— …Desculpe.
O jovem vestido de preto repetiu o mesmo pedido. Silica balançou a cabeça e tentou desesperadamente conter as lágrimas.
— Não… Eu é que… Fui boba… Muito obrigada… Por ter me salvado…
Ela conseguiu parar o choro o suficiente para dizer aquelas palavras.
O jovem caminhou lentamente até Silica, ajoelhou-se diante dela e perguntou, hesitante:
— Essa pena… Por acaso tem o nome de algum item nela?
Pega de surpresa pela pergunta inesperada, Silica ergueu a cabeça. Ela enxugou as lágrimas e voltou os olhos para a pena.
Agora que havia parado para pensar, era estranho que só a pena restasse. Fosse monstro ou humano, os seres daquele mundo normalmente desapareciam sem deixar nada para trás ao morrer, nem mesmo seu equipamento. Silica estendeu o braço em direção à pena com certa hesitação e clicou em sua superfície com o indicador direito. Uma janela semitransparente apareceu, mostrando seu nome e peso.
“Coração de Pina”.
Justo quando Silica estava prestes a cair no choro de novo, o jovem se apressou em pará-la.
— Pe-pe-pera, se sobrou um item de coração, você ainda pode revivê-la.
— Quê?!
Silica ergueu a cabeça subitamente. Ela encarou o rosto do jovem, boquiaberta.
— Isso é algo que foi descoberto há pouco tempo, então não é todo mundo que sabe. Tem uma dungeon na área norte do 47° andar chamada “Colina das Memórias”. Apesar do nome, é uma área de dificuldade bem alta… Parece que as flores que nascem no cume dela são um item para reviver familiares e—
— É-é sério?!
Silica se levantou depressa e gritou antes que o jovem pudesse terminar de falar. Ela sentiu seu peito, que até então estava repleto de dor, ser inundado de esperança. Mas…
— …No 47° andar… — Silica balbuciou e deixou os ombros caírem mais uma vez. Eram doze andares acima do 35°, aquele no qual se encontrava no momento. Não havia dúvidas de que não era uma área segura para ela. Ela voltou seu olhar para o chão, abatida. — Hmm…
O jovem diante dela coçou o rosto e disse com uma voz apreensiva:
— Se você me der uma garantia e pagar minhas despesas, eu poderia ir até lá pra você. Mas dizem que a flor só aparece se o Beast Tamer que perdeu o familiar for pessoalmente até o local…
Silica sorriu ao ouvir as palavras do espadachim inesperadamente gentil e disse:
— Não… Só essa informação já me deixa muito feliz. Se eu me esforçar e subir bastante de nível, algum dia…
— Aí não vai dar. Dizem que só dá pra reviver o familiar que morreu dentro de três dias. Depois desse prazo, o nome do item muda de “Coração” para “Lembrança”.
— Quê…?! — Silica soltou um grito sem perceber.
Seu nível atual era 44. Se SAO fosse um RPG como qualquer outro, a dificuldade de um andar ou dungeon seria equilibrada, mas como era um insano jogo mortal, as zonas seguras costumavam ficar cerca de dez andares abaixo do nível atual do jogador. Ou seja, para poder explorar o 47° andar, ela deveria atingir pelo menos o nível 55. Mas não importava o quanto ela pensasse no assunto, era impossível subir tudo aquilo em apenas três, não, dois dias, contando ainda o tempo que levaria para completar a dungeon. Mesmo saindo diligentemente em aventuras, Silica levara um ano para obter a experiência que tinha no momento.
Tomada novamente pelo desespero, deixou a cabeça pender. Ela recolheu a pena de Pina do chão e, delicadamente, abraçou-a contra o peito. A frustração com sua tolice, sua fraqueza e com todo o resto era tamanha que as lágrimas recomeçaram a brotar de forma natural.
