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Trem da Noite – Cap. 02 – A Segunda Noite – Okuhida

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— Para mim, não importa muito a jornada, mas sim as pessoas com quem viajo. Quando viajo com outras pessoas, parece que estamos todos trancados juntos em um só quarto.

Takeda foi o segundo a falar.

Ele era um ano mais novo do que eu, e ainda era um primeiranista da faculdade quando o conheci na escola de inglês. Embora parecesse tímido por fora, poderia ser surpreendentemente ousado, e se deu bem com Nakai e Tanabe muito rapidamente. “Takeda é um otário”, disse Hasegawa uma certa vez, e era verdade que ele tendia a ser um mandão.

Depois de se formar, ele conseguiu um emprego em uma editora científica em Tóquio, trabalhando com livros didáticos e livros para o público em geral.

O que se segue é a história que contou.

 

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Essa história aconteceu no outono há quatro anos, quando fui para Hida.

Onde trabalho há um homem na casa dos trinta anos, seu nome é Masuda. Ele era da mesma seção que eu e me instruiu quando comecei a trabalhar. Agora estamos em departamentos diferentes, mas ainda comemos e saímos juntos quando temos alguma folga do trabalho.

Perto do final de outubro, me convidou para uma refeição e me perguntou: “O que acha de passar uns três dias em Hida, em novembro?” Conosco estaria sua namorada, Kawakami Miya, e também a irmã mais nova dela, Ruri.

Para ser sincero, eu já sabia que não seria só uma saidinha relaxante. Já tinha saído com eles algumas vezes, então estava familiarizado com o funcionamento do relacionamento que tinham. No trabalho, eles desempenhavam o papel de adultos perfeitos, mas quando estavam juntos se transformavam em crianças briguentas que sempre batiam cabeça. Ruri morava no apartamento de Miya e ia para a faculdade na cidade, mas era tímida e quase o oposto da irmã mais velha, então simplesmente fazia o que Miya mandava. Eu sabia que se as coisas começassem a dar errado durante a viagem, ela se provaria inútil.

— Então é por isso que você está me convidando, hein?

— Seja parceiro! — Masuda começou a me adular enquanto ria.

Bem, eu realmente não me importava em ser o pacificador, então falei:

— Tudo bem, estou dentro. — E em novembro todos nós partimos.

A primeira metade da viagem foi tranquila, em grande parte graças aos meus próprios esforços. Nós nos encontramos na Estação Shinjuku e pegamos o Expresso Limitado Azusa para Matsumoto, onde passamos o dia caminhando pela cidade castelo e nos hospedamos em um hotel. Estávamos planejando alugar um carro no dia seguinte e dirigir pela passagem nas montanhas até Hida Takayama. No quarto do hotel, Masuda abriu um mapa.

— Antigamente, a Rota 158 era chamada de Rodovia Nomugi. — Nos informou. Pelo visto, as operárias tomavam essa estrada para chegar às fábricas de seda nas montanhas.

Ouvir Masuda compartilhar sua vasta riqueza de conhecimento enquanto todos olhávamos o mapa era parte da diversão da viagem. Amanhã vai ser massa, pensei. De certa forma, isso foi quase decepcionante.

Mas na manhã seguinte a chapa esquentou, já que Miya acordou de péssimo humor.

A atmosfera dentro do carro era como a de estar sendo esmagado como uma latinha.

Miya estava sentada no banco do passageiro com o rosto voltado para o lado, enquanto Masuda segurava o volante em silêncio. Nessas horas, não havia nada que ele pudesse fazer para melhorar o humor de sua namorada. No banco traseiro, Ruri se sentou como uma estátua ao meu lado, sem mover um fio de cabelo que fosse. Ela sempre ficava assim quando sua irmã mais velha estava com raiva. Por um tempo tentei manter o clima leve, mas no final tive que desistir, e depois que joguei a toalha ninguém disse uma palavra.

A Rota 158 conduzia para o oeste pela cidade e se aprofundava nas montanhas. Depois de um tempo, se separou da velha Rodovia Nomugi e se dirigiu para a Passagem Abō. Okuhida ficava no fim de um longo túnel e, se tudo corresse bem pelas estradas da montanha depois disso, chegaríamos a Hida Takayama por volta das onze.

 

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Encontramos uma velha enquanto passávamos perto de Hida Takayama.

A primeira coisa que vimos foi uma minivan estacionada na beira da estrada. Um homem de terno estava parado ao lado do automóvel, agitando os braços freneticamente, tentando chamar nossa atenção. Um arrepio subiu pela minha espinha quando o vi. A minivan cor de creme parecia bastante comum, e ele parecia um cara legal, então eu não fazia ideia de onde essa sensação estava saindo.

Ouvi Miya batendo os dentes no banco do passageiro.

— Não pare.

— Não posso simplesmente ignorar — disse Masuda em um tom reconfortante, pisando bem fundo no freio. Estacionando atrás da minivan, ele abriu a porta e saiu. No silêncio que permaneceu no automóvel, só se ouvia Miya estalando a língua. Pelo para-brisa dianteiro, vi o homem de terno explicando algo e apontando para a minivan.

Querendo um pouco de ar fresco, saí e caminhei em direção aos dois homens. O ar de outono estava fresco e frio, trazendo o cheiro de folhas úmidas e sujeira.

O homem estava levando sua tia para Hida Takayama, mas tiveram problemas com o carro e ele não tinha certeza de quando seria consertado. Para piorar as coisas, sua tia deveria dar uma breve palestra na cidade, e a hora de início já estava marcada; se estávamos indo naquela direção, não poderíamos dar uma carona à sua tia? Parecia uma reviravolta inesperada nos acontecimentos, mas isso explicaria por que ele estava tão frenético.

— Claro, por que não? Vou dar uma carona para ela — disse Masuda.

Eu rapidamente o puxei de lado e sussurrei:

— Espera aí. Onde ela vai se sentar?

— Vou pedir para a Miya ir para o banco de trás. Cabem vocês lá, certo?

— Você só está caçando confusão. Miya vai ficar puta!​

Isso parecia mais um meio dele se vingar dela. Sabendo que ela receberia melhor a notícia se viesse de mim, corri de volta para o carro. Miya ergueu as sobrancelhas enquanto me encarava.

— Então, por que ele está demorando tanto?

— A minivan está quebrada. O cara está nos pedindo para levar alguém a Takayama… você não se importaria de sentar no banco de trás só um pouquinho, não é?

— Nem ferrando. Quem disse que você manda em alguma coisa?

— Ele já disse sim. Vamos lá, Miya, você também ficou de mau humor durante a manhã toda. Masuda só está querendo se vingar de você.

— Está falando que isso é culpa minha?

— Tá, o Masuda também é um idiota.

— Eu sei, viu? Como consegue apoiar ele?

— Só tente pensar nisso como um tipo de boa ação, tá?

Uma velha sorridente saiu da minivan e se aproximou. Ela parecia igual a qualquer vovózinha que alguém poderia encontrar mancando pelo distrito comercial de sua vizinhança, não alguém que cruzaria as montanhas para dar uma palestra, mas eu senti outro arrepio passando pelas minhas costas. Miya parecia compartilhar do meu desconforto.

— Não estou gostando disso — murmurou ela.

