Capítulo 1: Porto Vento
Meu nome é Rudeus Greyrat e sou um menino bonito que acabou de comemorar o décimo primeiro aniversário há alguns dias. Como um mago habilidoso, ganhei notoriedade por minha habilidade de usar magia sem entoar feitiços e minha maneira única de misturar os diferentes elementos.
Um ano atrás, fui pego em um desastre mágico e teletransportado para o Continente Demônio. Minha cidade natal ficava exatamente no lado oposto do mapa, na região de Fittoa do Reino Asura, o que significava que tinha que viajar meio mundo para retornar.
Tornei-me um aventureiro para ganhar dinheiro ao começar a longa viagem de volta para casa. No ano passado, consegui atravessar com sucesso o meu caminho através do Continente Demônio.
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Porto Vento1O nome da cidade foi alterado. Após algum tempo prestei um pouco de atenção e notei que “Porto do Vento” é uma tradução errônea, logo, a partir do volume 4 estaremos adotando o termo correto., a única cidade portuária do Continente Demônio, tinha uma paisagem urbana com colinas onduladas. Da entrada, já tinha uma vista panorâmica de toda a cidade. A maioria das casas era feita de barro e pedra no estilo típico do continente, mas havia algumas casas de madeira aqui e ali. Nos limites da cidade ficava o porto. Era ali, em vez da entrada principal, que acontecia a maior parte do rebuliço, exatamente onde os vendedores ambulantes se estabeleciam.
Era uma cidade com um sabor único, diferente das outras que eu tinha visto antes. Além do porto, em frente à cidade, o mar se espalhava de forma vasta e larga. Quando foi a última vez que vi o oceano? Foi provavelmente na época em que frequentei uma escola secundária no litoral.
Este mundo era diferente do nosso, mas o mar não. Era da mesma cor azul, tinha o mesmo som de ondas quebrando e pássaros que pareciam gaivotas. Havia até veleiros. Foi a primeira vez que coloquei meus olhos em um. De vez em quando os via em filmes, mas ver a coisa real – feita de madeira e com suas velas de pano desenroladas, deslizando pela água – fez meu coração bater como se eu ainda fosse um menino.
Devia haver algum mecanismo neste mundo que permitia a um barco navegar contra o vento. Na verdade, considerando o mundo em que eu estava, talvez os impulsionassem para frente usando magia de vento.
— Olhe!
No momento em que chegamos na cidade, a garota ruiva cavalgando o lagarto comigo de repente deu um salto. O nome dela era Eris Boreas Greyrat. Ela era neta de Sauros, o Lorde Suserano da região de Fittoa do Reino Asura, e também minha aluna quando trabalhei como tutor para a casa deles. Era feroz e mimada quando nos conhecemos, mas se tornou mais flexível recentemente – o suficiente para ouvir o que as pessoas tinham a dizer. A garota foi teletransportada comigo, e eu precisava levá-la de volta à segurança de sua casa.
— Olha, Rudeus! O oceano! — As palavras que passaram por seus lábios estavam na fluente língua do Deus Demônio. Eu havia enfatizado a importância de conseguir fazer isso o tempo todo; Ruijerd e eu também falávamos na língua do Deus Demônio tanto quanto possível. Como resultado, as habilidades de linguagem de Eris aumentaram dramaticamente nos últimos tempos. Era como suspeitei: a maneira mais rápida de melhorar em uma língua estrangeira seria usá-la com a maior frequência possível. É verdade que a garota não sabia ler nem escrever na língua em questão. Não era um idioma tão difícil, mas também não era algo que pudesse ser dominado em apenas um ano.
Por outro lado, eu não tinha a ensinado nenhuma magia desde que fomos parar no Continente Demônio. Portanto, ela não só não podia lançar feitiços não verbais, como provavelmente também havia esquecido os próprios cânticos.
— Eris, espere! Aonde você vai? Nós nem descobrimos onde vamos passar a noite!
Ela parou no meio do caminho quando a chamei. Foi a terceira vez que tivemos essa discussão desde que fomos parar no Continente Demônio. Na primeira vez, a garota se perdeu; na segunda, brigou em algum lugar. Eu não queria um terceiro incidente.
