Como prometido, Lumie pessoalmente escreveu cartas aos vários lordes regionais, até que não pudesse mais escrever.
Cada carta detalhava as circunstâncias locais, garantindo a posse de um determinado território aos lordes que cooperassem ou se oferecessem para fornecer o território de um lorde hostil como compensação. Isso era possível devido ao conhecimento preciso de Kelara a respeito dos governantes do reino. Kelara sabia qual clã valorizava quais territórios como suas terras ancestrais.
Minha principal preocupação antes que a campanha estivesse pronta era o Castelo Maust, mas como havia deserções entre os lordes inimigos, parecia que minhas preocupações eram exageradas.
A maioria parecia ter percebido que o reino estava em um ponto de mudança.
Passou-se cerca de um mês e meio desde a nossa chegada a Yagmoory, e tínhamos descansado o suficiente após nossas batalhas na Grande Ilha.
Parti com todo o meu exército para o Condado Nayvil, na Prefeitura Fordoneria, a oeste do Castelo Maust.
Eu queria viajar pela terra natal do meu clã em minha jornada. Além disso, eu não poderia reunir minhas forças exatamente ao redor de Maust, dada a presença do inimigo. Acontecia de o Condado Nayvil ser o melhor local.
Resumindo, não havia resistência inimiga. Havia uma diferença muito grande entre os números. E a maioria dos lordes ocidentais do reino já estava do meu lado.
Quando chegamos, já havia um exército de tamanho considerável no Condado Nayvil.
Lá estava meu grande aliado, Soltis Nistonia.
Apesar da distância para Nayvil, ele se esforçou para estar lá.
Em seguida, estava Talsha Machaal, Margrave de Machaal.
A presença dela era praticamente uma declaração de que as partes nortenhas do reino apoiavam Lumie I como rainha reinante.
— Parece que você está se saindo bem, Sir Regente.
Talsha estava carregando um bebê nos braços.
— Você se recuperou do parto? Suponho que sua presença já responda isso.
Talvez fosse graças à sua ocupação de Takeda Shingen, mas Talsha estava com a feição saudável, como se estivesse ansiosa para entrar no campo de batalha.
— Bem, tempos como estes não permitem muito descanso. Não se preocupe. Não tenho intenção de me aposentar até que nossa criança possa herdar o clã Machaal.
— Agradeço sinceramente a sua ajuda. Farei tudo que estiver ao meu alcance para compensar seu trabalho duro quando a paz chegar.
— Então há algo que eu quero antes.
Talsha pressionou seu corpo contra o meu.
— Não tenho dúvidas de que minha criança vai crescer forte, mas nunca se sabe quando uma criança pode acabar morrendo. Quero mais sementes… suas, se possível.
Fiquei impressionado com sua franqueza. Governantes não tinham uso para a timidez. Afinal, ter herdeiros fazia parte do trabalho.
— Muito bem… Pretendo passar a noite nestas terras… Vou arranjar algum tempo…
— Vou espremer até a sua última gota.
Talsha estava com um olhar sério.
Com a liberação de Maust à vista, fui capturado por uma oponente bastante…
As forças leais a Lumie I reunidas no Condado Nayvil e arredores somavam quase sessenta mil tropas.
Quinze mil foram reunidas por Talsha do Norte. A contribuição de Talsha era crucial, então dependia de eu fazer o que pudesse por ela.
Parei no cemitério dos ancestrais de meu clã antes de partirmos.
Lá, jurei que faria o meu melhor para lutar por Lumie I.
É claro que era um tipo de teatro, mas seria melhor prevenir do que remediar. Afinal, a história da fundação de uma nação é contada antes da própria fundação em si.
Dividi meu exército em três frentes e avancei em direção ao Castelo Maust.
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O exército de Hasse construiu fortificações simples ao redor do Castelo Maust e passou a vigiar os defensores.
Era uma tática padrão ao sitiar um castelo. Para um cerco de longa duração, ocupar fortificações temporárias protegidas por um agrupamento de trincheiras e terraplanagens capazes de resistir a ataques inimigos é a escolha certa.
Mas isso só é verdade quando o tempo está do lado deles – por exemplo, quando as forças sitiadas sofrem com a escassez de alimentos ou algo parecido.
Apenas cercar um castelo não resolve tudo por si só. Para realmente conquistá-lo, é necessário atacar e aceitar a possibilidade de perdas.
O exército de Hasse mal fez qualquer uma dessas coisas, em parte porque os defensores do Castelo Maust lutaram bravamente. Mas, apesar do cerco contínuo, não recebi muitos relatórios de batalha.
Ou seja, não aconteceram muitos combates diretos.
Os lordes reunidos por Hasse foram efetivamente independentes ao longo da Rebelião dos Cem Anos. Nenhum deles estava inclinado a perder suas próprias tropas enquanto seguia as ordens de um rei fraco. Ainda enviariam suas forças quando convocados, mas essas forças não iriam se comprometer tanto com a batalha. Não eram tão perigosos quanto seus números sugeriam.
Por outro lado, os defensores do Castelo Maust lutavam por suas vidas e resistiam com unhas e dentes.
A diferença no moral era clara como água.
Me preparei para ir atrás das fortificações da facção de Hasse, partindo de três direções, dividindo o exército em três partes: uma comandada por mim, uma comandada por Soltis Nistonia e outra comandada por Talsha Machaal.
