Dark?

Matador de Goblins – Vol. 10 – Cap. 01.1 – Frente da Tempestade

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— Eca! — Sacerdotisa exclamou, caindo de volta para os arbustos enquanto mandíbulas bestiais a atacavam. — Eee-yahh…! — Ela atacou com seu cajado,e as presas o morderam com um estalo.

Gotas de saliva suja respingaram no seu rosto magro, fazendo-a tremer de medo. O monstro diante dela tinha olhos injetados de sangue e um tamanho aterrorizante, um verdadeiro cão do inferno. Não havia esperança para a vítima da mordida de um warg.

— Ooh… H-hggh…! — Sacerdotisa reuniu todas as suas forças e chutou o ar com suas pernas pálidas, fazendo qualquer coisa que pudesse para manter as presas afastadas enquanto elas se aproximavam cada vez mais. Os membros do warg, cada um deles mais grossos que o pescoço de Sacerdotisa, pressionados contra seu corpo esguio, as garras cravando em sua carne macia. — Ah… ah…?!

Graças a sua cota de malha, não doía, pelo menos não muito. Mesmo assim, seus pulmões e abdômen ainda estavam sendo esmagados, e um gemido saiu da boca de Sacerdotisa. Estava lutando para respirar, sua visão ficando turva. Em algum lugar além do warg, podia ver as árvores escuras da floresta. Seu olhar era o de uma presa sendo esmagada na terra, lutando, sim, mas, no fim, esperando para ser devorada – uma criatura lamentável.

No entanto, Sacerdotisa estava desesperada, porém preparada e esperta. Sabia que só precisava de uma abertura, de um instante.

— GARO?!

Um segundo depois, o warg gritou quando levou um chute lateral e caiu de cima dela.

— Você está bem?

— S-sim! — Sacerdotisa tossiu algumas vezes, mas conseguiu estabilizar a respiração e, quando olhou para cima, viu um aventureiro. Usava uma armadura de couro encardida e um capacete de metal de aparência barata. Em sua mão havia uma espada de comprimento estranho e em seu braço, um escudo redondo. — Há outro, Matador de Goblins, senhor…!

— Eu sei.

— GAAWRG!!

Quando um segundo warg entrou correndo, ele o acertou no nariz com seu escudo.

— Hmph.

O monstro caiu com um grito e ele pulou sobre a besta enquanto a esfaqueava, rasgando sua garganta.

Matador de Goblins usou seu escudo para segurar a criatura durante o último de seus violentos espasmos de morte, então, lentamente se levantou. — …Eles devem ter nos notado agora.

— Sim, provavelmente.

— Minha intuição está entorpecida.

Sacerdotisa não respondeu, mas se levantou, limpando a lama e pedaços de arbustos o melhor que podia.

Diante deles se apresentava a abertura de uma caverna que parecia ter surgido do nada no meio da floresta. Na entrada havia uma estranha torre construída a partir de uma combinação de lixo aleatório e vários tipos de ossos – provavelmente incluindo humanos. O cheiro que vinha da pilha de lixo abandonado se misturava com o fedor de excremento e relações sexuais que emanava do buraco, dominando completamente o aroma das árvores.

Até Sacerdotisa podia dizer de relance que este era um ninho de goblins.

— Eles têm um xamã… E o lugar é guardado por wargs, não por lobos. Isso significa que o ninho é provavelmente muito grande.

— Sim — disse Matador de Goblins sombriamente. — Estão esperando por nós.

Nem é necessário dizer que os dois aventureiros estavam em uma caça à goblins.

A batalha entre as forças da Ordem e do Caos continua sem fim. Lugares que antes pertenciam à Ordem caíram em uma espécie de terra de ninguém, reivindicada por nenhum dos lados. Nesses lugares, as pessoas constroem aldeias, buscando cada vez mais espaço para viver e naturalmente se deparam com monstros.

Um goblin ou dois podem ser expulsos pelos jovens da aldeia. Muitas vezes, aproveitando essa onda de confiança, eles decidem se tornar aventureiros. Duas primaveras atrás, a própria Sacerdotisa uniu forças com alguns novatos aspirantes para sua primeira aventura.

Tinham ido, é claro, matar alguns goblins.

Quando os goblins se tornam demais para os bravos locais, começam a causar problemas reais, e é quando os aventureiros são chamados.

Já se passaram três anos desde então… Agachada nos arbustos, Sacerdotisa olhou para o capacete dele, que estava agachado ao lado dela. Esta primavera marcaria o início do terceiro ano que passou trabalhando com esse aventureiro incomum que se chamava Matador de Goblins. Ela mesma tinha dezessete anos agora e tinha crescido um pouco, ou assim pensava, mas não podia ter certeza.

Realmente não me sinto mais adulta.

Ela sorriu um pouco amargamente e agarrou seu cajado.

— O que nós faremos?

— Deve haver mulheres cativas — disse ele, em um tom frio e calmo. — Vamos eliminá-los e reduzir seus números.

— Tudo bem, vou me preparar! — Sacerdotisa assentiu e prontamente vasculhou sua bolsa em busca de seu Kit de Ferramentas do Aventureiro, pegando um martelo e estacas e um rolo de corda. — Nunca saia de casa sem ele.

