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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 01 – Cap. 01 – País dos Magos

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Era um país tranquilo, cercado por montanhas proibidas e escondido atrás de muros altos. Ninguém do mundo exterior poderia visitar.

Acima de uma face rochosa brilhando com o calor da luz do sol, uma única vassoura voava pelo ar quente. A pessoa que a pilotava era uma linda jovem. Ela usava um robe preto e um chapéu pontudo, e seus cabelos cinzentos voavam ao vento. Se alguém estivesse por perto, viraria-se para olhar, imaginando com um suspiro quem seria aquela beldade a voar…

Isso aí. Eu mesma.

Ah, era uma piada.

— Quase lá…

O muro alto parecia ter sido esculpido na própria montanha. Olhando um pouco para baixo, vi o portão e guiei minha vassoura na direção dele.

Com certeza foi trabalhoso, mas suponho que as pessoas que moravam aqui o haviam planejado dessa maneira – para impedir que as pessoas entrassem por engano. Afinal, não há como alguém caminhar por um lugar desses sem uma boa razão.

Desci da minha vassoura bem em frente ao portão. Um sentinela local, aparentemente conduzindo inspeções de imigração, aproximou-se de mim.

Depois de me olhar lentamente da cabeça aos pés e examinar o broche no meu peito, sorriu alegremente.

— Bem-vinda ao País dos Magos. Por aqui, Madame Bruxa.

— Hmm? Você não precisa testar se posso fazer magia ou não?

Ouvi dizer que quem visitava este país tinha que provar sua capacidade mágica antes de entrar; qualquer pessoa que não alcançasse um determinado nível teria seu acesso negado.

— Eu a vi voando. E, além disso, esse broche que está usando indica que é uma bruxa. Então, por favor, continue em frente.

Ah sim, é mesmo. Ser capaz de voar em uma vassoura é um dos pré-requisitos mínimos para a entrada. É claro que puderam ver minha aproximação lá da guarita. Que boba que fui!

Depois de me inclinar um pouco para o guarda, passei pelo portão enorme. Aqui estava o País dos Magos. Usuários iniciantes de magia, aprendizes e bruxas de pleno direito – desde que pudessem usar magia, estariam autorizados a entrar neste país curioso, enquanto todos os outros seriam impedidos.

Ao passar pelo imenso portão, duas placas estranhas, lado a lado, chamaram minha atenção. Olhei para elas um pouco confusa.

A primeira mostrava um mago montado em uma vassoura, com um círculo ao seu redor. Aquela ao lado mostrava a imagem de um soldado andando, com um triângulo em sua volta.

O que há com essas placas?

Eu soube a resposta assim que olhei para cima – acima do monte de casas de tijolos e sob o sol cintilante, magos de todos os tipos atravessavam o céu em todas as direções.

Entendo. Deve ser uma regra nos países em que permitem apenas a entrada de magos – quase todo mundo está voando em uma vassoura, por isso poucas pessoas escolhem andar.

Satisfeita com minha explicação para as placas, peguei minha vassoura e me sentei de lado. Com um impulso, levantei suavemente no ar em uma demonstração viva do desenho da placa.

— Então voar é o meio de transporte preferido daqui, hein?

E, com isso, vi o País dos Magos como deveria ser visto. Acima dos telhados marrom-avermelhados que se estendiam igual um bocado de terra seca, magos flutuavam no ar. Alguns paravam suas vassouras para ter uma conversa amigável, enquanto outros voavam com pacotes de bagagem amarrados a elas. Havia mulheres idosas suspeitas e parecidas com bruxas, além de crianças disparando pelo céu, competindo para ver quem podia voar mais alto.

Essas pessoas devem passar a vida inteira no ar.

Foi uma cena realmente maravilhosa. Me deixou quase sem fôlego.

Me juntei a eles, subindo acima do país, rendendo-me sem rumo ao fluxo de tráfego aéreo ao meu redor. De repente, uma placa presa ao topo de um dos telhados chamou minha atenção. Aparentemente era uma POUSADA. Passei sem parar e vi a palavra MERCEARIA logo adiante. Havia outras: um AÇOUGUE e até uma JOALHERIA. Como eu suspeitava, a vida local era vivida acima dos telhados, e colocar suas placas no topo do teto devia ser a prática comum.

Olhando em volta, vi que os telhados da maioria das casas tinham uma janela que era grande o suficiente para uma única pessoa passar. Enquanto observava distraidamente, uma daquelas janelas se abriu e um homem montado em uma vassoura voou para fora.

Então é para isso que elas são usadas.

Voei em um ritmo lento, observando toda a paisagem, até que…

— Ahhhhhhhhhhhhhhh!

… um grito soou de trás de mim. Segurando minha vassoura com uma mão, segurei meu chapéu para que não voasse para longe e me virei.

Ah, tarde demais.

— Ahhhhhhhhhhh!

Dirigindo-se diretamente para mim a uma velocidade absurda, como um meteorito caindo e deixando um rastro luminoso, a pessoa em questão já estava a apenas um telhado de distância quando a vi.

Esquivar? Impossível.

Virei minha parte superior do corpo por reflexo, mas não havia como evitar a colisão. Com uma série de grunhidos (“Ugya!”, “Geh”), nós nos emaranhamos e caímos no telhado abaixo. As telhas cuidadosamente alinhadas quebraram, e por fim paramos um pouco antes de cair da borda do telhado. Vi uma única telha cair no chão, bem abaixo de nós. Ainda bem que não havia pedestres.

O ângulo era pequeno, mas consegui evitar uma colisão direta com o chão. Além disso, a pessoa estranha que colidiu comigo havia sofrido o impacto da aterrissagem, então, felizmente, não me feri.

Eu me levantei, limpando alguns fragmentos marrom-avermelhados do telhado que ficaram grudados no meu robe preto.

— …

— Urggggh…

A adolescente gemendo e olhando em volta atordoada parecia ser um pouco mais nova que eu. Seu cabelo preto era curto, e tinha um rosto de aparência andrógena. Ela usava uma blusa branca e uma saia xadrez sob um manto preto, as quais ficaram bagunçadas após cair no telhado.