Ela percebeu que o jovem havia se levantado. Imaginando que ele estava de partida, ela pensou em agradecer mais uma vez, mas não lhe restava energia sequer para abrir a boca…
De repente, uma janela semitransparente do sistema apareceu diante de seus olhos. Era uma janela de troca. Ao erguer a cabeça, viu que o jovem estava manejando uma janela semelhante, itens apareceram na seção de troca, um por um: “Silverthread Armor”, “Ebon Dagger”… Todos eram equipamentos que ela nunca havia visto antes.
— Hum…
Ao ouvi-la balbuciar, confusa, o jovem deu uma resposta direta:
— Com esse equipamento, você vai conseguir subir pelo menos uns cinco, seis níveis. Se eu for junto, acho que conseguimos dar um jeito nisso.
— Hã…
Silica também se levantou, um pouco boquiaberta. Ela não sabia o que o jovem pensava, então encarou atentamente seu rosto. Mas, por conta do sistema de SAO, um cursor verde se sobrepôs ao rosto dele e ela conseguia apenas ver a sua barra de HP. Ela não conseguia dizer nem ao menos qual era seu nome ou nível.
Era difícil até adivinhar sua idade. Ele estava de preto dos pés à cabeça, O poder e a calma que emanavam dele faziam com que parecesse bem mais velho, mas seus olhos estavam cobertos por uma longa franja que lhe dava um certo ar de inocência, e as linhas femininas de seu rosto lhe conferiam uma aparência de menino.
Silica perguntou com cautela:
— Por que… está fazendo tudo isso por mim..?
Na verdade, ela estava sendo prudente acima de tudo.
Até agora, alguns jogadores bem mais velhos haviam tentado se aproximar dela e alguns até a pediram em casamento. Para Silica, de apenas treze anos, esses acontecimentos não lhe causavam nada além de medo. No mundo real, ela nunca havia recebido sequer uma declaração de amor de um colega de classe.
Naturalmente, Silica começou a evitar jogadores que pareciam ter segundas intenções. Além do mais, “Quando a esmola é demais, o santo desconfia” era o senso comum no Aincrad.
O jovem coçou a cabeça mais uma vez, como se estivesse com dificuldade para dar uma resposta. Ele abriu a boca, pronto para dizer algo, mas logo a fechou novamente. Desviou o olhar e murmurou em voz baixa:
— Isto aqui não é um mangá… Se prometer não rir de mim, eu conto.
— Não vou rir.
— É porque… Você se parece com a minha irmã.
Diante daquela resposta melosa, Silica deu uma bufada. Ela se apressou em tapar a boca com uma das mãos, mas não conseguiu conter a explosão de riso.
— Vo-Você prometeu não rir…
O jovem encolheu seus ombros com uma expressão ofendida. Isso a fez rir mais ainda.
Ele não é uma pessoa má…
Enquanto tentava parar de rir, Silica resolveu acreditar na bondade do rapaz. Ela já havia se preparado para encarar a morte uma vez. Se fosse para trazer Pina de volta à vida, não havia mais nada que a impedisse.
Silica se curvou e disse:
— Conto com você. Você salvou minha vida e agora isso…
Ela olhou para a janela de troca e colocou todo o col que tinha nela. O jovem havia lhe mostrado mais de dez itens em equipamento e todos pareciam ser raros, do tipo que se poderia comprar em lojas.
— Ah… Acho que não é o suficiente, mas…
— Não, não precisa me pagar. Era tudo coisa que eu tinha sobrando e, também, coincidiu com o motivo de eu ter vindo pra cá…
Enquanto dizia coisas impossíveis de serem compreendidas, o jovem apertou o botão de “OK” sem receber o dinheiro.
— Muito obrigada por tudo, mesmo… Ah, eu me chamo Silica.
Quando disse seu nome, Silica esperou uma reação de surpresa do jovem ao descobrir quem ela era, mas ele parecia desconhecer sua identidade. Ela ficou desapontada por um segundo, mas logo se lembrou de que fora sua atitude arrogante que a colocara naquela situação.
