Um Trabalho Misterioso Chamado Oda Nobunaga

Um Trabalho Misterioso Chamado Oda Nobunaga – Vol 03 – Cap. 02 – O Falecimento do Cunhado

Entre os inimigos estavam aqueles que se renderam, junto com alguns prisioneiros. Foram os primeiros a marchar para fora quando entrei no Castelo Maust.

Fanneria, o oficial financeiro, estava entre eles. Parecia magro, longe de parecer com o próspero comerciante que costumava ser.

— Não esperava que você participasse disso — falei. — Não acho que te tratei tão mal.

— Você parece ter esquecido de mim assim que foi para a capital real… — respondeu Fanneria, encolhendo os ombros.

— Se isso for verdade, então é pela sua própria falta de habilidade.

— Parece que meu destino foi selado quando te entreguei os rappas. Se tivesse os mantido comigo, as coisas seriam diferentes.

Fanneria riu em resignação. Ele provavelmente estava certo.

— Os comerciantes vão à falência quando julgam o momento mal. É um final adequado para você.

Fanneria e os demais inimigos foram decapitados na frente do Castelo Maust.

— Parece que as pessoas te traem com a mesma frequência que me traíam. Mas isso também faz parte das dificuldades em se tornar um conquistador. Quanto mais forte for a sua autoridade, mais você será temido.

Entendi o que Oda Nobunaga queria dizer. Eu já esperava resistência à minha ascensão ao poder.

No Castelo Maust, recompensei Kivik, que defendeu o castelo, diante dos outros generais.

— Foi por você ter resistido que fui capaz de retornar a este castelo. Você fez muito bem.

— Você é muito gentil. Simplesmente dei o meu melhor no que será a última grande obra da minha vida.

É verdade que ele estava em uma idade na qual seu neto poderia muito bem assumir o controle da família. Sem dúvidas, logo chegaria a hora do general veterano se aposentar.

— Vou deixar a decisão para você, mas pretende continuar lutando? Ou você vai se aposentar?

— Bem, se eu puder ser egoísta, gostaria de continuar trabalhando de forma que não fique no seu caminho. Afinal, não saberia o que fazer depois de aposentar.

Kivik riu e coçou a cabeça calva.

— Um homem como você provavelmente viverá mais se ficar no campo de batalha — falei a ele. — Muito bem. Vou recebê-lo de forma digna a um deus da guerra. Agora, quanto à sua recompensa; Laviala, o certificado.

Laviala entregou o documento a Kivik. Ele ficou boquiaberto de surpresa após ler o conteúdo.

— Quê…?! Condados Tacti e Naaham na Prefeitura Olbia? Esses não são os territórios de Brando Naaham…?

— Sim, isso mesmo. Pretendo acabar com ele. E ele pretende, no mínimo, me derrubar. Em breve partirei com as tropas. Preciso tomar algumas coisas de volta.

Eu definitivamente pegaria minha irmã, Altia, de volta – e também as crianças dela. Ela, por sorte, só teve filhas, então não precisaria matá-las.

Naquele dia, enviei uma carta para Brando. Não era um ultimato.

Era uma reivindicação pelo retorno de Altia, já que ele estava indo à guerra com a família de sua esposa. Era uma velha tradição adotada sempre que o país de uma noiva se tornava inimigo. Não havia nada de ultrajante nisso.

Laviala escreveu uma carta pessoal endereçada diretamente a Altia, pretendendo enviar junto com a minha.

Minha carta garantia a Altia que não havia nada com que se preocupar caso viesse para o lado do regente e que, embora fosse trágico que os dois clãs estivessem agora em guerra, ela não deveria pensar em morrer junto com o clã Naaham.

Esses eram essencialmente meus pensamentos a respeito do assunto. Um regente não podia ser mais sentimental do que o necessário.

Examinei a carta que Laviala me apresentou e a aprovei.

— Lorde Alsrod, poderia pelo menos ter expressado os seus sentimentos.

— Vou contar sobre eles pessoalmente para Altia da próxima vez que nos vermos.

Eu não gostava de saber que poderia estar alterando o destino da minha irmã. O caminho do conquistador era complicado.

Mas se eu pudesse virar rei em troca da vida de Altia, provavelmente, ainda assim, escolheria esse caminho.

Uma vez que o reino fosse unificado, isso tornaria o mundo muito mais seguro. Isso salvaria inúmeras vidas – ou assim eu disse a mim mesmo.

