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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 12 – Cap. 01 – Chegada

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A Cidade Labirinto de Rapan era única.

Rapan estava localizada no meio de um vasto deserto, presa dentro de uma peculiar e enorme gaiola branca. Uma pessoa curiosa que se aproximasse descobriria que esta gaiola era na verdade construída com ossos, de algum behemoth morto há muito tempo. As costelas eram grandes o suficiente para envolver a cidade inteira.

De certa perspectiva, a cidade não passava de um pequeno oásis. Os restos do behemoth mudaram tudo, e agora estava rodeada por um número chocante de labirintos, transformando em um local atraente para incontáveis aventureiros. Graças a esses aventureiros vindos de todas as partes do mundo, procurando enriquecer rapidamente, a cidade se tornou um palco onde finais felizes e tragédias aconteciam.

Esta cidade, envolta em um turbilhão de caos, é atualmente uma das maiores e mais proeminentes do Continente Begaritt.

—Trecho de Peregrinando pelo Mundo

 Por Aventureiro e Autor Kant Sangrento

 

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Eu tinha uma vaga lembrança das informações contidas em Peregrinando pelo Mundo. Rapan era uma grande cidade com uma cor de terra, no meio de seus característicos doze pilares brancos, com edifícios feitos de lama e materiais obtidos de bestas regionais. Já tinha visto muitas cidades com a mesma estética no Continente Demônio.

Dito isto, este lugar era inesperadamente verdejante, talvez graças ao oásis próximo aos pilares de osso. Mesmo de longe, eu podia ver uma linha do que pareciam ser palmeiras. A atmosfera também era única. Havia algo parecido com um cheiro bruto no ar, não muito diferente dos mercados de escravos lotados.

— Surpreso? Esses pilares são, na verdade, as costelas de um behemoth.

Ainda estávamos caminhando enquanto eu inspecionava a área quando Galban me chamou com orgulho. Graças à formação atual do nosso grupo, estive conversando muito mais com ele. O homem gostava de se gabar. Suas histórias eram sempre incríveis e lisonjeiras, com veracidade questionável, mas fáceis de desfrutar se deixasse a descrença de lado.

— Quando o grande herói, da segunda geração do Deus do Norte Kalman, visitou esta terra, ele e seus companheiros derrotaram um behemoth que estava devastando o deserto. Eles se banquetearam com um pouco de sua carne e deixaram seus restos apodrecendo, deixando o que você vê agora, ossos que se recusam a apodrecer, como testamento da passagem do tempo.

— Uau.

Então esta terra tinha alguma conexão com o Deus do Norte Kalman, hein? Eu conhecia algumas das histórias sobre ele, mas nunca tinha ouvido nada sobre ele matando um behemoth. Vi um behemoth enquanto viajávamos, mas era muito grande para sequer considerar enfrentá-lo. Precisa ser pirado para enfrentar um monstro desses. Fiquei me perguntando como Kalman conseguiu lutar contra um. Bem, o Deus do Norte aparentemente venceu um Rei Demônio imortal e um dragão enorme, então talvez tivesse o hobby de derrotar monstros com quantidades colossais de PV.

— As formigas estavam entre os inúmeros monstros que se banqueteavam com a carne do behemoth caído e são a causa para os numerosos labirintos da cidade. Quando os monstros devoram outros monstros que são mais fortes do que eles, dão à luz uma prole poderosa. Essas formigas mutantes cavaram inúmeros ninhos, e todos os ninhos se transformaram em labirintos.

— Oh, entendi.

Quando o behemoth morreu, os insetos comeram as partes dele. Então começaram a se reproduzir e fazer ninhos. Ao longo de muitos anos, esses insetos começaram a morrer, os ninhos começaram a sofrer mutações e, assim, os labirintos surgiram.

Então foi assim que aconteceu, pensei.

A parte sobre comer monstros fortes e dar à luz uma prole poderosa… Deve ser um conto popular, não mais verídico do que os contos de como comer a carne de uma sereia daria imortalidade. Se fosse verdade, então as pessoas do Continente Demônio, que consumiam carne de monstro diariamente, deveriam ser muito mais fortes do que eram. Monstros poderiam ser uma exceção especial à regra, mas não acreditei.

Espera. Na verdade, isso poderia explicar a taxa alta de pessoas fortes, como Badigadi e Kishirika, nascendo por lá? Os próprios monstros eram versões mutantes de animais normais. Faria sentido se as pessoas também pudessem dar à luz a tais mutantes…

Ah, droga. Já comi um pouco de carne de monstro. O que eu faria se meu filho com Sylphie nascesse e de repente falasse: “Sou o Imperador do Mundo Demônio!”? Eu poderia encontrar uma afinidade repentina com os pássaros que chocaram seus ovos apenas para encontrar uma prole de cuco escondida entre eles.

— Aventureiros e mercadores de todo o mundo se reúnem aqui — Galban continuou o monólogo.

Itens mágicos eram produzidos em massa. Ferramentas e armaduras mágicas voavam das prateleiras. Não importava quantos cristais mágicos, também conhecidos como pedras mágicas, ou cristais magicamente imbuídos alguém tinha, nunca era o suficiente. Contanto que o estoque fosse de certa qualidade, poderia ter certeza de que tudo seria vendido a preços elevados. Este lugar era uma terra onde os sonhos dos mercadores se tornavam realidade.

É verdade que isso exigia o conhecimento de como atravessar o deserto, entre outras coisas. Apenas alguns poucos escolhidos poderiam fazer disso um hábito. O resto com certeza encontraria um comércio mais lucrativo e seguro se fosse para o Continente Central.