— Ah, sim! Vou me perder de novo se não decidirmos sobre uma pousada logo! — Ela saltou de volta para nós, constantemente olhando por cima do ombro na direção do mar.
Pensando bem, esta foi provavelmente a primeira vez que viu algo assim. Havia alguns rios perto de Fittoa e, aparentemente, Sauros a levava lá em seus dias de folga e a deixava brincar na água. Infelizmente, nunca fui com eles, então não tinha ideia do quanto ela sabia sobre corpos d’água.
— Podemos nadar?
Inclinei a cabeça diante de suas palavras.
— Você quer nadar no porto?
— Isso!
Eu podia ter desejado isso por motivos egoístas, mas era um desejo destinado a ser insatisfeito. Nomeadamente porque faltava um componente importante nesta equação.
— Você não tem um maiô, tem? — perguntei.
— O que diabos é um maiô? Eu não preciso de um!
Sua resposta foi tão chocante que não consegui esconder minha confusão. O que diabos é um maiô, eu não preciso de um, ela disse. Então pretendia nadar totalmente nua…? Não, de jeito nenhum, não poderia ser isso. O mais provável é que pretendia nadar usando suas roupas de baixo. A imaginei vestida com nada além de calcinha, com água caindo sobre seu corpo. O tecido úmido grudaria em seu corpo e, através do tecido transparente, eu seria capaz de ver a cor de sua pele, bem como as pequenas protuberâncias em seu peito.
Por que nunca me juntei a eles quando ela foi brincar na água em Fittoa? Ah, é claro, porque estava ocupado. Mesmo nos meus dias de folga, estava preocupado com alguma coisa. Ainda assim, deveria ter ido junto ao menos uma vez.
Não, agora não era hora de pensar nisso. Eu precisava me concentrar na cidade bem diante de mim. Viver o agora. Isso mesmo, viver o agora! Woo-hoo, o oceano!
— Não, você não deveria nadar neste oceano. — Uma voz cortou tudo como se fosse um balde de água fria.
Quando olhei para trás, Ruijerd estava sentado ali com a cabeça raspada e uma cicatriz cruzando o rosto, como um yakuza. Seu nome completo era Ruijerd Superdia. Ele era um demônio que amava as crianças e assumiu a responsabilidade de nos escoltar desde o início, quando estávamos tão perdidos que não sabíamos nem onde estávamos. Agora que estava careca, era impossível dizer que tinha o infame cabelo verde-esmeralda da raça Superd. Neste mundo, demônios com cabelo verde-esmeralda eram considerados um símbolo de medo. O homem cortou o seu por nossa causa. Restaurar a honra ao nome de seu povo era apenas uma maneira de pagar minha dívida para com ele.
— Há muitos monstros aí.
Uma joia vermelha incrustada na testa de Ruijerd o fornecia um tipo de sexto sentido. Ele agia como um radar capaz de detectar a presença de todas as criaturas vivas a um raio de várias centenas de metros. Com uma habilidade tão conveniente, era fácil pensar que poderíamos despachar rapidamente todas aquelas criaturas do oceano, mas talvez aquilo não fosse tão poderoso quanto eu pensava. Talvez essas profundezas tenebrosas fossem impenetráveis.
Nah. Mesmo assim, ainda devíamos poder nadar um pouco, certo? Nadar no porto poderia ser bem perigoso, mas eu poderia pelo menos usar magia da terra em uma praia próxima para fazer nossa própria piscina.
Não… ainda havia uma chance de ser perigoso. Havia bestas lá fora com seus próprios poderes. Alguns deles poderiam ser capazes de atravessar minha barreira. Poderia ser um encontro sexy se fosse com um polvo, mas se fosse um tubarão, estaríamos em um tipo de reconstrução das cenas de Tubarão.
Havia poucas escolha. Seria, provavelmente, melhor desistir da ideia de nadar no oceano. Não havia mais nada que se pudesse fazer.
— Nada de banho no mar desta vez. Vamos encontrar nossa pousada e então visitar a Guilda dos Aventureiros.
— Certo… — Eris parecia abatida.
