Decidimos nos sentar e discutir as coisas com os ogros no dia seguinte. Nós escolhemos a casa de madeira construída no topo da praça pública, recentemente queimada, no centro da aldeia.
Mildo, o mais novo dos três irmãos anões, havia feito um bom trabalho elaborando-a a partir do esboço básico que eu desenhei em uma tábua de madeira. Meu trabalho anterior como empreiteiro geral me deu no mínimo esse conhecimento, já que eu medi as dimensões, fiz o melhor que pude com carvão e madeira, e o entreguei.
Foi o Grande Sábio, e a liberdade que meu novo corpo proporcionava, que tornou isso possível. Além disso, as ferramentas de desenho que os anões trouxeram. Com um pouco de esforço, você podia obter algo quase tão preciso quanto em um computador. Eu estava começando a sentir que podia criar um arranha-céu em pouco tempo.
Mildo não teve problemas em compreender o plano – talvez meu desenho fosse mais fácil de entender do que qualquer outro convencional desse mundo.
O que fazia sentido. Os edifícios por aqui eram brincadeira de criança se comparados aos tipos de coisas que nós projetamos para as cidades grandes, no meu mundo. O Reino de Dwargo tinha uma arquitetura impressionante com certeza, mas em termos de execução técnica, ainda havia um longo caminho a percorrer. Talvez nós tenhamos arranha-céus nessa praça algum dia. Foi divertido pensar nisso.
Mas eu discordo.
Eu guiei os ogros para a sala de recepção da casa, olhando em volta para ter certeza de que tudo foi construído como eu ordenei. Eles humildemente seguiram atrás, olhando ansiosamente pela casa como se fosse uma novidade. Não havia nenhuma decoração ainda, então eu não sei o que os encantou tanto, mas tanto faz.
A sala de recepção tinha uma grande mesa, com alguns bancos simples ao redor. Estávamos todos reunidos lá – Rigurdo, os quatro lordes goblins, e Kaijin, o anão, como mediador. Treze no total, contando comigo.
Por que Rigurdo e o resto estavam aqui? Porque eu pensei que os ogros tinham coisas importantes para nos contar. Se estivesse acontecendo algo na Floresta de Jura, isso chegaria até nós em breve. Eu não queria ser o único ponto de partida de todas as crises. “Reine, mas não governe”, é como dizem.
Haruna entrou, trazendo chá para todos. Ela fez uma reverência rápida quando terminou e saiu da sala de recepção. Ainda era meio estranho para ela, mas ela estava começando a aprender algumas maneiras. Um progresso maravilhoso.
Eu levei o copo aos meus lábios. Amargo, mas não desagradável. Eu não estava acostumado a ser tão exigente com esse tipo de coisa, mas o tão esperado retorno do meu paladar talvez estivesse me deixando mais exigente.
A amargura do chá verde brincou em minha língua. Eu também podia sentir o calor. Meu corpo tinha Anulação de calor, eu suponho, mas eu ainda podia sentir isso. Engraçado.
Os ogros pareciam ter gostado também. Eu esperei eles terminarem para começar a falar.
Comecei perguntando por que eles estavam lá, em primeiro lugar. Eles disseram que estavam fugindo para se reagruparem e se reunirem. Isso foi inquietante por si só. Eu tinha a sensação de que isso demoraria um pouco.
Se houvesse alguma força por aí que pudesse derrotar ogros, nós teríamos uma ameaça em nossas mãos. Eles eram criaturas de rank B, mesmo individualmente, e eu poderia falar isso pela batalha de ontem. E esses caras eram os melhores dos melhores. Mestres da floresta. A mais alta classe de monstros que você poderia encontrar aqui, me disseram.
É melhor ouvi-los.
Para resumir a história dos ogros…
Houve uma guerra, e os ogros perderam. Foi isso.
Enquanto eu estava ocupado enfrentando Ifrit nessa aldeia, os ogros estavam envolvidos em sua própria guerra. Quem na terra poderia desafiar a raça mais poderosa da Floresta de Jura em uma guerra… E vencer? Isso deixou todos que estavam na sala tensos. Seus rostos se apertaram de preocupação.
— Eles atacaram nossa terra natal do nada. — O ruivo murmurou, furioso .— O poder deles era esmagador… Aqueles porcos hediondos, aqueles orcs!!
Foi um exército deles, aparentemente. E, ao contrário dos humanos, os monstros nunca pensaram em declarar guerra formalmente antes de iniciarem uma. Mas, embora os ogros não tenham reprimido o ataque surpresa por si só, os orcs os atacando estavam longe de serem normais.
Por que? É simples: a diferença de força; Orcs são criaturas de rank D. Mais fortes que goblins, mas nada que um aventureiro veterano não pudesse lidar. Ogros, lembre-se, eram dois ranks mais altos que isso, tornando uma batalha individual eminentemente previsível. E para os fracos desafiarem os fortes, e ainda vencerem…
Eu decidi ir um pouco mais a fundo.
A casa dos ogros era um pouco maior do que a nossa aldeia – um conjunto informal de clãs, que juntos formavam um tipo de fortaleza que abrigava trezentos. Tão poderoso quanto o exército de uma pequena nação – em outras palavras, o equivalente a três mil soldados treinados, com status de monstro B-.
Esses ogros viviam uma vida que poderia ser descrita como militarista. Os clãs realizavam batalhas de treinamento regularmente, ocasionalmente se juntando a esse ou aquele lado para auxiliar outras raças quando entravam em conflito com seus vizinhos. Alguns dos clãs até mesmo deixaram sua marca na história, formando a vanguarda do exército de um ou outro lorde demônio, e esses ogros eram descendentes deles.
Em outras palavras, eles viviam como mercenários. E os ogros desse mundo estavam rapidamente destruindo a imagem que eu tinha dos meus romances de fantasia. Mas esse não era o problema. Eles tinham sido derrotados por monstros muito mais fracos, e parecia que eles ainda estavam em choque – nessa sala de recepção, estávamos olhando para os únicos sobreviventes de todo o povoado.
O ruivo levou sua irmã, a princesa, para longe do lugar enquanto seu líder estava liderando uma equipe para defendê-los dos orcs. Ela era nobre, afinal, um tipo de sacerdotisa ogro, e seu povo a colocava à frente de tudo em suas vidas.
— Se eu fosse mais forte… — o ruivo gemeu. A última coisa que ele viu foram os orcs, vestidos com armaduras negras, dando o golpe final em seu líder. Um orc gigante, que emitia uma aura misteriosa. E uma outra figura, que não se importava em esconder sua aura brutalmente escura; um que vestia uma máscara que lembrava um palhaço zangado.
— Era um dos Nascidos da magia, eu tenho certeza. — a sacerdotisa declarou. — Um de alto nível. Receio que meu irmão nunca tenha tido chance.
— De fato. — Acrescentou o ancião. — Nós tiramos essas conclusões sobre você porque nós vimos aquele demônio em ação. Nós pensamos que você era um deles.
Yeesh. Sério? O pequeno e fofo eu? Estar envolvido com essa aberração assassina? O modo como eles disseram isso feriu um pouco o meu ego, mas novamente, eu estava usando uma máscara lá atrás. Talvez fosse natural me associar a esse cara Nascido da magia.
Eu estava com a impressão de que esse Nascido da magia pudesse ser quase qualquer monstro inteligente. Até ogros poderiam contar como Nascido da magia. Mas se esse cara os ultrapassava tanto, ele tinha que ser algo mais feroz.
Eu sabia pelo nosso confronto mais cedo que nada era mais perigoso do que monstros com um pouco de inteligência. Eles podiam usar magia com a facilidade de um mago humano, e lidar com armas igualmente. Isso, combinado com força física sobre-humana, os tornava difíceis de combater.
E, quanto maior o nível do monstro, mais desastrosos os resultados poderiam ser. Seria seguro supor que nós estávamos lidando com um de rank A, no mínimo. Más notícias.
Oh, e só pra deixar claro, goblins são uma sub-raça da humanidade, então suas formas evoluídas de hobgoblin não contam como Nascido da magia.
Os ogros continuaram.
Parecia que havia três outros orcs com força equivalente ao de armadura negra. Os quatro lidaram rapidamente com os guerreiros de elite da fortaleza dos ogros, e o resto dos soldados orcs invadiram o forte e começaram o massacre.
Havia milhares deles – apenas uma estimativa da parte dos ogros, mas ainda era um número enorme. E o mais engraçado era que todos eles estavam vestidos com um tipo de armadura completa de placas que você esperaria que um vigia humano usasse como uniforme. Como uma enorme onda de metal, percorrendo a floresta.
Se isso fosse verdade, deveria ser obra de mais que simples orcs. Orcs eram do tipo humano também, mas eram tratados como monstros inferiores e de baixa inteligência, como goblins. Não havia como eles conseguirem juntar fundos para abastecer um exército tão imenso e caro. Além disso, havia muitos monstros poderosos na Floresta de Jura. Seria impossível para os orcs evitar atrair atenção no caminho para a fortaleza dos ogros.
Parecia justo assumir que eles estavam conspirando com alguma nação – uma nação de humanos. Mas eu não conseguia entender o que eles queriam, e isso me preocupava. Se a força fosse de milhares de soldados, eles não poderiam simplesmente querer esmagar aquele local dos ogros. Eles estavam almejando toda a Floresta de Jura, nesse ritmo.
— Sabe, — Kaijin sugeriu. — Eles podem estar conspirando com um lorde demônio.
Lorde demônio? O rosto de Shizu passou pela minha mente, suas palavras finais ecoando por ela.
Leon, o lorde demônio – o inimigo que eu tinha prometido derrotar.
Poderia ser possível? Eu ainda não tinha certeza se poderia derrubar um lorde demônio, mas…
De um modo geral, eu não achava que algum lorde demônio se importaria muito com essa floresta. Fora dela, suas terras se espalhavam por toda parte, e seus campos férteis eram, em sua maioria, cuidados por golens e escravos que tinham sido capturados em batalha. Terras controladas por lordes demônios não tinham que se preocupar com fome, então esses lordes raramente se preocupavam com áreas sob controle humano. Do jeito que me foi explicado, os chamados escravos de guerra tinham uma condição boa o suficiente para suas vidas não serem muito diferentes das outras pessoas. Eu não podia dizer como as nações humanas os consideravam, mas, de acordo com os habitantes da Floresta de Jura, as terras dos lordes demônios eram bastante frias.
Então, se alguém estava querendo conquistar o território de outra pessoa, era provável que os humanos estivessem envolvidos.
