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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 13 – Cap. 10 – Catástrofe no Local de Trabalho

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A temperatura está caindo a cada semana que se passa e eu começava a ocasionalmente ver montinhos de neve pela janela. Em breve o inverno chegaria no Reino de Ranoa.

Os invernos dessa região eram duradouros, frios e rigorosos. Em uma casa típica, a família precisaria começar a se preparar mais ou menos nessa época ou correria o risco de morrer congelada. Minha família era relativamente bem de vida, então não precisávamos nos preocupar muito com isso. Mas, só para garantir, tive certeza de estocar uma montanha de lenha em nosso quintal e pilhas de comida em conserva em nosso porão.

Com isso, estávamos prontos para qualquer coisa. Tudo que tínhamos que fazer era nos fechar em casa e esperar a neve cair. Eu poderia passar o tempo aproveitando a companhia das minhas esposas.

Mas, justamente quando estava me preparando para hibernar… um certo alguém do meu passado apareceu para me assombrar.

 

 

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Em uma manhã, enquanto tomávamos o café da manhã, Roxy me fez uma proposta surpreendente.

— Rudy, Sylphie e eu sairemos a trabalho amanhã. É possível que não voltemos por vários dias. Queria saber se você quer vir junto.

— Para vê-las trabalhar?

Roxy me olhou, confusa.

— Hm, não. Todos nós trabalharíamos. Pode haver um bônus se tivermos um bom desempenho.

Hmm. Eu adoraria se fosse uma chance de torcer por ela dos bastidores, mas aparentemente essa não era a ideia…

— Que tipo de trabalho?

— Bom, parece que um membro da família real de Ranoa atualmente está em peregrinação…

Obviamente era uma tradição local. Quando alguém da realeza de Ranoa se aproximava da maioridade, tinha que partir em uma jornada ao redor do país como um tipo de exercício prático.

A jornada em si não era muito árdua. Só passavam aproximadamente seis meses viajando por aí, visitando lugares específicos dos países que estavam em uma longa lista. No entanto, não era permitido que levassem muitos guardas e deveriam se preparar e organizar tudo sozinhos.

Isso os forçava a contratar seus próprios empregados, procurar seu próprio caminho e ver o país com seus próprios olhos. Na teoria isso os iria ajudar a se tornar governantes melhores. A tradição era muito conhecida pelo país como “A Peregrinação da Transição”.

Obviamente, já que era tão conhecida, os prefeitos e governadores locais tinham completa noção de que a realeza passaria por suas cidades de tempos em tempos. Na verdade, é pesquisado cuidadosamente as idades de cada príncipe e princesa reais e faziam questão de prever a época e itinerário de suas jornadas.

De certa forma, soava um pouco assustador, mas eles obviamente não gostariam que um membro da família real ficasse seriamente ferido no território deles. Não importava as circunstâncias, um acidente desses mancharia muito a reputação.

Se pudessem, as autoridades locais alegremente protegeriam as crianças reais com centenas de guarda-costas, mas não tinham permissão para fazer isso. Acabaria com todo o propósito da peregrinação. No entanto, se a realeza em questão requisitasse guardas, eram permitidos providenciá-los. Desta vez, um grupo de aventureiros tinha sido contratado como escolta, mas o mago e o curandeiro deles tinham ficado enfermos simultaneamente. O esperado era que se recuperassem rápido, mas o inverno estava se aproximando rapidamente. Era quase impossível viajar nessa região uma vez que a neve começasse a cair, então precisavam terminar a peregrinação agora e voltar depressa para a capital.

Na verdade, o grupo parou sua viagem aqui mesmo, na Cidade Mágica de Sharia. Consequentemente, a própria realeza havia formalmente requisitado alguns guarda-costas da cidade.

Nosso prefeito havia realizado uma conferência com os líderes da Guilda dos Magos e a Universidade para escolher os melhores candidatos para o trabalho. Entre eles, uma pessoa havia se destacado muito. Esse indivíduo era um ex-aventureiro bem experiente, com habilidades práticas em mágica ofensiva e era um membro novato no corpo docente da faculdade, então tinha poucas responsabilidades a serem transferidas para outra pessoa.

Em outras palavras, era Roxy. O grupo havia decidido rapidamente que ela era a melhor opção possível. Pareceu uma conclusão compreensível para mim, tendo em vista os diversos talentos dela.

— Espera um pouco… Como a Sylphie também acabou fazendo parte desse trabalho?

— Bom, a Princesa Ariel também irá. Ela estava bem empolgada para conseguir uma conexão com um membro da família real.

Ariel possuía uma rede de informações excelente. Ela devia ter escutado sobre a situação e a definiu como uma oportunidade. Era difícil dizer qual era o nível de conexão que ela ganharia nesse caso, mas a princesa sempre conseguia o que queria.

— Ah, certo. Então, basicamente, vocês duas irão proteger tanto a Ariel quanto essa criança?

— Isso mesmo. Ah, e Luke também irá ajudar.

Eu não tinha certeza se ele realmente contava, mas decidi não comentar.

— Acho que ficaremos bem, já que Sylphie virá junto… mas precisamos proteger duas pessoas muito importantes, e o santuário que iremos visitar é bem no fundo da floresta. Além de que eu também sou conhecida por cometer alguns erros bobos nos piores momentos… Acho que estou um pouco ansiosa.

— Eu acho que está se subestimando muito, Roxy.

— Bom, talvez sim; mas eu havia conversado com a Sylphie sobre como assegurar que esse trabalho prosseguisse tranquilamente, e ela sugeriu que pedíssemos sua ajuda. Afinal, atualmente você é, sozinho, o mago mais poderoso dessa cidade…

Deixando de lado a questão sobre eu merecer esse título ou não, eu conseguia entender o porquê da Roxy estar ansiosa. Elas precisavam proteger tanto Ariel quanto esse membro da família real de Ranoa, além de que seu grupo central era relativamente pequeno: um cavaleiro de Ranoa, Sylphie, Luke e Roxy.