Ela não está usando broche nem nada no peito, então deve ser uma noviça.

— Hmm, você está bem…?

Quando toquei o ombro da garota caída, ela abriu os olhos.

— …

— … — E ficou em silêncio.

Parecia que ainda estava lutando para processar a situação, então me arrisquei:

— Você tem problemas para pilotar sua vassoura?

Sim, admito que estava falando em um tom sarcástico.

— Ah…

— Parece que você finalmente recuperou os sentidos — falei com um sorriso.

— Ahhhh! — Ela voltou a olhar ao redor. — O-o-o-o que eu faço? O que eu faço? Não tem como consertar tantas telhas…

Ei, e aí…

— Que tal um pedido de desculpas primeiro?

— Ah, s-sinto muito! Não foi de propósito! Sério!

Bem, eu já sabia disso.

— Enfim, você está bem? Você girou feito um furacão.

— Ah, estou bem! Estou novinha em folha, viu?! — disse a menina, enquanto pequenos filetes vermelhos escorriam de sua cabeça. Seus olhos estavam claros e ela não teve problemas para falar.

— Você está sangrando. Na sua cabeça.

— É só suor!

— Seu suor sempre cheira a ferro?

— Hmm, bem, hmm… é suor!

— Okay, entendi, então acalme-se um pouco.

— Sim, senhora!

— …

Não sei por que, mas já me sinto exausta. Talvez seja por causa da colisão.

Eu estava planejando fazer a garota consertar as telhas quebradas depois de uma boa bronca, mas já era o suficiente. Ela já estava toda confusa; forçá-la a consertar o telhado enquanto continuava nesse estado seria simplesmente insensível. Em vez disso, tirei meu lenço do bolso.

— Aqui, pegue. Pressione na sua cabeça.

— Ah… mas…

— Além disso, vou colocar as telhas de volta no lugar, então vá descansar, por favor.

— Não, também vou ajudar!

— No seu estado, se tentar ajudar, só vai atrapalhar. Vá descansar — falei com mais firmeza.

— Mas…

— Você. Vai. Me. Atrapalhar.

— Tá bom…

Como um gato de rua, a jovem abatida sentou-se no topo do telhado e pressionou o lenço contra o ferimento na cabeça. Por mais enérgica que parecesse, estava claro que se esforçara um pouco demais. No exato momento em que se sentou, inclinou-se e caiu.

Eu posso adiar um pouco a situação com ela. Não é como se essa garota fosse morrer ou algo assim. Primeiro, vamos fazer algo quanto a esse desastre aqui

Juntei energia mágica em minhas mãos. Instantaneamente, uma varinha longa e fina apareceu nelas, acompanhada por um brilho fraco.

Este era o privilégio especial dos magos. Somos capazes de produzir qualquer coisa – varinhas, vassouras e outras ferramentas mágicas, por exemplo –, do nada.

Canalizei energia para minha varinha e comecei a trabalhar.

Era um feitiço de reversão temporal.

Como o nome sugere, é um tipo de magia que conserta coisas quebradas e cura ferimentos, fazendo o tempo correr ao contrário. Requer habilidade mágica levemente avançada, mas qualquer bruxa que vive neste país deveria ser capaz de fazer isso. Entretanto, tenho certeza de que teria sido difícil para a pequena noviça desastrada atrás de mim.

As telhas começaram a se mover quando eu as banhei com magia. As quebradas se juntaram com seus cacos, retornando aos seus lugares originais como muitas peças de um quebra-cabeça.

Depois que todos os fragmentos desapareceram e qualquer sinal do acidente foi apagado, completei o feitiço e me virei. Agora era hora de arrumar a garota.

— Beleza, você é a próxima.

— Hmm, uhhh…

Aproximei-me dela, que sentou-se nervosamente segurando a cabeça, e apliquei o feitiço. Sob a luz suave, suas roupas esfarrapadas se consertaram e seus ferimentos sararam na mesma hora.

— Whoa… — Pude ouvi-la murmurar.

Isso não é nada impressionante. Depois de se tornar uma bruxa, essas coisas são fáceis de se fazer.

Depois de me certificar de que ela estava bem, corri para pegar as vassouras que haviam caído do telhado. Decidi que provavelmente era uma boa ideia sair de lá antes de fazer mais uma cena.

— Ah, hmm!

A garota aparentemente tinha mais a me dizer, mas joguei uma perna sobre a minha vassoura, ignorando-a.

— Você não precisa se desculpar. Só não se esqueça de olhar para onde está indo quando estiver voando na sua vassoura, entendeu?

— Por favor, espere, eu tenho que fazer algo para compensar…

— Não precisa. Estou com pressa. Adeus, noviça sem nome.

E então voei para longe.

 

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Qualquer humano que possa usar magia inicia seu treinamento como noviço. Nem todo mundo pode se tornar um e, na maioria das vezes, a habilidade é passada pelo sangue. Meus pais também eram noviços.

As bruxas aprendizes estão acima dos noviços, mas estão um nível abaixo das bruxas completas. Como o nome sugere, o título de “bruxa” se aplica apenas a garotas e mulheres. Não tenho ideia do porquê, mas as mulheres têm maior capacidade mágica inata do que os homens. É por isso que apenas podem alcançar níveis mais altos que os noviços.

Só há uma maneira de se tornar uma aprendiz: passar nos exames de magia e receber o corsage que comprova seu status. Não há método alternativo. Só que os exames são brutais e muitas pessoas desistem antes de chegarem ao fim.

Depois de se tornar uma bruxa aprendiz, a pessoa passa por um regime de treinamento muito específico para ganhar o título de “bruxa”. Isso significa longos dias de trabalho duro sob o olhar atento de uma bruxa adequada, até que a aprendiz finalmente consiga sua aprovação. O treinamento pode durar um único dia ou até dez anos. Tudo depende dos esforços da própria indivídua e da bruxa que está servindo como professora.

Quando alguém é oficialmente reconhecida como uma bruxa, recebe um broche em forma de estrela com o nome gravado no fundo e sua professora lhe dá um título de bruxa. O meu é “a Bruxa Cinzenta”.