Não houve resposta à carta, mesmo uma semana após o envio.

Nesse ínterim, comecei a me preparar para invadir a Prefeitura Olbia.

Brando parecia ter rejeitado a minha exigência, embora eu já esperasse por isso. Ele não era um idiota. Sem dúvidas entendeu que não havia nenhuma opção além de um confronto direto.

Movi um exército de vinte mil homens para o território de Brando, a montanhosa Prefeitura Olbia.

Brando, estou indo derrubá-lo. Seu caminho para a glória termina aqui.

Os lordes menores da Prefeitura Olbia logo anunciaram que ficariam do nosso lado. Até tiveram a bravata de dizer que ajudariam a derrotar o rebelde, Brando, por ousar se rebelar contra o rei e o regente.

Não era um gesto sem sentido. Eu não conhecia a Prefeitura Olbia muito bem, então ter os moradores locais nos guiando foi uma dádiva.

Brando resistiu ao converter várias passagens das montanhas em fortes. Fiquei impressionado com a sua tenacidade. Ele ainda não tinha desistido. Ainda acreditava que teria uma oportunidade para me derrotar.

Eu também não desisti. Iria derrubá-lo usando tudo que estivesse à minha disposição.

Ataquei os fortes de várias direções e me certifiquei de capturar cada um deles.

Os cercos caracterizavam um tipo de jogo de espera. Quem cedesse primeiro, perderia. Só perder não era um problema, mas, neste caso, poderia significar a morte.

A essa altura, todos os meus generais tinham crescido em seus papéis, e era por isso que eu só precisava deixar a maioria dos fortes para os meus subordinados tomarem.

Graças a eles, precisamos de surpreendentemente pouco tempo para chegar ao quartel-general inimigo.

Vários edifícios estavam dispostos em uma montanha que exigia quase uma hora de escalada. Era um clássico castelo em montanha – do tipo construído para servir não como capital política, mas como centro defensivo.

Não seria algo fácil de derrubar. O clã Naaham sobreviveu por muito tempo, já que tinha esta fortificação que nunca foi capturada.

Mas eu derrubaria este castelo.

Coloquei um cordão rígido ao redor da montanha onde o castelo de Brando foi construído.

— Oh? É bem raro você demorar em um cerco. Eu mesmo não fazia isso com frequência.

Oda Nobunaga se especializou em ataques rápidos e preventivos em seus cercos a castelos. Nesse aspecto, não éramos muito diferentes. Eu quase nunca participei do jogo de espera.

Mas, desta vez, estava mudando de tática.

Ou, mais precisamente, fui forçado a mudar de tática.

O castelo de Brando ficava em uma elevação íngreme.

Os vários que se renderam já tinham nos passado um mapa das defesas dele. Brando costumava ser um aliado, então, para começar, eu também tinha meu quinhão de informações a seu respeito.

Porém, com base nesse conhecimento, sabia o quão complicada seria a captura deste castelo. Mesmo que algumas de suas forças tivessem se rendido, não era o suficiente para degradar muito as suas defesas.

Visto da superfície, parecia inexpugnável.

Foi por isso que comecei isolando-o.

Se não souber onde está o buraco de um recipiente, basta mergulhá-lo na água para descobrir. Era essa a ideia.

Enviando ataques dispersos de várias direções, procurei pelos pontos fracos.

E, no quinto dia, encontramos a nossa resposta.

Não era nem na frente, nem na parte posterior do castelo.

Fomos para o flanco.

Encontramos locais escaláveis. Isso nos permitiria atacar com várias centenas de homens.

Eu poderia acabar com isso ao comandar as forças de ataque.

Claro, quando apresentei isso ao conselho de guerra, disseram que várias centenas de homens continuava sendo uma força muito pequena.

— Lorde Alsrod, não importa o quão confiante você esteja, os soldados inimigos ainda são três mil.

Laviala evidentemente se opôs ao plano.

Os outros generais também não o aceitaram. Muitos insistiram para que mantivéssemos o bloqueio.

Era verdade que esse oponente era mais desafiador do que os inimigos monótonos que derrotamos até o momento, e não havia necessidade para forçar um ataque direto. Manter o cordão de isolamento seria a tática padrão a ser adotada.

Noen Rowd e Meissel Wouge argumentaram que, como o castelo não foi projetado para ser defendido por um exército de vários milhares de tropas, o inimigo acabaria lidando com a escassez de alimentos e a fome, e que só precisávamos esperar. Eles tinham razão.

