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Outer Ragna Outer Ragna – Vol 01 – Capítulo 00 – Prólogo

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A vida é uma merda, por isso me atiro em jogos de extrema dificuldade. Essa é a minha vida.

Talvez seja uma reação um tanto exagerada?

— Oh, garotinha, pensativa de novo, é?

Tive um sonho onde eu era uma garota marcada por batalhas, a qual estava sendo abraçada por uma senhora cheia de rugas. O que você tira disso? Freud teria um dia de campo, aposto.

— Está tudo bem. Todo mundo falha; todo mundo sente vergonha. Há tantos arrependimentos no mundo quanto estrelas no céu. É assim que funciona.

Era, na realidade, um sonho deveras calmante. Talvez eu estivesse lidando com muito estresse acumulado. Fazia tempo que não tirava uma folga de verdade. O trem para o trabalho estava sempre lotado como um cemitério em massa, e os seus ocupantes se batiam como zumbis. Um navio negreiro moderno.

— Está tudo bem em chorar. Todo mundo tem aqueles que os ofendem. Ninguém pode ser amado por todos, nem mesmo Deus.

Isso é verdade mesmo.

— Não se preocupe. Já estive onde você está. É o que nos torna humanos. Somos criaturas solitárias e tristes. Sozinhos, somos miseráveis.

Hmm, isso tem tudo a ver. Quero dizer, gosto de pensar que faço bem o meu trabalho, mas… a minha vida pessoal é mais isolada do que privada. Desde que eu me lembre, tenho observado os outros sendo felizes. Não sou particularmente abençoado nem amaldiçoado. Apenas… vejo muitas coisas passando por mim. Minha vida é uma neblina. Então não é de surpreender que eu acabei fazendo isso de novo.

Senhora, como se parece o seu rosto?

Tudo o que me lembro é o branco dos seus olhos, envoltos em rugas. Na escuridão, flutuavam como duas luas de inverno. Os seus lábios trêmulos pareciam tentar gritar “Abaixe-se!” ou “Fuja!”.

E, então, o clarão súbito e o rugido ensurdecedor; a onda de choque; escuridão. O resto em caos. Minhas memórias estão confusas.

Não consigo respirar.

Dói. Estou sonhando, mas dói. O que está para cima e o que está para baixo? Meu corpo está pesado. Meu corpo dói. Dói, dói, dói.

Desesperada, estendo a mão e toco algo. É duro, firme e largo. Agarro-me naquilo. Lutando contra a correnteza, subo nele. Espere, correnteza? Sim, a correnteza. Estou na água. Vou me afogar se me deixar ser levado. Vou morrer. Por isso tento freneticamente subir na árvore. Na água. Louco, né?

O tronco de árvore no qual me seguro por amor à vida é espesso. Posso ver que é uma árvore [1]ginkgo. Por algum motivo, simplesmente posso. É a grande árvore que fica nas redondezas da aldeia. Aquela que tem as folhas douradas brilhantes.

Saio pela superfície da água. Quando o faço, tiro a água dos pulmões. É a única forma de respirar, e respirar é a única forma de se manter vivo. Viver é a única coisa na minha mente agora. O meu corpo entorpecido resiste ao sofrimento e morte.

Outro som alto. O que foi isso? Foi um trovão. Longe na distância, trovões ribombam.

Eu vejo. Vejo o mundo.

O que… é isso?

Olho para um pôr do sol marrom corado no horizonte distante. Sobre mim há nuvens de chuva cinza-escuras. Abaixo está a água negra. A escuridão é rompida por relâmpagos e ondas violentas e espumadas, como se cada uma delas tentasse superar a outra.

Isso é um pesadelo. Mas mesmo para um pesadelo era doentio. O que estava acontecendo aqui? Era um absurdo imenso.

Com a respiração ainda agitada, olho ao redor. Entre as ondas, vejo algo. Há pequenas ilhas espalhadas. Alguém está lá. Imagino que vestido de preto. Segurando armas pesadas e vestindo armadura, emite um grito de guerra.

Aqueles são… vampiros. Um exército de vampiros. Olhos amarelos adornam seus rostos.

Movendo o cabelo molhado no rosto, olho para cima. Há algo entre as nuvens também. Imagino que vestidos de branco. Suas roupas leves esvoaçam ao vento enquanto eles flutuam em pleno ar.

Aqueles são elfos. Um exército élfico. Orelhas longas se estendem dos rostos brancos deles.

— Você então acha que isto é um empate apenas porque destruíra o campo de batalha? — Uma voz ecoou alta através da terra. Procuro pela origem desta. Em uma pequena ilha está um vampiro solitário. Uma garota de cabelos lisos… espere, aquele design

— Galhos secos devem voltar à terra, assim como a natureza quer! — A garota maneja o seu bastão de metal, e o som de algo cortando é acompanhado por uma luz cegante. Os meus olhos ficam deslumbrados pelas descargas elétricas. Cortes aparecem pela minha visão.

Mas ninguém é atingido. O ataque cria uma enorme onda e desaparece. As reverberações remanescentes se dispersam.

Atrás da onda está um elfo sobre a superfície da água. Um homem afeminado de cabelo roxo… espere, outro personagem!

