O sexto piso estava repleto de Demônios Vorazes.
Os Guerreiros Blindados desapareceram por completo, deixando apenas os incômodos rastejadores de teto. As lutas correram bem graças ao incenso, mas ainda havia muitos deles. Tantos, na verdade, que se perguntaria: Por que as coisas são tão numerosas aqui?
O motivo ficou claro quando invadimos as partes mais profundas do sexto piso.
Na sala que levava ao próximo círculo mágico, havia um ninho. Um enxame de bestas se aglomeravam dentro dele, e incontáveis ovos estavam nas bordas da área. Eles eram escuros, formas oblongas revestidas de líquido, não muito diferentes das baratas do meu mundo. Senti um arrepio na espinha só de olhar para eles.
Talvez houvesse uma rainha em algum lugar, e ela estava usando Zenith para ajudar a gerar seus ovos. O pensamento passou pela minha mente, mas não havia nenhuma indicação de que os Demônios Vorazes tivessem tais hábitos. Eles se enxameiam, mas não pareciam ter nada semelhante com uma rainha. Como as baratas.
De qualquer forma, de onde vinham todas essas pragas e qual era seu propósito? Como havia tantas quando não existia uma fonte de alimento equivalente para sustentá-los?
— Mestra, o que animais como este comem? — Perguntei a Roxy.
— Boa pergunta. Existem muitas teorias por aí, mas sempre ouvi que se alimentam de mana.
— Mana?
Florestas e cavernas tinham alta concentração de mana, além de serem cheias de monstros. Pensando bem, Nanahoshi mencionou que essa energia mágica pode ser encontrada em todos os tipos de coisas neste mundo. Mana, no entanto, não podia ser visto a olho nu, então como essa teoria poderia ser confirmada?
Espere… havia o Olho do Poder Mágico, sugerindo que era verdade.
Ainda assim, se eles realmente se alimentam de mana, então não faria sentido se simplesmente engolissem meus feitiços? O fato de não o fazerem deve significar que há dois tipos de poder mágico: o tipo que pode ser consumido e o que não pode.
Agora que penso sobre isso, Paul tinha me dito há muito tempo que monstros eram atraídos para o cristal magicamente imbuído no coração de um labirinto. Os cristais eram realmente atraentes para monstros? Os que haviam aqui não estavam nem tentando se aprofundar. Tudo o que fizeram foi criar um ninho e começar a habitar o lugar.
Bem, ponderar sobre este mistério não me levaria a lugar nenhum por enquanto. Havia outros monstros, como o Guerreiro Blindado, que claramente não consumia nada para sobreviver. Irei deixar as questões da ecologia dos monstros para os especialistas.
— Bem, não importa o que consumam, isso não muda o fato que atacam humanos à vista. Vamos destruir esses ovos assim que os encontrarmos, ou eles serão uma pedra no sapato quando voltarmos. — Roxy disse enquanto se livrava dos ovos com frieza. Ela usou uma espada curta, ao invés de magia, para empalá-los um por um. Sua expressão era a própria definição de indiferença. Eu gostava desse lado dela também.
De qualquer forma, monstros produziam ovos, hein? Eu me perguntava se Guerreiros Blindados também tinham filhos. Imaginei uma mini versão deles do tamanho de uma boneca de feltro, carregando uma espada de brinquedo e gingando. Imaginei seus pais blindados cuidando dele alegremente. Então, de repente, passos — um intruso. A mamãe e o papai blindados instruem o filho a se esconder enquanto eles entram no campo de batalha. Paul aparece diante deles, seu rosto como o de um demônio. Ele mata os pais brutalmente com uma espada curta que é especialmente eficiente para rasgar suas armaduras, não muito diferente de um pesticida contra insetos. A criança testemunha isso e aprende que os humanos são o inimigo. Ele cresce e se transforma em uma besta que ataca os humanos à vista.
Sim, beleza, foi um pensamento ridículo.
— Rudy, por que está com essa cara de quem está pensando longe? — Roxy me chamou. — Por favor, ajude.
— Ah, certo.
Fiz o que foi pedido e comecei a quebrar os ovos.
As outras três salas ligadas a esta também estavam cheias dessas coisas. Não havia nenhum sinal de que algum deles estivesse perto da eclosão, mas se estivesse, a larva tentaria se agarrar a qualquer humano que visse.
Nossa limpeza terminou sem intercorrências depois disso, sem uma única larva recém-eclodida surgindo para tentar agarrar-se à virilha de Roxy.
