Fogo está em meu coração. Ele queima lá no fundo.
Sei que esse fogo conecta nós todos.
-Capitão Jashan son Peine I-
— Sim, sim, isso mesmo. Não estou satisfeito com a forma que as coisas estão rolando na Fronteira. — declaro, esfregando minha barriga, mesmo que não doa. Enquanto falo, um cavalheiro de bigode assente alegremente.
— Sou o capitão das terras nortenhas. Pode não se comparar com o Exército da Fronteira, mas minha autoridade, pelo menos, é igual a de um Ministro de Guerra nomeado recentemente. Então por que diabos fui estacionado em um pelotão de infantaria? Estão querendo dizer que sou um peão dispensável, sequer digno de um cavalo? E o que é esse negócio de vice-capitão? Meu oficial comandante é um sacerdote? Eles querem que eu morra?
Roncos de concordâncias ecoam, mas nenhum deles entende de verdade. Quando se quer acreditar em algo, parece o mais doce néctar, mas é em doce a melhor forma de esconder veneno. Antigamente, ainda no seminário, costumávamos misturar laxantes com chá doce.
— Os suprimentos e reforços pedidos do forte também são suspeitos. — continuo. — Excessivos demais. Podia-se estar em uma liga com mercadores relacionados a algum esquema de fraude. Também tem os Willows… eles tratam a cavalaria como seus soldados pessoais. Podem estar armando algum tipo de golpe de estado. — Ao ouvirem o nome “Willow”, alguns inclinaram-se para frente. Isso significa que fui capaz de reduzir minhas suspeitas a um dos nobres conservativos. Vamos reduzir o tamanho da rede. — Essa hierarquia não faz sentido.
Oh, parece que acertei em cheio. Já consegui informações o suficiente agora, então é hora de terminar.
— Não concorda? Poder deveria seguir a tradição e costumes para que seja usado de maneira adequada. Meu único temor é que essa recusa de convidar pessoal apropriado da capital signifique que há algo podre no meio.
Mostro um sorriso e inclino a cabeça. Sim, sim, obrigado pela preocupação. Venha de novo. Na próxima, entretanto, suspeito que haverá uma bela discussão, pois, para os vários lordes e nobres podres da capital, escolher um representante é a mesma coisa que abrir mão da autoridade.
Agora, a próxima coisa na minha agenda é… beber água, eu acho. Toco o sino para a serva
Obrigado pelo jarro, senhorita. Irei me certificar de aumentar o seu salário generosamente. Afinal de contas, ela não só está atendendo às necessidades dos outros, mas também me ajuda a obter informações secretas.
— Boaaa! Até que enfim foram embora. Será que podemos chamar isso de uma visita a alguém doente? Não me faça rir. Os dignitários da capital parecem não ter ideia do que está ocorrendo debaixo do nariz deles… não entendem a realidade da Fronteira. — reclamo.
Acho difícil enganar alguém que perdeu toda a família, entretanto.
— Eles deveriam mandar as moedas e os suprimentos de uma vez. Já temos os soldados. Meus amigos do forte vieram, afinal.
Mas acho que não há outra escolha, já que meu espião é um anti-elfo. Esses são os tipos que criam rancores contra a sociedade.
— Para ser honesto, odeio suas orelhas longas e rostos branquelos. Quem eles acham que são para ficarem andando por aqui? Alguém deveria incendiar a área do portão norte e dar um jeito nisso.
Viu só? Sou uma pessoa conveniente, por isso peço para que deixe seus destruidores planos radicais em espera até que eu dê um jeito.
Tem a minha simpatia, é claro. A traição no portão norte… A família deles foi morta pelos elfos. Deve doer. Consigo apenas imaginar o sofrimento. É provável que odeiem qualquer um que pareça um mínimo sequer feliz.
— Oh, eu também os odeio. Mas seus medicamentos, pelo menos, são os melhores. Curam com extrema velocidade. — respondo. Eu simpatizo, mas… isso é uma guerra. Não é algo tão simples que pode ser resolvido com pura raiva. Nem somos fortes o suficiente para acabar com os elfos e vampiros ao mesmo tempo. Devemos utilizar o que nos está disponível com a maior eficiência possível. Qualquer um burro o suficiente para dizer que não se importam com as nossas circunstâncias não passam de um fardo. Que azar, de fato.
Então, qual é, peguem essa informação e recuem, por favor.
Agora, o que temos… Oh? Veja só quem está aqui.
— E aí, cara do forte. Vejo que ainda te colocam para fazer o trabalho sujo.
— Meus cumprimentos, jovem Willow. Sorrio com meu rosto, mas choro com meu coração. — Bela hora. Assim como eu havia planejado. Esse jovem cavaleiro pode parecer durão, mas tem bastante consideração. Deve ser por causa da sua boa criação. — Prefiro estar ocupado com simulações militares e negociações. É irritante demais.
— Oh, engraçado. O que há de tão bom em amarrar curativos em algo que não precisa?
— Qualquer situação pode ser aproveitada, dependendo dos seus planos.
— Quer dizer que está passando medicamentos falsos? Isso não fica chato?
— Ah, você não entende. Pode ser bastante… estimulante ter uma dama fazendo ataduras em você.
— Bem, se você está gostando…
Estou preocupado, mesmo que esteja dizendo que está tudo bem. É verdade que sou o único sobrevivente de uma cavalaria de trezentos que foi trazida do forte, mas isso não significa que desejo morrer. Tenho muito a fazer primeiro.
— Então, trouxe o que pedi? — pergunto.
— Aqui. Tome cuidado com a forma que maneja isso.