Perto de mim estavam todas as unidades da minha guarda pessoal, e ainda mais perto estava Laviala, enquanto Kelara ficava atrás de mim.
— Já faz algum tempo desde que voltamos aqui, Lorde Alsrod!
— Você parece animada, Laviala.
— A jornada foi cansativa. Mas conheço esse terreno como a palma da mão. Não preciso pensar para saber de onde atacar.
Isso era verdade. O exército da facção de Hasse era composto por gente de fora. Tínhamos a vantagem.
— A fortificação ao sul do castelo tem a maior concentração de forças. Se derrotá-los, a força inimiga provavelmente se dispersará — disse Kelara calmamente.
— É claro. O plano é esse.
— Já temos alguns desertores. Comecei a tomar as providências necessárias.
Kelara sempre tinha esse tipo de coisa já planejada.
Eu pretendia usar tudo que havíamos adquirido até o momento.
Afinal, não haveria como usar isso quando o mundo estivesse em paz.
O forte, localizado em uma pequena colina, começou a soltar fumaça.
Parecia que um de nossos colaboradores havia ateado fogo nele.
— Tenho certeza de que também há um bom número de lordes por aí — falei. — Vá e reivindique a cabeça de um general! Mostre a eles a força do exército do regente!
A vanguarda do meu exército avançou em direção ao inimigo, instantaneamente incitando um combate próximo. Apesar do fato de serem as defensoras, as forças de Hasse foram logo repelidas.
Em seguida, houve um movimento adicional.
A guarnição do Castelo Maust subitamente avançou. Os soldados defendendo o lugar passaram para a ofensiva. Foi exatamente a mesma tática que usamos no Castelo Yagmoory.
— Bom. Façam o seu pior!
Os soldados inimigos designados a vigiar o castelo foram rapidamente massacrados.
Foi uma demonstração de força avassaladora. Isso me fez pensar que havia algo mais fundamentalmente diferente entre meus soldados e os de Hasse, e não apenas questões simples como habilidade.
A história estava do meu lado.
Eu, por algum motivo, tinha certeza disso.
Orcus dos Ursos Vermelhos e Leon dos Águias Brancas se aproximaram, carregando as cabeças dos generais inimigos. Outros seguiram o exemplo.
O inimigo não conseguiu fugir e foi aniquilado. Pareciam terem ficado lá só para serem destruídos. Parecia até que foram posicionados para serem esmagados pelas minhas forças.
— Fico feliz por termos garantido que nossos objetivo não era só libertar o Castelo Maust, mas também conquistar a capital. Libertar o castelo mal serve de aquecimento — falei para Orcus e Leon.
Foi uma vitória quase assustadoramente avassaladora. As forças de Soltis Nistonia e Talsha Machaal também derrotaram os oponentes sem dificuldades. O máximo que o inimigo poderia fazer era tentar fugir em direção à capital real.
Assim como o vento sopra a grama em uma única direção, eu duvidava que algo pudesse parar o nosso impulso.
A libertação do Castelo Maust foi realizada com facilidade, e a influência de Lumie I se estendeu à grande maioria do território do reino.
A capital real, dada a sua localização, já não era o centro de nada. Era, no máximo, uma base da linha de frente para as forças de Hasse.
Neste ponto, a batalha entre os dois pretendentes ao trono estava decidida.
— Então é assim que é. Se eu tivesse vivido por mais um ou dois anos, poderia ter visto a mesma coisa.
Oda Nobunaga parecia intensamente emocionado.
— Vê o que eu mencionei? Não tenho mais nenhum conselho a dar. Você já ganhou. Não há ninguém que possa derrotá-lo agora.
Entendo perfeitamente o que você quer dizer, mas ainda não estou pronto para baixar minha guarda. Afinal, ainda poderiam me pegar dormindo.
Duvido que você possa contar o número de pessoas que foram vítimas de ataques furtivos nos últimos cem anos.
— Mesmo que Akechi Mitsuhide esteja aqui, não acontecerão traições.
Kelara se destacou durante esta guerra.
Por falar nela, devia perguntar sobre a cerimônia adequada e as formas de se portar ao entrarmos na capital real.
Mas, por enquanto, era hora de entrar no Castelo Maust.
Eu ainda tinha que mostrar meu apreço às minhas consortes e generais por terem resistido nos confins do castelo por tanto tempo.
Minhas consortes Seraphina, Fleur e Yuca me deram as boas-vindas quando atravessei a ponte sobre o fosso e entrei no castelo propriamente dito.
— Por que demorou tanto? Se tivéssemos morrido de fome, eu te assombraria pelo resto da sua vida — disse Seraphina enquanto ria. Mas tive um vislumbre de algumas lágrimas em seus olhos.
Duvido que tivesse sentido alguma tristeza durante o cerco. E duvido que ela ficaria emocionada com nosso reencontro.
Afinal, era Seraphina. Ela provavelmente acreditava que a história estava mudando bem diante de nossos olhos.
— Se você viesse a mim depois de morrer, eu seria um homem feliz.
Abracei Seraphina com firmeza.
Os aplausos dos soldados melhoraram ainda mais o clima.
— Tudo o que resta é tomar a capital real — disse ela.
— Isso vai acabar rapidamente. De qualquer forma, o trabalho que nos espera depois é que será a parte difícil.
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Depois que restauramos a paz no Castelo Maust, varrendo as forças de Hasse, Lumie emitiu um decreto real como rainha de Therwil, ordenando a derrota dos traidores da coroa.
