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Sword Art Online – Moon Cradle – Vol. 20 – Cap. 02

— Ai, meu Deus!… Aquela foi uma reação… péssima…

Ronie, Tiese e Asuna abafaram o riso enquanto observavam Kirito expirar, com a cabeça entre as mãos.

A longa reunião finalmente terminara e o bebê Berche fora devolvido à sua mãe, Fanatio. As duas garotas estavam a caminho do refeitório no décimo andar, mas Asuna as deteve antes que pudessem descer correndo as escadas. Elas não podiam recusar seu convite para almoçar, é claro, então aceitaram o pedido e a seguiram até o Mirante da Estrela da Manhã, no nonagésimo quinto andar da Catedral Central.

O andar do mirante era aberto para o ar livre, sustentado apenas por pilares. A maior parte do piso abrigava um belo jardim com plantas, flores e um riacho murmurante. Em termos práticos, era o último andar da catedral. Asuna havia gerado uma porta indestrutível que bloqueava as escadas para o nonagésimo sexto andar. Nem mesmo os Cavaleiros da Integridade e Kirito, o Delegado Espadachim, conseguiam passar por ela.

Uma mesa branca estava disposta em um canto do jardim, onde as três garotas se sentaram. Poucos minutos depois, Kirito apareceu e gemeu assim que se sentou. A “reação” da qual ele reclamava, é claro, foi a maneira como gritou ao ouvir o nome de Selka.

Ronie e Tiese gritaram juntas quando ouviram o nome de Frenica, mas ela havia dividido um quarto com elas no dormitório das aprendizes primárias na academia, então isso era de se esperar.

No caso de Kirito, a situação era um pouco mais… não, muito mais complicada. Kirito e Eugeo partiram em sua jornada para Centoria da aldeia nortenha de Rulid, superando muitas provações no caminho para a Academia de Esgrima, onde, então, contaram sobre elas as suas pajens, Ronie e Tiese. Mas essas histórias não foram reveladas a toda a Catedral.

Isso porque a razão de Kirito para deixar Rulid era levar sua amiga, a agora lendária Cavaleira Dourada, Alice Synthesis Thirty, de volta da Igreja Axiom.

Dado que vários dos cavaleiros ainda acreditavam na história fantasiosa da Administradora de que os Cavaleiros da Integridade eram agentes dos deuses convocados dos céus, qualquer informação sobre os locais de nascimento deles ainda tinha que ser rigorosamente controlada. Além disso, fora ninguém menos que o membro sênior do Conselho de Unificação, Deusolbert Synthesis Seven, quem escoltara a jovem Alice de Rulid após sua violação do Índice de Tabus — e ele não tinha nenhuma lembrança do evento. Deusolbert parecia vagamente ciente da verdade por trás do Ritual de Síntese, mas, por consideração aos cavaleiros mais jovens, ele não falava sobre isso.

Na reunião da manhã, Kirito explicou fracamente sua surpresa com o nome de Selka Zuberg, alegando que “soava como alguém que eu conheci uma vez”, e Fanatio e os outros não pareceram convencidos.

Agora Kirito estava sentado à mesa do almoço, lamentando sua reação. Asuna se recompôs e o confortou. 

— Bem, o que está feito, está feito, Kirito. Todos descobririam que vocês se conheciam quando Selka viesse para cá. 

— É, eu sei… mas eu esperava poder me preparar antes que todos ficassem desconfiados. 

— O que você poderia ter preparado? Uma história de fachada para compartilhar com Selka? Eu também não acho que essa seja a melhor ideia. 

— Suponho que você esteja certa — concordou Kirito, sem levantar o rosto. 

Tiese hesitou um pouco.

— Hum… Kirito?

O Delegado Espadachim finalmente se endireitou para olhá-la. 

— Hmm? O que foi, Tiese?

A jovem de cabelos ruivos ainda parecia insegura, e o que ela disse em seguida chocou até mesmo sua amiga Ronie.

— Eu acho que seria melhor se você simplesmente explicasse a verdade. Apenas diga a todos os Cavaleiros da Integridade que eles nasceram aqui no plano mortal, como todo mundo. 

— O-ouça, Tiese… — disse Ronie, tentando silenciar a amiga. O Ritual de Síntese era o maior segredo que restava neste lugar, e não era certo que meras aprendizes de cavaleiro o revelassem.

Mas Kirito simplesmente acenou para ela, sorrindo, e se virou para Tiese.

— Sim, eu concordo em grande parte com você. Toda a ideia de serem convocados do Reino Celestial está começando a desmoronar. Acho que, entre os cavaleiros mais velhos, Fanatio, Deusolbert e provavelmente Sheyta, têm uma compreensão significativa da verdade, então acho que um dia, de preferência em breve, deveríamos explicar a verdade a todos eles. Mas… é que… — Ele fez uma pausa, olhando para elas com relutância. — Me desculpem. Não quero lhes trazer de volta memórias dolorosas… mas vocês se lembram do fim de Raios Antinous?

Tanto Ronie quanto Tiese enrijeceram com aquele nome.

