A PRINCESA observou seus aposentos particulares, olhando para seu antigo quarto, já familiar. Em circunstâncias normais, seria o lugar mais seguro para ela em todo o mundo. Mas agora não estava nada feliz por estar no local. Sua cama de dossel está com um edredom macio, de seda, e cheio de bordados dourados. O papel de parede verde cobre as paredes e um tapete felpudo cheio de estrelas noturnas entrelaçadas decora o chão. Dentro de suas gavetas, estão os pincéis, fitas, grampos de cabelo e uma pequena caixa de joias que contém seus pertences mais valiosos. Armazenadas no armário, há banquetas e uma mesa com uma tigela de pot-pourri ainda inacabada. Nada mudou desde o dia que partira do castelo há um ano. Nada…
— Abra a porta!
Fora o fato de a porta de seu quarto estar firmemente trancada e não poder sair! Ela chuta a porta. BAM! BAM! Isso nem sequer dá um sinal de que vai ceder.
— Abra…
Tenta novamente. Desta vez, volta para o lado oposto do quarto, começa a correr, pula e bate na porta com tudo.
— Abra agora! — A porta acaba rangendo um pouco, mas isso é tudo. — Ooooooww…
A Princesa Lala Lilia aperta o ombro latejante e se agacha no chão. A porta que já abrira a bel-prazer agora está bem trancada e parece impossível de abrir. Frustração, tristeza e pavor misturam-se dentro dela.
— Quero ir para casa…
Quando a Princesa morava na floresta, esse lugar nostálgico sempre aparecia em seus sonhos. Mas agora entendia com clareza: “Quero ir para casa, para a nossa casa na árvore lá na floresta.”
Apesar de estar em seu próprio quarto, cercada por seus próprios pertences, não está feliz. Independentemente de sua familiaridade com o lugar, mesmo que esse lugar seja sua casa ou quarto, se não pode sair quando quer, então não é diferente de uma prisão. Na verdade, vira algo ainda pior que uma cela.
— Não vou desistir. — A Princesa Lala Lilia arrasta uma cadeira até a janela. — Isso aí! — Ela sobe nisso cheia de vigor e está prestes a fazer algo quando…
“Uma colherada de doce leite todos os dias para os pequeninos se banquetearem~♪”
Ela escuta o canto.
O canto que queria ouvir de novo; vozes que desejou poder voltar a escutar. Ela acabava ensopando seu travesseiro em muitas das noites que passava sozinha, lembrando-se de suas vozes.
“Redondinhos, redondinhos, fofos e rechonchudos Brownies~♪. Pequeninos, espíritos protetores de seu lar doce lar… ♪”
Ela sacode a cabeça antes de olhar por cima do ombro. Alguém está na frente da porta. São aqueles que desejou poder ver de novo, mesmo que fosse apenas suas sombras ou em um sonho, ou ilusão. Ali estão as duas pessoas que queria ver tanto, mas tanto, que só a sensação da perda machucava seu coração.
— Mamãe… Papai!
E eles ficam lá, parecendo até que fosse um outro dia qualquer.
Sorrindo.
— Venha aqui, Lala Lilia.
— Você deve ter se sentido só.
A Mãe segura os braços estendidos.
— Agora podemos ficar juntos para sempre.
— Ah… Ahhh… Mamãe. Mamãe…! — Com sua expressão despedaçada por tantas emoções, a Princesa corre para seus pais, tropeçando pelo caminho.
— Você deve ter se sentido só.
— Agora podemos ficar juntos para sempre.
A Princesa vacila, diminuindo a velocidade até que por fim para. A Rainha estica a mão ainda mais, convidando sua filha enquanto canta: “Mas, mas, tenha cuidado. Se esquecer do leite…♪”
A Princesa parou seus pés. A luz de sua nobre e teimosa vontade brilha em seus olhos verdes.
— Vocês não são meu pai e mãe! — grita, a força de sua voz saindo desde a boca de seu estômago. — SUMAM DAQUI!
Em um piscar de olhos, o Rei e a Rainha desaparecem em meio a sombras e se desintegram suavemente. Desaparecem muito rápido e fácil como cinzas sopradas pelo vento.
