Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada

Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 05.1 – Lance Seu Verdadeiro Desejo na Fonte Sagrada

Com mais uma montanha entre ela e a floresta élfica, Rem parou a carruagem.

— Não pensei que voltaria aqui tão cedo.

Com a casa que deixou para trás agora na sua frente, a elfa não sabia se ficava feliz ou triste. Entretanto, isso era algo em que poderia pensar em outra hora. No momento, precisava colocar todo o seu foco nos caçadores que em breve enfrentaria.

Da primeira vez, ela conseguiu escapar facilmente graças às comemorações que aconteceram ao mesmo tempo. Entretanto, pelo que Rem sabia, essa oportunidade não se repetiria tão cedo, e mesmo que acontecesse algo parecido, o tempo limitado que Alferez possui indica que ela não é capaz de esperar por tanto tempo.

Entrar sorrateiramente não era a única coisa com a qual precisava se preocupar. O que fariam uma vez que estivessem dentro da aldeia? Alguém ofereceria ajuda? Claro que não. Sabe, a maioria das pessoas que viviam lá sabiam sobre o passado de Rem. E não era só isso, essa maldição de gata tinha sido ideia dos anciãos. Assim que soubessem que ela estava ajudando a princesa humana, poderia ter absoluta certeza de que os elfos da aldeia inteira sairiam ao seu encalço.

— O que posso fazer a essa altura…? — Rem suspirou enquanto segurava as rédeas. Não importava como seguisse com isso, as coisas não lhe pareciam nada boas.

— A fonte de um deus está localizada atrás da árvore da origem. Isso está no coração da aldeia…

Havia alguma rota que a levaria até lá sem que ninguém a visse? Rem passou grande parte da sua vida sozinha e, assim sendo, conhecia todos os lugares onde ninguém ia. Ela pensou na forma de organização da aldeia, mas não importava o caminho que traçasse, parecia que sempre precisaria passar por pelo menos algumas casas.

— Meow… Meow~…

Os resmunguinhos da garota adormecida ecoaram dentro da carruagem. Logo após deixar a mansão, ela se tornou incapaz de falar qualquer palavra. O progresso da maldição estava claramente acelerado.

As últimas duas noites foram as mais assustadoras que Rem já vivera. Ela esperava ansiosamente pelo nascer do sol, perguntando-se se este seria o dia em que a garota não voltaria mais à forma humana. Felizmente, ela sempre voltava, e mesmo que sua cauda e orelhas não sejam algo que poderia ser chamado de humano, a elfa sempre sentia como se uma enorme pedra tivesse sido afastada do seu coração. Infelizmente, sua aparência física não era a única coisa passando por mudanças. Sua inteligência também estava diminuindo. Ela tinha perdido a capacidade de falar e, sem ninguém com quem conversar, Rem não tinha mais coragem e nem força para passar mais uma noite.

— Se eu simplesmente aparecesse agindo como um inocente, será que funcionaria? Se o pior acontecesse, eu poderia forçar a passagem…

Essa era a sua única opção. Não tinha como ficar parada. Para o bem da garota, assim como para o seu próprio. Ainda incapaz de eliminar as dúvidas de sua mente, Rem sacudiu as rédeas enquanto se certificava de que o cavalo não estava andando rápido demais para acordar Alferez, que dormia lá atrás.

Entretanto, apenas alguns passos depois, uma silhueta apareceu entre as árvores.

— Espere. Um plano tão imprudente jamais funcionará.

Essa pessoa era Amita. Ela parou diante da carruagem, bloqueando o caminho. Com o cavalo mais uma vez parado, Rem olhou para sua tia do assento do cocheiro. Ela não precisava ouvir que o seu plano era imprudente. Não, ela já estava ciente disso. E, mesmo assim, como era a sua única opção, nenhuma força no mundo poderia fazer com que voltasse atrás.

— Vou levar Alferez à fonte, custe o que custar.

Rem não tinha tempo a perder. Mesmo assim, Amita continuou onde estava, sem se mover por um centímetro que fosse. Assim como sua sobrinha, ela também não planejava desistir. Entretanto, havia algo de errado. A mulher agiu de uma maneira estranha. Em primeiro lugar, ela não tinha desembainhado a espada e, em segundo lugar, a expressão em seu rosto mostrava claros sinais de angústia.

