Depois, apresentei Lumie a Seraphina. A garota, sem medo, também a encheu de perguntas, deixando Seraphina perdida.
Honestamente, eu nunca tinha visto minha esposa tão oprimida por outra pessoa, então foi um pouco revigorante para alguém como eu assistir. Eu tinha certeza de que era angustiante para ela, é claro.
Seraphina reclamou disso para mim quando estávamos sozinhos.
— Eu sabia que ela era jovem, mas não achava que seria assim…
— Sim. Ela é tão inocente que é difícil saber como responder.
— Ela me parece uma irmãzinha.
— Engraçado, eu pensei a mesma coisa. Mas ela faz um tipo totalmente diferente de Altia.
Seraphina suspirou baixinho.
— Você tem que se casar com aquela garota, querido. Mas isso pode não ser fácil.
— Ensine tudo que sabe a ela, faça por mim. Realmente não posso desperdiçar tempo.
Minha carga de trabalho disparou desde que tomamos a capital. Um regente realmente tem que fazer tudo por si mesmo. Minhas tarefas eram praticamente infinitas. A situação nas áreas próximas não tinha exatamente se acalmado, então não tive tempo para me alegrar com este casamento.
— Tudo bem — respondeu Seraphina. — Mas… visto que ela ainda não fez os votos, segue sendo uma garota inocente do convento. Eu me sentiria culpada ao falar sobre a noite de núpcias para ela.
— Esse tipo de coisa… pode esperar um pouco… — Não me sentia confortável falando sobre isso abertamente, mesmo se estivéssemos sozinhos. — Mas também não acho que ela seja jovem demais para se casar.
Quero dizer, até garotas com menos de dez anos às vezes eram entregues em casamentos políticos. Na história da família real, até mesmo crianças de sete e oito anos acabaram se casando. Mas o casamento, por si só, era um assunto independente de… todo o resto.
— Ora, olha só quem está ficando nervoso!
— Eu esperava que você não notasse.
— Suponho que isso seja reconfortante. — Seraphina se aproximou de mim. — Vou deixar que ela seja a sua esposa oficial, mas lembre-se que sou eu quem mais se preocupa com você, querido… — Seu olhar parecia um pouco preocupado. — Se eu pudesse fazer do meu jeito, não deixaria ninguém mais ter você. Nem a Senhorita Laviala, nem Fleur, nem qualquer outra mulher. Mas sou boa demais para reclamar dessas coisinhas.
— Eu sei disso melhor do que qualquer pessoa no mundo. Você é realmente esperta.
Seraphina poderia manter as decisões políticas separadas de seus sentimentos. Dito isso, ela não poderia ficar feliz ao ser rebaixada.
— Então, para evitar que eu fique chateada em momentos como este, certifique-se de me amar.
Para ajudar a tranquilizá-la, puxei Seraphina para o meu peito e corri meus dedos por seu cabelo preto.
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Pedi a Laviala e Kelara que me dissessem a coisa mais importante que eu deveria fazer como regente. Ambas receberam terras e títulos honorários assim que me tornei regente.
— Acho que é o desenvolvimento de recursos humanos — disse Laviala.
— Agora você tem mais terras para administrar. Há um limite para a delegação de conselheiros como magistrados ou governadores — acrescentou Kelara. — Acho que você talvez deva tentar encontrar mais pessoas que possa usar.
As suas opiniões eram basicamente as mesmas. Eu já tinha perguntado anteriormente a Kelara, então sabia muito bem a resposta dela, mas parecia que Laviala tinha uma visão semelhante.
— Certo. Irei promover cada vez mais os melhores dos nossos. Claro, formalmente estarão servindo à família real, mas que seja.
Um regente era, em última análise, um assistente do rei. Dominar a jurisdição da família real descaradamente desde o primeiro dia não seria muito digno de confiança.
— Posso oferecer uma sugestão? — falou Kelara. — Em relação ao governo das cidades, acho que se usasse os mercadores dessas cidades como burocratas, o conhecimento da terra deles tornaria as coisas mais eficientes. Claro, há o risco de que digam apenas o que beneficia os comerciantes.
— Verdade. Se houver alguém bom em finanças como Fanneria, gostaria de usar tal pessoa. E também continuo precisando de soldados, mas, de qualquer forma, seriam muito inúteis se não fizessem as coisas como eu quero. — Eu estava confiante de que minhas tropas eram as mais disciplinadas de todo o país. No entanto, não era possível controlar todo o reino com seus números atuais. Mesmo se eu conseguisse recrutas suficientes, a gentalha extra faria com que a qualidade decaísse se eu não fizesse mais nada. Precisaria transformá-los em soldados adequados. — De qualquer forma, ainda preciso de burocratas.
Desta vez, foi Laviala quem levantou a mão. Embora, por alguma razão, lançou um olhar feroz para Kelara. Havia algum tipo de rivalidade presente…?
— Será que não pode usar um sacerdote? Homens do clero também são muito bem informados.
— Faz sentido. Essa não é uma má ideia. — Primeiro, as pessoas precisavam ser alfabetizadas para serem boas em administrar dinheiro e negociar. Os sacerdotes já sabiam fazer isso, mas… — Os templos também têm seitas diferentes… Seria perigoso se não os administrássemos bem…
— Bem, por que você não tenta dar um kakyo?
Oda Nobunaga disse algo estranho.
O que é um kakyo? Não faço ideia do que você está falando.
— Simplificando, é um teste escrito. Você promove aqueles que o completam com boas pontuações. Não que eu já tenha feito isso; era um método usado em um país do outro lado do mar. Se der certo, você poderá criar uma burocracia diretamente ligada a você. Não posso garantir que funcionará, é claro.
Huh, isso pode ser interessante.
Se fossem apenas pontuações de testes, não tinha nada a ver com conexões pessoais. Eu seria capaz de dizer quem era realmente o mais capaz, ou pelo menos quem era bom em testes. Além disso, poderia conseguir algumas boas ideias colocando na última pergunta algo como “Qual política você sugeriria?”
— Vocês duas… tenho uma ideia. — As ideias da minha profissão eram basicamente minhas. — Vamos fazer um teste na capital e escolher uma parcela dos burocratas com base nos resultados. Qualquer pessoa que quiser pode participar. As perguntas envolverão escrituras famosas e finanças. Talvez possamos testar conhecimentos de geografia e história, e até mesmo familiaridade com os clássicos enquanto fazemos isso.
— Hein…? Um teste…?! Isso soa como uma universidade… — Laviala ficou de boca aberta.
Talvez fosse. Esse teste, ao menos, seria algo inédito. Mas não para os oficiais.
— É um método bastante incomum… Sem qualquer precedente, é difícil dizer… — Kelara parecia confusa com algo tão pouco ortodoxo. De qualquer forma, eu criaria um novo sistema político.