Hmm. Eu ainda estava muito interessado em ver como seu corpo estava ficando tonificado. Não tivemos muitas oportunidades de verificar o crescimento um do outro no último ano. Era difícil avaliar qualquer coisa através de suas roupas, mas se estivéssemos na praia aberta, eu talvez pudesse ver um pouco mais. Sim, isso mesmo, devíamos fazer isso.
— Mesmo que não possamos entrar na água, poderíamos pelo menos brincar na praia, certo?
— Na praia?
— Há algo chamado areia por perto do oceano. Na beira da água, a areia forma uma margem bem grande — expliquei.
— E que parte disso devia ser divertida? — perguntou Eris.
— Na praia, você pode se molhar e…
— Rudeus, você está com aquela expressão estranha no rosto de novo.
— Ugh. — Pelo visto, minhas expressões mudavam muito facilmente de acordo com minhas emoções.
Enquanto eu tentava tirar o olhar lascivo do meu rosto, Eris voltou os olhos para o oceano e sorriu.
— Mas parece interessante! Depois vamos fazer isso! — Ela alegremente deu um salto e voou pelo ar, retornando ao lagarto. Foi um salto incrível. Apenas o som de sua decolagem me fez pular – foi como o ruído de uma batida surda. A garota realmente tonificou suas pernas e parte inferior do corpo. No momento isso realmente complementava sua constituição, mas eu a imaginava ficando ainda mais forte e musculosa no futuro, e isso me preocupou um pouco.
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Assim que decidimos nossa pousada e embarcamos em nosso lagarto, fomos direto para a Guilda dos Aventureiros. Uma multidão diversificada de aventureiros clamava ao redor da Guilda dos Aventureiros de Porto Vento. Não era uma visão estranha, mas parecia que havia um número considerável de humanos presentes no local. Depois que cruzasse para o Continente Millis, seus números de certo aumentariam exponencialmente.
Quando fui verificar o quadro de avisos, como sempre fazia, a expressão no rosto de Ruijerd era incerta.
— Não íamos atravessar o mar de imediato?
— Só estou olhando. De qualquer forma, ouvi falar que a renda no Continete Millis é melhor.
Seria possível ter uma renda melhor no Continente Millis já que a moeda era diferente. A moeda do Continente Milis era dividida em seis tipos: o dólar real, o dólar geral, moedas de ouro, moedas de prata, moedas de cobre grande e moedas de cobre. Comparando isso com a moeda do Continente Demônio, mais barata, que era a moeda de pedra:
1 dólar real = 50.000 moedas de pedra;
1 dólar geral = 10.000 moedas de pedra;
1 moeda de ouro = 5.000 moedas de pedra;
1 moeda de prata = 1.000 moedas de pedra;
1 moeda de cobre grande = 100 moedas de pedra;
1 moeda de cobre pequena = 10 moedas de pedra.
Uma missão de rank B no Continente Demônio rendia cerca de cinco a dez moedas de sucata. Isso seria convertido em 150 a 200 moedas de pedra. Se as missões de rank B do Continente Millis valessem – suponhamos – cinco moedas de cobre grande, isso daria 1.500 moedas de pedra. Isso era dez vezes mais. Seria mais fácil juntar dinheiro no Continente Millis.
Dito isso, se tivéssemos tempo para matar antes que nosso navio estivesse pronto, provavelmente aceitaríamos um dos empregos locais. Geralmente, isso significaria missões de rank B. As missões de rank A e S não eram apenas perigosas, como a maioria delas levava mais de uma semana para ser concluída. Se quiséssemos uma renda diária consistente, tarefas de rank B eram nossa melhor opção. Também era por isso que eu não tinha planos de elevar nosso grupo ao rank S, porque isso significaria que não poderíamos mais aceitar missões de rank B.
Na verdade, como um grupo de rank A, já poderia aceitar missões de rank S, então sempre questionei a necessidade de existir um rank S no sistema de classificação de grupos. Quando perguntei a um dos membros da guilda sobre isso, me disseram que havia benefícios especiais para alguém que subisse para o rank S. Não perguntei mais, mas imaginei que isso significava obter descontos maiores para hospedagem, receber empregos de melhor qualidade na guilda ou a garantia de que fariam vista grossa para alguns dos comportamentos ilegais de um grupo. Ou algo do tipo.