Como poderiam esquecer? Raios Antinous era o Discípulo de Elite de primeiro assento quando as garotas eram pajens de Kirito e Eugeo. Ele maltratara horrivelmente Frenica, sua própria pajem, e quando Ronie e Tiese foram acusá-lo de abuso, ele usou o sistema de “autoridade judicial” concedido aos altos nobres para se proteger — e tentou profaná-las.

Kirito e Eugeo invadiram o quarto bem a tempo de resgatar as garotas, e quando Kirito cortou os dois braços de Raios, seu fim foi chocante de uma forma que a arrepiava só de pensar, mesmo agora.

Ele não pereceu por perda de sangue. Antes que chegasse a isso, ele soltou um grito sobrenatural que nenhum humano deveria ser capaz de fazer e caiu no chão completamente sem vida, como se sua própria alma tivesse sido obliterada. Na guerra que se seguiu, Ronie e Tiese viram muitos humanos e demi-humanos perderem suas vidas, mas nenhum deles jamais morreu daquela forma.

As garotas estremeceram, mesmo sem querer. Kirito e Asuna se inclinaram do outro lado da mesa e pegaram suas mãos, unindo-as no centro. As mãos dessas pessoas do mundo real pareciam mais quentes do que quaisquer outras que já sentiram, e afastaram o frio que afligia Ronie.

Ela assentiu, incapaz de agradecer. Os dois lhes deram sorrisos muito semelhantes, assentiram de volta e retornaram aos seus assentos. Assim que teve um momento para respirar, Ronie perguntou: 

— O que a morte do Discípulo Antinous e o Ritual de Síntese têm em comum…?

Kirito balançou a cabeça imediatamente. 

— Não em comum, não diretamente. Mas… quando as pessoas do Underworld passam por um estresse mental extremo, existe a possibilidade de que qualquer um possa acabar como Raios. 

— O quê…? — ofegaram elas, com os olhos arregalados.

Ele balançou a cabeça novamente, tentando acalmá-las. 

— Não, não se assustem. Vocês estão bem! Isso só acontece com aqueles que estão presos a visões conceituais extremamente rígidas. 

— Visões… conceituais rígidas? 

— Isso mesmo. Naquele momento, a vida de Raios e o Índice de Tabus estavam em lados opostos de uma balança. Ele era como um ser de puro ego; não priorizava nada acima de sua própria vida. Mas, ao mesmo tempo, o Índice de Tabus é uma lei absoluta que não pode ser violada sob nenhuma circunstância. Então, ele deveria violar o Índice de Tabus para preservar sua própria vida ou defender o Índice de Tabus e morrer…? Raios foi incapaz de escolher um em detrimento do outro, e isso destruiu sua mente.

Quando ele terminou de falar, Asuna parecia tanto abalada quanto indignada, apesar do fato de que ele certamente já havia compartilhado essa história com ela também. Kirito roçou as mãos dela sobre a mesa e continuou: 

— Além disso, pelo que Fanatio nos contou, na batalha para defender o Portão Oriental, o antigo chefe dos gigantes perdeu o controle de si mesmo e gritou de uma forma estranha, como Raios fez. Veja, os gigantes mantêm seu senso de identidade por sua crença inabalável de que são os mais fortes de todas as raças. Então, acho que ele perdeu o controle quando aquele conceito fixo em sua mente foi arrancado, o que estilhaçou seu senso de identidade. O problema é que suspeito que alguns dos Cavaleiros da Integridade consideram sua crença de que foram convocados dos céus igualmente importante para seu ser.

Ronie tivera uma visão de perto da força e do orgulho dos Cavaleiros da Integridade, e a preocupação de Kirito era certamente suficiente para deixá-la preocupada também. Naturalmente, descobrir que tudo em torno do Ritual de Síntese era uma mentira contada a eles pela Administradora seria a coisa mais chocante que poderiam ouvir.

Mas os Cavaleiros, com suas vontades inabaláveis e recusa em deixar quaisquer problemas para os outros resolverem, deveriam ser capazes de aceitar tal desafio. Eles não perderiam a cabeça da maneira que Raios Antinous perdeu.

Ou era apenas sua própria esperança? Agora que ela trocava palavras e tinha aulas de esgrima e artes sagradas com os Cavaleiros da Integridade todos os dias como aprendiz, será que a admiração de Ronie a estava fazendo desejar que eles fossem os seres perfeitos e impecáveis que ela imaginava que fossem? Seriam seus próprios sentimentos pessoais que a faziam simplesmente acreditar nisso sobre eles…?

Enquanto Ronie baixava a cabeça, perdida em pensamentos, Asuna disse: 

— Hum, Kirito. Algo me parece estranho. O Índice de Tabus é um conjunto absoluto de leis para as pessoas do Reino Humano, certo? Tão absoluto que até mesmo tentar quebrar essas regras faz com que suas mentes entrem em colapso. 

— Certo… isso é verdade. Normalmente, o Selo do Olho Direito será ativado para apagar pensamentos rebeldes antes que você chegue ao ponto de um colapso mental… mas o selo não foi ativado para Raios porque ele não estava violando nenhum tabu por um princípio firme. Ele apenas ficou preso em um ciclo mental contraditório onde tinha que proteger tanto o Índice de Tabus quanto sua própria vida — e não conseguia escolher apenas um.

— O que a palavra ciclo significa? — perguntou Tiese. Kirito ficou um pouco boquiaberto, parecendo culpado, e explicou-se apressadamente. 