Ao mesmo tempo, sempre poderia ser um ou dois lordes demônios que queriam iniciar uma guerra só por diversão, ou para passar o tempo. Veldora, o Dragão da Tempestade, foi uma confirmação desse comportamento deles, e agora ele se foi.
Fazia sentido. Eu tinha que pensar mais em defender a floresta, eu acho. Mas, de qualquer maneira, uma coisa era certa: esse lugar estava sendo invadido pelos orcs.
Então… e agora?
Eu decidi ouvir todo mundo.
— Nós acreditamos que os orcs estão tentando conquistar a liderança da floresta. — Rigurdo disse após eu lhe pedir com o olhar.
Todos estavam olhando para mim agora. Lutar? Fugir? Ou nos aliar a eles? Pelo jeito que os ogros estavam agindo, eles sabiam que nós poderíamos ser inimigos mais uma vez, dependendo da minha decisão. De repente, as coisas ficaram muito mais intensas. Mas eu não me importei.
— Bem, que tal outra xícara de chá por enquanto?
Uma veio até mim.
Todos colocaram suas respectivas xícaras em seus lábios, e a tensão diminuiu um pouco.
— Então o que vocês farão? — Eu perguntei aos ogros.
— O que… você quer dizer?
— Eu quero dizer, quais são seus planos para o futuro? Vão fugir para poder lutar outro dia, ou só se esconderão em algum lugar? Porque se vocês estiverem planejando fugir, eu estava pensando se vocês têm algum lugar em mente.
— Não é óbvio? Nós vamos restaurar nossa força, esperar por uma abertura, e desafiá-los de novo!
— Precisamente. Temos que vingar nosso lorde!
— Nós estamos praticamente impotentes agora, mas eu me recuso a deixar esses porcos de duas pernas viverem!
— Nós prometemos seguir o jovem mestre e a princesa!
Os ogros certamente tinham uma resposta. Hmm. Eles devem ter se resignado a isso desde o início. Mesmo em nossa própria luta, não havia um pingo de hesitação em seus olhos. Eles deviam saber que isso significaria suas vidas… Mas eu tinha que respeitar isso. Apesar do quão encurralados eles estavam, eles tiveram a dignidade de não matar nenhum dos hobgoblins. Eu me sentiria culpado se os deixasse marchar para a morte.
— Ei, vocês têm interesse em se juntar ao meu lado?
— Huh? O que você está…?
— Eu fui claro o suficiente, não? Se vocês estavam trabalhando como mercenários de qualquer maneira, por que não trabalham pra mim ao invés disso? Se vocês querem lutar por seu antigo lorde, eu ficarei feliz em contratá-los para fazer isso.
— Nós…
— Além disso, se é força que vocês estão procurando, não acham que deveriam ficar do meu lado? Eu realmente não posso lhes pagar com muito mais que três refeições diárias e um lugar para dormir, mas…
— Nós não podemos! Fazer isso envolveria essa aldeia em nossa busca por vingança!
— Eu não vejo problema nisso. — Rigurdo disse. — Nós estamos aqui para servir Sir Rimuru, e mais ninguém. Se é isso que ele quer, ninguém irá contra seus desejos.
— Yeah, — adicionou Kaijin. — E eu acho que nós vamos nos envolver nisso mais cedo ou mais tarde de qualquer forma, sabe? Se tantos orcs estão em movimento, eu duvido que algum lugar por aqui esteja seguro.
— É verdade. — Outro lorde goblin entrou na conversa. — Um espião lizardman entrou em contato uma vez com a vila em que eu costumava viver. Como goblins, nós éramos incapazes de entender o que ele queria na época, mas imagino que ele estava investigando novos movimentos. O que significa que esse lugar pode se tornar um campo de batalha. Será melhor para todos nós se trabalharmos juntos.
Todos pareciam estar de acordo. Hmph. Não é como se um bando de goblins conseguisse fazer muito sozinho. Se nós tínhamos uma horda de orcs vindo, precisaríamos do máximo de pessoas possível ao nosso lado.
— Certo, — eu ofereci. — Se vocês concordarem em me servir, eu acho que também posso ser capaz de realizar os seus desejos.
— …Como, exatamente?
— É simples. Se vocês se juntarem a mim, eu prometo que lutarei ao lado de vocês se alguma coisa acontecer. Eu nunca abandono meus companheiros, e, se me deixarem contratá-los, ficarei feliz em cooperar com vocês.
— Entendo. Então nós protegemos essa vila e, em troca, a vila nos protege? Não é uma proposta ruim. De fato, ela é bem-vinda. Nós poderíamos usar esse lugar como base para reunir as forças de resistência que precisamos contra os porcos…
— É, exatamente. — Eu respondi. — Nós vamos estar lutando, de qualquer maneira. Você pode se juntar a nós também.
— E esse acordo poderia durar até o líder dos orcs ser derrotado?
— Parece perfeito para mim. Você estará livre para fazer o que quiser assim que o problema com os orcs for resolvido. Você poderia trabalhar comigo para criar uma nação, sair em uma jornada, o que quer que seja. O que você acha?
O ogro ruivo pensou sobre por alguns instantes, enquanto os outros permaneceram educadamente em silêncio. Eles deviam ter respeito por suas habilidades de decisão. Ele fechou seus olhos, e então os abriu novamente.
— Muito bem. — Ele disse. — Nós serviremos sob sua liderança!
Então foi esse o caminho que ele escolheu. Boa. Foi uma grande ajuda para mim, também.
Conquistar os ogros foi uma grande adição, na minha opinião. Imaginei que eles não fossem ficar irritados com a ideia de me servir como mercenários, e eu estava certo. E se nós tivéssemos que lidar com milhares de orcs, precisaríamos aumentar nossos números rapidamente. Nós não tínhamos ideia de que tipo de força o exército orc possuía, então eu queria trabalhar o máximo possível.
Pode ter sido estritamente por negócios, mas eles tinham jurado me seguir, e isso significava que nós éramos amigos agora. E, se nós fôssemos amigos, eu precisaria que eles tivessem nomes de verdade, ou seria uma dor de cabeça.
— Certo! Me deixem dar nomes a vocês.
— Hah? O que você está…?
— O que você acha? Eu disse nomes. É chato não ter um, certo?
— N-não, é, nós já conseguimos nos comunicar uns com os outros bem o suficiente, então…
— Hoh-hoh, de fato! Humanos podem ter nomes, certamente, mas nós monstros temos pouca necessidade deles…
— Quê? Não seja estúpido. Eu não me importo se você acha que não precisa deles ou qualquer coisa do tipo. Estou dizendo que eu preciso deles, porque, caso contrário, é desconfortável chamar a sua atenção, ok?
— S-sim, mas…
— Por favor, espere um momento! — A ogra de cabelo rosa explicou. — Dar um nome pode ser uma manobra muito arriscada. Seria melhor começar com os de ranks mais altos primeiro…
Arriscado? Tipo, como usar muita magia e cair no sono? Bem, eu ficarei bem desde que eu não tente nomear uma aldeia inteira de uma vez, certo?
— Não, não, pare de se preocupar. — Eu disse, ignorando a de cabelo rosa. — Vai dar tudo certo!
Hora de pensar em alguns nomes. Os ogros ainda pareciam duvidosos, mas pro inferno com eles. Vamos andar logo com isso.
Eu estava realmente animado dessa vez. Os ogros tiveram a gentileza de ter cabelos de cores diferentes, o que me ajudou a ter uma ideia. O de cabelos vermelhos se tornou Benimaru, um nome que significa “Círculo Vermelho” e geralmente é associado a samurais dos tempos antigos. Algo viril parecia uma boa combinação, no geral.
A princesa se tornou Shuna, ou “Planta Escarlate”. Ela tinha cabelo rosa e sabia muito sobre ervas e essas coisas. Parecia certo. O de cabelos brancos se tornou Hakurou, “Ancião Branco”, o que era muito óbvio, considerando sua aparência. O de cabelos azuis se tornou Soei, “Sombra Azul”, graças ao seu ataque furtivo que quase me acertou. Se ele tivesse mirado em qualquer outra pessoa, poderia ter sido seriamente perigoso.
A de cabelos roxos se tornou Shion, “Jardim Violeta”, porque o modo que seu rabo de cavalo se destacava me lembrava uma flor. E finalmente, o de cabelos pretos se tornou Kurobe, basicamente “Preto”, mas com um toque country. Isso parecia combinar com ele – grosseiro, não refinado, mas ainda agradável.
Eu fiquei muito satisfeito com as minhas escolhas. Elas vieram em minha mente quase que imediatamente, como uma revelação divina ou algo assim. Mas, enquanto eu me parabenizava, comecei a me sentir esgotado.
Espere um minuto…
Quando pensei isso, já era tarde demais. Eu estava de volta ao modo de suspensão. Por que nomear seis pessoas esgotaria minha magia assim? Eu pensei enquanto voltava à forma de slime, ficando incapaz de controlar o meu corpo.
— O qu-? Um slime?!
— Como…?! Você era um slime esse tempo todo?!
Eu estava muito fraco para responder.
Isso, aparentemente, alarmou muito os ogros. Eles caíram no chão, parecendo tão exaustos quanto eu pela cerimônia. O que está acontecendo aqui? Eu não teria a minha resposta até minha magia ser recarregada.
Uma noite se passou.
Dessa vez, o modo de suspensão foi pior do que na última vez. Eu estava consciente, mas foi como se tudo que eu vi estivesse em um sonho. Minhas lembranças eram vagas, como algo macio sendo pressionado contra mim, ou como se eu estivesse flutuando em meio a flores perfumadas ou algo assim. Eu não tinha como saber o que exatamente estava acontecendo, mas eu provavelmente estava pensando demais.
— Shion! Por quanto tempo você vai manter Rimuru-Sama perto do seu peito assim? Está na hora de trocar!
— Princesa Shuna, você não pode estar falando sério! Não há nenhuma ‘troca’ para ser feita! Eu cuidarei de Rimuru-Sama, então você deveria descansar…
— Chega de bobagens, Shion! Eu lhe disse que eu vigiaria Rimuru-Sama, e eu vou!
Aparentemente, isso era algum tipo de argumento, mas eu tenho certeza de que eu só estava imaginando isso. Assim como eu estava imaginando-as brincando de cabo de guerra comigo. Deixei isso pra lá.
Então o que aconteceu? Eu descobri que finalmente acordei com a visão de todos os seis diante de mim.
Na minha frente estava um jovem bonito, com um cabelo carmesim como chama ardente. Seus olhos eram vermelhos e brilhantes, e estavam fixos em mim, nunca vacilando. Quem é esse? Eu pensei. Mas um outro olhar confirmou – era Benimaru, o ogro conhecido como “jovem mestre” por seus companheiros.