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Finalmente, chegamos às profundezas do labirinto, o mesmo lugar sobre o qual está escrito nas últimas páginas de nosso livro. Era uma sala espaçosa e quadrada construída em pedra. Havia três círculos mágicos perto de uma das paredes afastadas da entrada da sala.
Se isso fosse tudo, o lugar não teria parecido especial. Mas a sala estava absolutamente vazia, exceto pelos círculos. A anterior tinha um enxame inacreditável de Demônios Vorazes e mais de uma centena de seus ovos. No entanto, a única coisa ali eram os círculos, quase como se este fosse um solo sagrado onde nem os ovos nem os rastejadores que os deram à luz ousavam entrar. Apenas uma palavra poderia descrever suficientemente este fenômeno: anormal.
— É o guardião. — disse Elinalise.
Paul concordou:
— É o que parece.
— Mantenham-se alertas, — avisou Roxy.
Todos os três seguraram suas armas enquanto falavam. Talvez fosse comum que a sala logo antes do covil do chefe tivesse uma vibração perturbadora.
— Bem, qual vai ser? — Geese segurou nosso guia em uma das mãos e investigou cada círculo. Todos os outros estavam na entrada, esperando.
— Eu ajudo. — Eu me ofereci para me juntar a ele, como alguém que já tinha auxiliado na criação de círculos de invocação antes.
— Sim, isso seria ótimo. — disse Geese.
Por algum motivo, Roxy correu atrás de mim. Sua presença seria reconfortante, pelo menos.
— Como se parece? — Perguntei.
— Exatamente como diz o livro.
Um por um, comparei cada um dos círculos diante de nós com o que estava transcrito no livro. O livro, aliás, dizia o seguinte:
Havia três círculos mágicos. Soubemos imediatamente que dois deles eram círculos de teletransporte aleatórios, então usamos uma pedra para marcar aquele que pensávamos ser o correto e pulamos. No entanto, era uma armadilha. Fui transportado para um espaço desconhecido, encontrando-me preso entre corpos negros e viscosos. Isso mesmo, um ninho de Demônios Vorazes. No momento em que me viram…
Vou poupá-lo da cena de batalha que se seguiu.
Eu imediatamente localizei a pedra que eles usaram como um sinal. Era uma rocha lindamente polida do tamanho de um punho. O número seis foi esculpido em sua superfície. Não tínhamos visto nada parecido nos pisos anteriores.
— Ao ver isso faz com que você se sinta meio emocionado, não é?
Geese franziu a testa.
— Jura? Eu digo que é apenas um mau sinal. Ouça aqui, Chefe, coisas assim… itens deixados por um grupo morto, são um mau agouro.
— Mau agouro?
— Sim, isso mesmo.
— Tudo bem — eu disse — mas não é como se o grupo todo tivesse sido aniquilado.
Enquanto conversávamos, continuei a inspecionar o círculo à nossa frente. Parecia muito com os círculos de mão dupla que usamos para viajar várias vezes até agora, mas este aqui era diferente. Se pisado, o teletransportaria aleatoriamente. Ou talvez nem precisasse pisar nele. Talvez, uma vez ativado, ele deformaria qualquer coisa localizada dentro da sala.
Isso significava que um dos outros dois tinha que ser a opção correta. No entanto, ambos claramente tinham as características de um círculo de teletransporte.
— Rudy, sabe qual é o correto? — perguntou Roxy.
Balancei a cabeça.
— Não, não tenho nem ideia. Nanahoshi poderia saber, se estivesse aqui.
— Nanahoshi? Quem é essa?
— Uma garota estudando teletransporte, ou melhor, invocação, na universidade. Ela sabe muito sobre círculos mágicos, então pode ser capaz de saber.
— P-Poderia ser ela… sua namorada?
— Nanahoshi? Sem chances. — Eu ri de sua pergunta. Ao fazer isso, pensei comigo mesmo, se ao menos Nanahoshi estivesse aqui. Ou Sylphie, ou mesmo Cliff. Os dois primeiros teriam sido impossíveis, mas talvez eu devesse ter trazido Cliff, afinal. Será que devo voltar e buscá-lo? Mas demoraria três meses para viajar ida e volta. Talvez até quatro. Cliff não estava acostumado a estar na estrada.
Não. Mesmo se eu o trouxesse, ele poderia dizer: “Eu também não sei”.