Ela enrolou um lenço em volta da boca para atenuar o fedor e então se aproximou da entrada da caverna, andando o mais silenciosamente que podia. Enfiou as estacas no chão e esticou a corda entre elas, então lentamente rastejou de volta pela vegetação rasteira. Enquanto se ocupava com tudo isso, Matador de Goblins estava girando sua espada, cortando galhos de árvores e recolhendo-os. Depois foi sua vez de ir até a entrada, onde jogou a pilha de galhos.

— A madeira verde não é ideal para uma fogueira, mas vai produzir fumaça suficiente para nossos propósitos.

Uh-uh. Sacerdotisa assentiu com um sorriso e viu como Matador de Goblins golpeou uma pederneira. Usando um trapo oleoso de sua caixa de isca, Matador de Goblins logo teve a pilha de galhos soltando nuvens de fumaça.

Claro, eles estavam agora à mercê dos padrões do vento e do ar; se o pior acontecesse, a fumaça poderia até soprar de volta para eles, tornando a vida muito mais difícil. Piscando os olhos cheios de fumaça, Sacerdotisa ergueu seu cajado em um gesto familiar.

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda segurança a nós que somos fracos.

Sua súplica a conectou diretamente aos céus acima e um poder invisível milagrosamente brotou. Um muro de proteção envolvia a fiel discípula, bloqueando a fumaça e forçando-a a entrar na abertura da caverna.

Tudo o que restava era que os goblins fugissem, caíssem na armadilha e fossem mortos. Era um trabalho muito simples, Sacerdotisa e Matador de Goblins fizeram algo muito semelhante em uma fortaleza nas montanhas uma vez. Embora tivessem fogo adequado para aquela operação.

— Duvido que a fumaça chegue até o interior. Não podemos presumir que isso irá neutralizar todos… E há os reféns para se pensar. Aconteça o que acontecer, teremos que entrar — concluiu Matador de Goblins em voz baixa.

Sacerdotisa colocou um dedo fino nos lábios com um pensativo “Hmm”, então disse ansiosamente: — Espero que não haja outras entradas…

— Em um minuto ou dois, faremos uma varredura rápida. Tome cuidado.

— Sim, senhor, vou manter meus olhos abertos!

Ela sabia perfeitamente bem o que fazer. Sacerdotisa estufou seu pequeno peito conscientemente e ajustou firmemente sua boina.

Desta vez, foram apenas os dois. Ele reclamou que sua intuição estava pior do que antes, mas provavelmente era apenas porque os outros trabalhavam muito bem com eles. Normalmente, uma única flecha de sua arqueira elfa teria derrubado aquele warg e o grupo teria avançado cuidadosamente para dentro do ninho. Anão Xamã teria avaliado a construção do lugar imediatamente e seria capaz de dizer a eles se havia alguma porta nos fundos – ou se os goblins poderiam estar cavando através das paredes. E se houvesse uma briga, o homem-lagarto pularia com um grande uivo, seus braços, pernas, presas e cauda abrindo caminho para eles.

Confrontar esta caverna com apenas os dois era perceber novamente o quanto dependiam dos outros.

Mas… Mesmo enquanto reclamava consigo mesma, Sacerdotisa também sentiu um lampejo de felicidade em seu coração. Tanta coisa tinha acontecido ultimamente que teve bem poucas chances de ir caçar goblins sozinha com ele. Faz tanto tempo.

De alguma forma isso a fez feliz, dando uma olhada em sua direção. — Oh… — Foi quando ela descobriu um aroma inesperadamente doce. Olhou na direção do cheiro para encontrar um cacho de uvas silvestres balançando suavemente.

Sacerdotisa abriu e fechou a boca algumas vezes, tentando decidir o que dizer ou se deveria apontá-los.

— Qual é o problema? — Matador de Goblins virou-se abruptamente para ela e perguntou, fazendo com que a respiração de Sacerdotisa ficasse presa na garganta.

— P-Parando para pensar — disse, finalmente capaz de juntar algumas palavras —, eles devem estar fazendo vinho da primeira colheita de uvas agora mesmo. — Ela colocou a mão no peito para acalmar seu coração acelerado.

— Vinho de uva — repetiu Matador de Goblins. — Você quer dizer no Templo da Mãe Terra?

— Sim! — Sacerdotisa assentiu tão ansiosamente quanto um cachorrinho abanando o rabo. Porém, a essa altura, ele já estava olhando para o ninho e Sacerdotisa o seguiu, com o rosto vermelho. — É o vinho sagrado que usam na festa da colheita. Embora tenha de admitir que não é tão bom quanto aqueles feitos no templo do deus do vinho.

— É mesmo?

— É sim — disse Sacerdotisa, tentando arduamente fingir indiferença. O que não a impediu de dar outro pequeno olhar de soslaio para Matador de Goblins. — …Você gostaria de experimentar um pouco quando estiver pronto?

— Não me importaria — respondeu brevemente. — Mas só depois de matarmos os goblins.

— Lá vem eles.

Ao seu aviso em voz baixa, Sacerdotisa garantiu: — Estou pronta! — Seus lábios estavam apertados, mas estava sorrindo como o botão de uma flor aberta.

Certamente, a esta altura, não precisamos descrever em detalhes o que aconteceu com os goblins.

Era um dia quente, do tipo que indica a chegada do verão.

 

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— Ah, bem-vindos de volta!

— Vocês voltaram!

As vozes alegres de Garota da Guilda e Vaqueira os saudaram enquanto abriam a porta da Guilda. Era início da tarde. Não havia muitos aventureiros ao redor e Guilda estava impregnada por uma estranha sensação de apatia.

