Deus descendeu,
Atrás de mim,
Observas o campo de batalha e meus inimigos,
E me dá as ordens perfeitas.
-Padre Felipo I-
Deus está morto. Ou se foi. Ou talvez nunca tenha existido, para começo de conversa.
Mesmo que aceite que há vestígios da história humana que podem ser confundidos com milagres, são resultados de duros esforços e trabalhos dos nossos ancestrais, certamente não são trabalhos divinos de Deus. A realidade humana é um caminho de sofrimento sem salvador à vista. Mesmo assim, com isso em mente, ainda continuou exercendo a função de sacerdote.
Mas o que é isso que vejo diante de mim? Essa garota de cabelos negros lutando. Tamanha força; tamanha velocidade. Em um piscar de olhos, acabou com três goblins. Com um pedaço de pano rasgado na mão esquerda, os distrai, dança ao redor de suas vítimas e, então, esmaga-os com o machado que tem em sua mão direita. Ratos venenosos e coelhos-espada caem em seus estratagemas antes de terem a cabeça arrancada por ela.
Tamanha inteligência. Tamanha habilidade maravilhosa. Essa garota supera os limites da humanidade. Em termos de força física e domínio do corpo humano, talvez alguns cavaleiros podem se igualar, todavia, não lutariam como ela. Não, sem chance alguma.
Veja! A forma com que se esquivou do golpe daquela garra. É como se tivesse olhos na nuca. Meu deus, ela pode prever o futuro? Acabou de pular para trás, como se tivesse previsto o ataque surpresa!
Então, tomou a ofensiva. Com a mínima quantidade de esforço, infligiu uma enorme quantidade de dano. Cada manejo do seu machado encontra um pescoço. Cabeças e mais cabeças rolam, sem um grito de guerra sequer.
É como se ela estivesse possuída por Deus. Uma humana vitoriosa em batalha? Uma história dessas só se ouvia em sonhos.
— O que é isso, sacerdote? Você viu a bandeira dos reforços?
— Como é, Lorde Willow!? — Esqueci completamente da desculpa que inventei para subir a torre do sino. Não conseguia aguentar ver a cena [1]erma e patética que a minha igreja, agora transformada em um centro de evacuação, tinha se tornado. Então, mais uma vez, considerando a distância entre nós e o forte, não havia possibilidade alguma de reforços chegarem a tempo.
— Infelizmente, não vejo nuvens de poeira que possam ser sinal da aproximação de cavalos.
— Entendo… E quanto aos sobreviventes?
— A julgar pela forma que os monstros se voltaram a lutas internas, acredito que os campos e bosques são uma causa perdida. Se alguém estiver por lá, diria que estão na ala administrativa ou nos depósitos de armazenamento.
— A ala administrativa foi atacada por um troll. Não há salvação para eles. — Em outras palavras, se tornaram uma isca para atrair os monstros e, desta forma, conseguimos sobreviver. As características bem definidas do meu lorde ficaram sombrias com o pensamento. Devia ser uma decisão enorme para se fazer. Que posição terrível para se estar. Ele só estava ali para fugir da batalha pela sucessão entre a sua famosa família militar, afinal. Esse era um abandono dos seus direitos legais, uma deserção da sua vida ortodoxa. E, mesmo assim, as expectativas por causa do nome da sua família e habilidades o assombravam sem parar. Quão insignificante e nobre um homem com mais obrigações do que direitos.
A oposição é apenas um saco de podridão. Muitas pessoas desse tipo decoravam o palácio real, tanto no passado como no presente. Todos eles eram e continuarão sendo submergidos em um sentimento presunçoso.
— Sacerdote, quanto tempo irá durar o círculo de proteção que construiu?
— Até amanhã de manhã, no melhor dos casos. O fedor é forte demais.
— Entendo… Então devemos fugir antes que amanheça. Criarei uma rota de fuga para nós. Você liderará os cidadãos e feridos.
— Meu Lorde, não posso.
— Peço perdão, mas insisto.
— Não, parece que estamos salvos. — Ele me mostrou um olhar confuso, e não o culpei por isso. A sua boca e olhos se abriram de uma maneira ligeiramente tola. Como poderia reagir a algo ainda mais inesperado? — Por favor, veja por si mesmo. É um milagre.
Oh, a mão que estou usando para apontar está tremendo. Que vergonha mais hilária. Um sacerdote inútil como eu, que nunca ofereceu uma reza durante toda sua vida, agora foi atingido pela fé. Estou até mesmo chorando! Sou como um garotinho. Eu, Felipo Valkie Milennium!
Mas, mesmo assim… Minha nossa, que lindo é o jogo da morte daquela garota, sua dança para destruir todo o mal. Ela mata os monstros com graça, banindo os pesadelos com cada giro do seu cabelo negro. Brilhos da lâmina branca atingem os demônios, cintilantemente esmagando o desespero da humanidade.
— Ah, aquela garota? A de cabelo preto?
— Você a conhece? De onde é?