— Na verdade — eu disse. — Eu fiz algumas pesquisas sobre teletransporte na universidade, mas tenho vergonha de dizer que não consigo entender isso.
— Você pesquisou teletransporte? — Perguntou Roxy, surpresa.
— Sim.
— Entendo. Eu já deveria esperar isso de você, Rudy. A maioria busca as respostas sem nenhuma base, mas você já tem fundamento para trabalhar com o problema.
Ela parecia ter entendido mal. Eu tinha acabado de seguir o conselho do Deus-Homem. Não que eu pudesse realmente compartilhar isso com Roxy, já que meus motivos para fazer isso eram impuros. Algumas coisas eram melhores quando não ditas.
— Bem, é uma conclusão óbvia a que se chega, como aluno da grande mestra Roxy.
— Você pode me elogiar se quiser, mas não ganhará nada com isso.
Terminamos nossa observação sobre os círculos.
— Bem, Chefe, descobriu alguma coisa? — perguntou Geese.
— Não, nadinha.
Meu conhecimento sobre círculos mágicos vinha principalmente do livro, de qualquer maneira. Se a resposta correta não estava em suas páginas, então estava fora da minha área de especialização. Eu fiz algumas pesquisas adicionais sobre teletransporte, é claro, mas isso estava além de mim.
Havia uma coisa que eu sabia: os três círculos diante de nós eram anormais. Ajudei bastante Nanahoshi com círculos mágicos no passado para ter noção disso. Uma mudança nas partes menores e mais complexas de um círculo alteraria seus efeitos. É por isso que eu poderia dizer com segurança que nenhum desses eram círculos normais.
— Se o que o livro diz é verdade, um desses dois é o correto. — eu disse.
— O que você quer dizer é que também não sabe? — esclareceu Geese.
— Exatamente.
Voltamos para a entrada da sala, sentando-nos na formação circular que Paul e os outros tinham tomado enquanto descansavam. Lá, relatamos os detalhes de nossa pesquisa com a maior precisão possível.
Paul estalou a língua.
— Tsk, duas opções, hein?
Elinalise murmurou:
— Nossa, duas opções…
E Talhand reclamou:
— Droga, duas, hein?
Nenhum deles pareceu satisfeito com a notícia.
— Duas opções realmente vão nos ferrar. Seria melhor se tivéssemos três. — Enquanto olhava para o teto, Geese me lembrou um certo personagem de anime da máfia italiana que usa um chapéu estranho na cabeça. Parecia que eles tinham algumas memórias ruins associadas à escolha entre duas opções, o que não foi uma surpresa para mim.
— Isso também é um mau agouro? — perguntei.
— Sim, pois é. Quando temos apenas duas opções, temos que deixar Ghislaine escolher. Ou o que quer que façamos, vai acabar em fracasso. — explicou Geese. Paul e os outros concordaram com a cabeça.
Ghislaine, hein? Esse nome trouxe de volta memórias. Como uma fera, ela certamente tinha um olfato bom o suficiente para farejar a resposta correta.
— Ghislaine… Se ao menos ela estivesse aqui agora. — disse Paul melancolicamente.
Elinalise acrescentou:
— Ela só foi útil em momentos como este.
— Ela nunca ouvia as instruções durante a batalha e corria de cabeça, quase como se não tivesse entendido uma palavra que alguém disse. Não sabia ler, escrever ou fazer aritmética e ficava furiosa sempre que falavam sobre algo que não entendia. Mas, pelo menos, quando tínhamos apenas duas opções, ela era estranhamente capaz de escolher a certa. — disse Talhand.
Uou, eles realmente não mediram palavras para serem cruéis com ela. Pobre Ghislaine. Eu esperava que parassem por aí. Afinal, ela era uma das mestras que eu respeitava.
— Por favor, dê um tempo a ela. — implorei. — Ela agora pode ler, escrever e fazer aritmética.
Ghislaine tinha trabalhado muito. Ainda tropeçava quando se tratava de adição que exigia somar números grandes, mas deu seu sangue e suor para aprender divisão.
— Hmph, já ouvi isso do Paul antes, mas não vou ser enganado. — disse o anão. — Não há como aquele cãozinho agir como uma pessoa normal.
— Eu ouvi a mesma coisa, mas, para ser honesta, também não posso acreditar. — concordou Elinalise.
Os dois certamente estavam céticos. Não que eu não entendesse, já que Ghislaine certamente tinha sido uma cabeça oca.