Dois chifres, mais suaves e mais bonitos que obsidiana, saíam de seus cabelos vermelhos. Eles costumavam ser mais grossos que as presas de um elefante, mas agora eles eram afiados, polidos, finos e lindos, como uma obra de arte. O Benimaru que eu conhecia era uma figura imponente, mas esse cara talvez tivesse cerca de 1,80 m de altura, e seu corpo era tenso e bem-definido.
A quantidade de energia que eu senti dele, no entanto, o fazia parecer uma pessoa completamente diferente de antes. Ele não era tão forte quanto Ifrit, por exemplo, mas essa foi a primeira comparação que veio à minha mente. Ele pode ultrapassar o rank A agora.
Como diabos nomear alguém libera tanta força? Foi a minha reação honesta.
Próxima a ele estava uma jovem atraente, quase escondida na sombra de Benimaru. Shuna, eu supus. Ela já tinha uma aparência doce, e isso evoluiu massivamente junto com o resto. Tipo, que diabos? Agora era uma princesa total, cara. De um nível completamente diferente de antes. Seus cabelos longos, só um pouco rosados agora, caíam em cascata sobre sua cabeça até o rabo de cavalo abaixo. Ela tinha dois chifres brancos como porcelana, pele levemente bronzeada e lábios com o tom de uma flor de cerejeira na primavera. Seus olhos carmesins pareciam um pouco brilhantes quando ela olhou para mim.
Cara, que gata!! Nenhuma garota 2-D de animes poderia se comparar. Ela era menor, cerca de um metro e meio, e a aura que ela projetava te fazia querer protegê-la instintivamente.
Hakurou, o velho ogro enrugado, parecia muito mais novo agora. Antes parecia que ele poderia cair a qualquer momento, mas agora parecia que ele estava apenas começando a se aproximar dos seus anos dourados. Sua postura é perfeita, e pelo menos parte da força física que ele tinha perdido com a idade voltou, eu pensei. Mesmo em um teste de força, ele não era mais alguém com quem se podia brincar.
Seus olhos ainda eram negros, e seu cabelo ainda tinha um tom de chocolate branco, mas agora seus olhos estavam mais nítidos. Seu cabelo comprido estava preso atrás, e ele tinha um par de pequenos chifres em ambos os lados de sua testa. Ele parecia um guerreiro, e se ele me atacasse agora, eu não gostaria muito das minhas chances.
Shion, a outra ogra, claramente tinha prestado atenção no seu cabelo. Estava bem lavado e penteado, bonito e reto, ao invés de estar desarrumado em suas costas, como antes. Tinha um atraente brilho roxo, que combinava bem com seu rabo de cavalo.
Ela tinha um único chifre, com o tom preto de obsidiana, que separava seu cabelo naturalmente. Seus olhos roxos, como os dos outros, estavam fixos em mim. Sua pele era quase branca, seus lábios eram vermelhos e brilhantes. Ela não parecia tão selvagem quanto antes – talvez um pouco de maquiagem? – e isso, combinado com quase 1,70 m de altura, a fazia parecer muito incrível.
Ela toda era elegante como uma supermodelo, mas tinha uma parte extremamente única – uma parte que, independentemente da masculinidade que eu tivesse, obrigava meus olhos a ir em direção a ela, eu acho. Pelo menos eu estava em forma de slime, então ela não podia saber para onde eu estava olhando. O que era bom. Aposto que ela ficaria ótima em um terno de negócios. Honestamente, eu gostaria que ela fosse minha secretária. Eram os pensamentos da minha alma.
Soei tinha mais ou menos a mesma idade que Benimaru, com a pele mais escura e lábios com um tom preto levemente azulado. O único chifre branco em sua testa tinha um bom contraste com isso, e seus olhos azul-marinho exalavam uma grande força de vontade. Ele tinha elegância, ao contrário de Benimaru, e eles tinham a mesma altura, pra começar.
Como todas essas pessoas ficaram tão atraentes do nada? E não só atraentes, mas, tipo, em uma direção completamente oposta do que eles eram antes. Completamente diferente. A perfeição pura me irritou um pouco, mas acho que isso é humano.
Kurobe estava no auge de sua vida. Para dizer bem, ele era robusto; ele era peludo, de uma maneira não muito agradável. Isso o fez se destacar um pouco entre esses participantes do concurso de beleza que os cercavam.
Seu cabelo e olhos eram pretos, e sua pele tinha um tom marrom-escuro. Ele tinha dois chifres brancos e perceptíveis (mesmo não sendo muito grandes) em sua testa, de certa forma, a sua aparência ser mediana me fez sentir um tipo de afinidade com ele. De certa forma, sua presença na multidão foi um alívio. Entre isso e sua idade aparente, eu tive o pressentimento de que nós nos daríamos muito bem.
Então esses eram os seis, e não foram apenas as suas aparências que mudaram.
Benimaru e seus amigos tinham evoluído de ogros para Onis uma progressão natural como a de goblins para hobgoblins. Eram criaturas com uma aparência mais agradável, mas suas forças receberam a maior melhoria. Eu diria que todos eles já passaram do rank A agora. Primeiramente, eu pensei que deveria ser um erro, mas não. Todos eles. Não me admira que eles tenham roubado toda a minha magia.
Estava começando a parecer que, quanto mais forte fosse o monstro que eu nomear, mais magia seria necessária para fazer a melhoria. Evoluir monstros requer uma quantidade equivalente de magículas, uma lição valiosa que eu tive que aprender do jeito mais difícil. Se eu tivesse exagerado mais, eu poderia ter secado a minha magia completamente, o que teria sido muito ruim. Eu a esgotaria a ponto de não conseguir mais me mover, afinal. É melhor ir com calma nesse tipo de coisa, a partir de agora.
Eu tinha feito um ótimo trabalho evoluindo seis desses caras. Eu estava orgulhoso disso. Mas eu tinha meus arrependimentos.
É melhor que eles não se voltem contra mim, pra começar…
E falando no diabo, Benimaru disse:
— Rimuru-Sama, nós temos um pedido! Por favor, nós imploramos para você aceitar nosso solene juramento de lealdade!
Ótimo. Agora eu me sentia um idiota por pensar em traição.
— Hmm? Nossa, você não precisa ser tão formal quanto a isso. Não é só porque vocês são meus mercenários que eu quero vocês rastejando aos meus pés.
— Não é isso, meu lorde. Nós desejamos servir você como seus fiéis lacaios!
O quê?
Eu os disse que estariam livres para ir embora uma vez que esse pequeno conflito acabasse, mas eu acho que Benimaru e seu pessoal tinham outros planos.
— Por favor, nos dê sua benevolente ajuda! — Eles agora entoavam em uníssono.
Eu não tinha motivos para dizer não. Mas eles realmente estavam bem com nada mais que algumas refeições e espaço em uma cabine? Isso me incomodou, mas se era isso que eles queriam, eu também deveria acreditar neles.
Assim, a população da aldeia aumentou em seis num único dia. Eu decidi guardar pra mim mesmo que eu temia a força deles.
Dando outra boa olhada, eu percebi exatamente o quanto eles haviam mudado. Eles tinham encolhido bastante, o que deixou suas roupas bem largas, mas eles ainda tinham a dignidade de usá-las bem. Beleza era algo muito útil para se ter em horas assim. Eu não achava que Kurobe conseguiria, mas eu acho que ele pegou uma roupa do Kaijin emprestada, e serviu bem nele. Se não fosse pelos chifres, eu poderia confundi-lo com um anão.
Hakurou foi o único que não mudou muito fisicamente. Sua roupa servia normalmente.
Shion, por outro lado, estava um pouco precária, seu peito – agora muito mais amplo – ameaçando vazar. Yep. É melhor fazer alguma coisa sobre isso. Garm deveria ser informado disso de uma vez, eu pensei enquanto continuava dando espreitadelas secretas em seus peitos.
O peitoral de Soei ainda estava em pedaços, também. Eu me esqueci que tinha esmagado isso, mas hey, tem um jeito melhor de o compensar. Era hora de todos os Onis ganharem roupas e equipamentos novos. Eu tinha prometido cuidar de suas necessidades básicas, e não queria que eles lutassem com essas porcarias velhas e quebradas.
Então eu os levei à cabine de Garm.
— Hey, chefe! — Ele me cumprimentou, sorrindo quando parou de trabalhar. — Esses são os nossos novos amigos ogros? Você tem certeza disso? Porque eles não se parecem com ogros para mim, mas…
Ele parecia muito surpreso, com os olhos nos peitos de Shion.
— É, bem, eu os nomeei, então eles não são mais exatamente ogros. São chamados de Onis agora, eu acho.
— Onis?! Essa é uma raça de alto nível, não? Nascem apenas em ocasiões extremamente raras entre os ogros…
— É assim? Bem, aí está, eu acho. Você acha que pode fazer algumas roupas e armaduras para eles?
— Oh. Sim, com certeza.
Garm ainda parecia ter dúvidas, mas se absteve de comentar mais enquanto trazia os ogros para dentro. Eu tinha certeza que ele mediria todos rapidamente. Hakurou estava bem do jeito que estava, e Kurobe aparentemente pegou roupas emprestadas de Kaijin por alguns dias. Simples uniformes de trabalho, na verdade, mas Kurobe parecia feliz o suficiente com elas.
E isso me fez lembrar: por que suas roupas pareciam tão japonesas?
— Hey, — eu perguntei a Hakurou. — Suas roupas são bem incomuns, não é?
Ele me disse que, a cerca de quatrocentos anos atrás, um grupo de guerreiros blindados chegou à terra natal dos ogros, gravemente feridos e parecendo perdidos na floresta. Os ogros eram um bando de guerreiros a essa altura, mais parecidos com monstros do que eles são agora, mas mesmo assim eles hesitaram em atacar os indefesos. Eles eram uma raça de alto nível, não muito preocupados com comida, então eles cuidaram deles.
Os guerreiros, agradecidos, instruíram os ogros em técnicas de combate e deram suas armaduras para eles. Um deles sabia como forjar essas armas estilo katana, e depois de um longo processo de tentativa e erro, eles conseguiram produzir várias.
— Um dos guerreiros que eles treinaram foi meu avô, — Hakurou disse orgulhosamente. — E ele fez questão de me ensinar todas as habilidades que ele possuía.
— É, — Kurobe adicionou. — E minha família está entre os ferreiros que os abastecem!