O jovem assentiu de leve e estendeu a mão direita:
— Eu sou Kirito. Espero que possamos nos dar bem.
Eles deram um aperto de mão.
Depois de conferir a área que se conectava à saída, o jogador chamado Kirito tirou o mapa da Floresta dos Errantes de dentro de uma bolsa pendurada no cinto e começou a andar a passos largos. Silica, que seguia logo atrás, levou a pena de Pina aos lábios e murmurou mentalmente:
Espera só mais um pouco, Pina. Eu vou te reviver, custe o que custar.
A área habitacional do 35° andar tinha um clima de fazenda, com casas de muros brancos e telhados vermelhos enfileiradas. Não era uma cidade muito grande, mas atualmente servia como área principal de aventura para jogadores de nível intermediário, então havia um grande fluxo de pessoas ali.
A cidade de residência de Silica era Frieven, no 8° andar, mas ela obviamente não havia comprado uma casa. Então, no fim das contas, não fazia muita diferença em que cidade ficava a estalagem onde passava a noite. O mais importante era o sabor da comida servida no estabelecimento. Silica gostava muito da cheesecake que o cozinheiro NPC daquele lugar fazia, então tinha permanecido ali nas últimas duas semanas, desde que começara a se aventurar pela Floresta dos Errantes.
Enquanto conduzia Kirito, que olhava tudo à sua volta, maravilhado, Silica saiu de uma das ruas principais e entrou na praça do portão da cidade. Foi então que alguns jogadores que a conheciam vieram falar com ela. O boato de que estava sozinha logo se espalhou, e eles tentavam recrutá-la para sua party.
— Ah, hã… Fico feliz que tenham vindo falar comigo, mas…
Ela baixou a cabeça, fazendo o máximo para recusar a oferta de forma que não ficassem ofendidos. Silica então lançou um olhar para Kirito, que estava parado ao seu lado, e continuou:
— Decidi formar uma party com ele por um tempo, então…
As pessoas que cercavam Silica soltaram exclamações incrédulas e lançaram olhares questionadores em direção a Kirito.
Silica teve um vislumbre da habilidade de Kirito, mas olhando para o espadachim de preto, parado ali com uma expressão entediada, ele não parecia tão forte assim.
Ele não estava com nenhum equipamento caro — não vestia nenhuma armadura e só tinha um sobretudo preto surrado por cima da camisa — e tudo o que possuía era uma simples espada de mão única. Não tinha nem ao menos um escudo.
— Ei, você…
Um jogador alto, que usava uma espada de duas mãos e era quem mais havia insistido com Silica, se aproximou de Kirito. Ele olhou de cima a baixo e disse:
— Eu nunca te vi antes, então acho melhor não furar a fila. gente tá convidando ela já faz um bom tempo.
— Eu não sabia… As coisas foram acontecendo…
Kirito coçou a cabeça com uma expressão de incômodo no rosto.
Silica ficou ligeiramente insatisfeita, pensando que ele poderia ter dado uma resposta melhor, mas retrucou ela mesma ao espadachim:
— Bom, fui eu que pedi para ele. Sinto muito.
Ela curvou a cabeça mais uma vez e saiu andando, puxando Kirito pela manga do casaco. Ela andou rápido, querendo se afastar o mais rápido possível dos homens que acenavam e prometiam mandar mensagens para ela. Os dois, então, atravessaram a praça do portão e puseram os pés na avenida principal que se estendia ao norte.
Assim que os jogadores sumiram de vista, Silica soltou um suspiro aliviado, olhou para Kirito e disse:
— …De-Desculpe por causar tantos problemas.
— Não foi nada — respondeu Kirito com um leve sorriso, como se não fosse problema algum. — Que incrível! Você é bem popular, Silica.
— Não é bem assim… Provavelmente eles só me chamam pra servir de mascote. E mesmo assim acabei deixando isso subir à cabeça. Andei sozinha pela floresta e tudo aquilo aconteceu…
Ao pensar em Pina, mais lágrimas brotaram naturalmente.
