Havia mais de três mil kilors de distância total entre a capital humana de Centoria e a capital sombria de Obsidia. Isso representava uma viagem de três dias para um dragão. Um mês de carruagem puxada por cavalos – e pelo menos o dobro disso a pé. Na Guerra do Underworld, o general e imperador sombrio, Vecta, conseguiu mover seu exército de cinquenta mil homens de Obsidia até o Portão Oriental em apenas cinco dias através de elixires e artes secretas. Mas exames futuros revelaram um efeito colateral horripilante: o valor máximo de vida de qualquer humano, demi-humano ou animal que tivesse tomado o remédio estava diminuindo de forma constante, mas contínua. Os humanos usaram cavalos e carroças para viajar e não receberam os medicamentos, mas os demi-humanos, que tiveram que marchar, ainda perdiam vida até hoje. Os mestres das artes sacras na Catedral estavam ocupados tentando encontrar um antídoto.
Quando o Delegado Espadachim Kirito decidiu fazer uma visita repentina a Obsidia para tratar da emergência do assassinato do civil, Ronie presumiu que ele viajaria de dragão, é claro. Os elementos de vento que ele usara para voar da Catedral Central até o posto da guarda em South Centoria consumiram amplos recursos sagrados, que seriam escassos no árido Território Sombrio. Ele não conseguiria usá-los com qualquer confiabilidade pelo longo tempo que levaria para chegar a Obsidia.
Mas Kirito não tinha seu próprio dragão para voar, então precisaria voar com alguém como Deusolbert ou Renly. Dois cavaleiros significavam muito mais fadiga para um dragão, só ela achou que seria presunçoso de sua parte pedir para ir junto, até que Tiese tentou incentivá-la.
Ronie foi dos estábulos dos dragões para o trigésimo andar da Catedral, onde ficavam os aposentos particulares de Kirito, a fim de prepará-lo para a jornada. Asuna a encontrou lá com um olhar de preocupação e resignação e lhe disse que Kirito havia ido para o arsenal.
Então ela correu outra longa distância, compartilhando a preocupação da subdelegada, contornando a parte de trás da Catedral – o lugar onde antes ficava a prisão – e depois descendo por um largo caminho inclinado até uma grande porta que estava atualmente aberta.
Além da porta havia um grande espaço de pelo menos trinta mels. Ao longo de cada uma das paredes laterais, cinco ou seis jovens ferreiros e artesãos batiam e retinham com martelos. No centro do espaço, iluminado por uma miríade de lâmpadas de elemento de luz, havia um enorme objeto feito pelo homem.
Parecia muito com a Unidade Um, o dragão metálico que explodira no outro dia. Ao lado do dragoncraft, Kirito e o Mestre do Arsenal Sadore trocavam vigorosamente opiniões – na forma de uma discussão aos berros.
— Quantas vezes tenho que te dizer, garoto?! Ainda está sendo ajustado! Não está pronto para um voo de potência total ainda, e você sabe disso!
— Vai ficar tudo bem, senhor. Desta vez vou voar horizontalmente, não verticalmente. Contanto que troquemos as asas primárias para pegar o vento, vai funcionar com certeza!
— O que você quer dizer com vai funcionar?! Eu ouvi o que você está fazendo, vai para a capital do Reino Sombrio! Nós nem sequer fizemos um voo de teste bem-sucedido, e você acha que vai voar nele numa viagem de ida e volta de seis mil kilors?!
— Sem problemas! Os recipientes de elemento de calor deste aqui são duas vezes mais resistentes, e você derramou seu sangue, suor e lágrimas nesta nave, Mestre. Esta coisa poderia voar dez mil kilors sem problemas. Não é verdade?
— B-bem, eu certamente não o equipei para desmoronar logo de cara… mas esse não é o ponto! Não vou deixar você me convencer disso de novo, porque sempre que faço isso, sofro mais do que se uma mosca-do-pântano maior me picasse no traseiro!
Ronie sentiu o sangue sumir de seu rosto enquanto eles discutiam. Kirito estava planejando viajar para Obsidia não de dragão ou carruagem, mas usando a Unidade Dois do Dragoncraft. O incidente do outro dia se repetiu em sua mente. Ela balançou a cabeça e correu até eles.
— N-não, Kirito, você não pode! O Mestre do Arsenal Sadore está certo! E se houver um acidente?!