Também havia o grupo de aventureiros, claro, mas apenas contavam com duas pessoas e era difícil saber se teriam alguma utilidade.

Em relação a aliados competentes, Sylphie era a única pessoa com quem Roxy poderia contar… e, parando para pensar, Roxy nunca a viu em uma luta antes. Eu conseguia entender seu medo.

— Será que está tudo bem nós três sairmos de casa? E a Lucie?

— Ela ficará bem — disse Sylphie, a qual tinha escutado em silêncio até então. — Temos a Suzanne, além de que tenho certeza de que Lilia cuidará bem dela.

Isso era verdade. Não era como se eu fosse muito útil ficando aqui sem as duas, de toda forma. E Lilia e Aisha tentariam ajudar da mesma forma. Era mais importante trazer Sylphie de volta para Lucie o mais rápido possível, o que significava que a melhor coisa que eu podia fazer era entrar para o grupo e garantir que o trabalho prosseguisse sem problemas.

— Então tudo bem, vou junto.

Após chegar a uma conclusão, concordei sem muita demora.

Deixando o resto de lado, Roxy iria melhorar bastante sua reputação se conseguíssemos terminar o trabalho perfeitamente. Talvez ajudasse ela a crescer um pouco mais rápido na carreira.

No dia seguinte, Roxy e eu fizemos nosso caminho para uma certa pousada que atendia, principalmente, aventureiros de rank S. Era um lugar muito bom, ainda melhor do que aquele em que levei Roxy e Sylphie antes.

Em comparação com outros exercícios práticos, essa peregrinação estava… mais para o lado luxuoso da coisa. Não que eu esperasse menos da realeza.

— Sério? Eles têm jardins dentro das muralhas do palácio de Asura também?

— Ah, sim. Então vocês também têm aqui em Ranoa?

— Sim! Realmente parece que os palácios são bem parecidos! Que interessante.

Na hora em que Roxy e eu chegamos, Ariel e seu grupo já estavam na pousada, tomando chá com as pessoas de Ranoa.

Uma garota que parecia ter por volta de doze anos estava sentada na frente da Princesa Ariel. Essa peregrinação deveria ser da chegada da maioridade, então ela presumidamente teria quinze anos, mas definitivamente parecia mais nova.

Sylphie estava de pé atrás das duas, fazendo uma pose equilibrada e intimidante vestida com suas roupas de trabalho. Luke também estava lá. Também havia uma outra cavaleira mais velha que eu não reconhecia. Provavelmente era uma guarda-costas pessoal da princesa de Ranoa.

— Quem são vocês? Se nomeiem.

No instante em que nos viu, caminhou para ficar entre nós e quem ela estava protegendo. Seu olhar era desafiante, se não abertamente hostil.

— É um prazer conhecê-la. Meu nome é Roxy M. Greyrat e estou aqui para servir à princesa como guarda-costas.

— Sou Rudeus Greyrat, também irei ajudar. Prazer em conhecê-la, madame.

— Ah, entendo… Me disseram que viriam. Meu nome é Grace e eu sou uma cavaleira real. Apreciamos sua assistência.

A cavaleira olhou duvidosamente para Roxy por um momento. No entanto, aceitou sem fazer mais nenhum comentário.

Ela provavelmente queria dizer algo como “Você obviamente é muito nova para isso. O que a Universidade está pensando?” Eu apreciei que ela manteve esse pensamento para si, mas eu não tinha certeza do porquê o fez. Talvez só fosse, surpreendentemente, uma pessoa cuidadosa?

Não… julgando por aquele sorriso assustador no rosto da Ariel, ela provavelmente havia avisado com antecedência.

Também era uma coisa boa. Se a mulher tivesse começado a gargalhar e chamado a minha amada mestra de “criança”, eu teria explodido na mesma hora… ou causado uma explosão. Isso teria acabado com o futuro da carreira de Roxy.

— Nos foi dito que também contrataram um grupo de aventureiros.

— Sim, eles estão se preparando para a jornada nesse momento. Por favor, espere aqui por enquanto.

— Tudo bem.

Comecei a caminhar em direção a uma cadeira vazia, mas Roxy se dirigiu para junto de Sylphie e Luke. A cavaleira retornou para sua posição anterior, onde ficou com a postura dura e perfeitamente parada.

Aparentemente, só as princesas eram permitidas a se sentar no momento. Eu teria que ficar de pé também.

— Falando nisso, a quanto tempo está em nosso reino, Princesa Ariel?

— Bom, deixe-me ver… sem contar com a minha jornada, mais ou menos seis anos. Esse país agora é praticamente minha segunda casa.

— Ah… então isso não significa que irá se graduar no ano que vem? Que pena… eu acabei de te conhecer e você já irá partir em breve…

— Creio que sim. Mas, desde que nossos países permaneçam em contato, tenho certeza de que nos encontraremos novamente.

Hmm. Mudando de assunto, essa princesa de Ranoa com certeza era uma gracinha.

Eu lembrava de ter escutado que a família real desse país estava repleta de pessoas bonitas. Isso, aparentemente, era verdade. Ela estava quase no nível de Ariel; não no mesmo, mas quase.

Além disso, Ariel certamente agia rápido. Parecia que, de alguma forma, elas eram amigas.

Por um tempo, esperei preguiçosamente, deixando a conversa das princesas me inundar sem que eu escutasse de verdade.

— Quantas vezes eu preciso dizer, cacete?!

O som de vozes na entrada bruscamente me trouxe de volta à realidade.

— Olha, só lide com isso!

— Está falando sério?! Esqueceu o que aconteceu da última vez?! Esses idiotas ferraram tanto que quase mataram a Tina e a Melanie! Eu não estou de acordo com isso!

— O que quer que eu faça? Não somos nós que mandamos aqui.