— Tudo bem — disse Kirito com uma voz calma. — Com certeza vamos trazê-la de volta. Não se preocupe.
Silica enxugou as lágrimas e sorriu para Kirito enquanto pensava que, por mais estranho que parecesse, ela sentia que poderia acreditar em tudo o que ele dissesse.
Por fim, um prédio grande de dois andares apareceu à vista, do lado direito da rua. Era a estalagem onde Silica costumava ficar, a Pousada Catavento. Foi só depois de chegarem que Silica se deu conta que os tinha levado até lá sem pensar.
— Ah, Kirito, onde fica a sua casa?
— Ah, eu costumo ficar no 50° andar… Mas tô com preguiça de ir até lá agora, então acho que também vou ficar por aqui.
— É mesmo?!
Silica ficou tão feliz que bateu palmas.
— A cheesecake daqui é uma delícia.
Enquanto falava, Silica puxava Kirito pela manga do casaco e, no momento em que tentava entrar na estalagem com ele, quatro ou cinco jogadores saíram da loja ao lado. Eram os membros da party à qual ela havia se juntado nas últimas duas semanas. Os homens que vinham à frente não deram atenção a ela e continuaram andando em direção à praça, mas a garota que vinha por último deu uma rápida olhada para trás e Silica instintivamente cruzou seu olhar com o dela.
Era o rosto que ela menos queria ver naquele momento. Tratava-se da usuária de lança que havia sido a causa da sua briga na Floresta dos Errantes. Ela tentou baixar a cabeça e entrar despercebida na estalagem, mas…
— Ué? Silica?
Como foi a usuária de lança que puxara conversa, Sílica não teve escolha senão parar.
— Oi…
— Hum, então você conseguiu sair da floresta. Que bom.
Com cabelos vermelhos e cachos chamativos, a jogadora, que se chamava Rosália, deu um sorriso de canto de boca.
— Mas agora é tarde demais para voltar. A gente terminou agorinha mesmo a divisão dos itens.
— Eu já disse que não precisava deles! Com licença, estou com pressa.
Ela tentou encerrar a conversa, mas parecia que a outra jogadora não tinha intenção de liberá-la tão cedo. A garota logo percebeu que havia algo faltando no ombro da Silica e disse com um sorriso irônico:
— Ué? O que aconteceu com aquela lagartixa?
Silica mordeu os lábios. Familiares não podiam ser guardados junto com outros itens e também não podiam ser deixados com outras pessoas. Ou seja, havia apenas um motivo para Pina não estar ali. Rosália obviamente sabia disso, mas continuou a falar de propósito, com um leve sorriso no rosto:
— Olha só… então…?
— Ela morreu… Mas… — Silica encarou a lanceira. — Eu vou trazer Pina de volta, custe o que custar!
Rosália, que até então sorria com satisfação, arregalou os olhos e soltou um pequeno assobio.
— Ah, então você pretende ir até a Colina das Memórias… Mas você acha que vai conseguir ir até lá com esse seu nível?
— Ela consegue sim.
Antes que Silica pudesse responder, Kirito deu um passo à frente. Ele a escondeu atrás do sobretudo, como se quisesse protegê-la.
— Não é uma dungeon tão difícil assim.
Rosália olhou Kirito de cima a baixo como se o avaliasse e novamente abriu um sorriso zombeteiro nos lábios vermelhos.
— Você é outro que caiu na lábia dela? Não parece ser tão forte assim.
Silica sentiu o corpo tremer de raiva. Ela abaixou a cabeça e fez o máximo para conter o choro.
— Vamos.
Uma mão foi colocada sobre seu ombro. Guiada por Kirito, Silica voltou os pés para dentro da estalagem.
— Bom, boa sorte.
Silica ouviu a voz cheia de escárnio de Rosália às suas costas, mas não olhou para trás.