— Ei, Ronie. Mantenha distância, ou vai sujar suas roupas de óleo. — Kirito avisou, puxando-a pela manga até que ela estivesse cinquenta cens mais longe do dragoncraft. Ele começou sorrindo, mas logo ficou sério. — Olha, se algo acontecer, eu voarei sozinho. Todos os cavaleiros estão ocupados, então não posso pedir a eles para me levarem a Obsidia, e levaria um mês a cavalo… Tenho a sensação de que a situação está mais tensa do que imaginamos. Quero contar ao Território Sombrio sobre esta situação o mais rápido possível, antes que seja tarde demais…
— …Mas há outro perigo envolvido, Kirito. — Ronie afirmou, aproximando-se para defender seu argumento. — Quem quer que tenha matado Yazen e culpado Oroi, o goblin, não está sujeito às leis do Índice de Tabus. Então eles poderiam estar tentando te pegar enquanto você está longe de Centoria e vulnerável… Na verdade, todo esse crime poderia ter sido uma armadilha para fazer você ir para Obsidia!
— Ah… entendo. Isso é possível… — Kirito murmurou. Ele parou por alguns momentos, pensando profundamente.
Sadore quebrou o silêncio com um suspiro pesado.
— Bem… parece que meu sonho se tornou realidade, com a capacidade de trocar técnicas e conhecimentos com os ferreiros das terras sombrias. Eu não gostaria que as coisas voltassem a ser como eram antes.
— Sério…? Um mestre como você ainda tem coisas a aprender? — Kirito perguntou. Sadore apertou sua barba grisalha e fez uma careta.
— Hmph! Claro. Quando o exército guardião trouxe de volta espadas e armaduras de cavaleiros sombrios, pode acreditar que eram notáveis. Para começar, o tipo de aço que eles usam é completamente diferente do que eu conheço… Não posso bater as botas sem aprender sobre o minério e os métodos que eles usam.
Ele bateu na reluzente superfície prateada do dragoncraft com mãos grandes cobertas de cicatrizes.
— Kiri, meu garoto, pare quando o pressurometro do elemento de calor atingir oitenta por cento. Ah, e é melhor você já decidir uma unidade de medida de pressão.
— Ei, boa ideia! Para pressão, vejamos… Que tal um kilors de peso por cem quadrado de área…
— N-não, espere um momento! — Ronie disse, interrompendo os dois homens. — A segurança do dragoncraft é uma coisa, mas isso não muda o risco de alguém estar atrás de você! Como sua pajem, não posso recomendar que você vá para o Território Sombrio… sozinho…
Mas enquanto olhava para a cabeça do dragoncraft durante seu discurso, Ronie notou algo e parou de falar. A cadeira de metal – um cockpit, ele chamara – atrás dos painéis de vidro parecia muito mais longa que a da Unidade Um. Na verdade, examinando mais de perto, parecia haver outro assento preso à parte de trás do cockpit.
— …Hum, Kirito?
— …O-o quê?
— A Unidade Dois tem lugar para dois?
— S… sim. A Unidade Um explodiu porque não conseguiu fornecer os elementos de gelo rápido o suficiente, mas nós meio que sabíamos que isso provavelmente aconteceria… Esta aqui foi projetada para que duas pessoas possam gerar elementos de gelo, mas como eu disse a ele antes, uma pessoa deveria ter poder de resfriamento suficiente para voar paralelamente ao chão, então…
Ele falava cada vez mais rápido à medida que continuava, percebendo o que ela estava prestes a dizer, e então ela pigarreou para interrompê-lo.
— Tudo bem, então. Para neutralizar a ameaça de assassinato, você precisará da presença de um guarda-costas.
— G-guarda-costas?
— Mas como você mesmo mencionou, os cavaleiros de elite estão ocupados com seus próprios deveres, então, como uma cavaleira aprendiz, eu mesma terei que cumprir esta missão!
— O-o quê?
— E eu posso ajudar a monitorar o estado dos recipientes de elemento de calor!
— O quêêê?!
Kirito recuou, mas antes que pudesse argumentar, Ronie levou o punho direito ao peito e a mão esquerda ao cabo da espada em uma saudação formal de cavaleiro, anunciando sua aceitação da missão que ele na verdade não lhe dera.
Enquanto Kirito lutava para processar o que acabara de acontecer, Sadore gargalhou.