Essa foi uma explicação bastante demorada, mas meu argumento é que, como uma bruxa de pleno direito, deveria ser uma das principais usuárias de magia deste país. Eu esperava que as pessoas olhassem para mim com inveja quando voasse pelo céu, que quando fosse a um restaurante me dissessem: “Madame Bruxa! Permita-me oferecer-lhe um desconto em tudo! Por favor, coma o quanto quiser!”, e assim por diante, mas…

— Hã? Um desconto? Nós não temos nada assim aqui. Você está dizendo que não tem dinheiro, mocinha?

— …

Então é assim, hmm? Suponho que se o restaurante desse um tratamento especial a todas as bruxas, iria acabar falindo.

Saí do restaurante e fui ao joalheiro. Queria vender uma joia que havia comprado em um dos países que visitei antes e esperava conseguir uma quantia considerável por ela.

— Ah, isso aqui é falso, sabe? Não posso te pagar nada por uma coisa dessas.

— Só pode ser engano. Veja direito, por favor.

— Eu posso olhar o quanto quiser, mas a resposta será a mesma. O que você quer fazer? Se não precisar disso, posso me livrar dessa coisa para você…

— Parece que você está planejando me roubar, não é…?

— Claro que não, querida! Eu nunca faria isso com você. Então, e aí?

— Devolva.

Quando deixei a joalheria, estava de mau humor.

Bem, tenho certeza de que o dono dessa joalheria é só um vigarista, isso é tudo. Não é como se ele estivesse tratando especificamente eu com desprezo, né? Né…?

Sentindo-me desconfortável, fui para uma pousada. O dia estava chegando ao fim. Contudo…

— Ei. Este não é um lugar para crianças como você. Xô, xô.

Huuuh…? Mas que diabos? Este é algum tipo de hotel exclusivo para pessoas ricas? Hmm… De qualquer forma, não vou ficar aqui. Vamos para outro lugar.

Pulei da minha vassoura no topo de uma pousada muito barata com uma placa esfarrapada. Este lugar certamente não vai me mandar embora.

Abri a janela no telhado e desci a escada que levava para dentro. Mas na metade do caminho não pude mais me incomodar, então pulei.

Baque. O som ecoou pelo edifício como se fosse uma bala de canhão.

Ei, não sou tão pesada. Grosso.

Caí no meio da recepção.

A garota sentada atrás do balcão olhou para mim.

— Bem-vi…

E ficou rígida.

Eu também.

Ela tinha cabelo preto curto. Características masculinas e andrógenas.

Sentada na minha frente estava a garota que (literalmente) se encontrou comigo várias horas antes.

— …

— …

Ela foi a primeira a se soltar do momento de congelamento no tempo.

— E-eeeeeek! Me d-d-desculpe! Eu sinto muito! Você está aqui por vingança? Isso é vingança, não é?! Eu sinto muito! Poupe minha vida! Me poupeee!

— Não, uh…

— Waaaaaah! Eu não quero morreeeeeeeeeeeeer!

— Hmm…— Não precisa dessa histeria; vamos lá.

Ela estava batendo a cabeça no balcão e chorando.

— Apenas poupe minha viiiida…

Toquei seu ombro levemente.

— Eek! Você vai me rasgar membro a membro? Vai começar pelo meu ombro? Nããããão!

Você poderia ficar quieta por um segundo…? Espera, não, não diga isso em voz alta.

— Hmm, está tudo bem? Eu só vim para passar a noite nesta pousada.

— Nãããããããããão… Ah, é só isso? Nesse caso, preencha este formulário.

— …

Havia várias coisas que eu gostaria de dizer, mas me contive. Deixar isso de lado seria a melhor opção.

Peguei o formulário dela e também uma caneta de pena em seu suporte no balcão. Era uma documentação simples, apenas perguntando o número de pessoas e o número de noites, assim como o nome de um representante. Como viajante experiente, eu rapidamente me acostumei a esse tipo de coisa.

Enquanto movia a caneta de pena pelo papel, a garota falou com uma voz muito baixa:

— Sinto muito pelo que aconteceu esta tarde. Sempre que minha mente divaga durante o treino, pareço perder a capacidade de pilotar a vassoura…

— Entendo.— Em outras palavras, você voa muito mal.

— Eu realmente queria te agradecer direito, mas você fugiu… Ah, então seu nome é Elaina. Me chamo Saya. — Ela sorriu alegremente para mim enquanto me observava escrever.

— Você realmente não precisa me agradecer — respondi enquanto continuava preenchendo o formulário. — Além disso, muitas pessoas acabam passando por algo com as outras enquanto praticam magia.

Parando para pensar, uma vez incendiei minha casa tentando acender uma vela. Meus pais ficaram realmente chateados com aquilo. Ah, a juventude…

— Por que você não me deixa te compensar? Causei todo esse problema para você, e você até curou os meus ferimentos. Detestaria deixar as coisas como estão.

— Está tudo bem, mas…

— Está tudo bem! Por favor! Senhorita Elaina!

Balancei minha cabeça quando a garota me pediu para deixá-la me compensar. Tenho certeza de que seria estranho assistir isso.

Bem, não é como se estivesse me pedindo para sair do meu caminho por ela, então não preciso me incomodar. Pensei um pouco enquanto escrevia.

— Hmm… bem, nesse caso… — Que tal eu fazer você me dar um desconto? Eu estava prestes a perguntar, mas me contive.

Um ponto no formulário chamou minha atenção. DESCONTO ESPECIAL PARA BRUXAS (DESCONTO POR UMA NOITE).

Oh ho! O que temos aqui?

— Ah, esse desconto não se aplica a quem não é bruxa. Magos comuns devem circular a opção de preço regular — disse ela, franzindo as sobrancelhas.

— Entendo. — Circulei o DESCONTO ESPECIAL PARA BRUXAS (DESCONTO POR UMA NOITE).

— Eh? Não, hmm… Hein?

O que há com essa reação estranha? Sheesh, que rude.