Mas, bem, um peixe em um pequeno lago não sabia nada sobre o oceano. Galban parecia bastante embriagado com seu próprio narcisismo, não seria eu que iria estragar sua diversão. A economia só funcionava graças a comerciantes como ele.

 Nos despedimos de Galban após chegar a Rapan. Seu grupo aparentemente iria armar sua barraca na periferia da cidade. Nosso tempo juntos foi curto, mas aprendi muito com seu grupo, e eles cuidaram de nós.

— Obrigado por tudo.

— Também agradeço. Se precisar de alguma coisa de novo, pode contar conosco.

Foi uma despedida rápida. Usei o mínimo de palavras, fazendo uma reverência a Balibadom e Carmelita. No final as coisas estavam um pouco tensas, mas eu esperava que não houvesse má vontade entre nós.

Agora precisávamos procurar Geese ou Paul. Eu realmente esperava que estivessem por aí, já que andamos tanto. Ainda faltava tempo para o pôr do sol e, normalmente, íamos primeiro encontrar uma pousada, mas talvez devêssemos priorizar a procura pelos dois.

— Como vamos fazer isso? — perguntei.

— Excelente pergunta — disse Elinalise. — Esta cidade é grande o suficiente para ter uma Guilda dos Aventureiros, então vamos lá primeiro.

— Vamos lá.

Eu preferiria primeiro ficar livre de nossa bagagem, mas tudo bem, isso servia. Queria ficar na mesma pousada que Geese e Paul, se possível.

 Quando perguntamos a localização da guilda, falaram para ir para o centro da cidade, o local usual para tais coisas. As pessoas que andavam nas ruas eram principalmente comerciantes. A maioria usava o mesmo traje de Galban: um turbante; tecido simples e esvoaçante que envolvia todo o corpo; e barba. Caminhavam pelas ruas, puxando camelos, espalhando suas mercadorias à venda na beira da estrada. Muitos estavam tão bem cobertos que nem dava para ver a pele.

Entre aqueles que erguiam beirais de tecido estava um indivíduo em particular que usava uma roupa saída diretamente de Aladdin. A loja dele era um armazém, vendendo lâmpadas feitas de metal e potes com desenhos curiosos estampados. Tinha um toque bem árabe. Aposto que se tocasse flauta, uma cobra vermelha colocaria a cabeça para fora de um vaso para dar uma olhada.

Ao nos aproximarmos da Guilda dos Aventureiros, vi várias pessoas vestidas com trajes familiares de aventureiros. Devia haver muitas pessoas nesta área que eram originalmente do Continente Central. Todos tinham rostos marcados pela batalha; provavelmente aventureiros de rank S que se especializaram em exploração de labirintos. A maioria usava roupas bem leves. Era perigoso sair sob a luz ofuscante do sol sem ampla cobertura para proteger a pele, mas provavelmente estava bem, desde que não se aventurassem por muitas horas.

 O prédio da Guilda dos Aventureiros era esculpido em uma pedra enorme, provavelmente por meio de magia. Percebi de imediato, já que parecia com algo que eu mesmo poderia ter feito, mesmo que a complexidade de sua construção ultrapassasse minhas capacidades. Havia um relevo requintado esculpido na entrada, e o interior, assim que entrava, era bem ventilado o suficiente para ser refrescante.

A sensação dentro da guilda era quase a mesma do resto da cidade, mas sendo o tipo de cidade que era, não havia aventureiros novatos à vista. Todo mundo parecia ser poderoso. Aqueles que mais chamaram minha atenção tinham rostos e corpos com cicatrizes. Todos pareciam ter um passado diferente. Mas não eu. Levei uma vida protegida, sem marcas, sem cicatrizes, sem manchas.

— Beleza, vamos começar a perguntar sobre Paul e Geese por aí — disse Elinalise.

— Pode ser — concordei. — Tenho certeza de que, se perguntarmos, descobriremos algo.

— Geese já deve ter uma rede de informações por aqui, então tenho certeza de que ele vai saber se usarmos o nome dele… Ah, parece que isso não será necessário. — Segui o olhar de Elinalise para encontrar um homem com cara de macaco em um canto da guilda. Ele estava absorto em uma conversa com um homem-fera empunhando uma espada.

— Qual foi, estou te perguntando — implorou Geese. — Você também deve uma para ela que eu sei.

— Você está pedindo o impossível.

— Você não pode fazer isso só uma vez? É uma corrida contra o tempo.

— Já faz um mês, não é? Ela está morta.

— Não — Geese balançou a cabeça. — Não tem como. Mesmo se ela estiver, temos que pelo menos entrar e verificar, encontrar seus restos mortais. Qual foi, estou te implorando. Eu mesmo vi a sua habilidade. É por isso que estou aqui. Vou até pagar o dobro, se é isso que você quer.

Ele tinha uma expressão desesperada no rosto. Eu nunca soube que ele poderia fazer aquele tipo de cara.

— Desculpe, mas tente outra pessoa. Não estou com pressa para morrer.

Geese tentou persuadir o homem por um tempo, mas o homem-fera finalmente balançou a cabeça e Geese estalou a língua alto o suficiente para que pudéssemos ouvir de onde estávamos.

— Tch, seu covarde de merda! Não acredito que você se auto-intitula aventureiro com essa atitude!

— Tá, tá, fale o que quiser. — O homem saiu pela porta sem sequer olhar para trás.

Era raro ver Geese xingar alguém. Não, na verdade, eu não sabia muito sobre ele. O Geese que encontrei no passado era mais despreocupado.