— Você perdeu esta rodada, Kiri, meu garoto. Mas devo dizer, esta jovem realmente criou coragem, não é?
Ronie conseguira obter a permissão de Kirito para acompanhá-lo apenas pela força do impulso, mas essa fora, na verdade, a parte fácil.
Esta seria sua primeira vez visitando Obsidia, capital do Território Sombrio, e ela era a única companhia de viagem de Kirito, ambas primeiras vezes para ela. Ela não tinha ideia de como se preparar para tal coisa, então voltou para seu quarto no vigésimo segundo andar e tirou todas as suas roupas e pequenos itens para poder decidir o que levar, quando uma batida veio à sua porta.
— Entre! — gritou Ronie, pensando que provavelmente era Tiese enquanto corria para atender. — Graças a Deus, eu estava prestes a te pedir para me ajudar a fazer as malas…
Mas quando abriu a porta, não viu sua parceira ruiva, mas sim uma bela espadachim com cabelos castanho-claros e roupas de cavaleiro branco-pérola.
— Ah…! Lady Asuna! — Ela gaguejou, começando a fazer uma saudação formal, quando Asuna estendeu a mão para detê-la com um sorriso.
— Desculpe incomodar quando você está ocupada, Ronie. Eu esperava que você pudesse vir comigo…
— S… sim, para qualquer lugar! — Ronie respondeu. Ela saiu para o corredor e seguiu Asuna.
Se esta fosse a Academia Imperial de Esgrima de North Centoria, e tivesse sido uma veterana a chamando assim, ela poderia facilmente ter imaginado ser levada para trás do prédio da escola para um grupo de estudantes que diria algo como: Você não está se achando um pouco demais ultimamente? Mas esta era a Catedral Central, então é claro que isso não aconteceria.
Mas Ronie não podia negar que sentia uma certa culpa e constrangimento perto de Asuna. Não porque ela era a subdelegada espadachim do Conselho de Unificação Humana ou porque era uma pessoa do mundo real que viera ao reino delas do além. Era por um motivo muito pessoal que ela não podia revelar a ninguém…
Fazia um ano e três meses que Asuna chegara ao Underworld, em meio à Guerra do Underworld.
Ronie e Tiese estavam na força de distração do exército humano na época, sendo perseguidas pelo Exército Sombrio do Imperador Vecta com tanta ferocidade que poderiam realmente ter perecido antes de cumprirem sua missão de distração. Ronie lutou contra um cavaleiro sombrio que se infiltrara na retaguarda de sua formação, mas foi rapidamente desarmada e esperava a morte naquele momento – quando Asuna chegou.
Enquanto descia do céu, brilhando pura e intensamente contra a escuridão total do céu noturno, Ronie não viu nada além da Deusa da Criação, Stacia, como retratada na arte com a qual crescera na casa da família Arabel e nas paredes da academia. Asuna ergueu um florete cintilante de arco-íris, criou um buraco gigantesco no chão e fez o cavaleiro sombrio que tentava matar Ronie cair em sua goela aberta. Na presença de tal poder divino, Ronie acreditou com todo o coração que Asuna era Stacia.
Mais tarde, foi revelado a ela que Asuna era, como Kirito – e um cavaleiro sombrio contra quem Ronie lutara, e o próprio Imperador Vecta – uma pessoa do mundo real, mas apesar do ano desde a guerra, a gratidão e reverência de Ronie por Asuna não diminuíram nem um pouco.
E, no entanto, quando as duas ficavam frente a frente assim, Ronie sentia uma pontada desagradável no peito.
Isso porque Asuna era a parceira de Kirito, como todos agora reconheciam. Ela viera ao Underworld em primeiro lugar para salvá-lo do estado de ausência mental que o afligira.
Na maneira como conversavam sobre nada em particular à luz do sol da janela, na maneira como passavam o sal na mesa, até mesmo na maneira como ela repreendia o delegado espadachim por seu comportamento imprudente, Ronie podia sentir o profundo amor que conectava os dois.
Ela nunca pensara em se intrometer entre eles. Um dia… provavelmente não muito longe dali, eles teriam um casamento, e Ronie estava pronta para lhes desejar felicidades com todo o coração.