— Isso não é o suficiente! Realmente está tranquila com isso? Realmente confia em algum estranho para cuidar das suas costas lá?

— Não é como se eu quisesse isso, ok?

As recém-chegadas entraram no cômodo discutindo alto umas com as outras. Havia quatro delas, e todas eram mulheres.

A que estava na frente do grupo era uma moça grande e musculosa. Ela parecia com Ghislaine, mas era ainda mais concreta. Seu corpo parecia ter sido esculpido em pedra.

A segunda era uma mulher mais magra que deixava seu cabelo castanho-escuro em um penteado para trás, expondo uma cicatriz em formato de cruz em sua testa. Ela parecia ser ágil e atenta, além de que seus olhos fundos sugeriam que já tinha vivido sua cota de batalhas.

Provavelmente ambas estão em seus trinta anos, elas estavam com espadas em seus quadris. Me senti seguro em saber quem eram as lutadoras da linha de frente do nosso grupo.

Aparências enganam de vez em quando, mas elas claramente pareciam um par de veteranas astutas e habilidosas. Isso fazia sentido, já que haviam sido escolhidas para proteger uma princesa.

Aliás, nenhuma delas estavam participando daquela discussão. A qual estava ocorrendo por causa das outras duas que entraram após elas.

— Eu sei, tá bom?! Eu preferiria fazer isso sozinha do que com pessoas que nem mesmo consigo confiar!

A que estava brava era uma mulher mais nova com um olhar carrancudo em seu rosto. Estava mais para uma garota, na verdade. Talvez tivesse quinze anos.

Comparada com as duas primeiras, ela parecia inexperiente; mas, se a permitiram no grupo, devia ser boa no que faz. O cajado que carregava sugeria que era uma maga ou uma curandeira, ou possivelmente as duas coisas.

— Olha, você não pode ser a única na retaguarda. Não quero deixar nada passar por mim, mas vai acontecer de vez em quando.

E, então, havia a quarta membra do grupo.

— Mas, mais importante, você tem que aprender a como trabalhar com qualquer um se quer que as pessoas te respeitem. Aventureiros não têm o luxo de poder permanecer no mesmo grupo para sempre, sabe?

Ela carregava um arco. Não era uma arma típica para um aventureiro; arcos não tinham a mesma força que uma espada ou um feitiço. Eu havia passado anos como um aventureiro viajante e havia conhecido somente uma pessoa que se dedicava a isso.

— Gah.

Parando para pensar, ela provavelmente era a única em toda a região.

Eu, claramente, a reconheci de imediato.

No instante em que ela deu o primeiro passo no cômodo e viu meu rosto, parou e me encarou com os olhos arregalados.

— Ah. É você.

Ela murmurou as palavras levemente, mais para si mesma do que para mim.

A garota carrancuda com quem ela estava discutindo antes se virou e falou, em dúvida:

— Hã? Sara? Conhece aquele homem?

— Bom… sim.

Era a mesma aventureira com quem quase dormi há algum tempo.

 

 

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Eu não tinha esquecido da Sara, obviamente. Eu não tinha certeza se conseguiria, caso tentasse.

Quando eu a conheci, não muito depois de Eris me deixar, ela era a mais nova do grupo Contra-Flecha. Ela era uma garota teimosa e agressiva com uma língua afiada, mas com uma cabeça boa.

Suzanne, a líder do grupo, havia ido com a minha cara e começou a me convidar para participar de alguns de seus trabalhos. Lutamos contra uma horda de monstros juntos e, depois, nos aventuramos em uma antiga fortaleza subterrânea para conseguirmos escamas de um Drake Nevoso; entre outras coisas.

Levou um tempo, mas Sara acabou se apaixonando por mim. Pelo menos disso eu tinha quase certeza.

O mais difícil era dizer como eu me sentia quanto a ela.

As coisas haviam esquentado antes que eu conseguisse descobrir e, então, meus problemas de performance entraram no meio do caminho. Eu fiquei bêbado, agi como um idiota e corri para o bordel mais próximo para passar a noite. E então comecei a falar mal de Sara em público. O que ela ouviu, claro! Ela me largou na hora.

Eu estava bem confiante de que havia sido uma experiência traumatizante para nós dois. Mas havia passado um tempo desde aquilo. Havíamos seguido rumos diferentes e vivido nossas próprias vidas por anos até agora. Eu havia me convencido de que isso tinha ficado no passado e que, de qualquer maneira, nunca nos veríamos de novo. Mas parecia que o destino tinha um plano diferente.

E, então, agora eu estava na interessante posição de ter que trabalhar junto com a minha ex-namorada. Pelo menos éramos ambos profissionais, certo? Com sorte, somente nos focaríamos na tarefa que tínhamos. Não é como se desenterrar o passado fosse fazer muito bem para nós, de toda forma.

— Então tá bom! Por que não preparamos a comida antes da princesa sair?

Após algumas apresentações desconfortáveis, passamos a fazer parte do grupo e partimos para uma floresta próxima, onde ficava o santuário.

— Ufa. Boa, meninas. Essa foi fácil!

— Parece que os rumores sobre a professora que conseguiu sobreviver ao Labirinto de Teletransporte eram verdadeiros, hein.

— Desculpa, mas eu tenho que me desculpar! Eu te subestimei muito a princípio… Mas aquilo que me ensinou sobre dividir seu foco entre cura e magia ofensiva foi demais! É uma teoria tão simples e pura, além de que realmente é possível pôr em prática!

Graças aos meus esforços cuidadosos, estávamos conseguindo realizar o trabalho sem nenhum incidente desconfortável. Estava indo bem demais, inclusive.

As membras da “Amazonas”, um grupo de rank S composto totalmente por mulheres, haviam duvidado abertamente a respeito de Roxy no começo. Era compreensível, já que, possivelmente, foi devido a sua aparência. A pirralha do grupo tinha ido longe o suficiente para declarar: “Eu não quero trabalhar com uma criança!” bem na nossa frente, naquele cômodo.