— Parece que ele está realmente encurralado.

— Cara, é assim que ele costuma ser — disse Elinalise.

— Sério? Meio que tive uma impressão diferente dele.

— Ele deve ter tentado parecer mais maduro na sua frente. Ei, Geese!

Geese virou a cabeça, procurando. Ele arregalou os olhos quando a viu e se arrastou em nossa direção.

— Ah, ei! Se não é Elinalise!

— Foi mal por te deixar esperando — disse ela.

Geese soltou uma risada vazia.

— Não se preocupe, chegou aqui mais rápido do que eu imaginava. — Ele abriu um sorriso quando deu um tapinha no ombro dela. — Na verdade, como diabos chegou aqui tão rápido, hein? Faz só seis meses desde que enviei aquela carta. Ahh, você não deve ter lido, né? Você provavelmente não se deparou com a carta, já que estava viajando.

— Falaremos sobre isso depois. O que está acontecendo com a Zenith? — perguntou Elinalise.

O rosto dele ficou turvo.

— Nada bom. Mandei aquela carta porque achei que iria demorar. Mesmo que, para ser honesto… Bem, também podemos falar sobre isso depois.

Aparentemente, as coisas não estavam indo bem, mas tínhamos antecipado isso. Minha esperança excessivamente otimista de que já tivessem resolvido tudo quando chegássemos foi rapidamente provada como falsa.

— Por enquanto — interrompi —, poderia nos guiar até onde meu pai está?

Geese arregalou os olhos quando olhou para mim. Então começou a coçar o lábio superior.

— Ah, ei… é você, não é, chefe? Você com certeza cresceu.

— E você com certeza não parece ter mudado, Senhor Geese.

— Ugh, chega. Isso me dá arrepios. Pode me chamar só de “novato”, igual antes.

Ahh, isso com certeza despertou algumas memórias.

— Ora, ora, vocês dois parecem ser próximos — comentou Elinalise, brincando.

Ouvindo isso, Geese sorriu.

— Bem, dividimos uma cela, não é, chefe?

— De fato — falei. — Isso com certeza desperta algumas memórias.

Ah, nostalgia, o tempo que passei completamente nu naquela cela na aldeia da tribo Doldia. Foi depois de cruzar o mar do Continente Demônio ao Continente Millis, sendo pego em um incidente de sequestro e arrastado para a aldeia. Entre os Doldia, aqueles que cometem crimes graves eram despojados de suas roupas e jogados em uma cela. Recebi o mesmo tratamento porque havia sequestrado a Besta Sagrada e tentado cometer atos sexuais com ela. Eram alegações equivocadas, é claro. Quem diabos tentaria cometer atos sexuais com um cachorro? De qualquer forma, foi lá que conheci Geese. Seu crime foi algo pequeno, provocado por sua própria ganância. Ele era um ladrão generoso.

— Ah, isso é o suficiente. Vou levá-lo para onde Paul está — disse Geese, mostrando outro sorriso vazio enquanto deixávamos a Guilda dos Aventureiros para trás.

Paul estava hospedado em uma pousada em um canto da cidade. A pousada era de lama e pedra e destinada a aventureiros de rank B, pelo menos para os padrões do Continente Demônio. Não era luxuosa nem dilapidada.

Assim que chegamos à entrada, Geese nos disse:

— Escutem bem, Paul está muito mal. Então, Elinalise, sei que você tem muito a dizer, mas desta vez se segure.

— Não posso prometer nada — respondeu ela, balançando a cabeça.

Geese forçou um sorriso e deu de ombros, deixando por isso mesmo. Ainda assim, era de Elinalise que estávamos falando. Ela não iria se tornar hostil e agressiva do nada.

— Você também, Chefe. Não comece uma briga como da última vez, entendeu? Tenho certeza que você tem muito a dizer, mas só… tente não culpá-lo muito, tá?

Devia ser muito ruim, para Geese fazer uma introdução tão longa. Além disso, eu já tinha visto Paul quando ele estava mais fraco e fugindo de seus problemas. Apenas tive que me preparar mentalmente para algo semelhante.

Mesmo que sua aparência pudesse sugerir o contrário, Paul não tinha a melhor das resistências mentais. Se acontecesse algo de ruim, ele cairia em depressão na mesma hora. Eu não iria tão longe a ponto de chamá-lo de desastre emocional, mas ele não tinha resiliência para lidar com reveses massivos. Achei que voltaria a ser tão autoconfiante quanto quando vivíamos em Buena Village assim que encontrarmos Zenith, mas quem sabe?

Essa era uma etapa essencial. Eu precisava ter a mente aberta o suficiente para que as pessoas me chamassem de Buda Rudeus.

— Beleza, vamos entrar — disse Geese, e nós entramos.

Não havia porta, apenas uma cortina que separava o interior do exterior. O primeiro andar da pousada era basicamente como todos os outros que eu já tinha visto, com mesas para as pessoas comerem. Os materiais usados para construir as ditas mesas eram diferentes, assim como o seu layout, mas, fora isso, era igual.

Reconheci Paul de relance. Sua metade superior estava jogada sobre a mesa.

— Ah…! — Alguém ofegou baixinho.

Era Lilia, parada ao lado de Paul. Mesmo neste continente, ainda estava usando seu uniforme de criada. Seu cabelo normalmente arrumado estava desgrenhado e seu rosto estava abatido de exaustão. Ainda assim, ela se animou quando nossos olhos se encontraram. Ela se curvou para mim e imediatamente cutucou as costas de Paul.