— Desculpe, estou tentando ter cuidado, mas às vezes eu simplesmente não consigo me impedir de usar um… quero dizer, uma palavra na língua sagrada. O que quero dizer é um tipo de círculo de pensamentos, algo que se repete infinitamente. Faz sentido?

Ele olhou para Asuna em busca de orientação, e ela lhe deu um sorriso.

 — Acho que é uma boa explicação. É também um verbo para dobrar algo em um círculo, entre outras coisas. 

— Entendi. Obrigada! — disse Tiese, e da pequena bolsa de seu uniforme — na língua sagrada, eles chamavam de bolso — ela tirou um pequeno livreto de papel de cânhamo branco amarrado com barbante e uma caneta de bronze. Ela folheou as folhas de papel, já apertadas com escrita, até encontrar um espaço em branco e anotou a definição da palavra ciclo.

— Oh… Tiese, o que é isso? 

— Heh-heh, consegui alguns papéis na agência de gerenciamento. Se eu anotá-las aqui, não esquecerei todas as palavras sagradas antes que possa usá-las. 

— Q-quando você fez tudo isso…? — ponderou Ronie, alarmada com o fato de sua amiga que odiava lição de casa estar empreendendo um esforço tão surpreendente e engenhoso. Ela deu uma cotovelada na amiga e sussurrou: 

— Mostre-me como você montou isso depois. 

— Hee-hee. Puxa, seria bom ter umas tortas de mel do Gamo Saltitante… 

— Tudo bem, tudo bem. Nossa!

Kirito recostou-se em sua cadeira do conselho, sorrindo para si mesmo com a discussão, e disse: 

— Precisaremos providenciar uma produção maior de cânhamo branco como a neve imediatamente. Estou esperando por três… não, cinco vezes mais do que produzimos atualmente. 

— Nem dez vezes seria suficiente — interveio Asuna. — Idealmente, você gostaria de ter suprimentos suficientes para cada criança no Reino Humano, quer dizer, em todo o Underworld ter seu próprio caderno e caneta. 

— Isso seria maravilhoso! — disse Tiese, encarando seu pequeno feixe de papéis, aparentemente despertada para as alegrias do estudo. — O pergaminho de pele de carneiro é muito caro, então as crianças nobres de baixo escalão, como Ronie e eu, tinham que escrever nele com tinta de lótus folhosa solúvel em água para que pudéssemos lavar e reutilizar. O papel comum feito de grama de fio branco batida é barato, mas sua vida útil acaba em apenas uma semana, quando ele se desfaz. Se pudéssemos usar o quanto quiséssemos deste papel de cânhamo branco, acho que toda criança aprenderia a amar estudar.

— Você está certa. E a partir daí, poderíamos fazer um monte de livros didáticos — sugeriu Asuna.

Isso chamou a atenção de Ronie. Kirito havia voado brevemente por todo o Reino Humano em busca de materiais que combinassem a durabilidade da pele de carneiro e a praticidade do papel comum. O cânhamo branco como a neve que ele finalmente encontrou crescia apenas nas montanhas rochosas nos confins do Império do Norte. As folhas e o caule da planta de um branco puro eram picados em pedaços finos e fervidos em uma grande panela até formarem uma pasta grossa que era espalhada em uma tábua plana, e então ficando seca instantaneamente por elementos de calor e vento antes que a vida do material pudesse se esgotar. Isso o transformava de “comida” de baixa durabilidade em “têxtil” de alta durabilidade. Por último, um enorme rolo de massa era usado na folha repetidamente até se tornar papel de cânhamo branco.

Uma ovelha só podia fornecer sessenta cens quadrados de papel de pele de carneiro, então esse método era muito mais barato, e a durabilidade era quase tão alta quanto, mas ainda era um processo mais complexo do que simplesmente esmagar grama de fio branco com malhos de madeira, e o cânhamo branco como a neve era impossível de ser adquirido ao redor da Capital. No momento, eles haviam arado campos de cânhamo branco perto de onde ele crescia naturalmente e construído quatro instalações de processamento em Centoria para que pudessem vender o papel aos cidadãos da Capital, mas ainda era mais caro do que o papel comum. Mesmo uma amadora como Ronie podia dizer o quão difícil seria tornar os materiais comuns o suficiente para que as crianças nas Terras Sombrias pudessem comprá-los a baixo custo.

Mas a produção em massa de papel durável não era o único objetivo de Kirito e Asuna. Eles queriam produzir livros didáticos que contivessem palavras do vocabulário sagrado, equações matemáticas e comandos de artes.

— Se pudesse haver um livro didático para cada criança, então elas poderiam estudar coisas novas sempre que quisessem. Mas… — disse Ronie.

Tiese terminou seu pensamento. 

— Mesmo um livro didático de artes sagradas elementares leva um mês inteiro para um escriba experiente copiar. E isso é muito caro, claro… Meu pai comprou um livro didático que ele realmente não podia pagar, porque as artes sagradas são uma matéria necessária nos requisitos para entrar na Academia. Ele teve que comprar uma das cópias mais baratas e rápidas, com a escrita borrada, e foi muito frustrante para ele. Ainda é uma das minhas posses mais preciosas, no entanto.