Isso parecia estranho, no entanto. Todos os ex-membros do grupo de Paul estavam reunidos aqui — todos exceto Ghislaine. A mesmíssima mulher que tinha sido o único membro do grupo a manter contato com Paul após a separação. A única que conhecia Buena Village, de todos os aqui reunidos.
Sim, estranho mesmo.
— Esqueça isso, o que vamos fazer? — perguntou Geese, voltando ao ponto original de nossa conversa. Havia dois círculos. Por qual iríamos prosseguir?
— Rudy, nem mesmo você foi capaz de descobrir, hein? — perguntou Paul.
Balancei a cabeça.
— Infelizmente, não. Eu até estudei isso na escola antes de vir. Perdão, mas não posso ajudar mais do que isso.
— Então é isso… — Paul cruzou os braços sobre o peito, fechou os olhos e começou a pensar. Depois de nem mesmo um minuto, ele ergueu a cabeça. — Vamos apenas votar por maioria e ver onde isso nos leva. Aqueles a favor de ir pelo círculo da direita, levantem a mão direita. Aqueles a favor do da esquerda, levantem a esquerda.
Cada pessoa levantou a mão ao seu comando. Paul, Elinalise e Roxy votaram para ir pela direita, enquanto Geese, Talhand e eu votamos para ir pela esquerda. Estávamos perfeitamente divididos.
— Tsk, não podemos nem decidir. — cuspiu Paul.
— Hum, Pai — disse. — Devo dizer que não tenho certeza se é certo decidir a respeito disso com o voto da maioria.
— Sim, sim. Alguém mais tem alguma ideia brilhante?
Quando Paul perguntou, Elinalise ergueu a mão.
— Que tal enviar uma pessoa para cada um deles ao mesmo tempo?
— Você está propondo sacrificar alguém?
— Eu e você poderíamos queimar incenso e abrir caminho pelos Demônios Vorazes, se for preciso. — disse ela, confiante.
Uma pessoa entraria em cada um dos dois círculos ao mesmo tempo, e a pessoa certa voltaria para nós. Então iríamos imediatamente em busca da outra pessoa e o problema seria — possivelmente — resolvido.
— Eu me oponho a isso. — disse.
Elinalise disse, surpresa:
— Oh, Rudeus? Por quê?
— Em primeiro lugar, não há garantia de que qualquer uma dessas seja a resposta certa.
Ambos os círculos pareciam aleatórios, ao que tudo indicava. Ambos podem ser armadilhas, o que significa que todos os três círculos eram armadilhas. Era possível que os círculos corretos estivessem localizados em uma sala diferente. Reconhecidamente, isso parecia improvável; o livro dizia que eles vasculharam cada sala em cada piso antes de passar para o seguinte. Se eu confiasse no autor, este seria nosso destino final.
Mas a posição dos círculos e suas formas… Tudo parecia deliberado. Ilusório.
Algo parecia errado.
Por que alguém faria uma armadilha com cinquenta por cento de chance de sucesso? Isso não anularia o propósito de ser uma armadilha? Além do mais, se quem criou isso se deu ao trabalho de preparar um círculo falso de mão dupla, a solução seria realmente tão simples quanto a um dos círculos de mão única? Se isso era tudo, por que se preocupar em ter três círculos, para começo de conversa?
Talvez tenhamos perdido uma dica em algum lugar? Não, este não era um jogo de fuga. Um labirinto não era obrigado a nos dar dicas.
— Bem, Rudeus, então você tem uma sugestão? — perguntou ela.
— Não. — admiti. — Mas eu poderia pedir para você esperar um pouco mais antes de tomar uma decisão?
Isso pesou em mim. Parecia que havia algo que eu estava esquecendo. E até que pudesse me lembrar do que era, simplesmente pisar em um desses círculos baseado na suposição de que era uma chance de cinquenta por cento era muito perigoso. No momento em que uma pessoa o fizesse, era possível que toda a sala pudesse ser teletransportada aleatoriamente.
Só se podia atravessar o Labirinto de Teleportação por meio de círculos mágicos. Talvez houvesse salas que não poderíamos alcançar sem pisar em um círculo aleatório.
— Quero pensar mais um pouco sobre isso. — implorei.
— Tudo bem, Rudy. Vou deixar com você. — Paul acenou com a cabeça antes que alguém pudesse responder.
Sentei-me na frente dos círculos e comecei a pensar.