A mulher que estava sentada bem na frente dele se levantou. Ela olhou para o meu rosto e recuou vários passos, então de repente abaixou a cabeça. Seu corpo estava envolto em um manto. Qual era seu nome mesmo, Vierra ou Shierra? Tinha certeza que era Shierra. A conheci em Millishion, ela era uma porta-voz, não?

Seu rosto estava pesado de exaustão. O de todos estavam.

Sentei-me em sua cadeira, ficando diretamente em frente a Paul.

— Mestre, Lorde Rudeus chegou — falou Lilia.

— Hm…? — Persuadido pela cutucada dela, Paul lentamente ergueu a cabeça. Tinha olheiras sob os olhos. Seu corpo inteiro estava magro e emaciado. Parecia acabado, mas não havia barba por fazer e seu cabelo estava razoavelmente bem cuidado. Ele também não estava fedendo a álcool.

Ainda assim, dava para dizer que ele estava perdendo o juízo. Fiquei feliz por termos vindo. Ver a condição em que Paul estava me denunciou que tinha sido a decisão certa.

— Rudy…?

— Pai. Já faz um tempo.

Ele olhou para mim, olhos confusos e sem foco. Quase como se não estivesse totalmente acordado. Não, talvez estivesse dormindo. Cochilando dentro e fora da inconsciência enquanto estava caído sobre a mesa.

Fazia muito tempo desde a última vez que nos vimos. Da última vez, ele gritou e me repreendeu. Mesmo que ele se sentisse encurralado no momento, eu ainda retornei suas palavras fortes na mesma moeda, e isso se transformou em uma briga.

Desta vez não. Desta vez eu era o Buda Rudeus.

— Huh? Isso é estranho, posso ver o Rudy. Ha ha, o que foi, Rudy? Faz tanto tempo. Parece que você está bem. Como estão Norn e Aisha? — perguntou ele, seu rosto escuro e nublado.

Sinceramente, sua reação não foi o que eu esperava. Achei que ele estaria exatamente como antes, bêbado e fugindo de seus problemas. Com uma garrafa em uma das mãos, gritando comigo.

— Uh, as acolhi. Agora estão morando na Cidade Mágica de Sharia. Estão bem. As deixei aos cuidados de algumas pessoas de confiança, por garantia.

— Beleza, sim, isso faz sentido. Confiável como sempre, Rudy. Ah, como você está, aliás? Está tudo bem?

— Ah, sim… acho que estou.

Ele sorriu, petulante e despreocupado. Um sorriso inadequado às circunstâncias, como se tivesse perdido todo o ânimo.

— Beleza, bem, isso é bom. É isso que importa.

Não havia vida em seus olhos. Seu espírito talvez tivesse cedido e se tornado nada mais do que uma casca vazia. Lancei um olhar nervoso a Geese, mas ele apenas balançou a cabeça.

É sério? Era isso que Paul havia se tornado?

— Rudy… — Paul se levantou e cambaleou ao redor da borda da mesa em minha direção. Então me puxou para um abraço apertado. — Eu sou… um desgraçado sem esperança.

Eu silenciosamente retornei o abraço.

Ele talvez estivesse desesperado. Talvez nunca voltasse a ser como era. Eu mal podia acreditar, não quando ele tinha um neto a caminho. Mas tudo ficaria bem agora que eu estava presente. Faria algo para consertar as coisas. Era esse o motivo para a minha presença.

— Não posso salvar a sua mãe. Não consigo nem cumprir as promessas que fiz. Também falhei completamente com você como pai. Sou mesmo um desgraçado sem esperanças.

— Por favor, não se preocupe. Agora estou aqui. As coisas vão ficar bem.

— Urgh… Rudy, você realmente cresceu, né? — Ele apertou meus ombros com força. Doeu um pouco, mas eu não reclamaria.

— Realmente cresci. Logo também vou ter uma criança. Então, deixe o resto comigo e tire um tempo para relaxar.

— Huh? Uma criança?! — Um grito estrangulado escapou da garganta de Paul e a luz voltou a inundar seus olhos. — Q-Quêêê?! — Ele parecia totalmente perplexo enquanto acariciava meu rosto com as mãos. — Espera, é você mesmo?

— Sim, sou eu mesmo!

— Então, isso não é um sonho?

— Sou incrível o suficiente para parecer um, né? — brinquei.

— Sim, definitivamente é você. — Ele piscou várias vezes, então olhou ao redor.

Os olhos de Lilia encontraram os dele.

— Bom dia, Mestre.

— Ah, é você, Lilia. Quanto tempo eu dormi?

— Desde que Lorde Talhand saiu para ir às compras, cerca de uma hora.

— Certo, acho que ainda estava meio acordado. — Ele balançou a cabeça e se espreguiçou.

Ah-ha, então ele estava meio adormecido, pensei. Então ele não era só uma casca. Bom. Sou muito jovem para ficar preso cuidando do meu velho.

Paul retomou seu assento e se virou para mim. Então, como se estivéssemos refazendo toda a reunião, ele perguntou:

— Rudy, por que você está aqui?

— Já te disse. Vim ajudar.

— Não, não é isso que quero dizer.

Balancei minha cabeça. Já tinha antecipado essa pergunta. Já tivemos uma comunicação confusa bem parecida antes e se transformou tudo em uma briga, mas, desta vez, ficaria tudo bem. Eu tinha visto sua carta, e Norn e Aisha estavam sob meus cuidados.