— Que razão você tem para ir tão longe a fim de salvar a princesa? Antes de deixar a aldeia, você nem a conhecia. Ela pode muito bem ser uma completa estranha.

Não havia força em suas palavras. Ela não estava tentando forçar Rem, nem persuadi-la. Não, parecia que ela realmente não entendia o porquê da garota se importar tanto com Alferez.

— Eu já não falei? Eu amo a Al.

Amita balançou a cabeça em silêncio.

— Vocês são duas garotas. E não só isso, mas também irmãs gêmeas. Ela não é alguém que você pode amar.

Amita achava mesmo que Rem não estava ciente? Que esses fatos não a incomodavam? A garota ficou um pouco ofendida, mas reprimiu a sua vontade de revidar e, em vez disso, optou por responder honestamente.

— Sim, isso é verdade. E você está certa, Tia, eu não sabia nada sobre a Al antes de conhecê-la. Você pode até me dizer que ela é minha irmã ou qualquer outra coisa, mas eu não sinto isso. Como eu disse… Eu a amo.

— Não foi isso que quis dizer! — Amita gritou e deu um passo à frente, zangada por Rem ter interpretado sua declaração sobre a princesa ser uma estranha, que foi distorcida de uma forma que ficou totalmente diferente da esperada. A garota estendeu a palma da mão, como se dissesse à mulher para ficar parada, e fez uma pergunta.

— São os seus sentimentos que não entendo. Se a Al é minha irmã, isso não a torna sua sobrinha? Como você pode só sentar e assistir enquanto ela sofre nas mãos da maldição?

— …

Amita estava com os lábios franzidos. Ela não respondeu a Rem. Seu silêncio, entretanto, denunciou à garota que, por dentro, ela estava perdida. Contendo sua vontade de partir, Rem esperou pacientemente pela resposta da mulher, que logo gritou:

— Aquela garota, ela… ela… roubou a minha irmã de mim!

Por sua irmã queria dizer a mãe de Rem. Mas, o que ela quis dizer com Alferez a roubando? Rem entenderia se ela tivesse dito que a mãe de Alferez a roubou, mas isso?

— Rem… Você acha que a fonte de um deus é um lugar que concede qualquer desejo, não é?

— N-não é? — perguntou ela, inclinando a cabeça, confusa. A conversa estava se desviando do tema central e, embora Rem normalmente não permitisse tal coisa, ela estava confusa demais para notar.

— Não, isso não é tão conveniente. Há muito tempo, a fonte era o local de um templo usado para orar por boas colheitas. Entretanto, as pessoas logo começaram a oferecer sacrifícios e usá-las para todos os tipos de orações e, à medida que os pensamentos se acumulavam ao longo de centenas e milhares de anos, a fonte eventualmente ganhou poderes místicos.

Amita continuou dizendo que isso aconteceu mais ou menos quando ela nasceu. Conforme a notícia a respeito da fonte se espalhava, os elfos, especialmente os mais jovens, correram para o centro da vila com pedidos a fazer. Foram feitos desejos de amor, desejos para recuperação de doenças, desejos por vingança e muito mais. Entretanto, ninguém conhecia os perigos.

— Todos aqueles que usaram a força da fonte enfrentaram o desastre. Aqueles que se recuperaram de alguma doença foram gravemente feridos, aqueles que buscaram vingança tornaram-se alvos de outras. Quem queria casar, casou, mas ficou incapaz de ter crianças… Foi então que todos perceberam.

— Perceberam o quê?

Rem sentia que já sabia a resposta, mas decidiu perguntar da mesma forma. Sua tia respondeu, e era exatamente o que esperava.

— Para receber algo da fonte de um deus… é preciso dar algo em troca.

Se o desejo se tornasse realidade ou não, isso continuava seguindo a mesma regra. A fonte foi eventualmente selada, tornando-se uma lenda conhecida por poucos. Ou, pelo menos, é assim que deveria ter acontecido.

— Elfos vivem por muito mais tempo do que as outras raças e, assim sendo, o passado não é tão facilmente esquecido. Por isso, a função de guardar a fonte só pode ser atribuída a quem não conhece a verdade, mesmo que seja uma garota nascida do pecado.

Não era a árvore que Rem precisava guardar, mas sim a fonte. Esse era o verdadeiro segredo da aldeia. Rem sempre se perguntou porque um dever tão importante tinha sido deixado para alguém como ela, mas esse motivo a deixou ainda mais confusa.