Aqueles que se beneficiavam mais com essas vantagens eram principalmente os aventureiros que mergulhavam em labirintos. Nosso grupo não tinha planos assim. Era perigoso e demorava dias para terminar tal empreendimento. Nossas missões eram principalmente de rank B, e não tínhamos planos de subir para o rank S nem tão cedo.
Eris, é claro, discordava nesse ponto.
Desacordos à parte, éramos aventureiros interessados principalmente em ganhar dinheiro, então se ir para o Continente Millis era a maneira mais rápida de fazer isso, embarcar em um navio o quanto antes era do nosso interesse.
— A propósito, de onde saem os barcos? — perguntei.
— Do porto, é claro.
— Sim, mas de que lugar do porto?
— Pergunte a alguém — disse Ruijerd.
— Sim senhor.
Fui até o balcão. Atrás dele estava uma mulher humana. Na verdade, a maioria dos funcionários tendia a ser mulheres e, por algum motivo, tendiam a ser generosamente dotadas, provavelmente para fins estéticos.
— Eu gostaria de ir para o Continente Millis — expliquei. — Você sabe o que devo fazer para chegar lá?
— Por favor, encaminhe essas perguntas ao posto de controle.
— Posto de controle?
— Depois de subir em um barco, você estará além das fronteiras de nosso país.
Em outras palavras, a guilda não tinha jurisdição sobre viagens internacionais, portanto, seu pessoal não tinha a responsabilidade de me orientar nesses assuntos. Hm. Nesse caso, era hora de ir em direção ao posto de controle. Então, quando estava prestes a pedir uma explicação mais detalhada…
— Ei, você!
Uma voz alta ecoou pelo lugar. Quando olhei para trás, Eris havia socado algum homem humano. Parecia que nossa ogiva nuclear estava se sentindo particularmente explosiva.
— Quem e onde você pensa que estava tocando?!
— F-foi um acidente! Afinal, quem iria querer tocar em um traseiro igual ao seu?
— Eu não me importo se foi um acidente ou não! Não aceito suas desculpas! — Eris tinha se tornado bastante proficiente na língua Demônio. Quanto melhor ficava, mais frequentemente entrava em brigas. No final das contas, parece que saber o que os outros falavam não era algo lá muito bom.
— Gahahaha! O que é isso, uma briga?!
— Vá em frente, pegue-o!
— Vamos lá, não deixe uma criança chutar seu traseiro!
Brigas entre os membros da guilda eram uma ocorrência diária tão comum que a guilda nem se importava em se envolver. Na verdade, parte do pessoal até participava fazendo apostas.
— Vou esmagar você sob meus pés!
— M-me desculpe, eu admito a derrota. Por favor, deixe-me ir, não agarre minha perna, paaaare!
Enquanto eu estava distraído, Eris jogou o homem no chão. Ultimamente, ela se tornou uma especialista em enrascar as pessoas contra a parede. Iria avançar sem aviso e dizimar seu oponente com uma precisão incrível. No tempo que passei me perguntando com o que poderia estar chateada, a garota já tinha seu pé pressionado firmemente no ponto fraco de seu oponente. Aqueles aventureiros de rank C não eram páreo para ela.
Sempre que suas brigas chegavam a um certo ponto, Ruijerd intervinha.
— Pare — disse.
— Sai dessa, eu não vou parar!
— Você já ganhou — disse Ruijerd. — Já chega.
O mesmo espetáculo de sempre. Eu realmente não poderia impedir. Principalmente porque minha maneira de impedi-la era jogando meus braços em volta dela por trás, então minha vida estaria em perigo.
Alguém gritou:
— Um careca e uma ruiva feroz…! Vocês poderiam ser o Fim da Linha?
O silêncio caiu no salão, e então:
— Fim da Linha… Você quer dizer aquele demônio da raça Superd…?
— Idiota! O nome do grupo. Todos os últimos rumores foram sobre esses falsários!
— Também ouvi rumores sobre a coisa real.
Hein?