— Eu sou uma bruxa, então…

— Vamos lá, você não devia brincar com isso… Ah, bem, mas eu te causei um monte de problemas… Beleza! Vamos lá, vou dar o desconto! — Ela bateu palmas uma vez.

Eu tive a sensação de que estávamos de alguma forma passando por um mal-entendido, e isso estava me deixando nervosa. Balancei minha cabeça.

— Não, não, não, não é isso. Veja, eu sou uma bruxa. Não vê como estou vestida?

— Hã? — disse ela, apontando para o meu peito. — Mas você não tem um broche de bruxa.

— Perdão?

Seguindo o dedo dela, abaixei meus olhos para o meu próprio peito.

O broche que estava lá havia desaparecido.

 

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Em certo sentido, o broche de uma bruxa seria sua identificação. Sem ele, eu era apenas uma viajante capaz de usar magia.

Deve ser por isso que a última pousada me tratou como uma criancinha. Agora entendo. Mas como foi que não percebi que isso sumiu? Bruxas não são tão raras, e se eu tivesse sido um pouco mais cética, poderia ter feito algo mais cedo. Sou só uma idiota? Ugh, que se dane, Elaina!

Enquanto amaldiçoava e xingava a mim mesma, procurei freneticamente pelo broche.

— Ele se foi…

Estava em lugar nenhum.

Eu devia ter deixado cair após a colisão com Saya, mas já estava completamente escuro do lado de fora. O broche era pequeno o suficiente para caber na palma da minha mão… não era exatamente o tipo de coisa que poderia encontrar apenas tateando no escuro.

— …Afe.

Depois de vasculhar o telhado em zigue-zague e examinar todas as rachaduras entre as telhas, desci ao nível do solo e procurei por todo o prédio. Mas, claro, sem sorte.

Eu vou chorar.

— Não encontrei nada!! Senhorita Elaina, também não está aqui!! — Uma voz irritantemente alta soou do telhado, ecoando pelo beco todo. Quando olhei para cima, vi Saya iluminada pelo luar.

Logo depois que descobrimos que o broche sumiu, ela disse:

— Isso também é culpa minha, então vou com você! — E insistiu em se juntar a mim na minha busca. Ela deixou outra pessoa no comando da pousada ou algo assim, acho.

Enquanto eu procurava pelo chão, a deixei procurando no telhado, para o caso de ter deixado algo passar. Mas, aparentemente, ela não se saiu melhor que eu.

Flutuei ao lado dela na minha vassoura.

— Fizemos uma busca completa e o broche não está aqui. Temos que considerar a possibilidade de alguém ter pego… — Soltei um suspiro profundo.

— Acho que também será difícil de encontrar, já que está escuro… —  disse Saya. — Pode ser bom procurar aqui novamente amanhã de manhã. — Sua voz estava alegre, embora meus ombros estivessem caídos de decepção. Fiquei um pouco agradecida pelo otimismo dela.

— Vou fazer isso… — Balancei a cabeça humildemente com a sugestão dela e virei para voltar para a pousada.

Voando instável na minha vassoura, eu parecia uma simples bruxa noviça que ainda estava aprendendo a voar. Ah, se alguém voasse perto de mim, eu poderia acabar por colidir com essa pessoa.

Eu tinha passado por muita coisa para conseguir aquele broche, e ele guardava muitas lembranças do meu tempo com minha professora. Perder aquilo era algo amargo de engolir.

Se eu o tivesse perdido quando me tornei uma bruxa, tenho certeza de que teria notado na mesma hora. Mas depois de usá-lo todos os dias por dois anos, provavelmente estava acostumada a tê-lo sempre comigo.

— Uff…

Isso foi deprimente.

Após a busca, voltei para a pousada e jantei, depois entrei no meu quarto usando a chave que recebi de Saya, lembrei que ainda não tinha tomado banho e fui direto para o grande banheiro anexo.

Mergulhei na água quente por uma hora inteira enquanto minha mente vagava. Ah, devo ter perdido quando colidi com Saya… mas não estava lá… Que misterioso… Me espreguicei quase toda e enchi a banheira (estava sozinha). Então, pouco antes de derreter na água quente, voltei a sentar o meu corpo que já começava a ficar pesado.

E depois voltei para o meu quarto…

— Ah, oi…

…e encontrei Saya lá dentro.

Fechei a porta. Dei um passo para trás e verifiquei o número do quarto. Sim, corresponde ao número escrito na chave. Estranho. Será que estou vendo coisas?

Abri a porta mais uma vez.

— Ah, oi…

Se ao menos fosse um pesadelo… Mas, infelizmente, não havia como confundir: Saya estava no meu quarto, me dando um aceno despreocupado de cima da cama dura.

— …

— O que você está fazendo no meu quarto…? — Fechei a porta com uma mão atrás das costas.

— Eu queria falar com você, Elaina, então fiquei esperando.

— Pensei ter trancado a porta.

— Você com certeza trancou! Mas eu trabalho aqui! — Ela orgulhosamente puxou um chaveiro com um grande número de chaves.

Fui até ela sem dizer uma palavra e agarrei suas duas bochechas.

— Ow, isho machucha! Dói!

— Mas que grande ideia, entrar no quarto de uma pessoa sem permissão? Hein? — Puxei suas bochechas com força.

— Vau raxghrs! Voxe vaiu raxghrs minhas chechas! — Vai rasgar, você vai rasgar minhas bochechas, é o que ela parecia querer dizer.

— Hmm? O que foi? Não consigo te ouvir.

— Waaaaaah…

Puxei e torci suas bochechas macias até ficar satisfeita e a soltei.

Massageando as bochechas levemente vermelhas com as duas mãos, Saya murmurou:

— Isso foi maldade… — Realmente, porém, qual de nós estava mais errada aqui?

— Bem, o que você quer? Você fez questão de esperar no meu quarto, então deve ter algum motivo para isso, certo?

Ainda massageando seu rosto, Saya disse:

— Senhorita Elaina, você é realmente uma bruxa, certo?

— Sim, bem — confirmei —, não estou com o meu broche no momento, mas, sim, sou uma bruxa.

— Então isso significa que você passou no exame de magia, certo?