— Vou fazer isso. A nobreza só é nobreza graças à hereditariedade, então, de qualquer forma, não posso confiar em burocratas dela, mas se eu descobrir que alguém deles é excepcionalmente inteligente, posso acabar usando-o.
Assim, por minha vontade, o concurso público nasceu.
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Disseram-me que houve uma grande agitação quando o concurso público foi anunciado nos quadros de avisos da cidade. Ter qualquer pessoa podendo se tornar burocrata, desde que obtivesse uma boa pontuação em um teste, era uma ideia incomum. Naturalmente, pessoas de nascimento muito humilde não tinham tantas oportunidades educacionais, então seria difícil para elas se qualificarem. Mas sacerdotes ou outras pessoas em situação semelhante talvez ainda poderiam se tornar burocratas, desde que fossem inteligentes, mesmo sendo de classes baixas.
Por outro lado, surgiram reclamações de pequenos proprietários de terras da periferia da capital, que em sua maioria herdaram seus cargos como burocratas ou outros tipos de profissionais.
Respondi às suas reclamações da seguinte forma: “Se você se sair bem no exame, não terei problemas para contratá-lo. Fico ansioso pelo seu sucesso.”
Manter pessoal qualificado apenas com a sucessão hereditária era difícil. A meritocracia absoluta apresentaria seus próprios desafios, mas a quantidade adequada de mobilidade social deve servir para energizar uma sociedade.
Na verdade, meus próprios vassalos eram uma mistura de diferentes áreas. Eu não tinha quase nenhum dos vassalos mais antigos do clã Nayvil, e com bons motivos – porque não havia muitos vassalos no minúsculo território original dos Nayvils, para começar. Meu território passou por uma expansão explosiva, então não tive escolhas a não ser absorver muitas pessoas diferentes.
— Você acha mesmo que isso vai dar certo…? — perguntou-me ansiosamente o novo rei, Hasse. Ele não queria que eu fizesse nada muito peculiar; e eu poderia simpatizar com isso.
— Sua Majestade, os reis da capital foram expulsos de novo e de novo. A razão para isso é que eles eram muito dependentes do sistema existente. Caíram nas mãos dos inimigos porque aquele sistema era defeituoso.
— Entendo… Você pode estar certo…
— Portanto, primeiro precisamos peneirar e encontrar as pessoas mais capazes. Em termos extremos, os canalhas que falam de tudo pelas costas, mas são bons em seu trabalho, serviriam muito melhor a você do que os canalhas que apenas afirmam ser leais.
— Pensar em usar alguém que pode te apunhalar pelas costas em qualquer…
— Se todos os que estão servindo você forem sinceros sobre a sua lealdade, acho que teriam vindo para o seu lado quando você vivia em reclusão.
Hasse ficou em silêncio.
Essa era a sua resposta. Afinal, a maioria dos lordes havia abandonado a família real e aqueles que não ousaram abandonar a família, não tinham qualquer intenção verdadeira de ficar ao lado daqueles que perderam seus postos.
— Vou fazer a área da capital florescer… disso você pode ter certeza. Essa é a verdadeira maneira de evitar que as forças do ex-rei se desenvolvam. — Sempre fiz questão de lembrar a Hasse que tudo o que eu fazia era para ele.
— Muito bem. Além disso, sobre os planos do casamento…
— Sim, isso também está andando sem problemas.
As professoras de Lumie eram outras mulheres: Kelara para os fins acadêmicos e Seraphina para a tutela geral. Lumie mostrava a cara de vez em quando, mas parecia se dedicar bastante aos estudos.
Houve uma época em que ela ficava lendo textos antigos incessantemente.
— Sua Excelência, quero alguns livros dos clássicos, mas eles parecem poucos e distantes entre si. Você conheceria algum?
Essa foi uma pergunta bastante específica. Eu nunca tinha lido nenhum desses livros.
— Princesa Lumie é verdadeiramente notável. Ela recebeu uma base muito boa no convento. — Kelara parecia bastante impressionada, por sua vez.
— A Princesa Lumie leva tudo a sério, então ela aprende rápido — concordou Seraphina, sentada ao meu lado. — Ela ainda é um pouco ingênua, mas vou cuidar disso. Vou torná-la uma esposa da qual você poderá se orgulhar, querido.
— Certo. Irei esperar ansiosamente por isso.
Seraphina realmente nunca me decepcionou.
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Três meses se passaram.
Lumie e eu tivemos nossa cerimônia de casamento. Como se tratava de um casamento entre a irmã do rei e seu regente, lordes e sacerdotes de todo o reino visitaram. Os lordes rurais, em particular, poderiam ter temido ser tachados de inimigos se não aparecessem para comemorar.
Antes da cerimônia, me encontrei novamente com Lumie, agora toda arrumada.
— Ah, Sua Excelência. Ou melhor, talvez a partir de hoje eu deva te chamar de querido.
Todas as flores do jardim do palácio teriam vergonha de mostrar o rosto ao ver a linda jovem que estava diante de mim. Com sua tiara cheia de joias, estava adornada com luxo – mas nada nela era exagerado; era tudo de muito bom gosto.
— Isso é estranho. Achei que você fosse alguém um pouco mais infantil; mal posso acreditar que se tornou uma jovem lady tão boa.
— Eu aprendi muito com Lady Seraphina e a Senhorita Kelara. Qualquer refinamento que eu possa possuir é graças ao esforço delas. — Lumie sorriu.
— Agora estou com problemas. Se você continuar tão bonita assim, serei alvo da inveja dos outros vassalos do rei.
— Você me lisonjeia, senhor. Me esforcei muito para ser boa o suficiente para você. Sou eu quem sou vergonhosamente pouco instruída.
Seraphina estava sorrindo atrás dela, como se perguntasse: Como ela está? Fiz um bom trabalho, não fiz?
Minha influência na capital agora é muito maior. Mais do que tudo, porém, só quero agradecer aos deuses por ter me casado com uma garota tão linda.
— Você também poderia me agradecer. Se não fosse por mim, poderia ter continuado sendo o irmão mais novo de um lorde mesquinho.
Você precisa mesmo interromper agora? Mas, sim, eu sei, também sou grato a você.
Entretanto, talvez fosse um pouco estranho eu agradecer aos deuses.
— Bem, podemos ir, Lumie? — Peguei em sua mão.
— Sim, querido. Serei uma boa esposa.
Caminhei lentamente em direção ao sacerdote oficiante.
Em um casamento formal, o casal deveria trocar um beijo, e o sacerdote nos disse para fazê-lo.
— Estou tão feliz, querido.
— Prometo te fazer feliz. Este beijo é a prova do meu voto.