Ela estava agora sentada na cadeira em que me sentei como mestre do castelo. Estava servindo como um trono temporário.
— Graças aos seus esforços, a paz foi restaurada em mais da metade do reino. Primeiro, permita-me oferecer minha sincera gratidão.
Todos os vassalos da coroa, inclusive eu, ajoelharam-se diante de Lumie I.
Nenhum dos presentes colocava a reivindicação de Lumie ao trono em cheque.
O fato de a linhagem real ter sido dividida em duas vertentes e ambas estarem lutando pela capital real trabalhava a nosso favor. Se houvesse maior estabilidade na sucessão, ninguém teria levado a irmã do rei a sério quando ela se declarou a nova rainha reinante.
Entretanto, a coroa tinha sido historicamente usada por uma pessoa capaz de conquistar a capital real por meio da força militar. Por isso, parecia perfeitamente natural para todo o reino que Lumie agisse como soberana e exigisse a derrota e destituição de Hasse.
— Como rainha, darei meu último comando. Você deve derrotar o pretendente ao trono e seus aliados que ocupam a capital real e restaurar nosso reino à sua forma legítima.
— Eu, Alsrod Nayvil, regente do reino e representante de seus vassalos, respondo no lugar deles. Humildemente aceitamos suas ordens e juramos sacrificar nossa sagrada honra e vidas para unificar o reino!
— Regente Alsrod Nayvil, erga-se.
Com as palavras de Lumie, lentamente me levantei para encará-la.
— Nomeio-o comandante militar supremo com o propósito de assegurar a capital real. Aceite esta espada sagrada que foi guardada no templo da coroa como o símbolo de seu ofício.
Respeitosamente me curvei e aceitei a lâmina.
Se pensasse nisso, era estranho. Quando tornei Hasse rei, não havia pensado em me casar com alguém da realeza. Pensei que ter uma esposa de uma família que pretendia exterminar acabaria por criar ressentimento.
Hasse também devia ter me feito casar com Lumie para me manter na linha e vincular o meu destino ao dele.
Ainda assim, Lumie de alguma forma se tornou meu maior trunfo na criação de um novo reino.
— Já subjuguei a capital uma vez — respondi. — E desta vez será igual. Já fiz os preparativos necessários.
— Ficamos ansiosos pelo seu sucesso. É hora de acabar com a era de derramamento de sangue.
Isso era irônico – quanto mais sangue eu derramava no campo de batalha, maior era o território sob meu controle e mais pacíficas as terras se tornavam.
Virei as costas para Lumie e encarei os vassalos.
— Todos os que juram me obedecer e lutar até o fim pelo bem de Sua Majestade, ergam-se. Aqueles que o fizerem serão para sempre lembrados na história.
Claro que ninguém permaneceu sentado.
Os lordes que se reuniram das várias regiões levantaram-se, um a um.
Estavam todos vestidos de diferentes formas. Alguns usavam armaduras, já que era uma época de guerras, outros as refinadas roupas dos nobres, e outros, ainda, por estar em presença real, a vestimenta cerimonial adequada a suas posições.
No meio da multidão, havia quem estivesse comigo praticamente desde o meu nascimento, assim como Laviala; aqueles como Meissel Wouge, que se juntou a mim enquanto eu expandia minha influência; aqueles que vieram da distante Grande Ilha com cem soldados no encalço; e os lordes nortenhos que juraram a Talsha, que estavam vestidos com suas peles costumeiras.
Era uma completa mistura de estilos, mas havia mais do que o suficiente para tomar a capital.
— Lorde Alsrod… não, Sir Regente. Tem algum plano para esta campanha? — perguntou Laviala.
— Capturar a capital real será bastante simples. Mas permitir que a capital real seja pega no fogo cruzado entre os exércitos é um ato imperdoável e indigno à coroa do Reino de Therwil. Se a batalha destruísse a cidade, perderíamos a capacidade de colocá-la sob nosso controle.
Continuei:
— É por isso que vamos lentamente isolar a capital real pelo lado de fora, apertando nosso cordão à medida que prosseguirmos para fazê-los desistir dessa resistência. Se reconhecerem que não têm para onde fugir, Hasse sem dúvidas perceberá que não tem escolha a não ser se submeter.
— Qual é o plano específico?
Não pude deixar de sorrir.
Seria um cerco enorme, um tão grande quanto qualquer outro que já se viu na história.
— Primeiro, passaremos pela capital real e tomaremos a única região que apoia a reivindicação de Hasse ao trono, as prefeituras orientais. Nesse ponto, a autoridade dele fora da capital deixará de existir.
Os reunidos começaram a murmurar enquanto digeriam as minhas palavras.
Vários rostos pareceram surpresos. Bom, claro, o que estavam esperando? Acho que deviam estar esperando que partíssemos para o ataque à cidade, um típico ato de saquear e pilhar.
— Lorde Alsrod… Sir Regente. Isso não exigiria tempo?
— Exigirá. No entanto, mesmo se avançarmos do Oeste e tomarmos a capital real, é provável que Hasse, o Pretendente, simplesmente fuja para o leste. Seria complicado se ele fugisse para as montanhas e continuasse com sua resistência. É por isso que vamos tornar a sua fuga impossível. E…
Na verdade, era essa a minha verdadeira motivação.
— Isso é muito mais organizado e bonito para a história de unificação do reino, não concorda?