Matador de Goblins caminhou corajosamente pelo salão, atraindo os olhares do punhado de aventureiros que estavam lá, seja tirando um dia de folga, de ressaca, ou, como ele, voltando de um trabalho. Os olhares duraram apenas um segundo, no máximo.

— E ai, faz um tempo.

— Sim.

— Goblins de novo?

— Está certo.

— Você nunca sente vontade de caçar outra coisa de vez em quando?

— Não.

— Não deixe essa pobre garota esfarrapada.

— Não vou.

Vozes casuais saudaram “o estranho”.

A grande maioria dos aventureiros só se conheciam, na melhor das hipóteses, de vista, mesmo trabalhando na mesma cidade. Entretanto, essa era outra maneira de dizer que, mesmo nas maiores cidades, você ao menos conhece os rostos uns dos outros. E quem não ofereceria uma palavra de saudação depois de avistar aquele capacete barato único? O homem quase nunca iniciava uma conversa, mas respondia a qualquer um que falasse com ele.

Não era uma sensação ruim.

Como sempre, Matador de Goblins respondeu diligentemente a cada voz que o chamava enquanto se dirigia à recepção.

— Você está aqui. — Essa observação foi dirigida à garota, sua amiga de infância, sentada ao lado da mesa da recepcionista.

— Sim, tenho algumas entregas para fazer.

Sua voz era suave e baixa, mas Vaqueira assentiu e sorriu, inclinando-se para ele, seu peito generoso proeminente. A xícara na frente dela estalou, enviando pequenas ondulações pelo chá que continha. Vaqueira riu e coçou a bochecha com vergonha, acrescentando em desculpas: — …E depois que terminei, decidi ficar para o chá.

— Nosso segredinho. — Ela não está relaxando. Garota da Guilda colocou o dedo nos lábios e as duas riram.

Os meses desde a batalha do inverno passado passaram tão rapidamente. Vaqueira tinha o rosto de uma garota cuja aldeia havia sido destruída por goblins, mas as sombras não mais se apegavam a nenhuma parte dela. Toda vez que via isso, Matador de Goblins soltava um suspiro de alívio. Garota da Guilda também ficou satisfeita em ver sua amiga sã e salva.

É importante ter amigos com quem possa tomar chá, pensou Garota da Guilda.

Ela limpou a garganta com um pouco de tosse, então olhou discretamente atrás de Matador de Goblins.

— Bom trabalho lá fora. Algum de vocês foi ferido?

Sacerdotisa, batendo atrás de Matador de Goblins, balançou a cabeça e respondeu: — Não. — Sempre havia aquela simpatia inconfundível e irônica na voz da Garota da Guilda quando falava com ela. Afinal, no momento, a menina ainda jovem (embora acabasse de completar dezessete anos) estava coberta de sangue da cabeça aos pés. Sacerdotisa parecia cansada, mas deu um sorriso admirável. — Conseguimos — disse ela.

— Sério? — Desta vez foi Vaqueira que franziu a testa para as vestimentas encharcadas de sangue de Sacerdotisa. — Você pode ser honesta, sabia?! — Ela lançou um olhar desconfiado para Matador de Goblins. — Ele não vai ter ideia do que você quer dizer se não soletrar.

— Hrk — Matador de Goblins grunhiu para o que soou como reprovação, mas não disse nada. Em vez disso, ficou em silêncio. Vaqueira, que sabia que isso era o que ele fazia quando não sabia como responder, conteve uma risada.

O capacete de Matador de Goblins virou-se para ela, então ele mudou de assunto à força. — Gostaria de fazer o meu relatório.

— Sim, sim. Caça de goblins, certo? Como foi? — Garota da Guilda, também rindo, preparou sua caneta e papel enquanto se sentava.

— Havia goblins — afirmou Matador de Goblins, como se isso fosse detalhado o suficiente para descrever a aventura. Depois de pensar por um momento,  acrescentou: — Além disso, cachorros.

Sacerdotisa sorriu ironicamente e falou com alguma hesitação.

— Os goblins neste ninho estavam mantendo wargs… Como disse, nós conseguimos, de alguma forma.

— O tamanho do ninho era relativamente grande, mas não havia nada de incomum. — Então ele acrescentou rispidamente: — Os goblins eram os mesmos de sempre.

Garota da Guilda concordou com a cabeça, sua caneta correndo silenciosamente pela página. As missões de caça aos goblins tendiam a aumentar na primavera, época em que novos grupos de aventureiros se registravam. Alguns dos grupos aceitavam tarefas nos esgotos ou em outro lugar, mas a maioria deles ia atrás de goblins. Muitos deles conseguiam; alguns não e voltavam correndo para casa. E mais alguns nunca voltavam para casa.

Dificilmente era uma realidade exclusiva da caça aos goblins, mas para Garota da Guilda, que viu em primeira mão a história que os números brutos contavam, era uma época desagradável do ano.

Esta foi uma primavera relativamente calma, no entanto, pensou, suspirando por dentro. Afinal, eles estavam começando a conseguir novos aventureiros – embora muito poucos – que tinham ido ao campo de treinamento para algumas instruções básicas. O apoio de Comerciante Feminina (que já foi uma aventureira) e os esforços de muitos outros aventureiros estavam dando frutos. Talvez mais deles comecem a viver um pouco mais agora.