— Está tudo bem. Norn e Aisha também. Elas estão sendo bem cuidadas — falei, repetindo o que já havia dito um momento atrás.

— A-Ah, certo. — Paul parecia confuso. Ele estendeu a mão para me tocar de novo, quase como se estivesse verificando se eu realmente estava ali. — Não, mas… quero dizer, você não chegou aqui bem rápido?

— Pegamos um método de transporte um tanto quanto único. Tenho certeza de que terei que explicar quando chegar a hora de voltar para casa.

— Único, hein? Bem, conhecendo você, acho que é possível. — Paul parecia estupefato enquanto abaixava os ombros, a boca ainda aberta.

— Bem, só para esclarecer tudo, por que você não me conta o que aconteceu depois que Geese enviou aquela carta?

— Uh, não, espera. Estou meio confuso.

— Tudo bem então. Por que não toma um pouco de água e tenta se acalmar? — Usei minha magia da terra para conjurar um copo, magia de água para enchê-lo e, em seguida, passei para Paul.

Ele o pegou na mesma hora e engoliu o líquido. Assim que terminou, soltou um grande suspiro.

— Foi mal, só fiquei um pouco chocado. Eu sabia que Geese tinha ido e enviado aquela carta. Achei que demoraria um pouco até você chegar.

— Corremos o mais rápido que pudemos — falei.

Paul forçou um sorriso.

— Correr é pouco.

Um mês e meio. Da perspectiva de Paul, pouco mais de seis meses se passaram desde que eles enviaram a carta. Isso era considerado rápido? Acho que sim. Normalmente, teríamos levado mais de um ano para chegar. Paul devia ter imaginado que teriam mais dez meses de espera.

Ele, de repente, colocou a mão no queixo, claramente quebrando a cabeça. Parecia nervoso quando perguntou, sua voz lenta e proposital.

— Então, você disse algo sobre ter um filho?

Ah sim, eu disse. Não era algo que eu pretendia esconder dele, mas talvez ele estivesse com raiva de mim, pensando: Por que você está se divertindo tanto enquanto estou aqui lutando?

Elaborei minha resposta com cuidado.

 — Bem, a verdade é que me casei enquanto estudava na Universidade de Magia.

— Casou? — Paul franziu as sobrancelhas. — Com quem? Ah, com a Eris?

— Não, Sylphie — corrigi. — Nós nos encontramos de novo na universidade.

— Sylphie? Você quer dizer aquela da Buena Village? Então ela está viva, hein?

— Sim, mesmo que também tenha passado por momentos difíceis.

Paul coçou o queixo, ainda parecendo surpreso. Mandei várias cartas para ele, mas parecia não ter as recebido.

— Poderia me dizer exatamente o que levou a esse casamento?

— Uh, claro. Eu provavelmente deveria contar tudo.

Decidi explicar o que havia acontecido depois de enviar a primeira carta. Como me matriculei na universidade e tudo a partir daí, levando ao meu casamento. Escolhi minhas palavras com cuidado enquanto fazia isso. Honestamente, eu não tinha nada além de boas lembranças do meu tempo na escola. Claro que teve pontos baixos, mas não seria exagero dizer que tive o melhor momento da minha vida por lá. Fiz amigos, encontrei minha esposa e me diverti muito.

Tentei manter meu relato dos acontecimentos o mais objetivo possível, mas não consegui esconder. Não tinha como negar que eu tinha me divertido lá.

— Entendi. Então… uma criança. Meu neto…

Eu estava preparado para ele me repreender. Afinal, o fato de eu ter um filho significava que estava praticando o ato que levou à sua criação, numa época em que Paul trabalhava desesperadamente para tentar salvar Zenith. Seria natural se ele estivesse chateado. O prazer deveria ser compartilhado, e Paul estava vivendo uma vida de abstinência.

No momento em que eu estava pensando isso, a cabeça de Paul tombou.

— Sinto muito. Você está prestes a se tornar pai, mas teve que vir aqui porque sou inútil.

Uma desculpa. De Paul, nada menos!

— Não, na verdade, eu que me sinto mal. Ainda nem encontramos a Mãe, e estou seguindo em frente com a minha vida.

— Não, não posso te culpar por isso. Afinal, também dormi uma vez com Lilia.

Bem, eles eram marido e mulher, afinal, então não vi qualquer mal nisso.

— Eu pretendia esperar até que salvássemos Zenith. Sou mesmo patético. — Paul baixou os olhos, parecendo que ia chorar de novo. Ele era tão frágil. Igual porcelana.

Lilia repentinamente interrompeu:

— Fomos atacados por uma Súcubo. Não tínhamos escolha.

— Mesmo assim, você… Ahh, foda-se. — Paul aninhou a cabeça nas mãos enquanto as memórias voltavam à tona.

Uma Súcubo, hein? Nesse caso, realmente não foi culpa dele. Eu mesmo havia as encontrado e sabia que não havia como resistir. Elas expõem os cantos mais escuros do coração… embora seus ataques pudessem ser anulados por magia de desintoxicação. Paul tinha uma curandeira em seu grupo que deveria ser capaz de fazer isso.

Virei minha cabeça em direção a Shierra, que entrou em pânico no momento em que sentiu meus olhos sobre ela.

— S-Sinto muitíssimo. É que… eu estava com tanto medo do capitão. Não pude fazer nada.

— Rudy, por favor, não a culpe. O culpado aqui sou eu.