— Espera, então…

Se desejos tão simples como os relacionados ao amor ou às doenças precisavam de compensação, o que aconteceria se pedisse algo tão oposto à ordem natural das coisas como duas mulheres tendo crianças?

— Minha irmã perdeu a longevidade pela qual os elfos são conhecidos… Aconteceu algo parecido com a mãe da princesa; ela ficou muito doente e faleceu — afirmou Amita, encarando Rem. Calafrios correram pelo corpo da garota. Ela teve um mau pressentimento a respeito do que estava para acontecer. Ou melhor, já sabia o que aconteceria, mas estava com medo de confirmar. Mesmo assim, isso não era algo de que pudesse fugir. Ela se forçou a enfrentar a verdade.

Quando nascemos… tiramos a vida das nossas mães?

Quando essas palavras tomaram forma na mente de Rem, seu corpo congelou. O mundo à sua frente ficou escuro e seu peito apertou, como se tivesse engolido uma pedra. Ela realmente precisava saber disso? Embora ainda se sentisse orgulhosa das suas mães, o peso da vida de outra pessoa não era algo que estava pronta para carregar nas costas.

— Parece que você entende. Sim, é por isso que odeio os humanos; eles roubaram minha irmã de mim. Não tenho nenhum motivo  para ajudar a princesa!

Não exatamente. Metade da responsabilidade era da mãe de Rem. Claro, sua tia também sabia disso. Na verdade, parecia que até ela entendia que o seu rancor era, afinal de contas, injustificado. Seus lábios estavam franzidos e suas bochechas tensas, como se tentasse suprimir a raiva. Era muito raro os elfos mostrarem tanta emoção. Afinal, o que fez com que a mulher se sentisse assim?

Depois de pensar por um momento, Rem percebeu a resposta. Não eram os humanos que Amita odiava. Não, a causa da sua raiva era algo muito mais simples.

— Tia… Você está triste, não é?

Ela tinha perdido sua amada irmã. E isso era tudo. Mesmo que ela soubesse que não fazia sentido, ainda precisava de alguém para odiar.

Quando sua sobrinha viu através dela, a frustração de Amita tornou-se muito mais visível. Ela mordeu o lábio com força, a ponto de Rem ficar preocupada com a possibilidade de que começasse a sangrar. Não tinha como dizer como ela reagiria se fosse ainda mais pressionada. Entretanto, Rem não se importava. Ela saltou da carroça e caminhou até ela.

Ela pode ser a criança tabu, podia carregar o peso da sua mãe nas costas, mas, neste momento, havia apenas uma coisa na sua mente.

— Tia. Eu ainda quero salvá-la. Isso representa o nível de importância dela para mim.

Amita ergueu as sobrancelhas e era quase possível ver a raiva vazando de seu corpo.

— Quantas vezes preciso explicar até que você entenda? Realmente planeja cometer o mesmo erro que sua mãe?!

Quanto mais irritada ficava a mulher, mais calma Rem ia ficando.

— Não me importo se a Al é minha irmã ou uma humana. Não quero perder alguém que eu amo. Você deve entender esse sentimento, Tia.

— O que você quer dizer?

A mulher ergueu ainda mais as sobrancelhas. Estava claramente furiosa. Mesmo assim, Rem não sentia medo. Nenhum.

— Digo, você amava a sua irmã… minha mãe… tanto que precisava alguém para odiar.

— Certo…

Amita abaixou a cabeça, como se os fios tensos que a sustentavam tivessem sido, do nada, cortados. Podiam ser ouvidos soluços vindo de trás de suas mãos, agora cobrindo o seu rosto.

— Você… vai roubar outro membro da minha família?

Essas não eram palavras que Rem esperava. Elas podiam ter vivido juntas, mas a garota nunca teve a sensação de que a sua tia a aceitava como parte da família.

— Tia… Você me odeia? Por tirar sua irmã de você?

— Bem, não posso negar que às vezes eu sinto isso.

Certo, claro que sim, pensou Rem. Só então, Amita fechou os olhos e balançou a cabeça silenciosamente. Havia uma expressão de profunda tristeza em seu rosto, assim como uma de aceitação.