— Ouvi dizer que são brutais, mas ele não é um cara de coração ruim.
— Então ele é brutal, mas é legal? Vamos lá, isso é contraditório.
— Não, eu quis dizer que nem todos são brutais. — A guilda mergulhou em murmúrios abafados.
Foi a primeira vez que passamos por algo do tipo. Pelo visto, nosso grupo havia se tornado bastante famoso. Acho que, no final das contas, não precisaríamos divulgar o bom nome de Ruijerd desta vez, hein?
— Bem, eles são um grupo de rank A com apenas três pessoas.
— É, isso é incrível. Sendo verdade ou não, devem ser eles.
— O Cão Louco Eris e o Cão de Guarda Ruijerd, certo?
Os dois tinham apelidos! Cão Louco e Cão de Guarda, hein? Fiquei curioso sobre o motivo para ambos serem cães. Além disso, que tipo de cão será que eu era? Tentei imaginar isso por um minuto. Certamente não seria um cão de briga. Eu não tinha feito nada grande o suficiente para ganhar tal título, e também não parecia algo galante. No passar do tempo, fui sempre o líder do grupo. Então, talvez um nome mais intelectual, como Cão Fiel.
— Então aquele anão ali deve ser o Mestre do Canil Ruijerd!
— Ouvi dizer que o Mestre do Canil é o mais desagradável de todos.
— Sim, tudo o que ele fez foram coisas horríveis.
Como assim!!
Não só o apelido era diferente do que eu imaginava, como nem se lembravam do meu nome! Não, espera, mas era verdade que eu usava o nome de Ruijerd o tempo todo, certo? Ainda assim, sempre que eu fazia algo bom, sempre proclamava: “Sou o Ruijerd do Fim da Linha, e não se esqueça disso!” Enquanto isso, toda vez que fazia algo ruim, gargalhava alto e dizia: “Meu nome é Rudeus, bwahahaha!” Então, não deveriam ter confundido os dois, certo?
Hmm. Depois de um ano inteiro de trabalho árduo, foi um pouco chocante descobrir que as pessoas se lembravam do nome de todos, menos do meu. Ah, bem. Parecia que tinha uma imagem negativa ligada a mim, mas pelo menos as pessoas não estavam usando meu nome verdadeiro. Além disso, Mestre do Canil não era um título tão ruim. O que será que Eris pensaria disso?
— Mas ele é muito pequeno.
— Aposto que também é pequeno lá, já que é criança e tudo mais!
— Ei, ei! Dizem que se você o insultar, ele solta os cães em você!
— Gahahaha!
Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, estavam todos rindo de mim por causa de algo completamente sem sentido. Entretanto, isso só era pior para eles. Eu ainda estava crescendo (e muito bem), então, sim, podia ser só um brotinho de bambu no momento. Mas o dia em que aquilo cresceria e se tornaria uma árvore robusta e magnífica não estava longe.
Ah, esqueça isso. Se continuássemos sendo ridicularizados assim, Eris voltaria ao modo de raiva demoníaca… ou assim pensei. Em vez disso, ela continuou enviando olhares na minha direção enquanto corava. Aww, que adorável.
— Eris, qual é o problema?
— N-não é nada!
Heh heh heh. Se você está tão interessada, por que não dá uma olhada enquanto eu tomo banho esta noite? Não se preocupe, explicarei tudo para Ruijerd. Se quiser, podemos até ficar juntos. Claro, uma mão, perna, corpo ou mesmo uma língua pode acabar escorregando no processo…
De qualquer forma, chega de brincadeiras. Era hora de seguirmos para o posto de controle. Eu sairia do lugar com toda a dignidade esperada de um “Mestre do Canil”.
— Senhorita Eris, Senhor Ruijerdoria! Vamos embora!
— Por que você distorceu meu nome desse jeito…?
— Hmph!
Partimos com a atenção da maioria da guilda direcionada a nós três.
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Chegamos ao posto de controle. A cidade estava localizada no Continente Demônio, mas o barco que queríamos embarcar nos levaria ao País Sagrado de Millis. Se estivesse carregando alguma bagagem, teria que pagar impostos, e a entrada no próprio país também custaria dinheiro. Isso era para prevenir o crime ou simplesmente uma oportunidade para lucrar. Deixando minhas curiosidades de lado, pagaríamos se dissessem que fosse necessário.