Garota da Guilda sabia que juntar muitas coisas pequenas individualmente poderia criar algo ótimo. Os humanos não eram elfos e pensar muito à frente poderia ser difícil para eles, mas sabiam que todo caminho começava com um único passo. E a construção de estradas era uma especialidade humana, mesmo que não estivessem à altura dos anões.

Ainda assim…

Também não adiantaria esquecer o presente. Era o início da primavera, quando a maioria dos novos aventureiros se registrava, embora o pico já tivesse passado. Provavelmente não havia mais ninguém que aceitasse missões de goblin por escolha.

Exceto por uma pessoa.

— …Temo que tenhamos que nos apoiar em você novamente este ano.

— Não me importo — disse Matador de Goblins, tão rápido que quase a interrompeu. — É o meu dever.

Enquanto Matador de Goblins reafirmava solenemente sua missão pessoal, Sacerdotisa tinha uma expressão ambígua. Garota da Guilda estudou o par, então se levantou sem dizer mais nada. Tirou um saco de ouro do cofre e o pesou em uma balança. Representava as moedas de bronze, junto com um punhado de prata, que os fazendeiros conseguiram coletar. Ainda pesava o que tinha quando a trocaram.

Matador de Goblins pegou o dinheiro e o dividiu em dois, dando metade para Sacerdotisa.

— Sua recompensa.

— O-obrigada! — Sacerdotisa inclinou a cabeça apressadamente e pegou uma linda bolsa bordada de sua sacola de itens. Enquanto cuidadosamente guardava suas moedas, Matador de Goblins despreocupadamente jogou seu saco de moedas em sua bolsa. O capacete virou-se lentamente para Vaqueira.

— O que você vai fazer? Ir para casa?

— Hmm… — Vaqueira pareceu pensar por um momento, girando os dedos. Sua linguagem corporal implicava que havia muito que desejava poder dizer.

Matador de Goblins a observou firmemente de dentro de seu elmo.

Em última análise, porém, Vaqueira engoliu tudo o que queria dizer, soltando um suspiro em vez disso. — Não, acho que estou bem. — balançando a cabeça,  ofereceu algo como um sorriso torto. — Gostaria de fazer mais algumas compras. Parece que todos voltaram; por que você não vai dizer um olá?

— Entendo. — Sua cabeça se virou para a taverna. — Eu vou.

Vaqueira assentiu, então apontou um dedo acusador para ele.

— E certifique-se de dar a essa pobre garota a chance de trocar de roupa!

— Hrk…

A “pobre garota” em questão ergueu os olhos de sua bolsa com um guincho quando descobriu que de repente ela era o assunto da conversa.

— Oh, não, estou bem. Sério…!

— Discordo; Acho que vai se sentir muito melhor depois de colocar algumas roupas limpas e bonitas — disse Garota da Guilda em um tom profissional. Então olhou para o capacete de metal com algum desânimo. — Se me perguntasse, gostaria de dizer a mesma coisa ao nosso querido Matador de Goblins, aqui…

— Mas você nunca sabe quando os goblins podem aparecer. — Então não posso mudar. Não havia nada a fazer em resposta à declaração curta, a não ser suspirar.

Sacerdotisa, porém, deu uma boa cheirada em suas mangas e gola, sua expressão caindo lamentavelmente.

— U-um, é…? Estou fedendo?

Vaqueira assentiu seriamente. Sem restrição, sem misericórdia.

— …Um pouco.

— Estava com medo disso… — Sacerdotisa, bastante chateada, deixou sua cabeça cair.

Quando Matador de Goblins viu isso, suspirou profundamente. — Vá se trocar. Vou na frente e espero por você.

— Sim, senhor… — Sacerdotisa, ainda obviamente angustiada, se levantou de seu assento e subiu as escadas para seu quarto.

Matador de Goblins a observou ir, seus pequenos ombros curvados, então se levantou. — Estou indo, então — disse ele, depois de pensar um momento, acrescentou: — Estarei de volta na hora do jantar.

— Ok, claro. — Vaqueira sorriu e então ele caminhou em direção à taverna com a mesma ousadia com que havia chegado. Seus companheiros, aquele trio estranho, pareciam estar almoçando no bar. Logo Sacerdotisa se juntaria a eles em suas roupas limpas e uma conversa animada e deliciosa, sem dúvida, começaria.

Me pergunto sobre o que ele fala com eles. Vaqueira tentou imaginar uma conversa da qual nunca poderia participar, então balançou a cabeça gentilmente. Pensar nisso não a levaria a lugar nenhum.

Alguns minutos se passaram. Garota da Guilda bateu o relatório finalizado contra a mesa, endireitando as páginas, então deu de ombros.

— Algumas coisas nunca mudam.

— Nem brinca.

As garotas se entreolharam, compartilhando um sorriso que dizia: O que se pode fazer?

Bem, deixe que os outros tenham sua taverna – as meninas teriam uma conversa própria, apenas as duas.

— Que tal outra xícara de chá?

— …Sim por favor.

 

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Matador de Goblins detalhou a aventura para os outros: — Havia goblins. — Depois de pensar um pouco, acrescentou: — E cachorros.

Sacerdotisa sorriu ironicamente. — Os goblins neste ninho estavam mantendo wargs… Conseguimos, de alguma forma.