— Aww, isso não foi legal. E aqui estava eu, gentilmente reunindo uma criança com seus pais. — Uma figura esbelta avança. O cabelo dourado e descolorido cobrindo os ombros e fluindo até a cintura, e seus olhos azuis combinando com a safira perfeita que adorna seu dedo. Seu vestido azul bordado, todo cheio de pérolas, farfalha enquanto sua saia mexe.
— Megan!
Desde a primeira linha, a Princesa notou uma pequena diferença na música. Ela notou que algo estava errado. Afinal, sua Mãe lhe ensinara a canção do Povo Pequenino.
“Uma colherada de doce leite todos os dias para os pequeninos se banquetearem~♪”, cantou a sombra.
“Uma colherada de doce, doce leite todos os dias para os pequeninos se banquetearem~♪”, era o que sua mãe lhe ensinara.
“A música é diferente da que a Mamãe me ensinou”.
Se essa fosse mesmo sua Mãe e seu Pai, não teriam ficado imóveis, esperando que Lala Lilia saltasse para seus braços. Sua Mãe teria corrido até ela. Seu Pai ficaria ajoelhado, mantendo-se na mesma altura que sua filha enquanto a recebia em seus braços, para que pudesse pegá-la, não importando a velocidade de seu avanço.
Seus pais fariam no mínimo isso. Mas não o fizeram.
Lágrimas mancharam seus olhos verdes, a Princesa balança os punhos, fica de pé e grita:
— Mentirosa!
— Existe algo chamado mentiras gentis, Lala Lilia.
— Não preciso disso.
— Você realmente não é uma criança carinhosa. — Franzindo as sobrancelhas bem cuidadas, Lady Megan também curvou seus lábios para baixo. — E ainda por cima…
— Por que você está fazendo isso, Megan?
A ligeira curvatura de seus lábios desaparece, dando lugar a uma máscara sorridente no rosto de Lady Megan.
— Você não precisa ficar sozinha. Estará com eles novamente em breve, você sabe. — Ela se vira para sair. — Boa sorte, priminha.
— Espera! — A Princesa corre atrás dela, mas a porta é impiedosamente fechada em sua cara. TAH! O som frio da batida ecoa por toda a sala.
— Por quê? Megan! Por quê?
A Princesa dá as costas para a porta e cambaleia até a cama, suas pernas trêmulas, como se estivesse transformando-se em cinzas sombrias.
— Eles realmente morreram… — Ela se joga na cama e enterra o rosto no travesseiro frio. — Papai… Mamãe…
Seus gritos clamando por seus pais perdidos transformam-se em soluços descontínuos. Ninguém está perto para escutar seu lamento. Nem mesmo há alguém para enxugar suas lágrimas.
— Uuh… Uwaaaaaah…
“Quero ver vocês. Quero ver vocês… Senhor Dragão… Gideon…”
Os sons de seu choro débil enfraquecem aos poucos e acabam cessando.
Depois de chorar até não conseguir mais, a Princesa adormeceu por um curto período de tempo. Ao acordar, imediatamente pega água em um jarro próximo e lava o rosto. Então pega seu lenço favorito no armário, querendo se secar sem ajuda dos criados, amigos ou familiares.
— Não vou desistir…
Viver por mais de um ano na floresta mudou a Princesa Lala Lilia. Ela cresceu e transformou-se em uma princesa capaz de enxugar suas próprias lágrimas.
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CONTINUAMOS voando por um dia inteiro.
Sempre para o sudoeste, sempre. Para o castelo, a Princesa nos aguarda — na terra onde os três rios se encontram.
— Só mais um pouco. A essa velocidade logo chegaremos ao castelo, e aí podemos atacar.
— Não, você deveria descansar primeiro — avisou o dragão quando pegou uma boa corrente de ar e continuou voando mais rápido que qualquer pássaro.
— Tch! Que merda você está falando?! Já suportei marchas militares mais cansativas e desgastantes do que isso!
— Você não é mais um jovenzinho.
Estou sem palavras. Na verdade, meus ombros, pescoço e costas estão doloridos e duros, como se houvesse uma barra de ferro socada entre os ossos. Para ser sincero, o tempo é bem cruel.
— Gideon Aguilhão, descanse.
— Hmmm…
— Descanse para que possa enfrentar a batalha vindoura em perfeita forma.
— Bah!