— Passei.

Mesmo nesse momento, me lembrei do meu desapontamento pela falta de desafio.

Saya olhou para mim por um momento, depois de repente desceu da cama e se ajoelhou. Então colocou as duas mãos no chão e pressionou a testa no chão.

— Por favor, me ajude! Ensine-me os segredos para passar no exame, por favor!

— …Hum, o que você está fazendo aí no chão?

— Essa é a maneira tradicional de nos prostrarmos em minha cidade natal! É uma técnica infalível usada quando você faz algo imperdoável à outra parte.

Que tradição estranha… As pessoas na sua cidade natal precisam se desculpar com os outros com tanta frequência? Ainda assim, dá para realmente sentir a sinceridade.

Mas isso me deu… qual é a palavra? Um sentimento estranho? Assustador, não é?

Reprimindo o desejo de dizer: Huuuh? Você acha que pode pedir um favor como esse? Ajoelhei-me ao lado dela.

— Hum, por enquanto apenas levante sua cabeça do chão.

— Você vai me ajudar?! — Ela olhou para mim.

— Vamos com calma — falei. — Primeiro, conte-me sobre sua situação.

Ela me contou.

Deixei a garota sentar na cama novamente, puxei a cadeira de aparência barata próxima à mesa e me sentei de frente para ela. Saya sacudiu um pouco os cabelos pretos e inclinou a cabeça, depois hesitantemente abriu a boca.

— Hum… então, eu tenho uma irmã mais nova. Ela é muito fofa.

— Certo… — Essa é uma maneira muito estranha de começar, mas já me comprometi.

— Viemos de um país distante ao leste. Minha irmã e eu viemos até aqui para nos tornarmos bruxas aprendizes, não há organizações oferecendo os exames em nossa cidade natal. Então, nós duas trabalhamos nesta pousada e economizamos dinheiro enquanto estudávamos para os exames. Vivemos assim por vários anos, mas…

— Mas vocês duas ainda são apenas noviças?

Ela olhou para baixo e balançou a cabeça lentamente.

— Somente minha irmã fez a última rodada de exames. E ela foi para casa. Sem mim.

— …Hmm. — Entendo, entendo. Acho que sei onde isso vai chegar. Em outras palavras… — Sua irmãzinha fofinha te superou e você ficou tão impaciente que decidiu amarrar uma bruxa que acabou de conhecer, em um acidente, devo acrescentar, para ajudá-la a passar nos exames? É isso?

Coçando a bochecha com aparente constrangimento, Saya murmurou:

— Bem, hum… isso é… sim, mais ou menos.

— Então, quando é o próximo exame?

— Daqui a uma semana… não tenho muito tempo…

Você fez os exames de avanço várias vezes, então não acho que haja necessidade de entrar em pânico. Mas você provavelmente está tão preocupada com isso só porque quer ver sua irmã de novo.

— …

Quebrando o silêncio, falei:

— Vou te ajudar pelo tempo que for preciso para encontrar meu broche. — De qualquer maneira, não poderia deixar o país até encontrar meu broche, e não teria nada para fazer quando não estivesse procurando. Ela provavelmente até me deixaria ficar na pousada de graça, então achei que parecia uma boa ideia.

 

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Para ser promovido ao nível de bruxa noviça, é necessário passar em um exame escrito e depois em um exame prático de habilidades mágicas.

O exame escrito é simples e, desde que possa aprofundar a teoria mágica, a história e outros assuntos em sua cabeça, nada poderia ser mais fácil. Mas depois há o exame prático. Não há maneira de contornar isso; sem habilidade real, terá que fazer de novo e de novo.

Quanto ao conteúdo do exame prático, eles analisam principalmente duas habilidades: sua capacidade de pilotar uma vassoura e como lida com a magia ofensiva. Cada vez que o exame é realizado, apenas uma pessoa pode passar. O exame realizado em uma semana não seria diferente. Voando no céu em uma vassoura, cada aspirante a bruxa atacava as outras, tentando derrubar suas oponentes enquanto se protegia. A última que restasse passaria no exame e seria declarada publicamente como uma bruxa noviça.

As batalhas eram sempre violentas e difíceis de assistir. As partes mais desagradáveis da natureza humana sempre pareciam ficar à mostra. Se eu tivesse que fazer o exame pela segunda vez, não faria.

— Tenho que ser honesta com você, Saya. Com a capacidade que você possui no momento, não importa o quanto lute, a chance de ganhar contra as outras candidatas é quase nula — disse de cima da minha vassoura. Era o início da manhã do dia seguinte ao que prometi ajudá-la. — No entanto, perto de zero não significa zero absoluto. Deixe sua mente à vontade.

— O-o que devo fazer?! — Ela estava enérgica mesmo no início da manhã, e seus olhos brilhavam de emoção. A garota estava tão radiante quanto o sol da manhã.

Guiei minha vassoura até onde ela estava sentada no telhado, de joelhos dobrados.

— Primeiro, vou te ensinar a controlar sua vassoura pelo menos da melhor maneira possível, se não melhor.

— Aw… isso parece um pouco difícil… — Ela torceu o nariz.

Difícil? Eu estou pegando leve com você.

— Não há outra maneira de acompanhar o exame de habilidades práticas. Se você tentar com seu nível de habilidade atual, provavelmente cairá no momento em que o exame iniciar e perderá outra chance. Você precisa evitar ao menos isso.

— Rgh…

E é nisso que vamos focar.

Primeiro, a fiz trabalhar para melhorar as habilidades mágicas mais básicas. Assim como eu imaginava, Saya mal conseguia voar. (Era tão ruim que eu estava pronta para questionar se deveria chamá-la de maga!) Realmente tive que ensinar o básico do básico.

Ah, então é por isso que as mães sentem ao ensinar aos filhos como voar em vassouras…

Treinamos de manhã até à noite, contanto que o dia permitisse. Perseveramos em nosso curso intensivo, mesmo quando as crianças do bairro que voavam livremente ao nosso redor começavam a zoar e apontar.

Naturalmente, não havia me esquecido de procurar meu broche. Saya estava passando por uma melhoria gradual, mas eu não tinha feito nenhum progresso.