Ronie tivera uma experiência semelhante, na verdade. Um livro didático escrito com cuidado e clareza na mesma escrita Axiom usada pelo livro mais fino de todo o mundo humano, o Índice de Tabus, custava pelo menos dez mil shia por cópia. Isso o colocava completamente fora do alcance das pessoas comuns, e até mesmo dos nobres de baixo escalão. As cópias rápidas feitas por escribas mais jovens em taquigrafia mais informal eram muito mais baratas, mas ainda eram compras pesadas.

— Você tem que cuidar bem dele, então — disse Kirito com um sorriso. 

— E um dia… — Ele de repente parou e suspirou. — Bem, a produção em massa de papel de cânhamo branco para livros didáticos pode ser difícil, mas vamos trabalhar nisso. Temos bastante tempo.

— Sim… é verdade — concordou Asuna. Ela deu um sorriso travesso. — Sabe, Kirito, se houvesse um teste de artes sagradas além da esgrima, estou surpresa de que você tenha passado e entrado na Academia. 

— Uh, só para você saber, eu estava entre os doze melhores alunos… eu presumo. Claro, se não tivesse Eugeo lá para me ajudar com as coisas de artes sagradas, eu teria tido problemas.

Isso fez Tiese rir. Mas Ronie podia sentir que havia mais do que apenas um deleite inocente em sua reação. Tudo o que ela podia fazer era sorrir para sua amiga, no entanto.

Asuna usava um sorriso simpático próprio. Ela olhou para o céu azul que espreitava por entre os pilares e de repente ficou alarmada. 

— Ah, não! Vocês dois devem estar com fome! Vamos almoçar agora. Podem me ajudar a trazê-lo?

Ronie e Tiese concordaram e se levantaram juntas, com Kirito logo atrás. Quando ela era sua pajem, Ronie sempre dizia: “Eu faço isso”, mas até hoje, Kirito se recusava a sentar e esperar. Ele realmente nunca muda, pensou ela, caminhando atrás de Asuna.

Enquanto isso, Tiese pegara seu bloco de notas e caneta novamente. 

— Com licença, Lady Asuna, você mencionou a palavra caderno mais cedo. Suponho que se refira a este feixe de papéis?

Ronie não pôde deixar de cerrar os punhos.

No nonagésimo quarto andar da catedral, um andar abaixo do Mirante da Estrela da Manhã, havia uma área de cozinha muito grande, embora nem de longe tão grandiosa quanto a Grande Cozinha do décimo andar. No momento em que Asuna abriu as portas duplas, os aromas perfumados de mel e queijo derretido flutuaram, fazendo o estômago de Ronie se contrair de fome.

O chão e o teto da cozinha eram de mármore branco, mas três paredes estavam cobertas com prateleiras altas repletas de ingredientes e recipientes de todas as variedades possíveis, criando uma aparência muito movimentada. A quarta parede apresentava prateleiras com utensílios de cozinha e um fogão enorme. Havia um grande balcão de trabalho de madeira no meio da espaçosa sala.

Quando os quatro entraram na cozinha, uma figura esguia do outro lado do balcão olhou para cima. Mulher de rosto jovem, ela usava um chapéu cônico sobre seu cabelo curto e um avental branco impecável.

A mulher estava sentada em uma cadeira, polindo uma grande faca de cozinha. Quando os viu, levantou-se suavemente, fez uma pequena reverência a Asuna e disse: 

— Minha senhora, já tenho o prato assado e esperando no forno. A salada e o pão estão na cesta ali. 

— Obrigada, Hana. Desculpe a demora — respondeu Asuna. Ela se dirigiu ao grande forno de elemento de calor colocado contra a parede dos fundos da cozinha. Tinha uma caixa selável de pedra e tijolo colocada sobre um fogo que aquecia todo o recinto. Havia uma palavra em underworldiano para forno, mas como era um homófono com a palavra para a luz do sol de Solus, era frequentemente chamado de oven na língua sagrada comum para diferenciar os dois. Salada e pão também se encaixavam nesta categoria, então Tiese não precisou se preocupar em pegar seu dicionário.

Asuna colocou luvas de couro grossas antes de abrir a porta do forno para retirar o grande recipiente coberto lá dentro. O cheiro de queijo se espalhou pelo ar.

O prato assado consistia em uma fina crosta amassada espalhada em uma forma plana e recheada com todo tipo de ingredientes. Mas quem já ouviu falar de assar algo colocando o prato dentro do próprio forno? Um forno era para assar pão. Enquanto Ronie observava com entusiasmo, Asuna moveu o recipiente elíptico para o balcão e abriu cuidadosamente a tampa.

— Uau… O-o que é isso…? — perguntou Tiese, com uma admiração desconfiada. Ronie estava igualmente confusa.

O que emergiu do recipiente estava ligeiramente tostado nas bordas, branco e fino, quase como…

— Hee-hee… Está assado em papel — proclamou Asuna com orgulho, para o choque das outras duas garotas. 

— P-papel? Como… papel de verdade? Papel de cânhamo branco…?

Parecia muito rebuscado para ser verdade, mas a Subdelegada apenas sorriu e assentiu. 