— Desconheço os detalhes. Conversamos apenas uma vez.
— Sabe o seu nome, pelo menos?
— Kuroi.
Maravilhoso. Até mesmo o som deste nome enche de exaltação.
— Oh, não! Ela perdeu sua arma! Devemos ajudar…
— Acho que não precisa se preocupar, meu Lorde.
— Minha nossa! — Ela olha para o machado preso no cadáver de um sherboa, sem sinais de pânico ou remorso. O tecido na sua mão esquerda move-se e, na direita, uma machadinha aparece. Ela cliva pelo enxame de ratos venenosos e se prepara para o próximo assassinato. Um macaco louco rouba seu pano, mas isso não a abala. Ela se virou, e uma lança curta surge na mão esquerda. Não faço ideia alguma de quando a pegou, mas ela instantaneamente enfiou-a em seu oponente, girando-a em seguida e acabando com a vida do monstro que rastejava por cima dos destroços. Depois, uma adaga é segurada em reverso, e ela corre para cima de um coelho-espada.
Isso deve ser magia, magia que produz armas do nada. Não tem relação alguma com os elementos clássicos como: fogo, água, vento, terra e trovão. É a prova de que essa garota é especial. Evidência clara e inegável de que é um ser escolhido.
Ha!
Isso significa que existe um ser que a ama acima dos outros e garantiu-lhe seu favoritismo.
Heh heh… Quanta sorte. Sim, que sorte! A existência de Deus foi provada diante dos meus próprios olhos! Que poder de persuasão brilhante!
-Transmissão de DDR, Parte 4-
Hmm… Hmmmm? Humanos podem usar Lâmina Permitida? Eu compreenderia se fosse um elfo ou vampiro, mas… é uma habilidade de classe bastante rara. É um evento secreto? Uou, esqueci do chat enquanto transmitia! Péssimo streamer que sou, péssimo mesmo! Só fazer uma pose galanteadora (sem nunca mostrar o rosto, é claro)!
Enfim.
Então Kuroi pode usar magia, hein? Essa é uma virada de jogo bastante bizarra. Aprender magia em DDR não é algo fácil e os seus usos são extremamente limitados. Para humanos, ainda por cima, é um esforço masoquista.
Primeiro há o fato de que cada elemento que você pode usar é restrito para cada raça. Elfos usam água e vento, enquanto vampiros usam terra e trovão. Por algum motivo, humanos estão limitados a apenas magia de fogo. E não só isso, pois o equilíbrio também é completamente sem sentido. Se focar apenas em magia ofensiva, humanos ficam presos entre duas paredes intransponíveis conhecidas como elfos e vampiros. Humanos também deveriam ser o segundo lugar quando se trata de magia.
O motivo para isso é a existência dos “Deuses Guardiões”. Toda a magia é um dom dado por eles no mundo de DDR. Para os elfos, é o Deus Dragão, e, para os vampiros, o Deus Demoníaco. Cada raça é abençoada com poderes divinos e sagrados. Entretanto, humanos não possuem um Deus Guardião. Por que uma coisa dessas?
É por esse motivo que a magia deles é tão fraca, pois não recebem ajuda de animais familiares, adoecem com facilidade e têm vidas curtas, geralmente. Neste mundo, humanos são reduzidos para uma raça depressivamente fraca. Pois é, isso é DDR.
Mas também não quer dizer que jogar como elfo ou como vampiro é moleza. Eles têm suas próprias dificuldades. Por exemplo: é realmente complicado agradar um Deus Guardião. Sério mesmo. Não só são irracionais como também fazem seus seguidores cumprirem tarefas sem recompensa alguma, os mandam em missões sem preparação, demandam tributos misteriosos… e assim a lista vai longe. E, apesar disso tudo, o poder das suas bençãos não é estável, por isso é algo estressante às vezes. Sem contar que, caso consiga irritar um deles, vão te amaldiçoar ao esquecimento. Às vezes, até mesmo vêm ao plano mortal para matar seus transgressores pessoalmente.
Se lembram da presa gigante do sherboa que dropou para mim? Eu estava planejando oferecê-la ao Deus Demoníaco, na verdade. O plano era me aliar com os vampiros e me aproveitar um pouco das suas bênçãos. Eu realmente queria magia de trovão. Nunca imaginei que a benção se materializaria como Magia de Permissão, no entanto. Esse tipo de magia é realmente raro.
Que deus aceitou essa presa como oferenda, então? Pular o ritual e materializar seu poder por vontade própria é muito a cara do Deus Demoníaco pra mim. É o pico da loucura. O Deus Dragão já gosta mais da ordem e de rituais… Hein? O que quer dizer com Deus Diabólico? Cara, nunca vi algo assim na wiki. Uou! Será que deveria começar um thread para investigar isso? Oh, mas a minha política é de não procurar por informações enquanto estou transmitindo…!
Notas:
1 – Erma: um lugar sem habitantes; deserto descampado⇧
Tradução: Taiyo
Revisão: Midnight
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