No entanto, após deixarmos a cidade e passarmos pelas primeiras batalhas, a opinião delas deu uma volta de 180°. Apesar da natureza descuidada do nosso grupo, Roxy cumpriu perfeitamente a sua função na retaguarda. Ela, impecavelmente, conjurava suas magias ofensivas no momento certo e curava suas aliadas com a mesma eficiência.

Graças ao tempo que havia passado explorando labirintos completamente sozinha, ela era muito mais atenta e habilidosa que um mago comum. Na verdade, parecia que havia compensado as duas membras faltantes do grupo completamente sozinha.

Compreensivelmente, elas estavam enchendo ela de elogios já fazia um tempo. Isso fez com que eu me sentisse feliz e animado por dentro. De vez em quando tive que resistir ao impulso de estufar meu peito e dizer Ela é minha mestra, sabia?!

— Uh… Ei, Rud…

— Ah, desculpa! Vou começar a cozinhar! Não fui muito útil nas batalhas, mas posso lidar com isso. Na verdade, sou um bom cozinheiro!

— …

O único lado negativo era que eu tinha que evitar a Sara de vez em quando.

Ela continuou me encarando enquanto eu cozinhava, mas estava um pouco óbvio que começar uma conversa somente deixaria as coisas piores.

De vez em quando é melhor ignorar completamente os seus problemas, certo?

Isso. Eu só estava fazendo a minha parte para manter um clima bom. Minha discrição era a razão para tudo ter seguido tranquilamente!

Tá, isso não era bem a verdade.

Eu não havia contribuído muito com o grupo. Todas das Amazonas eram altamente habilidosas, além de que Roxy havia se encaixado perfeitamente no grupo. Então não havia sobrado muito para eu ou Sylphie fazermos durante nosso caminho para o santuário.

A princesa de Ranoa atualmente se encontrava dentro da construção com sua cavaleira pessoal; estava realizando algum tipo de oração formal. Depois que ela terminasse, tudo que tínhamos que fazer era voltar para a cidade e nosso trabalho estaria acabado. Todos voltariam felizes para suas casas e a reputação da Roxy daria um bom salto, a deixando mais próxima de sua primeira promoção na Universidade de Magia.

— …

— …

Mas, claro, Sara não estava muito feliz com isso. Ela estava me encarando silenciosamente daquele jeito pelo que pareceu dez minutos seguidos até agora.

Eu não poderia julgar ela. As pessoas tendem a ficar um pouco mal-humoradas após serem completamente ignoradas. Mas eu tive que assumir que desenterrar o passado só pioraria as coisas.

Estava pronto para pedir ajuda a Sylphie, a qual estava sentada próxima de mim… mas ela também ficou terrivelmente quieta por um tempo. Na verdade, meio que parecia que ela também estava me encarando.

Talvez só estivesse preocupada comigo. Talvez estivesse preocupada pensando que eu fosse traí-la de novo.

Ou talvez não aprovasse a maneira como eu estava deliberadamente ignorando a Sara.

Independentemente do que fosse, o silêncio estava começando a pesar. E muito. Estava pesado demais. Eu estava ficando agoniado.

E então, finalmente, Sylphie se inclinou e sussurrou em meu ouvido:

— Por que você, pelo menos, não fala com ela, Rudy?

Bom, uh… não é como se eu me importasse de ter uma conversa normal com ela. Quero dizer, a atitude dela pareceu um pouco casual no começo, além de que eu adoraria deixar o passado para trás…

Mas, mesmo assim, eu não tinha certeza de que conseguiria só rir dessas lembranças. As feridas ainda doíam. Talvez eu deveria só ter apresentado ela para Sylphie e para Roxy desde o começo. Mas nesse ponto ela já não estava nem mesmo tentando falar comigo.

Eu deveria ter feito algo antes das coisas ficarem assim. Agora eu tinha que consertar o meu erro.

Hmm… talvez eu realmente precise falar algo.

Quanto mais eu pensava sobre isso, mais a minha decisão de ignorar completamente a Sara parecia um erro. Tudo que eu tinha conseguido era irritar ela. Eu podia ter mantido a conversa sempre em tom profissional.

Tendo dito isso, era um pouco difícil mudar o meu método a essa altura.

O maior problema era que, basicamente, eu não tinha nada que queria falar para ela. Os únicos tópicos que passavam pela minha mente eram relacionados ao nosso passado juntos, o que inevitavelmente levaria à discussão do nosso terrível término. Isso somente nos deixaria com um clima ruim. Ouvir isso também não seria muito bom para a Sylphie.

Ficar em silêncio parecia preferível a isso.

Eu também poderia me desculpar com ela por fazer as coisas ficarem estranhas após voltarmos para a cidade. Eu estava disposto a aguentar um pouco de sofrimento pelo bem da promoção de Roxy.

— Senhorita Roxy, poderia me ensinar um pouco mais sobre magia antes de sairmos dessa cidade? Por favor? Por favorzinho?

— Seria um prazer.

— Muito obrigada! Ei, estaria tudo bem se eu te chamasse de Irmãzona?!

— Hã? Er, eu… acho que sim. Se quiser…

— Isso! Obrigada, Irmãzona!

As coisas pareciam tão boas e felizes do outro lado do grupo. Eu queria fazer parte daquela conversa. Talvez conseguisse convencer Roxy a tentar uma fantasia de realeza da próxima vez que passássemos a noite juntos…

— Aah… sabe, minha garganta está terrivelmente seca.

De repente, Ariel rompeu o silêncio do nosso lado do grupo.

Eu olhei para ela um pouco confuso. Tínhamos bastante água para tomar, afinal de contas. Ela olhou para mim um pouco incomodada.

— Havia algumas frutas amarelas boas crescendo um pouco para trás, não? Odeio incomodar, porém gostaria de prová-las — continuou Ariel, virando seu olhar para Sara. — Se importaria de pegar algumas para mim?