— Então vocês podem fazer essas espadas vocês mesmos?
— Eu sou mais versado em uma espada reta, — disse Hakurou. — Mas eu aprendi a cuidar disso bem o suficiente. Kurobe, no entanto, é um tipo de mestre de armas para nós.
— Yep! Eu que fiz todas essas espadas. Eu não sou muito bom em lutas, mas se você quiser que eu bata algum metal, eu sou seu ogro!”
Wow. Eu não tinha ideia de que havia um ferreiro entre eles. Kurobe era notavelmente mais fraco que os outros, então eu acho que força não era a única coisa em que ele era bom. Esse grupo de quatro séculos atrás devia ter sido de outros mundos como eu, eu imaginei, não que eu tivesse um modo de saber com certeza. O importante era que os ogros foram inteligentes o suficiente para manter sua tradição.
— Muito bem. — Eu disse. — Nesse caso, Kurobe, você será o dedicado ferreiro da vila a partir de agora.
— Pode ser, Rimuru-Sama! Vou fazer meu melhor por você!
Eu o apresentei ao Kaijin de uma vez, e, como eles já tinham se conhecido ontem, nossas discussões foram rápidas. Os dois imediatamente se deram bem e, quando eu saí, eles já estavam conversando sobre novas armas que eles poderiam fabricar – isso, e um tipo de “pesquisa” estranha que Kurobe queria fazer.
Eu não sei se foi por causa disso, mas parecia que Kurobe possuía uma habilidade única conhecida como Pesquisador. Ela era um pouco parecida com a minha habilidade Predador, e era voltada à produção de coisas, oferecendo sub-habilidades como Full Analista, Inventário Espacial e Transformação de Material. Inventário Espacial era basicamente como meu Estômago, e Transformação de Material o permitia mexer nas coisas que ele mantinha no Inventário espacial. Por exemplo, ele poderia “armazenar” um grande pedaço de sucata e transformá-lo em lingotes sólidos para processamento adicional. Mais ou menos como minhas habilidades de Cópia.
Foi divertido como Pesquisador deu a Kurobe os tipos de habilidades que ele, e apenas ele, poderia encontrar utilidade. Ele também tinha obtido Manipulação das chamas e Resistência a calor, e embora eu o classificasse como rank B em batalha, essas habilidades o tornariam em um oponente complicado, não? Apesar de que parecia que ele queria dedicar sua vida a forjar katanas.
Agora, pelo menos, eu tinha certeza de que os hobgoblins não teriam que se preocupar com o lugar de origem de suas armas. Mas antes que eles entrassem em produção em massa, eu realmente queria que eles fizessem algumas espadas para mim e para os outros ogros. Eu dei a Kurobe um massivo suprimento de Aço mágico para o trabalho e o coloquei nisso.
— Eu vou fazer as melhores espadas que você já viu! — Ele prometeu, batendo em seu peito com o punho para provar sua determinação. Eu estava ansioso por isso.
Com as medidas tomadas, Benimaru e Soei voltaram para fora, vestidos com roupas de pele. Pessoas tão bonitas que ficavam bem em qualquer coisa. Eu estou com tanta inveja.
— Hmm? Onde estão Shuna e Shion?
— Ah. Sim. Quanto a isso…
Benimaru estava um pouco relutante em explicar. Depois de cutucá-lo um pouco, eu ouvi que as duas aparentemente estavam insatisfeitas com vestir simples peles. Dado o quão extravagantes eram as vestimentas reais de Shuna, acho que eu não podia culpá-la. Ela disse que arrumaria sua própria roupa, achando peles muito sarnentas para os seus gostos.
— Princesa Shuna, você sabe… — Disse Soei. — É muito talentosa em costura e essas coisas. Uma das melhores entre nós, de fato.
Eu podia acreditar nisso. Ela e Shion estavam vestidas com um tecido que eu só poderia descrever como seda, assumindo que isso exista aqui. Era feita tecendo cordões com casulos de criaturas próximas conhecidas como Borboletas infernais, e depois infundindo o fio com uma grande quantidade de magia para proteção extra.
Eles também estavam vestindo roupas feitas com o que parecia cânhamo – não muito longe dos trapos que os goblins usavam, mas com um cuidado muito maior. Nós não estávamos falando sobre as mesmas plantas de base, mas era basicamente idêntico. Os ogros cultivavam uma grande plantação de algodão, algo que eu supunha que Shuna era capaz de processar, e o tecido resultante era suficientemente resistente.
Seria útil para as roupas do dia-a-dia, mas oh, essa seda! Nós definitivamente precisávamos de mais equipamentos de batalha de seda, com a defesa que ela oferecia. Seria perfeito para uma camada de base sob a armadura que Garm fazia para nós. Eu decidi trazer isso à tona quando o vi seguindo Benimaru.
— Entendo.” Garm disse. — Roupas de tecido…
— É. Eu estava me perguntando se nós poderíamos fazer algo de seda, na verdade.
— Seda?!
Eu fiquei chocado com o quão surpreendente isso foi para Garm. Embora eu talvez não devesse ter ficado dado o quão caro esse material parecia no Reino de Dwargo quando eu estava lá. Roupas de cânhamo e algodão estavam por toda a parte, mas seda era uma raridade. Eles nem mesmo sabiam como fazê-la, e os materiais principais eram mais que preciosos.
— Talvez eu possa ajudar sobre isso. — Soei interrompeu.
Borboletas infernais eram monstros de rank B, capazes de encantar as pessoas com o pó que eles liberavam de seus corpos, mas, como larvas, eles eram indefesos. Eles simplesmente procuravam por casulos contendo insetos juvenis e os colhiam.
Eu decidi deixar a colheita para a nossa tropa de cavaleiros goblins, com Soei os liderando para quaisquer locais secretos que ele conhecesse. Mais cedo ou mais tarde, eu gostaria de capturar algumas larvas e tentar criá-las em um prédio no local. Não que eu soubesse muito sobre como isso funcionava, mas se eles podiam criar bichos-da-seda em cativeiro na terra, isso tinha que ser possível. Provavelmente com um pouco de tentativa e erro, no entanto.
Shuna e Shion logo saíram, suas roupas recolocadas. Eu chamei Garm e o Dold de aparência entediada, e os apresentei formalmente a Shuna. “Oh, nossa!” ela exclamou quando eu expliquei as coisas para ela.
— Eu seria capaz de te ajudar, Rimuru-Sama.
Então, enquanto conversávamos, eu comecei a delegar as tarefas. Shuna produziria têxteis e tecidos de alta qualidade para usar em roupas. Garm fabricaria equipamentos de batalha feitos de seda. Dold tingiria os tecidos e as roupas resultantes. Com seus esforços combinados, em pouco tempo nós teríamos as roupas confortáveis que precisávamos.
Enquanto examinávamos isso, subitamente me perguntei se nós poderíamos usar minha Teia de Aço Pegajosa para alguma dessas coisas. Dada a minha habilidade, Anulação de Variação Termal, isso provavelmente seria capaz de lidar com a maioria dos ataques baseados em fogo – ou pelo menos tornar as roupas à prova de fogo.
— Oh, obrigado, Rimuru-Sama! — Shuna sorriu. — Eu tenho certeza de que serei capaz de produzir o melhor tecido que existe para você.
— Eu espero que sim!
— Apenas deixe isso comigo, Rimuru-Sama.
Ela adicionou. Que fofo. Ela devia amar ser confiada assim. Costurar era o seu hobby, e começar a usá-lo em seus deveres parecia prover muita motivação.
E, pelo que eu podia dizer sobre os irmãos anões, trabalhar com uma jovem ogra tão atraente também seria do agrado deles. Por favor, por favor, por favor, só não façam nada com ela…
Ela podia parecer fofa, mas era mortal. Se eles tentassem dar um tapa em sua bunda ou algo assim, eu duvidaria muito que eles estariam vivos ao nascer do sol.
Eu não duvidaria deles também, e esse era o problema. Estar livre de desejos carnais como esse tinha me feito um juiz muito frio do caráter das outras pessoas. Se eu não fosse um slime, eu provavelmente estaria mais preocupado com a minha própria pele do que com qualquer outra pessoa. Ela era tão fofa assim. Uma total princesa demônio. Você arriscaria sua vida tentando chamá-la para sair.
Por capricho, eu decidi fazer alguns desenhos. Não havia muito papel por aqui, então eu ainda estava usando carvão e madeira. Meu novo corpo deixou muito fácil criar o que eu queria, que nesse caso era o que nós chamaríamos de terno de negócios no meu mundo.
Eu tracei alguns exemplos de roupas para homens e mulheres, tentando imaginar Benimaru usando-as como eu fiz. Dada a aparência de que todos eram talentosos, eu pensei que esses os complementariam perfeitamente. Shion em particular, com sua aparência respeitável, eu pensei.
— Muito interessante. Shuna disse quando eu os mostrei a ela. — Eu ficaria feliz em tentar costurar alguns deles.
Então foi assim. Enquanto isso, eu decidi que iria com algo um pouco mais informal para mim – uma camisa leve e algumas calças, para o calor do verão. Eu não me importaria com algum tipo de capuz também, mas não havia como evocar um zíper nesse planeta. Por enquanto, eu tinha usado Comunicação por pensamento para passar minha imagem de como isso deveria parecer para as pessoas relevantes, então espero que eles façam isso pra mim mais cedo ou mais tarde.
Com esses pedidos feitos, todos nós saímos da oficina, exceto Shuna.
O Lago Sisu estava situado no centro da Floresta de Jura, cercado por uma ampla região de pântano. Era o domínio dos lizardmens.
Um punhado de cavernas cercava o lago. Elas formavam um tipo de labirinto natural que impediam qualquer um que tentasse entrar, e no final dele estava a vasta caverna que continha a fortaleza lizardmen. Lá, a raça tinha controle sobre a área do lago, garantido pela proteção natural com a qual eles eram abençoados.
Hoje, no entanto, os lizardmens receberam notícias que tinham o potencial de afetar o futuro do seu povo.
As forças orcs estavam aqui, e eles estavam avançando no Lago Sisu.
O chefe, após ouvir isso, ainda conseguiu manter sua compostura.
— Preparem-se para a batalha! — Ele ordenou. — Devemos chutar esses porcos de volta para o abismo de onde vieram!
Ele estava extremamente confiante, mas isso não significava que ele iria relaxar. Junto à ordem de ataque, ele enviou uma ligação para reunir o máximo de informações precisas sobre o exército orc que seu povo pudesse encontrar. Eles tinham que ter uma ideia de seus números, pra começar.