 

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Ao entrar no carro, a velha se apresentou como a Senhora Mishima.

Enquanto atravessávamos as estradas da montanha em direção a Hida Takayama, a Senhora Mishima falava animadamente no banco do passageiro. Masuda foi relegado a ouvir, mas eu tinha a sensação de que mesmo que ele não tivesse mostrado o menor sinal de interesse no que estava sendo dito, ela continuaria falando. Comparado com o silêncio constrangedor de antes, foi um alívio bem-vindo. Miya olhou para fora da janela e fez beicinho em silêncio, enquanto Ruri sentou-se espremida entre nós dois, tentando ocupar pouco espaço.

— Céus, com o que eu poderia estar me preocupando? — Após Masuda mencionar como devia ser desconfortável estar andando no carro de um estranho, a velha respondeu: — Eu poderia dizer só de olhar no seu rosto.

— Sou tão bonito assim?

— Tenho um talento especial para ler as pessoas, sabe.

— Você é daqui?

— Ah, nasci em Okaya, mas desde que me casei moro em Matsumoto.

Seu bisavô administrava uma fábrica de seda, e os Mishima já foram uma família proeminente de Okaya, mas quando ela se casou, a sorte da família acabou piorando. Seu marido era funcionário de um banco regional há muito tempo e eles tinham três filhos. O filho mais velho dirigia um restaurante em Matsumoto, a filha trabalhava em uma empresa local de móveis artesanais e o filho mais novo trabalhava em Tóquio. Pouco depois de se aposentar, seu marido adoeceu e morreu, e agora ela morava sozinha em uma casa perto de seu filho mais velho. Ela às vezes ajudava no restaurante dele e cuidava dos netos, e com seu próprio trabalho para mantê-la ocupada, mal tinha tempo para se sentir sozinha. Era seu sobrinho quem estava a levando para dar a palestra em Hida Takayama.

— Se manter ocupada é o segredo da boa saúde — afirmou.

— Sobre o que é a sua palestra? — perguntei.

A resposta que ela deu foi muito misteriosa.

— Vocês podem não estar tão interessados nesse tipo de coisa, mas posso ver o futuro. Há muitas pessoas por aí que se interessam por isso.

— Fala sobre leitura de mãos, astrologia e outras coisas do tipo?

— Ah, eu não sou tão inteligente para coisas difíceis assim — respondeu, rindo. — O que faço é bem simples. Só olho para o rosto da pessoa. Descubro tudo só de olhar para os rostos. Sabe, um rosto expressa muita coisa. Mostra tudo o que aconteceu e as coisas que estão por vir, por assim dizer. Tudo o que faço é contar o que vejo.

Ruri inesperadamente deu um salto.

— O que você vê no meu rosto?

— Não vamos incomodá-la com isso — disse Masuda em tom de advertência. — Afinal, é o trabalho dela.

— Tudo bem — disse a Senhora Mishima, sorrindo gentilmente. — Mas já te aviso, nem tudo que eu vejo é agradável. E uma vez que eu vejo algo, isso não pode ser desvisto.

— Não acredito nessas coisas — disse Miya, interrompendo, falando em um tom mordaz. Eu podia apostar que ela só queria dizer algo ríspido.

A Senhora Mishima se virou e lançou seu olhar desdenhoso em nossos rostos. Seu olhar era afiado como uma alabarda. Fiquei surpreso, Miya e Ruri pareciam igualmente surpresas. O único que não percebeu nada foi Masuda, o motorista.

— Vamos, não… não sejam assim. — Ele nos repreendeu, virando-se para a Senhora Mishima e dizendo: — Sinto muitíssimo por isso.

— Não estou ofendida — disse ela calmamente, voltando-se de novo para a frente. — Nesse ramo de trabalho, as pessoas falam todo tipo de coisa sobre você. Isso não me incomoda.

E então ela também ficou quieta.

O que foi aquele olhar que ela acabou por nos dirigir? Claro, eu não acreditava em ocultismo ou previsão do futuro. Mas realmente havia algo estranho em seus olhos. Durante todo o trajeto até Hida Takayama, ocasionalmente dei uma olhada rápida em seu reflexo no espelho do carro. Ela parecia estar absorta em rabiscar em um caderno, fazendo os preparativos para a sua palestra.

Por fim, comecei a ver lojas e velhas paredes de pedra surgindo nas laterais da rodovia, e entramos na cidade de Hida Takayama. Do hotel em Matsumoto, o céu parecia frio e distante, mas em Takayama parecia ter uma espécie de suavidade, como se sua cor mudasse dependendo da cidade em que estivesse.

A palestra da Senhora Mishima estaria sendo realizada no centro cultural a oeste da Estação JR Takayama, que era um edifício surpreendentemente grande e de aparência moderna. Depois de nos agradecer e sair do carro no estacionamento, ela começou a se afastar, mas depois de alguns segundos se virou e trotou de volta na nossa direção. Foi isto que disse:

— Voltem para Tóquio.

— Claro, vamos voltar amanhã.

Ao ouvir a resposta de Masuda, a Senhora Mishima balançou a cabeça vigorosamente.

— Se vocês não voltarem agora, será tarde demais.

Todos nós nos olhamos, imaginando do que ela estava falando. Mas seu rosto estava perfeitamente sério, sem o menor indício de humor em sua expressão.

— Dois de vocês têm a sombra da morte.

Demorou algum tempo para eu entender o que ela havia dito. Deixando-nos sentados ali, perplexos, a velha saiu correndo e desapareceu no centro cultural.

 

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A sombra da morte aparece no rosto daqueles que, devido a alguma doença, se encontram às portas da morte. A primeira coisa que me veio à cabeça quando processei suas palavras foi o rosto do meu avô, pouco antes de morrer em sua cama de hospital. Aos meus olhos de criança, seu rosto parecia todo enrugado e a cor de sua pele havia mudado. Ele não parecia o avô que eu conhecia. Era disso que ela estava falando?

Olhei para todos, mas obviamente não vi nenhuma sombra da morte em seus rostos.

Miya desceu do carro e foi para o banco do passageiro.

— Bem, essa é uma maneira e tanto de dizer adeus. É isso que ganhamos por sermos bons samaritanos.

Masuda soltou um longo zumbido pensativo, com as mãos ainda coladas ao volante.

Todos nós debatemos sobre essas palavras de despedida, mas havia realmente apenas uma conclusão a que poderíamos ter chegado. Não íamos abandonar nossa viagem só porque uma senhora idosa que conhecemos no meio do caminho nos disse para fazer isso.

Para começar, Miya nunca teria aceitado. Um de seus velhos conhecidos da escola de arte tinha uma loja de artesanato na cidade, e ela estava realmente ansiosa para fazer uma visita. Aquele conhecido também nos indicou uma pousada em que planejávamos passar a noite.

— Lembra o que eu disse antes? Ela só estava tentando se vingar de mim!

— Bem, pode ser isso.

— E isso me irrita. É por isso que eu disse que não devíamos dar nenhuma carona!

Se tudo o que a Senhora Mishima estava tentando fazer era nos irritar, eu tinha que admitir que seu plano foi um grande sucesso.