Sara pareceu suspeitar um pouco do porquê o pedido tinha sido feito para ela, mas deu de ombros e se levantou.

— Tudo bem. Verei o que consigo fazer.

— Obrigada. No entanto, creio que não seja seguro você caminhar pela floresta sozinha. Rudeus, Fitz… poderiam escoltá-la, por favor?

Ah, cara. Então era isso que ela queria, huh… Acho que a Princesa já estava sem paciência com nossa estranheza. Essa era a sua maneira de dizer: “vão logo resolver isso entre vocês.”

— Acredito que o Rudy possa lidar com isso sozinho. Irei ficar aqui com você, Princesa Ariel.

Para a minha surpresa, Sylphie havia optado por não ir junto.

— Hm? Acha que ele ficará bem sozinho?

— Sim. Ele não é o tipo de homem que se esconderia do perigo.

Era isso o que eu estava fazendo? Me escondendo?

É, era verdade. Eu me escondi; tanto da Sara, quanto do nosso passado juntos.

Mas não tinha necessidade de continuar com isso. Agora eu tenho Sylphie e Roxy na minha vida. Meus problemas de performance eram coisas do passado. Eu tenho uma família, até mesmo uma filha.

— Tudo bem.

Era hora de parar de agir como um covarde.

Sara e eu seguimos até o ponto onde havíamos passado pelas frutas amarelas. As encontramos facilmente e pegamos algumas que estavam crescendo em arbustos baixos.

Era hora de arranjar uma maneira de começar a conversa. Sylphie havia me dado a sua aprovação, então eu não poderia me acovardar.

Certo, vamos recapitular. Somos velhos amigos que se reencontraram por acaso. Não seria triste se só terminássemos o trabalho sem nem mesmo conversarmos?

É, isso serve.

— Então… você continua sendo aventureira, hein?

Sendo honesto, não foi uma das melhores maneiras de começar a falar.

— O que quis dizer com isso?

Compreensivelmente, a resposta da Sara foi curta. No entanto, eu não poderia deixar ela me intimidar.

Respire fundo, Rudeus.

Não era como se eu quisesse insinuar algo sobre as habilidades dela como aventureira. Ela mesma sabia disso. Na verdade, esse só era o jeito dela.

— Bom, o Contra-Flecha se dissolveu quando Suzanne e Timothy se casaram, não é? Só fiquei me perguntando onde você e o Patrice estavam. Sabe o que aconteceu com ele?

— Ele entrou em outro grupo quando todos nós nos separamos. Não sei onde está agora. Ele provavelmente ainda é um aventureiro, se assumirmos que não esteja morto ou inválido.

Patrice tinha sido um guerreiro da linha de frente no Contra-Flecha. Ele era um cara descontraído, mas isso era, basicamente, a única coisa que eu lembrava dele.

— E você, Sara?

— Passei por vários grupos por um tempo. Esse grupo me recrutou logo após eu chegar no rank A e eu fiquei com elas desde então.

Ela já havia passado um tempo com as Amazonas, pelo que parecia.

Parando para pensar, elas provavelmente eram o grupo mais bonito que eu já havia encontrado. A líder musculosa tinha um belo rosto e a vice-líder fazia a cicatriz parecer bonita. A jovem maga era um pouco malcriada, mas definitivamente também era fofa.

Mas é claro que nenhuma delas chegava aos pés de Sylphie ou de Roxy!

— Sabe, não acho que eu já tenha visto um grupo totalmente feminino.

— Bom, eu acho que tem várias delas nos ranks mais baixos. Mas, após chegar mais ou menos ao rank C, todos começam a buscar mais a habilidade do que outras coisas, então não é tão comum.

— Hmm…

Eu não lembrava de ter visto nenhum grupo que se baseava em gênero no Continente Demônio, nem mesmo nos ranks baixos. Mas aquele lugar era uma exceção, dado o quão forte os monstros eram por lá.

— Essa foi a primeira vez que entrei em um, mas, falando sério, definitivamente tem seus pontos positivos. Por exemplo, você passa a ter vantagem com alguns clientes, como o caso atual.

— Ah, sim. Entendo porque iriam querer um grupo de mulheres para proteger uma princesa.

Poderia ser um pouco arriscado confiar em um bando de homens agressivos e fedidos para proteger uma jovem beldade daquelas. Muitos aventureiros estavam bem próximos de ser criminosos. As pessoas tendiam a ser mais profissionais conforme subiam de rank, mas um grupo totalmente feminino passava uma maior garantia de que as coisas não ficariam ruins demais. Não que as mulheres fossem sempre gentis umas com as outras, claro…

— Também é menos estressante, em geral. Não tem que se preocupar com dramas de relacionamentos amorosos, sabe?

Eu sorri sem graça com esse exemplo. Se eu tivesse entrado formalmente no Contra-Flecha e começado a sair com Sara, poderíamos ter deixado as coisas estranhas para os outros.

Mas eu também acabei pensando na membra mais nova das Amazonas. Toda vez que nós parávamos para uma pausa, ela se jogava na líder ou na vice-líder do grupo enquanto soltava gritinhos de afeição. E, após ela perceber o quão talentosa a Roxy era, passou a não largar dela. Ela tinha um hábito de mostrar a língua para mim enquanto deslizava seus braços pela minha esposa.

— Sem romance, né…? Mesmo?

— Hã? Ah, ela. Bom, às vezes aparecem garotas como ela; mas são menos problemáticas — disse Sara enquanto dava de ombros. — É mais fácil porque ninguém engravida nem nada assim, sabe?

Aah. Bom saber que o grupo se dava bem, pelo menos.

Nós dois tínhamos algumas memórias dolorosas sobre nosso passado, mas parecia que Sara estava aproveitando bem a vida.

Eu estava feliz por ela. Talvez um pouco aliviado também.

— Enfim, e você?

— Hm… eu?