Minha premissa inicial foi: todos os três círculos eram trollagem. Com base nisso, três possibilidades surgiram em mente.
Primeiro, era possível que este não fosse o ponto final do labirinto.
De acordo com o livro, este labirinto tinha uma regra interna própria, e essa regra era que a rota principal pelo labirinto era composta unicamente por círculos de mão dupla. Seguindo essa lógica, esse tinha que ser o destino final.
No entanto, a área pela qual Roxy tinha vagado antes era uma seção do labirinto inacessível caso usássemos apenas círculos de mão dupla. Para voltar ao caminho principal, tinha-se que encontrar o caminho através de mais de trinta círculos de mão única na área. Em suma, o verdadeiro fim deste labirinto pode estar localizado além de um círculo de mão única, embora eu achasse que as chances disso eram pequenas.
Segunda possibilidade: Sem o conhecimento do autor, um dos membros do seu grupo acionou uma armadilha antes de entrar no portal. O autor presumiu que eles estavam pisando no portal de mão dupla, mas o que realmente aconteceu foi que outra pessoa acionou um movimento aleatório, teletransportando todos na sala para um local aleatório. Portanto, o círculo de mão dupla realmente era o correto.
Nah, não poderia ser isso. Se tal armadilha estivesse presente, certamente Geese teria notado.
Terceiro: O círculo de mão dupla era na verdade um círculo duplo.
Os portais têm vários formatos diferentes. Talvez existisse um com formato de rosquinha. Nesse caso, o círculo correto pode estar cercado por um círculo em forma de rosquinha que na verdade era uma armadilha de teletransporte. Isso era possível, certo?
Em outras palavras, contanto que pisemos bem no centro, em vez de no perímetro, poderíamos alcançar o próximo piso.
Idiota, não viaja. Quem você pensa que é, algum tipo de detetive de cinema?
A mais provável dessas três possibilidades tinha que ser a primeira.
Em geral, o autor só andou em círculos de mão dupla. Mesmo depois de descobrir os três tipos diferentes no primeiro piso, ele nunca pisou em um único círculo aleatório ou de mão única enquanto descia pelo terceiro e quarto piso. Isso foi o suficiente para trazê-lo até aqui.
Talvez, desse ponto em diante, deve-se prosseguir por círculos de mão única para chegar ao fim. Mas, se fosse esse o caso, então talvez o caminho que leva à frente não começa aqui. Talvez estivéssemos simplesmente em um beco sem saída; nesse caso, o caminho que leva à frente pode começar em algum lugar pelo qual já tínhamos passado. Por exemplo, pode haver um círculo de mão única no quarto piso que realmente leva ao ponto final da masmorra.
Droga. As coisas ficaram tão complicadas.
Além disso, a forma como o autor dividiu os “pisos” foi arbitrária, para começo de conversa. Ele fez isso inteiramente baseado nos monstros ao redor e na aparência da área. A “regra” única sobre a rota principal através do labirinto que consistiam apenas círculos de mão dupla pode ter sido uma coincidência completa.
Nossa melhor opção era simplesmente usar a força bruta em nosso caminho, experimentando cada opção uma por uma? Começar neste andar e passar por cada círculo de mão única, derrotando todos os monstros que encontramos, tentando encontrar uma rota diferente? Essa parecia ser a escolha correta.
Mas perceba a atmosfera desta sala. Os membros veteranos do meu grupo entraram e imediatamente sentiram que o chefe — ou melhor, o guardião — devia estar por perto. Eu tinha certeza de que aquele lugar tinha que ser especial. Que esta tinha que ser a última sala neste labirinto.
Não, talvez fosse apenas uma das armadilhas do labirinto. Hmm…
— Simplesmente não há fim para as possibilidades. — murmurei para mim mesmo enquanto me levantava. Era hora de uma pausa para o banheiro. — Pai?
— O que foi? — Paul ergueu os olhos.
— Eu vou dar uma aliviada.
— Vai dar uma mijada, é? Também vou.
— “Mijada”! — gritei em estado de choque. — Você não pode usar uma linguagem tão inadequada na frente das mulheres!
— Quem se importa com os modos em um lugar como este?
Qual é, estamos na frente da Roxy. Não posso dar uma bola fora aqui!
Bem, beleza, ela provavelmente não pensaria muito sobre eu indo ao banheiro, mas ainda assim.