Almoçamos em uma lanchonete local, mas Miya simplesmente não trocava o disco. Ela ficava criticando Masuda por ele ter dado uma carona para a velha. No começo, ele continuou se desculpando, mas com o passar do tempo sua paciência começou a se desgastar; sabendo o quão brava sua namorada estava, deliberadamente começou a ser abertamente educado até que não parecia mais estar sendo sincero.

Com isso acontecendo o tempo todo, Ruri só comeu seu lámen, sempre em silêncio. Então eu notei uma anormal expressão de medo em seu rosto.

— Está preocupada com o que a Senhora Mishima disse?

— Um, sim, um pouquinho…

— Há muitas pessoas engraçadas por aí. Não se preocupe com isso. — Um meio sorriso apareceu em seu rosto.

— Tem certeza?

— De que?

— Nada. Não é nada.

E ela silenciosamente voltou sua atenção para o seu lámen.

 

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Foi a minha primeira vez visitando Hida Takayama.

O restaurante ficava perto da estação, na entrada de um pequeno beco próximo à rua principal, onde minúsculas lojas se alinhavam lado a lado. O bairro tinha aquela quietude típica de cidade pequena, e vi mais do que algumas lojas de portas fechadas e com as venezianas abaixadas. Acima, o céu de outono estava claro, mas nas ruas estreitas o ar estava frio e toda a cidade parecia sombria.

Assim que chegamos ao meio da cidade, onde o rio corria em direção ao norte, o céu se abriu e tudo ficou mais claro, e comecei a ter uma sensação de que estava em uma cidade histórica. Com a massa de turistas lotando as ruas estreitas da preservada cidade castelo, todo o lugar parecia um festival.

Miya liderou o caminho, usando um cachecol vermelho vistoso enrolado em seu pescoço. Ela não estava mais falando com Masuda. Muito provavelmente estava pensando em seu conhecido da faculdade, aquele que íamos encontrar.

A loja de artesanato estava escondida em um beco da cidade. Do lado de fora, o prédio de madeira de dois andares parecia uma villa mercantil do período Edo, mas por dentro era todo brilhante e moderno, como uma loja de design de interiores. Havia todos os tipos de coisas, desde artesanatos simples a móveis grandes, e havia até um espaço para tomar café em um canto da loja. Um funcionário foi chamar pelo conhecido de Miya, saindo pelos fundos. Ele era um cara bronzeado e bonito.

— Antes tarde do que nunca! Estava esperando que você fosse chegar mais cedo. Já faz tanto tempo que nos falamos!

— É que estamos bem longe, né! — disse Miya em tom bajulador.

— Ah, vamos lá, quão longe poderia ser? Tóquio fica bem ali!

O homem nos levou até a cafeteria. Seu nome era Utsumi, e ele parecia um tipo de cara divertido e tranquilo. Depois de se formar na escola de arte em Nagoya, trabalhou por algum tempo em Tóquio antes de voltar para Hida Takayama, sua cidade natal, para administrar a loja de artesanato. Seu bronzeado podia ser rastreado até todas as maratonas que ele corria; começou um grupo de corrida com alguns dos donos de lojas locais, e este ano até participaram de uma ultramaratona de 100 km.

— Se dar bem com a vizinhança é muito importante, sabe? — falou, rindo.

Se dar bem era uma coisa, mas, para mim, correr 100 km por aí só para me dar bem com os outros parecia ser loucura.

— Parece que os negócios estão crescendo — comentou Miya.

— Sim, bem, as coisas estão dando certo.

— Achei que você ficaria sozinho aqui, mas acho que estava apenas desperdiçando minha energia me preocupando. Na verdade, fiquei até meio desapontada! — Miya sorriu, como se não tivesse feito beicinho durante a manhã inteira.

Parecia que ela estava fazendo isso inclusive para irritar Masuda: Havia algo de intencional no modo como estava agindo toda próxima de Utsumi. Seu namorado nem tentou entrar na conversa. Ele ficou sentado ali olhando para o nada, tomando minúsculos goles de café. Talvez devesse ao menos tentar forçar um sorriso na cara ou coisa do tipo.

Depois de alguns minutos ouvindo Miya e Utsumi trocando histórias sobre seus dias de escola, Masuda se levantou abruptamente e anunciou: “Vou tomar um pouco de ar”, e antes que qualquer um de nós pudesse reagir, partiu.

Utsumi parecia meio atordoado.

— Esse cara é meio mal-humorado, hein?

— Ugh, ele é um chato.

Utsumi suprimiu um sorriso.

— Então, há quanto tempo vocês dois estão namorando?

Miya apenas bufou.

 

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Ficamos surpresos ao saber que Utsumi conhecia até mesmo a Senhora Mishima.

— Você deve estar falando sobre Mishima Kuniko. — A mulher era bastante conhecida na área, e alguns de seus companheiros de maratona até acreditavam em seus poderes. — Ela se parece com uma vovózinha qualquer, mas de vez em quando diz coisas realmente chocantes.

Ele mesmo não era fã dela, mas tinha que admitir que ela tinha esse tipo de carisma. De acordo com o boato local, a mulher despertou para seu poder logo após a morte de seu marido. Poucos dias antes de ele morrer, ela olhou em seu rosto e viu a sombra da morte. Em outros aspectos, ele estava perfeitamente saudável, mas quando a senhora viu seu rosto na porta de sua casa, ele parecia pequeno e encolhido.

Miya só mencionou a Senhora Mishima porque Utsumi a havia incitado a falar sobre a briga que ela estava tendo com o namorado. Ela provavelmente esperava que ele dissesse: “O quê, é só isso?” e desse risadas. Mas, inesperadamente, seu amigo pareceu muito sério quando ouviu o que a Senhora Mishima havia nos dito sobre a sombra da morte.

Miya riu da cara dele.

— Você não está preocupado com isso, está?

— Não, quero dizer, eu não acredito nisso. Mas você tem que admitir, meio que faz você ficar de cabelo arrepiado… — disse Utsumi, hesitante.

Miya olhou para ele incrédula.

Ruri era provavelmente a mais assustada de todos nós. Ela parecia estar prendendo a respiração, e sua pele já pálida estava branca feito papel.

Ver isso deixou Miya com raiva.

— Pare de levar isso tão a sério! — ordenou a Ruri. — E você precisa parar de ser bobo também, Utsumi!

O fato de Masuda ainda não ter voltado estava começando a me preocupar.

Depois de um tempo, Ruri se levantou e disse:

— Vou procurá-lo

— Espere aqui, ou ele vai voltar enquanto você estiver procurando! — Disparou Miya.

Mas, pela primeira vez, Ruri decidiu enfrentá-la.

— Quero um pouco de ar fresco — disse, antes de sair da loja.

Parecia que o ar havia sido sugado para fora do cômodo e o clima ficou muito deprimente.

Utsumi pensou em algo.

— Vocês vão ficar nas fontes termais de Hiraya, certo?

— Aham, isso mesmo.

— Aquilo vai surpreender todo mundo, a pousada. Você vai ver quando chegarem lá. A neve provavelmente está toda concentrada em Okuhida. A estrada estará escorregadia, então tomem cuidado… — Utsumi parou de falar no meio da frase, horrorizado.

Era como se não importasse sobre o que conversássemos, não poderíamos fugir da profecia da Senhora Mishima.