— Quanto isso nos custará? Nosso grupo é composto por dois humanos e um demônio.
— Dois humanos seriam cinco moedas de prata. Qual tribo de demônios?
— Superd.
O oficial do posto de controle desviou o olhar para Ruijerd com um sobressalto. Quando percebeu que ele era careca, soltou um suspiro pesado, como se estivesse incomodado por apenas se dirigir a nós.
— Serão duzentas moedas de minério verde para o Superd.
— D-duzentas?! — Agora foi a minha vez de ficar em choque. — P-por que tão caro?!
— Tenho certeza que você já sabe a resposta.
Claro que sabia! Eu tinha viajado com Ruijerd por um ano inteiro, como não saberia? Havia tanto desprezo pela tribo Superd que todos os seus membros foram perseguidos sem motivos. Mesmo assim, essa taxa era muito alta.
— Mas por que uma quantia tão incrivelmente alta?
— Não me questione. Pergunte à pessoa que decidiu sobre isso.
Eu pressionei.
— Bem, por que você acha que é tão caro?
— Uh, bem, para prevenir o terrorismo, tenho certeza, no caso de alguém trazer algum como escravo e o soltar no Continente Millis. — Bem, essa era a sua interpretação. Em outras palavras, eles estavam tratando o Superd como se fosse uma bomba-relógio. — Vocês são aqueles caras, Fim da Linha, certo? Do falso Superd. Quando embarcarem, verificarão sua sub-raça. Não seja inflexível e desperdice duzentas moedas de minério verde aqui, já que de qualquer jeito vão descobrir tudo.
As palavras de cautela do oficial foram um tipo de bênção disfarçada. Isso significava que não seríamos capazes de fingir que Ruijerd era da tribo Migurd, já que seríamos descobertos de qualquer maneira.
— Se você mentir sobre sua tribo, não precisa pagar multa, não é?
— Só vai perder o dinheiro que desperdiçou com a mentira. — Em outras palavras, desde que pagássemos o valor pedido, estaríamos bem. O poder do dinheiro era impressionante.
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O sol já estava se pondo quando partimos do posto de controle. Decidimos voltar para a pousada e comer. Nos forneceram a culinária única de uma cidade portuária. O prato principal era do tamanho de um punho, cozido no vapor de vinho de arroz com um toque de manteiga de alho. Estava delicioso, era sem dúvida a melhor coisa que comi desde que chegamos ao Continente Demônio.
— Isso é tão bom! — falou Eris, feliz enquanto mastigava, suas bochechas estufadas de tanta comida.
No ano passado, ela havia se esquecido completamente dos modos à mesa costumeiros do Reino Asura. Começou a cortar tudo usando a faca na mão direita, depois apunhalava os pedaços e os colocava direto na boca. Pelo menos não estava comendo com as mãos, mas não havia nada de gracioso ou refinado nisso. Edna, sua tutora de etiqueta, certamente seria reduzida às lágrimas se pudesse ver a atual Eris. Isso também era minha responsabilidade.
— Eris, suas maneiras à mesa estão horríveis!
Munch, munch.
— Quem diabos se importa com boas maneiras?
Em comparação, as maneiras de Ruijerd eram muito melhores, embora também não fossem elegantes. Ele não usava a faca, mas sim o garfo tanto para cortar a comida quanto para comer. Deslizava o talher pelo peixe tão facilmente quanto se fosse manteiga. As habilidades de um especialista, sem dúvida.
— Bem, eu sei que ainda estamos no meio de nossa refeição, mas vamos começar nossa reunião de estratégia.
— Rudeus, falar durante uma refeição é falta de educação — disse Eris, de repente usando a expressão de uma verdadeira lady em seu rosto.
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Começamos nossa reunião assim que a refeição terminou, com as barrigas cheias.
— A travessia do mar vai custar duzentos minérios verdes. O valor é ridículo.
— Sinto muito. É tudo por minha causa. — O rosto de Ruijerd se anuviou.