Há apenas uma razão pelo qual a Bruxa saiu de seu caminho em meio à Caça às Garotinhas e sequestrou a Princesa — entregá-la ao Lorde Ardiloso. Nesse caso, a Princesa estará a salvo até a cerimônia de casamento acabar. É um casamento real, então farão um verdadeiro show, para que o reinado seja legitimado. Além disso, não há como um homem que passa ao menos uma hora de cada manhã arrumando a barba mantenha seu casamento em segredo. Aposto que ele quer fazer a festa mais chamativa do século. E investirá todo seu dinheiro e poder para que isso aconteça! Provavelmente o sujeito preparou tudo enquanto procurava a Princesa, mas a comida do banquete não tem como ficar sempre pronta. Também não tem como esperar que os convidados cheguem na hora certa sem uma data estabelecida.
Meus pensamentos ficam tão distantes quanto se pode imaginar enquanto o dragão insiste mais uma vez para ter certeza de que escutarei:
— Não estou dizendo para dormir uma noite inteira. Apenas descanse um pouco. Por mais que seja só um pouco.
— Tudo bem, mas só um pouco…
Esse lagarto estúpido falou comigo depois de perceber meus pensamentos.
— Tem uma floresta ali. É o lugar perfeito para se esconder. — O dragão inclina as asas em um ângulo diferente e dispara para baixo antes que eu possa falar qualquer coisa.
— Sem objeções de minha parte.
É um lugar muito belo e pitoresco se comparado à Floresta Negra. Mas só quando visto de cima. A floresta é densa e profunda o bastante para engolir qualquer viajante desavisado.
Continuamos em direção a terra. O chão está cada vez mais perto. No meio do caminho, a sola dos meus pés toca as nuvens. Parece até uma névoa feita de algodão.
— FRIO!
Todo o corpo do dragão fica mais quente na mesma hora. Graças a ele, seguimos em frente sem eu congelar até a morte.
ZHUMP!
Meu corpo se eleva um pouco no ar por um instante, depois é empurrado para baixo na mesma hora. É isto que acontece quando chega a hora de um pouso. Deslizo de suas costas de imediato.
— Ouch… Uggh…
Eu realmente queria que meu corpo me desse um tempo e parasse de estalar e doer sempre que me movo. Sheesh. Não notei nada durante o voo, mas finalmente entendi depois de pararmos. Estou ciente disso agora: esse cansaço, exaustão e força não podem ser nem mesmo comparados com o que senti após minhas longas marchas militares montado a cavalo. Descansar foi a escolha certa. Considerando o atual estado de meu corpo, eu não seria capaz de me mover na mesma hora, então esqueça sobre atacar o castelo.
A primeira coisa que faço ao pousar é esticar todos meus membros doloridos e duros.
— Você está bem?
— Acho que… Sim…
PSSH! Uma linha de vapor vaza pelo nariz do dragão. O vapor branco flutua, bem visível, no ar da floresta, mas vai sumindo um pouco mais a cada segundo.
— Você está proibido de se esforçar mais do que deve, ó Cavaleiro. Ah, e você combinará sua visão com a minha se não te atrapalhar? Está quase na hora de ficar muito escuro para os olhos humanos.
— Tudo bem, tudo bem.
Fecho meus olhos e me concentro no lado esquerdo de meu peito. PING! O som de alguém soltando uma corda tensionada ecoa dentro de minha cabeça enquanto gotas de luz surgem por trás de minhas pálpebras. Claro, esse som e essas luzes não são reais, mas o cenário mudou completamente quando voltei a abrir meus olhos.
— Caramba, que brilhante.
É como se eu estivesse vendo a floresta sob três luas cheias. Um véu índigo transparente cobre tudo que é projetado em meus olhos, mas mantém as cores e formas originais de tudo.
— Então é assim que você vê o mundo noturno.
— De fato.
O chilrear de pássaros e zumbir de insetos é como música para meus ouvidos. Até os ruídos de um riacho próximo parecem combinar. Agora, tudo soa como nada mais que um ruído melódico.
— Você sempre ouve tantos sons diferentes? Isto é fantástico…
— Sim. Acho que sua apreciação é muito gratificante.
A floresta repousa em um platô ligeiramente elevado. Olho para o oeste através das folhagens das árvores e arbustos. Com o sol poente atrás de mim, posso ver o distinto castelo negro ao sudoeste já não tão distante.
“A Princesa espera por nós lá.”