Um pensamento estranho me ocorreu. Ela disse: “Dois de vocês.” Por que dois? Por que não um ou todos os quatro de nós?

E de quais dois estava falando?

 

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Masuda e Ruri não voltaram, então Miya e eu saímos da loja.

Já passava um pouco das duas da tarde, e a noite já começava a se arrastar pelas ruas da cidade castelo, com as sombras das pessoas que passavam se tornando longas e mais confusas. Fiquei surpreso com a rapidez com que o sol se pôs no outono.

Utsumi nos acompanhou até a frente da loja.

— As ruínas do castelo ficam longe.

— Então nos vemos, Utsumi. Obrigada por tudo.

— Quero ver você por aqui mais vezes. O que acha de passar uma vez por semana?

Havia um enorme sorriso no rosto de Miya enquanto ela se afastava rapidamente. Olhei para trás enquanto íamos e vi Utsumi parado na frente da loja, nos observando partir. Havia algo de melancólico no modo como o sol de outono brilhava sobre ele nas velhas ruas. Parecia até que queria nos dizer: “Vocês deveriam voltar para Tóquio”, eu tinha certeza disso. Mas Miya não se virou nem uma vez enquanto se afastava.

Me esforcei para acompanhá-la.

— Para onde acha que foram?

— Quem se importa? Vamos continuar caminhando. — Puxando o cachecol sobre a boca, Miya agarrou minha mão para me levar junto.

Compramos senbei[1] em uma loja ao longo do caminho, percorremos toda a cidade castelo, indo então vagar pelas encostas suaves e paredes de pedra das ruas residenciais. Quanto mais nos afastávamos das áreas turísticas, mais silencioso tudo ficava, até que eu consegui ouvir distintamente o som de Miya mordiscando seu aperitivo.

— Aqui — disse ela, entregando seus restos meio comidos para mim. O aroma familiar do senbei trouxe de volta sentimentos de nostalgia.

Lembrei de já ter caminhado desse jeito com ela. Já tínhamos passado algum tempo sozinhos, e ela sempre era brincalhona e despreocupada. Às vezes eu pensava comigo mesmo: Porque a Miya não é assim com o Masuda?

— Utsumi mudou.

— Achei ele um cara divertido.

— Agora ele virou o tipo de pessoa supersticiosa. Que lamentável.

— Ah, está falando sobre como ele parece ter medo da Senhora Mishima?

— Na escola ele não costumava ser assim. O Utsumi fazia o tipo garanhão, sabe? Mas acho que depois que voltou para casa virou um covarde.

Onde e o que Masuda e Ruri estavam tramando? Parecia estranho nenhum deles ter nos contatado nenhuma vez desde que saíram correndo da loja de Utsumi.

— Devemos ligar para o Masuda?

— Não gostaria de perturbá-los agora, não é…?

— O que isso deveria significar?

Miya fez uma careta.

— Vai mesmo ficar bancando o idiota?

— Do que você está falando?

Miya me contou o que tinha acontecido na noite anterior.

Ela e Ruri começaram uma discussão quando estavam conversando antes de dormir no hotel em Matsumoto. Sua irmã havia inesperadamente a confrontado quanto à maneira como ela tratava Masuda, e se recusou a mudar de assunto.

— Não consigo acreditar no que ela falou! — Isso explicava por que Miya estivera de péssimo humor durante toda a manhã. — Ela com certeza tem uma quedinha por ele — declarou.

Eu não disse nada, mas também tinha minhas próprias suspeitas.

Masuda já tinha conseguido até um emprego de meio período para a Ruri em nossa empresa. Era algo entediante, mas nada exigente, dependia apenas de fazer um banco de dados de alguns artigos de revistas. Eu fazia parte do departamento editorial, enquanto Masuda era o gerente de sistemas, então eu conversava com ela de vez em quando. A personalidade dela não era nada parecida com quando estava com Miya. A garota talvez se sentisse mais livre ao ser ela mesma quando sua irmã não estava por perto. Ruri muitas vezes ficava para trás mesmo após terminar o expediente, papeando com Masuda sempre que podia. Presumi que estivessem falando sobre trabalho ou aconselhamento de carreira – mas é claro que eu não falaria nada disso para Miya.

— Tem certeza de que não está apenas pensando muito a respeito disso?

— Eu já sei disso, sabe?

— Ruri é bastante direta. Acho que ela só estava preocupada com você.

— Agora você vai começar a me enganar também?

— Vamos lá, não desconte em mim!

A conversa ia e voltava enquanto seguíamos pelo caminho estreito da montanha. Havia uma velha cerca de madeira ao lado esquerdo do caminho. Através das tábuas, pude ver as árvores crescendo no jardim, cheio de folhas vermelhas como se estivessem manchadas de sangue. No topo da colina, o caminho virou à esquerda, passando por uma cafeteria de estilo europeu já desgastada pelo tempo.

Miya de repente parou no meio do caminho, olhando pela janela do estabelecimento.

— Olha quem eu encontrei. — Ela apontou pela janela.

Olhei para dentro e vi Masuda e Ruri, inclinando-se e sussurrando um para o outro.

Quando Masuda nos viu se afastou. Ruri ficou sentada, com a cabeça baixa.

— Vamos — disse Miya, abrindo a porta do local.

Sentamos com Masuda e Ruri, mas todos ficaram em silêncio. Miya não fez perguntas, Masuda não disse nada e Ruri apenas ficou sentada olhando para baixo. Isso não é bom, pensei, olhando para a parede atrás de Miya.

Uma única gravura em placa de cobre estava pendurada na parede. Em uma placa abaixo da gravura estava o nome do artista, Kishida Michio, e o título da obra: Trem da Noite —— Okuhida. O barulho no estabelecimento pareceu aumentar conforme eu era atraído pela imagem.

Era uma peça sombria e de aparência mística. Retratava uma rodovia cortando um vale montanhoso escuro e desaparecendo na boca de um túnel. Uma mulher alta estava parada na frente daquela abertura escura, levantando a mão direita como se me chamasse. Ela não tinha olhos ou boca, como um manequim, mas eu sentia como se já a tivesse visto antes.

Ela me lembrou Miya…

Um arrepio repentino subiu pela minha espinha.

Por algum motivo, senti como se outra pessoa tivesse seguido Miya e a mim e entrado na cafeteria.

 

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A princípio eu mencionei que viajar é como estar em um quarto trancado.

A viagem para Hida com Masuda e o resto foi um exemplo perfeito disso. Havíamos percorrido um longo caminho desde Tóquio, mas tudo parecia estar ficando mais apertado e claustrofóbico. É claro que Masuda havia previsto isso o tempo todo, e foi por isso que me convidou, e eu fui sabendo que seria o caso.

Mas em algum lugar ao longo do caminho, parecia que as coisas acabaram fugido do meu controle. As luzes estavam diminuindo no quarto em que estávamos trancados, e estava ficando cada vez mais difícil ver o que estava acontecendo nos cantos sombrios. O aparecimento da Senhora Mishima tinha sido um presságio, mas qualquer um provavelmente poderia dizer o mesmo sobre a maneira como Masuda, Miya e Ruri estavam agindo.

Só para ficar claro, isso também se aplicava a mim. Até eu tenho uma ou duas coisas que mantenho escondidas.