O primeiro andar da Pousada Catavento era um enorme restaurante. Kirito fez Silica se sentar em uma mesa ao fundo e foi até a recepção, onde havia um NPC. Depois de fazer o check-in, ele clicou rapidamente no menu sobre a bancada e voltou para junto de Silica.
Assim que Kirito se sentou do outro lado dela, Silica prontamente abriu a boca para se desculpar por fazê-lo passar por uma situação desconfortável por sua causa. Contudo, ele a interrompeu erguendo a mão e dando risada.
— Vamos comer primeiro.
Nesse exato momento, uma garçonete veio até eles com duas canecas fumegantes. Dentro delas havia um líquido vermelho que exalava um aroma misterioso.
Kirito propôs um brinde ao time recém-formado e os dois brindaram com suas canecas. Silica tomou um pequeno gole da bebida quente.
— Que delícia…
O cheiro de especiarias combinado com o sabor agridoce fez Silica se lembrar de uma ocasião, muito tempo atrás, quando seu pai a deixou experimentar vinho quente. Entretanto, durante as últimas semanas, Silica havia experimentado todas as bebidas no menu do restaurante e não se lembrava daquele gosto.
— Hum, isso aqui é..?
Kirito sorriu antes de responder:
— Você pode trazer garrafas de bebidas para restaurantes de NPC. Isso aqui é um item que eu tinha, o “Ruby Ichor”. Com um copo disso, sua destreza aumenta em um ponto.
— Mas isso deve ser muito valioso!
— O gosto da bebida não vai melhorar se ficar parada no meu inventário. Além disso, não tenho muitos conhecidos, então nunca tenho chance de abrir isso aqui…
Kirito fez graça, dando de ombros. Silica tomou mais um gole enquanto ria. O sabor nostálgico da bebida abrandou seu coração que se enrijecera após todos os acontecimentos tristes daquele dia.
Quando a caneca finalmente se esvaziou, Silica ainda a manteve abraçada ao peito, como se ansiasse por seu calor. Ela deixou o olhar cair e murmurou:
— Por que… ela disse aquelas coisas ruins?
A expressão de Kirito se tornou séria e ele abaixou a caneca antes de começar a falar.
— SAO é o seu primeiro MMORPG…?
— É sim.
— Ah, é? Em qualquer jogo online tem sempre muitos jogadores que mudam de personalidade ao se esconderem por trás de seus personagens. Tem gente que fica mais boazinha, tem gente que fica má… Antes, costumavam dizer que estavam representando um papel, mas eu acho que no caso de SAO é diferente.
Por um instante, o olhar de Kirito se tornou cortante.
— Mesmo agora que a gente tá nessa situação complicada… Bom, eu sei que é impossível que todos os jogadores se unam e trabalhem juntos para completar o jogo. Mas tem gente demais que fica feliz com o sofrimento alheio, que rouba dos outros… E são até capazes de matar outras pessoas.
Kirito olhava diretamente para Silica. Seus olhos tinham a cor de uma profunda tristeza por trás de toda aquela raiva.
— Eu realmente acho que as pessoas que cometem crimes aqui também não valem nada no mundo real.
Ele praticamente cuspiu as palavras. Logo em seguida, Kirito percebeu que Silica estava um pouco acuada e sorriu de leve, como um pedido de desculpas.
— Não tenho direito de falar dos outros. Eu quase nunca ajudo outras pessoas. Até deixei que meus companheiros morressem… — ele confessou, cerrando as mãos sobre a mesa.
— Kirito…
Silica se deu conta que o espadachim de preto sentado à sua frente carregava profundas cicatrizes. Ela queria consolá-lo, mas odiava o fato de que seu vocabulário era pequeno demais para expressar apropriadamente o que sentia. Em vez disso, sem pensar, Silica pegou a mão de Kirito.
— Kirito, você é uma boa pessoa. Afinal, você me salvou.
Kirito pareceu surpreso por um momento e tentou recolher a mão, mas logo relaxou o braço. Seus lábios revelavam um leve sorriso.
— No final, eu que acabei sendo confortado. Obrigado, Silica.