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Liderei o esforço para organizar nossa ordem de batalha em um conjunto de unidades coerentes. Visto que recebi o comando supremo, estava apenas fazendo o meu trabalho.
Com o passar dos dias, mais e mais lordes declararam a intenção de se submeter à nossa autoridade.
Conseguimos mobilizar um exército com bem mais de cem mil homens. Não havia como reunir tantas tropas em um único local, e fazer isso seria ineficiente, então optamos por fechar a capital real por meio de várias rotas.
O planejamento da guerra foi conduzido em um pequeno conselho de guerra limitado aos meus principais conselheiros e grandes lordes como Talsha.
Durante essa reunião, decidi usar um lugar específico como centro da minha campanha.
— Embora seja tecnicamente uma catedral, também é uma boa fortaleza. Será um ótimo centro para nossas operações.
Meu primeiro objetivo era a Catedral Orsent, lar de meu inimigo jurado, o Arcebispo Cammit.
— Hm… você acha mesmo que aquele homem nos obedecerá em paz…? — perguntou Laviala preocupada, mas isso era compreensível. De todos os meus inimigos, foi ele quem me causou a maior quantidade de problemas.
— Mais uma razão… até mesmo ele sabe que não existe uma maneira viável de se opor a mim.
Aquele homem era muito inteligente para tentar oferecer resistência.
Imaginei um cenário em que Hasse se renderia antes de partirmos, mas isso acabou não acontecendo.
Eu não sabia se ele ainda achava que poderia vencer ou se simplesmente não sabia quando desistir, mas fiquei feliz por as coisas não terminarem de uma forma anticlimática.
Saí da Prefeitura Fortoeste em direção à Catedral Orsent com meu exército.
Não havia forças para lutar contra nós ao longo do caminho. Mesmo que as forças de Hasse pretendessem nos subjugar, provavelmente planejavam nos enfrentar em algum local próximo à capital. Em vez de se esconder em algum forte na linha de frente e tentar nos ferir, deviam preferir recuar e esperar por uma chance de lutar contra nós em campo aberto.
O Arcebispo Cammit e eu nos reunimos pela primeira vez em muito tempo, numa cidade a pouco mais de uma hora da Catedral Orsent. Dispensamos nossos acompanhantes e optamos por uma reunião de cúpula individual.
— Pretendemos cooperar com os desejos de Sua Majestade, Lumie I.
Ele parecia muito mais velho do que quando o vi pela última vez. Bem, passaram mais de cinco anos desde a última vez que batemos lâminas. Eu podia até continuar parecendo muito mais jovem do que deveria, graças à minha profissão.
— Não há ninguém mais ouvindo. Não precisa ser submisso e acolhedor. Pode dizer o que quiser para mim e, sinceramente, isso faria com que as coisas funcionassem um pouco melhor.
— O fato de não poder derrotá-lo em nossas batalhas anteriores é o meu maior fracasso — disse o arcebispo, resignado. — Depois daquilo, não houve ninguém mais capaz de te conter. Se eu soubesse que as coisas seriam assim, não me moveria para me juntar à aliança de Ayles Caltis e Brando Naaham.
— Isso acabou acontecendo comigo. Se não fosse por Honganji, eu teria unificado o país bem antes.
Oda Nobunaga evidentemente tinha alguns ressentimentos. Ele estava mais para anti-religião do que anti-Honganji.
— A culpa não é sua. Aconteceu de eu ser mais forte do que os lordes que costumam aparecer na capital. Com base na história, você estava fazendo correto ao pensar que tinha o suficiente para me derrotar. Quais são as suas demandas?
O arcebispo balançou a cabeça, como se estivesse exasperado.
— Não temos escolha a não ser seguir seu novo regime. Se você declarasse que iria queimar a capital, eu resistiria com todas as minhas forças, mas se você fosse tão tolo assim, já teria morrido há muito tempo.
— Muito bem. Farei o que puder para garantir que você não saia dessa situação tão mal assim. Tem a minha palavra.
Ofereci minha mão ao arcebispo.
— Nunca imaginei que apertaria a sua mão assim…
A mão dele estava enrugada e estranhamente amarela.
— Você está doente?
— Bem, vou sobreviver por tempo suficiente para assistir à unificação do reino. Não se preocupe.
Talvez fosse hora de os Grande Homens da Antiga Era saírem em silêncio do palco de exibição.
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Depois de fazer da Catedral Orsent a nossa base da retaguarda, meu exército passou pela capital real e invadiu o Leste.
Aqueles que planejavam resistir ficaram na região antecipando o nosso ataque, mas não tinham chances contra nós.
Como essa região era limitada a, no máximo, pequenas escaramuças entre os lordes, os castelos e fortes não foram projetados para serem tão defensáveis quanto os de outras regiões. O inimigo podia ter reforçado as fortificações, mas ainda eram fracas o bastante para que pudéssemos simplesmente passar com força bruta.
A pacificação das prefeituras orientais durou apenas um mês e meio.
Tudo o que restava era a capital real.
As forças sob meu comando começaram a lentamente apertar a rede ao redor dela.
Fortaleci as patrulhas vigiando as rodovias. Havia a possibilidade de que Hasse tentasse escapar. A sobrevivência de Hasse não era motivo para preocupação, mas precisávamos testemunhar o momento em que ele perdia toda e qualquer pretensão de ser rei.