Um lizardmen comum, carnívoro e feroz em batalha, estava em torno do rank C+. Seus líderes de batalhão provavelmente estariam em B-, talvez alguns até em B. Talvez cerca de metade da tribo pudesse servir em batalha, e metade seria uma presença formidável em qualquer guerra.
O conhecimento convencional era de que um corpo de cavaleiros totalmente armados de um ou outro pequeno reino em torno da floresta fosse um uma sólida ameaça C+. Na maioria desses reinos, o exército consistia em no máximo cinco por cento da população total – normalmente em um por cento, a não ser que eles estivessem envolvidos em uma guerra prolongada. Uma força lizardmen com dez mil soldados, exibindo o trabalho de equipe e sincronização pelos quais sua espécie era conhecida, não ofereceria esperança para um reino cuja população estivesse abaixo de um milhão.
E essa batalha seria em seus territórios. O chefe gostava das suas chances.
Mas ainda havia algo que o incomodava. Os orcs não tinham problemas em perseguir oponentes fracos, mas eles nunca ousaram desafiar os mais altos na cadeia alimentar. Lizardmen não eram fracos. Eles estavam nos “mais altos”, por assim dizer. Goblins seriam uma coisa, mas o que estava os fazendo agir de forma tão destemida contra os lizardmens?
A pergunta deu origem a uma pequena semente de dúvida em sua mente, uma que mesmo agora esfaqueava o coração do chefe. Ele era um homem ousado, mas também era cuidadoso – um equilíbrio que qualquer um que quisesse liderar uma tribo tão feroz precisava ter. E as preocupações do chefe acabaram sendo muito perceptivas.
— A força dos orcs totaliza duzentos mil!!
O relatório do time de espionagem ao chefe e ao seu conselho de anciões da tribo desencadeou um sentimento de medo pela grande caverna. Seu conteúdo, emitido entre as respirações ofegantes dos guerreiros lizardmens, congelou a todos no local.
— Ridículo. Isso não pode ser possível! — Um dos anciões zombou.
O chefe concordou – ele teria dito o mesmo, se tantos outros anciões não estivessem presentes. Ele tinha que ser firme para o seu povo, indiferente a todas as más notícias que apareciam. Ele não podia acreditar, mas também não poderia simplesmente dizer isso. Se o relatório fosse preciso, ele teria que aceitar e propor contramedidas.
— Isso é verdade? — Ele se aventurou.
— Sim, meu lorde! Juro pela minha vida!
— Muito bem. Você pode ir descansar.
Ele acenou para o guerreiro e ordenou aos lizardmens, que sem dúvida haviam corrido a toda a velocidade dia e noite para entregar as notícias, que saíssem da câmara. A visão do chefe, tão sábio e reservado como sempre, deve ter os aliviado um pouco – tanto que caíram no chão, exatamente onde estavam, exaustos demais para continuar. Essa era a prova que a sala precisava de que as notícias eram verdadeiras.
Duzentos mil? Isso é insano…
Observando seus companheiros guerreiros levarem a equipe de espionagem, o chefe se viu forçado a reavaliar a situação. Os orcs certamente eram uma raça que se reproduz rapidamente em termos de números, mas ele duvidava que mesmo eles pudessem reunir uma variedade tão grande de homens e mulheres guerreiros em um só lugar.
Como eles poderiam ter a logística para abastecer duzentos mil estômagos famintos?
Seria um esforço gigantesco, manter essas linhas de suprimentos. Transportar toda essa comida não seria viável para uma multidão tão indisciplinada.
— Esses orcs são loucos egoístas. — Um de seus conselheiros sussurrou para ele. — Não se importam com mais ninguém além deles mesmos. Como alguém poderia ter os organizado em uma única unidade?
Essa é a questão, o chefe pensou. Mesmo o mais talentoso líder não conseguiria controlar uma força de duzentos mil de uma vez, não sem ter controle absoluto sobre eles. Mil de uma vez seria o limite prático. Orcs eram monstros de rank D, com inteligência abaixo da dos humanos. Eles pouco se importavam com o que não estivesse diretamente na sua frente. Eles eram tolos para um homem, e a palavra cooperação não existia em seu vocabulário.
O chefe estava com as mãos cheias, comandando todos os lizardmens que o servia, que totalizavam cerca de vinte mil. E essa era uma raça que, no geral, convivia em harmonia uns com os outros. Adicionar um zero a isso estava simplesmente além da compreensão.
— Há algum tipo de gênio entre eles comandando as forças? — O chefe perguntou a si mesmo.
— Dificilmente esse seria o caso. — Seu conselheiro respondeu. — Qualquer um capaz de manter a ordem entre eles precisaria ser um monstro único, e eu nunca ouvi falar de mais de uma dessas criaturas aparecendo ao mesmo tempo.
— De fato. — Outro entrou na conversa. — A ideia de múltiplos monstros únicos do seu calibre, meu lorde, nascerem entre os orcs… Pensar nisso é impossível.
O chefe assentiu, quando cada um deles balançaram suas cabeças em descrença. Não. Isso faz pouco sentido. Mas não há sentido em negar os fatos. Se eu assumir esse relatório como válido, o que os orcs seriam capazes de fazer?
Mesmo se os orcs tivessem vários monstros únicos como o chefe lizardmen, eles trabalhariam juntos em direção ao mesmo objetivo? Montar uma força inédita como essa exigiria alguma outra presença, algo empurrando todos esses monstros únicos e talentosos a lutar por um objetivo em comum sem se matarem. Um líder tão carismático significaria que mesmo os orcs de baixo nível não poderiam ser enganados. De fato, eles poderiam ser uma ameaça nunca antes vista.
Eu devo agir sob a suposição de que um líder tão superior está com eles? Os orcs teriam “isso” com eles, então…?
Espere. Poderia ser…?
Chegando a uma certa conclusão em sua lógica, o chefe ficou visivelmente agitado. Esse pensamento era algo que ele queria banir de sua mente, mas ele não podia. Alguém capaz de comandar tal força. Alguém que dizem nascer uma vez a cada alguns séculos…
— Poderia haver um Lorde Orc entre eles…?!
Tão suave quanto o sussurro do chefe, foi transmitido alta e claramente para seu povo, apesar da crescente comoção. Aqueles que entenderam ficaram quietos, eventualmente silenciando toda a caverna.
— Um Lorde Orc…
— Mas, certamente…
— Se, de alguma forma, esse for o caso…
Os anciãos que serviam como conselheiros do chefe foram igualmente incapazes de abalar a possibilidade. Um Lorde Orc era material de lenda, e em seus pensamentos, de fato capaz de comandar um exército de seis dígitos. Quanto mais eles refletiam sobre a ideia, menos eles podiam imaginar outra razão para o estado das coisas.
— Se… Se, de algum modo, eles tiverem um Lorde Orc entre eles, isso certamente explicaria porque eles se uniram dessa forma…
— Mas por qual propósito?
— Isso importa, nesse momento? A única questão é se nós podemos derrotá-los ou não!
A caverna estava tumultuada novamente, os conselheiros trocando opiniões após opiniões hostis.
Se nós podemos derrotá-los ou não…?
Lutar em uma planície colocaria os lizardmen, já em menor número, em uma pesada desvantagem. Os pântanos, no entanto, eram o seu quintal. Com uma mão cuidadosa e as armadilhas certas, eles teriam todas as chances de vitória.
Ou assim eles pensaram.
Se fosse uma simples horda de orcs como qualquer outra, o chefe saberia como despachá-la de várias maneiras. Mas se um Lorde Orc tinha nascido, não seria mais tão fácil. Se eles estivessem nessa desvantagem numérica, eles precisariam manter a moral alta e sobrecarregar o inimigo com seu trabalho de equipe. O chefe sabia que isso era possível, com seu conhecimento das terras locais, mas essa estratégia não funcionaria contra um Lorde Orc. O Lorde Orc era um monstro, completamente, um que podia farejar e consumir o próprio medo no coração de seus aliados.
O chefe pensou consigo mesmo: Como nós podemos sair desse dilema? Se essa coisa de Lorde Orc acabasse sendo uma ameaça inexistente, ele não poderia pedir mais nada. Mas, no entanto, ele se sentiu compelido a tomar todas as medidas que ele podia antes do confronto.
Ele precisaria de um backup.
O chefe, decidido, chamou um de seus homens. O nome desse homem era Gabil, e por mais prudente e confiante que o chefe lizardmen fosse, nem mesmo ele podia ver a enorme quantidade de combustível que ele logo jogaria nas chamas desse caos.
Os pálidos chefes dos goblins se entreolharam nervosos quando o encontro começou. Havia menos participantes do que antes – o que fazia sentido. Muitos tinham fugido diante dessa ameaça sem precedentes, que poderia mudar dramaticamente a Floresta de Jura para sempre…
Tudo começou com o ataque dos Lobos de presas. Isso, e os goblins que abandonaram a aldeia que possuía os guerreiros nomeados. Apesar dessa deserção em massa, os guerreiros nomeados tiveram sucesso em afastar os lobos.
Um salvador entre eles, tinha usado sua força incomensurável para protegê-los. Os guerreiros nomeados não só superaram a ameaça dos Lobos, como também os fizeram cumprir suas ordens; e agora eles estavam tentando reconstruir. Os aldeões que tinham declarado querer lutar com eles em um tribunal a um tempo atrás, agora se foram transferidos para a vila governada por esse salvador.
Goblins, aquelas coisinhas insignificantes, não tinham chance de sobreviver a menos que vivessem em grupos, ajudando uns aos outros. Mas mesmo depois disso acontecer, não havia como esses goblins, depois de abandonar seus semelhantes assim, ferir seu orgulho e implorar por perdão.
Não importa o quanto eles realmente quisessem, do fundo de seus corações.
Alguns já tinham verbalizado isso, na verdade. Mas se eles procurassem se juntar a eles agora, eles não duvidavam que seriam tratados pouco diferente de escravos. Pensando desse jeito, era completamente impraticável.
Felizmente, esse salvador não deu nenhuma indicação de querer “engolir” as aldeias ao seu redor. Talvez eles devessem apenas deixar as coisas como estão, vivendo como eles faziam antes. Seria melhor assim.
Mas a vida não foi gentil com eles. Um dia, do nada, um pequeno grupo de cavaleiros orcs equipados com armaduras completas de placas veio visitar.