— Consegui um pouco de papel de cânhamo do Centro de Processamento da Catedral que se queimou na fase de secagem, só para poder testar este prato.

 — M-mas assá-lo no forno não faria o papel queimar em instantes? 

— Aconteceu quando usei papel comum, sim. Não tentei papel de pele de carneiro, mas não poderia usar algo tão valioso para cozinhar de qualquer maneira. Mas o papel de cânhamo tem a robustez certa e fez exatamente o trabalho que eu queria.

Asuna cutucou a concha de papel dobrada com um dedo. Fez um som seco de estalo, mas não se desfez. Apesar de ter sido exposta ao calor intenso do forno de elemento de calor, a vida do papel fora de alguma forma preservada.

Enquanto retirava as luvas de couro, Asuna disse: 

— Os métodos de cozimento no Underworld são simples, mas seguem alguns princípios muito rígidos. Seja assando, grelhando ou fervendo, se você não aquecê-lo o suficiente por um certo tempo, os ingredientes não se tornam “comida”. Se o calor não for alto o suficiente, o status refletirá isso ficando em um estado meio cozido ou meio fervido, e comê-lo pode dar dor de estômago. Se você aquecer demais, ele entra em um estado queimado que o torna duro e amargo. 

— C-certo!

Essa foi a primeira coisa que qualquer garota aprendeu quando sua mãe começou a ensiná-la a cozinhar: um pouco queimado é melhor do que não cozido o suficiente, e tudo precisa receber a quantidade adequada de calor. As lições trouxeram o calor familiar da nostalgia ao coração de Ronie.

— O problema — continuou Asuna — é que o melhor sabor que um prato pode ter é no instante em que passa de meio cozido para recém-feito. Quanto mais você aquece depois disso, mais o calor seca a umidade e endurece a comida, e menos você pode saborear os ingredientes em um prato cozido. Quando você está cozinhando algo, pode continuar adicionando ingredientes e aquecendo em baixa temperatura para produzir uma sopa rica e saturada, mas isso leva muito tempo. 

— C-certo!  — Ronie assentiu. Ela podia sentir o gosto estranho daquela misteriosa sopa de Obsidia voltando à sua língua, então ela rapidamente falou para se distrair da sensação. — M-mas o que isso tem a ver com embrulhar em papel? 

— Bem, primeiro tentei discernir o momento exato em que o recheio estava recém-cozido, mas Hana aqui me impediu…

Asuna olhou para a mulher de chapéu branco, que mal piscou.

— Essa é a primeira e última armadilha em que aqueles cuja vocação é ser cozinheiro tendem a cair — concordou a mulher. — Mesmo o cozinheiro mais experiente não consegue prever perfeitamente o momento da conclusão todas as vezes. Há muito tempo, um cozinheiro que se dizia ser um mestre único em um século foi convidado ao Palácio Imperial para cozinhar para o imperador de Norlangarth. O aperitivo e a sopa estavam absolutamente pitorescos, mas o prato principal de bife de gado de chifre vermelho grande estava a apenas um instante de ficar pronto quando ele o retirou. Como resultado, o imperador ficou doente ao comê-lo, e através do processo de autoridade judicial, os braços do cozinheiro foram decepados.

Ronie e Tiese ficaram atordoadas em silêncio. Asuna apenas balançou a cabeça e disse: 

— E é por isso que desisti de antecipar o momento perfeito e me certifiquei de cozinhá-lo completamente. Em vez disso, perguntei a Hana se havia uma maneira de cozinhá-lo completamente ao longo do tempo sem perder a umidade, e ela me disse que assar algo no forno dentro de um prato coberto faz com que tenha um gosto diferente. 

— Ohhh… Aprendi muito sobre culinária, mas nunca considerei tal ideia. Posso ver por que ela é a chef pessoal da Pontífice! — maravilhou-se Tiese.

A mulher chamada Hana apenas encolheu os ombros. 

— Isso foi tudo no passado. Apenas a Catedral Central tem um recipiente de prioridade alta o suficiente para ser aquecido no forno sem rachar. E o processo de cozimento ainda é imperfeito! Como a umidade não pode escapar, ela se acumula dentro do recipiente, meio que fervendo o conteúdo, e o sabor acaba mais fraco. 

“Então, minha primeira ideia foi tentar o método tradicional de assar e embrulhar os ingredientes em uma massa de farinha antes de colocá-los no recipiente. Mas isso significava apenas que o sabor e a umidade estavam escapando para a massa! Se você está comendo a comida com a massa, tudo bem, mas ainda significa que o recheio em si é menos saboroso. Então, eu estava tentando pensar em coisas que pudessem embrulhar o interior, não absorvessem água e ainda resistissem ao calor, e acabei testando este papel.”

— Oh… então é por isso que está embrulhado em papel! — murmurou Ronie, olhando para o recipiente.

— Hum, podemos abri-lo agora? — choramingou o Delegado Espadachim, que esperara pacientemente esse tempo todo. Ele tentara resistir à fome durante a explicação, mas não conseguiu mais.

Asuna riu e estendeu a mão para beliscar a ponta do papel levemente carbonizado. 

— Hoje foi, na verdade, nosso primeiro teste com ele. Se o interior não estiver certo, teremos apenas um almoço de salada e pão. Peço desculpas antecipadamente. 