— Não… Não. Jamais poderia te odiar por completo. Afinal, você é filha da minha irmã. Te ver crescer foi assustador. A cada dia você se parecia mais com ela. Honestamente, eu imaginava que isso algum dia aconteceria. E agora, isso…

Sua tia, geralmente calma e controlada, agora estava de luto diante dela. Rem não pôde deixar de se sentir chocada. Mal sabia ela que tipo de dor a mulher carregava dentro de si. O que estava acontecendo nesse momento era uma repetição da tristeza que ela sentiu no passado.

Nenhuma das duas tinha sangue diferente. Valeria mesmo a pena ajudar uma garota humana, se isso significasse causar tristeza a alguém como ela? Sentindo dor e culpa em seu coração, Rem questionou suas próprias ações.

Entretanto, ela não teria que esperar muito para que a resposta aparecesse. Nada do que Amita disse causou qualquer tipo de hesitação em seu desejo de salvar Alferez.

— Não há como saber que tipo de efeito a remoção da maldição poderá causar. Ela, minha irmã, provavelmente não pensou que perderia a longevidade.

Foi realmente assim?

Embora não fosse nada mais do que um simples palpite, Rem tinha a sensação de que a sua mãe sabia o preço que pagaria, desde o começo. Ela realmente sabia. Afinal, sua filha estava prestes a fazer o mesmo. Embora a garota com certeza tivesse medo de perder algo, seu desejo de salvar Alferez era muito mais forte do que qualquer coisa, e ela logo começou a pensar sobre o que pode ser valioso o suficiente.

Seria uma mentira dizer que não estava com medo e ansiosa. O poder que residia na fonte poderia exigir qualquer oferenda, e não apenas o que ela estava disposta a dar. Rem esperava que seu coração disparasse, mas, para sua surpresa, ficou perfeitamente calmo.

— Tia, obrigada… Só ouvir você dizer isso já é o bastante — disse ela, sorrindo um pouquinho. Assim que Rem fez isso, Amita fechou os olhos, mostrando que tinha finalmente desistido.

— Suponho que não há nada que possa dizer para mudar sua opinião… Você realmente parece com a sua mãe. Embora normalmente seja razoável, uma vez que tenha se decidido a respeito de algo, nunca desiste.

— Desculpa…

Amita ergueu a palma da mão, rejeitando o pedido de desculpas de Rem. Com a mão ainda estendida, apontou para uma certa parte da floresta élfica.

— Por trás da aldeia, no limite exterior de uma superfície rochosa cercada por árvores, há uma infinidade de heras descendo da árvore da origem. Se você usá-las, poderá ir direto para a fonte.

— Tia…

— Porém! Escalar aquilo com uma garota nas costas não será uma tarefa fácil para uma meio-elfa igual você. Como você sabe, a árvore é protegida. Pense no resto sozinha.

Esse era todo o apoio que Amita podia oferecer? Ao mesmo tempo, ir tão longe devia ter sido difícil para ela. Isso não significava que ela tinha perdoado Rem, é claro; só aconteceu de entender a determinação de sua sobrinha e simpatizar com seus sentimentos. Entretanto, isso era muito mais do que Rem poderia ter pedido. Ela fez uma reverência silenciosa para a mulher, agora tentando o seu melhor para evitar contato visual, antes de pular na carruagem. O som da sua batida no banco foi o suficiente para despertar Alferez.

— Meow~?

Provavelmente recém saído de um sonho, a garota parecia ainda mais confusa do que o normal. Ela olhou pela carruagem, perplexa, com as orelhas e pela cauda em pé. Entretanto, ela pareceu se acalmar assim que viu Rem, e um sorriso inocente tomou o seu rosto.

— Vamos, Al… Vou fazer você voltar ao normal.

Escalar o muro que cercava a aldeia com Alferez nas costas foi muito difícil, para falar o mínimo.

No passado, dos galhos da árvore da origem, Rem foi capaz de ver o mundo exterior, o que a levou a acreditar que os muros não eram tão altos assim. Entretanto, isso não poderia estar mais longe da verdade; a face íngreme e vertical da subida não lhe dava espaço para respirar. Tudo o que tinha para se sustentar eram as heras que podiam se romper a qualquer instante, bem como pequenos apoios, nos quais mal conseguia colocar as pontas dos pés.

— Desde que saí da aldeia se resume a isso: escalada… Acho que isso é algo que elfos e humanos têm em comum; nenhum deles consegue se sentir seguro sem se cercar com muros altos…

Claro, a altura não era a única coisa que incomodava Rem. Ela estava carregando Alferez nas costas e, a cada poucos segundos, o hálito quente da garota batia na sua nuca.