Escondido em um cesto de frutas, vinho e carne seca estão bombas de fogo e um recipiente de ignição.
— Uou, uou… está pesado.
— Pode ir em frente e preenchê-los de mana, só não os acenda sem querer. O alcance e poder de fogo é de difícil compreensão, a não ser que tenha os visto pessoalmente.
— Sim, tomarei cuidado. O trabalho de produção em massa está indo bem?
— Tudo tranquilo. O povo da Expansão Infernal está começando a fabricá-los.
— Oh, é ótimo ouvir isso. Colocados cuidadosamente em caixas e entregues aqui… não tem como alguém acreditar nisso.
— Ugh, esse sorriso animado. Não é de admirar que você e o sacerdote se dão bem.
— Eu também me dou bem como seu irmão mais novo. Ele leu um dos seus poemas para mim um tempo atrás.
— Marius… eu preferia que não o tivesse feito, porém entendo. Vocês dois parecem ser iguais.
— Talvez um outro irmão devesse recitar poesia. Até mesmo uma dança de espada seria boa.
— Uma dança de espada? Isso é mais coisa do Agias.
— Sou um adepto das palmas com o ritmo. Vai lá, comece.
— Sem chance. Quer que eu execute uma dança de espada para que se recupere? Está maluco?
Acho que seria divertido. Essa conversa é agradável, entretanto. Depois da partida do jovem Willow, ainda continuo sorrindo. Algo mais refrescante melhora o humor. Engulo a carne seca e giro o vinho, então pratico a minha magia.
Fecho os olhos. Focando minha mente, busco as profundezas da escuridão. Não há nada a se temer. Preto é a cor de Lady Kuroi. Lá no fundo, sinto traços de vermelho. É pequeno, mas queima com um vermelho quente, esperando pelo momento de entrar em ignição.
Lady Kuroi é fogo. Desde aquele dia, esteve dentro de mim também. E meus homens — os homens que eu trouxe comigo do forte também estão lá agora. Quando a hora chegar, irei me apressar para juntar-me a eles sob a graça da Lady Kuroi. Bom, muito bom. Que trabalho maravilhosamente adorável.
Aguardem. Hei de juntar-me a vocês, e não será apenas eu. Muitas pessoas serão transformadas em chamas. Não sabemos quantas conflagrações queimarão. Esse é o tamanho da guerra em que estamos. As chamas rugirão com as almas das pessoas mortas pela guerra.
Não permitirei que o ódio seja tudo. Se tudo acabar como simples rancores reprimidos, não será nem um pouco divertido. Por que se incomodar em existir, caso isso aconteça? Seria mais fácil morrer de uma vez. Isso sim é deprimente. Quero dizer adeus a esse mundo com um grande sorriso no rosto.
Esperança. Precisamos de esperança. Pode-se morrer com orgulho quando se há esperança, independentemente se ela foi passada adiante ou não. Certo, homens? Estou certo, não estou? Falhei em morrer, mas é assim que me sinto. A esperança de vocês brilha esplendorosamente, mesmo agora. Como sobrevivente, devo executar o meu trabalho com perfeição e transformá-la em algo palpável. Tenho que fazer algum tipo de progresso.
Em minha mente, esperança não brilha de maneira periódica no céu; isso não seria algo que se pode alcançar com suas mãos. Não importa quão longe esteja, deve existir em algum lugar, neste continente.
Ela existe. Tem que existir. Lady Kuroi lidera o caminho, por isso tenho certeza de que existe.
— Cara do forte!
Oh, o jovem Willow voltou. Merda, não consegui me focar na minha magia. Culpo vocês, meus homens. Por que ficaram tão bons em ouvirem de repente?
— O que foi, jovem Willow? Suas penas parecem eriçadas.
— Venha para a igreja, agora mesmo! Continue fingindo que está ferido, não me importo! Vou te colocar em uma carroça!
— Ora, ora… o que aconteceu?
Com um governo próprio, estivemos tendo reuniões no escritório da igreja. Apenas os líderes principais são convidados. Nossas discussões são focadas, principalmente, em assuntos de extrema pressão. Entretanto, minha rede de informações não soube de nada que poderia causar essa reação. Em outras palavras, não é uma ameaça interna. E o povo anti-elfo não parece estranho, nem suspeito, por isso não tem como ser eles. Isso quer dizer…
— Os vampiros!
Sim, os vampiros. Entretanto, isso é repentino demais. E ele veio galopando em seu cavalo mais veloz. Seja o que for que tenha acontecido, foi o suficiente para fazer com que até um homem Willow entrasse em pânico.
— Eles fizeram uma última declaração de guerra! Vão eliminar os elfos e humanos juntos!
Ah, entendo. Entendo… ouviram isso, homens? Invoquem o orgulho que têm. Nossos esforços na última batalha tiveram resultados avassaladores. Essa terra enfim foi reconhecida como um grande campo de batalha entre três tribos. Nós, humanos, estamos no jogo agora.
Aqui é onde começa. Sim, tudo começa agora. Neste exato momento, estamos de fato no caminho em direção à esperança. Tudo o que nos falta é trabalhar duro em busca do nosso objetivo, mesmo que isso signifique a morte.
— Ótimo! Agora vamos, jovem Willow! Faça com que essa carroça voe!
— Pode deixar! Segure-se firme!
— Ora, quanto entusiasmo. Gostei!
Homens, espero que estejam animados. Nós logo deveremos enfrentar uma grande batalha juntos. Logo deveremos queimar como o maior dos incêndios.
Tradução: Taiyo
Revisão: Midnight
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