Nesse instante, Silica sentiu uma pontada de dor no fundo do peito. Seu coração acelerou sem um motivo aparente. O rosto estava quente.
Ela soltou a mão de Kirito às pressas e apertou o peito. A dor, no entanto, não diminuiu.
— O-O que foi…?
Silica balançou violentamente a cabeça de um lado para o outro.
Kirito se apoiou sobre a mesa, aproximando-se e, de alguma forma, conseguiu forçar um sorriso.
— N-Não foi nada! Estou com fome!
Já passava das oito horas quando terminaram de comer o guisado com o pão preto e saborearam a cheesecake de sobremesa. Os dois decidiram descansar mais cedo para tentar chegar à dungeon do 47° andar ainda no dia seguinte. Eles seguiram então para o segundo andar da pousada, onde havia inúmeros quartos em ambos os lados do largo corredor.
O quarto que Kirito escolheu coincidentemente ficava ao lado do de Silica. Eles se despediram com um sorriso.
Assim que entrou no quarto, Silica decidiu que, antes de se trocar, treinaria alguns combos para se familiarizar com a nova adaga que ganhara de Kirito. Ela tentou se focar na arma, que era um pouco mais pesada do que estava acostumada, mas seu coração continuava acelerado e foi impossível se concentrar.
Depois que conseguiu, de alguma forma, dar cinco golpes em sequência, Silica abriu a janela de menu, guardou o equipamento e deitou-se na cama vestida apenas com as roupas de baixo. Em seguida, tocou a parede para reabrir o menu e desligou a luz. Silica estava muito cansada e, por isso mesmo, pensou que pegaria logo no sono, mas ele não veio de jeito nenhum.
Desde que havia se tornado amiga de Pina, todas as noites dormia abraçada a seu corpo macio. Aquela cama parecia grande demais agora, e Silica se sentia desamparada. Ela rolou de um lado para o outro durante algum tempo até que finalmente desistiu e se sentou. Ficou encarando a parede que conectava seu quarto ao de Kirito:
Queria conversar mais um pouco com ele.
A garota ficou surpresa por ter pensado aquilo. Kirito era um jogador que ela conhecia há menos de um dia, e era um homem ainda por cima. Até então tinha evitado se aproximar demais de qualquer jogador do sexo masculino, então por que estava pensando tanto naquele espadachim que ela nem tinha ideia de quem era?
Silica não conseguia encontrar uma explicação para os próprios sentimentos. Quando olhou para o relógio no canto direito de seu campo de visão, viu que já passava das dez horas. Não conseguia mais ouvir os passos de outros jogadores através da janela, apenas o latido distante de um cachorro.
Nada disso faz sentido. É melhor dormir.
Contrariando seu próprio pensamento, Silica deixou a cama silenciosamente. Disse para si mesma que apenas bateria de leve na porta. Em seguida, balançou o braço direito, abriu o menu de acessórios, escolheu sua túnica mais bonita e a vestiu.
Saiu para o corredor iluminado suavemente por velas e, depois de hesitar por algumas dezenas de segundos diante da porta, ergueu o braço e bateu duas vezes.
Normalmente as portas eram protegidas contra ruídos e não era possível ouvir nenhuma conversa. Mas, depois de trinta segundos, a resposta de Kirito soou do outro lado e a porta se abriu.
Kirito havia removido o equipamento e vestia uma camisa simples. Ao ver Silica, arregalou os olhos de leve e perguntou:
— Hã? Aconteceu alguma coisa?
— Bom…
Foi só então que ela se deu conta de que não havia pensado em nenhuma desculpa plausível para estar ali e entrou em desespero. Dizer apenas que estava com vontade de conversar era infantil demais.
— Bom, é que… Ah… E-Eu queria ouvir mais sobre o 47° andar!
Felizmente, Kirito não suspeitou de nada e assentiu com a cabeça.
— Tá, tudo bem. Vamos pro andar de baixo?