No instante em que nos beijamos, fui ligado à família real pelo casamento. Fiquei um passo mais perto do poder e da influência de um rei.
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Muitos mais participantes compareceram ao concurso público do que eu planejava.
Despachei estudiosos para servirem como supervisores no local do teste; sempre havia a chance de haver alguns trapaceiros entre os candidatos. Os testes para se tornar estudiosos já estavam sendo feitos na capital, então o formato do nosso exame foi baseado nesse formato. No entanto, com o número de examinados literalmente assumindo uma ordem de magnitude maior do que o esperado, tivemos que adicionar mais locais de teste.
No dia do teste, inspecionei os locais junto com Kelara e Laviala. Havia um garoto balançando a caneta sobre o nariz enquanto pensava, e até mesmo um velho todo esfarrapado que parecia uma espécie de sábio despreocupado.
— Todos eles parecem estar com dificuldades — comentou Laviala.
— Essas são as questões do exame, aliás. Acha que pode resolvê-los, Laviala? — perguntei.
Ela logo pareceu perplexa.
— Não sei nada disso…
— Que bom que você começou como minha vassala. Você teria dificuldades para ser contratada. — Claro, quando Laviala mostrasse sua destreza com o arco, eu provavelmente a contrataria, de qualquer forma.
— Será que alguém saberia as respostas para isso, Senhorita Kelara? — perguntou Laviala, suspirando.
Com a expressão indiferente, Kelara pegou a folha de perguntas oferecida por Laviala.
— Minha memória falha em algumas partes, mas acho que provavelmente poderia responder setenta por cento. — Kelara nunca tentou se gabar, então 70% era provavelmente a sua opinião honesta.
— Setenta por cento… Você é um gênio… — disse Laviala, desanimada. — Lorde Alsrod, agora você ficará desapontado comigo…
— Não, não ficarei. Pare de se preocupar. Algumas das tropas da minha guarda não conseguem nem ler direito. Cada um se adequa a um trabalho.
— Isso mesmo. Além disso, Senhorita Laviala, você também é bastante esperta. Isso é exatamente o que sempre me ensinaram, então é o meu ponto forte.
Afinal, os vassalos próximos da família real precisavam ser cultos. Se alguém realmente rude estivesse servindo ao rei, a própria dignidade real seria questionada.
— Suponho que isso seja reconfortante. Ainda assim, me pergunto quantas pessoas poderiam realmente resolver problemas tão difíceis quanto esses. Não consigo imaginar uma ou duas mil pessoas sendo capazes de fazer isso.
— Não preciso de dois mil novos funcionários, então está tudo bem. Cinquenta seriam excelentes para esta primeira rodada.
Quando pessoas completamente sem instrução se tornaram burocratas, isso costuma causar conflito com as pessoas que estavam sendo governadas. Ter alguns conhecimentos fundamentais também tornava o trabalho mais tranquilo, desde o começo.
— Verdade absoluta. Além disso, a classe de comerciantes está muito bem recentemente, então agora há mais pessoas estudando coisas como os clássicos, em vez de apenas economia. Muitos também estão enviando seus filhos para a universidade.
— As coisas são muito mais fáceis quando você sempre sabe o que quero dizer, Kelara. — Ela estava certa. Agora, eu escolheria as pessoas qualificadas das classes que antes estavam distante da burocracia e as colocaria sob meu controle – bem, tecnicamente sob o controle do rei. — Afinal, um país não pode ser governado apenas com soldados. Você definitivamente precisa de uma classe burocrata. Esta será a primeira etapa na criação dessa classe. Caso contrário, será um problema quando chegar a hora de construir um reino.
Minha voz ficou um pouco mais forte quando eu disse as palavras construir reino. Algum dia eu construiria um reino do qual seria o líder. Na verdade, se eu não chegasse tão longe, eu não teria futuro. O clã Nayvil, pelo menos, não teria futuro.
Mesmo no passado, lordes que não garantiam sua autoridade haviam desaparecido após serem assassinados ou cair nas mãos de rebeldes. Tornar-se poderoso demais atraíra muitos inimigos.
Por outro lado, mesmo que a dinastia da minha época tivesse que pedir emprestada a força de grupos militares ou lordes poderosos, ela sobrevivera por muito tempo. Isso porque o primeiro rei havia trabalhado sem descanso para estabelecer fundações claras para o reino.
Se eu continuasse como regente, eventualmente acabaria perdendo a posição para alguém que tentasse me derrubar. E mesmo que nenhum problema surgisse enquanto eu estava vivo, quem sabia sobre meus herdeiros?
— Bem pensado. Mesmo em meu mundo, às vezes havia rebeliões repentinas após a sucessão. Afinal, é um momento de vulnerabilidade. Quando Qin Shi Huang morreu, seu reino parou de funcionar. Até mesmo o clã Taira poderia ter sido capaz de continuar lutando um pouco mais se Kiyomori tivesse vivido por mais dez anos.
Você ainda insiste em usar palavras que não entendo, mas definitivamente sei o que quer dizer.
Meus filhos ainda eram pequenos, mas eu também poderia tentar deixar as coisas em uma condição estável para eles.
— Lorde Alsrod, você parece estar especialmente distante hoje — apontou Laviala. — Parece que você está pensando em coisas a décadas de distância.
— Isso é porque eu estava, na verdade.
Laviala deixou escapar um despreocupado “Uau…” e disse:
— É bem difícil ser regente, hein?
Entretanto, mesmo se eu não fosse regente, ainda estaria pensando bastante. Fosse isso realístico ou não, todos os lordes pensam nisso em algum momento – o quanto gostariam de criar seu próprio reino. Já que a chance estava ao meu alcance, teria que fazer bom uso dela.
Os resultados do teste foram divulgados dois dias após a realização.
De cerca de 850 pessoas, trinta e oito pontuaram mais de 70 por cento. Esse era um número perfeito para o momento. Para um segundo teste, eu os entrevistei. Como regente, compareci a todas as entrevistas. Também chamei pessoas como Kelara e meu diretor financeiro, Fanneria, para cuidar do que eu não sabia.
— O que você acha que deve ser feito para tornar o reino próspero? Você não será punido por nada que diga, então responda como quiser. — Eu queria perguntar algo abstrato.
Obtive uma variedade de respostas, mas decidi aprovar aquelas que pudessem expressar as opiniões com clareza, independentemente da validade das mesmas. Entre os candidatos estava alguém que respondeu: “Você pode vencer a guerra usando a arma que criei. Isso também serve para caça.”
Era um homem de meia-idade com barba e olhos ferozes. Parecia mais um engenheiro do que um estudioso. Alguém inventando uma nova arma de cerco não seria muito surpreendente.