Quando Paul estava excitado, ele provavelmente ia direto para cima das mulheres ao seu redor. Deve ter sido assustador ver um homem como ele dominado pela luxúria, especialmente considerando que Paul era o principal causador de danos do grupo. A magia de desintoxicação não poderia ser realizada a menos que tocasse fisicamente na pessoa. Não era surpreendente que não tivessem sido capazes de detê-lo por tempo suficiente para usar a magia. Lilia devia ter se apresentado para usar seu corpo para resolver o assunto.

— Sim, eu encontrei súcubos no caminho até aqui. Entendo o quão aterrorizantes são. Não havia nada que você pudesse ter feito contra isso.

— Mas Talhand não foi tão afetado. Fui o único que não resistiu — Paul se desesperou.

Parando para pensar nisso, seu grupo tinha outro homem. Talhand era totalmente resistente? Como isso funcionava? Difícil de acreditar que qualquer homem pudesse sair ileso. Será que as artimanhas das súcubos não funcionavam com anões?

Enquanto eu considerava as possibilidades, Paul fixou seu olhar em mim.

— O que foi? — perguntei.

Paul coçou o lábio superior.

— Nada, é só que… Você parece mais confiante e assertivo do que antes.

— Hein?

Eu não tinha notado até que ele falou. Pensando bem, quando comecei a falar tão livremente na frente das pessoas? Pretendia manter minha fala casual separada de meus hábitos de tratamento, mas, pelo visto, eu me acostumei enquanto conversava com Zanoba e os outros.

— Ah, sim, desculpa. Serei mais prudente.

— Nah, está tudo bem. Quando fala assim, você soa mais másculo. — Paul riu. Lágrimas começaram a brotar nos cantos de seus olhos. Uma caiu, depois outra, depois outra… Surgiram espontaneamente, recusando-se a parar. — Rudy… você realmente cresceu muito.

Ouvi-lo dizer isso também me levou às lágrimas. Éramos família e, mesmo assim, nem sabíamos o quanto o outro havia mudado.

— Sinto muito por ser um pai tão ruim.

Silenciosamente, passei meus braços ao redor dele. Nem precisei me esticar, era facilmente capaz de alcançar seus ombros. Em algum momento, sem que eu percebesse, nós dois tínhamos ficado da mesma altura.

E, assim, choramos juntos.

Depois de um tempo, nos afastamos. Nosso reencontro acabou. Agora tínhamos que trocar de marcha. Ainda havia um problema a ser resolvido.

— Hmph. — Elinalise se sentou em uma cadeira próxima, parecendo completamente sem graça. Paul se virou lentamente para ela e seus olhares se encontraram. Paul semicerrou os olhos. Elinalise franziu as sobrancelhas.

Isso era ruim.

— Hmm, pai, a Srta. Elinalise veio da Cidade Mágica de Sharia para ajudar, sabendo que nossa família estava em apuros. Ela veio, mesmo não querendo te ver.

— …

Paul gradualmente ficou de pé. Então caminhou com cautela em direção a Elinalise. Ela observou, as mãos fechadas em punhos, e também se levantou.

— Ela também está preocupada conosco. Sei que deve ter acontecido muita coisa no passado, mas por consideração a mim, poderia, por favor, deixar tudo para trás?

Elinalise olhou para Paul, uma cabeça mais alta do que ele. O ar estava denso de tensão. “Volátil” foi a palavra que me surgiu à mente.

Talvez acabassem se socando. Não, talvez tentassem se matar! Merda, o relacionamento deles era realmente tão ruim?

— Geese… — Olhei para ele em busca de ajuda, mas o idiota apenas deu de ombros, impotente, e sorriu de um jeito irritante.

Esse homem realmente não vale nada, pensei.

— Elinalise?

— Sim, pois não?

Paul olhou para mim, depois para Lilia e Shierra. Parecia haver algum significado por trás de seu olhar, mas eu não conseguia descobrir o que era.

Ele, de repente, caiu de joelhos. Então colocou sua testa contra o chão. Ele estava se curvando!

— Sinto muito pelo que aconteceu naquela época!

Elinalise se recusou a olhar para ele. Ela só virou a cabeça para o lado, alargou os lábios em um beicinho e disse, completamente sem graça:

— Bem, eu também tive culpa naquela época.

Isso foi completamente inesperado. Honestamente, imaginei que ela começaria a xingá-lo.

Paul continuou se prostrando.

— Causei muitos problemas desde que o Incidente de Deslocamento aconteceu. Realmente sinto muito.

— Tudo bem. Também queria procurar alguém, então foi conveniente.

— Obrigado.

— Não há de quê, Paul.

E acabou aí. Desse jeito mesmo. Ambos tinham a sombra de um sorriso em seus rostos. Parecia que o problema que existia entre os dois, seja lá o que fosse, tinha simplesmente desaparecido. Sem esforço, embora Elinalise já tivesse falado bastante sobre como não poderia perdoá-lo.

— Ufa… — Paul soltou um longo suspiro, levantou-se do chão e espanou os joelhos. Então olhou para Elinalise, que gentilmente retornou seu olhar.

— A idade não tem sido gentil com você — disse ela.

— E quanto a você. — Disse ele em retorno. — Está linda como sempre.

— Oh, querido. Vou contar para Zenith que você disse isso.

— Isso significa que vou conseguir vê-la com ciúmes de novo.

— Algo pelo que ansiar, tenho certeza.

Os dois riram. Foi bom vê-los assim. Eles combinavam bem: uma elfa linda e um espadachim de meia-idade exausto.

Eu não tinha ideia do que abalou a amizade deles. Talvez fosse apenas Elinalise sendo obstinada, e o assunto tinha sido muito trivial. Ou talvez fosse algo que exigiu tempo para curar. Apesar de tudo, a amizade era uma coisa linda.

