Em menos de dez minutos, na mesa de pedra em frente à cabana de palha, cinco pratos, sendo quatro de legumes e uma tigela de sopa, foram colocados. O aroma deles flutuava no ar.
Durante todo o processo, a boca de Zhu Yao esteve bem aberta, e ela ainda não tinha se recuperado do estado em que ficou depois de ver uma certa pessoa que não perecia uma Divindade diante de seus olhos.
— Coma! — disse Yu Yan, indiferente, utilizando apenas uma palavra.
Ele se sentou na frente dela, passou uma tigela de arroz e fez sinal para que começasse a comer.
Zhu Yao pegou a tigela com movimentos robóticos; um amontoado de sinais de exclamação ainda percorria loucamente sua mente.
— Mestre, você sabe cozinhar?
Ele lhe entregou um par de pauzinhos, parou por um momento e, então, disse:
— Seu Mestre-avô me ensinou uma vez.
Oh, então é uma habilidade herdada. Em silêncio, começou a comer.
Só se sentiu cheia depois de comer três tigelas de arroz, largando a tigela e os pauzinhos logo em seguida.
Estou estufada.
Sentia-se como se tivesse voltado dos mortos.
Durante todo o processo, Yu Yan ficou apenas sentado na frente dela, observando-a comer. Quando ela finalmente largou os utensílios, ele começou a limpar as tigelas e pratos na mesa. Antes que Zhu Yao pudesse pará-lo, tudo já estava limpo na cozinha. Até aproveitou o embalo para pegar todos os vegetais empilhados do lado de fora e colocá-los de forma organizada na cozinha.
Zhu Yao simplesmente o observava com olhos brilhantes, quase querendo escrever três palavras na testa do seu mestre: “Dono de Casa Virtuoso”.
Ele era mesmo capaz de fazer qualquer coisa!
Yu Yan olhou para a expressão de Zhu Yao e sabia que ela ainda não tinha absorvido nenhuma energia espiritual. Mesmo assim, não a pressionou e simplesmente lhe disse algumas palavras encorajadoras, dizendo para que não tivesse pressa na cultivação e coisas do tipo. Quanto mais ouvia aquilo, mais comovida ficava. Sentia que tinha descoberto o pote de ouro no fim do arco-íris, pois encontrara um mestre com tantos recursos versáteis.
Sua vontade de cultivar foi preenchida com mais vigor, e ela voltou para dentro de casa para sentir a energia espiritual, confiante.
Infelizmente, mesmo com toda a motivação que tinha, a realidade era cruel. Zhu Yao meditou por uma noite inteira e, ainda que não tivesse caído no sono desta vez, não conseguiu sentir um traço sequer da energia espiritual. Ao ver que o sol já estava nascendo, sentiu-se profundamente incapaz.
Na última vez que saiu, descobriu que os pivetes que foram para a seita junto com ela já tinham sentido a energia espiritual, por isso foram capazes de receber seus distintivos de jade. Pois tais objetos só podiam ser abertos depois de inserir a energia neles. E aquele gordinho já tinha cultivado até o primeiro nível da Essência. Era por este motivo que o resto dos pivetes o tratavam como um líder.
Quanto a Zhu Yao, nem mesmo era capaz de abrir seu próprio distintivo.
Que vergonha. Onde está a trapaça prometida a um portador da Veia Espiritual de Relâmpago?
Deu um longo suspiro. Sentia que precisava ver o mestre na porta ao lado para conversar sobre a vida, para que ele pudesse consolar o seu coração partido.
Justo quando se sentou, um fluxo familiar de calor lhe percorreu a parte baixa de seu corpo. Foi agressivo e interminável, como se mil cavalos galopassem sobre ela.
Sua expressão ficou pálida, e ela sentiu vontade de chorar. Antes que tivesse chance de cumprimentar sua “tia”1 , que não via há um bom tempo, uma dor excruciante veio da parte mais baixa de seu abdômen, fazendo-a ficar louca. Mas que infernos! Por que dói tanto!
Ela sempre teve um problema: o seu período lhe causava muita dor, do tipo mais torturante. Todos os meses, um pouco antes da sua tia chegar, se certificava de não tomar bebidas frias; só assim conseguia passar por isso com tranquilidade. Caso tomasse um golinho de água gelada, teria que correr para o hospital e ser esmurrada por analgésicos.
Porém, alguns meses depois que chegou a este mundo, sua tia, por algum milagre, desapareceu. No começo, até sentiu certa alegria, imaginando que não havia uma criatura tão cruel naquela realidade. Como poderia saber que, pelo fato de ainda não estar acostumada com aquele mundo, teria um atraso de rede? Alguns meses de tias estavam esperando por ela!
Incluindo a noite inteira de brisa fria que precisou aguentar quando escalou a montanha alguns dias atrás, parecia que a dor que sentia não iria terminar tão cedo.