— Ah, não, se não for incomodar… poderia ser no seu quarto? — ela retrucou sem pensar e logo continuou: — Ah, hã, é… é que seria ruim se alguém mais ouvisse essas informações preciosas!
— Er… Bom… É, mas…
Kirito coçou a cabeça um pouco apreensivo, mas logo murmurou: “Ah, que seja!” e abriu mais a porta, dando um passo para o lado.
O quarto, obviamente, era idêntico ao de Silica. Do lado direito, uma cama. Mais ao fundo, uma mesinha de centro e uma cadeira. A lâmpada afixada na parede à esquerda emitia uma luz alaranjada.
Kirito deixou que Silica se sentasse na cadeira antes de ele próprio sentar na cama e abrir uma janela de menu. Ele moveu rapidamente os dedos e materializou uma pequena caixa. Ao abri-la sobre a mesa, uma pequena esfera de cristal se revelou. Ela brilhava sob a luz da lâmpada.
— Que lindo… O que é?
— É um item chamado “Mirage Sphere”.
Quando Kirito clicou na esfera, uma janela de menu apareceu. Ele mexeu rapidamente nela e clicou no botão de “OK”.
Em seguida, a esfera começou a emitir um brilho azulado e um grande holograma esférico apareceu. A imagem parecia representar um andar inteiro do Aincrad. Ela mostrava todos os vilarejos e florestas nos mínimos detalhes. Era completamente diferente dos mapas simples do menu do sistema.
— Uau…!
Silica estava completamente fascinada pelo mapa translúcido. Se continuasse olhando para ele, talvez fosse quase possível ver as pessoas andando pelas ruas.
— Aqui é a área residencial e aqui é a Colina das Memórias. A gente vai passar por essa trilha, mas… Tem uns monstros chatos por aqui…
Kirito apontava aqui e ali e explicava a geografia do 47° andar. Ele não fazia pausas enquanto falava, mas ela tampouco quis interrompê-lo. Só de ouvir sua voz calma, Silica se sentia mais relaxada.
— E, depois de atravessar essa ponte, já dá pra ver o…
Kirito parou de falar de repente.
— …?
— Shh…
Quando ergueu a cabeça, Silica percebeu que Kirito estava sério e tinha o dedo indicador pressionado contra os lábios. Ele encarava a porta com uma expressão ríspida.
De repente, seu corpo se moveu. Ele pulou da cama na velocidade da luz e abriu a porta.
— Quem tá aí?!
Silica ouviu o som de passos se afastarem, apressados. Ela foi depressa até a porta, esticando o pescoço para olhar por baixo do corpo de Kirito e viu uma sombra descer correndo as escadas.
— O-O que foi?!
— Tinha alguém escutando a nossa conversa.
— Hã… Ma-mas não tem como ouvir nada através da porta…
— É possível se a sua skill de escuta for alta o suficiente. Mas… quase ninguém tem essa habilidade.
Kirito fechou a porta e voltou para dentro do quarto. Ele sentou na cama com uma expressão pensativa no rosto. Silica se sentou a seu lado e abraçou o próprio corpo. Uma sensação de insegurança inexplicável brotava dentro dela.
— Mas por que alguém ficaria ouvindo…
— Acho que logo vamos descobrir. Preciso mandar uma mensagem, espera um pouquinho.
Kirito sorriu de leve, guardou o cristal e abriu uma nova janela. Ele começou a mover rapidamente os dedos sobre o teclado holográfico.
Atrás dele, Silica se aninhou na cama. Uma memória distante brotou em sua mente. O pai de Silica era um repórter independente. Ele sempre estava em frente a um computador velho, digitando com uma expressão séria. Silica gostava de observar suas costas enquanto trabalhava.
Ela já não sentia mais medo. Enquanto observava o perfil de Kirito por trás, sentiu-se envolta por um calor que ela havia esquecido há muito tempo. Antes que percebesse, seus olhos haviam se fechado.
Tradução: Axios
Revisão: Alice
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