Na cafeteria, Miya apareceu com uma proposta estranha:

— Vamos nos dividir em dois grupos. Aposto que isso  vai ser divertido!

A Linha Takayama segue em direção a Toyama pela estação em Hida Takayama. Mais ou menos na metade do caminho está a Estação Inotani, que fica na divisa das prefeituras de Gifu e Toyama. A viagem da Estação Takayama leva cerca de uma hora. Se alguém quiser ir para a Estação Inotani de carro em vez de trem, chegaria lá ao acessar a Rota 41.

Miya sugeriu que os caras pegassem o trem, enquanto ela e Ruri iriam de carro, e todos nós nos encontraríamos na Estação Inotani. Havia muitos locais pitorescos para ver as folhas vermelhas do outono, fosse de carro ou de trem.

Ruri era uma boa motorista, então não haveria problemas com isso. Ouvi dizer que ela costumava buscar Miya no trabalho ou simplesmente sair para passear sozinha.

— Eu não me importo — disse ela.

Era, já de cara, bastante óbvio o que Miya estava planejando. Ao afastar eu e Masuda, ela teria todo o tempo que quisesse para conversar com Ruri sozinha, de garota para garota. Não gostei da ideia, mas Masuda apoiou a namorada, e então foi isso.

Nós nos separamos na Estação Takayama.

— Basta ir lenta e seguramente. Estaremos esperando por vocês na Estação Inotani — disse Masuda na bilheteria. Ruri acenou com a cabeça obedientemente.

Então eu e ele partimos para Inotani. Para ser bem sincero, eu não estava nem aí para a divisão de grupos, só queria voltar para Tóquio.

É claro que não acreditei na profecia da Senhora Mishima e achei essas coisas sobre a “sombra da morte” ridículas, mas tive que admitir que me senti um pouco apreensivo ao enfrentar a noite que se aproximava. Parecia que as coisas estavam fugindo do meu controle.

Masuda estava sentado do outro lado do vagão.

— Desculpa por te arrastar para essa confusão toda.

— Se está dizendo — falei, sem me preocupar em disfarçar minhas palavras. Masuda merecia isso. — Você não poderia ao menos tentar fazer a Miya se sentir melhor?

— Só vou esperar até a tempestade passar.

— Acho que você só está sendo covarde.

— Eu também — disse ele, sorrindo tristemente. — Mas acho que é minha culpa por ser uma completa falha como ser humano.

— Não sei como vou passar esta noite. Talvez apenas voltarei para casa na frente.

— Vamos lá, não diga coisas deprimentes como essa!

Eu duvidava que uma hora sozinha fosse suficiente para melhorar o humor de Miya. Na verdade, poderia até piorar.

A luz estava desaparecendo rapidamente lá do lado de fora, e as cores abundantes do outono pareciam desamparadas e solitárias aos meus olhos enquanto o trem passava em alta velocidade. Olhando pela janela em silêncio, pensei no carro alugado que estava descendo a estrada do outro lado das montanhas. Sobre o que Miya e Ruri estariam conversando naquele quarto trancado? Aposto que estavam relembrando a discussão da noite anterior naquele hotel em Matsumoto.

 

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Quando chegamos à Estação Inotani, o sol estava quase se pondo.

Masuda e eu estremecemos com o ar frio enquanto subíamos a plataforma. Montanhas nos cercavam por todos os quatro lados, faixas brancas de neve cobriam seus picos negros. As linhas ferroviárias corriam paralelas à plataforma deserta e, através dos trilhos, vi o prédio da estação e os dormitórios da mineradora. Tudo estava tão silencioso que parecia que havíamos chegado ao fim do mundo, me fazendo pensar se realmente deveríamos ter descido em um lugar como este. Saímos do prédio da estação, mas Ruri e Miya ainda não haviam chegado.

— Elas só estão vindo com calma.

— Sim, mas não posso deixar de me preocupar.

— Não adianta, só nos resta ser pacientes e esperar.

No prédio da estação, bebemos café enlatado enquanto víamos o tempo passar, mas o carro alugado não aparecia. Ficava cada vez mais escuro lá fora, como se as sombras das montanhas ao redor estivessem nos pressionando. O frio estava congelando até os meus ossos.

— O que você achou sobre aquela profecia da Senhora Mishima? — resmungou Masuda, sentando-se em um banco. Seu rosto estava lavado por uma luz fluorescente sombria enquanto ele estudava sua lata de café.

— É óbvio que não acredito naquilo.

— Digo o mesmo.

— Aliás, de qualquer forma, o que você estava fazendo com a Ruri naquela cafeteria?

— Ah, não tem muito o que se contar.

De acordo com Masuda, ele ficou tão farto da atitude de Miya que deixou a loja de Utsumi e saiu para dar um passeio por perto das ruínas do castelo. Depois que ele entrou naquele lugar para fazer uma pausa, recebeu um telefonema de Ruri, que depois de saber onde ele estava foi até lá sozinha.

— Foi só isso que aconteceu.

— Você parecia estar no meio de uma discussão bem séria com ela.

— Não era nada de importante, só estávamos falando sobre a profecia da Senhora Mishima — disse ele com os olhos ainda fixos na lata.

— Por que você acha que isso a assustou tanto?

— Bem, essa coisa toda também não me deixa exatamente animado, sabe.

— Sim, mas eu sinto que ela está com mais medo disso do que deveria. O que poderia ser? A Ruri é meio tímida, mas sempre a considerei mais racional do que isso.

— Ela tem muito no que pensar, eu acho.

O sol já tinha se posto e o lado de fora da estação caiu em completa escuridão. Quando fiquei sentado naquele banco, naquele lugar solitário, um humor estranho tomou conta de mim e fui dominado pela sensação de que nunca mais veria Miya ou Ruri. Talvez tivesse sido por causa das lembranças daquele desaparecimento de quando eu estava na faculdade, lembranças que estavam lentamente ressurgindo no fundo de minha mente. Já faziam seis anos desde que Hasegawa desapareceu durante o Festival do Fogo de Kurama.

Eu mal me lembrava dela: Como era seu rosto, como se parecia… Agora tudo não passava de um borrão na memória. Mas assim que me lembrei daquela noite, não pude evitar uma sensação incômoda, como se em algum lugar houvesse um vazio no mundo. Cercado por aquelas montanhas negras, parecia que, naquela noite, os trilhos levavam da Estação Inotani direto para a Estação Kurama.

Já fazia uma hora desde que tínhamos chegado à estação.

— Isso está demorando muito — murmurou Masuda, dando uma saída para caminhar.

Acabei me recordando da história contada por Utsumi. A Senhora Mishima havia despertado para seus poderes depois de ver a sombra da morte em seu marido, supostamente. Mas então pensei: E se ela não tivesse previsto o futuro? E se o marido da Senhora Mishima tivesse morrido para que sua profecia se cumprisse? Era uma ideia maluca, com certeza, mas ao mesmo tempo parecia irritantemente plausível.

Saí da estação e encontrei Masuda parado no estacionamento, tão imóvel quanto um poste. Ele estava olhando para a estradinha que levava à rodovia. Estava tão escuro que eu mal conseguia distinguir as coisas.

Fiquei ao lado dele e comecei a olhar para a escuridão além da estrada.

— Ruri está apaixonada por você?