Mesmo eu nunca imaginei que custaria tanto. Francamente, subestimei o valor da taxa. Achei que ganhar umas moedinhas ao longo do caminho nos permitiria cruzar o oceano com facilidade. Na realidade, eram cinco moedas de prata para humanos. Até mesmo outras tribos de demônios pagariam uma ou duas moedas de minério verde, no máximo. Apenas as taxas para a tribo Superd eram anormalmente altas.
— Bem, não vamos dizer coisas assim, Papai.
— Eu não sou seu pai.
— Eu sei — falei. — Foi só uma brincadeira.
Tirando isso, duzentas moedas não eram uma quantia comum de dinheiro. Mesmo se priorizássemos aceitar empregos de rank S e A, levaríamos anos para economizar tanto. Parecia que o Continente Millis realmente não queria nenhum Superd cruzando suas fronteiras.
— Estamos em um beco sem saída. Não podemos simplesmente deixar Ruijerd para trás.
Deixá-lo para trás seria a maneira mais rápida de fazer a travessia. Nós dois já éramos aventureiros bastante experientes, então poderíamos continuar nossa jornada mesmo sem ele. Mas, mesmo assim, eu não tinha a menor intenção de fazer isso. Ruijerd ficaria conosco até o fim de nossa jornada. Afinal, nossa amizade era eterna e inquebrável.
— Claro que não vamos deixá-lo para trás.
— O que faremos?
— Nós temos… três opções — falei, levantando o número correspondente de dedos. Sempre existem três opções para tudo. Uma seria seguir em frente, uma seria voltar e a outra seria ficar onde estávamos.
— Ah.
— Incrível, temos mesmo três opções? — perguntou Eris.
— Heh heh! — Soltei uma risada.
Espera aí, pensei. Eu ainda não pensei em todas elas. Vejamos…
— A primeira opção é um ataque frontal: ficamos aqui, ganhamos dinheiro e viajamos para o Continente Millis pagando a taxa.
— Mas se fizermos isso…
— Sim, vai demorar muito — concordei.
Se priorizássemos o ganho de dinheiro, poderíamos economizar a quantia necessária em menos de um ano. No entanto, não havia garantia de que algo não aconteceria em algum momento, tipo perdermos nossas economias.
— A segunda opção: entramos em um labirinto e obtemos um cristal ou item mágico. Seria uma tarefa trabalhosa, mas podemos conseguir o dinheiro necessário em uma única missão. — Um cristal mágico teria um preço alto. Quanto exatamente, não sei dizer, mas se entregássemos ao oficial no posto de controle, ele poderia deixar até um Superd passar.
— Um labirinto! Gostei do som disso! Vamos fazer isso!
— Não. — Ruijerd recusou o plano de imediato.
— Por que não?!
O Superd poderia facilmente detectar criaturas vivas com seu sexto sentido, mas as armadilhas dentro de um labirinto provavelmente seriam um assunto diferente.
— Mas eu quero — disse Eris, fazendo beicinho.
— É uma opção, mas eu prefiro evitar.
Podíamos ficar bem se procedessemos com cautela, mas como eu era bastante descuidado com meus passos, com certeza cometeríamos um erro fatal em algum ponto. Pareceu prudente ouvir as palavras de Ruijerd sobre a ideia.
— A terceira opção: encontramos um contrabandista nesta cidade que pode nos levar.
— Um contrabandista? O que diabos é isso?
— Onde há fronteiras de dois ou mais países, você geralmente tem que pagar impostos para transportar as coisas. É por isso que nos disseram para pagar uma taxa. Se for um comerciante, provavelmente terá que pagar impostos sobre suas mercadorias, certo?
— Eu não sei, precisa?
— Sim, precisa — respondi. Caso contrário, não haveria sentido em cobrar uma taxa maior com base na raça de uma pessoa. — E provavelmente vão cobrar taxas absurdas para alguns itens. Portanto, deve haver alguém aqui que faça esse trabalho por um preço mais barato, além de lidar com mercadorias ilegais. — Bem, talvez não houvesse. Mas, se houvesse, certamente poderíamos fazer com que nos levassem por um preço muito mais baixo do que duzentas moedas de minério verde. Era claro que havia algo de errado com a taxa no posto de controle. Aquele oficial nos disse que não seríamos punidos mesmo se mentíssemos sobre a tribo de Ruijerd.