Mas eu não queria seguir esse caminho.

— Se eu desperdiçar muito tempo com Brando, os outros podem começar a também se rebelar contra mim. Além disso; e este sim é o verdadeiro motivo, não quero prolongar o sofrimento de Altia.

Talvez por eu ter mencionado o nome da minha irmã, meus generais sentiram dificuldades para discutir comigo.

Não deveria ter feito isso. O fato de ter citado um membro da família deixou mais difícil para eles expressarem suas preocupações.

— Apesar de tudo — continuei —, entendo o que vocês estão tentando dizer. Então, deixem-me oferecer uma proposta melhorada.

Eu já tinha vários planos em mente.

— Faremos um ataque de todas as direções. Dessa forma, o inimigo terá que se defender de todas as abordagens. Minhas forças então atacarão o flanco fraco. Em outras palavras, vamos massacrá-los juntos.

No momento em que terminei de explicar os detalhes, Laviala exclamou:

— Agora, eu aprovo!

Sua resposta altiva acabou por ser decisiva. Ela se desculpou de imediato, dizendo: “Perdão, acabei deixando escapar…” e fez todos rirem. Laviala estava falando como antes, como minha irmã mais velha.

— Então vamos seguir esse plano. Deem-me um grito de vitória e voltaremos ao Castelo Maust!

Os generais responderam com um “Hurra!”

Após decidirmos nossas posições, nosso exército começou o ataque à fortaleza na montanha.

O inimigo não demorou a nos notar, e pudemos dizer que estavam se preparando para o cerco.

Mas eu duvidava que algum deles pensasse que o castelo cairia rapidamente. O bom senso indicava que um castelo tão grande não cairia com facilidade. Não seria fácil de entrar.

No entanto, confiar no bom senso ficava a um fio de cabelo de distância da complacência.

Se isso tornasse difícil de reconhecerem meu ataque ao flanco, melhor ainda.

Durante a calmaria, minhas unidades de elite deram a volta pelo flanco.

— Muito bem, abram um caminho para o castelo! Uma recompensa será dada ao primeiro homem que conseguir entrar! — gritei.

Claro, mesmo sem a perspectiva de recompensa, aqueles que me seguiram até tão longe invadiriam de bom grado.

Ainda havia muralhas de pedra nos flancos, mas, em comparação com as da frente e da traseira, eram claramente mais baixas – baixas o suficiente para escalarmos e começarmos a pressionar.

Meus dois primeiros soldados foram atingidos por flechas e caíram da encosta. A própria frente da vanguarda era traiçoeira. Qualquer um que liderasse o ataque precisaria estar preparado para morrer. Embora as minhas tropas fossem mais fortes graças à minha profissão, não eram completamente invencíveis.

Mas, aos poucos, passaram pelas muralhas e alcançaram o terreno do castelo.

Foi a partir de então que a maré da batalha mudou. Pude sentir o pânico do inimigo.

O castelo que acreditavam ser inexpugnável estava agora caindo para o inimigo.

Provavelmente não tinham feito planos para quando passássemos das muralhas.

Eu precisaria seguir meus homens com calma. Quando entrei no castelo em si, meus soldados já tinham semeado a confusão entre as tropas de Brando.

— Continuem! Abram os portões e deixem nossas tropas entrarem! Este castelo verá sua ruína aqui e agora!

Dito isso, o terreno deste castelo na montanha era complexo. Sem dúvidas, ainda demoraria um pouco para encurralar Brando.

Claro, ele não era um general.

O clima mudou de novo – desta vez, estava carregado de hostilidade.

Brando, empunhando uma espada, aproximou-se sozinho de mim.

— Alsrod! Peça perdão! Vou te retribuir pela última vez!

Pulei na frente dele.

— Obrigado por me poupar tempo, Brando! — respondi, apontando a minha espada para ele.

Os arcabuzeiros tentaram mirar em Brando, mas não foram rápidos o bastante. Vários tiros passaram por ele. Uma vez que erraram, precisariam de tempo para recarregar. Somando isso com o pânico, os arcabuzeiros mal conseguiram mostrar a sua verdadeira força.

— Não se preocupem. A profissão de Brando é Ladrão. Simplesmente suponham que os tiros não o acertarão.

Brando não iria atacar se não estivesse confiante.

— Alsrod, imaginei que você iria liderar o ataque pessoalmente! Se eu puder te derrotar aqui, este reino retornará à longa era das batalhas!