— Nós somos cavaleiros da Ordem dos Orcs! A partir desse momento, essa terra está sob o controle do nosso valente Lorde Orc. Nós lhes daremos larvas e a chance de permanecerem vivos, se vocês desejarem. Vocês devem coletar todas as provisões de comida que vocês puderem em alguns dias e trazê-las para o nosso quartel general. Se fizerem isso, nós pouparemos suas vidas e os trataremos como os escravos que vocês são. Se não o fizerem, nós não teremos misericórdia. Não oferecemos rendição para aqueles que nos desafiam. Pensem bem antes de fazer alguma coisa! Gah-ha-ha-ha!
Terminada a declaração unilateral, os cavaleiros orcs saíram audaciosamente.
Orcs eram, no máximo, monstros de rank D. Mais fortes que goblins, sim, mas não tão esmagadores individualmente. Esse tipo de força estava além do conhecimento de qualquer pessoa.
Algo desconhecido e aterrorizante estava acontecendo na Floresta de Jura – todos estavam certos disso agora. Algo que anunciava coisas sombrias não apenas para essa vila, mas para todas as outras na área ao redor. Quando as aldeias se reuniram e descobriram que exatamente as mesmas declarações tinham sido feitas para todos eles pelos cavaleiros orcs, o desespero se firmou completamente. Nesse momento, os goblins perceberam que não havia para onde fugir.
Os orcs queriam que os goblins os abastecessem com comida, isso eles sabiam. Eles queriam isso deles para não precisarem se preocupar com procurar comida eles mesmos. Caso contrário, eles teriam destruído as aldeias dos goblins à primeira vista, reduzindo-as a cinzas.
Eles se alegraram quando eles disseram que poupariam suas vidas, mas se fossem confiscar toda a comida que eles tinham, qual era a diferença? Eles morreriam de fome ou seriam mortos. A escolha era entre a morte certa e uma chance ínfima de sobrevivência – não importava o quanto rangessem os dentes; os goblins não tinham nada além de aniquilação esperando por eles.
Suas forças prontas para a batalha eram menores que dez mil. Não havia como entrar em contato com seus companheiros em outras terras, não filiadas aos anciãos tribais. Não havia nada a ser feito.
Assim que eles se viram nesse impasse, eles receberam notícias que os obrigaram ainda mais a agir logo. Um enviado lizardmen tinha vindo visitar.
Esse foi um vislumbre de esperança? Os anciãos goblins se apressaram para encontrar esse mensageiro, um lizardmen chamado Gabil, que alegou liderar os guerreiros de sua tribo. A chegada de uma criatura nomeada fez uma multidão ao redor dele, como se fosse um salvador que certamente os tiraria dessa horrível situação.
— Eu quero que vocês jurem lealdade a mim. — Esse salvador lhes disse. — Façam isso, e seus futuros serão realmente brilhantes!
Os anciãos imediatamente decidiram confiar nele. Foi o clássico erro dos fracos, de se agarrar a qualquer coisa que possivelmente pudesse salvá-los. Alguns dos goblins sugeriram que seria preferível se juntar a seus antigos companheiros ao invés de serem governados pelos lizardmens, mas eles estavam em minoria. A votação foi proferida, e eles estavam agora sob o comando de Gabil – sem fazer ideia de que isso efetivamente definiria os seus destinos…
Gabil, lorde guerreiro dos lizardmens, tinha levado mil combatentes com ele para fora dos pântanos por comando direto. O chefe tinha lhe dado suas ordens – ordens que ele particularmente não gostava. Ele era um monstro nomeado, e seu chefe sem nome o estava usando como um par de bois ligados a uma carroça.
E mesmo que o chefe fosse seu próprio pai, isso estava começando a testar sua paciência…
Ele sabia que era o escolhido. Especial. Era uma fonte de orgulho para Gabil e para a sua autoestima.
E ele foi “escolhido”. Ele tinha encontrado um monstro no pântano, e esse monstro lhe deu um nome.
— Você tem potencial. — Essa figura lhe disse. — No futuro, eu poderia pensar em você como meu braço direito. Eu voltarei para te ver algum dia!
Assim, ele foi nomeado Gabil. Ele se lembrava como se fosse ontem – o evento, e o monstro, Gelmud. Ele via Gelmud como seu verdadeiro mestre.
Ele pode ser meu pai, mas por que motivos eu tenho que deixar um lacaio sem nome me comandar o tempo todo? Eu tenho que governar sobre todos os lizardmens um dia. Eu preciso, para o bem de Sir Gelmud!
Era assim que as coisas deveriam ser? Não poderia ser, ou assim Gabil pensou. Era um efeito colateral de querer ser reconhecido por seu pai – a figura sempre severa em sua vida, o grande líder de todos os lizardmens. Ele estava se deixando levar pelo seu orgulho, mas ele não tinha o vocabulário para perceber isso.
Então, e agora…?
O chefe tinha lhe ordenado para viajar entre as aldeias goblins e buscar a cooperação deles. Ele tinha permissão para ameaçá-los até certo ponto, mas era expressamente proibido fazer algo que pudesse deixá-los contra os lizardmens. Uma ideia morna, Gabil acreditava. O que funciona com goblins são demonstrações de força. Isso sempre dá certo. Para ele, seu jeito funcionaria bem – ele tinha todo o poder necessário para isso.
Sim! Por que nós precisaríamos de um chefe com a mente tão fraca a ponto de um mero pensamento de uma horda de orcs o fazer tremer de medo? Essa é a minha chance de assumir o controle de toda a tribo!
Parecia a oportunidade perfeita. Mas não seria fácil trazer os lizardmens para o seu lado – lizardmens que valorizavam poder, mas também solidariedade, acima de quase tudo. O chefe tinha controle completo sobre todos os seus cidadãos, e Gabil sabia que poucos se aliariam a ele no começo.
Ainda assim, ele pensou que poderia reunir soldados o suficiente que seriam leais a ele. Os goblins, por exemplo. De nível baixo, sim, mas eles serviriam bem o suficiente como escudos vivos. Em uma quantidade significativa, até mesmo eles poderiam ser uma ameaça. A força estava nos números, ele sabia, e dez mil parecia muito útil para ele.
— Por que se preocupar com os orcs? Com os meus poderes como o guerreiro mais forte entre os lizardmens, eles seriam poucos. E eu poderia aproveitar essa oportunidade para fazer meu pai abdicar de uma vez do trono!
— Então a era de Sir Gabil está chegando? — Um dos guerreiros perguntou.
— Mmm? …Ah-ha-ha-ha-ha! De fato, de fato!
— Muito bem, meu lorde! E eu prometo que todos nós te seguiremos até o fim do mundo!
Gabil lhe deu um aceno confiante. Em sua mente, seu futuro como o novo chefe e grande líder dos lizardmens já era só questão de tempo. Então, talvez, seu pai finalmente o visse como ele realmente era. Por agora, porém, ele precisava ser discreto. Ficar quieto e esperar pela oportunidade certa. Formar suas forças primeiro.
Então ele viajou para as aldeias dos goblins. Uma por uma, ele as colocou sob o seu comando. Eles aparentemente já tinham feito um contrato com os goblins, e isso foi o suficiente para eles o tratarem como um tipo de deus benevolente. Isso só serviu para aumentar sua já crescente confiança – o que fez as coisas irem a uma direção inesperada.
Eu sou o verdadeiro herói aqui! Gabil pensou. Suas ações se tornaram mais ousadas, arriscadas. Suas ambições infladas estavam famintas, e precisavam ser alimentadas logo.
Vários dias passaram.
A princípio, eu tinha me preocupado que Benimaru e os ogros não se dessem muito bem com o meu povo, mas eu acho que eu não tinha nada com o que me preocupar. Comparados aos hobgoblins, ogros eram um ou dois ranks mais altos na hierarquia, mas os goblins tinham a capacidade de aceitá-los como um deles. E desde que os ogros não estivessem muito preocupados com quem era o mais fraco, eles eram praticamente dignos de adoração no que se diz respeito aos goblins.
Com Kurobe fazendo espadas, Shuna costurando roupas, e Soei juntando casulos de Borboletas infernais, eu tinha todos se dando perfeitamente bem, na verdade, Benimaru e Hakurou estavam na caverna subterrânea sobre a qual eu havia falado. Eles chamaram isso de “treino”. O que estava bom para mim, com suas formas evoluídas, eu estava certo de que eles tinham novas habilidades que precisavam ser testadas.
Shion tinha mencionado onde eles estavam quando nós estávamos examinando as estruturas em construção na cidade. Ou, pra ser mais exato, eu estava sendo segurado próximo ao peito de Shion enquanto ela andava por aí. Ela tinha se oferecido para ser a minha secretária, e eu não tinha razões para recusar, então agora ela estava servindo como meu transporte, no lugar de Ranga. Eu poderia me transformar em humano, mas, na verdade, ser um slime é muito mais fácil. Eu definitivamente não tinha nenhum motivo impuro como desfrutar da sensação de estar sendo apertado entre seus peitos ou algo assim.
Eu chamei esse lugar de cidade agora, e esse era o melhor jeito de descrevê-lo. Certamente não era mais uma aldeia. Em termos do que eu havia preparado para o futuro, nós estávamos começando a ganhar um âmbito bem amplo. É claro, nós ainda estávamos ocupados com o sistema de esgoto e outras infraestruturas subterrâneas que levariam um tempo para ficarem prontas. No entanto, dado o quão entusiasmado Mildo estava com seu trabalho, eu tinha todos os motivos para esperar grandes coisas no final.
O centro da cidade estava começando a ficar muito cheio de construções, mesmo que a maioria delas fossem temporárias. Ele estava se tornando o nosso distrito industrial, uma linha de casas de madeira próximas aos nossos armazéns, servindo de oficinas para a criação de armas, armaduras e roupas. Kurobe estava dentro de uma, rindo com Kaijin enquanto trabalhava em uma coisa ou outra. Eu estava esperando pacientemente para descobrir o que era, já que eu sentia que iria atrapalhar o processo criativo se eu entrasse.
Então nós nos dirigimos à construção em que Shuna estava.
— Ah, Rimuru-Sama! — Ela sorriu assim que me viu. Ela rapidamente se levantou para me pegar, como se me arrancasse das mãos de Shion. Ela me deu alguns tapinhas amorosos enquanto me carregava, me mostrando como elas estavam lidando com seu trabalho. Eles pareciam estar se divertindo, o que eu fiquei feliz em ver, e enquanto conversávamos, ela não tinha nenhuma reclamação em específico.
Sempre que Soei voltava com seus casulos, eles iam diretamente à produção de seda. O trabalho com tecido de cânhamo e algodão já estava em andamento. Eu fiquei impressionado com a velocidade.
— Bem, nós temos que te agradecer por isso, Rimuru-Sama. — Shuna disse.