De qualquer forma, eu tinha acabado de aprender da maneira mais difícil que o caminho mais fácil é aquele cheio de armadilhas. Portanto, embora tenha incluído isso como uma opção potencial, queria evitar fazer qualquer coisa ilegal, se possível. No momento, as três opções que sugeri eram:
A abordagem direta de ganhar dinheiro e pagar a taxa;
Entrar em um labirinto e matar tudo que aparecesse pela frente;
Fazer um acordo com um contrabandista.
Nenhuma delas era particularmente boa. Ah, claro, tinha mais uma. Eu poderia vender meu cajado, Aqua Heartia. Ele tinha um enorme cristal mágico e era uma obra-prima do Reino Asura. Isso renderia pelo menos dinheiro suficiente para um membro da raça Superd cruzar o oceano.
Prós e contras à parte, eu não queria vendê-lo, se possível. Era um precioso presente de aniversário que ganhei de Eris, e também estava fazendo bom uso dele. E os dois provavelmente não aceitariam a ideia com muita facilidade.
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Naquela noite, uma mensagem divina veio a mim.
O Deus Homem me disse:
— Compre um pouco de comida em uma barraca de rua e procure sozinho pelos becos.
Parece um verdadeiro pé no saco. Mas, como não tenho outras opções, tentarei ser otimista e tentar.
— Então você vai fazer isso só porque não tem outra escolha?
Nah, é só que já sei o que vai acontecer desde que você disse as palavras “comida” e “beco”.
— Sabe mesmo?
Sim, muito clichê, não acha? Deixe-me adivinhar, vou encontrar uma criança faminta que se perdeu. E ela vai ter um cara estranho tentando pegá-la. Algo tipo isso?
— Você está corretíssimo. Incrível!
Então a criança vai acabar sendo neta do líder da Guilda dos Armadores ou algo parecido, certo?
— Heh heh heh. Vamos deixar a surpresa para amanhã.
Que surpresa? Não houve uma única surpresa agradável durante todo esse tempo. Além disso, cara! Mas que inferno? Já se passou um ano desde que você fez isso. Até pensei que nunca mais veria sua cara!
— Ah, veja, da última vez meu conselho não funcionou tão bem para você, não foi? Então foi um pouco difícil para eu aparecer de novo.
Huh! Então, no final das contas, parece que o Deus Homem tem um pouco de vergonha na cara. Mas não tenha a ideia errada, entendeu? Da última vez fui eu quem errou. Dito isso, o que eu devia ter feito?
— Bem, se você quiser usar o termo “correto”, então isso depende de você. A escolha “normal” teria sido transformar aquele grupo em guardas, assim solidificando sua amizade com Ruijerd.
O quê? Você está me dizendo que a solução era tão simples?
— Isso mesmo. Nunca imaginei que você os tornaria seus aliados e ganharia a atenção daqueles malandrinhos coniventes da Guilda dos Aventureiros. Foi bem divertido de se assistir.
Que seja, eu não me diverti nem um pouco.
— Mas, graças a isso, você conseguiu chegar tão longe em só um ano.
Então está dizendo que os fins justificam os meios?
— A única coisa que importa são os resultados.
Tch, não gosto disso.
— Não gosta, eh? Bem, aí é com você. De qualquer forma, você parece estar de mau humor, então vou embora.
Espera aí! Há uma coisa que quero confirmar.
— E o que é?
Se eu não preciso pensar muito sobre o conselho que você me deu, isso significa que as coisas vão correr bem?
— Eu vou achar mais divertido se você pensar bastante nisso.
Aha, então é isso! Esse é o seu jogo. Agora entendi. Valeu pela dica. Da próxima vez você não vai se divertir tanto.
— Heh heh. Aguardo ansiosamente por isso.
Tá, tá, tá. É claro que aguarda.
Minha consciência se desvaneceu quando essas palavras finais ecoaram em minha cabeça.
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