Deixar uma relíquia da velha era, tal qual Hasse, permanecer em nossa nova era seria uma mancha na nova ordem de Lumie I. Além disso, se ele conseguisse permanecer escondido em algum lugar, a guerra em si não terminaria.
Oda Nobunaga concordou com isso. A realeza é uma ferramenta conveniente para aqueles que planejam uma revolta. Akechi Mitsuhide, o homem que matou Oda Nobunaga, aparentemente pretendia restaurar o título do shogun deposto.
Mesmo que o próprio Hasse fosse incompetente, seu valor como ferramenta permanecia inalterado. Razão pela qual precisávamos ter certeza de que sua ameaça seria neutralizada.
Eu podia ver o fim lentamente se aproximando.
Naquela noite, passei um tempo tranquilo com Seraphina.
Após a libertação do Castelo Maust, fiquei ocupado demais para ter algum tempo sozinho com ela.
— Você está vestido de forma bem modesta para um homem a ponto de se tornar rei.
Seraphina sorriu provocativamente depois de olhar para a minha roupa. Sua atitude não mudou muito desde que ela se casou comigo.
— Ainda estamos em guerra. O traje extravagante e ostentoso pode esperar mais um pouco. Ao menos o vinho que preparei é bom.
Servi na taça de Seraphina e depois na minha.
— Tem certeza de que isso não está envenenado? — perguntou ela.
— Já pedi para o provador testar.
— Meu sonho logo se tornará realidade…
O rosto de Seraphina estava refletido em seu vinho. Ela parecia estar olhando fixamente para o seu próprio reflexo.
Estava sorrindo, mas era uma expressão que incluía um conjunto complicado de emoções.
— Fiz você passar por muita coisa ao longo dos anos, Seraphina.
Eu tinha acabado com o clã Caltis por ter me desafiado, assim destruindo a casa para a qual Seraphina poderia retornar.
— No final só pode haver um homem de pé. Só aconteceu de meu clã não ter sido escolhido para ser o sobrevivente.
Apesar das suas palavras, os olhos de Seraphina estavam cheios de lágrimas.
— Meu Pai desperdiçou tudo com um erro estúpido no final. No final, sacrificou tudo, não apenas a si mesmo, e tudo por nada. Que homem tolo…
Ela então olhou para longe e disse:
— Mas agora a filha dele acabou se tornando a consorte de um rei. Acho que posso ao menos construir um pequeno santuário para você, Pai.
— Sim, quando o reino estiver em paz, construa quantos monumentos quiser para ele.
Ela levantou da cadeira e sentou no meu colo.
Suavemente acariciei o seu cabelo, mas fiquei de certa forma imóvel.
— Seraphina, você e eu ainda somos jovens. Nossas vidas, daqui em diante, provavelmente serão mais longas do que os anos que já vivemos. Portanto, vamos ter certeza de ser ainda mais felizes nas próximas décadas.
Seraphina segurou minha mão com força e a apertou.
— Sim. Isso é uma promessa.
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Nós lentamente, com muita calma, fechamos a rede em torno da capital real como se estivéssemos estrangulando a cidade com uma corda de seda.
O objetivo era criar escassez de alimentos o suficiente na capital real. Isso iria acabar com o moral e, acima de tudo, se ficasse claro que ele não era capaz de proteger ou alimentar o povo da capital, isso tornaria a posição de Hasse mais fraca ainda.
O dever principal de um monarca era proteger seu povo. Mesmo em uma época em que o reino estava dividido em incontáveis mini reinos, o fato de Hasse não conseguir salvar o povo da capital real era mais do que suficiente para mostrar que não era apto para ser rei.
Com isso dito, se depois acabássemos com o povo todo faminto em nossas mãos, seria um pesadelo. Razão essa pela qual permitimos que cidadãos comuns deixassem a cidade. Mantivemos vigilância estrita sobre os refugiados para garantir que Hasse e seus aliados não escapassem.
Enviei vários ultimatos em nome de Lumie, exigindo a rendição de Hasse. Os lordes orientais em que ele depositou suas esperanças se renderam ou foram eliminados. Não havia qualquer facção apoiando-o. As forças ao seu redor não podiam mudar o resultado.
Então, por fim construímos castelos avançados perto do palácio e começamos a observar o inimigo.
Lumie enviou um ultimato final, percebendo que não teria escolha a não ser recorrer ao ataque, caso ele não parasse de oferecer resistência.
Quer acabemos fazendo isso ou não, continuava sendo uma ameaça.
Mesmo assim, Hasse continuou em silêncio. Estava menos para teimosia e mais para ele não querendo enfrentar a realidade. Seu sonho de ser considerado o rei que reviveu o Reino de Therwil estava prestes a acabar da pior forma possível.
Mas, em contraste com ele, que permaneceu em silêncio, os envolvidos com a coroa estavam todos fugindo da capital real.
Eu não me imaginava fazendo uso deles após assumirmos o controle, mas matá-los seria contraproducente, então deixamos que vivessem.
Então, no quinto dia de nosso cerco total à cidade, uma única burocrata da capital real saiu em busca de uma audiência.
Era a dragonata Yanhaan.
Aproveitei a oportunidade e me encontrei com ela em uma sala de chá preparada às pressas.
— Há quanto tempo não nos encontramos assim? — perguntou Yanhaan com sua atitude preguiçosa de sempre, que quase fazia acreditar que na capital as coisas estavam tão normais quanto sempre, sem qualquer mudança.