Acontecia, e eu não fazia ideia disso, que Shuna tinha obtido a habilidade única Analista, a mesma que eu tenho usado com tanto efeito. Aparentemente, ela havia herdado muitos benefícios que eu tinha como parte da minha habilidade Grande Sábio – Aceleração de pensamento, Analista e Avaliar, Cancelamento de feitiço e Toda Criação — Em seu caso, porém, suas habilidades de Avaliar estava tão avançada que ela poderia apenas usar Percepção Mágica para analisar objetos, enquanto eu tinha que usar Predador neles primeiro.
Muito conveniente. Mas graças a essa habilidade única, ela havia perdido um pedaço decente de energia mágica. Isso a levou de volta aproximadamente ao rank B+, embora a evolução provesse um aumento de força o suficiente para ela não ter queixas.
— Rimuru-Sama. — Shion disse quando nossa conversa com Shuna terminou. — A princesa Shuna tem que fazer o seu trabalho. Talvez seja melhor deixá-la por enquanto.
Ela tinha um horário para mim, como qualquer secretária decente.
— Oh? Você está cuidando bem de Rimuru-Sama, então?
— É claro! — Eu podia sentir Shion me afastando de Shuna. — Eu vou atender a todas as necessidades de Rimuru-Sama, então não precisa se preocupar com isso.
— Hee-hee-hee! Eu certamente não me importaria em cuidar dele também.
— De jeito nenhum, princesa Shuna. Não há necessidade disso. Eu cuidarei dele!
Eu quase podia ver as faíscas voando. Nah, é só minha imaginação.
Além disso, eu não precisava de “cuidado” nenhum. Eu tinha vivido sozinho por tempo suficiente para poder fazer praticamente tudo que eu quisesse sozinho. Talvez seja hora de sair daqui, eu pensei…
— Rimuru-Sama! Quem você acha que é mais adequada para cuidar de suas necessidades? Eu ou Shion?
Eu demorei muito.
— Hum, é… Você tem seda para tecer ou algo assim, certo, Shuna? Eu acho que você poderia ajudar sempre que estiver livre, talvez?
Ajudar com o quê, exatamente? Como se eu soubesse.
— Muito bem! Fico feliz em contar com isso!
Shuna sorriu. Isso foi o suficiente para ela, eu acho. Bem, que bom. Vamos deixar isso assim.
— Obrigado! — Eu respondi. Ela acenou graciosamente em resposta.
— Absolutamente! Eu ficarei feliz em servir como sua sacerdotisa sempre que você precisar!
— Sacerdotisa?
— Sim! Você me aceitou como seu Oráculo, aquele que o reverenciará e o servirá, não é?
Hum, eu fiz? Porque eu acho que me lembraria disso! Mas eu hesitei em dizer isso, sentindo que poderia ser meio perigoso.
— Oh, er… é? É. Claro. Divirta-se sendo meu Oráculo, então.
Eu fui agraciado com um sorriso rosado.
— Você está em boas mãos, Rimuru-Sama!
Tão fofa. Eu estava pronto para deixá-la dizer qualquer coisa para mim.
— Nesse caso, Rimuru-Sama, é melhor sairmos!
Shion, é claro, aproveitou a oportunidade para estragar o momento, me levantando rapidamente.
— Hum, obrigado?
— De nada, Rimuru-Sama! — Shuna murmurou, seu sorriso tenso em seu rosto, como se ela tivesse acabado de sair vitoriosa de algum tipo de batalha épica.
Fiquei feliz em ver que isso estava resolvido, então, eu senti como se a temperatura em torno de nós tivesse esfriado um pouco, mas eu tenho certeza de que era minha mente pregando peças em mim. Com tantas coisas no mundo, é melhor para todos apenas atribuí-las à imaginação.
Agora nós estávamos a caminho de Benimaru e sua equipe. Sem dúvida eles estavam ocupados testando suas novas habilidades, e eu queria descobrir o que eles tinham descoberto até agora.
Nós fomos à caverna subterrânea para encontrar Benimaru e Hakurou cruzando espadas um com o outro. A lâmina de madeira de Benimaru estava, por algum motivo, envolvida por uma aura branca. Quando ele a golpeou em Hakurou, ela emitiu um brilhante arco de luz que avançou. Deslizou direto pelo corpo de Hakurou, cortando uma pedra atrás dele ao meio. No momento seguinte, Hakurou apareceu atrás das costas de Benimaru, com sua espada de madeira no pescoço do oponente.
Isso aparentemente sinalizou o final da batalha.
…H-hum… Esses caras são ogros, certo? Porque aquele trecho que eu acabei de testemunhar me pareceu muito refinado. Esses movimentos, e aquela luz branca…? O que foi isso? Por que as espadas de treino de madeira são suficientes para esmagar rochas? Por que se preocupar com espadas, então…?
Hakurou foi o primeiro a me notar.
— Ah, olá para você, Rimuru-Sama. — Ele disse. — Um lugar bem agradável, esse aqui. Silencioso, também.
— Eu me desculpo por você ter que me ver assim, Rimuru-Sama.
— Oh, não, não. Eu ouvi que vocês estavam treinando, então eu pensei em ver como estavam indo. Está indo bem, eu suponho.
— Eu acho que nós estamos conseguindo lidar com isso, sim. — Benimaru disse. — Hakurou recuperou sua juventude o suficiente para ser tão forte quanto um homem com metade de sua idade.
— Hoh-hoh-hoh! De fato, é como Benimaru-Sama disse. Eu posso sentir o poder fluindo por essa moldura velha e murcha!
— Ah, mas está apenas começando para nós dois, Hakurou! Eu ainda sou mais forte do que você, o que deveria ser o suficiente para vencer, mas…
O rosto de Benimaru estava visivelmente azedo. Eu podia dizer que suas reservas de magia ultrapassaram as de seu oponente.
— De fato, jovem mestre, ou eu deveria dizer Benimaru-Sama? Eu temo, porém, que você confie demais em suas reservas de magia. Você deve dar ouvidos à sua espada, como eu faço, e se tornar um com ela. Eu odiaria me deixar perder até que você alcance isso.
Mesmo antes de evoluir, Hakurou era um guerreiro magistral o suficiente para se esgueirar por trás de mim. Eu ainda me lembrava de como ele desviou da minha Percepção Mágica por tempo o suficiente para cortar meu braço fora, mesmo com Barreira multicamadas e Armadura corporal me protegendo. Eu não queria pensar muito nisso, mas agora ele deve ser forte o suficiente para terminar o trabalho para sempre.
— É, e você cortou o meu braço há pouco tempo, não foi? — Eu disse. — Pra ser honesto, aquilo me impressionou, cara.
— Ha-ha-ha-ha-ha! E então você o regenerou em um momento! Acho que fui eu que entrei em pânico.
Bem… isso era verdade, mas só aconteceu porque eu tinha obtido Regeneração ultrarrápida lá atrás.
Mas ele não precisava saber disso.
— Eu fiquei muito impressionado com o modo que você conseguiu se ocultar completamente, no entanto. Como isso funciona?
— Essa é uma habilidade conhecida como Battlewill. Ela usa minha aura, o que a coloca em uma família diferente das habilidades de magia.
Como Hakurou disse, Battlewill era um tipo único de Arte, ou habilidade técnica, que transformava as magículas dentro do corpo em espírito de luta, assim aumentando a forma física do usuário. Se a aura de alguém é o que sai enquanto você não está fazendo nada, espírito de luta é o que o seu corpo libera enquanto, bem, luta, embora, considerando as auras já disponíveis para monstros de alto nível, me parecia trocar seis por meia dúzia….
Havia algumas outras Artes também. Movimento instantâneo, por exemplo, que permitia exatamente isso, ou Ocultar, que forçava o seu oponente a te perder de vista. Fortificação, que fortificava seus punhos e armas, era mais uma Arte iniciante, e essa era a luz branca que eu tinha testemunhado, eles poderiam dispará-la como um projétil. Era tudo parecido com magia, mas não era magia. Não havia tempo de lançamento, por exemplo, o que as tornava mais úteis em situações críticas.
Dado que alguém com o nível certo de inteligência podia aprender Artes, eu acho que a visão de ogros às utilizando não deveria ser surpreendente. Shuna também tinha aquela magia ilusória com ela. Eu acho que era certo que monstros de alto nível teriam esse tipo de coisa nas mãos, como uma regra. Que bom que eles estavam do meu lado, seria ruim se não estivessem.
Se um aventureiro comum se encontrasse com um monstro com esse tipo de arsenal nas pontas dos dedos… Eu não podia imaginar quantos azarados encontraram o seu fim dessa forma. Eu parei por um momento para fazer uma oração silenciosa por eles.
Essa coisa de Battlewill, no entanto, era interessante. Eu definitivamente queria aprender sobre Ocultar, contra qual Percepção Mágica aparentemente era impotente. Minha forma humana me deu uma visão normal, mas se eu não tivesse isso, eu estaria aberto a aquele ataque lá atrás. Como eles disseram, a Arte começa suprimindo seu som, então seu cheiro, então sua temperatura, e então seu espírito, e uma vez que você chega nesse nível, você nem mesmo atrapalha mais as magículas ao seu redor.
Definitivamente, uma habilidade que eu queria ter.
— Hakurou-Sama era o nosso professor. — Shion explicou. — E o mais poderoso espadachim entre os nossos retentores.
— Entendo. Então, Hakurou… Eu quero aprender essa coisa de Battlewill, e eu gostaria que os hobgoblins fossem treinados nisso, também. Poderia trabalhar mais um pouco pra mim como meu Instrutor oficial?
— Hoh-hoh-hoh! Você quer um favor desse velho decrépito? — Ele se ajoelhou. — Fico feliz em ouvir isso! Se for por sua causa, Rimuru-Sama, eu ficaria feliz em movimentar meus ossos cansados mais uma vez!
— Rimuru-Sama. — Benimaru adicionou. — Você disse que planeja criar uma nação nessa terra, certo? Você será o rei, e Rigurdo seu primeiro-ministro? Eu mesmo não sei nada sobre governar, mas quando se trata de questões militares, acredito que existam poucos que se comparem a mim. Se você desejar me designar para um cargo desse tipo, eu aceitaria de bom grado.
— Por mim tudo bem… mas isso seria meio que regredir para você, não seria?
— Nada do tipo. Nós servimos você agora, Rimuru-Sama, e nós oferecemos nossa lealdade. Se eu puder cumprir, servindo como seu vassalo, então eu ficaria feliz em fazer tudo que eu puder.