Um tempo depois, Zhu Yao já estava curvada como uma bola devido à tortura, mesmo assim, ainda foi incapaz de aliviar a dor que sentia. E a cama também ficou manchada com várias marcas de sangue. Logo quando sentiu que morreria, a porta se abriu com um estrondo, e uma figura branca apareceu na frente de sua cama.
Na sua expressão fria, as duas sobrancelhas estavam profundamente juntas. Ele olhou de uma maneira estranha para a figura curvada e ficou chocado quando sentiu o cheiro de sangue permeando o ar.
— Foi ferida? — Quem foi? Quem se atreve a machucar minha discípula, a qual está sob minha supervisão?
— Mestre! — Zhu Yao puxou a coberta em silêncio para cobrir as pernas. Não havia nada mais embaraçoso do que os outros verem o período dela.
— Quem te feriu? — Yu Yan estendeu a mão, agarrou o pulso dela e começou a checá-lo. Uma grande quantidade de sangue foi perdida, parecia que o ferimento tinha sido grave.
— Não… não é isso! — Envergonhada, afastou a mão dele. Não pode ser que ele não tenha visto que era apenas o período dela, certo? — Mestre, saia primeiro. Ficarei bem logo mais. Ah, é mesmo, se não for incômodo, pode ferver uma tigela de água com açúcar mascavo para mim?
Água com açúcar mascavo? Como assim? Yu Yan não fazia ideia.
Vendo sua expressão hesitante, ele não pôde deixar de pensar que, talvez, ela tivesse um motivo para não lhe contar. Ou a pessoa que a feriu também lhe ameaçou com algo? Um certo mestre estava furioso. Havia mesmo alguém neste mundo que era capaz de ameaçar sua discípula.
— Não precisa ter medo, basta dizer qual é o problema ao mestre. Eu mesmo irei te ajudar a fazer justiça.
— … — Como diabos ela iria explicar sobre a tia dela? — Mestre, estou bem mesmo.
Yu Yan franziu a testa com ainda mais força. Ao ver que não estava disposta a falar, não teve escolha a não ser utilizar uma opção melhor.
— Deixe o seu mestre ver seu ferimento.
— O quê!? Está falando sério? Não estou ferida, verdade!
No entanto, ele já havia puxado o cobertor dela e olhado para suas pernas. Por causa de sua ação mais cedo, o sangramento da tia dela aumentou ainda mais, e, em pouco tempo depois, sangue escorria sem parar pelas suas coxas, manchando suas calças.
Porém, aos olhos de Yu Yan, seus ferimentos pareciam ter piorado, pois o cheiro de sangue estava ainda mais denso do que antes. Ele estendeu a mão para puxar as calças de sua discípula para investigar o machucado.
Zhu Yao de repente agiu, pressionando a mão dele, todo o seu rosto ficara pálido ao vê-lo agindo.
— Mestre, estou bem mesmo. Isso é normal.
Yu Yan ainda mantinha a mesma expressão séria enquanto olhava para ela. Com olhos repreensivos, afastou a mão dela.
— Você está com um ferimento de tamanha magnitude, como pode ser normal? Solte a minha mão e deixe o mestre conferir.
— Não. — Seu medo era tão grande que a fez esquecer da dor.
Então saltou e se escondeu no canto da cama. Desde que era jovem, esta seria a primeira vez que suas calças seriam arrancadas por outra pessoa, como poderia se manter calma?
O rosto de Yu Yan ficou sombrio por um momento. Sua expressão, desprovida de qualquer tipo de calor, parecia estar ainda mais fria.
— Venha aqui!
Com raiva, ela balançou a cabeça. Caso se aproximasse, sua castidade e sua virgindade não desapareceriam?
Ele fez um gesto com a mão, e Zhu Yao sentiu o corpo ficar rígido. Como se perdesse o controle sobre ele, voltou flutuando para onde estava e pousou tranquilamente nos braços de Yu Yan. Com um simples puxão, as calças dela desceram, revelando uma **** branca, manchada de sangue.
Ela simplesmente sentiu um arrepio em suas partes baixas e, por um instante, vergonha, estranheza, choque, humilhação e diferentes tipos de sentimentos irromperam em seu coração. Um grito que já não conseguia mais segurar ressoou através das nuvens e, então, por reflexo, deu um tapa forte com a mão direita no rosto da pessoa ao seu lado.
— Ah———————****!
Notas
1 – Tia é uma gíria chinesa usada na internet. É escrita em chinês mesmo, mas teve origem no inglês. Algo como “Quando uma garota atinge a puberdade, tem que esperar até que ela venha todo mês”. ATÉ é UNTIL em inglês, tirando o L, fica UNTI, pronunciada de forma muito semelhante a AUNTIE (TIA). Na internet, muitas garotas chinesas dizem algo como “Minha TIA veio”, o que significa que ela está em seu período. ⇧
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