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Outer Ragna Outer Ragna – Vol 01 – Capítulo 19 – O Sacerdote Proclama as Bênçãos de Boa Fortuna do Deus dos Humanos e Fica em Silêncio Depois

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O sol nascente é semelhante ao poder de Deus.

Apenas banho-me na luz do alvorecer, pois não me atrevo a mantê-la apenas para mim.


-Padre Felipo IV-

 

As orações da manhã terminaram. A fumaça do meio-dia vinda das cozinhas faz crescer meu apetite. Sozinho, estou sentado em meu escritório. Em outras palavras, tenho rédea livre neste lugar.

— … Portanto, corajosamente expulsamos a aterrorizante incursão de vampiros! Oh, que vexatório! Eu, um pobre sacerdote, não posso fazer jus àquela batalha divina! Foi uma cena para as eras… Não, até mesmo para o próprio livro sagrado!

Aqui é onde eu fecharei meus olhos com força e tremerei enquanto sou tomado pela emoção. Hehehe. Sequer preciso abrir minhas pálpebras; as puxadas de fôlego e anotações velozes são o suficiente para me mostrar quão efetivo estou sendo. Agora, baixo o tom e me aproximo, como se contasse um segredo.

— E os elfos, por este motivo, ficaram tão maravilhados que nos presentearam com seus remédios secretos e madeiras aromáticas. Incrível, não acham? E, por ser um segredo militar, não posso compartilhar nenhum detalhe, mas a princesa élfica… Perdão, Sua Alteza, a Princesa Élfica, está aqui.

A princesa élfica. Um termo tão aterrorizante e raro. É correto afirmar que irá capturar os corações das massas. Talvez eu não possa dizer a verdade, mas não é problema algum. Na realidade, mentiras plausíveis se adequam muito mais ao meu propósito. Desta forma, minhas palavras podem montar nos ventos do desejo e se tornarem exageradas com maior facilidade. Perfeito.

— Uma perspectiva teológica? Isso não posso lhes contar. Como aquele que está no comando da igreja desta terra, mandei a informação para a igreja principal, embora parecesse deveras impetuoso. Imagino que o Cardeal irá fazer uma proclamação oficial, sem dúvidas… Oh, que proclamação gloriosa e sonhadora será esta. — E, com isso, deixo o resto para você.

Hm. Contemplo o tamanho do artigo do jornal, então decido que é hora de arrumar as coisas. Para o final, irei banhá-lo com os itens que devem ser enfatizados.

— Perdoe minhas reflexões devaneadoras… Depois de pensar com maior cuidado, talvez seja a bravura da humanidade que deva ser elogiada. Em outras palavras… — Levanto-me e proclamo alegre e orgulhosamente. — Odysson, feiticeiro da fronteira, aquele que disparou as místicas bolas de fogo para proteger os plebeus às suas costas! Um herói valente! Agias Willow, Capitão Representante do Exército da Fronteira, aquele que desafiou os terríveis inimigos com apenas a sua cavalaria armada! Nosso venerável líder! E eu, Padre Felipo, aquele que bravamente pegou a lança quando o campanário[1] desabou! — Na verdade, eu nem fiz nada, mas gostaria de um pouco de dinheiro para reconstruir o campanário.

Acabei de notar que esse repórter não trouxe consigo um artista. Por quê? Com nada além da palavra escrita para detalhar nossos feitos, sou forçado a continuar meu discurso. Vou te falar, hein?

— E, para não esquecermos, o mais fantástico entre tudo e todos naquele campo de batalha foi a Lebre da Chama, Lady Kuroi. — Troco para um tom silencioso para que minhas palavras possam, secretamente, entrar na mente dele com doçura. — A onda gigantesca de monstros, a magia dos elfos, a força monstruosa dos vampiros… Todos os desastres que ameaçaram nos aniquilar foram destruídos por ela. De fato, é como um milagre de Deus. — Será que o ouvi engolir em seco? Ótimo. Agora a sua fascinação o levará a anotar essa história de maneira admirável. Sim, a saída fica naquela direção.

