Dor, Dor, Vá Embora – Cap. 11 – Posfácio

Há muitos buracos para se cair por aqui. Foi assim que eu, pelo menos, vim a ver o mundo.

Buracos pequenos, buracos grandes, buracos rasos, buracos fundos, buracos facilmente visíveis, buracos difíceis de se ver, buracos em que ninguém ainda havia caído, buracos em que muitos haviam caído.

Na verdade, existe uma enorme variedade. Pensar em cada um deles me deixava muito inquieto para dar um único passo.

Quando eu era jovem, gostava de histórias que me deixavam esquecer os buracos. E não apenas eu, mas todos pareciam gostar de escrever histórias que descreviam um mundo seguro, onde todos os buracos eram cobertos por alguma coisa. Podemos chamar isso de “histórias esterilizadas”. É claro que os protagonistas não têm apenas coisas boas acontecendo com eles e, na verdade, passam por uma quantidade de sofrimento e privações acima da média.

Mas, no final das contas, tudo isso os ajuda a amadurecer e lhes dá uma sensação reconfortante de que “as pessoas podem aceitar qualquer coisa e viver”. É assim que essas histórias funcionam.

Acho que também não queremos induzir tristeza em nossa ficção.

Mas, um dia, de repente, percebi que eu estava em um buraco escuro. Caí da forma mais irracional, sem qualquer aviso prévio. Era um buraco extremamente pequeno e difícil de se ver, então eu não poderia esperar a ajuda de outras pessoas.

Ainda assim, felizmente, o buraco não era profundo o suficiente para que eu não pudesse rastejar para fora, então, após um longo período de tempo, consegui sair com minhas próprias forças.

Uma vez de volta à superfície, me aquecendo no sol quente e no vento limpo novamente, pensei: Não importa o quão cuidadosas as pessoas sejam, nunca sabem quando irão cair em uma armadilha. É assim que funciona o nosso mundo.

E talvez o próximo buraco em que eu caísse seria mais profundo. Profundo o suficiente para que eu nunca mais conseguisse escapar. O que, nesse caso, devo fazer?

Depois disso, parei de ler aquelas “histórias que tapam os buracos” que descrevi anteriormente. Em vez disso, passei a preferir histórias que retratam “pessoas se dando bem em buracos”.

Porque eu pensei: Quero ouvir a história da pessoa que, em um buraco escuro, profundo, estreito e frio, pode sorrir sem estar mentindo. Para mim, pode não haver nada mais consolador do que isso.

“Dor, Dor, Vá Embora” foi a história de pessoas que caíram em um buraco do qual nunca mais poderiam escapar. No entanto, escrevi com a intenção de não ser uma história puramente sombria, mas até mesmo alegre. Pode até não parecer, mas é. É isso.

– Sugaru Miaki