— Mm, uma coisa muito dolorosa para ter que fazer. — Lagarto Sacerdote enfiou um grande pedaço de queijo em suas mandíbulas, engolindo-o inteiro. — Se eu mesmo estivesse presente, poderia simplesmente ter aberto as mandíbulas daqueles wargs e despedaçado-os para você.

— Vocês homens-lagarto, que bárbaros! — Alta Elfa Arqueira interveio despreocupadamente.

— Não sei o que você quer dizer — respondeu Lagarto Sacerdote. — Não há sociedade no mundo tão civilizada quanto a nossa. — Ele lambeu a ponta do nariz com a língua.

— Estou pensando que vocês, moradores da floresta, não têm espaço para criticar ninguém por serem bárbaros. Quebre um galho, perca um braço, não é mesmo?

— Você não é tão inteligente quanto pensa que é! — Alta Elfa Arqueira atirou de volta para Anão Xamã, suas longas orelhas encostadas em sua cabeça. — Essa lei é de eras atrás! Eles até falaram sobre se livrar disso há pouco tempo!

— Seu “há pouco tempo” ou o nosso?

— Bem, foi só há… hãã? — Alta Elfa Arqueira tentou contar nos dedos, mas então inclinou a cabeça com um perplexo: — Quando foi?

Anão Xamã deu de ombros, Lagarto Sacerdote revirou os olhos alegremente em sua cabeça e Matador de Goblins permaneceu em silêncio.

O grupo estava em torno de uma mesa circular, uma que praticamente se tornou seu local privado nos últimos dois anos. Sacerdotisa apertou os olhos para a cena familiar como se fosse quase brilhante demais para olhar. Quando ela concebeu se tornar uma aventureira, nunca imaginou que as coisas acabariam assim, com muitos significados para a palavra assim.

Olhou para um lado, notando aventureiros aqui e ali usando equipamentos impecáveis. Grupos que se entreolhavam, ainda coletivamente incertos, enquanto discutiam se deveriam se aventurar nos esgotos ou sair para colher ervas.

— Que tal essas ruínas, então? Ouvi dizer que há slimes lá.

— De jeito nenhum podemos lidar com isso. Não sabe o quão perigosos eles podem ser?

— Ah, certo… Sim, talvez os esgotos fossem melhores…

Sacerdotisa sorriu para os fragmentos de conversa, só um pouco, para que ninguém notasse. Ela reconheceu várias pessoas que também estiveram nos campos de treinamento. Esperava, com um desejo sincero, que as coisas corressem bem para eles.

Acho que nem tudo vai sempre correr bem, mas…

Ela sussurrou uma oração particular por eles para a misericordiosa Mãe Terra. Ser uma Devota era fazer companhia à Morte, e ela disse uma bênção para eles enquanto se preparavam para embarcar em uma de suas primeiras aventuras.

— Então, menina.

— Sim? — Sacerdotisa gritou quando Anão Xamã interrompeu seu devaneio. Ela colocou a mão na boina para evitar que caísse.

O anão barbudo derramou um pouco de vinho de uma jarra em seu copo, tomou um gole e deu um arroto apreciativo antes de dizer: — Só para você saber, já terminamos nossos negócios no templo da Mãe Terra.

Ele ignorou a elfa beliscando seu nariz e comentando “Ugh” ao lado dele enquanto se servia de outro gole. Sacerdotisa, descobrindo que a taça estava vazia, pegou a jarra de vinho e serviu-lhe outra.

— Muito obrigada — disse ela. — Sinto muito impor a você…

— Ah, não é nada — respondeu Anão Xamã, seu ânimo elevado e seu rosto vermelho. — Qualquer coisa por um bom vinho.

— Deuses, anão. Deixando sua atribuidora de missões servi-lo? Que petulante! — disse Alta Elfa Arqueira, mas Sacerdotisa sorriu fracamente e derramou um pouco do vinho de uva em seu próprio copo: — Não, não me importo… E isso é realmente tudo o que posso fazer.

— Não é como se tivéssemos feito muito mais. Apenas alguns dias guardando a vinha. — Alta Elfa Arqueira lambeu delicadamente seu vinho, as orelhas se contraindo. — Acho que se um dragão aparecesse, seria diferente, mas doninhas e corvos?

— Sim, mas eu só podia pedir às pessoas que sabia que poderia confiar… — Enquanto falava, Sacerdotisa olhou para Matador de Goblins, que estava derramando um pouco de vinho pelas ripas de seu elmo. — …E nunca seria bom deixá-lo por conta própria.

Não que Sacerdotisa tivesse dado aos três uma missão enquanto saía com o Matador de Goblins. Ela tinha sido mais uma intermediária – ou de forma mais clara, apenas um contato, já que a missão em si tecnicamente havia sido emitida através da Guilda. Ela era pouco mais do que uma representante, mas isso não era importante agora. Houve um pedido do templo onde ela cresceu para que as pessoas protegessem os vinhedos, enquanto ao mesmo tempo, surgiu uma caça aos goblins. O fato de Sacerdotisa não ter abandonado a busca goblin, apesar da considerável preocupação de sua parte, talvez fosse um sinal da influência dele.

— Era perigoso, mas sempre é. — Este foi o comentário sobre o assunto de Matador de Goblins. — Não me importaria de ir sozinho.

— Eu já te disse, não vou deixar você fazer isso! — Sacerdotisa disse, colocando um dedo no ar e adotando um tom de repreensão. — Ir sozinho é impossível e tolo; isso é o que eu acho.