— Um suga-sangue se atreve a falar sobre as leis da natureza? Não me faça rir. A sua própria existência joga este mundo no caos. — A sua voz soou baixa. Oh, não. Ele está planejando algo novo. Parece que inundar a aldeia não foi o suficiente.

Com sons agitados, a água começa a rodopiar. Não naturalmente; ele está controlando a água à sua vontade com seu poder.

— Afogue-se! — A água se ergue e, então, cai na forma de uma serpente, grande o suficiente para engolir um humano inteiro.

— Mera brincadeira de criança. Você é uma verdadeira piada! — A garota atinge a grande serpente com o bastão, e um clarão brilhante de luz – relâmpago – a divide ao meio. Parece familiar. Foi aquilo que jogou a senhora para longe? — Mar Profundo? Só se o mar fosse uma piscina infantil!

— Acho que ouço o grasnar de um guerreiro inexperiente que presume chamar-se de “Dourada”. — retorquiu o elfo. Os outros vampiros e elfos também começaram a ficar agitados, incitados pela garota e pelo homem afeminado – Dourada e Mar Profundo. O som de tambores irrompeu do chão, frenético, selvagem e ensurdecedor. Do céu, flautas são sopradas, irritantemente altivas e obstinadas. Um tom alegre atravessa ambos os lados. Era como se achassem estar em um festival.

— Ah ha ha ha! Morra! Venha, vou te transformar em pedaços!

— Não, muito obrigado. Por que não acelera o passo e se afoga?

Relâmpagos brilharam. Correntezas surgiram. As ondas de choque desse grande embate de magia chacoalharam a árvore gigantesca repetidamente. Folhas e galhos caíram. Com cada pulso, a árvore estalava de maneira perigosa.

É um sonho maluco. Um pesadelo impossível. Cerrando os dentes, subo o tronco da árvore por amor à minha própria vida. Minhas unhas afundam na madeira. Huh? Estou tremendo… mas não estou com frio ou assustado. O que é essa coisa quente borbulhando no fundo do meu estômago?

— Eu não… aceito isso. — As palavras saíram da minha boca em uma voz muito mais jovial do que a minha própria.

— Não aceito — continuo. Não, é a garota que está falando? Eu consigo sentir minha força diminuindo. O meu corpo não me responde. Está ficando mais difícil controlar… Espere, controlar? Estou controlando esta garota? Que tipo de sonho é esse?

Estendo a mão. Pequena e delicada. Jovem. Ela aponta direto para os exércitos agitados e para o mundo cintilante. Meu corpo está encharcado. Encho os pulmões, piso em um galho com os pés descalços e abro bem a boca.

— Eu! Não! Aceito! Este! Mundo! — Lágrimas transbordam, escorrem quentes e sem parar pela bochecha da garota, para ninguém que possa ouvi-la. Ninguém pode ouvir as palavras que ela grita para o mundo. Não há ninguém para ouvir.

Não… Isso não é verdade. Há alguém. Alguém bem aqui. Posso te ouvir. Não se preocupe, se precisa chorar tanto que dói, chore até não aguentar mais. Chore todas as lágrimas da sua vida inteira, bem aqui. Ofereça tudo o que tem aqui, onde a senhora e todos os aldeões dormem, debaixo da água.

— Sim… Sim, eu irei. — Oh! Nossas mentes se conectam.

O corpo da garota estremece de fúria.

— Ofereço meu nome; minhas memórias; meu amor; meu ódio; e tudo mais… Ofereço tudo.

Nossos olhos encontram-se. No fundo das duas pupilas extremamente escuras, chamas vermelhas e brilhantes queimam. Mas em um mundo frio como esse, não tem problema. Na realidade, é perfeito.

— Então, Deus, peço para que me dê poder. — Isso é um sonho. Tem que ser um sonho. Não é certo uma garota tão jovem pedir a Deus por poder para lutar. Uma tragédia, é isso o que é. Ninguém quer isso! Não é um jogo de dificuldade extrema para chorar alto!

Ah… eu entendo agora. Tudo fez sentido. Um mundo onde os humanos estavam na beira do desespero. O enredo. Os designs. Os personagens. A magia. Não há dúvidas, esse é um jogo de dificuldade extrema. Um que eu joguei por várias horas: Dragon Demon RPG, também chamado de DDR.

Estou tendo vontade de jogar novamente. Lembro de ter comprado a versão [2]deluxe exclusiva de download, mas nunca a instalei. O fato de eu nunca ter visto nada sobre o conteúdo pode deixar a nova jogatina mais atrativa. Pois é, vamos fazer isso. Alguns feriados vêm aí, afinal. Eu posso também fazer uma stream da minha gameplay.

Depois de acordar do meu pesadelo, você pode esperar que eu esteja um caco. Porém, ao invés disso, eu palpitava levemente devido ao fogo que queimava em meu peito.

 


Notas:

1 – Ginkgo: Árvore nativa da China, pode viver mais de 500 anos, dizem que seu extrato pode tratar a perda de memória, zumbido no ouvido e problemas circulatórios.

2 – Deluxe: Geralmente é tratado como uma versão com conteúdo especial, seja uma expansão, acessório, personagens, etc.



Tradução: Taiyo

Revisão: Midnight

 

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