— Hm?
Sou só eu? A forma do castelo está um pouco diferente da que me lembro… É, sim, por alguma razão não parece igual. Parece que não passa de um pontinho.
“O que está havendo?”
Franzindo minha sobrancelha, aperto e tenciono meus olhos. Mas o castelo, por mais estranho que pareça, pisca e não entra em foco.
— Isso é perigoso.
Do nada, uma moça de cabelos prateados, com um corpo magro e escondida, enfia a cara na minha frente. Seu rosto está de cabeça para baixo! Ela está pendurada em um fio grudado a um galho de árvore! Se não fosse pelo seu cabelo prateado cintilando ao luar, eu mal teria conseguido entender, mesmo com a visão aprimorada do dragão.
— Você! Por que está aqui?!
Meu cabelo arrepia. Essa garota me enganou. Ela sequestrou a Princesa.
E o que não suporto é que ela usou cadáveres das menininhas que sucumbiram em meio ao desespero, e usou seus corpos para se dar bem!
— Não vou te perdoar. — Uma veia em minha têmpora sobressalta. Isso é capaz até de estourar.
— Ooooh não, que assustador… — A Bruxa puxa os cantos de seus olhos para baixo, fazendo uma careta, algo como estar chorando. Ou então eu pensei que ela fez isso, mas só piscou e riu. — Não há como um senhor cavalheiro levantar sua mão contra uma jovem e frágil moça solteira, não é?
— Tch… Cala a boca.
O dragão suspira atrás de mim.
— Nós perdemos. Ela tem a vantagem. Estava aqui antes e provavelmente preparou uma emboscada antes de chegarmos.
Rangendo meus dentes, abaixo meus punhos. A Bruxa dá uma risadinha, solta o fio e depois dá uma cambalhota para que seus pés toquem o chão e sua cabeça fique voltada para cima. Ela joga o cabelo prateado e reluzente para trás e alisa-o. Em contraste com sua aparência jovial, seus gestos são como os de uma verdadeira mulher refinada. Suas feições de obsidiana concedem-lhe uma rara e exótica beleza, uma que não é vista nestas terras, mas ainda assim — seria difícil chamar qualquer uma de suas ações de polidas.
Por quantos anos ela viveu? Quanto tempo passou desde que foi tomada pela escuridão e virou uma Bruxa?
— Diga, Gideon? Você se chama Gideon, não é? A Princesa te chama assim. — O rosto dela está próximo. Ela fechou o espaço entre nós em um instante. Eu recuo.
— S-Sim.
— Não fiz nada contra aquelas garotas. Só dormi no meio dos cadáveres — esclarece ela, deixando implicações não ditas bem claras.
— Hmph…
Sequer uma criança estava viva quando cheguei. Não consegui salvá-las.
Mas ela está dizendo que não deu o golpe final em nenhuma.
Você pode dizer o que quiser, mas isso não é verdade. Qual é a verdade? Mesmo sem ter levantado a mão contra as criancinhas, ela não as deixou desoladas e disponíveis para a morte ceifar?
“Não, acho que não…”
Vou acreditar nos breves vislumbres que tive de seu passado. Não nego que ela mudou, mas o passado de alguém diz muito sobre quem se tornou no presente.
— Está mais calmo? Estou prestes a lhe contar algo muito importante, quero que vocês dois me escutem, okay? — Ela segura um único dedo negro erguido. O dragão e eu fazemos como ela diz e olhamos para a ponta de seu dedo.
“Droga! Ela está tomando o controle da situação!”
Mas ela é convincente o bastante para que eu não a desafie.
— Há uma barreira ao redor do castelo. Uma barreira forte que você e o dragão definitivamente não podem penetrar. Quanto mais vocês pressionarem, mais forte será o poder dela. Vocês não sairão ilesos se tentarem forçar um caminho. — Ela expõe uma verdade horrível sem hesitar.
Só posso ouvir, sem palavras, tudo o que a Bruxa tem a dizer.
— Você não pode fazer nada mais idiota do que se lançar em um ataque suicida contra o exército particular do Lorde Ardiloso. É igual pedir para morrer. Ah, e só para informar, sua ressonância com a escama vai acabar sendo cortada, tá?
O dragão levanta o pescoço e observa o castelo com cuidado. Eu o imito e coloco pressão em meus olhos, mas continuo com o mesmo problema — não consigo focar nada.