Verifiquei o seu nome duas vezes: Ortonba. É um nome estranho, pensei, e depois percebi: Ah, ele é um anão. Afinal, era bem baixo. Muitos anões eram baixos, mesmo quando adultos. Kelara era bastante alta, talvez porque tivesse uma ancestralidade mais variada.
— Que tipo de arma seria essa? — perguntei.
— Senhor, isso é chamado de arma ou arma de fogo. Usando o poder da pólvora, arremessa uma pequena bola de um tubo de metal, atingindo o inimigo.
— Qual a diferença para um arco?
— É completamente diferente, senhor. Quase nunca sofre efeito do vento e é extremamente mortal. Acredito que levaria muito menos tempo para treinar alguém com isso se levar em comparação com o arco. No entanto, não funciona quando se molha, por isso é menos eficaz na chuva.
As orelhas de lobo de Fanneria se contraíram. Seus sentidos de comerciante talvez tivessem sentido o cheiro do lucro.
— Meu nome é Fanneria. Esta arma… por que você decidiu criá-la?
— A aldeia de anões onde moro costuma ser invadida por bandidos. Geralmente podemos expulsá-los, mas é difícil, já que apenas os homens ficam de guarda à noite. Portanto, eu me perguntei se poderia criar uma arma que pudesse ser empunhada até por mulheres e crianças — explicou Ortonba. — Sou ferreiro de profissão e, em minha aldeia, há muito uso de pólvora para advertências ou ataques. A pólvora é eficiente para o trabalho na montanha, sabe. Então me perguntei se não poderia fazer algo com ela.
Até eu fiquei curioso.
— Isso não deu nada certo no começo. E inclusive quase morri em uma explosão. Mas parece que minha profissão é bastante adequada para isso, já que o desenvolvimento passou por um grande progresso.
A palavra profissão não passou despercebida.
— Espere. Qual é a sua profissão?
— Então, é bem única, então você pode não acreditar em mim, mas… é chamada Kunitomo Shuu. Parece ser relacionada à ferraria.
— Ele disse Kunitomo Shuu?!
O conquistador em minha mente estava gritando.
Ei, você sabe algo sobre isso, Nobunaga?
— Kunitomo era a terra dos armeiros. Em essência, era onde as armas eram feitas.
Então você também tinha essas “armas” no seu mundo. Elas eram poderosas?
— Você poderia falar isso. Certa vez, aniquilei um regimento de cavalaria inteiro com elas. A cavalaria é incapaz de lutar sem se aproximar. Então, a destruí aos poucos com as armas. Mesmo as armaduras não os salvaram. Também matei vários dos generais deles.
Você devia ter me falado sobre isso antes… Vamos lá…
— Mesmo se eu contasse, não sei o bastante sobre como as fazer. De qualquer forma, seria impossível transmitir tudo por meio verbal. Não é como montar uma escada, sabe.
Acho que é verdade. Se alguém me dissesse para fazer uma espada sozinho, não sei se eu conseguiria.
— Muito bem. Ortonba, você está contratado. No entanto, estou mais interessado nessas armas do que em torná-lo um burocrata. Mostre-nos o que você sabe.
— Com certeza. Bem, este talvez seja um pedido estranho para se fazer agora, mas será que posso conseguir uma pessoa mais respeitável como cobradora de impostos para a minha aldeia…? Ele é um sujeito bastante inescrupuloso; toda vez que aparece para cobrar os impostos, exige que façamos uma festa, e isso é um fardo não muito diferente de outro imposto para todos nós…
— De acordo. Se seu trabalho for bom o suficiente, vou até reduzir o imposto da sua aldeia pela metade. Da próxima vez, me traga uma dessas “armas de fogo”.
Depois que Ortonba saiu, eu não conseguia parar de sorrir.
— Com uma população tão grande, não é de admirar que a capital tenha algumas profissões incomuns.
— Na verdade, minha profissão de Akechi Mitsuhide também é bastante incomum, então senti uma espécie de afinidade com ele. — Kelara parecia totalmente séria, mas apenas porque ainda estava com sua “cara de trabalho”.
As entrevistas foram divididas em etapas por alguns dias, então, após as entrevistas do dia seguinte serem concluídas, Ortonba retornou. O que segurava era, de fato, um tubo de metal. Ele disse para usarmos alvos de tiro com arco, então na mesma hora o levei até o campo de treino ao ar livre mais próximo.
— Hoje o sol está bom, então acredito que deve correr tudo bem.
— Certo. Mostre-me o que essa coisa pode fazer.
O coloquei na mesma distância que um arqueiro normal ficaria. Ortonba disse que poderia acertar o alvo mesmo de mais longe, mas usar a mesma distância que para os arcos tornaria a diferença mais perceptível.
— Eu sou apenas um ferreiro, então minha pontaria não é a melhor, mas… mesmo assim, a esta distância, é impossível errar. — Acendendo o pavio que ficava na parte de trás, Ortonba apontou o tubo para o alvo. — Ah, certo, certo… Haverá um barulho alto, então você pode querer colocar os…
Baaaaang!
Antes que ele terminasse de falar, soou um estalo penetrante. O barulho reverberou como um zumbido estranho no fundo dos meus ouvidos. O som era tão alto que os frequentadores do templo poderiam confundi-lo com algum tipo de diabrura. Algumas pessoas até caíram de medo.
O que era realmente importante, entretanto, eram seus resultados. Na borda do alvo havia um buraco do tamanho do meu polegar. Quando um soldado foi verificar, uma bola pontiaguda ficou presa na terra dura atrás daquilo.
— O que acha? Isso pode facilmente causar um ferimento mortal dentro de até o dobro dessa distância. Podem usar isso até contra uma armadura, se quiserem. Se ela não for espessa demais, o tiro vai furar ela.
— Ortonba, a partir deste ano, sua aldeia pode pagar apenas metade do imposto — declarei ali mesmo.
Se esse fosse o preço para colocar minhas mãos nesta arma, seria uma pechincha.
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Mandei Ortonba fabricar e melhorar suas armas de fogo. Pedi para que as melhorasse de acordo com a ideia que Oda Nobunaga deu.
— Sem dúvida, são armas de fogo autênticas, mas sua eficiência precisa de algum aprimoramento. Quando a ponta do pavio e a bala ficam separadas desse jeito, acaba sendo só uma etapa extra para o processo.
Se está falando sobre isso, então conte tudo, pensei, mas meu trabalho sempre foi avarento.
— Deixe aquela criatura anã pensar no resto. Não estou exatamente familiarizado com todos os detalhes do processo, sabe. Além disso, este mundo tem um outro conceito que vocês chamam de magia.
Eh, reclamar muito estava ficando chato, então eu encerraria as coisas por aí. De qualquer forma, não havia qualquer problema com o atual estado das armas.