— Percebi que você ficou na capital real. Suponho que tecnicamente não seja uma vassala do regente, e sim uma serva da coroa…
A maioria dos burocratas que tinham uma relação forte comigo já havia deixado a cidade. Alguns partiram no momento em que Hasse me declarou traidor.
Isso era perfeitamente compreensível. Se tivessem ficado, poderiam ser acusados de espionagem e, mesmo sem essa possibilidade, poderiam correr diversos outros tipos de riscos.
— Não posso conduzir meus negócios se não estiver na capital real. Além disso… — Yanhaan sorriu, embora tenha escondido o sorriso atrás de sua mão. — Além disso, hoje venho para negociar os termos de rendição. Estou aqui como enviada de Hasse.
— Entendo. Parece que ele é inteligente o bastante ao menos para isso.
Peguei vislumbres do desejo desesperado de Hasse de terminar as coisas de forma pacífica explícitos na expressão serena de Yanhaam.
— Tudo o que estou prestes a dizer são palavras de Hasse, e não me culpe por trazê-las a você.
Dado esse preâmbulo, imaginei que Hasse não tivesse se livrado de seus delírios, mesmo nesse estágio avançado.
— Ele vai perdoar a minha rebelião, então quer que eu retire as minhas forças, hmm? Parece que Hasse acredita que continua sendo rei e não pode ser convencido do contrário.
— Bem, é o básico da negociação começar nos extremos mais distantes. O que planeja fazer?
— Por favor, informe a ele que Sua Majestade está considerando matar o rei anterior, caso ele continue com essa ocupação ilegal da capital real. Afinal, poderíamos facilmente enviar alguns assassinos.
Yanhaan continuou com seu sorriso sereno, sequer pestanejando.
— Entendido. Como mensageira, direi essas exatas palavras para ele. Porém, acredito que Hasse apenas deseja garantir a sua segurança pessoal. Se você puder deixar isso claro, acredito que as coisas irão progredir com um pouco mais de velocidade.
Antes que eu pudesse responder, Yanhaan chegou mais perto de mim.
— Tenho meu próprio esquema.
Era um esquema nada ruim. Fiquei feliz pela presença de Yanhaan. Ela me deu algo que os cortesãos de Hasse jamais poderiam dar.
— Muito bem, vamos seguir com isso. Informarei à Sua Majestade.
— Sim. Agradeço a sua ajuda.
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No dia seguinte, um mensageiro chegou do acampamento de Hasse, reconhecendo sua rendição. Era um jovem que foi promovido por ser um dos favoritos dele.
Hasse abdicaria formalmente do trono para Lumie I, e então viveria tranquilamente em aposentadoria em uma propriedade que lhe seria fornecida como o rei anterior – eram esses os termos de sua rendição.
Ele, simultaneamente, conduziria uma cerimônia de abdicação formal, na qual passaria a coroa a Lumie. Com isso, a guerra civil chegaria ao pacífico fim.
Já que isso unificaria o país, Lumie não tinha motivos para recusar.
A Rebelião dos Cem Anos estava a ponto de terminar. Era o alvorecer de uma nova era.
Nos dias que antecederam a cerimônia de abdicação, Lumie e eu purificamos nossos corpos. Isso não fazia parte de nenhuma tradição em particular, era só algo que ela propôs.
Sua ascensão ao trono seria completamente diferente das anteriores. Lumie disse que queria abordar o assunto com a devida responsabilidade e comprometimento.
— Sinto muito por fazer você passar por isso comigo. Tem certeza de que não está com frio? — perguntou Lumie, envolta em um pano branco. Eu estava usando um pano idêntico.
— Este tipo de sofrimento não é nada comparado à amargura com que tive de lidar quando era criança.
Eu queria abraçar a trêmula Lumie, mas senti que isso frustraria o propósito de nosso ritual de purificação, então mantive minhas mãos para mim mesmo.
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Naquela manhã, o portão sul da capital real foi lentamente aberto por dentro. Os raios de sol bateram no fosso, que brilhou com a luz.
Enquanto nós, o Exército Real de Lumie I, alinhamo-nos diante do portão, pudemos ver o portal central da capital real logo à frente.
Estávamos prestes a entrar por aqueles portões.
Do lado de dentro, os soldados que seguiam Hasse estavam se curvando – não, estavam baixando a cabeça.
Embora seus equipamentos não estivessem particularmente sujos graças à falta de combates de verdade, pareciam desgastados e derrotados.
Nós, o Exército Real, por outro lado, marchamos orgulhosamente pela cidade. Isso também fazia parte do nosso trabalho. Carregávamos a autoridade da rainha sobre nossos ombros. Devíamos nos comportar de maneira digna dessa autoridade.
Minha armadura estava enfeitada com o brasão do clã Nayvil e o da família real. Retornei à capital não como o lorde do clã Nayvil, mas como marido de Lumie I e regente do Reino de Therwil.
Logo ao meu lado estava Lumie. Mesmo que ela não fosse uma oficial militar, estava com uma expressão em seu rosto, digna de uma rainha. Claro, a expressão por si só não era o suficiente para esconder toda a sua gentileza natural. Lumie estava desempenhando seu papel de monarca com perfeição.
— Não se preocupe. Mesmo que haja quem possa mirar com arco e flecha, os rappas já cuidaram de todos — sussurrei baixinho para Lumie. Pude ver que ela estava tensa.