— Hm.

— Você mesmo disse que a missão solo que fez recentemente foi mais difícil do que o esperado.

— É mesmo?

— Claro!

— Entendo.

Sacerdotisa murmurou algo com raiva, mas concluiu com um sorriso de: Ele é incorrigível. Se o grupo estava acostumado com discussões entre Alta Elfa Arqueira e Anão Xamã, esse tipo de troca entre os dois era igualmente familiar.

— Devo dizer que achei o processo de vinificação bastante interessante — disse Lagarto Sacerdote com um sorriso, batendo uma garra ansiosamente em seu prato vazio. — De onde venho, normalmente esperamos que as uvas caiam em uma nascente ou algo parecido e se tornem vinho por conta própria.

— Nós damos mordidas nas frutas direto no pé — acrescentou Alta Elfa Arqueira com um aceno de cabeça. — E acho que também deixamos as uvas caírem nas molas e esperamos até que comecem a fermentar… Às vezes deixamos o mel da mesma maneira.

Deixar o tempo passar: uma maneira muito élfica de fazer vinho.

— Vocês anões têm seu vinho de fogo, certo?

— Na verdade, nós temos — disse Anão Xamã orgulhosamente, dando uma boa libra em sua própria barriga. — Os alquimistas podem ter suas destilarias, mas seus equipamentos não podem se comparar aos nossos.

Certamente agora não precisamos mencionar a esperteza dos anões quando se trata de trabalhar com as mãos. Assim como os elfos cantavam seus arcos e as maravilhas da floresta, os anões sentiam alegria semelhante na precisão mecânica. Era quase tão importante quanto boa comida e bom vinho, pensou Anão Xamã, acariciando a barba com um sorriso.

— Não me importaria de provar a nova safra para mim quando estiver pronta.

— Sim, claro. Se aguentar o que fazemos. — As bochechas de Sacerdotisa coraram enquanto falava. Alta Elfa Arqueira perguntou o que era tão embaraçoso, mas Sacerdotisa apenas deu uma resposta evasiva.

Hum. O capacete de Matador de Goblins se inclinou para o lado e ele disse suavemente: — Então você faz isso todo ano.

— Você precisa prestar mais atenção ao que acontece ao seu redor, Orcbolg — disse Alta Elfa Arqueira com um suspiro exasperado, virando-se ordenadamente para ele. — Então você faz isso todo ano?

— Ouça, você… — disse Anão Xamã com um olhar, mas Alta Elfa Arqueira sacudiu suas longas orelhas.

— Vamos lá, no ano passado estávamos em minha casa nessa época e no ano anterior, estávamos na cidade da água, certo?

Isso foi perfeitamente preciso. O verão significou viajar para eles nos últimos dois anos; nunca passaram a temporada na cidade fronteiriça. Não seria tão surpreendente se nem todos soubessem da colheita precoce da uva e do vinho que dela se fazia.

O único ponto real de discórdia era que esse aventureiro com capacete de metal de aparência barata já morava nesta cidade há sete anos.

— Não é que não preste atenção — disse ele como uma desculpa. — Estive ocupado.

— Ocupado caçando goblins… — disse Sacerdotisa, fixando-o com um olhar. — Certo?

— Sim.

— Eu sabia! — Ela afundou na cadeira, parecendo mal-humorada, embora não estivesse. Incisivamente desviando do olhar dele, mas então olhou de volta pelo canto do olho, esticando o lábio. — O vinho que circula no festival da colheita… nós que fazemos também, sabia?!

— Não sabia.

— Tenho que admitir, não dá para competir com os que saem do templo do deus do vinho… — Sacerdotisa ainda tinha uma tendência a corar quando se lembrava da dança de oferendas, uma oração pela abundância, na qual havia participado no ano retrasado. A roupa que usava era tão pequena, embora parecesse se lembrar de ter recebido alguns elogios por isso…

— …De qualquer maneira! — Ela disse, balançando a cabeça. — Só não esqueça sua promessa.

— Não vou.

Essa resposta de Matador de Goblins pareceu satisfazer Sacerdotisa, que pegou um copo sorrindo. Eles estavam comemorando a conclusão de suas respectivas aventuras. Sim, já passava do meio-dia, mas não havia razão para que todos não relaxassem um pouco. Era maravilhoso desfrutar da familiar culinária local, beber um pouco de vinho e conversar com seus companheiros.

— Aham, garçonete! — Lagarto Sacerdote sinalizou batendo o rabo no chão assim que todos estavam bem acomodados.

— Chegando! — A garçonete se aproximou e Lagarto Sacerdote grunhiu com um aceno sóbrio.

— Peço por outro prato de queijo. Outro dos… o que foi mesmo? Os recheados.

— Ah, o queijo recheado com creme. — A garçonete sacudiu as orelhas e riu. — Já estarei trazendo… e vou trazer um pouco a mais, meu querido!

— Hoh-hoh, muito obrigado! — Lagarto Sacerdote uivou, fazendo um estranho gesto de palmas juntas.

— Não se preocupe — disse Garçonete Felpubro com um aceno de desdém de sua mão.

— E você, milorde Matador de Goblins? — questionou Lagarto Sacerdote levemente enquanto observava a garota ir. — Havia vários pequenos conjuntos de pegadas logo além do vinhedo. O que acha delas?