— Ela está certa… Eu não teria percebido sem o aviso, mas agora que prestei atenção, há uma barreira bem distinta preparada para retalhar minha presença com Linhas de Ley…
— Sério?
— Sim. Com Linhas de Ley servindo de suplemento, uma corrente de poder intrincado foi engenhosamente entrelaçada em uma série de marcações. É quase igual uma teia de aranha… A presa não consegue ver até que seja pega. É uma verdadeira obra-prima defensiva.
As bochechas da Bruxa ficam vermelhas e ela segura as mãos atrás das costas. Ela balança de um lado para o outro, parecendo até tímida.
— Ehehehe, valeu.
Olho para ela com os olhos espremidos.
— Por que você está ficando tímida e se balançando de um lado para o outro?
— Fui eu quem fez, tehehe.
— O quê?!
O que diabos essa Bruxa fez?! Meus olhos reluzem e agarro minha espada.
— Okay, okay. Fica de boa. Não precisa de conclusões precipitadas. — Seu dedo negro e esbelto pressiona minha testa, bem no meio. Ela está apenas me tocando, mas não consigo me mover. Um Cavaleiro não pode desafiar uma jovem donzela — é uma regra. — Eu criei a barreira, então sei como romper ela. Entende?
Aceno com a cabeça indicando compreensão. O fato de ela ter exposto sua vantagem significa que estava pronta para contar tudo sobre como proceder.
— Uma barreira protetora serve para bloquear ataques externos. Elas são bem frágeis por dentro.
— Sim, aquela barreira da Fada-Madrinha era igual, não? — pergunta o dragão.
— Bem parecida.
Interessante. Ela está definitivamente bem informada.
Murmuro, pensando em como isso se compara com as várias barreiras com que já lidei antes.
— É uma barreira enorme. Vendo que você, quem preparou, está aqui, deve significar que há um mecanismo local que permite que ela seja controlada por dentro. Estou correto? — pergunta o dragão.
— Você é tão esperto quanto esperei! — A Bruxa gargalha. Seus lábios rubros se afinam e curvam-se em um sorriso de mulher com o rosto de criança. É extremamente estranho e inquietante, chega a me perturbar.
— Veja, há dois itens de magia negra sustentando a barreira que estão dentro do castelo. — Ela retira a mão de minha testa, acena no ar e, então, rapidamente levanta os dedos, dois. — Você está ouvindo? Existem dois. DOIS. A barreira vai sumir quando eles forem destruídos.
E como deveríamos fazer isso?
Não restam dúvidas, ela não é uma aliada. Mas também não é uma inimiga. Só aconteceu de informar sobre a existência da barreira e suas fraquezas.
— Certo, entendi, eu acho… Lá vamos nós.
Não temos chance de vencer sem o apoio do dragão. Então tudo que preciso fazer é liberar sua entrada em cena.
— Tudo isso pertence a meu Rei. Conheço o lugar assim como a palma de minha mão.
— Só mais um minuto aí.
Um farfalhar vem de trás de nós. Grama e galhos estão sendo afastados e esmagados. Imaginando o motivo para isso, noto que o dragão está com um olho fechado, balançando o rabo.
— Espere um pouco. Por que você nos informou tudo isso?
A Bruxa balança os ombros.
— É só que, por algum motivo, não suporto aquele povo. Especialmente aquela nobrezinha de olhos azuis.
— Lady Megan…?
— É, essa mesma.
Rumores maldosos circulavam por todo canto, a respeito dela, e as pessoas pareciam acreditar, mas, até onde sei, ela nunca foi uma garota má… Essa é uma daquelas coisas que só outra garota consegue falar?
— Meu contrato já acabou, então não tenho nenhum compromisso restando com o Lorde Siegfried.
Isso até entendo. Então, em silêncio, aceno com a cabeça.
— Além disso, gostei de você.
— E isso é uma razão…?!
A Bruxa se agarra ao meu braço enquanto estou chocado.
— Ei, Senhooor~ quer se divertir comigo?
Puxo meu chapéu sobre os olhos e viro minha cara para o outro lado.
— Nah, este velho está ocupado agora.
Estranho, sinto que já tive uma conversa parecida antes.
— E que tal assim?
BOING! Algo flexível e macio aperta meu braço. Não, ela está empurrando isso contra o meu braço.