Ele portava uma lâmina extremamente curva. Era o tipo de arma que um guerreiro consideraria como tendo um modelo herético. É claro que não existiam ortodoxos ou heréticos nesse tipo de época.

Recebi seu golpe com a minha própria espada, a Golpe de Justiça. A lâmina dela era larga, o que a tornava perfeita para bloquear ataques.

— Você acabou de deixar claro, quer que tudo volte a ser como era. — Não pensei que haveria uma facção reacionária com um atrito tão óbvio comigo. — E? O que pretende fazer ao devolver o mundo ao passado?

Contra-ataquei, e houve o som de metal gemendo. Brando aparou o meu golpe com a própria espada, então rapidamente retornou ao ataque. Seu estilo de luta com a espada era autodidata, mas ele não deixava aberturas. Era uma forma de luta digna de um Ladrão. Era a esgrima de alguém que acreditava apenas na força bruta e a usava para forçar seu caminho até o topo.

— Isso é simples — ele respondeu. — Se o mundo estiver em caos, haverá mais oportunidades para homens como eu prosperarem. Na verdade, poderia acabar com você e me tornar o regente, mandando em todos os outros lordes.

Brando sorriu e lambeu o lábio superior.

Este homem era um canalha em todos os sentidos da palavra. Uma flor silvestre que só poderia florescer em terras devastadas.

— Contudo… — A expressão de Brando mudou e ele aumentou o número de seus ataques. — Se um homem como você reconstruir o mundo, eu não terei para onde ir…! Vou ter que, apesar de tudo, curvar a minha cabeça!

— Ah, e isso é ruim?

Senti como se finalmente tivesse ouvido os seus pensamentos. Mas eu já sabia o que ele pensava.

— Com certeza é. Vou me tornar um homem como você! Não posso deixar que chegue lá primeiro!

Sim, Brando queria se tornar o conquistador que unificou o reino.

Mas havia apenas um trono de conquistador a ser tomado. Nunca poderiam haver dez, vinte conquistadores ao mesmo tempo.

O que significava que a única opção seria se livrar do conquistador que chegou primeiro.

— Este homem tem um olhar mais vivo do que Azai Nagamasa1Azai Nagamasa era um daimyō japonês do período Sengoku conhecido como cunhado e inimigo de Oda Nobunaga.. Ele vive sem se conter e faz o que quer. Gosto dele.

Quem se importa se você gosta ou não?

— Dito isso, se ele resistir, só precisa esmagá-lo.

Exatamente!

Vi lanças aparecerem de ambos os lados, uma atrás da outra.

As unidades Tri-Jarg invadiram o castelo que agora possuía uma porta de entrada.

— Sinto muito, Brando, mas não fiz nenhuma promessa de duelar com você até a morte. A razão pela qual entrei primeiro foi para animar os meus aliados.

Minha habilidade especial, a Orientação do Conquistador, dobrava a confiança e a concentração dos meus aliados e melhorava o ataque e defesa deles em 30 por cento.

Se eu pudesse ter essas tropas, a vitória seria minha.

Sem escolhas, Brando fez um recuo temporário.

A linha de lanças não era algo que poderia ser quebrada com um único combatente.

Ainda assim, ele logo voltou para tentar me fatiar. Essa era a única forma de vencer. Brando não parecia ter ilusões de que poderia apenas se esconder e esperar que Ayles aparecesse ao seu socorro. Meu sogro provavelmente devia estar usando esse tempo para fortificar o próprio castelo. Os dois apenas compartilhavam interesses em comum, nada mais.

Brando, o Ladrão, tentou contornar o meu flanco, assim como flanqueei o castelo.

Ladrões tinham habilidades extremamente altas quando se tratava de destruir o inimigo. E leva tempo para uma unidade de lança manobrar e enfrentar um único inimigo em distância de corpo a corpo.

Também dei um passo à frente.

— Abandone a regência, Alsrod, para que eu possa tomá-la para mim!

Senti uma enorme hostilidade. Nenhuma parte dele me considerava o irmão mais velho de Altia. O elogiei pela sua atitude.

Mas isso também me irritou.

Peguei a minha própria espada, a Golpe de Justiça, e pressionei-a contra a de Brando. Em termos de força bruta, pelo menos, eu estava em vantagem. Elevei-me a ele.

Então, com a mão livre, dei um soco em seu rosto.

— Cretino!

Brando cambaleou após o golpe inesperado. Com certeza estava vendo estrelas.