— Ainda assim, é impressionante que você tenha conseguido suportar a jornada até aqui. Fica bem longe dos Territórios Nortenhos, não é?

— Sim, é — concordou ela.

— E o que aconteceu com a sua maldição? — perguntou Paul sem perder o ritmo. — Não me diga que você e Rudeus fizeram isso?

— É claro que não. Cheguei até aqui graças ao implemento mágico de Cliff.

Paul inclinou a cabeça.

— Cliff? Quem é esse?

— Meu marido.

— Seu o quê?! — Paul arregalou os olhos. Então sua voz ficou alta graças à surpresa. — Então você tem um marido? O homem deve ter gostos estranhos! Que tipo de piada é essa? Tem certeza que este homem realmente concordou em se casar com você? Ei, Rudy, você conhece esse cara? Este “Cliff”? — Ele riu enquanto olhava para mim.

Mantive uma cara séria enquanto assentia, principalmente porque Elinalise parecia pronta para matar.

— Pai, você foi longe demais. Sim, acho que Cliff tem gostos estranhos, mas ele é um homem muito respeitável. — Cliff às vezes tinha dificuldade para ler o clima, mas era honesto e não tinha vergonha de proclamar seu amor. Ele era um indivíduo incrível.

— Sério? Bem, ele deve ser incrível para você dizer isso. — Paul ficou chocado com o que ouviu. Ele parecia estranho enquanto abaixava a cabeça. — Beleza, então foi erro meu. Não se esqueça de me apresentar quando voltarmos.

— Sim, você deveria se desculpar — bufou Elinalise. — Ele é um homem muito mais incrível do que você.

Paul forçou um sorriso e abaixou a cabeça mais uma vez.

— Tudo isso à parte… Rudeus, Elinalise, obrigado por terem vindo.

— Estamos apenas começando — brincou ela.

— É claro que vim — falei. — Somos uma família. — Agora, então, era hora de chegarmos ao cerne da questão. — Pai, por favor, explique o que está acontecendo.

Paul começou explicando os detalhes de como chegou na cidade, embora eu já conhecesse a essência. Roxy e Talhand encontraram-se com ele em Millishion, coletaram todas as informações que puderam e cruzaram o mar até o Continente Begaritt. Graças aos números do grupo, conseguiram chegar a Rapan. Foi ali que se reuniram com Geese e descobriram onde Zenith estava localizada.

— De acordo com as informações de Geese, sua mãe está cerca de um dia ao norte daqui, capturada em um labirinto.

Era uma informação vaga. Por “capturada” ele quis dizer que alguém estava a mantendo lá? Ou era o próprio labirinto que a mantinha? Labirintos que capturavam pessoas existiam?

— Por seis anos inteiros? — perguntei em descrença.

Paul balançou a cabeça.

— Não sei.

— Ela… ainda está viva?

— Não sei. Teve um grupo que foi lá alguns anos atrás, e aparentemente um dos membros disse que viu alguém que parecia com Zenith. Além disso, não ouvimos falar deles desde que entraram de novo.

Então eles ficaram sérios. Isso não foi reconfortante. Esperar que ela ainda estivesse viva, presa lá, era só uma ilusão?

Então, de novo, de acordo com o que Roxy havia dito, Zenith ainda estava viva quando Kishirika a viu. Com base nas informações de Geese, as notícias do grupo mencionado pararam de chegar antes de Roxy se encontrar com Kishirika. Isso foi há dois anos. As informações de Geese foram obtidas há quatro anos. Em outras palavras, Zenith estava há dois anos sem contato com ninguém e ainda estava viva quando Kishirika a viu. Isso significava que havia uma grande probabilidade de que ainda estivesse viva.

Aparentemente, estavam apostando nesse pedaço de esperança para continuar com a busca. Mesmo que ela não tivesse sobrevivido, ainda era importante confirmar a sua morte. Claro, eu esperava que ela ainda estivesse viva. Quando soube que poderia estar morta, meu coração acelerou.

Acho que percebi que era tarde demais. Afinal, haviam passado seis anos.

De repente, Geese interrompeu.

— Tudo o que temos são informações de segunda mão, então não sabemos. Talvez ela esteja morta. Talvez esteja possuída por algum tipo de monstro. Tudo o que sabemos é que ela foi vista no labirinto.

Paul acrescentou:

— Este labirinto é muito antigo e complicado. No ano passado, entramos nele várias vezes, mas tem sido difícil. Temos quatro profissionais em nosso grupo, mas não chegamos nem na metade do caminho. Muito triste, na verdade.

Quatro… Paul, Geese, Talhand e Roxy? Eles também tinham outros três, mas nenhum era profissional. Pensando bem, onde estavam os outros três membros?

— Hm, tem companhia?

Só então, a luz surgiu da entrada. Alguém entrou.

— Oho! Parece que perdi uma reunião comovente, hein?

Era um homem pequeno. Certo, sua altura era a única coisa pequena nele, que tinha tanta circunferência quanto altura. À primeira mão já poderia dizer que era um anão. Tinha uma barba longa e esvoaçante e um grande saco de estopa na mão. Com certeza era Talhand.

Uma mulher estava atrás dele, vestida como uma guerreira e carregando um saco semelhante. Ela não estava usando a armadura de biquíni que usava antes, mas me lembrei de seu rosto. Vierra, né? Ela me fez uma reverência e então correu para o lado de Shierra.