— Ah… Meow… Ahn… Meow…

— Ei, Al. Não entre no cio agora, isso é perigoso!

A princesa foi presa nas costas da elfa com um cinto de couro, da mesma forma que seria feito para carregar um bebê. O problema era que ela não parecia gostar. Rem podia sentir seus mamilos enrijecidos esfregando contra sua pele. Considerando o quão sensíveis eram os seios de Alferez, e o fato de que não poderia escapar, isto devia ser um tipo de tortura sexual contínua para ela.

— Só mais um pouco, tente aguentar…

— Ah… Haa… Hnnh…

Embora fosse impossível dizer se isso era uma resposta à declaração de Rem ou apenas gemidos sem sentido, era claro que a garota também estava dando tudo de si para se conter. Com toda a sua força, ela agarrou as roupas em volta dos ombros da elfa. Embora seu estado mental tivesse regredido e ela não lembrasse como falar, parecia que ainda entendia que esta era uma situação que precisaria suportar.

Encorajada pelo espírito de luta da princesa, Rem logo alcançou os gigantescos galhos que batiam no muro e subiu em um deles. Lá, fez uma pausa rápida, apenas o bastante para recuperar o fôlego, antes de pular, se escondeu atrás das enormes folhas.

— Guardas…

Bem, um guarda. No momento parecia haver apenas um, um jovem elfo parecendo entediado apoiado em sua lança. Rem o reconheceu como o homem que antes zombava dela por ser meio-elfa. Considerando que ele estava em tal lugar, também não  devia saber do segredo. De certa forma, Rem não pôde deixar de simpatizar com o elfo. Entretanto, ele agora era um simples obstáculo. Ela puxou o arco do quadril, mirou e atirou. Sem qualquer som, a flecha voou pelo ar e atingiu o ombro dele em cheio. Antes que o elfo pudesse entender o que tinha acontecido, ele caiu na grama abaixo.

— Aquela flecha estava revestida com uma droga para dormir que a Tia Amita me deu. Não se preocupe, mais tarde vou pedir para alguém cuidar de você.

Não parecia haver mais alguém por perto. Rem saltou da árvore e pousou em terreno familiar.

— Hmm, deve ser por aqui…

Em uma abertura entre a árvore e a rocha, crescia um arbusto enorme. Ela empurrou as plantas de lado, expondo o que parecia ser um monumento de pedra do tamanho do seu corpo. Sim, devia ser a porta selada. Havia runas de aparência mágica e figuras rabiscadas nela, mas os anos de chuva e vento as tornaram ilegíveis. Uma única e grande rachadura também percorria toda sua superfície. Vendo como a coisa estava frágil, Rem decidiu tentar passar com um chute.

— Toma isso!

Exatamente como o esperado, a metade superior do monumento balançou com o impacto. O que não previu, entretanto, é que a coisa toda desabaria.

— Whoa! — Rem gritou e rapidamente saltou para o lado. Ela pensou que os destroços cairiam na direção oposta. Alguns momentos depois, o monumento de pedra se espatifou no chão, dividindo-se em duas partes de mesmo tamanho.

— Eu devia ter tomado mais cuidado… Vou ser punida por isso, não vou? — murmurou a garota para si mesma antes de dar uma olhada na fenda que tinha sido revelada. Havia escadas de pedra ali, levando para a escuridão. Além disso, a julgar pela forma como as paredes estavam moldadas, a caverna parecia ter sido formada naturalmente. Era isso. O caminho para a fonte estava aberto.

Rem escondeu a entrada com um pouco de grama, só por precaução. Refletindo depois sobre isso, viu que não fazia sentido nenhum; pois assim que alguém visse o monumento quebrado, perceberia que uma pessoa tinha invadido.

Com Alferez nas costas, ela desceu as escadas. Como antes mencionado, a caverna estava escura e não era possível nem ver onde pisava. E isso não era tudo, a elfa continuou andando e andando. A garota já tinha contado cinquenta degraus, mas ainda restavam muitos. Entretanto, depois de mais ou menos uma centena deles, algo aconteceu. Os arredores se iluminaram com uma luz fraca e azulada.