— O-o quê? — gaguejaram Kirito e Tiese. Ronie estava no mesmo barco, é claro. Ela orou a Terraria, a deusa de todas as bênçãos da terra, incluindo a comida, e observou Asuna realizar o último passo.

Ela descascou as folhas de papel uma de cada vez, até que a última delas se abriu para a esquerda e para a direita, liberando um aroma indescritivelmente rico que fez Ronie desmaiar.

O ingrediente principal era peixe pálido fatiado, com cogumelos, legumes e ervas em abundância, além de uma camada sólida de queijo derretido por cima. Era claro à primeira vista que fora cozido o suficiente, mas diferente de quando assado em uma panela, não estava queimado e não encolhera nada. Parecia que toda a umidade havia permanecido dentro.

— Isso parece bom! — disse Hana. Asuna concordou. — Vamos dividir em porções enquanto ainda está quente. Cinco pratos, por favor, Kirito.

Apesar das repetidas tentativas de recusa, Hana acabou cedendo à insistência de Asuna e pegou a quinta porção de peixe assado em papel enquanto o grupo levava seus pratos e alimentos de volta para a mesa no nonagésimo quinto andar.

Talvez aproveitando sua experiência como pajem, Kirito ajudou a arrumar a mesa com destreza. Em poucos minutos, tudo estava pronto. Eles brindaram com água de siral morna e pegaram seus talheres.

Cada porção de peixe estava fumegando vigorosamente, rica e tentadora em seu prato, mas Ronie deu uma cheirada cautelosa primeiro, por precaução. Entre o cheiro de legumes, cogumelos e queijo derretido, não havia nem o menor cheiro de papel queimado.

As fatias de peixe eram suculentas e firmes, mas uma simples pressão da faca as separava facilmente. A primeira coisa que ela notou ao levá-la à boca foi a textura macia. Estava muito úmida — e era difícil acreditar que estava realmente cozida por completo.

— Uau! É completamente diferente do cozimento usual sobre uma chama aberta! Isso é incrivelmente bom! — elogiou Tiese, fazendo Ronie assentir vigorosamente em concordância. Asuna provou a sua com muito cuidado, balançando a cabeça, mas não com o mesmo nível de veemência.

— Sim, manteve toda a umidade, como eu esperava… mas simplesmente não tem aquele aroma de um bom grelhado aberto. Parece que ainda pode haver um leve toque de crueza. 

— E se removermos a tampa e o papel bem no final e o selarmos com elementos de calor? — sugeriu Hana.

O rosto de Asuna se iluminou. 

— Isso parece bom. Apenas um pouco de crocância na superfície deve realmente fazer o aroma cantar. Vamos tentar removê-lo do calor vinte segundos antes da próxima vez para que possamos tentar isso.

Enquanto as duas cozinheiras discutiam ideias, Kirito silenciosamente — em êxtase — movia seu garfo do prato para a boca. Ronie temia que ele terminasse toda a refeição sem dizer uma palavra, então ela se virou para a direita para encará-lo e sussurrou: 

— Hum, e o sabor?! 

— …Mmuh? — resmungou o Delegado Espadachim, com as bochechas cheias de peixe, legumes e cogumelos. Ele mastigou algumas vezes e depois exclamou: — É bom!

Isso lhe rendeu um revirar de olhos de Asuna. 

— Não estávamos procurando por insights brilhantes de um crítico culinário… mas você poderia me dar algo mais para trabalhar. 

— Uh… E-então… É tão bom que eu poderia até comer o papel em que está embrulhado!

As três que o conheciam muito bem suspiraram pesadamente, e Hana educadamente manteve uma expressão totalmente séria, mas Ronie pôde ver seus ombros tremerem brevemente.

Em trinta minutos, seu delicioso almoço acabou, e, como Hana insistiu firmemente desta vez, eles a deixaram limpar antes de voltar para sua cozinha. Os quatro que ficaram no nonagésimo quinto andar sentaram-se, em um doce silêncio por um tempo.

Era difícil até mesmo contar o número de mudanças revolucionárias, grandes e pequenas, que os “do Mundo Real”, Kirito e Asuna trouxeram para o Underworld. A maior de todas foi, sem dúvida, a reforma do sistema de nobreza, mas, para Ronie, as mais significativas foram ideias práticas e cotidianas, como o desenvolvimento do papel de cânhamo e suas aplicações, como esta para assar.

Atualmente, eles estavam trabalhando na construção de clínicas em cidades e vilas menores, não apenas nas cidades maiores, onde só podiam ser encontradas hoje. As pessoas que se machucavam ou adoeciam em aldeias rurais tinham que ir ao único irmão ou irmã santa na igreja local. Se várias pessoas se machucassem de uma vez, não era incomum que os sacerdotes e sacerdotisas não conseguissem ajudar a todos a tempo. Usar artes de elemento de luz de alto nível para cura era tão difícil quanto trabalhar com elementos sombrios, então um usuário inexperiente poderia não ser capaz de ajudar alguém com uma condição de risco de vida.

Se pudessem construir clínicas com pessoal em cada cidade e vila, haveria um declínio vasto no número de pessoas morrendo de acidentes e doenças contagiosas. Aparentemente, eles queriam expandir não apenas as artes de cura de alto nível, mas também os cuidados médicos comuns com ervas, bandagens e pomadas.