Mas…não importava quanto tempo passasse, a dor latejante no fundo de seu peito não diminuía. E ela sentia que nunca diminuiria…
Enquanto caminhavam pelo corredor e desciam as escadas, Ronie estava perdida em pensamentos, então quase colidiu com Asuna quando a outra garota parou à sua frente. Acidente evitado, Ronie ergueu o olhar e percebeu que estavam em frente ao arsenal no terceiro andar do prédio.
Dizia-se que, antigamente, todos, exceto o senador principal, o comandante dos cavaleiros e a própria pontífice, eram proibidos de abrir as portas duplas do arsenal, que eram esculpidas com imagens de Solus e Terraria. Agora qualquer um podia entrar, desde que assinasse seu nome no livro de registro ao lado da porta — mas ainda não era permitido tirar nada.
O livro, que estava cheio de papel de cânhamo recém-desenvolvido, feito de fibras de cânhamo branco como a neve, em vez do pergaminho de pele de carneiro mais tradicional, vinha com uma caneta de cobre que podia ser recarregada com tinta, outra nova invenção. Asuna escreveu seu nome e empurrou as portas para dentro da câmara. Era noite, e nenhum estudioso estava presente, então as duas foram recebidas apenas pela escuridão e pelo silêncio.
Asuna colocou as mãos no tubo de vidro logo ao lado da entrada e entoou: “System Call, Generate Luminous Element.”
Dez elementos de luz apareceram dentro do tubo. Então ela ergueu apenas um dedo e fez um elemento de vento desta vez. A pressão que ele criou empurrou os dez elementos pelo comprimento do tubo, que se estendia ao longo da parede, permitindo que sua luz alcançasse todo o arsenal.
Assim como o papel de cânhamo e a caneta de cobre, este tubo de elemento de luz era algo que Kirito e Asuna haviam desenvolvido; as lâmpadas no arsenal funcionavam da mesma maneira. Diferente de tochas e lamparinas a óleo, não havia risco de incêndio, e a luz era brilhante e estável. Mas mesmo trancados dentro do tubo de vidro, os elementos de luz reagiam pouco a pouco à presença do vidro até desaparecerem, exigindo que alguém os reabastecesse regularmente gerando mais elementos sagrados. Eles poderiam substituir todas as luzes da Catedral Central desta forma, dado que estava cheia de pessoas com maestria em artes sacras, mas ainda não era possível que esse tipo de item chegasse ao mercado de Centoria.
A luz de dez elementos fez o arsenal brilhar de forma gloriosa. Não era a primeira vez de Ronie lá dentro, mas ela ficou sem fôlego mesmo assim.
A sala era do tamanho do grande salão de treinamento da academia, com conjuntos de armaduras de todas as cores dispostos pelo chão, e uma proliferação de espadas, lanças e machados de todos os tamanhos pendurados nas paredes até o teto alto. Algumas daquelas armas eram Objetos Divinos do tipo que eram concedidos a Cavaleiros da Integridade seniores, mas Ronie ainda era uma aprendiz, e não conseguia distinguir a diferença.
— …É realmente uma visão de tirar o fôlego — suspirou Ronie.
— É sim — concordou Asuna concordou. — E muitas delas já foram distribuídas para o exército de Liena – er, General Serlut. Kirito quer vender a maioria delas e usar os fundos para ajudar as cidades remotas do reino e o Território Sombrio, mas Deusolbert e os outros têm se oposto veementemente a isso.
— S-sim, é muito complicado… — disse Ronie, o tipo de resposta que se dá quando não se sabe o que mais dizer.
Ela vira crianças goblins da montanha famintas com seus próprios olhos. Sabia da importância de enviar ajuda ao reino delas. De fato, as palavras de Kirito sussurravam para ela ainda agora: Nesse ritmo, haverá outra guerra.
Se isso realmente acontecesse… ela queria que sua família em North Centoria, seus colegas alunos, os cavaleiros e artífices da catedral, e claro, Tiese, ficassem seguros. As armas e armaduras aqui seriam ferramentas muito valiosas para garantir sua segurança nesse evento.
Asuna deu um tapinha no ombro de Ronie e lhe deu um sorriso travesso para quebrar o clima.
— Dito isto, Aprendiz de Cavaleira da Integridade Ronie Arabel… qual é o seu nível de autoridade de equipamento agora?
— O-o quê?! Por que você me perguntaria algo assim?
— Vamos, pode me dizer.