— Tal coisa não passou pela minha cabeça. — Lumie esboçou um sorriso fraco. — Senti o peso do que significa carregar um reino sobre os ombros, então estava me preparando para essa responsabilidade.
— Lumie, quantos de sua linhagem foram monarcas deste reino?
— Serei a vigésima quinta. O reino foi estabelecido trezentos e vinte e oito anos atrás. Porém, nos últimos cem anos, o reinado de cada um dos reis tornou-se dramaticamente mais curto.
Sim, desde que a Rebelião dos Cem Anos começou.
E pensar que algo que durou tanto tempo estava prestes a mudar. Até eu comecei a ficar um pouco nervoso.
Quando passamos pelos soldados de Hasse, os cidadão que apareceram para assistir a nossa procissão alinharam-se nas ruas.
Houve quem gritasse alegre e impensadamente: “Vida longa à Rainha Lumie!” e “Vida longa ao regente!” enquanto havia quem assistiu sentindo nervosismo, já que não conseguia imaginar como seria o futuro.
Se Hasse continuasse no controle da capital real, seria perigoso proferir palavras pelo bem de Lumie I. Uma pessoa sábia procuraria ficar de boca fechada.
Isso, e o povo da capital parecia perceber por instinto que algo grande estava para acontecer.
Já houve mudanças de reis anteriores, mas a atmosfera desta vez estava completamente diferente.
Afinal, não havia forças que pudessem resistir à nova rainha.
Com a rendição completa do rei anterior, a divisão do reino estava a ponto de terminar.
Por fim, chegamos ao maior cruzamento da capital real.
Fomos acompanhados até o local por soldados que aproximaram-se por outras entradas – especificamente, pelos portões leste e oeste.
O portão oeste foi atravessado por Talsha Machaal, enquanto o leste foi por Soltis Nistonia. A criança de Talsha era da minha semente, enquanto a filha de Soltis, Yuca, era uma de minhas concubinas, então pode-se dizer que armei as coisas para estarem dominadas pelos meus parentes.
Soltis tentou recusar o papel, afirmando que não era um lorde digno o suficiente dessa honra, mas o fiz aceitar, já que insisti na importância da ocasião. Dado que ele tinha o título de conde, isso não devia ser problema.
As três fileiras de soldados que se reuniram no centro cruzaram a ponte que levava ao portão central do palácio real.
Foi nesse momento que a rendição incruenta do palácio foi realizada.
Tomar o palácio real sem matar um indivíduo que fosse, era uma conquista a ser celebrada.
Partimos em direção à sala do trono, onde estaríamos conduzindo uma audiência.
Dito isso, Hasse já havia abdicado do trono. O forcei a aceitar essa condição. Hasse não era mais o rei, apenas aquele que possuía a coroa.
Ele parecia ter encolhido desde a última vez que o vi. Ele não tinha idade suficiente para ficar doente, então provavelmente era o estresse dos eventos recentes. Também vi mechas grisalhas em seu cabelo. Em suas mãos instáveis estava a coroa. O fato de que estava a segurando fazia a coroa parecer estranhamente barata e insubstancial.
Atrás de Hasse estavam os últimos de seus “vassalos leais”.
Alguns estavam olhando para mim ou para Lumie. Admito que não senti nada em seus olhares. Eu sabia que meu modo de vida despertaria muito ressentimento. Em minha vida fui odiado o suficiente para poder renascer dez vezes e ainda ter outras vidas de animosidade sobrando.
Misturados entre os vassalos e cortesãos leais, estavam alguns burocratas como Yanhaan, com laços próximos comigo. Eles também pareciam solenes, mas era fácil perceber a diferença entre eles e os subordinados de Hasse.
A principal estrela desta ocasião não era eu, e sim Lumie, a rainha.
Entretanto, eu ainda precisava desempenhar um papel introdutório. Imediatamente pisei na frente de Lumie.
— Peço que entregue agora a coroa real a Sua Majestade — falei a Hasse com uma expressão fria. Não havia motivo para demonstrar qualquer emoção.
— Irmão, foi você quem planejou instalar minha irmã como rainha? — perguntou Hasse desanimado.
— Foi você quem me declarou um traidor. Você sem dúvidas está ciente de que minha esposa, Sua Majestade, ficou furiosa com a acusação.
Este não era um lugar adequado para despejar minhas emoções sobre ele. Isso já estava tudo acabado.
Mas Hasse não entendia nem isso.
— Por favor, entregue a coroa real a Sua Majestade.
Dei um passo para a direita. Os olhos de Lumie e Hasse se encontraram.
Ela não estendeu as mãos para a frente.
— Por favor, entregue o símbolo do cargo de monarca.
Hasse olhou um pouco para o céu, mas então começou a andar lentamente.
Seus sapatos estalaram contra o chão de pedra, cada passo soltando um som agudo.
Então, quando aproximou-se e ficou a cerca de três jargs de Lumie…
— Pare, rei anterior!
Um dos retentores deu um salto para a frente…
E jogou Hasse no chão.
Os presentes começaram a zumbir enquanto um murmúrio corria pela multidão.
Antes que qualquer um dos vassalos leais a Hasse pudesse dizer uma palavra que fosse, o retentor que o empurrou disse:
— Ó, rei anterior, com que intenção escondeu esta adaga?
Uma adaga desembainhada apareceu sob o traje formal de Hasse.
Lumie não pôde deixar de cobrir a boca com a mão. Era como se estivesse chocada demais para falar.