— Ouvi dizer que está casado e tem uma filha, não é? Parece que está aproveitando bastante.

— Ah. Quem te disse isso?

— A Suzanne. Ela me enviou uma carta há um tempo atrás, sabe? — Sara estava começando a soar como se estivesse me julgando.

O principal motivo de termos terminado era pela minha incapacidade de ir para a cama com ela. E lá estava eu, casado com duas mulheres diferentes e aproveitando a companhia delas à noite com uma certa frequência. Conseguia entender como isso poderia acabar com o bom humor de alguém.

Na época eu estava sofrendo com um caso sério de disfunção erétil, mas eu não tinha certeza se Sara ao menos sabia disso. Eu não achava que havia passado tantos detalhes assim para a Suzanne também. Além de que isso não era desculpa para o meu comportamento. Independentemente da causa, eu havia desfavoravelmente comparado a garota com uma prostituta em público. Era a pior maneira possível de tratar alguém que sentia algo por você.

Trombar com um babaca desses no trabalho faria até mesmo a pessoa mais calma do mundo ficar rabugenta. Principalmente se ele tentasse agir como se você não existisse.

— Bom, uh… desculpa, Sara.

— O quê? Eu não quero que se desculpe!

Com essas palavras, Sara se levantou rapidamente. Seu rosto estava vermelho enquanto seus lábios estavam cerrados e tremendo.

Merda, agora eu irritei ela. Talvez isso realmente tenha sido uma má ideia… Certo, chega. Já é tarde demais para isso. O que devo fazer?

— Err…

Antes que eu pudesse encontrar algo para falar, Sara se virou e sentou com as costas viradas para mim.

Eu levantei lentamente, tentando não a provocar, e dei um passo a frente para conseguir ver seu rosto.

Ela estava encarando o chão com uma expressão sombria. Para a minha surpresa, parecia mais triste do que brava.

— Sara…?

— Hm, o quê?

— Eu sei que não quer que eu me desculpe, mas vou fazer isso de toda forma. A maneira como terminamos não foi… hmm… não foi a melhor, não é? Então… eu não sabia o que te dizer, eu acho. No entanto, não há desculpa para ter te ignorado. Eu realmente sinto muito.

Após suspirar como se estivesse cansada, Sara olhou para mim.

— Olha, eu acabei de falar que não quero que se desculpe, certo?

Se ela não queria um pedido de desculpas, o que ela queria? Eu estava começando a me arrepender de não ter pedido um conselho para Sylphie.

— Se importa se eu sentar do seu lado?

— Hm? Sua esposa não vai ficar brava com você?

— Nah. Vou explicar o que aconteceu para ela, quando voltarmos com as frutas.

— Espera, então é ela…? Aquela garota de óculos escuros?

— Suzanne não descreveu ela na carta?

— Não, só mencionou que o nome dela era Sylphiette. E, também… eu não tinha pensado que ela seria uma guarda-costas real, sabe?

Então Suzanne havia negligenciado a descrição da beleza dela? Uma negligência muito grande.

— Acho que isso explica o porquê de vocês dois serem tão próximos — continuou Sara.

— Mas também não é só ela. Aquela garota-demônio de cabelo azul é minha outra esposa.

— Hã, ela também?! Hmm. E não é que é interessante mesmo…?

Enquanto Sara pensava nisso, eu me sentei cuidadosamente ao lado dela. Enquanto eu me sentava, senti um pouco de seu cheiro, que me passava uma nostalgia do curto momento que passamos juntos anos atrás.

Nenhum de nós falou por um tempo. Dessa vez, foi Sara quem quebrou o silêncio.

— Sendo sincera, pensei em passar na sua casa enquanto estávamos na cidade.

— Espera, sério?

— Sim. Quer dizer, eu quis… me desculpar com você. Por muito tempo.

— Você queria pedir desculpas? Para mim?

— É. Depois que você foi embora, eu descobri sobre a sua… condição. E então percebi o quão idiota tinha sido. Fiz você ser a pessoa ruim, não foi? Fiquei brava e fiz escândalo. Nem, ao menos, parei para pensar que você devia estar machucado também… ainda mais do que eu estava.

As memórias ainda eram desconfortavelmente frescas. Eu conseguia me ouvir gritando várias idiotices enquanto estava completamente bêbado. Eu conseguia ver a raiva e a humilhação no rosto da Sara conforme ela brigava comigo.

Esses eventos haviam me machucado muito, mas eu sabia que também havia ferido ela.

— Então, quando Suzanne escreveu para mim e eu descobri que você estava em Sharia… falei para mim mesma que iria te ver. Eu sabia que esse trabalho iria nos trazer até aqui, então eu pensei… em pegar uma folga para me desculpar. Pela maneira que agi naquela época, sabe…?

— …

— Mas aqui estou eu, ficando brava com você de novo. Nossa. Tem hora que não consigo me aguentar…

Sara parou por um momento e, então, pressionou seu rosto contra seus joelhos. Quando ela continuou, quase não era possível escutar a sua voz.

— Desculpa.

Eu queria colocar um braço ao redor dos ombros dela ou algo assim, mas parecia um pouco inapropriado. Ao invés disso, abracei meus joelhos e os encostei em meu peito.

— Agora já faz um tempo — falei. — Então vou ser honesto com você.

— Hm?

— Não acho que eu te amava de verdade naquela época.

— Hã? O quê?

— A causa da minha condição era… uma garota chamada Eris. Nós tínhamos atravessado o Continente Demônio juntos, mas então ela sumiu de vista do nada. E foi nessa hora que eu te conheci, Sara. Eu pude dizer que você gostava de mim. Eu não sentia algo tão forte por você, mas eu acho que queria seguir em frente. Deixar o passado para trás, sabe…? Sendo honesto, eu só estava te usando. — Parei para engolir a seco, e então continuei: — Então… é. Você realmente não me deve nenhum pedido de desculpas.