Sério, onde no mundo está o meu broche?

— Vire na próxima. Altere suavemente seu centro de gravidade e faça uma curva rápida, por favor.

— Certo!

— Depois é a frenagem de emergência e o aumento de velocidade. Use todo o peso do seu corpo e puxe a vassoura com força para pará-la, depois dispare como se estivesse chutando o céu.

— Certo!

— Depois é a desmontada aérea. Depois de soltar a vassoura no ar, use a magia para chamá-la de volta. Vou te ajudar se você tiver problemas, então não se preocupe e apenas voe.

— Certo!

— Em seguida é… — Tá, já deu para entender.

No final, Saya logo aprendeu a controlar sua vassoura quase tão bem quanto eu. Quanto tempo levou para ela atingir esse nível? Só dois dias! Eu tinha conseguido fazer ela passar por algumas melhorias incríveis. Realmente faz eu me perguntar o que ela estava fazendo até agora… ou será que o meu ensino que é tão bom?

Quando perguntei a ela, Saya me disse toda tímida:

— Até agora, só estudei sozinha.

Bem, esse é o seu problema.

Era o quarto dia da minha estadia neste país, e o terceiro dia do nosso regime de treinamento intensivo. Ao contrário da busca pelo meu broche, que não teve nenhum progresso (embora eu só estivesse perguntando por aí), o treinamento de Saya estava progredindo rapidamente e não parecia que pararia tão cedo.

— Em seguida, vamos estudar alguns feitiços ofensivos… como é a sua magia de vento?

— Magia de vento? — Saya estava sentada no topo do telhado marrom-avermelhado, com a cabeça inclinada.

Balancei a cabeça uma vez e respondi:

— Sim, vento. Ao controlar o fluxo do ar, você pode bloquear as outras participantes.

Esse era o método pouco convencional que eu havia usado durante meu próprio exame prático. Mudar o fluxo do ar era surpreendentemente eficaz, e mesmo nesse momento eu me lembrava de como as outras concorrentes haviam perdido o equilíbrio e caído de suas vassouras ou desviado e batido nos prédios.

Controle de vento era fácil de aprender e também uma arma poderosa. Se tivéssemos tempo suficiente, definitivamente queria ensiná-la.

— Bem, então, acerte aquela lata ali com uma rajada de vento, por favor.

Apontei para as latas que colocamos no topo do telhado à nossa frente. Havia cerca de uma casa de distância entre nós e as latas, mas não seria uma tarefa difícil.

— Funciona melhor se você imaginar uma bola de ar e tentar bater nas latas com ela… assim.

Balancei minha varinha e, instantaneamente, um vento forte roçou uma das latas. Ela oscilou para frente e para trás enquanto soltava ruídos.

Me virei para encarar Saya, que estava me olhando duvidosamente. Ela parecia estar pensando: “Não caiu, caiu? Você errou?”

Mas eu fiz isso de propósito. Sério!

— Tudo bem, tente.

— A-assim…?

Com um whoosh, Saya balançou a varinha. A magia de vento é um dos primeiros tipos de magia que uma bruxa noviça aprende, então ela foi capaz de produzir uma rajada de vento, mas aquilo simplesmente correu por cima das latas. Que pena.

— Você está segurando a varinha errado. Seu balanço também foi errado. A magia de vento é sutil, portanto, tentar forçá-la não ajudará.

— Hum, beleza, assim?

Whoosh. O vento passou direto pela lata, exatamente como antes.

— Errado. Assim.

Balancei minha varinha e as latas bateram uma contra a outra. Saya soltou um pequeno ruído de surpresa. “Whoa…” Ela finalmente percebeu que eu estava tentando não derrubar as latas.

E então ela balançou a varinha novamente, mais gentilmente desta vez, soltando um breve “Ey!”. A garota claramente aprendeu me observando, mas a força por trás de sua magia era muito fraca. Só produziu uma brisa leve.

Isso não está dando muito certo…

— Não assim. Desse jeito.

— Assim?

Balança e solta.

— Totalmente errado. Desse jeito.

— A-assim?!

O vento nem tocou as latas.

— Simplesmente horrível. Desse jeito, preste atenção.

— Desse jeito, então!

— …

Uma causa perdida. Sério mesmo. Minhas instruções não fizeram nenhuma diferença.

Hora de acelerar um pouco as coisas. Fui até atrás dela e segurei seus dois pulsos. Os ombros de Saya tremeram de surpresa, e falei em seu ouvido:

— Você está pronta? Vou canalizar um pouco de magia de vento em sua varinha. Lembre-se de como é.

— C-com meu corpo?

— Sim, com seu corpo. — Balancei a cabeça e, por algum motivo, suas orelhas ficaram vermelhas. — Okay, aqui vamos nós…

Desse jeito.

No terceiro dia praticamos até o sol se pôr, e Saya falhou completamente em dominar a magia de vento.

De alguma forma, ela ficou ainda pior depois que canalizei minha magia através do seu corpo… Como isso pode ser possível? Não entendo.

Obviamente, eu não estava dando atenção a Saya o tempo todo. Por volta do meio-dia, saí sozinha e voei pela cidade procurando pelo meu broche, conversando com tantas pessoas diferentes quanto pude.

A intenção era continuar perguntando e perguntando.

É claro que não era como se eu esperasse encontrar informações com tanta facilidade, e no final todo mundo que perguntei balançou a cabeça e deu a mesma resposta: “Eu não sei.”

— Vi um broche — disse uma velhota, que parecia muito experiente em magia. Olhando mais de perto, pude ver que ela estava usando um broche em forma de estrela sobre o peito. No entanto, parecia quase tão velho quanto ela, e estava bastante desgastado.

Parece que posso esperar algo dela. Entretanto, não tenho certeza do que esse “algo” é…

— On-onde você viu?! — Me apeguei a essa notícia na mesma hora.

A mulher soltou uma risada digna de uma feiticeira.

— Hee-hee-hee… Hmm, eu me pergunto…

— Por favor, diga-me, sua mulher maravilhosa!