Os soldados da facção dela que estavam ao meu lado imediatamente avançaram para conter Hasse. Eles também confiscaram a sua adaga.
— Espera! Esta adaga não é minha! Realmente não sei o que isso estava fazendo aqui! Sou inocente! — gritou Hasse.
Bem, claro.
Suas palavras eram, de fato, a verdade nua e crua.
Eu plantei a adaga nele. Já havia inclusive pago ao pessoal de Hasse. Ou, mais precisamente, havia muito do meu pessoal ainda na capital real.
Decidi a respeito do plano quando Yanhaan foi enviada para negociar comigo.
Hasse parecia acreditar que minha amante, Yanhaan, ajudaria a intermediar um fim pacífico para o impasse, mas a verdade era o contrário.
Consegui terminar as coisas de forma conveniente para mim.
Eu tinha medo de que alguém nos atacasse após a repentina revelação, mas ninguém fez isso. Não havia guerreiros leais a Hasse na sala.
Não importa quantos burocratas o apoiassem, eu poderia massacrar todos eles sozinho.
Pisei na frente do contido Hasse e encarei sua forma parcialmente curvada.
— Mas que esmagadora decepção — falei. — Bem quando estava tudo prestes a acabar de forma pacífica, você estava planejando assassinar sua própria irmã para diminuir seu ódio mesquinho?
— Não, não, não! Não sei nada sobre…
Sufoquei as negações de Hasse com a minha voz.
— Por que acha que Sua Majestade, Lumie I, adiou o ataque à capital real por tanto tempo? Isso foi porque queria reduzir a possibilidade de fazer mal a você, o irmão dela. Seria possível atacarmos a capital real logo após deixar o Castelo Maust e matá-lo neste processo. Ainda assim, ela ordenou que não o fizéssemos.
Continuei minha longa condenação ao homem, o tempo todo olhando para ele com total desprezo.
Só pude fazer isso porque senti que Hasse era realmente digno de desprezo.
— Você é um pecador.
Lentamente peguei a coroa real que estava no chão.
— Por enquanto, iremos te prender. O preço por sua traição será apresentado depois. Levem-no daqui.
Os soldados prendendo Hasse o forçaram a se levantar e o conduziram para fora.
A sala permaneceu agitada, mas ninguém teve coragem de se opor.
— Essa se tornou uma situação e tanto, Vossa Majestade. O que devemos fazer a respeito da cerimônia? — perguntei a Lumie.
Já havíamos discutido como ela responderia.
— Embora eu esteja realmente chocada, gostaria de continuar a cerimônia para reconstruir o nosso reino. Regente, como o homem com a seguinte maior patente nesta sala, você servirá no lugar do rei anterior.
— Como desejar, Vossa Majestade.
Então, pela primeira vez, olhei fixamente para a coroa. Possuía todos os detalhes em ouro e prata, já que havia sido preservada apenas para uso em funções cerimoniais.
Então foi por isso que passei tanto tempo lutando. Dito isso, essa coroa simbolizava o rei de Therwil, então acho que pode não ser exatamente a mesma coisa pela qual lutei.
Quando formasse meu próprio reino, teria que criar novas tradições.
Levantei a coroa com ambas as mãos e a coloquei sobre a cabeça ligeiramente curvada de Lumie.
Naquele momento, ela tornou-se formalmente a rainha reinante do Reino de Therwil.
— Parabéns, Vossa Majestade.
Era para ser pura atuação, mas me encontrei à beira das lágrimas.
Eu tinha finalmente unificado este reino – eu, o segundo filho de um nobre inexpressivo.
— Você, acima de tudo, merece essas felicitações.
Ouvi uma voz me elogiando na minha cabeça.
— Você finalmente conseguiu. Chegou aqui mais cedo do que eu esperava. Tudo isso graças à minha ajuda.
Sim, não tenho intenção de negar isso.
Sem Oda Nobunaga, eu teria morrido protegendo a minha fortaleza.
Eu teria morrido sem deixar meu nome para a posteridade.
De certa forma, eu morri naquele dia no Forte Nagraad.
Daquele dia em diante vivi uma segunda vida. E nessa segunda vida, realizei isso tudo.
— Obrigado por tudo, meu querido.
Lumie tinha lágrimas nos olhos. Já que estava tão emocionada, ela escorregou e me chamou de “querido” em público.
Eu tinha certeza de que ela estava em conflito, já que acabou condenando seu irmão daquela forma. Mas, apesar disso, Lumie escolheu seguir com esse plano.
Com toda a franqueza, eu queria abraçá-la ali mesmo.
Achei que isso transmitiria muito mais do que um milhão de palavras.
Mas essa não era uma opção. Não estávamos presentes como marido e mulher.
— Ainda há muitas coisas que devemos fazer, Vossa Majestade. Fico ansioso por nossas contribuições em conjunto.
— Sim. Sem dúvidas vou dar-lhe angústias, Sir Regente, mas, mesmo assim, peço que continue me apoiando.
Naquele dia, pela primeira vez em cem anos, os conflitos e guerras do reino cessaram.
Não importa o que aconteça, acho que nunca vou esquecer aquele dia.
A única coisa que me restava era me tornar formalmente o rei.
Mesmo assim, achei que deveria esperar um pouco para isso.
Eu já tinha conquistado o reino. Do ponto de vista de Oda Nobunaga, eu já era o conquistador da terra.
Tradução: Taipan
Revisão: ZhX
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