O corpo robusto do homem balançou conforme se aproximava. Ele me examinou do topo da minha cabeça às pontas dos pés.

— Você é o filho do Paul?

— Uhum, sim. Prazer em conhecê-lo. Sou Rudeus.

— Você parece tão inteligente quanto ouvi. Uhum. — Ele colocou o saco em cima da mesa.

— Rudeus, é melhor você ficar longe dele. Ele rouba o que os homens apreciam — advertiu Elinalise.

O que os homens apreciam? O que isso significa? Seu orgulho?

— Aha, bem pensei que o cheiro de mulher estava forte por aqui. — Talhand olhou para Elinalise, com uma expressão em seu rosto que parecia dizer que ele tinha acabado de perceber a presença dela ali. — O que foi, hein? Então você também o acompanhou?

— Oh, você está dizendo que eu não deveria?

— Claro que estou. Só você estar aqui já cria problemas. — Ele enfiou a mão no saco e tirou uma garrafa de vidro cheia de um líquido âmbar. Tirou a rolha e engoliu em seco. — Pwah! Esta é uma bebida que vai cair muito bem no seu estômago.

O fedor de álcool veio flutuando no ar. Uma bebida bem forte, se isso fosse alguma indicação. Afinal, os anões adoravam seu licor.

— Experimente. — Talhand empurrou a garrafa para Elinalise. Ela pegou sem falar nada e tomou um gole. Ela não bebeu tanto quanto ele, mas eu ainda podia ver sua garganta pálida se movendo enquanto engolia duas vezes e então arrotava.

— Álcool muito bruto.

— Perfeito para alguém rude como você. — Ele enfiou a rolha de volta e devolveu a garrafa ao saco.

O que aconteceu entre os dois? Era para ser uma saudação no estilo anão? Ninguém mais estava comentando sobre isso. O que…?

— Bem, agora que estão todos aqui, vamos continuar de onde paramos, tá? — A voz de Paul me trouxe de volta aos sentidos. Talhand causou um grande impacto com sua entrada, então esqueci completamente que estávamos no meio de uma conversa.

Espere… ele disse todo mundo?

— Espere um momento — interrompi. — E a Mestra Roxy?

O rosto de Paul ficou sério quando perguntei. E não foi só o dele. Todos os outros estavam com a mesma expressão, exceto Elinalise. A beldade de orelhas compridas pareceu perceber o que isso significava, e arregalou seus olhos.

— O quê? Não pode ser…

No momento em que a ouvi dizer isso, uma única palavra surgiu na minha mente. A pior que se podia imaginar.

Morte.

— Há um mês, Roxy foi pega por uma das armadilhas do labirinto.

Eu podia sentir meu coração batendo forte. Não queria ouvir. Não aquela garotinha de cabelo azul. Não podia ser. Não queria ouvi-los dizer isso. Digo, ela era uma aventureira competente, que já havia entrado em um labirinto sozinha. Ela não podia usar magia não verbal, mas conseguia encurtar seus encantamentos. Era uma maga de água de nível Rei. Minha Salvadora.

Eu não queria ouvir mais nada. Mesmo assim, perguntei com relutância:

— E-Ela não está morta… está?

Elinalise se levantou de sua cadeira e se moveu para trás de mim, colocando as mãos em ambos os meus ombros.

— Não — disse Paul. — Ela pisou em um círculo de teletransporte e desapareceu. Não confirmamos sua morte. É muito provável que ainda esteja viva lá no labirinto.

Era o suficiente, pelo menos por enquanto. Senti a tensão me deixar. Mas meu rosto logo endureceu novamente com a próxima fala de Geese.

— Qual é, Paul. Simplesmente não é possível. Entendo que é de Roxy que estamos falando, mas esse não é o tipo de lugar onde uma maga pode sobreviver por conta própria. Claro, ela talvez ainda esteja viva, mas as chances disso são…

Talhand interrompeu:

— Não, Roxy não é uma maga comum. Há uma boa chance de que ela ainda esteja viva.

— Você diz isso, mas estivemos procurando o mês todo e não a encontramos! — exclamou Geese. — Nós entramos cinco vezes e nada!

— Geese. — Paul disse laconicamente. — Por quanto tempo você vai continuar com isso?!

Paul, Geese e Talhand começaram a discutir entre si. Geese, que eu me lembrava de ser todo descontraído, estava irritado e brigando. Parecia que estava até perdendo o juízo.

Então Roxy pisou em uma armadilha de teletransporte. Ela tendia a ser descuidada às vezes, então acho que eu podia entender isso. Ainda assim, se eles não tivessem confirmado sua morte, então eu queria acreditar que ela estava viva. Não me parecia possível que alguém como Roxy Migurdia pudesse morrer tão facilmente.

Pelo menos, queria acreditar que ela não podia. Então essa era a crença que eu iria manter.

Ugh. Fiquei ainda mais chocado com a notícia do que quando soube que Zenith poderia estar morta.

— Desculpe interromper a conversa. Vamos voltar para onde estávamos. Que tipo de lugar é este labirinto? — perguntei.

Os três trocaram olhares. Era como se estivessem conferenciando para ver quem passaria as informações. Paul finalmente abriu a boca.

— Um labirinto de teletransportação.

No momento em que ele disse essas palavras, foi como se eu pudesse ouvir um livro farfalhando dentro da minha bolsa. Como se o livro tivesse ouvido alguém chamar seu nome. Aquele intitulado Uma Consideração Exploratória sobre Teletransportação em Labirintos.

 


 

Tradução: Rlc

 

Revisão: Shibitow/PcWolf

 


 

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