— Wow… — Rem engasgou de espanto, chegando ao final depois de pelo menos uns duzentos degraus. A visão à sua frente era incrivelmente bela que era difícil de acreditar que este lugar ficou selado por centenas de anos, sendo a única exceção a entrada de sua mãe.

A caverna era enorme, tanto que a mansão de Alferez devia caber facilmente dentro dela. No meio dela estava a fonte misteriosa, cheia até a borda com uma água azul e cintilante.

— Esta é… a fonte de um deus…?

Havia areia fina e branca sob os pés de Rem, e contra a parede da frente estava um imponente santuário de pedra, feito talvez das grandes pedras que se projetavam da fonte.

Só ficar ali, em um local de completo silêncio e tranquilidade, foi o suficiente para fazer os joelhos da elfa tremerem. Seu corpo estava congelado. A fonte não devia ser nada mais do que um pouco de água jorrando do subsolo, e, ainda assim, Rem se sentia amedrontada e impotente, como se tivesse diante de um deus.

— Mmh… Mmhh…

A garota em suas costas, entretanto, pouco se importava com essa coisa de divindade. Embora ela tivesse conseguido suportar até o momento, isso não era mais possível.

— Está tudo bem, Al. …Aqui vamos nós.

Qualquer tipo de deus que pudesse residir na fonte, Rem tinha apenas um pedido: cure Alferez. Com isso em mente, ela desamarrou a cinta que prendia a garota às costas, largou-a no chão e começou a se despir.

— Meow!

Alferez também fez o mesmo, mas estava tendo problemas por causa da orelha e da cauda. Vendo o sofrimento dela, Rem se ajoelhou e ajudou. Ela tirou todas as suas roupas e, por fim, a calcinha. A princesa gata, finalmente capaz de mover seu corpo em liberdade, soltou um uivo de alegria e se lançou sobre a elfa.

— Meooow!

— Ahn! Ei, calma… Hyaah!

Com todo o peso do corpo macio da garota superexcitada sobre ela, Rem caiu para trás – primeiro na fonte, e enquanto os respingos de água caíam sobre elas, Alferez pressionou os seus lábios contra os da elfa.

— Ahn… Meow… Mmhh, mmmmhh!

— Ahhn! Por que você está agindo assim…? Ahh, mmh, mmhh!

O prazer que a elfa sentiu quando a garota chupou seus lábios e língua a fez tremer, assim como o toque da água fria contra o seu corpo suado. As duas garotas rolaram na parte rasa, constantemente mudando quem estava por cima enquanto lutavam pelos lábios uma da outra.

— Ah… Ha… Aah…

Rem, agora sentada ereta, levantou Alferez e a beijou enquanto fazia cócegas em seu queixo. Ao fazer isso, o corpo da garota tremeu de prazer. Suas orelhas de gata se ergueram e sua cauda molhada bateu na superfície da água várias vezes, como se não conseguisse ficar parado. Rem ajoelhou-se e beijou-a de cima para baixo, enquanto Alferez passava os braços ao redor do pescoço da elfa e, como se estivesse suspensa no ar, estendeu a língua, que a outra garota sugou na mesma hora. A princesa não era a única tremendo de êxtase; Rem também estava.

— Haa… Ahh… Sua língua… é incrível… Ahh!

— Meow… Meoow… Meooow!

Quando Rem abriu seus olhos semicerrados, viu Alferez sorrindo diante dela, seus olhos transbordavam luxúria. Ela então voltou a fechá-los, inclinou o pescoço e pressionou os lábios contra os da garota.

— Haa… Aaahh…

Tendo perdido todas as suas forças diante do prazer, Rem abaixou sua bunda até o fundo da fonte. Ela então cruzou os joelhos com os de Alferez e a abraçou. Seus corpos pressionados juntos, seus mamilos enrijecidos esfregando os seios uma da outra, enviaram choques de doce prazer por todo o corpo.

— Ahn… Aaahhhn…

Com o corpo estremecendo, Rem olhou para o santuário na margem oposta da fonte.

Deus. Se você estiver aí, por favor, observe. Veja o quanto Al e eu nos preocupamos uma com a outra. E então… ouça o meu desejo!

Ela orou como se realmente quisesse isso. Depois que terminou, Rem sentou-se na borda da fonte, levantou os joelhos e abriu as pernas. Então, segurando o constrangimento que latejava em seu peito, abriu suas partes íntimas com as duas mãos. Uma grande quantidade de mel jorrou, atraindo sua amada. Em um instante, o nariz de Alferez sentiu o doce aroma e – como Rem esperava – suas orelhas se ergueram. Com as narinas se contraindo, ela aproximou o rosto da fenda agora aberta da elfa.