Eu assumi que Sara ficaria brava comigo, mas eu estava bem com isso. Ela tinha me falado toda a verdade; tinha sido tão honesta quanto pôde. Eu senti que o justo seria eu fazer o mesmo.

No entanto, por algum motivo, ela não estava brava. Estava apenas me encarando com um olhar de surpresa em seu rosto.

— Uau. Você mudou mesmo.

— Hm… mudei?

— É. Você nunca se abriu para mim dessa forma. Nem mesmo fingiu tentar.

— Acho que não.

— Você também não conversava com essa casualidade com ninguém. Ou, se fizesse, ficava um pouco forçado e estranho.

— Espera, sério?

— É. Você parece bem mais… natural.

Parando para pensar, eu não estava falando de forma tão formal com ela, como eu fazia. Isso provavelmente tinha algo a ver com a mudança da minha mente. Antigamente, eu tinha certeza de que Eris havia me abandonado, então tinha pavor de conflito ou rejeição. Eu era cuidadoso para falar da forma mais educada possível. Dessa forma, não ofenderia ninguém; e também manteria uma distância das pessoas.

Eu não queria correr o risco de me machucar, simples assim.

Mas agora não tinha esse medo.

— Alguém me deu um pouco de autoconfiança, eu acho…

— Sua esposa, você quer dizer?

— É. Depois daquela noite com você, eu… permaneci com o mesmo problema por alguns anos. Constantemente.

— …

— Foi Sylphie quem me curou. Era a primeira vez dela, mas… ela fez tudo que estava ao seu alcance. Até mesmo me deu um afrodisíaco. E, assim, conseguiu me fazer funcionar de novo.

Contei alguns detalhes específicos. O rosto da Sara ficou vermelho, mas ela escutou cada palavra, até mesmo se inclinando um pouco para frente. O clima ficou um pouco vergonhoso por um tempo. Talvez eu tivesse sido aberto demais.

— Mas, se ela fez tudo isso por você, por que foi atrás da segunda?

— Bom… Roxy fez o mesmo por mim, de seu próprio jeito.

Sara escutou com bastante curiosidade enquanto eu contava aquela história, colocando uma mão em sua boca. De tempos em tempos, eu pensei ter visto seu nariz ficar vermelho.

No entanto, quando eu cheguei ao final, ela parecia um pouco triste.

— Sabe… não acho que eu teria conseguido fazer algo assim por você. Mesmo se tivesse me contado tudo naquela época.

— …

— Talvez essa seja a razão de você nunca ter se apaixonado por mim.

Talvez fosse. Sylphie e Roxy, ambas me amavam. Mas eu as amava ainda mais. Elas tinham mudado a minha vida para melhor, e eu tinha me apaixonado por elas por causa disso.

Olhando dessa forma, talvez parecesse algo transacional, mas era só um fato; elas tinham me conquistado por estarem comigo quando precisei. Talvez isso fosse o que diferenciava elas da Sara.

— Gah!

De repente, Sara se levantou rapidamente com um ganido de aborrecimento. Ela desceu o seu olhar até mim e colocou as duas mãos em seu quadril

— Olha, vou deixar uma coisa bem clara agora. Eu posso ter te amado naquela época, mas isso acabou no dia em que fugiu! Quero dizer, eu queria me desculpar por ter sido uma idiota com você, mas isso é tudo. Não estou nem um pouco interessada em tentar novamente depois de todo esse tempo!

Após colocar tudo isso para fora com grande vigor, ela bufou e virou sua cabeça para o lado antes de continuar:

— E, com isso, pare de olhar para mim com esse olhar arrependido! Somos apenas velhos companheiros de aventura, não é? Tente agir como tal!

Havia uma pinta de vergonha em seu rosto, mas, ao mesmo tempo, parecia aliviada. Tinha levado um bom tempo, mas finalmente tínhamos chegado a uma conclusão. Era um pouco agridoce, mas eu me vi sorrindo do mesmo jeito.

 

 

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Após nossa conversa, consegui interagir normalmente com a Sara.

O meu jeito era uma mistura do meu modo “Linia e Pursena” com meu modo “Nanahoshi”, com uma intensidade um pouco menor. Parecia ser o certo. A performance de Sara também melhorou notavelmente. Ela ajudou o grupo com uma habilidade incrível, atirando flechas exatamente onde mais precisavam.

No geral, seu papel era ficar um pouco atrás da linha de frente e controlar tranquilamente o fluxo da batalha. Me lembrou da maneira que Suzanne costumava gritar ordens amigavelmente para os membros do Contra-Flecha. Sara tinha um estilo diferente, mas manteve a jovem maga delas sempre na melhor posição e no seu campo de visão.

Era um bom contraste com a criança impulsiva e talentosa que eu lembrava dos velhos tempos. Talvez ter alguém mais novo para cuidar havia ajudado ela a amadurecer? Independentemente do caso, ela agora era a imagem perfeita de uma aventureira veterana.

No final das contas, a peregrinação prosseguiu sem nenhum problema. Tivemos que lutar contra grupos de monstros algumas vezes pelo caminho, mas nenhum deles foi muito perigoso. Conseguimos voltar para Sharia sem nenhum ferimento muito grande.

Dessa forma, nosso trabalho havia sido completado.

A Princesa de Ranoa e seus guardas passaram a noite em sua pousada em Sharia, pegaram os dois aventureiros que estavam se recuperando e partiram para a capital pela manhã. Eles precisavam voltar antes da neve começar a cair de verdade, então não podiam perder nem um segundo.

O resto de nós partimos em direção à muralha da cidade para nos despedirmos deles.

— Eu não quero iiiiirrr! Ainda tenho tanto para aprender sobre magia com a minha querida Senhorita Roxy!

— Se controle, criança.

— Ah, já sei! Por que não entra no nosso grupo, Senhorita Roxy? Não se preocupe, tenho certeza de que todas ficarão felizes em te receber!