Ronie achava maravilhoso que seus planos estivessem ajudando o mundo a se mover em uma direção melhor. Mas, ao mesmo tempo, ela se via atormentada por vagas preocupações.

Nos trezentos anos do governo da Administradora, começando na formação dos quatro impérios que dividiram a terra, não houve praticamente nenhuma mudança no reino. Isso porque a própria Pontífice buscava uma espécie de estagnação permanente para ele, e o resultado foi que a crueldade dos altos nobres e a desigualdade na qualidade de vida entre as áreas urbanas e rurais foram deixadas sem solução. O principal valor do sistema era apenas que as coisas não estavam piorando mais do que isso.

Mas Kirito e Asuna eram incansáveis em suas tentativas de melhorar a qualidade de vida de todo o Underworld. Mesmo o simples ato de libertar os civis atormentados pelos altos nobres em suas terras particulares fora uma clara mudança para melhor.

No entanto, parecia que quanto mais o mundo mudava, mais as esperanças das pessoas no Conselho de Unificação — e especialmente em Kirito e Asuna — cresciam sem limites. Para Ronie, a aprendiz de cavaleiro, eles pareciam ter uma fonte de poder quase divina, mas não eram seres oniscientes e onipotentes. Kirito ainda se arrependia e lamentava sua incapacidade de salvar Eugeo, e era por isso que Ronie se preocupava com essa situação. Se algum perigo inevitável que superasse a força e a sabedoria de Kirito e Asuna surgisse — algo ainda mais calamitoso do que a Guerra do Outromundo —, o pensamento do que as pessoas diriam e fariam a Kirito e Asuna a assustava até o âmago!

— Hum… Lady Asuna?! — disse Tiese, tirando a mente de Ronie de seu ciclo de pensamentos nervosos. Asuna piscou e parou de beber seu chá de cofil pós-almoço.

— O que foi, Tiese? 

— Você não estava prestes a dizer algo antes de almoçarmos…? Algo sobre o Índice de Tabus. 

— Oh… eu estava? — Asuna se perguntou. Ronie repassou as memórias em sua mente.

Elas estavam falando sobre a sabedoria de revelar ou não a verdade do Ritual de Síntese aos Cavaleiros Seniores, quando parecia que Asuna estava prestes a perguntar algo a Kirito sobre o Índice de Tabus. Quando Kirito começara a falar sobre o ciclo de pensamentos contraditórios em que Raios Antinous caiu, Tiese interrompeu para perguntar o significado da palavra sagrada ciclo, desviando a conversa para os tópicos do bloco de notas de Tiese para lembrar palavras e aumentar a produção de papel de cânhamo branco. Em outras palavras…

— Ei… Tiese! Foi sua culpa que Lady Asuna não pôde falar sobre o assunto dela! — sibilou Ronie. Tiese percebeu seu erro e mostrou a língua.

— Ah-ha-ha-ha, acho que você está certa. 

— Bem, bom trabalho… Sinto muito por isso, Lady Asuna — disse Ronie, desculpando-se por sua amiga.

A Subdelegada Espadachim apenas riu e balançou a cabeça. 

— Tudo bem. Se você estiver curiosa sobre qualquer coisa, tudo o que precisa fazer é perguntar. Enfim… quanto ao que eu estava tentando perguntar — disse ela, virando-se para a esquerda —, Kirito… seu entendimento é que o Índice de Tabus é uma regra absoluta, e para aqueles que a quebram ou ativam o Selo do Olho Direito, ou, no pior dos casos, suas mentes simplesmente entram em colapso… É isso mesmo?

Kirito assentiu enquanto adicionava um pouco de leite, espremido dos estábulos da Catedral naquela mesma manhã, em seu cofil. 

— Sim, acho que é fundamentalmente assim que funciona. 

— Então… quem quer que tenha matado Yazen, o limpador, na estalagem em Centoria do Sul ou quebrou o selo em seu olho, ou evitou o tabu de alguma forma ou nunca esteve sujeito ao Índice de Tabus em primeiro lugar, correto? 

— Sim, suponho que seja… uma dessas três coisas. O problema é que, se o terceiro caso for o correto… então o culpado é do Território das Trevas, não do Reino Humano. E isso exigiria quebrar a Lei do Poder de lá, que é tão poderosa quanto o Índice de Tabus. Iskahn é o homem mais forte nas Terras Sombrias, e ele deu uma ordem a todos para que não cometam nenhum mal enquanto estiverem neste reino.

Ronie decidiu aceitar a oferta de Asuna para explicar quaisquer dúvidas que tivessem e levantou a mão. 

— Hum, posso perguntar uma coisa…? 

— O que foi, Ronie?

— Sobre esse assunto… quando o homem de manto sequestrou o bebê de Iskahn e Sheyta, ele estava claramente ignorando a Lei do Poder. Ele pegou Lea como refém e depois ordenou a Iskahn que o matasse.

Asuna lera o relatório detalhado sobre o incidente, e Tiese o ouvira diretamente de Ronie, mas ambas enrijeceram mesmo assim. Kirito, no entanto, parecia impassível.