Masuda olhou para mim com uma expressão chocada.

— De onde saiu isso?

— Ouvi dizer que ontem vocês discutiram por causa disso.

— De quem?

— Miya.

— Ela só está tirando uma com a sua cara. Você confia muito no que te dizem.

— Acredito?

— Com certeza.

— Sabe, às vezes você é realmente irresponsável.

— O que eu fiz desta vez? — Ele parecia estar ficando emburrado, mas quase na mesma hora um par de faróis brilhantes apareceu e eu ouvi o barulho de pneus passando pela estrada. Um carro familiar estava seguindo em nossa direção.

Ruri e Miya finalmente chegaram.

 

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Masuda assumiu o volante e partimos para o hotel em Okuhida. Verificando o mapa, ele calculou que só precisávamos retomar a Rota 41 em direção de Kamioka-chō.

— Talvez demore uma hora para chegarmos lá.

— E olha como já está escuro.

— Vou dirigir devagar. Me ajude a manter os olhos abertos.

Já era quase impossível dizer onde as montanhas se encontravam com o céu, e a folhagem vermelha ficava indistinguível ao misturar-se com a escuridão. À medida que avançávamos por uma série infinita de curvas e túneis, parecia que estávamos cavando na própria escuridão.

Eu podia ouvir Miya respirando suavemente, dormindo no banco traseiro.

— Ela deve estar cansada.

— Contanto que assim fique quieta…

Dei uma olhada na direção de Ruri pelo retrovisor. Ela estava olhando pela janela escura, sem dizer nada. Em seu rosto pálido, vi completa exaustão.

Nem Miya nem Ruri nos deram uma boa razão para terem demorado tanto para chegar à Estação Inotani. Elas provavelmente estavam discutindo tão ferozmente que tiveram que parar o carro. Pela aparência das duas quando chegaram, imaginei que realmente estivessem brigadas. Mas isso também podia ter ajudado para que acalmassem os ânimos. Miya já estava dormindo, e Ruri parecia que ia adormecer a qualquer momento. Parecia que as coisas prosseguiriam bem e em paz até que chegássemos em Okuhida.

— Não durma agora. Se você cair no sono, meus olhos também vão começar a ficar pesados.

— Por algum motivo, de repente comecei a ficar exausto.

— Bem, você estava muito preocupado com elas.

— Eu realmente adoraria relaxar em uma fonte termal agora mesmo.

As únicas coisas que eu podia ver na frente eram os faróis iluminando a estrada pavimentada e as luzes traseiras vermelhas do carro à nossa frente. Pelo espelho lateral, vi um carro atrás de nós, mantendo a mesma distância que mantínhamos do automóvel da frente. De onde saíram e para onde estão indo?, me perguntei. A visão parecia um sonho que me convidava a dormir.

Finalmente comecei a cochilar.

Após um período de tempo desconhecido, fui subitamente acordado pelo som de alguém gritando ao meu ouvido. Acordei. O carro estava em silêncio e tudo que consegui ouvir foram os suaves ruídos da respiração de Miya. O automóvel estava parado na beira da estrada.

Achei que tínhamos chegado ao hotel termal, mas não vi nenhuma luz que indicasse isso. Masuda não estava no banco do motorista. Os faróis de outro carro iluminavam o interior do nosso, e as luzes traseiras de um outro já estavam bem distantes. Me virei e vi Masuda e Ruri do lado de fora, aparentemente remexendo no porta-malas do carro.

Me virei e deixei minha mente vagar.

A rodovia se estendia pelo vale montanhoso, escura feito breu. Pares de lanternas traseiras vermelhas continuaram seu caminho na nossa frente, antes de serem engolidas uma a uma pela boca de um túnel sem luz.

Enquanto os observava partindo, percebi algo branco tremulando na boca do túnel. Me sentei e fiquei me perguntando o que era. Parecia uma pessoa. Isso não deve ser seguro, o que ela está fazendo lá?, pensei, apertando meus olhos enquanto um arrepio passava pela minha espinha.

A pessoa parada ao lado do túnel parecia com a Miya. Ela estava usando um vestido branco, acenando para mim.

Me virei, em pânico, para ver que ela ainda estava dormindo no banco de trás. Então quem era aquela pessoa? Voltei a olhar para a frente, mas não havia qualquer vestígio daquela silhueta estranha parada perto do túnel.

Pensei no mezzotint que tinha visto na cafeteria em Hida Takayama. Ele também retratava uma mulher parada na frente de um túnel. Eu talvez estivesse apenas vendo coisas, sem saber, sendo afetado por aquela imagem. Mesmo assim, uma sensação inexprimível de mal-estar permaneceu em minha mente.

Masuda e Ruri finalmente voltaram para dentro do carro.

— E aí?

— Ela disse que estava com o estômago ruim. Estávamos procurando algum remédio no porta-malas.

— Sinto muito — murmurou Ruri, no banco de trás. Seu rosto realmente estava pálido.

 

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Já tinha passado das sete quando chegamos ao Onsen Hirayu, em Okuhida. Depois de atravessar as estradas montanhosas e escuras, as luzes de muitos ryokan[2] ao longo das ruas pareciam estranhamente brilhantes, era como se tivéssemos entrado em uma aldeia oculta mística. A neve cintilava e brilhava sob as luzes, e grades na estrada exalavam vapor pelo ar. Não parecia nada com quando passamos pelo mesmo lugar durante o dia, no caminho de Matsumoto para Okuhida.

A pousada que Utsumi havia recomendado para nós era um lugar pequeno e estranho.

A primeira coisa que chamou a minha atenção foi o enorme número de animais taxidermizados que estavam sendo exibidos. Uma caixa de vidro ocupava uma parede inteira do saguão, cheia de animais empalhados. Enquanto Masuda falava com o homem no balcão, Miya olhava para todos os animais, paralisada. O cochilo no carro talvez tivesse a relaxado, já que estava parecendo muito melhor, e até seu tom de voz estava mais suave.

— Não posso acreditar que estão todos mortos. É quase como se pudéssemos ouvir eles gritando, não é?

— Com certeza isso tem algum impacto.

Miya apontou para um espécime de corpo magro.

— O que é isso?

— Acho que é uma civeta[3].

Masuda terminou de nos registrar e se aproximou, e logo um funcionário da pousada nos levou ao nosso quarto. Enquanto caminhávamos pelos longos corredores, vi um prédio separado do outro lado do pátio. Uma luz forte brilhava nas janelas, mas não vi sinais de alguém se movendo por lá. Os corredores estavam completamente silenciosos.

Nosso quarto era o esperado de uma pousada com águas termais: Grande, com piso de tatame, uma mesa, televisão e um cofre para guardar objetos de valor. Na espaçosa varanda perto das janelas, havia duas cadeiras de vime, uma de frente para a outra, e sobre a mesa de vidro, um cinzeiro. A única coisa estranha na decoração era que havia um animal taxidermizado na alcova decorativa.

— Você só pode estar brincando — murmurou Miya, afundando na cadeira de vime.

— Alguém quer tomar um banho? — sugeri, pegando uma yukata do guarda-roupa.

Olhando pelas janelas, Miya disse:

— Vou descansar um pouco.

— E quanto a você, Ruri? — perguntou Masuda.