— E aí? — Ela convida com uma voz nasalada e melosa. Está mais perto do que antes.
Lutando contra um péssimo palpite sobre o que vou ver, viro meu pescoço, desajeitado, e olho para ela.
— Você é a mulher da feira!
Meu palpite se concretizou. Como eu pensava, já nos conhecíamos. Ela é a mulher encapuzada que encontrei na Vila Attegrune. A que salvei daqueles parasitas imundos.
— Ei, Senhooor~ não quer se divertir comigo?
Os seios macios e saltitantes empurrados contra mim engolem meu braço em seu meio. Mesmo quando ela não está pressionando seus peitos, a renda preta de seu vestido de teia de aranha se encaixa perfeitamente em seu corpo, agarrando-se aos seios e enfatizando suas curvas sedutoras.
A pele de ébano sedoso está exposta diante de meus olhos, e a beleza de seu cabelo prateado e lustroso é diferente de tudo que já vi. Embora sua forma seja exótica, agora estou olhando para uma beleza singular e única, sem nenhuma comparação existente. Entendo, esta é uma verdadeira boa visão. Um ótimo toque também.
Bom, eu sou homem, né? Falar que isso não me fez vacilar por um instante não passaria de uma mentira descarada. Porra, eu poderia ter acabado pulando nela feito um cão! Caso fosse oito anos mais novo…
— Basta.
Mas agora não é hora para isso.
— Aww, você sempre me dá um fora.
— Desculpe. — Ela não faz ideia do quanto eu lamento.
Seus seios macios e grandes engolindo meu braço liberam um pouco da pressão que me prende. Por sorte, é o bastante para que eu escape.
— Então aqui está um prêmio extra. Ou devo chamar de um símbolo de desculpas?
A Bruxa de cabelo prateado agita seu vestido. Uma cabra marrom-clara aparece, do nada, da névoa transparente que flutua ao vento.
— Meh-eh-eh-eh-eh!
— Margarida?
— Oops, errei.
O vestido balança mais uma vez e a cabra marrom-clara desaparece. Em seu lugar aparecem quatro pernas grossas cobertas por tufos espessos a partir do tornozelo, além de um corpo enorme tão musculoso que parece esculpido em pedra. Uma linha branca aparece a partir de seu focinho, enquanto o resto dos pelos é de uma cor âmbar. Meu cavalo favorito apareceu.
— Botão-de-Ouro!
A Bruxa ri. Seus lábios transformaram-se em um sorriso meio diferente daquele perigoso e sedutor de antes.
— Que fofo…!
— O quê?
— Um velhote dando nomes de flores aos animais!
Minhas bochechas ficam quentes. Nunca tinha notado que o nome dos dois animais eram nomes de flores.
— É o nome que eles têm!
Botão-de-Ouro relincha.
— Eita! Você é tão fofo! Sua fofura me faz querer dar mais algum presente.
— Oi? Tem alguém aí? Você não está ouvindo o que este velho está dizendo?
Ela agita seu pulso negro e um fio de prata dispara pelo ar. A Bruxa bate na bochecha do Botão-de-Ouro, depois algo se estica e expande enquanto fico pasmo.
— O que é isso?
Ela abre os dedos e vários fios dançam no ar. Embora não toque nada diretamente, tudo se move de acordo com seus movimentos. Os fios passam das bochechas do cavalo para a testa, seguindo para o focinho e a nuca, acabando perto de sua boca, com um contorno bem familiar.
— Você está fazendo um arreio?!
— Estou tecendo algo assim.
As rédeas são as últimas partes preparadas. Desde o comprimento até a espessura do arreio, não tem como eu reclamar de nada.
— E agora está tudo pronto.
— Obrigado…
— Bom, mas uma sela está fora de questão.
— Não precisa. Não vou muito longe.
— Caramba, isso é bem promissor.
Eu meio que esperava que o dragão não falasse para eu passar dos limites, mas ele ficou quieto.
— Mas então, qual é a forma dos itens de magia negra?
— Olhe para mim. Não me esqueça. Você entenderá se fizer isso.
— Um enigma…?
A Bruxa abre os braços e não responde. Uma luz prateada pulsa pelo vestido de renda preta que está grudado em seu corpo.
Tradução: Taipan
Revisão: Taiyo
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