Mas ainda não poderia deixá-lo desmaiar. Peguei suas roupas leves – estava vestido de forma que facilitasse os movimentos, então duvidei que suas roupas pudessem parar uma lança – e o ergui pelo colarinho.

Então voltei a socá-lo.

— Por que você me traiu, mesmo tendo Altia?! Não dou a mínima para os seus motivos pessoais; você arruinou o futuro dela, seu filho da puta!

Te dei a minha irmã como noiva por ter acreditado no seu potencial! Mesmo que fosse um casamento político, queria que minha única irmã de carne e osso fosse feliz.

Venha até mim com, no mínimo, força suficiente para me derrotar! Se vai se rebelar e perder, mesmo que seja humilhante, mesmo que seja constrangedor, seja ao menos leal!

— Peço desculpas… por isso…

Antes que Brando pudesse terminar, o agarrei pelos cabelos e o joguei no chão.

— Perdedores não têm direito de falar sobre o caminho do conquistador.

Isso marcou o fim da luta – pelo menos da luta entre nós dois.

Os meus soldados que tentavam correr em minha direção pararam. Sem dúvidas iriam dizer que eu acabaria matando Brando se continuasse o estrangulando. Eu ainda tinha controle o suficiente para saber disso. Ainda não poderia deixá-lo morrer. Isso acabaria após socá-lo.

— Escuta, Brando. Ordene que as suas forças se retirem e se rendam. Além disso, levaremos Altia e suas filhas em nossa proteção, então entregue-as. Veremos a respeito do seu destino em outro momento.

— Entendi…

Brando expressou sua aquiescência com a boca ensanguentada.

A única razão pela qual ainda não vou te matar é por querer garantir a segurança de Altia. Essa é a única razão pela qual estou te fazendo prisioneiro. Isso não é misericórdia.

Você não é nada além de um perdedor. Os livros de história não vão pensar duas vezes nas suas habilidades, e enfatizarão apenas o fato de que você foi derrotado.

Um conquistador também precisa saber prever.

Nunca vou te perdoar por acreditar em milagres e sair em busca do perigo.

— Você simplesmente não tinha o necessário para ser um conquistador, Brando.

 

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A guerra chegou ao fim depois da captura de Brando Naaham. Os outros membros do clã Naaham cessaram suas hostilidades e anunciaram a rendição.

Assim que as tarefas de verificação dos generais inimigos e coisas do tipo foram concluídas, visitei um dos locais onde os oficiais de comando estavam ficando.

Fui em direção ao cômodo visivelmente guardado por soldados, que me saudaram ao me ver.

— Boa noite, homens. Nada incomum, espero?

— Não senhor! Nada fora do normal!

Eu poderia dizer que estavam tensos. Perderiam literalmente a cabeça caso algo acontecesse. Claro que estavam nervosos.

Era isso, ou minha expressão os intimidava. Poderia dizer, pelo menos, que eu não estava sorrindo. Mas, ao mesmo tempo, acho que não parecia estar com raiva. Verdade seja dita, eu não fazia ideia de qual expressão usar no momento.

Quando entrei no cômodo, encontrei Laviala e Altia conversando. As duas filhas de Altia estavam brincando em um canto.

Ela olhou para mim na mesma hora. Provavelmente já esperava pela minha chegada, mas também não parecia saber que tipo de expressão estava em seu rosto.

Altia lentamente se levantou de sua cadeira e, em seguida, curvou-se em minha direção.

— Sir Regente… Ofereço-lhe a minha sincera gratidão por poupar a minha vida e das minhas filhas.

Não havia nada de errado nesse protocolo. Tendo se casado com o clã Naaham, era correto que Altia se portasse como membro do clã Naaham.

Mas, sinceramente, não fiquei satisfeito com isso.

As duas crianças me olharam em silêncio, parecendo um pouco assustadas. Nenhuma surpresa – afinal, fui eu quem derrotou o pai delas.

Laviala não falou, mas levou a mão ao seio, observando como se rezasse em silêncio.

— Altia, pare com isso e fale comigo como a minha irmã. Somos só você, eu, suas filhas e Laviala.

— É, você tem razão.

Altia ergueu a cabeça. Sua expressão não mudou.

Aproximei-me lentamente dela e coloquei a mão em seu ombro. Havia algo lá que antes não existia, uma certa resistência em seu porte. Talvez fosse essa a força de ser mãe.

— Você me odeia? Não, essa não é uma pergunta justa. Seja qual for o motivo, fui eu quem derrotou o seu marido. Me odeie tanto quanto quiser.