— Goblins — respondeu imediatamente. — Você mesmo as viu?

— De fato — respondeu Lagarto Sacerdote com um alongamento de seu pescoço sinuoso. — Achei que poderiam ser obra de algumas crianças travessas, mas não posso dizer com certeza.

— Entendo — resmungou Matador de Goblins, então despejou não vinho, mas água em seu copo e tomou um gole. — Você contou a mais alguém?

— Alguém do templo e ao Mestre Conjurador de Feitiços. — Lagarto Sacerdote olhou para onde Alta Elfa Arqueira e Sacerdotisa estavam tendo uma conversa, tão amigável quanto duas flores desabrochando. Sempre foi difícil para eles dizer se Alta Elfa Arqueira “parecia da idade dela”, mas Sacerdotisa tinha uma expressão condizente com uma garota de dezesseis ou dezessete anos. O Templo da Mãe Terra, como eles o entendiam, a acolheu como órfã e a criou. — E se for um alarme falso, não gostaria de preocupá-la.

— Entendido — Matador de Goblins assentiu sem hesitação. — Vou dar uma olhada.

Lagarto Sacerdote assentiu também. Ele não continuou a conversa.

— Aqui está, obrigada por esperar! — Garçonete Felpubro gorjeou enquanto jogava uma pilha de queijo na frente dele. Estava praticamente estourando do creme que havia sido colocado nele.

Lagarto Sacerdote engoliu um num único movimento e proclamou: — Ah, doce néctar!

 

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No dia seguinte, choveu do amanhecer ao anoitecer. A chuva caía impiedosamente no telhado e nas janelas do céu carregado, os ralos chacoalhando com o escoamento.

— Você realmente vai sair? Não está vendo o tempo? — Vaqueira, encostada no parapeito da janela e observando o lado de fora, olhou para trás por cima do ombro. O canário na gaiola pendurado ao lado dela deu um gorjeio de concordância.

— Sim… — Ele respondeu brevemente, realizando uma rápida verificação de seu equipamento. Capacete e luvas em bom estado. Fechos em seu cinto seguros. Todo dia para ele começava com uma patrulha na fazenda, e já tinha saído na chuva fazendo isso antes, então estava encharcado da cabeça aos pés. Demandaria muito tempo e trabalho para secar tudo, lubrificar e colocá-los novamente.

Claro, seu equipamento era todo barato. Ele não sabia quanta diferença um equipamento caro faria, supondo que vestisse tudo corretamente. Tudo o que ele sabia era que esse equipamento barato havia salvado sua vida inúmeras vezes e precisava cuidar dele.

Vaqueira o tinha ouvido dizer isso, então não pensou em interrompê-lo enquanto observava o trabalho acontecendo na frente dela.

Mas com equipamento ou não, este tempo…

— Você pode fazer isso amanhã, não pode? Ou apenas pode esperar um pouco; talvez a chuva pare.

— Não.

— Hmph — Vaqueira resmungou, frustrada ao ver sua tentativa de convencê-lo rejeitada.

Ele é tão teimoso.

Quando perguntou se isso era para um trabalho, ele disse que não era. Quando perguntou se tinha que ser hoje, ele respondeu que era urgente. Ela havia considerado uma série de coisas que poderia dizer para convencê-lo a ficar, mas no final, as guardou para si mesma, apenas suspirando. Não era tarefa fácil fazê-lo mudar de ideia.

Eu sei bem disso agora.

— Ok, bem, espere alguns minutos, então. Vou preparar um almoço para você ou algo assim.

— …Hm.

Ele grunhiu com a mudança abrupta, e sua mão parou seu trabalho. Vaqueira se afastou da janela e espiou em seu capacete.

— Ou você não pode nem esperar um pouquinho?

— …Eu posso. — Ele respirou pensativo, então o capacete assentiu lentamente. — Por favor, faça.

— Certo. Um almoço, saindo. — Sua voz soou um pouco mais enfática do que  pretendia. Ela tentou se proteger virando-se prontamente para a cozinha.

Mas ainda assim…

Esperava que não tivesse muito tempo a perder. Vaqueira pegou um avental pendurado nas proximidades, amarrando-o atrás dela enquanto deliberava sobre o que cozinhar.

— Apenas um sanduíche, eu acho. — Não cozinhando no sentido clássico, mas na medida certa quando se está com pressa.

Ela não sabia quando as pessoas começaram a usar pão assado no lugar de pratos, mas juntar alguns pedaços e comê-los era uma tradição que parecia remontar um longo, longo caminho. E estava chovendo hoje. Seria impossível conseguir pão da Guilda dos Padeiros na cidade. Eles mantinham o pão no armário exatamente para esse tipo de ocasião.

— Embora não seja nada em comparação com os recém-assados.

Ela espetou o pão e queimou até virar uma batata frita dura e preta, depois o pegou, cortou algumas fatias e as untou com manteiga. Um par de fatias finas de queijo, e pronto.

Gostaria de poder adicionar um ovo ou algo assim…

Contudo, estava chovendo. E as galinhas provavelmente ainda não tinham posto nenhum. Não se pode simplesmente pegar cestas de ovos todos os dias. As galinhas haviam sido criadas com tanto cuidado que ela queria que ele provasse os ovos, mas não havia tempo para fritar um de qualquer maneira…

Ok, isso exige uma substituição!

Vaqueira mudou de plano rapidamente, empilhando duas ou três fatias de presunto curado com sal em cima do queijo.