— Isso mesmo — disse ele. — O que significa que ou o sequestrador acredita que é mais forte que Iskahn, ou está seguindo as ordens de alguém que ele acredita ser qualificado como mais forte, eu imagino.

— Mas isso me parece… tão vago. Como as pessoas das Terras Sombrias determinam a força daqueles que devem seguir? Quer dizer, suponho que não estejam lutando com cada pessoa individualmente. 

— Iskahn costumava ser o líder da guilda dos pugilistas. Isso é mais como treinar ou duelar do que lutar… mas você está certa, toda a população como um todo não o está desafiando junta. É mais como se cada raça, guilda e grupo de pessoas escolhesse seu membro mais forte para ser o chefe, e, antes da guerra, esses líderes formavam um grupo chamado Conselho dos Dez, que decidia sobre leis e coisas assim. Agora mudou para o Conselho dos Cinco Povos, mas ainda funciona da mesma maneira… e, entre esses líderes, Iskahn é considerado o mais forte em termos de poder de batalha individual. 

— Nesse caso, se o sequestrador acreditasse que era mais forte que Iskahn, isso por si só não violaria a Lei do Poder, certo? — ponderou Ronie. — Teria que ser provado lutando contra Iskahn e vencendo-o.

Kirito cruzou os braços.

 — Mmm — cantarolou ele. — Acho que depende da força de sua crença… Durante a Rebelião dos Quatro Impérios, os imperadores quebraram a primeira regra do Índice de Tabus e se rebelaram contra a Igreja Axiom. Sua crença de que o Conselho de Unificação havia tomado a Igreja e sua justificativa de que estavam retomando-a Igreja pelo bem da Pontífice sobrepujaram a influência do Índice de Tabus. Se o sequestrador acreditasse em algo forte o suficiente para causar esse tipo de estado de espírito, então talvez ele pudesse superar a Lei do Poder sem realmente lutar contra Iskahn.

Ronie lembrou-se da aura de pura autoconfiança que emanava do ser do Imperador Cruiga Norlangarth VI e sentiu um arrepio percorrer suas costas. Perto dali, Tiese encolheu os ombros e murmurou: 

— O imperador não parecia se importar nem um pouco com o que o Conselho de Unificação ordenava… mas isso foi porque a linhagem imperial esteve no comando por centenas de anos. É realmente possível que alguém sem esse tipo de histórico acumulado possa se rebelar contra um poder superior, apenas pela força da pura crença?

Foi Asuna, cujo tópico de conversa fora mais uma vez interrompido, quem respondeu: 

— Esse é um bom ponto. Seja o Índice de Tabus ou a Lei do Poder, parece claro que o violador precisa de uma espinha dorsal muito firme de crença e justificativa para sobrepujar a lei. Ah, e quando digo espinha dorsal, quero dizer espinha, ou apoio, ou suporte mental. 

— O-oh! 

— Na verdade… era isso que eu estava tentando te perguntar, Kirito — disse Asuna, olhando para seu parceiro. Ele piscou surpreso.

— O quê?! 

— Independentemente de o culpado ser um residente do Reino Humano ou do Reino Sombrio, isso significa que o assassino ou a pessoa que ordenou o assassino a fazê-lo tem uma mente tão forte e distorcida quanto a dos quatro imperadores. O que me intriga é que, se existem tais pessoas por aí, elas não poderiam ter feito algo mais drástico… algo tão ousado quanto sequestrar Leazetta no Território das Trevas, mas aqui? Isso não é para diminuir o valor da vida de Yazen… mas, francamente, se o culpado está tentando semear discórdia entre o Reino Humano e o Reino Sombrio, não haveria um alvo mais eficaz para a trama? Quer dizer, alguém em uma posição de poder social… como um nobre, ou um grande comerciante, ou sua família?

— Sim. — murmurou Kirito.

Ronie o observou pensar e depois acrescentou: 

— Hum, m-mas se o incidente de Yazen foi para fazer você viajar para o Território das Trevas, então não teria importado quem eles alvejaram, desde que o fizesse partir? 

— Sim… isso faz sentido. Mas se eu fosse o culpado, estaria tentando realizar algo que causasse mais impacto. Porque isso seria mais provável de me atrair para Obsidia.

Enquanto ele resmungava e pensava, Tiese perguntou furtivamente a Asuna o que a palavra sagrada impacto significava. Ela estava realmente tirando proveito daquele caderno hoje.

Sabe, eu me pergunto se Obsidia e Centoria foram nomeadas a partir de algumas palavras sagradas também. A que corresponderiam? Ronie mastigou o pensamento.

Então Asuna bebeu o último gole de seu chá de cofil levemente adoçado e disse com firmeza: 

— Kirito, acho que vale a pena tentar. 

— Er… tentar? Tentar o quê? — respondeu ele, olhando para ela com mais do que uma pequena dose de apreensão. 

A resposta de Asuna chocou não apenas Ronie e Tiese, é claro, mas até mesmo o Delegado Espadachim, a própria personificação de tentar o impossível.

— A arte de vidência do passado que Ayuha mencionou. Se realmente pudermos ver o que aconteceu no passado e tentarmos usá-la no quarto onde o assassinato aconteceu, devemos ser capazes de ver quem realmente foi o assassino.


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Fábio_Reis

 

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