E então, assim que a discussão sobre Ortonba foi encerrada, recebi uma mensagem em minha mente:
Habilidade Especial: Conhecimento do Conquistador subiu de nível! Além de seu senso econômico relacionado à cidade e ao comércio ser como o de Oda Nobunaga, você pode identificar pessoas com habilidades especiais. Contanto que não esteja intoxicado e sua mente não esteja de alguma forma turva, isso fica sempre ativo.
Isso é bom, mas ter conseguido antes das entrevistas seria ainda melhor. Então eu logo perceberia quem tinha o talento certo.
— Você está confuso sobre o que e quando deve acontecer. Estou retroativamente reconhecendo que você mostrou que possui o que é preciso para receber isso. Se tivesse vivido a sua vida sem fazer nada, não teria adquirido novas habilidades, mesmo comigo como a sua profissão.
Entendo… então você está falando que preciso ganhar experiência para receber melhorias.
É claro que se as pessoas obtivessem essas habilidades malucas apenas por receber uma profissão, os livros de história pareceriam ridículos. Seria um verdadeiro aborrecimento se a cada par de anos algum camponês com potencial de herói aparecesse e causasse uma rebelião.
De qualquer forma, agora não devo ignorar os talentos incomuns de ninguém. Era fácil identificar as pessoas de alto escalão, mas podem existir gênios escondidos entre os plebeus – diamantes brutos. Em particular, fazendo testes como os que acabei de fazer, posso contratar pessoas de baixa reputação. Se houvesse algum grande empreendedor no meio que pudesse derrubar os valores da nobreza, eu definitivamente queria encontrá-lo.
E assim continuamos com as próximas entrevistas.
Já que com o primeiro teste eu tinha diminuído o alcance das coisas, tentar escolher o maior talento do pote atual era realmente complicado. Afinal, se ainda estavam na disputa, esses candidatos deviam ter algum cérebro.
E então, chegou a terceira pessoa daquele dia.
— Meu nome é Yanhaan Grantrix — disse uma dragonata em um ritmo vagaroso. Só com isso, a atmosfera ficou de alguma forma serena.
— Realizar um exame na capital realmente atrai uma variedade de raças diferentes. Ouvi dizer que dragonatos vêm de terras distantes a oeste, mas pareço me lembrar de que você nem mesmo é originária deste continente, não é?
— Sim. Vim para esta terra há setenta e seis anos e comecei a comercializar medicamentos. Expandi meu negócio para a capital e agora tenho seis lojas pelo continente.
Parecia que ela ainda estava na casa dos vinte anos, mas diziam que dragonatos viviam por muito tempo, assim como os elfos, então isso provavelmente explicava sua aparência jovem.
— Já que você passou no teste, deve saber muito sobre os velhos costumes. Então, por que quer ser uma burocrata?
— Beeem, eu queria tentar algo novo durante minha longa vida. — Ela era muito tranquila, nem parecia que era uma entrevista, devia se tratar de uma boa vendedora. Eu não seria enganado pelas aparências. — Além disso, quero divulgar minha filosofia do chá.
— “Filosofia do chá”? — Esta mulher diz coisas estranhas, pensei. Mas então, os olhos de Yanhaan Grantrix – eu não conseguia nem dizer para onde eles estavam olhando – se arregalaram. Dragonatos tinham pupilas grandes e eu podia sentir algo como confiança e determinação por trás delas.
De repente meu corpo estremeceu.
Habilidade Especial: Conhecimento do Conquistador descobriu um talento raro!
Tipo: Habilidade técnica especial
Interessante… Então, essa habilidade fortalece a minha própria intuição.
— O chá não tem algo a ver com conversas entre amigos e colegas? Você prepara alguns lanches, relaxa e conversa depois do almoço ou depois da ceia.
— Eu também acho esse tipo de chá bom. Maaaaaas, isso não tem alma. Isso é só conversa fiada.
Meu diretor financeiro, Fanneria, parecia um pouco irritado, o que era raro para ele.
— Devo dizer que estou muito descontente com suas tentativas de soprar fumaça na cara de Sua Excelência.
Eles não pareciam ser compatíveis, embora ambos fossem comerciantes.
— Eu não tenho tais intenções. Estou perfeitamente séria. O chá fornece tempo para a pessoa aquietar a mente e confrontar seu eu interior.
— Nesse caso, gostaria que fosse mais específica. Se você é uma comerciante, deve parar de falar sobre a alma e outras ideias mal definidas.
Portanto, da perspectiva de Fanneria, não se podia confiar nas pessoas que falavam de ambiguidades. E, no final das contas, seria difícil trabalhar com alguém em quem não se confia.
— Falar sobre isso seria impossível — respondeu Yanhaan. — Pois a alma não é algo que possa ser descrito em palavras.
As orelhas de lobo de Fanneria se ergueram e ele parecia irritado.
— Sua Excelência, esta comerciante é altamente suspeita. Acho que seria melhor não confiar em alguém como ela.
— Ora, ora, espere um pouco. — Levantei minha mão para Fanneria. — Yanhaan, você recebeu algum tipo de profissão incomum?
— Você é muito perceptivo. — Yanhaan voltou à sua vibração relaxada. — Vim de outro continente, por isso assumi a profissão muito tempo depois de atingir a maioridade; na verdade, foi há apenas vinte anos.
Então isso quer dizer que ela já era adulta?
— Ainda não entendo muito bem, mas minha profissão é Sen no Rikyuu. Me pergunto que idioma é esse.
Yanhaan não parecia estar fingindo ignorância. Eu também não sabia que tipo de profissão era, mas imaginei que fosse semelhante à que Kelara e eu tínhamos.
— Haaa-ha-ha-ha-ha-ha! Entendo, então há até uma Rikyuu! Acho que descobri as “profissões” deste mundo.
Então você reconhece o nome?
— Parece que, neste mundo, as pessoas do meu tempo servem como profissões. Não sei como isso funciona, mas não há um Kuukai ou um Príncipe Shoutoku por aqui, então deve ser isso. Pode ser que o Macaco, Shingen e muitos outros também apareçam.
Macaco era um nome de profissão bizarro; o que diabos era isso? Seu mundo talvez tivesse um tipo de deus macaco.
— Só por curiosidade, esse Sen no Rikyuu já falou com você alguma vez dentro da sua mente?
— Nunca notei isso acontecendo. Maaaas, por alguma razão sinto que essa profissão misteriosa fala comigo. “Vá. Fale ao mundo sobre o chá”, diz ela.
Fanneria voltou a franzir o cenho graças à imprecisão. Kelara, por outro lado, permaneceu sem expressão enquanto ouvia, então eu não tinha certeza de como ela se sentia.
— Muito bem — falei. — Gostaria que você me ensinasse sobre a alma do chá, assim como você chama. O que precisamos preparar?