— Hee-hee-hee. — De repente, ela começou a empurrar a palma da mão na minha direção.

— O que isso quer dizer…?

— Quanto essa informação vale para você? Hmm?

Ela ficou lá, com a mão estendida em minha direção. “Consegui ler o seu gesto: Se quiser ouvir mais, então pague.”

Ela joga sujo… Não esperaria menos de uma bruxa…

— … — Silenciosamente produzi uma moeda da minha bolsa e a deixei cair na mão da mulher. Quando o fiz, ela voltou a se mover, igual uma boneca de corda ganhando vida.

— O que eu vi foi…

A longa história da mulher só confirmou minhas suspeitas.

 

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Era a minha quinta noite neste país.

Enquanto olhava da minha cama para a lua no céu do lado de fora da janela, a porta se abriu de repente. Olhei para cima e vi Saya me encarando toda tímida.

— Hmm, Senhorita Elaina?

— O quê?

— P-posso dormir aqui com você?

Olhei para a cama.

— …

— É um pouco pequena, não acha?

— Essa é uma pousada barata, sinto muito.

Ah, não, não foi isso que eu quis dizer. Este é um quarto para uma pessoa. E a cama também serve para uma pessoa dormir sozinha.

— Bem, se você não se importa de ficar apertada, acho que não tem problema.

— Yuppee!!!

Saya bateu a porta e entrou no quarto, depois se arrastou para a cama. Ela cheirava bem, como se tivesse acabado de sair do banho. Como se tratava de uma pousada, deveríamos estar usando o mesmo xampu, mas o perfume era completamente diferente do meu. Peguei um pouco do meu cabelo e o aproximei do nariz, mas essa fragrância tenra e feminina não saía de mim.

Por que ela é a única cheirando tão bem? Ah, bem… Hora de dormir.

Me deitei, ainda olhando para a lua, e me cobri. Logo senti a presença de alguém atrás de mim.

— A lua não é brilhante demais para olhar enquanto está indo dormir?

— Um pouco. — Virei para o lado. Quando o fiz, meu olhar se encontrou com o dela. — Hmm, o que você acabou de dizer sobre a lua…?

— Eu não me importo, não é muito brilhante para mim. — Ela sorriu um pouco. Ao luar, seu sorriso parecia efêmero, como se pudesse dissolver se eu o tocasse.

— Bom trabalho hoje. Você alcançou grandes melhorias em comparação com quando começou. Em breve não precisará mais da minha ajuda.

— Como é? Isso não é verdade. Ainda tem tanta coisa que quero que me ensine, Elaina.

— Eu sou uma viajante… Logo vou sair deste país.

— Mas vamos ficar juntas até lá.

Eu a notei se contorcendo por baixo do cobertor, e então senti algo em minha mão.

Ela olhou nos meus olhos e apertou minha mão.

— Por favor, quero que você me ensine muito mais.

— …

Seus olhos refletiam a luz da lua.

Essa garota ingênua deve realmente idolatrar pessoas como eu. Sei que estou prestes a fazer algo cruel, mas, ainda assim, tenho que fazer o que é melhor para mim.

Eu não tinha certeza se o sentimento espinhoso no meu peito era culpa ou decepção, mas queria acreditar que era o primeiro.

— Não faz sentido continuar essa conversa, Saya — falei, balançando sua mão —, então por que não devolve meu broche?

 

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A verdade por trás do misterioso desaparecimento do broche acabou sendo bastante simples.

— Havia uma jovem garota que colidiu com você, certo? Depois que você voou com pressa, ela pegou o broche.

Seus olhos ainda brilhavam com o dinheiro que eu havia lhe dado, a velha me disse que tinha visto tudo acontecendo. E a história dela era a verdade; uma parte de mim suspeitava da mesma coisa. Não conseguir encontrar depois de procurar tão minuciosamente… alguém devia ter pego.

Desde o início suspeitei que havia algo acontecendo.

Saya.

Seu controle de vassoura era ruim demais – o suficiente para me fazer pensar que estava voando mal de propósito. Afinal, se não conseguisse pilotar sua vassoura de forma decente, não teria permissão para entrar neste país.

No começo, assumi que Saya era uma moradora local, mas quando perguntei sobre isso, disse que era uma maga de um país do leste que havia chegado sob circunstâncias especiais. Se isso era verdade, então era ainda mais estranho que não pudesse voar com sua vassoura. E então…

Aqui está a verdade… Suspeitei de você desde o começo. Esperei e esperei até que devolvesse meu broche.

— Mas você escondeu e nunca me devolveu. Em vez disso, disse que queria que eu ficasse com você para sempre. Já estou farta disso — disse a ela.

Saya sentou na cama, abaixando a cabeça. Eu me perguntava que emoção havia em seu rosto, mas não fiz nenhum movimento para confortá-la ao tocar seu ombro, como quando nos conhecemos. Infelizmente, não sou desse tipo.

Ela manteve o olhar no chão, como se quisesse evitar o luar, e eu simplesmente esperei a sua resposta.

Pergunto-me quanto tempo passou. Um minuto? Dez minutos? Podiam ter sido apenas dez segundos.

— …perguntou?

Eu mal pude ouvir uma voz muito baixa.

— O que é que foi? — perguntei.

— …Por que você não me perguntou? — Dessa vez a ouvi com clareza.

— Porque não tinha nenhuma prova. Essa é a primeira razão. Mesmo se te acusasse e chamasse de ladra, se você negasse, eu não teria nenhuma evidência. Minhas mãos estariam atadas.

— …

— Além disso, eu acreditava que você eventualmente devolveria. Na verdade, não acho que você seja uma pessoa má, Saya.

Essa garota inocente e de alto astral me lembrava uma criança que foi mimada por sua mãe.

— Então eu esperei — disse para ela.

Saya finalmente levantou a cabeça. Seu lindo rosto estava uma bagunça, enrugado por causa do choro. Ela enxugou as lágrimas e tentou reprimir os soluços enquanto dizia:

— Eu estava solitária.

— Não sou a sua irmãzinha.

