Trono do Arcanista

Trono do Arcanista – Cap. 05 – …e Pelo Pretinho!

 

Encarando aqueles olhos vermelhos, Lucien sentiu suas mãos e pernas bambearem, e sua cabeça zumbir. Várias linhas de raciocínio sobre o que ele deveria ou não fazer o sobrecarregaram, e então ele só ficou ali parado.

Eu ainda tenho a insígnia!

A insígnia era a sua carta secreta. Quando Lucien estava tentando se concentrar e lançar o feitiço de escudo, um grito súbito de Gary quase o matou de susto.

— Use Luz! — A ordem de Gary era calma e decisiva. Ele gritou alto para trazer Lucien de volta para a realidade.

Certo! Lucien percebeu que sua principal prioridade era ser capaz de ver claramente. Ele esfregou a insígnia e murmurou:

— Gaya.

Uma bola de luz branca apareceu na frente deles e afastou a escuridão. Então Lucien os viu, ratos com grandes olhos vermelhos. O chão, as paredes e até mesmo uma estranha planta em forma humana estavam todos cobertos com os ratos negros, como um enxame louco que dava arrepios nele.

Os ratos também viram seus inimigos. Assim que a luz apareceu, eles começaram a guichar e investir contra os humanos. Naquele momento, eles conseguiram ter uma breve visão da câmara: uma mesa estava em num canto com três livros brilhantes sobre ela; outra mesa plana, larga e esquisita estava no centro da sala, desenhada com diferentes padrões estranhos, semelhante à insígnia da Santa Verdade. Havia também alguns pequenos fogões, potes e garrafas de vidro.

Porém, eles não tiveram tempo suficiente para notar mais detalhes já o enxame fedorento estava saltando para cima deles.

Howson e Corella empunhavam suas espadas e escudos, de costas para Gary, numa formação simples. O primeiro rato se jogou diretamente em Lucien. Sua boca estava arreganhada, expondo suas duas presas longas e afiadas.

Lucien levantou sua Espada de Luz e apressadamente mirou na cabeça do rato de olhos vermelhos. No entanto, ele estava muito nervoso para prever o movimento do rato com precisão, e a lâmina errou, embora a luz que rodeava a espada ainda tenha chamuscado o rato. Ele sentiu o cheiro do pelo e da carne queimada do rato. Sua pele ficou escura e seca.

Entretanto, o rato não parou e já estava na frente do rosto de Lucien como se não sentisse dor. O garoto conseguia até sentir o cheiro de podridão que vinha da boca do bicho. Ele estava nervoso demais para tomar a decisão certa, e tentou levantar sua espada mais uma vez, ao mesmo tempo que colocava a mão esquerda à frente para tentar defender. Devido ao seu pânico, quase deixou cair a espada.

Se sentindo desesperado, Lucien não conseguiu impedir que a criatura estivesse prestes a cravar seus dentes afiados em seu peito. Neste momento crítico, uma lâmina reluzente acertou o rato em cheio, dividindo-o em duas partes.

— Não entre em pânico. Proteja suas partes vitais. Você ainda tem o feitiço de cura. — Ordenou Gary.

Corella também se meteu a dar ordens, de uma forma não tão agradável.

— Sai daí idiota! Vem aqui conosco! Você quer morrer aí na frente?

Eles estavam cientes de que Lucien era o único dentre eles com uma insígnia, que era muito importante para o grupo. Eles provavelmente conseguiriam sobreviver enfrentando esses ratos insanos sem nenhum feitiço, mas ninguém sabia o que estava esperando por eles em seguida.

Lucien tentou se acalmar. Os guardas eram bem treinados, então, quando enfrentavam perigos, sabiam o que deveriam fazer. Porém, Lucien era um menino que não sabia se proteger. Ninguém nasceu sabendo lutar, ou com a capacidade de manter a calma face a perigos.

Nesta sua primeira luta de verdade, a orientação de um guarda experiente como Gary seria uma preciosa lição para Lucien no futuro. Depois de um momento, ele finalmente se acalmou. Enquanto atacava com sua espada, ele gradualmente se afastou e se juntou aos guardas.

Agora, em vez de um ou dois, centenas de ratos começaram insanamente a atacá-los.

A espada de Lucien era afiada e esplêndida. Quando ele atacava com ela, uma miragem dela se formava por todo o seu trajeto. Lucien seguiu as ordens de Gary e empunhou a espada de luz para protegê-los.

Qualquer rato que viesse de frente para ele era cortado no meio pela sua espada. Os cortes ardentes queimavam os órgãos dos ratos e a pele carbonizada não deixava cair uma única gota de sangue. Alguns dos ataques erravam, mas mesmo assim a pele chamuscava e eles ficavam mais lentos, caindo no chão diante de Lucien.