Ruri fez uma careta para o animal empalhado e balançou a cabeça em silêncio.

— Então voltaremos logo.

Masuda e eu saímos do quarto.

Os banhos ao ar livre eram acessados ao descer as escadas no final do corredor mais longo. Não havia ninguém lá além de nós. O vapor subindo deslizava pelas pedras nuas e subia na direção do céu escuro. Quando mergulhei meu corpo na água quente, senti uma onda de relaxamento tomar conta de mim.

— Temperatura perfeita — suspirou Masuda.

— A vida é maravilhosa — suspirei de volta.

— Sombra da morte, hein…? — murmurou ele.

— Que coisa mais horrível para se dizer.

— Você está vendo alguma coisa na minha cara?

— Acho que você ao menos não vai cair morto em cima de mim. Você está praticamente reluzindo.

Ali, no banho quente, a ameaça das palavras sinistras da Senhora Mishima parecia distante e esquecível.

— Parece que aquelas duas se acalmaram, não é?

— Você também notou, hein?

— Miya ficou bem mais calma desde que chegamos à pousada.

— Acho que elas devem ter colocado as coisas em panos limpos. É como eu sempre digo, a Ruri dificilmente recua. Se elas querem brigar, então deixe que briguem.

— Tentando escapar pela tangente de novo?

— O que posso dizer, sou um homem da paz.

Não entendi por que Masuda e Miya não tinham saído para relaxar. Eu meio que gostava de pensar que seria capaz de controlar Miya, caso necessário, mas não iria me aprofundar muito nisso. Se o fizesse, acabaria como Masuda, e provavelmente até perderia a quantidade de influência que tinha sobre ela.

Observei o vapor subir e desaparecer na escuridão de Okuhida. Minha cabeça estava começando a ficar mais leve. Estava tão confortável que eu não ficaria surpreso se esquecesse que estava mergulhando no banho.

— É como se a tempestade tivesse passado — disse Masuda, estendendo a mão em direção à neve acumulada na pedra.

 

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Quando voltamos para o quarto, encontramos um jantar para quatro pessoas esperando por nós.

O que me surpreendeu, porém, foi que Ruri ainda estava sentada exatamente no mesmo lugar, com sua bolsa ainda no mesmo lugar no chão, olhando para a alcova exatamente da mesma maneira, como se tivesse congelado no tempo. A única diferença era que seus olhos estavam marejados de lágrimas e Miya, que tínhamos deixado sentada na cadeira perto da janela, havia sumido.

— O que houve? Aconteceu alguma coisa com a Miya? — perguntou Masuda, parecendo preocupado. O som de sua voz tirou Ruri de seu torpor, e ela piscou e enxugou as lágrimas. Mas se recusou a dizer o que havia acontecido e apenas olhou na direção dele.

— Miya foi tomar um banho?

Ruri assentiu, sem palavras.

Ficamos esperando pelo retorno de Miya, mas isso foi em vão. Mesmo considerando o fato de que ela havia ido para o banho atrás de nós, ainda estava demorando muito.

Masuda se afastou e foi sentar em uma cadeira de vime, enquanto eu estava deitado no tatame olhando para o teto, e Ruri estava sentada no canto, ainda pálida. De longe, ouvi o som de uma ambulância, soando como se estivesse chegando mais perto e depois mais longe, e mais perto e depois mais longe de novo. A pousada estava tão silenciosa que não pude deixar de acompanhar aquele som com os ouvidos. Me perguntei como isso poderia continuar acontecendo por tanto tempo.

— Miya com certeza está demorando — murmurei.

Do nada, Ruri abriu a boca e declarou:

— Minha irmã não vai voltar.

— Por que não?

— Algo aconteceu com ela, algo ruim.

— Como assim, algo ruim? — Masuda interveio na mesma hora.

Ruri endireitou as costas e colocou as mãos no colo. Havia algo de incomum na expressão em seu rosto. Ela olhou para cima, na direção de Masuda.

— Minha irmã está morta. Ela tinha a sombra da morte!

Masuda ficou surpreso.

— Você já parou de pensar naquela profecia da Senhora Mishima, não parou?

Parecendo perturbada, Ruri respondeu:

— Você não acha que ela já está se cumprindo?

— Você está cansada. Devia descansar um pouco — respondeu ele, pegando o telefone do quarto para ligar para a recepção e pedir os futons. Coloquei uma almofada no chão para Ruri usar como travesseiro e, para minha surpresa, ela se deitou humildemente e fechou os olhos.

Depois de um tempo, Masuda colocou o telefone no gancho e se levantou.

— Não está chamando. Vou até a recepção, talvez eu encontre a Miya pelo caminho.

Perturbado, agarrei a manga de sua yukata.

— O que você está tentando fazer?

— A Ruri só está com medo.

— Isso te parece “só medo”?

— O que, acha que sei mais do que você sobre o que está acontecendo? Tudo que eu sei é que não tem como a Miya estar morta! — retrucou Masuda, saindo do quarto.

Afundei na cadeira em que Miya estivera sentada.

Depois de vinte minutos, Masuda ainda não havia retornado. Eu estava começando a ficar preocupado. Por que ele estava demorando tanto? Ir até a recepção e pedir para que preparassem os futons não deveria ser tão trabalhoso. E ele com certeza não estaria procurando por Miya em todos os cômodos da pousada, não é?

— Vou sair para dar uma olhada — sussurrei para Ruri, antes de eu mesmo sair à procura.

Enquanto estava indo para a recepção, não pude deixar de notar de novo o quão bizarramente silenciosa toda a pousada estava. O silêncio parecia estar me prendendo, me impedindo de me mover, assim como aqueles animais taxidermizados na caixa de vidro. Pensando bem, esse silêncio opressor vinha pesando sobre nós desde que chegamos à pousada. Eu não tinha encontrado nenhum outro hóspede. Era muito difícil acreditar que éramos os únicos hospedados em um lugar tão grande.

O saguão sombrio estava deserto e ninguém saiu quando comecei a gritar na recepção. Masuda não estava em lugar nenhum. Olhei para a caixa de sapatos e notei que os sapatos dele tinham sumido.

— Ele saiu — disse uma voz atrás de mim.

Dei um pulo, logo depois girei nos calcanhares e me deparei com Ruri.

— Masuda foi embora — disse ela de novo, quase como se soubesse para onde ele tinha ido.

Olhei pelas portas de vidro que davam para o estacionamento, iluminado por uma única lâmpada. A neve começou a girar sob aquela iluminação escassa.

Nada disso fazia sentido. Não pude acreditar que Masuda teria simplesmente nos deixado lá e saído. Como alguém poderia andar por aí, em um tempo desses, vestindo nada além de uma yukata fina?

Ruri segurou meu braço.

— Vamos voltar para o quarto.

—Talvez fosse apenas o frio, mas ela estava tremendo.

 

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Quando chegamos ao quarto, nem Masuda nem Miya tinham voltado ainda.

Ruri e eu nos sentamos nas cadeiras de vime, um de frente para o outro, esperando que eles voltassem.

Havia uma expressão de resignação em seu rosto enquanto ela olhava fixamente para fora da janela escura.