— Se você vier até minha residência com suas roupas do dia a dia, vou te mostrar. Mas suponho que, para um regente como você, isso ainda seria bem chique.
— Er… Sua Excelência, isso pode ser um ataque surpresa. Não posso recomendar que vá…
— Fanneria, eu sei uma ou outra coisa sobre espadas. Além disso, se Laviala também estiver lá, ela vai me proteger.
De qualquer forma, não seria possível descartar uma ideia antes mesmo de a provar.
Antes do dia combinado, pedi aos rappas que investigassem Yanhaan e o chá que ela estava tentando popularizar. Aumentei meu número de rappas, para que pudesse usá-los inclusive para esse tipo de tarefa. O que eu usava nas cidades estavam mais para uma força auxiliar que não tinha muito treinamento militar.
Yadoriggy veio até meu quarto, no segundo andar, para fazer o seu relato. Quando eu deixava a janela aberta, ela poderia entrar subindo pela parede.
— Hoje você é uma serva, hein? — falei.
Ela estava vestida como uma das criadas que trabalhavam no castelo. Suas orelhas de lobo estavam visíveis, mas havia outras criadas lobisomem, então isso não era muito incomum. Ainda assim, eu odiaria lidar com uma serva com olhos tão perversos.
Yadoriggy não respondeu. “Fale,” disse a ela, percebendo que ainda não tinha dado permissão. Se ela fosse capturada, caso eu não desse a ordem, como seu mestre, provavelmente manteria a boca fechada até morrer.
— Parecer fraca ou de baixa posição é fundamental. Se o seu oponente te despreza, você pode tirar vantagem — explicou Yadoriggy, sempre ajoelhada e com a cabeça baixa.
— Não me importo com essa linha de pensamento. Bem, descobriu alguma coisa? E você pode levantar a cabeça. Vocês, espiões, são bem meticulosos em tudo, até nos modos.
Com um rápido “Como desejar”, Yadoriggy sentou-se na cama. Dali, ela tinha uma boa visão do quarto. Ela devia querer um bom local para poder lidar com qualquer intruso.
— Yanhaan organizou muitas festas do chá que ela chama de “cerimônias do chá”. Por causa da sua posição, parece ter se tornado bastante popular entre os comerciantes. E, inclusive, vários burocratas do ex-rei aderiram a isso.
— Então isso é mesmo um evento social. — Nesse caso, não era muito diferente de qualquer outra festa do chá.
— Na verdade, é um evento extremamente cerimonial, onde o anfitrião e um convidado tomam o chá um de frente ao outro em uma sala extraordinariamente pequena. A sala é uma coisa estranha por si só, parece que é feita apenas para a cerimônia do chá.
— Huh. Yanhaan mencionou algumas ideias religiosas.
— Falando nisso, parece que você não acredita em religião, Sua Excelência? — Yadoriggy estranhamente me fez uma pergunta por conta própria.
— Não posso afirmar com certeza, mas acho que o poder da minha profissão vai enfraquecer se eu me dedicar a uma crença particular.
— Sim, senhor. No entanto, existe o risco de que a Catedral de Orsent se volte contra você caso descubram que você não os apoia, portanto, esteja ciente disso.
A Catedral de Orsent era a verdadeira governante da Prefeitura de Fortoeste, e indiscutivelmente a maior potência na área da capital.
— Vou manter isso em mente. Além disso, como estão as verificações de antecedentes dos burocratas preexistentes?
— Muito bem — respondeu Yadoriggy, balançando a cabeça. — Como pensávamos, alguns parecem ainda estar ao lado do ex-rei.
Ter uma lista de pessoas com conexões com o rei anterior era altamente conveniente. Dito isso, alguns provavelmente estavam apenas tentando jogar dos dois lados, ao invés de se incluírem de verdade na facção do ex-rei.
— Bem, quanto à cerimônia do chá de Yanhaan, não saberei a verdade se não conferir. Isso é tudo que tenho para discutir por hoje, mas… — Um desejo repentino tomou conta de mim, e cedi. Aproximei-me e coloquei a mão no ombro de Yadoriggy. — Os rappas são bem versados nas maneiras de agradar um homem?
— Certamente devem haver muitas mulheres mais bonitas do que eu.
A total indiferença de Yadoriggy só me fez desejá-la ainda mais.
— Se você não se vê como bonita, não sabe muito sobre si mesma.
— Então estou nas suas mãos. Qual é o seu desejo?
— Bem, isso é difícil de dizer, mas há algumas coisas que não posso pedir para Seraphina ou Laviala fazer.
Yadoriggy fez um pequeno aceno de cabeça.
— Não me importo, mas como sou sempre tão estoica, você pode ficar desapontado.
— Nunca se sabe até tentar. — Tirei a roupa de criada de Yadoriggy. Seu corpo nu estava tão coberto de cicatrizes que me perguntei se meu toque a machucaria. — Me sinto como um médico. Ou talvez um torturador.
— Todos os ferimentos são superficiais. Tenho que forçar meu caminho através de espaços estreitos, então são na maioria cortes por causa disso. Embora uma vez eu tenha sido torturada, quando pensaram que eu era suspeita.
Assim como dissera, Yadoriggy permaneceu estoica mesmo quando a toquei, e enquanto isso ela começou a me acariciar. Eu poderia dizer, na mesma hora, que essa mulher tinha levado uma vida completamente diferente das minhas esposas.
Assim que terminamos, Yadoriggy perguntou estoicamente: “Como foi?” Seu corpo flexível estava sentado na cama. Ela era tão magra que me perguntei como podia lidar com as missões violentas dos rappas.
— Sabe, — respondi — ser o brinquedo de uma mulher é muito bom.
Eu estava completamente em alerta com a brisa noturna que entrava. Já que, de qualquer forma, não conseguia dormir, poderia muito bem cuidar de mais um negocinho.
Logo entrei em meu primeiro grande empreendimento desde que me tornei regente. A cerimônia do chá seria minha diversão de entrada.
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Levei Laviala comigo para a cerimônia do chá, junto com alguns outros oficiais militares de meus vassalos mais importantes. Além disso, como Kelara aparentemente havia provado a cerimônia do chá enquanto morava na capital, já sabia o que estava fazendo assim que entramos na residência de Yanhaan. Teria sido bom se ela tivesse mencionado isso antes.
Yanhaan já estava esperando na sala de cerimônia, onde aparentemente deveríamos entrar um por um. Quando tentei entrar, seu servo me explicou:
— Espadas, facas e todas as outras armas e armaduras devem ser colocadas de lado antes de entrar, conforme o costume.