— Eu sei disso. Eu sei, mas… eu… eu queria ficar com você. — A voz dela ficou tão baixa. Eu não tinha certeza nem se ela estava falando com sua irmã ou comigo.

Se eu escrevesse o que aprendi sobre Saya no curto período de tempo desde que nos conhecemos, seria um resumo bem curtinho, mas, de alguma forma, acreditava que tinha chegado a entender que tipo de pessoa ela era. Se tratava de uma irmã mais velha inútil que sempre deixava sua doce irmã mais nova a mimar. Tenho certeza de que sempre foi assim, e foi por isso que não aguentou quando sua irmã mais nova a deixou para trás.

— Eu odeio ficar sozinha. Eu odeio e fiquei com medo, então…

— Ei. — Eu cutuquei sua testa, e isso fez um twik. — Isso não é desculpa.

Se você odeia ficar sozinha, então encontre alguém em quem confiar. Se você odeia ser ridicularizada por estar sozinha, vá e encontre alguém com quem se dê bem. Se a solidão é assustadora, faça tudo o que puder para escapar dela.

— Realmente importa se você está sozinha agora? Se está se sentindo sozinha? Você pode se tornar uma bruxa noviça enquanto ainda mantém esses medos? Sempre que os humanos estão seriamente tentando realizar alguma coisa, eles ficam sozinhos. Você não pode fazer nada se não estiver sozinha. E se encontrar uma parceira, então está tudo acabado.

Sua irmãzinha provavelmente estava tentando te ensinar isso ao te deixar. Mas não posso afirmar algo assim.

— Mas…

— Ah-ah-ah. Sem desculpas. Não ouvirei desculpas. — Cobri meus ouvidos com as duas mãos e balancei a cabeça. De jeito nenhum. Meu cabelo voou loucamente e a acertou no rosto.

Opa, aposto que ela não gostou disso.

— Claro, lutar sozinha é difícil. É assustador. Eu entendi. E é por isso que… — Enquanto eu falava, usei magia para conjurar um chapéu pontudo, exatamente igual ao meu, e o coloquei em sua cabeça. — Estou te dando isso… Fique com uma pequena parte de mim ao seu lado. Então você ficará bem, mesmo quando estiver sozinha.

Segurando a aba do chapéu com força, Saya disse:

— Mas se eu aceitar isso, você não terá…

— Ah, está tudo bem. É um reserva.

Produzi outro chapéu e mostrei a ela antes de colocar em mim mesma.

— Agora estamos combinando. A partir de agora, você ficará por conta própria, mas nunca verdadeiramente sozinha. Sua irmã e eu estaremos sempre cuidando de você. — Então devolva meu broche, exigi silenciosamente.

Ela puxou o chapéu, abaixou a cabeça e segurou-o com muita força e, com os ombros trêmulos, assentiu em silêncio. Saya parecia tão fraca e desamparada.

Abracei seus ombros magros e a puxei para mais perto.

Chegara o dia.

Passamos a minha última noite no país juntas. Eu consolei Saya enquanto ela chorava, dei alguns conselhos para passar no exame prático de habilidades mágicas, ouvi tudo sobre o país de onde ela e sua irmã eram, discuti minhas futuras viagens e assim por diante.

Ah, e acontece que Saya era realmente uma maga muito poderosa. Quero dizer, eu sabia disso o tempo todo, mas nunca descobri por que ela era tão ruim em magia de vento. Nesse ponto, não importa o quanto perguntava, a garota só corava e se recusava a responder. Qual é o problema dela?

No final de tudo, adormecemos juntas no momento em que o sol estava nascendo. Tinha sido uma longa, longa noite.

Mas também uma lembrança preciosa.

 

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Voltei a pensar após vários meses depois de deixar o País dos Magos.

Seis meses, para ser exata.

Cerca de meio ano se passou desde que conheci aquela garota, perdi meu broche e o recuperei – uau, o tempo com certeza voa. De verdade.

Eu tinha viajado para outro país tão longe que as pessoas perguntavam: “Hein? País dos Magos? Onde fica isso?”

A razão pela qual eu estava relembrando era que, por acaso, vi o nome dela enquanto estava passando por uma livraria.

LISTA DE APROVADOS NO EXAME DE BRUXA NOVIÇA

Impresso em uma pilha de papel de palha realmente barato, era publicada todo mês pela misteriosa organização conhecida como Associação de Magia, responsável pela realização dos exames de bruxa noviça, entre outras coisas. Os resultados dos exames realizados em todo o mundo, além de algumas palavras das candidatas aprovadas, estavam exibidos na primeira página.

Seu nome estava lá.

— Ei, sem leitura na loja. — O dono da loja apareceu dos fundos e me tomou os jornais.

— Ah… — Mas eu queria continuar lendo.

— Quer ler? Tem que pagar.

— Quanto?

— Um cobre.

Paguei, depois enfiei o papel debaixo do braço e voltei para minha pousada, cantarolando por todo o caminho. Puxei minha cadeira para a janela e continuei lendo. No artigo, a garota falava sobre seus dias mais difíceis e suas esperanças para o futuro.

Segundo o artigo, ela havia se mudado para o País dos Magos com sua irmãzinha há vários anos. Sua irmã, e apenas sua irmã, rapidamente se tornou uma bruxa noviça e voltou para sua cidade natal sem ela. Então a garota acabou conhecendo uma certa viajante que lhe deu a coragem para lutar por conta própria, além de um chapéu incrivelmente estiloso. Ela tentou o exame várias vezes depois que a viajante partiu, mas foi muito difícil. No entanto, continuou tentando e nunca desistiu e, no final das contas, ganhou o posto de bruxa noviça. Agora estava voltando para casa, com planos de treinar duro e se tornar uma bruxa de verdade.

Não pude deixar de sorrir.

Sua longa história acabou com uma frase: “Depois de voltar para casa e me tornar uma bruxa de pleno direito, gostaria de fazer uma visita à minha viajante preferida.”

Coloquei o jornal sobre a mesa e olhei para o céu. Em algum lugar na extensão infinita daquele céu claro e azul pálido, estava ela.

— Estarei esperando para te ver… Saya.

 


 

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