Paul me acompanhou para fora da sala e voltamos para a área onde os cadáveres dos Demônios Vorazes e os ovos esmagados permaneciam. Lá, nos revezamos para vigiar enquanto o outro cuidava de seus assuntos.
— Você está sofrendo mesmo aí. — comentou Paul enquanto eu esvaziava minha bexiga.
— Sim. Ocorreu-me que talvez este lugar não seja a sala final deste piso. Que talvez haja outra rota. Uma que temos que pegar para chegar ao chefe.
— Nah, não tem como. — Ele balançou a cabeça. — Aquela sala é definitivamente o lugar certo
— Você está dizendo isso com base no que exatamente?
— Nada.
Em outras palavras, intuição. Ainda assim, era a intuição de um veterano. Não é algo que eu poderia deixar passar sem levar a sério. Intuição desse tipo pode parecer uma conjectura infundada, mas na verdade era uma inferência inconsciente baseada na experiência.
— Bem, não há necessidade de se precipitar. — disse Paul. — Vamos esperar. Se houver algo sobre o qual você não tem certeza ou que deseja discutir conosco, fique à vontade. Não tente resolver tudo sozinho, beleza?
— Entendido. — Eu coloquei meu amigo de volta para dentro das calças e troquei de posição com Paul. Agora que eu estava de guarda, dei uma olhada ao redor.
— Oh, também há outra coisa sobre a qual gostaria de falar com você, Rudy.
— Sim? O que é?
Um breve silêncio.
— Ah, nah. Não é hora para isso agora. Eu vou te contar quando voltarmos para a pousada.
— O quê? Por favor, não faça isso. Vou ficar nervoso se não me contar. É o tipo de coisa que chamamos de “death flag”, sabe?
— Que diabos é isso? De qualquer forma, se eu disser agora, só vai mexer com o moral do grupo.
Inclinei minha cabeça quando ouvi sua voz filtrada por trás. Isso iria bagunçar nosso moral? Sobre o que diabos ele queria falar, então? Era ansiedade por causa da Zenith? Ou algo mais poderia deixar as coisas estranhas entre nós?
— Uma reprimenda de algum tipo? — supus, no fim.
— Basicamente, sim. Algo do tipo.
— É verdade que poderia realmente estragar as coisas se eu ficasse deprimido e não conseguisse manter o foco na batalha. Você pode ficar tão bravo quanto quiser comigo quando isso terminar.
— Ah, bem, não é como se eu estivesse com raiva. Apenas imaginei que eu lhe daria a chance de se preparar um pouco.
Assim que voltarmos para a pousada, hein? Eu esperava que pudéssemos resgatar Zenith antes disso.
— Espero que a Mãe esteja bem. — disse.
— É, eu também.
Com apenas essas poucas palavras, o ar na sala se tornou opressor.
Isso não era bom. Paul devia estar se sentindo desesperado por termos chegado tão longe e ainda não a ter encontrado. Era melhor manter esse tipo de pensamento para mim.
Eu escutei o longo e prolongado gotejar de Paul se aliviando enquanto eu inspecionava a área.
Havia uma sala grande e três menores que estavam cobertas de ovos. Mais adiante, havia mais uma com os círculos mágicos. Todas as salas menores eram conectadas à maior.
Algo estava me incomodando.
— Esta sala é muito longa, não é?
— Hm? — Paul grunhiu de volta. — Acho que sim. Por quê?
Tinha uma forma oblonga, embora larga o suficiente e tão abarrotada de cadáveres que quase parecia quadrada à primeira vista. Uma inspeção mais detalhada revelou que seu comprimento excedia a largura. Na verdade, era retangular. Em cada extremidade deste longo trecho havia uma sala anexa, embora seus tamanhos fossem diferentes.
Eu já tinha visto isso antes. Recentemente.
Algo estava estranho.
— Ah!
Então de repente percebi. Isso mesmo, parecia exatamente com as ruínas dos círculos de teletransporte que usamos para chegar aqui.
— Certo! Vamos voltar então… Uh, Rudy? O que você está fazendo? — Paul me olhou desconfiado.
Eu dei a ele um olhar de soslaio enquanto corria de volta para os outros membros.
Geese estava sentado com a bunda plantada no chão, não muito diferente da estátua do Grande Buda, quando gritei para ele:
— Senhor Geese, pode me ajudar um pouco?
— Hm? Você encontrou algo?