O que foi agora… Oh? Se não é Odysson na entrada. Ele parece ter comido algo de sabor azedo. E logo depois de eu o ter enaltecido como nosso herói.

— Qual é o problema? Por que está aí, parado?

— E-Eu sei que é necessário, mas… droga, você realmente move a língua como um idiota.

— Os sermões de um sacerdote são mágicos, afinal.

— Oh, sério? Não é de admirar!

— Eu estava brincando. Então, me passe o relatório, Sir Feiticeiro da Fronteira. — Agora ele parece ter comido algo amargo. Tamanha é a sua riqueza de expressões.

— Primeiro…, a dissecação dos corpos dos monstros e a produção de medicamentos a partir deles está indo muito bem. As pessoas estão animadas, mas eu acho que a maior ajuda tem sido a chegada do especialista.

— Aquele da Guilda dos Feiticeiros? Pensei que fossem todos exclusivos.

— E são. Mas os aventureiros têm a mente muito aberta quando se trata de dissecações. Quanto à manufatura, conheço um cara que conseguiu abrir um boticário.

— Entendo. Então esse é o segredo da sua magia catalisadora.

— Basicamente. Seja para consertar ou quebrar, tudo se baseia no consumo. — Odysson dá de ombros, e percebo uma varinha estranha na sua cintura. A julgar pela sujeira que suas roupas estão, deve ser um produto completo. — Hmm? Oh, essa é a varinha de cinzas finalizada. É feita de um galho de hamamélia[2]. É bastante densa, por isso pode-se lançar até seis feitiços com apenas uma.

— Isso é maravilhoso. E você pode produzi-las em grande escala?

— Contanto que eu tenha controle total de todo o carvão, posso produzir uma montanha delas.

— Vamos fazer algo mais dedicado. Essa situação requer um forno mais moderno.

— Sim, há mais pessoas agora… apesar do perigo que a área ainda representa.

Apesar do seu tom, ele sorri. Hehehe. Posso entender. Foi um erro de cálculo feliz da minha parte ver quantas pessoas preencheram a Fronteira em tão pouco tempo. Foram atraídas para cá, mesmo com as dificuldades que lhes aguardavam… A esperança é um néctar doce e pungente. As pessoas arriscarão a vida por algo apenas para ver com os próprios olhos.

— Então, hã, sobre as pessoas e o treinamento necessário para o Exército Incendiário…

Hm. Essa expressão é bastante difícil de descrever. Tenho certeza de que ele não está constipado.

— Independentemente do resultado, está tudo bem. Os reforços planejados do forte irão incluir o suficiente para os feiticeiros militares e Exército Incendiário. Em uma emergência, podemos pedir aos aventureiros. Por enquanto, se você puder continuar seus testes de aptidão…

— Uma centena, não era? O número que você queria.

— Sim. Se pudermos conseguir essa quantia, podemos mobilizá-los como um pelotão. Entretanto, a força principal do exército é a sua cavalaria. Um exército de feiticeiros não passa de um sonho e um ideal.

— Trezentos e sessenta e seis.

— … Como é?

— Eu disse trezentos e sessenta e seis. Das pessoas que testei, mais da metade mostrou aptidão. Normalmente, teríamos sorte em encontrar um a cada cem.

— Isso é, hmmm…

— Bem, quando realmente começarem a lançar feitiços, vamos conseguir separar o trigo do joio. Reservatórios de mana, controle… há muitas variáveis. Mas todas podem disparar fogo pela ponta dos dedos. Dependendo do treinamento que tiverem, crescerão. — Que tipo de expressão estou fazendo agora? Vou me certificar de manter a boca fechada por enquanto, por isso ergo o queixo com a mão.

— A propósito, todos os militares passaram. Uma taxa de sucesso de cem por cento, por assim dizer.

Estou sem palavras. Mal consigo imaginar. Alguém acabou de entrar? Oh, o repórter de antes. Talvez tenha se esquecido de algo. Ele assumiu uma postura decente. Não o culpo, pois acabou de se deparar com dois homens adultos se encarando na luta para encontrar palavras e expressões. Tusso e, de certa forma, consigo recobrar um pouco da compostura. Afinal de contas, esse é o meu palco.