— Hyah!

A lambida da língua áspera da garota contra as paredes sensíveis de Rem causou uma pulsação violenta, como se tivesse sido jogada em água gelada, disparando por todo o seu corpo. O choque foi intenso e suas pernas enrijecidas tentaram se fechar por reflexo. Entretanto, os ombros de Alferez não permitiram isso. Ela continuou lambendo a elfa sem parar, não focando apenas nas paredes, mas também em seu clitóris.

— Hii! Ah… Sim! Mais! Haa… Aah… Ahh!

O traseiro de Rem se ergueu de onde estava sentada. Suas costas foram arqueadas, deixando seus mamilos endurecidos apontando para cima, como se estivessem sendo puxados por fios invisíveis. Da mesma forma, os dedos dos seus pés também estavam completamente tensos. O prazer era intenso, e Rem teve que usar toda a sua força para lutar contra o desejo de escapar. Ela agarrou a cabeça da garota com as duas mãos, cuja saliva se misturava com o seu mel e transformava a sua virilha em uma mistura de líquidos.

— Ah! Ahh! Al… Al!

Sentindo seu clímax chegando, a elfa acariciou o cabelo de Alferez enquanto gritava o seu nome. Como se para atender ao chamado, a garota ergueu a cabeça. Havia mel espesso em seus lábios, que ela lambeu rápida e avidamente. Depois disso, a princesa colocou as mãos nas bochechas de Rem, puxou-a para perto e – com um sorriso no rosto – beijou-a.

— Haa… Haaa…

Gemendo ao retribuir o beijo da garota, Rem permitiu que seu traseiro deslizasse da rocha na qual estava sentada. Seu corpo dobrou para trás, fazendo com que sua metade inferior caísse de volta na água. Ela então apertou os seios de Alferez por baixo, e a garota fez o mesmo com os seus.

— Ahh… Meow… Meow!

O prazer causado pelo estímulo em seus seios e lábios foi demais para a princesa e, em pouco tempo, seus gemidos também começaram a soar. As duas garotas se beijaram por um tempo, depois Alferez moveu seus lábios para as orelhas e pescoço de Rem. Ela os lambeu com pequenos movimentos, como uma gatinha, fazendo com que ondas de prazer viajassem entre as pernas da elfa e fazendo com que mais do seu mel jorrasse.

Se eu estou molhada assim, então…

Embora não houvesse como negar que a maior parte de seu tremor era causado pelo prazer, também havia algo a mais por trás disso. Esse algo era nervosismo, uma lasca de ansiedade na sua mente, que brilhava em puro êxtase. Uma voz dizia que o que ela estava planejando fazer podia não ser o suficiente para pagar pelo seu desejo. Que isso era apenas o mínimo.

Tendo confiado seu corpo a Alferez, agora deitada por cima dela, Rem moveu a mão direita entre as pernas. Muito parecido com óleo, seu mel mantinha sua espessura mesmo debaixo d’água, e com os dedos encharcados, ela os enfiou em seu buraco úmido.

— Hngh!

Embora tivesse tentado fazer isso silenciosamente, a dor era simplesmente demais para que contivesse a voz. Quando Alferez viu Rem cerrando os dentes, uma expressão preocupada apareceu em seu rosto.

Ouch… Mas o que…? Isso dói pra caralho!!

Ela enfiou os dedos, menos do que o normal, em seu buraco apertado. Suas entranhas lutaram, mas ela simplesmente não desistia. Não muito depois, parou. E, ainda, Rem sabia que não era o fim.

— Meow?

As orelhas de gata de Alferez caíram. Ela estava claramente preocupada. Como se para confortá-la, Rem – coberta de suor gelado – deu um sorrisinho para a garota. Ela então respirou fundo e, com um empurrão final, forçou os dedos completamente para dentro dela.

— …!!

Desta vez, não saiu som algum da sua boca. O buraco da elfa foi perfurado por sua própria mão. Um choque de dor a percorreu, como se seu corpo inteiro tivesse sido rasgado ao meio, e enormes lágrimas escorreram por suas bochechas. Entretanto, ela não podia se distrair com a dor. Com sua visão turva pelas lágrimas, Rem observou como seu sangue escorria entre as águas azuis da fonte. Ela então ergueu a cabeça para o santuário majestoso que se eleva diante dela, e puxou Alferez para perto com seus braços trêmulos, enquanto, ao mesmo tempo, controlava a respiração.