— Aaaa vamos ver…

O sanduíche ainda parecia um pouco triste. Ela vasculhou os armários, pegando uma pitada de ervas secas, tirando uma garrafa de picles. Havia o risco de confusão de cores e sabores, mas diziam que a variedade era o tempero da vida.

— ♪…

Vaqueira assobiou uma pequena melodia. Era simples, mas comida era comida. Ela cortou habilmente os legumes em conserva, desfiou as ervas e deixou que sua intuição lhe dissesse o quanto colocar em cima da carne.

No final, veio outra fatia de pão com manteiga, e estava pronto.

Vaqueira deu um grunhido satisfeito, então dividiu os sanduíches que tinha feito em três e os embrulhou em um pano. Depois acrescentou uma garrafa de vinho de uva diluído em água e…

— Tudo feito!

— Ei.

— Eek?!

Ela pulou com a voz inesperada, pressionando a mão no peito enquanto se virava. Ele deve ter entrado pela porta dos fundos. Seu tio, sua capa de chuva pingando e seus olhos arregalados.

— T-tio! Poxa, você me assustou… — Ainda com a mão no peito generoso, Vaqueira perguntou: — Como foi? Acha que a chuva vai parar?

— Provavelmente não hoje —, seu tio respondeu, parecendo zangado. — Não podemos colocar as vacas para fora. Só espero que o vento não fique muito mais forte.

— Huh, ok… — Vaqueira franziu as sobrancelhas também, dando uma rápida olhada para fora da janela. Seu tio estava certo; a chuva só parecia ficar mais forte. O céu estava escuro e ela podia ouvir as vozes dos Dragões da Tempestade retumbando acima. Havia um ditado, porém, que o verão geralmente vinha depois de uma tempestade.

— Bem, então não tem o que fazer — disse ela. O clima era uma coisa que não mudaria, não importa o quanto você se preocupasse com isso. Dependia dos dados dos deuses. Vaqueira pegou um pacote embrulhado em pano e estendeu para seu tio: — Aqui, almoço.

— Oh, obrigado por isso. — Ele pegou a trouxa com cuidado e prendeu-a atrás da cintura, sob a capa de chuva. Então olhou para os outros dois almoços na cozinha e franziu a testa. — …Ele vai sair também, não é?

— Ah, sim… — Vaqueira disse com um aceno de cabeça. — Mas acho que não é uma aventura.

— Certamente se mantém ocupado… — Vaqueira entendeu as farpas por trás das palavras de seu tio e olhou para o chão. Seu tio a olhou em silêncio por um momento, então cedeu com um suspiro. — …Ainda devemos ter aquela minha capa de chuva velha.

Vaqueira olhou para cima, confusa, mas seu tio, ainda sem demonstrar emoções, continuou bruscamente: — Empreste a ele.

— Tem certeza?

— Ele está mais ou menos vendendo seu próprio corpo, não está? — Seu tio disse, parecendo cansado. — Não seria bom para os negócios se pegasse um resfriado.

— Claro, certo…! — Vaqueira assentiu amplamente, seu rosto se iluminando. Obrigado tio!

Ela correu para fora da cozinha, acenou para ele, que esperava pacientemente na sala de jantar, e se dirigiu para o quarto de seu tio. Havia uma velha capa de chuva em couro pendurada em um prego na parede. Tinha alguns remendos, mas ainda podia se contar com ela para evitar a chuva.

Vaqueira pegou, mas quando voltou para a cozinha, seu tio não estava mais lá, talvez tivesse desaparecido por um certo constrangimento. Ele era o único dentro, sentado em uma cadeira. Vaqueira mordeu o lábio, mas então lhe entregou o casaco junto com os almoços.

— Aqui, para você!

Ele parecia confuso, embora ela não pudesse ver seu rosto, mas, após um momento de silêncio, disse simplesmente: — O que é isso?

— O tio disse que emprestaria para você. Certifique-se de agradecê-lo mais tarde.

— Mm… Eu tenho minha própria capa de chuva… — Ele acrescentou suavemente, mas no final, concordou com a cabeça. — Muito bem.

Tio era fisicamente um pouco menor que ele. Ainda mais quando era mais jovem, mas a capa de chuva com capuz era um pouco grande, aparentemente com espaço de sobra para o aventureiro. Era velha, o couro estava seco e começando a rachar em alguns lugares, mas era reparável. Na verdade, parecia uma ideia melhor do que uma capa de chuva novinha em folha.

— Uau, se encaixa perfeitamente em você. — Vaqueira bateu palmas. Ela estava um pouco preocupada com o ajuste junto ao capacete dele.

Ela o observou prender cuidadosamente os lanches em seu cinto, ao lado de sua bolsa de itens, e então sorriu para ele. — Tudo bem, tenha cuidado. Está muito úmido lá fora, então tome cuidado para não escorregar.

— Sim. — Ele respondeu com um aceno de cabeça. Deu alguns passos exploratórios, e então caminhou até a porta. Com a mão na maçaneta, se virou para olhar para ela. — Estarei de volta à noite.

— Ok — Vaqueira assentiu, ainda sorrindo. — Estarei esperando.

A porta se abriu, então ele desapareceu nas gotas de chuva e a porta se fechou.

— Certo — disse Vaqueira com um pequeno aceno de cabeça, voltando para sua rotina.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: Flash

 

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