— Chame Lorde Willow. Isso requer uma reunião de emergência. — Minha nossa, quanto tempo faz desde a última vez que a minha voz ficou tão rouca de emoção? — Dependendo de como as coisas se desenrolarem, nossas táticas de batalha precisarão ser alteradas. — Deus. Ó Deus. Que Sua influência seja temida.

Isso me faz lembrar de como Lorde Willow mencionou que suas habilidades com a espada melhoraram após receber uma benção. O seu cavalo também adquiriu passadas mais firmes. Parando para pensar, não fiquei mais sem fôlego. Apenas usei da minha euforia para superar minha exaustão.

— Entre em contato com a Guilda de Feiticeiros, também. Ainda se lembra pelo que passamos?

— Sim, de fato. Essa poderia ser uma boa chance a ser abraçada.

— Mm. Não precisa mais perder tempo.

O tempo nessa terra destinada tem se movido a uma velocidade incrível. Primeiro as batalhas seguidas, agora a junção de pessoas… vários desejos estão voando a altas velocidades, criando uma ondulação. Esse lugar é o hipocentro[3] do abalo da nossa era. E, portanto, pessoas que talvez não desejamos ver podem ainda vir. Sim, de fato.

— Oh, vocês dois estão aqui? Ótimo.

Bem, não é raro, Irritação toma conta do seu rosto. Normalmente ele é tão calmo e composto, mas sinto uma luta interna nele.

— Sei que é repentino, mas preciso de duzentos cavaleiros para um exercício de treinamento. Estaremos de volta em três dias. Você ficará no comando enquanto eu estiver fora. — O tom dele é bastante sério. Ora, ora.

— E… Espere, Capitão! De onde saiu isso?

— Devo esmagá-los, ou isso nunca terá fim… para nenhum de nós.

— Uh… quem?

— Meus irmãos mais novos. Eles acabaram de chegar.

— V… Você vai usar duzentos cavaleiros por causa da rivalidade com seus irmãos?

— Eles têm mil. Estaremos usando lanças de prática, então ninguém vai morrer.

Mas as pessoas irão se ferir, pelo que parece. E que rápido que ele anda! Tenho que dar corridinhas para acompanhar. Oh, tem um cavaleiro na frente da igreja. Não reconheço aquele jovem.

— Aí está você. Esse é o meu irmão, de fato. Se ele for morrer, será em cima de um cavalo.

— Silêncio.

— Não. Aqueles que perseguem uma mulher em grupo enquanto dançam não passam de pervertidos. Me recuso a escutar uma pessoa como essa.

— Então, no campo de batalha, teremos o nosso acerto de contas.

— Sim, é exatamente isso o que quero. Em nome da Casa Willow, punirei esse grupo de pervertidos.

Entendo. Sim, entendo. Agora entendo tudo.

Observo os cavalos trotando nobremente na distância enquanto uma nuvem de poeira se ergue, então me movo para uma nova tarefa. Não há nada que possa ser feito em uma situação inesperada como essa.

— Talvez devêssemos parar os soldados de se juntarem nas atividades estranhas de Kuroi. Todos aqueles saltos e deslizamentos de um lado para o outro é nojento.

Você pede o impossível. Uma vez que Lorde Willow decidiu algo, ele não volta atrás.

Tive apenas um pensamento.

Não vi nada. Não ouvi nada. É assim que funciona. Portanto, voltarei ao meu trabalho. Não, não me pare!

 


Notas:

1 – Torre de sinos; torre de igreja onde estão os sinos.

2 – É uma árvore que pode chegar até 5 metros de altura, ela era essencial para os boticários. Ajuda na recuperação de dor de garganta, queimaduras e prisão de ventre.

3 – Ponto no interior da crosta terrestre onde se origina um terremoto, onde este tem o seu foco. 


 

Tradução: Taiyo

Revisão: Midnight

 

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