— É muito perigoso para você entrar desarmado… ainda nem mesmo contratou essa pessoa! — reclamou Laviala por trás de mim. Isso era o que ela precisava dizer, pois era esse o seu trabalho. Essa mulher era como uma esposa e uma irmã para mim. E isso nunca mudaria. Entretanto, se escutaria o que falava, era outra conversa.
— Vou fazer o que me foi dito — respondi. — Além disso, tenho certeza de que Yanhaan também não quer perder a vida.
Muitas pessoas que me serviam também tinham ido à residência. Se eu morresse, nenhuma alma da família de Yanhaan sobreviveria. Naturalmente, fiz com que os rappas também conduzissem uma verificação básica de antecedentes sobre ela. Não havia sinal de que Yanhaan tivesse ligações com o ex-rei.
— Muito bem… Mas, por favor, fuja ao primeiro sinal de perigo…
— Fico feliz em ver que você continua tão leal como sempre.
— Você sempre mostrou a tendência de se jogar nas coisas por conta própria — respondeu Laviala, corando; talvez meu elogio tenha a pegado desprevenida.
— Não vou negar isso, mas você não é muito diferente. Você teria morrido se eu não tivesse te salvado daquela vez.
— Bem… eu estava apenas cumprindo o meu dever como vassala. Não foi grande coisa — disse Laviala, pensando claramente apenas em sua própria situação.
Enfim, é hora de ver do que se trata esta cerimônia do chá.
Fiquei perplexo ao abrir a porta. A sala em si era minúscula, apenas com cerca da largura da porta. Também não era muito comprida. Nem mesmo as prisões eram tão apertadas.
No centro da sala havia uma mesa encostada à parede que ocupava muito do espaço existente. Não se poderia chegar ao outro lado do lugar sem passar por baixo dela. De cada lado da mesa havia uma cadeira; Yanhaan estava sentada na outra extremidade. Quando nos conhecemos, ela foi muito cordial e calorosa; mas agora, tinha um tipo de força que se esperaria de um mestre em uma forma de arte.
— Bem-vindo. É um prazer te receber. Por favor, sente-se.
Um jogo de chá estava sobre a mesa. Como isso era chamado de cerimônia do chá, devia envolver a ingestão de chá. Sentei-me no assento que me foi oferecido.
— Que cômodo estranho. Pode até mesmo ser do mesmo tamanho que um confessionário. De qualquer forma, sentar para beber chá é tudo que se pode fazer.
— Sim, é exatamente isso. Na cerimônia do chá, usa-se o chá para temperar a alma, então ter muitas coisas à mão só atrapalharia.
Yanhaan despejou o que provavelmente era chá e estava no bule na xícara. Entretanto, a bebida tinha uma cor perturbadoramente verde. Era completamente diferente da cor âmbar de qualquer chá que eu já tinha visto.
— O que diabos é isso? Parece veneno…
— Se parece suspeito, será que devo beber primeiro?
— Não, está tudo bem. Tomar um antídoto preventivo deve bastar.
— Cerimônia do chá, hein? Nunca teria imaginado que alguém deste mundo servisse chá verde.
A julgar pela reação de Oda Nobunaga, eu poderia confiar nela. Levei o chá à boca. Fiel à sua cor, tinha um sabor único – amargo, mas também doce. Eu também não chamaria isso de desagradável.
— Por favor, acalme sua mente enquanto prova o chá. É uma porção feita apenas para esta cerimônia.
Fazendo o que minha anfitriã pediu, tomei o chá de sabor estranho.
Para meu choque, percebi que não conseguia ouvir mais nada.
Minha mente realmente ficou quieta. No entanto, embora apenas tivesse bebido chá, por algum motivo senti como se estivesse quase meditando, como se estivesse em um templo. Essa “cerimônia do chá” pode ser perfeita para se fazer antes de grandes decisões políticas. Com certeza influenciou a mente. Isso era diferente de qualquer chá que eu conhecia.
De repente, senti que algo estava me puxando… Não, eu estava realmente sendo puxado? Foi uma sensação bizarra, como se estivesse caindo em mim mesmo.
Talvez eu esteja realmente envenena…
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Quando acordei, estava deitado em um lugar estranho. Estranho, era a única maneira de descrever. Eu não tinha certeza se o piso branco puro era chão ou terra, e acima dele pairava uma névoa sem fim.
— Whoa, whoa… Se isso é a vida após a morte, eu não vou rir.
Talvez eu tenha ficado complacente depois de me tornar o regente. Laviala e meus outros oficiais provavelmente me vingariam, mas com meus filhos tão pequenos, o reino voltaria a entrar em desordem.
— Não é a vida após a morte, então sinta-se à vontade para rir.
Me virei ao ouvir a voz atrás de mim. Lá estava um homem estranho que parecia familiar, embora fosse nosso primeiro encontro. Sua aparência era tão semelhante à minha que era como se eu estivesse olhando para mim mesmo. Seu cabelo era preto, mas fora isso não era muito diferente de mim. Eu não tinha certeza de sua idade. Ele parecia muito mais velho do que eu, e ainda assim da mesma idade. Não consegui descobrir que tipo de roupa ele usava, mas estavam ousadamente decoradas. Sua posição devia ser bem elevada.
— Quem diabos é você? E onde diabos é isso? — perguntei enquanto me levantava.
— Quanta insolência. Mas suponho que não posso ficar muito chateado; você foi sempre assim. — O homem parecia realmente entretido. — Sou eu, o conquistador Oda Nobunaga. E eu sou a sua profissão, Alsrod. — Para alguém fazendo uma declaração tão forte, ele estava sendo incrivelmente franco. — O chá tem o efeito de tornar as pessoas extremamente introspectivas, sabe. Você deve ter caído muito fundo dentro de si mesmo. Mas mesmo o chá de Rikyuu nunca teve um efeito tão grande. Estava drogado? Ou será que o chá desta terra é diferente daquele da Terra do Sol Nascente?
Oda Nobunaga continuou dizendo coisas incríveis de forma indiferente. A dragonata Yanhaan era de fato uma vendedora de remédios, então talvez tenha misturado algum tipo de droga na minha bebida. Mas o gosto não indicava que havia drogas. Por causa da minha posição, eu deliberadamente comia coisas que tinham gosto de veneno para reconhecer os sabores.
— Você espera que eu acredite em você tão rapidamente? Para ser justo, porém, não consigo pensar em nenhuma outra explicação para onde você está ou quem você é. Jogar a culpa disso no chá faz sentido. Pelo menos acho que é bem mais provável do que culpar o que comi ontem à noite.
O homem sorriu de uma forma muito desarmante.
— Exatamente como eu esperava de alguém comigo como profissão. Você é muito rápido.
