Goblins, sentindo o pé com o dedo do pé, — tire seu casaco.

Ele detectou um suspiro e a outra pessoa resignadamente removeu suas roupas.

Ondas de cabelo preto se espalharam como um mar agitado e ele viu a pele escura. — Estava tentando manter um perfil discreto aqui… — Irmã Uva desviou o olhar, nervosamente coçando sua bochecha.

Matador de Goblins lentamente tirou a mão de sua espada e se endireitou. Afinal, não havia necessidade de tanta cautela. — Eu simplesmente pensei que você poderia ser um goblin.

— Foi uma sugestão de sarcasmo que eu detectei?

— Não —, ele respondeu, balançando a cabeça. Então, após um momento de silêncio, acrescentou: — Pelo menos, essa não era minha intenção.

— Hmm —, a irmã Uva disse, e seu rosto abriu um sorriso. — É bom conhecer um homem que sabe o que quer.

— É mesmo?

— Mm-hum.

A conversa parou por um momento. Irmã Uva mexeu desconfortavelmente em seu cabelo e Matador de Goblins esperou pelo que ela diria em seguida.

— Ah, diga…

— O que?

— Erk — gritou Irmã Uva, pega de surpresa pela reação instantânea às palavras que ela trabalhou tanto para convocar. Ainda assim, conseguiu tossir um pouco e reuniu sua coragem maltratada. O que quer que se estivesse fazendo, ao começar cara a cara, era impossível voltar atrás. — A garota… eu só queria saber, como ela está se sentindo?

— Como você quer dizer —, Matador de Goblins murmurou, — como ela está se sentindo?

— Só, você sabe, ela não está se esforçando muito em aventuras ou… — Irmã Uva tropeçou no que era claramente um disfarce, antes que ela finalmente dissesse o que estava em sua mente. — Talvez eu esteja pensando demais nas coisas, mas olhe. Eu estava, você sabe, preocupada que os rumores sobre mim pudessem ser um problema para ela.

Matador de Goblins não respondeu imediatamente. Ficou em silêncio dentro de seu capacete, embora houvesse um grunhido audível. Ele não sabia a melhor forma de responder.

— Ela está indo bem — disse ele, então fez uma pausa distintamente. — Pelo menos, eu acho que sim.

— Entendo… — Mm. Irmã Uva assentiu, então se recostou em uma caixa de madeira atrás dela. Ela tinha relaxado um pouco? Matador de Goblins achou que ela parecia menos tensa. — Entendo. Se ela está indo bem, então isso é ótimo. Isso é tudo que eu preciso ouvir.

Na verdade…

— Parece que ela está superando. Odiaria pensar que tinha entrado no caminho dela. Isso seria horrível.

Na verdade, ela parecia para ele como sua irmã mais velha, insistindo com um sorriso no rosto que ela estava bem.

— Como você pôde entrar no caminho dela? — Matador de Goblins disse, quase antes do que ele pretendia. Irmã Uva piscou com a pergunta contundente. — Você não poderia.

— …Fico feliz em ouvir isso — respondeu Irmã Uva e então colocou o sobretudo de volta, seu sorriso desaparecendo na escuridão. — Acho melhor eu seguir meu caminho, então.

— … — O capacete de Matador de Goblins virou, indicando a janela da taverna, que estava iluminada com uma luz quente. — Você tem certeza?

— Tenho certeza — assentiu Irmã Uva. — Eu te disse, não quero causar nenhum problema a ela.

— É mesmo?

— Só para isso.

— Até logo — disse ela com um aceno de sua mão e então deslizou para a escuridão. Os aventureiros pelos quais ela passou, avistando as vestes de alguém do Templo da Mãe Terra, olharam para ela. Suas vozes sussurrantes de alguma forma pareciam muito audíveis dentro do capacete de metal.

Matador de Goblins grunhiu baixinho, encarou o céu com suas duas luas e então, sem nenhuma outra palavra, foi embora.

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Sonny

 

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