As luzes da cidade das fontes termais pareciam ter sido apagadas e, do lado de fora da janela, só havia escuridão, até onde a vista alcançava. Os contornos das montanhas derretiam na escuridão e, sem luzes, toda a cidade de Okuhida ficava envolta em uma escuridão tão densa que parecia que seria possível alcançá-la e tocá-la. Senti que, se abrisse a janela, a escuridão escoaria para o lado de dentro.

Era como se Miya e Masuda tivessem sido engolidos pela escuridão e, quando pensei nisso, minha mente foi transportada de volta para Kurama.

— Alguém que conheço desapareceu há seis anos. Até hoje, não tivemos notícias — falei para Ruri. — Foi na noite em que fomos ver o Festival do Fogo de Kurama.

— Esse conhecido morreu? — perguntou ela.

— Espero que não — respondi. — Só desapareceu. Mas desaparecer não é a mesma coisa que morrer, sabe. Acho que ela ainda está viva, em algum lugar.

— Era uma garota?

— Sim.

— Você estava apaixonado por ela?

— Realmente não sei…

Tentei me lembrar do rosto de Hasegawa, mas ele não apareceu em minha memória. Só conseguia me lembrar de traços suaves e nenhuma característica, assim como aquela garota do mezzotint da cafeteria. Hasegawa era atraente, claro, mas era difícil se aproximar. Talvez ela só fosse tímida. Sempre que eu tentava conquistar sua confiança, ela me rejeitava categoricamente. Ainda interagiríamos como colegas normais, mas parecia que sempre que estava por perto de mim ela mantinha a guarda alta.

— Vamos mudar de assunto. Esse parece ser um tópico inadequado. — Eu sabia que tinha sido o primeiro a tocar no assunto, mas já estava começando a ficar desconfortável. — De qualquer forma, vamos voltar para Tóquio amanhã.

— Acha mesmo…? — Ruri olhou para mim com olhos apáticos.

O olhar em seu rosto me lembrava muito o de Miya. Assim como a maneira como ela se sentou, emitindo sinais de que não havia segredos entre nós. Sua irmã costumava me olhar assim. Não era tão incomum que duas irmãs se parecessem, mas, mesmo assim, fui pego de surpresa. Ruri estava sempre no limite, sempre tomando cuidado para não me mostrar o que ela estava realmente sentindo.

Por um segundo, parecia que eu estava sentado cara a cara com Miya. Já tínhamos feito isso em várias outras ocasiões. Mas ninguém sabia disso, exceto eu e ela.

— Você é tão descuidado, Takeda — comentou Ruri de repente, me assustando.

— Nossa, então é isso que você realmente pensa de mim?

— E esse jeito como você tenta se esquivar das coisas, só sorrindo…

— Não estou tentando me esquivar de nada. Eu não sei do que você está falando. Por que não me diz exatamente o que quer dizer?

— Ah, isso não importa.

— Não parece que não importa.

— Vocês são tão descuidados, Masuda, você e minha irmã. Vocês só saem por aí fazendo bagunça e ainda esperam que alguém apareça para dar um jeito em tudo. E até que isso aconteça, ficam mantendo um olhar indiferente na cara, como se não houvesse nada de errado acontecendo. Vocês só estão fingindo que são adultos, sendo que na verdade estão empurrando tudo para cima de mim.

— Acho que você está cansada.

— Se estou cansada é porque vocês me cansaram.

Ruri afundou na cadeira e fechou os olhos.

Ela estava certa, eu realmente era descuidado. E eu não esperava nenhum perdão por reconhecer isso. Quer percebesse ou não, isso não mudava o fato de que estava machucando alguém. E mesmo após aquelas palavras, eu fingi estar simpatizando com ela, e tudo não passava de fingimento. O que eu realmente estava pensando era: Que pé no saco. Senti como se estivesse segurando minha própria crueldade em minhas mãos, observando-a sem qualquer paixão.

— Minha irmã está morta. Que pena — proferiu friamente a garota.

Tentei parecer um pouco forte.

— Pare com isso!

— A Senhora Mishima estava correta, ainda não percebeu?

— Por que eu acreditaria no que uma velha louca diz? Você não está sendo você mesma!

— Você não sabe nada sobre quem eu sou. — Havia uma dureza atípica em sua voz. — Quando ela saiu do quarto, a Miya disse algo muito gentil: “Sinto muito.” E então eu soube. É tudo exatamente como a Senhora Mishima falou. Aquela não era a minha irmã. Minha irmã já está morta.

— Sim, Miya estava meio estranha, mas acho que ela estava se sentindo melhor depois de tirar aquele cochilo no carro.

— Aquelas estradas pelas montanhas estavam bem escuras — disse Ruri. — Onde acha que elas nos trouxeram? Takeda, acha mesmo que estamos em Okuhida?

Ela se enrolou em sua cadeira. Parecia que estava segurando o riso, mas logo percebi que ela estava sentindo dor. Havia um fio de suor escorrendo por sua testa.

Procurei o telefone ao lado da televisão. Mas, quando coloquei o receptor no ouvido, só escutei o som da estática. Em algum lugar por trás daquele barulho, ouvi alguém gritando. Soava como Ruri. Mas como ela poderia estar do outro lado?

Afastando o telefone do meu ouvido, me virei e me deparei com o quarto tão silencioso quanto um túmulo.

A cadeira de Ruri estava vazia.

 

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E o tempo passou; quanto, não sei.

Andei sozinho pelo longo corredor e entrei na fonte termal.

Enquanto eu mergulhava no banho, imagens da viagem passaram pela minha mente: A minivan estacionada ao lado da estrada no caminho para Okuhida Takayama; a cafeteria com aquela gravura estranha em cobre; a procissão de lanternas traseiras vermelhas serpenteando pela estrada da montanha no escuro. Eu com certeza tinha visto muitas coisas.

Acima do banho ao ar livre, o céu estava negro como azeviche, e nenhuma estrela podia ser vista. Grossas espirais de vapor branco estavam subindo para o céu, desaparecendo na escuridão infinita.

Uma tremenda solidão se apoderou de mim.

Comecei a me sentir como uma criança, como naquelas vezes em que eu abria os olhos no meio da soneca da tarde. A casa parecia fria e desconhecida, e minha família não estava à vista. Ninguém estava lá para me dizer onde eu estava. Algo grande estava acontecendo e fui o único que ficou para trás. Era exatamente assim que estava me sentindo.

O que foi que fizemos de errado?, fiquei pensando.

De repente, vi alguém se levantando na beirada de pedra ao redor da fonte termal. As curvas suaves de seu corpo começaram a gradualmente surgir do vapor. A água pingava de seu corpo ensopado enquanto se aproximava de mim. Vi seu rosto e fiquei feliz.

— Então é aqui que você estava, Miya.

— Estive aqui o tempo todo.

— Fiquei te esperando por muito, muito tempo.

Miya não disse nada e afundou na água ao meu lado. Ela colocou a cabeça no meu ombro e fechou os olhos. Já fazia muito tempo que não nos abraçávamos assim.

 


Notas:

1 – Senbei é um tipo de aperitivo feito com arroz. Normalmente são salgados, mas também podem ser doces.

2 – São as hospedarias típicas japonesas, com futons, tatames e yukatas.

3 – É um mamífero carnívoro, pequeno e leve, que normalmente vive em árvores.

 


 

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