Os três guardas se encarregaram dos restantes.

— Há há, maravilha de trabalho garoto! — Corella deu o braço a torcer.

Lucien não se sentia muito tranquilo. Ele conseguia sentir o poder da espada gradualmente diminuindo, mas Gary e os guardas ainda estava cortando os restantes como antes.

— Acalme-se. Nós temos poder suficiente para lidar com esses monstros.

Uma nova onda de ataques surgiu, como um enxame negro. Lucien estava melhorando rapidamente. Embora ainda preocupado, ele decidiu confiar em si mesmo e nos três guardas. Os corpos cortados de ratos mortos caíram ao chão como gotas de chuva. Mas alguns ratos de olhos vermelhos ainda conseguiram passar pelas defesas e se moveram para cima deles rapidamente.

Não tem como lidar com todos eles, — Lucien pensava preocupado. Ninguém conseguiria empunhar uma espada tão rápido.

Claro, eles não estavam lutando apenas com suas espadas. Dois pequenos escudos prateados estavam cooperando com as espadas. Os ratos loucos não podiam parar a tempo e se arregaçavam diretamente no metal. Muitos estavam se contorcendo no chão e morrendo sem delongas. Corella riu.

—  Você nunca será um bom cavaleiro sem um escudo!

Depois de várias rodadas de ataque, os ratos de olhos vermelhos mudaram de padrão. Em vez de se atirar diretamente no rosto deles, alguns começaram a se aproximar pelo chão, enquanto outros subiam nas paredes para atacá-los por cima.

A situação voltou a ser séria.

— Deixe que eu cuido dos que vêm de cima. — O alto Howson, que estava em silêncio o tempo todo, disse.

Lucien assentiu com apreço, empunhando sua espada para se defender dos ratos no chão.

— Escudo de Luz?

— Ainda não. — Gary sacudiu a cabeça.

Eles eram como um pequeno barco flutuando em um oceano furioso. Se bobeassem poderiam ser facilmente destruídos. De repente, Howson errou seu ataque em um dos ratos que vinha do teto, que caiu diretamente no ombro de Corella. O rato lhe deu uma mordida amarga no pescoço. Corella gemeu de dor e torceu o ombro.

— Me morderam! Está pinicando. Seus dentes devem ser venenosos. — Ele reclamou amargamente.

— Então eu vou usar a cura. — Lucien estava prestes a esfregar a insígnia, mas foi interrompido por Gary.

— Corella ainda vai aguentar firme. Existem muitos ratos. Guarde a magia para depois de… Ouch!

Antes de terminar, Gary levou uma mordida em baixo do joelho. Logo os guardas começaram a se concentrar em suas partes desprotegidas. Mas, ao contrário dos que usavam armaduras, calças e botas, Lucien usava apenas roupas de algodão. De repente ele levou uma mordida no tornozelo.

Uma sensação de dor e dormência emanou na região. Lucien quase perdeu o equilíbrio. Ao mesmo tempo, ele sentia sede. Ele queria água.

— Proteja-se. Use o Escudo de Luz primeiro. Depois use a Cura. — Gary ordenou. Metade dos ratos já estava morta.

Lucien rapidamente se concentrou e esfregou a insígnia.

— Simen.

Um escudo branco de luz apareceu ao seu redor. Ele precisaria de mais tempo para lançar outro feitiço, então deu um passo adiante, tentando cobrir seus companheiros com o escudo e também atacando com a espada.

Depois de alguns segundos, Lucien voltou a se concentrar. Ele esfregou a insígnia.

— Gourdi.

Uma luz branca irradiou da cruz e cobriu seu tornozelo. A dormência desapareceu instantaneamente. Embora Corella e Gary ainda estivessem feridos, a situação havia estabilizado. O número de ratos de olhos vermelhos diminuiu, então Lucien aproveitou a chance e curou os feridos também. Eliminando o que parecia ser o último rato, Corella suspirou cansado.

— Finalmente acabou.

O chão estava coberto com uma camada de cadáveres e sangue escuro. De pé ali, Lucien não podia acreditar que ele realmente conseguiu. Gary acenou com a cabeça para ele.

—Você foi bem, Lucien. — Ele olhous os arredores. — Vocês fizeram um bom trabalho, pessoal.

O rosto de Corella parecia estranho. Ele respondeu com uma voz confusa e temerosa,

— Howson… Howson sumiu…

O quieto, porém, confiável Howson, que estava protegendo a retaguarda, desapareceu?!

Lucien começou a sentir calafrios novamente.

 


 

Tradução: Vermillion

Revisão: Barão

 

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