Sim, era isso que Rem decidiu oferecer como sacrifício: sua virgindade. Claro, ela não fazia ideia se funcionaria. Tudo o que podia fazer era olhar para a fonte, que, infelizmente, não dava sinais de que tinha sido o suficiente para realizar seu desejo. A ansiedade recheava sua mente e ela não conseguia fazer a sua prece em voz alta. Ela pegou Alferez, aquela que pretendia salvar, e a abraçou com força.

— Meow?

Será que a apertou com muita força? Com um olhar perplexo, a garota inclinou a cabeça. Embora houvesse sinais de calor por todo o seu rosto, os olhos com os quais encarou Rem eram os mesmos, inocentes, de sempre. De repente, a ansiedade que a elfa sentia desapareceu. Olhar para o rosto da sua amada, assim, de perto, permitiu que se acalmasse.

— Certo… Estou apenas fazendo o que precisa ser feito.

Depois de mais algumas longas respirações, Rem foi capaz de equilibrar seu fluxo respiratório. Ela encheu os pulmões de ar e, então, como se estivesse inalando tudo o que pudesse, deixou sua voz ecoar pela caverna.

— Eu imploro… Por favor… por favor, quebre a maldição de Alferez! Em troca, pode tirar minha longevidade, qualquer coisa! Eu não me importo!

Sua mãe devia ter expressado um desejo semelhante, pensou Rem, antes que seus sentidos sumissem. Gritar enquanto sentia dor provavelmente drenou todo o sangue da sua cabeça. O mundo à sua frente ficou escuro, como se um lençol preto tivesse sido puxado diante de seus olhos.

— …?!

Seu corpo ficou, de repente, pesado. Algo embaixo d’água agarrou suas pernas e agora a puxava para dentro. Normalmente, ela teria tentado lutar, mas como sua mente estava tão entorpecida, esse pensamento sequer passou por sua mente. O poder que residia na fonte talvez não quisesse sua longevidade, mas sim ela como um todo. Bem, isso foi bom. Se isso resultasse na salvação da sua amada, sacrificar sua carne a um deus era um preço baixo a se pagar.

Não… Sem chances…

Ela não queria se separar de Alferez. Não queria deixar a garota sozinha. Entretanto, a mente de Rem já tinha caído nas marés escuras. Já era tarde demais para resistir.

 


Tradução: Taipan

Revisão: Guilherme

 

💖 Agradecimentos 💖

Agradecemos a todos que leram diretamente aqui no site da Tsun e em especial nossos apoiadores:

 

  • Decio
  • Exon
  • Nyan
  • Leonardo
  • Kovacevic
  • Another
  • Rafa
  • Tat
  • Raphael Conchal
  • Lyo
  • Morningstar
  • Bamu
  • Gabriel Felipe
  • Thiago Klinger
  • Diego
  • Enrig
  • Leonardooc
  • Rodemarck
  • Rublica
  • Cael
  • Khan Sey Jah

 

📃 Outras Informações 📃

Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.

Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.

Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!

 

 

Bravo

Recent Posts

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 165 – Chuva, Lama e Fogo (2)

  Quando dei um passo em direção à luz, fechei os olhos reflexivamente. — Grr.…

15 horas ago

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 164 – Chuva, Lama e Fogo (1)

Os Terras mais jovens não sabiam o que era chuva, embora os mais velhos –…

15 horas ago

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 163 – O Fogo da Caverna (3)

  O alvoroço naquela manhã cedo despertou os Cascomontes. — Qual é o motivo dessa…

15 horas ago

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 162 – O Fogo da Caverna (2)

  — Gostaria de ouvir as opiniões de todos também — disse o Inquisidor. —…

15 horas ago

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 161 – O Fogo da Caverna (1)

  A caverna estava fria. Os goblins fungavam, o vapor gelado da mina aderindo à…

15 horas ago

A Nobreza de um Cavaleiro Fracassado – Vol. 01 – Cap. 01 – A Prodígio e o Fracassado

  Blazers. Aqueles que podem manifestar o poder de sua alma em uma arma —…

17 horas ago