— É bem gentil de sua parte me ofertar isso, mas estou feliz com meu trabalho aqui. Além de que sou uma mulher casada…

— Não é nada demais! Se você perambular por um tempo, ele irá te tratar como uma deusa quando voltar!

— Já chega, Alisa! Feche a matraca.

— Aaaaaah. Tá…

Antes que partissem, as Amazonas fizeram um leve esforço para recrutar Roxy, mas ela recusou gentilmente. Isso foi algo bom. Se ela tivesse mostrado algum interesse, eu teria partido direto para minha defesa patenteada de “grude e choradeira.” Dignidade ficava em segundo plano nesse momento. Eu precisava da minha Roxy exatamente onde ela estava.

— Então, Rudeus, acho que isso é um adeus.

Sara também estava indo, obviamente. No início, eu fiquei horrorizado ao ver ela, mas agora estava feliz por ela estar junto. Pensei que aquela conversa havia feito bem para nós dois.

— É. Se cuida lá fora.

— Cuide de si mesmo também. Não faça as suas esposas chorarem, viu?

— Bom, vou me esforçar.

— Parece que elas se dão bem, mas jamais comece a comparar elas em voz alta. Se você rebaixar uma para elogiar a outra, elas irão lembrar para sempre.

— Ah, sim. Certo. Vou lembrar disso…

— É bom que lembre mesmo. Te vejo por aí!

Após isso, Sara me deu um soco leve no peito e partiu. Foi bem casual, exatamente do jeito que despedidas devem ser.

Sylphie, Roxy e eu ficamos fora das muralhas da cidade por um tempo, vendo o grupo seguir pela estrada.

Assim que o grupo desapareceu de vista, Sylphie finalmente falou.

— Hm, Rudy. Tem certeza de que quer deixar ela ir assim?

— Como assim?

— Quer dizer… você amava ela, não é?

Olha só. Parece que houve um leve mal-entendido aqui, Senhorita Sylphiette…

— Nah, não nos amávamos. Somente estávamos um pouco sem graça e perdidos juntos.

— Hmm. Tá… — Sylphie se inclinou para analisar o meu rosto, parecendo tudo, menos convencida. — Me diga uma coisa, Rudy. Qual é o seu tipo, afinal?

Roxy moveu um pouco suas orelhas e se aproximou após ouvir isso. Parecia que ambas estavam bem interessadas nessa pergunta. Será que ficariam felizes se eu dissesse “garotas com peitos pequenos”? Parecia ser um tiro terrível no meu próprio pé…

— Hmm, boa pergunta. Eu costumava pensar em todos esses detalhes… tipo “uma garota dessa altura, com esse penteado e esse corpo.” Mas não acho que eu estava certo.

Parei por um momento para analisar Sylphie e, depois, Roxy. Levou um tempo, mas então a resposta surgiu na minha mente.

— Parece que garotas que me ajudam quando estou em apuros conseguem um lugar especial no meu coração.

Isso gerou um sorriso bobo e grande no rosto da Sylphie.

— Ooh. Então isso significa que eu sou especial, Rudy?

— É claro que sim. Você me curou de algo que me afligiu por anos. Sou muito feliz agora, e foi você quem tornou isso possível.

— Ah é? Hee hee hee… Então ainda bem que tive coragem naquele tempo.

Roxy estava olhando para mim um pouco insegura. Estava com uma expressão que parecia dizer: E eu?

Passei meu braço pelo ombro dela e a puxei para um abraço. Claro que você também é especial, Roxy. Ela havia me tirado daquela casa em que eu me escondia e havia me ajudado a juntar os pedaços quando a morte de Paul deixou meu coração despedaçado. Eu devia tudo a ela.

— De toda forma, acho que isso quer dizer que não há muitas garotas especiais para mim por aí. Não precisa ficar insegura, Sylphie. Não vou tomar mais ninguém como minha esposa. Eu te prometo.

Nesse momento, Sylphie pegou a minha mão.

— Tá… mas vou dizer mais uma vez, Rudy. Desde que ela seja especial para você, e você seja especial para ela, não vejo problemas. Mas não acho que Sara se encaixe nessa categoria.

De repente, me peguei lembrando de uma garota de cabelo vermelho que já tinha sido especial para mim. Lembrei de seu sorriso, de como havíamos nos esforçado no nosso caminho para casa partindo de uma terra distante, de como ela havia chorado quando quase morri; e lembrei da última noite que havíamos passado juntos.

Eris tinha me abandonado, ou era o que eu acreditava por anos.

Mas um homem com quem eu tinha viajado junto, no qual eu confiava plenamente, tinha certeza de que eu estava errado.

E se ele estivesse certo? O que aconteceria?

— Uh, Sylphie?

— Sim?

— Não tenho certeza disso, mas… eu posso acabar quebrando essa promessa de novo.

— Está tudo bem… Desde o começo não me importei com isso, lembra? Só tenha certeza de trazê-la para eu conhecer antes. Não vou te amarrar, mas também não vou deixar você casar com uma garota que não te ama.

— Tudo bem.

Isso é uma promessa, viu? Sem amantes ou filhos secretos. Não esconda as coisas de mim… a não ser que queira me deixar brava.

— U-Uhum… Tudo bem.

— Então tá! Estou interessada em ver como a terceira é, assumindo que você consiga conquistá-la.

Hmm… Minha doce Sylphiezinha estava começando a desenvolver uma aura dominante. A pouco tempo atrás, ela estava dizendo modestamente que só “tinha sido sortuda”, mas parecia que ela tinha encontrado alguma autoconfiança.

Isso era um bom sinal. Ela sempre me pareceu um pouco insegura desde que havia casado comigo, e isso às vezes me preocupava.

Tudo bem, então. Vou ter que garantir mesmo que vou manter essa segunda promessa, pelo menos…

 

Lendas da Universidade #10: O Chefe é um mulherengo sem cura.

 


 

Tradução: Jeagles

Revisão: Guilherme

 

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