— Venha logo. — Eu o arrastei comigo para o centro da sala. — Por favor, procure por aqui e veja se consegue encontrar uma escada escondida.
— Hã…? Espere, acho que pode ser possível. Não vimos nada além de armadilhas de teletransporte até agora, mas pode ser que haja uma sala escondida ou algo assim.
Geese, tendo se convencido sem qualquer intervenção minha, ajoelhou-se e começou a vasculhar. Ele pôs sua orelha no chão, o rosto tenso. Então retirou sua espada curta e começou a bater com o punho no chão.
— Ei… Está aqui. Está aqui! — exclamou ele. — Chefe, há uma caverna aqui embaixo!
— Você consegue abrir?
— Me dê um segundo. — Geese começou a mexer no chão. Ele seguiu em direção à parede, suas mãos roçando a superfície enquanto avançava. Então voltou até mim — Nada bom. Não consigo abrir. Provavelmente é algo que precisa ser aberto à força.
— Não haverá problemas se quebrarmos, certo?
— Nah. Não há armadilhas. Tudo bem, Chefe, vamos lá. Mire bem aqui. — disse Geese enquanto esculpia um X no chão.
Liberei meu Canhão de Pedra na área apropriada. A bala de terra foi desviada com um estrondo retumbante, deixando o chão abaixo dela arranhado.
Me segurei demais?
— Um pouco mais forte do que isso. — disse Geese. — Você consegue, certo?
— Sim.
Aumentei a potência e dei outro tiro. Desta vez, um estrondo muito mais alto ecoou pelos corredores enquanto o chão desabava, deixando um buraco em seu rastro.
— Tudo bem, deixe o resto comigo! Geese caiu imediatamente de joelhos, limpando os escombros.
Agora que havia um buraco no chão, o resto foi fácil. Não demorou muito para alargar a cavidade, transformando-a em uma abertura quadrada. Abaixo dela, escadas caíam em cascata na escuridão.
— Incrível! Só podia ser você mesmo, Chefe. Nem acredito que descobriu.
— Bem, já vi esse tipo de layout antes. — admiti.
As ruínas ao redor do círculo de teletransporte que usamos para chegar aqui tinham três salas vazias dentro delas, e mais uma com uma escada. Suspeitei que a quarta sala um dia parecera tão simples quanto o resto. Talvez as escadas que levavam ao círculo de teletransporte uma vez tenham sido escondidas, assim como estas. Na época em que as ruínas ainda estavam em uso, cada cômodo deve ter sido mobiliado, tornando impossível localizar a escada oculta com um simples olhar. Talvez o motivo de estar tão visível agora fosse porque a cobertura enfraqueceu com o passar dos anos, ou alguém a destruiu.
— Beleza, pessoal, o Chefe encontrou uma escadaria escondida!
Ao som da voz de Geese, os outros membros se levantaram. Eles vagaram e examinaram as escadas, ofegando de espanto.
— Gahaha! Sabia que você poderia fazer isso! — Talhand gargalhou, batendo a mão nas minhas costas.
— Ai.
— Esse é o meu filhão! — declarou Paul em voz alta, seguindo o exemplo do anão com um tapa de sua autoria.
— Ai. — eu disse novamente.
— Isto faz sentido. Parece que me lembro das ruínas do círculo de teletransporte serem parecidas. — Elinalise também me deu um tapa.
— Urgh…
— Não fique muito animado. Pode haver armadilhas. Chefe, passa-me três de seus pergaminhos. E aqui está! — Geese disse, também dando um tapa.
— …
Quando olhei por cima do ombro, vi Roxy com sua mãozinha levantada no ar. Nossos olhos se encontraram, os dela olhando de baixo, e sua mão parou suavemente nas minhas costas, mal roçando em mim.
— Pronto — disse ela. — Você fez um bom trabalho. — Sua expressão estava tingida de decepção, como se não conseguisse engolir o sucesso de seu aprendiz. Cada um dos meus atos estava diretamente ligado a ela, então não vi a necessidade dela se sentir irritada.
É isso, decidi, se a notícia deste momento se espalhar, vou me gabar de que na verdade foi Roxy quem me deu a dica!
— Tudo bem, vamos indo. Fiquem atentos. — disse Geese.
— Pode deixar! — Todos acenaram com a cabeça juntos.
Ao pé da escada havia um círculo de teletransporte — um tipo de mão dupla. Um que era de um profundo vermelho sangue.
Tradução: Taiyo
Revisão: Guilherme
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