— Aposto que ninguém no mundo pensou que algum dia ficaria cara a cara com a sua profissão. — Dei outra boa olhada neste homem, Oda Nobunaga. Ele tinha uma aparência severa – completamente diferente de mim – mas havia algo de mim ali. Não havia nenhuma maneira de eu estar relacionado com alguém de outro mundo, então devia ser apenas completa coincidência.
— Isso não é exatamente impossível, é? — disse Oda Nobunaga. — Neste mundo você recebe suas profissões dos deuses. E os sacerdotes desta terra… independentemente de ser verdade ou não… conversam com os deuses.
— Então você está dizendo que devemos ser capazes de falar com as profissões que esses deuses concedem? Profissões não têm personalidades. Lutador, Monge, Mercador… são todos apenas nomes de profissões, não o nome de alguma pessoa.
— Geralmente, sim. Mas existem outros além de você com profissões que são obviamente o nome de uma pessoa, como Mitsuhide ou Rikyuu. Podem ser exceções, mas Alsrod, você também é exceção. Se as profissões não têm personalidades, com quem você tem falado por todo esse tempo? Isso é apenas uma ilusão sua?
— Verdade. Não faria sentido continuar cético a esse ponto. — Sempre fui do tipo que abraça riscos e incógnitas. Decidi aceitar as coisas como eram, de braços abertos.
— Mas você é igual a mim, Alsrod. Você tem olhos impressionantes.
— Esse elogio era para mim ou para você? Bem, o clã Nayvil tinha muitas pessoas bonitas, dizem.
— Não estou falando sobre a sua linhagem. Falo sobre algo mais profundo. Seu rosto tem a aparência de um homem que quer tudo. Nunca vi ninguém com esse olhar no Japão. Eu era o único.
Na verdade, eu estava começando a me divertir com isso. Realmente poderia me dar bem com este homem.
— Naturalmente. Não vou parar como um regente. Algum dia irei formar meu próprio reino. Tenho certeza de que vai demorar, é claro. Ainda não tenho a justificativa e o povo também não quer uma nova dinastia.
Formar uma dinastia ignorando a vontade do povo apenas encorajaria aqueles que se opunham a mim. Ainda era muito cedo.
—De fato. Eu mesmo já estive em sua posição. No entanto, parar aqui o tornaria um pouco diferente de Miyoshi Nagayoshi ou Hosokawa Takakuni. Seu reinado seria apenas temporário. — Mais uma vez ele mencionou nomes que eu nunca tinha ouvido, mas provavelmente eram assessores do rei de algum outro mundo. — Da sua posição, aumentei minha influência aos poucos, eventualmente transcendendo à do shogun. Você tem um longo caminho a percorrer a partir daqui.
Neste reino, eu não tinha mentor. Nenhum, isso é, além de Oda Nobunaga.
— Ei, Oda Nobunaga. Já que estamos conversando, posso fazer algumas perguntas?
— Desculpe, mas não vou lhe contar os detalhes de tudo que fiz. Assim fica mais divertido de assistir.
Esse cara sabia exatamente quando parar. Eu não gostaria de o ouvir se gabando o tempo todo, de qualquer forma.
— Tudo bem, então me diga como é ter poder absoluto. Isso é tudo que eu quero saber.
Algum dia, eu teria esse poder. Pode parecer surpreendentemente vazio, mas eu não me importaria com isso. Eu saborearia o vazio da supremacia para o conteúdo do meu coração.
Oda Nobunaga de repente pareceu um pouco triste.
— Para falar a verdade, eu também não sei.
— Hã? Como um conquistador não sabe como é vencer? Alguém fez uma lavagem cerebral em você? Ou seu filho ou alguém tirou você do poder?
— Logo depois de estabelecer meu reinado, eliminando Takeda, houve uma rebelião e eu perdi a minha vida. Eu seria um shogun, assim como o shogun que eu tinha instalado anteriormente. Eu já o superava, então tinha o direito de formar um novo shogunato. Para fazer uma analogia com sua situação, Alsrod, fui morto em uma rebelião pouco antes de me tornar o rei. — Contar desculpas parecia ter deixado Oda Nobunaga terrivelmente falante. — Não sei muito sobre a história depois disso. Uma vez que eu acordasse na vida após a morte, me tornaria uma profissão. Nesse meio tempo, o traidor, Mitsuhide, também morreu. Recebeu o merecido, eu diria.
Fiquei um pouco pasmo.
— Você se considera um conquistador, mas realmente não é um, não é?
— Pelo contrário! Sou um verdadeiro conquistador! Sou noventa e nove por cento um!
— Achei que você tivesse formado sua própria dinastia e governado por décadas, mas você falhou… e ainda por cima na melhor parte…
Ele estava realmente ficando muito nervoso. Pelo visto, não gostava de fracassar.
— B-bem é por isso… que quero que você seja rei… Posso muito bem acompanhar você até o topo, para me sentir melhor em relação à minha própria situação. A morte de Mitsuhide, por si só, não significa nada para mim!
— Você é como um pai empurrando seus sonhos fracassados para o filho… — O novo vínculo que senti foi marcado pela decepção.
— E o que há de tão errado nisso? Seu sonho é formar uma dinastia. Nossos objetivos são os mesmos. Então, se você trabalhar para atingir seu objetivo, o resultado não será diferente para mim.
— Acho que é verdade. — Suspirei. Afinal, mesmo um conquistador era humano. Ele não era como uma espécie de deus, mas sim desesperadamente mortal. — É um alívio ver seu rosto pela primeira vez, Oda Nobunaga.
— O que você quer dizer? Você estava com medo de ver um goblin?
— Há uma razão pela qual você se tornou a minha profissão; nós somos iguais, você e eu. Alguns plebeus pouco ambiciosos nunca poderiam ter recebido você como seu trabalho. — Eu estava sendo guiado por algo, seja pelo destino ou pelos deuses. Estava certo disso. — Kelara e Yanhaan também devem ter algo em comum com suas profissões, Akechi Mitsuhide e Rikyuu. É por isso que elas as receberam. Está tudo relacionado.
— Entendo. Você realmente é tão inteligente quanto eu.
Como eu disse, você está apenas se elogiando…
Claro, eu não me importava com a minha profissão me dizendo isso. Era muito melhor do que reconhecimento nenhum.
— Agora, ouça bem… vá em frente e torne-se o rei. Você tem o que é preciso.
Ah, tenho. Não preciso que você me diga isso.
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— Excelência…! Sua Excelência!
Percebendo que estava sendo chamado, abri meus olhos. Yanhaan estava bem na minha frente.
— Você estava em um transe profundo. Nunca pensei que entraria tão rapidamente no estado de espírito da cerimônia do chá. Estou muito impressionada.
— Na verdade, tive uma experiência bastante agradável.
Fui a primeira pessoa na história a ver o rosto de sua profissão.
Tradução: Pimpolho
Revisão: ZhX
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