Essa situação era comum durante a Rebelião dos Cem Anos. Filicídio e parricídio não eram raros, e até eu matei o meu irmão mais velho.

Houve um sacerdote que uma vez afirmou que os lordes não podiam fugir do derramamento de sangue dentro de suas próprias famílias, já que isso era uma punição pelo pecado de falhar em cumprir com o dever de proteger os próprios súditos.

E fui obrigado a concordar que o derramamento de sangue dentro das famílias era melhor do que a matança entre os lordes. Claro, isso não quer dizer que eu queria ser um qualquer. Afinal, esse tipo de gente passa por muitas dificuldades.

Altia olhou para mim.

Parecia estar sem chão.

— Não sei. Não sei como interagir com você, Irmão. Primeiro devo ficar com raiva ou me desculpar?

Foi uma conversa estranha e, embora possa não ser a reação mais adequada, fiquei feliz por poder voltar a falar com ela.

A raiva seria da esposa do chefe do clã Naaham, e as desculpas da irmã de Alsrod Nayvil, a qual se casou no clã Naaham.

Mas não havia resposta clara para a sua pergunta, e é por isso que os casamentos políticos causam tragédias desde os tempos imemoriais. Se houvesse uma resposta correta, ninguém lutaria. Tudo o que precisariam fazer seria se comportar como máquinas.

— Só tenho uma ordem para você: Nem pense em se matar.

Protegerei Altia como o irmão dela. É essa a minha responsabilidade. E Altia, também…

— Você tem o dever de criar as suas filhas. Então viva. Pode me odiar o quanto quiser, mas obedeça essa ordem. Essas duas crianças são minhas sobrinhas. Vou protegê-las, não importa o quê.

— Certo. Eu sei. Obrigada.

Altia agarrou um punhado da minha camisa à altura do meu umbigo.

— Meu marido… vai morrer… não é? — disse ela, tentando impedir que suas emoções escapassem à superfície.

— Não posso deixar o homem que tentou me matar viver — respondi com naturalidade.

Era impossível que um lorde que perdeu seu castelo de residência continuasse sobrevivendo. A única questão era como ele morreria.

— Poderia, então, não crucificá-lo? Se pudesse fazer com que ele tivesse a oportunidade de uma morte honrosa como vassalo do regente…

A crucificação seria um claro sinal de que estava sendo executado como criminoso.

Com o suicídio, por outro lado, mesmo sendo criticado, não seria tratado como um criminoso.

— Farei isso por você.

— Posso ver meu marido antes que ele morra?

— Também posso fazer isso.

Altia parecia aliviada por seus dois pedidos apresentados serem atendidos, mas, com aquele alívio, as lágrimas brotaram de seus olhos.

Ela então enterrou o rosto no meu peito e deixei que chorasse ali.

Isso é bem difícil, não é, Oda Nobunaga?

— Oh? O que deu em você, conversando comigo assim, por vontade própria?

Fiz o que tive que fazer para me tornar um conquistador. Mesmo desta vez, acho que não fiz nada de errado.

— Não precisa nem comentar. Você deve esmagar todos que desobedecem ao regente, especialmente se estiverem estabelecendo uma rebelião óbvia. Se deixá-los por conta própria, quem morrerá será você.

Mas isso significa que, como irmão, não posso tornar minha irmã feliz. É difícil tentar ser feliz em tudo.

— Não se deve aspirar ser um conquistador caso não esteja pronto para deixar os outros infelizes. Mesmo assim, entendo o que quer dizer. Isso não é atuação; realmente entendo. Afinal, também fiz Oichi2Oichi, irmã de Oda Nobunaga, foi uma figura histórica feminina no período Sengoku. Ela é conhecida principalmente como a mãe de três filhas que se casaram bem – Yodo-dono, Ohatsu e Oeyo. chorar.

Isso mesmo. Você também vem de uma época caótica.

— Beba um pouco sozinho em alguma noite que não tenha planejado nada. Vou me juntar a você. E estarei pensando no copo que fiz com o crânio de Azai Nagamasa enquanto faço isso.

Ei, ei, você não entendeu nada mesmo, não é?

— O pecado de fazer a minha irmã chorar não foi só meu – também foi daquele que me traiu. Jamais vou perdoá-lo!

Por algum motivo, me senti um pouco melhor depois de conversar com Oda Nobunaga.

 


 

Tradução: Taipan

Revisão: ZhX

 

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