A segunda guerreira mais exaltada do Reino Humano esperava uma resposta, então ela não podia recusar. Mas, na verdade, Ronie percebeu que ela mesma não se verificava há um tempo. E se tivesse diminuído? Ela desenhou o símbolo no ar com a mão esquerda, depois tocou o pulso direito.
A Janela de Stacia, que brilhava suavemente e exibia a identidade central da pessoa – Kirito a chamava de informações pessoais – ditava o costume de nunca olhar a de outra pessoa, exceto em emergências. Asuna se afastou educadamente, e Ronie leu o número ao lado do rótulo escrito em linguagem sagrada: AUTORIDADE DE CONTROLE DE OBJETO.
— Hum… é trinta e nove.
— Uau! Isso é quase tanto quanto os cavaleiros numerados já. — Asuna exclamou com um sorriso. — Nesse caso. — Ela murmurou, indo em direção à parede dos fundos. Ela inspecionou a vasta gama de espadas de uma mão, escolheu quatro e as trouxe de volta, duas em cada mão. Ela as colocou sobre uma mesa de trabalho próxima.
— Todas estas são de prioridade trinta e oito ou trinta e nove. Escolha a que quiser. — Ela disse. Ronie ficou chocada.
Uma espada com nível de prioridade trinta e nove estava pelo menos no nível de uma lâmina famosa e nomeada – e possivelmente até mesmo no de uma arma divina. Todas as quatro armas sobre a mesa tinham detalhes finamente trabalhados e lâminas polidas que brilhavam como espelhos de cores diferentes.
As Quatro Lâminas Giratórias da Comandante Fanatio ainda usavam espadas padrão, no entanto, uma mera aprendiz como ela não poderia pegar uma arma tão fina quanto estas.
— N-não, Lady Asuna… Eu não posso! — Ronie protestou, agitando as mãos e balançando a cabeça.
Asuna riu.
— Esse é o mesmo tipo de gesto que Kirito faria.
— Uh… é-é mesmo…?
— Hee-hee! Não seja tímida, Ronie. Eu já tenho a permissão da Comandante Fanatio, e lembre-se, você é uma heroína que viu a guerra até o fim.
— …Eu… não sou… — Ela gaguejou, olhando para o chão. — Tudo o que eu fiz… foi receber a proteção de você e de Sir Renly e de todos os homens de armas – e dos soldados do mundo real que vieram ajudar… Eu estava completamente indefesa, mesmo quando aquele cavaleiro negro estava fazendo coisas tão horríveis com Kirito.
— Isso não é verdade. Simplesmente não é.
Asuna deslizou até ela e gentilmente a abraçou. A garota enrijeceu em choque, mas o cheiro doce e suave de jasmim e o calor de Asuna eventualmente acalmaram seus nervos.
— Foram você, Tiese e Alice que garantiram que Kirito estivesse protegido o tempo todo. Para mim, vocês três são as verdadeiras heroínas… Nunca poderei agradecer o suficiente…
Para sua surpresa, Ronie descobriu que lágrimas estavam vindo aos seus olhos. Ela murmurou:
— O que… Lady Alice está fazendo… agora…?
Após uma pausa, Asuna disse com firmeza:
— Ela está viva e bem no mundo real. Afinal, ela é a esperança que conecta nossos dois mundos. Tenho certeza… que a veremos novamente…
Seus braços apertaram brevemente com mais força, depois soltaram Ronie. Asuna sorriu para ela.
— Venha, escolha sua espada. Não é apenas sua arma, lembre-se; você vai usá-la para proteger Kirito. — Nesse ponto, não havia como recusar.
Ronie encarou as espadas que Asuna havia escolhido. Todas eram espadas longas de uma mão, mas o cabo e a lâmina de cada uma eram mais finos. Ficou claro que ela as escolhera não apenas pelo número de prioridade, mas por como se encaixavam na constituição de Ronie.
Pelo que Kirito descobrira recentemente, através de muita experimentação meticulosa, qualquer peça de equipamento de combate com um nível de prioridade acima de trinta não tinha apenas o valor de vida listado em sua Janela de Stacia, mas também um poder que ele chamava de bônus oculto. Quando equipada, poderia conferir um ataque elemental de algum tipo ou oferecer resistência a veneno, fadiga ou maldições. Algumas delas facilitavam a geração de elementos de um certo tipo, aumentavam a regeneração de vida sob circunstâncias especiais, ou conferiam maior visibilidade no escuro ou mesmo efeitos estranhos como tornar cães mais amigáveis.