Hmm. Me pergunto como lidar com isso. Ele certamente parece sério. Ele tinha feito um pedido semelhante alguns dias atrás, mas eu honestamente não havia levado isso muito a sério. Talvez seja eu quem deva mais respeito a ele.
— Tudo bem. Eu espero poder contar com sua força, então.
Eu tinha que retribuir sua decisão de uma forma ou de outra, eu pensei. Agora era a hora certa. A hora para mim e esses ogros finalmente, firmemente caminharmos de mãos dadas.
— Isso é terrivelmente injusto! Rimuru-Sama! Se for assim, eu gostaria de ser nomeada para um posto também!
Sheesh. Ela me assustou.
Shion, ainda me segurando firmemente próximo ao seu peito, estava visivelmente fazendo beicinho. Oh, cara. Ela pensava que eu estava a expulsando do grupo das crianças legais ou algo assim? Acho que eu vou precisar preparar algo para ela também.
Eu pulei de seus braços para o chão, me transformando em forma humana logo após. Antes de eu tocar o chão, eu produzi uma muda de roupas do meu estômago e a vesti, um movimento que eu tinha praticado em segredo. Benimaru e Shion pareciam surpresos, mas eles se ajoelharam diante de mim silenciosamente antes de dizerem qualquer coisa.
— Muito bem, então, Benimaru, eu o designo como meu General Samurai. Daqui em diante, você será responsável por administrar os assuntos militares da minha nação.
— Sim, meu lorde! Eu o servirei bem, dentro e fora do campo de batalha!
— E você, Shion, eu designo como minha Guarda Real. Seus deveres permanecerão principalmente iguais aos de uma secretária, eu acho, mas de qualquer jeito, dê o seu melhor, tudo bem?
— Muito obrigado, meu lorde! Eu me esforçarei todos os dias para te servir da melhor forma possível!
Então agora eu não apenas nomeei todos eles, como também os dei três “classes” para trabalhar. Eles não poderiam ter ficado mais extasiados de alegria. Kurobe parecia amar o seu trabalho. Eu deveria ter dado títulos formais a eles mais cedo. Shuna e Souei também mereciam algum.
Assim que eu pensei nisso, uma figura apareceu subitamente, próxima a Benimaru. Era Souei, e parecia que ele tinha pulado da sombra de Benimaru, o resultado, ele explicou, da habilidade Movimento das sombras que ele ganhou como parte de sua evolução. Eu sabia que ela envolvia aproveitar a sombra das pessoas para ir do ponto A ao ponto B o mais rápido possível, mas eu não sabia muito sobre os detalhes.
Eu mesmo tinha aprendido – fazia parte do que eu tinha aprendido dos lobos de presa – mas eu ainda não tinha tentado usar. Provavelmente era mais útil do que eu pensei à primeira vista. Eu tinha tantas coisas nesse momento, que eu não tinha tempo de experimentar completamente todas elas. É melhor eu entendê-la em breve, pelo menos. Especialmente se Souei já estiver bem versado nela. Seria ótimo para reunir informações, eu acho.
Ao me notar, Souei se ajoelhou.
— Reportando, meu senhor! — Ele latiu.
— S-sim?
— Eu completei minha missão de coleta de casulos, e no meio do caminho eu testemunhei um grupo de lizardmen em movimento. Localizá-los tão longe dos pântanos que eles chamam de lar me pareceu muito incomum, então eu achei que seria melhor reportar para você o mais rápido possível.
Souei parecia perfeitamente sereno. Sua respiração não estava irregular nem nada, mas eu tinha certeza de que ele devia ter se apressado. Minha habilidade Percepção de calor me disse que a temperatura corporal parecia mais alta do que o normal.
— Lizardmen? Isso é estranho. — Benimaru disse, pensativo.
Então lizardmen e orcs…? Alguma coisa definitivamente estava acontecendo agora.
— Souei. — Eu disse. — Eu gostaria que você fizesse um tipo de trabalho de espionagem para mim. Começando hoje, você servirá como meu Agente Secreto, coletando informações para mim e para a nossa causa.
— Eu não poderia querer nada melhor, meu lorde. — Ele respondeu, em voz baixa, mas decidida. — Sempre me disseram que meus ancestrais foram presenteados com as chamadas Artes das trevas, e eu estou ansioso para exercitar essas habilidades ao máximo para você.
Então agora os ogros e eu éramos uma grande e feliz família, mais ou menos. Eu tinha um pequeno grupo de agentes leais trabalhando para mim. Eles haviam evoluído para Onis, e tinham recuperado um bom número de habilidades de seus ancestrais.
Quando eles evoluíram pela primeira vez, eu tinha me perguntado se todos eles tinham atravessado a parede que estava no topo da faixa de rank A. Mas agora que estavam obtendo novas habilidades e se acostumando com seus novos corpos, seus ranks individuais estavam mudando. De longe acima do resto da aldeia em força, mas ainda assim, mudando.
Tive a sensação de que minhas atribuições de emprego, ou “classe”, a eles tinham ajudado a fixar a quantidade exata de força mágica que cada um deles tinha. O mesmo tinha acontecido com os hobgoblins que receberam classes.
No final, o sucesso em batalha tinha menos a ver com força bruta e mais com como você se igualava ao seu inimigo em termos de habilidades. Foram as minhas habilidades que realmente derrotaram Ifrit, não o que quer que meu corpo de slime tenha feito por mim. Ver esses Onis obterem habilidades únicas do mesmo jeito foi fascinante.
Eu tive a sensação de que Shuna tinha me forçado um pouco, mas eu não me importava. Ela estava acostumada a ser uma sacerdotisa, eu acho, então a classe que eu dei a ela funcionava bem o suficiente para mim. Ela parecia feliz o suficiente com isso, também.
Então agora eu tenho seis Onis trabalhando para mim, cada um com sua própria classe. Benimaru, o General Samurai; Shuna, o Oráculo (ou sacerdotisa); Hakurou, o Instrutor; Souei, o Agente Secreto; Shion, a Guarda Real; e Kurobe, o Ferreiro de Espadas. Eu gostei disso.
Gabil estava encontrando algumas mentes muito receptivas entre as aldeias de goblins que ele tinha visitado pessoalmente. Eles não precisavam de discursos grandiosos sobre o quão forte ele era, eles ficaram ansiosos para segui-lo praticamente à primeira vista. Era assim que as raças mais fracas funcionavam, ele supôs. E se eles demonstrassem algum sinal de desafio, ele estaria pronto para levá-los à submissão.
As ordens do chefe não estavam mais na mente de Gabil. Ele reuniu guerreiros capazes de cada aldeia, trazendo qualquer suprimento de comida que eles pudessem arrancar de seus armazéns. Eles totalizavam sete mil, vestidos em armaduras frágeis de couro e carregando lanças rudes com pontas de pedra. Não dignos de confiança em batalha, mas estava bom por enquanto. Aqueles assustados demais para lutar já tinham fugido, de qualquer maneira.
— Anciãos! — Ele berrou. — Existem outras aldeias na área que eu deveria estar ciente?
Os anciãos trocaram olhares uns com os outros, e então um finalmente se aproximou timidamente para responder.
— Bem, talvez não exatamente uma vila, mas deve haver um outro assentamento, sim.
— Assentamento? — A escolha de palavras do ancião irritou o lizardmen. — Como assim? O que tem de tão preocupante sobre esse ‘assentamento’ que você fala?
Os anciãos responderam com uma história surpreendente, a história de um bando de goblins montando Lobos de presas. Isso não fazia sentido para ele. Esses eram monstros fortes, esses caninos, andando em bandos para governar as planícies. Em seu território, até os lizardmen observavam seus passos. Por que eles se curvaram à vontade de espécies inferiores como goblins? Isso foi um absurdo.
E as histórias dos anciãos ficavam cada vez maiores à medida que eles continuavam.
Aparentemente, eles estavam sendo liderados por um slime, entre todas as coisas. Ridículo, pensou Gabil. O monstro de nível mais baixo que já existiu! Talvez ele tivesse encontrado um meio de encantar as mentes dos goblins igualmente estúpidos, mas Lobos de presas? Qual é!
Gabil precisava ver por si mesmo. Talvez houvesse um truque por trás da fundação desse “assentamento” que ele pudesse apropriar para seus próprios objetivos. Se tudo corresse bem, talvez mesmo esses supostos Lobos de presas poderiam ir para o seu lado, tornando as vastas planícies em seus campos de caça pessoais. Então ele entrou em ação, se deixando levar pelos seus desejos.
A localização que Gabil recebeu não tinha nenhuma aldeia. Isso o irritou, mas ele deixou isso de lado. Se ele quisesse ganhar controle sobre os Lobos de presas, ele tinha que esperar um problema aqui e ali. Ser liberado de qualquer senso de dever com seus superiores lizardmens tornou impossível para ele controlar sua luxúria por poder, mas ainda assim, ele sabia que paciência era a chave.
No momento, a existência do seu chefe não era nada mais que um obstáculo para os objetivos de seu exército. Se ele pudesse obter a cooperação dos Lobos de presas, os outros lizardmens não duvidariam em o reconhecer como seu novo rei. Os lordes das planícies, ao lado dos reis dos pântanos? Quem teria temor daqueles porcos inferiores agora? Não importa em que quantidade eles estejam.
Ninguém. Gabil estava certo disso. Ele os suprimiria rapidamente, e depois dominaria a Floresta de Jura.
E isso, imagino, seria um feito digno o suficiente de me colocar aos pés de Gelmud-Sama.
Ao imaginar a alegria que seu mestre lhe demonstraria ao ouvir as novidades, ficou fácil para Gabil continuar paciente. Ele já tinha homens estacionados no Lago Sisu, à espera de ordens adicionais. Os suprimentos ainda estavam escassos, então ele tinha que agir logo. Não havia tempo a perder.
Um de seus homens relatou ter visto trilhas novas na área. Ele imediatamente deu uma ordem. Um grupo de dez guerreiros de elite, incluindo ele mesmo, cavalgariam em seus lagartos de montaria em direção ao seu objetivo. Gabil nem mesmo se importou em esconder sua presença nas planícies. Os Lobos de presas eram uma preocupação, mas se eles estavam seguindo as ordens de goblins entre todas as coisas, eles não poderiam ser nenhuma ameaça agora.
Eu precisarei treiná-los, ele pensou, e trazê-los de volta a suas antigas glórias!
Ele não fazia ideia do que o esperava. Sua cabeça estava cheia de orgulho com a ideia de servir Gelmud-Sama, o único mestre que ele realmente amava.
Tradução: TDDSK
Revisão: ZhX
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