Além disso, revelou-se que as armas divinas que a falecida Administradora dera a seus Cavaleiros da Integridade tinham bônus elementais aprimorados e outros parâmetros ocultos que fortaleciam as artes sacras para corresponder às forças particulares de cada cavaleiro. Em outras palavras, ela sabia mais sobre as armas e os cavaleiros do que se podia ver apenas com uma Janela de Stacia. As mentes mais brilhantes da Catedral Central trabalhavam arduamente para produzir uma arte sacra que identificasse essas métricas ocultas, mas Kirito suspeitava que seria um processo longo e difícil.
As quatro espadas que Ronie podia escolher deviam ter habilidades ocultas próprias, mas era impossível dizer apenas pela aparência delas. Ela talvez pudesse sentir a diferença se tentasse gerar todos os elementos um por um enquanto segurava cada espada por vez, ou correndo voltas ao redor do prédio para testar sua velocidade de recuperação de vida, mas não havia tempo para tudo isso, já que ela partiria cedo na manhã seguinte.
Ela ficou ali, atormentada pela indecisão, sem ideia do que usar como base para sua escolha, quando uma voz fraca ecoou da memória.
…Esta espada costumava ser tão pesada para mim, que eu mal conseguia pegá-la, muito menos balançá-la.
As palavras haviam sido ditas por Eugeo, o Discípulo de Elite, quando Tiese fora sua pajem na academia, enquanto ele trabalhava polindo e cuidando da bela espada longa branca tingida com o mais leve toque de azul. Kirito sorrira ao seu lado, polindo sua própria espada negra, enquanto xícaras cheias de chá de cofil fumegante e tortas de mel primorosamente perfumadas repousavam sobre a mesa próxima. Era uma lembrança querida de quase dois anos atrás.
Na época, Tiese e Ronie eram aprendizes primárias novatas na Academia Imperial de Esgrima de North Centoria. Suas altas pontuações no teste de entrada as tornaram candidatas principais quando chegou a hora de escolher pajens aprendizes, uma honra concedida a apenas doze de cada turma de cento e vinte. Mas as espadas de madeira de carvalho platinado de nível de prioridade quinze eram difíceis de manusear, então elas perguntaram aos estudantes mais velhos a quem serviam como usar espadas pesadas.
— Apesar de sua aparência delicada, a Espada Rosa Azul era muito mais pesada que uma grande espada de aço de duas mãos — dissera Eugeo. Ele a levantou facilmente e continuou. — Segundo a teoria, se o nível de autoridade de equipamento de um espadachim for maior que a prioridade da arma, ela não será pesada demais para usar. Mas não acho que a relação entre uma espada e seu portador se resuma a simples números. Digamos que você use uma arma com um nível de prioridade muito menor que sua autoridade, mas a trate mal e cuide dela com menos frequência do que deveria. Quando mais importar, essa arma não fará o que seu dono quer. A razão pela qual eu não conseguia usar esta espada no passado não era porque me faltava autoridade, mas sim porque me faltava o afeto por ela que eu deveria ter tido… eu acho.
— Afeto… pela espada. — Ronie e Tiese repetiram, ponderando sobre a frase desconhecida.
Ambas eram de famílias nobres de sexta categoria, a mais baixa, mas seus pais não poupavam despesas para lhes dar um bom treinamento de espada, sonhando com a possibilidade de um dia serem promovidas a nobres de quarta categoria, o que significaria que não estariam sujeitas à autoridade judicial abusiva de categorias superiores. Se treinassem tanto a ponto de quebrar suas espadas de madeira, seus pais pagariam alegremente por substituições, em vez de repreendê-las por desperdiçar suprimentos. Para elas, as espadas eram ferramentas para realizar sonhos – não os seus próprios, mas os de seus pais – assim como grilhões que as confinavam a futuros que não necessariamente escolheram. Então, a ideia de demonstrar afeto por uma espada não fazia sentido a princípio.
Mas Eugeo apenas sorrira para as meninas e explicara:
— Não são apenas espadas. Roupas, sapatos, talheres… até mesmo elementos individuais gerados por artes sacras. Todas essas coisas te tratarão com gentileza se você abrir seu coração para elas. E as pessoas também, aposto.
Kirito ouvira a conversa sem comentar. Ele parou de polir a Lâmina do Céu Noturno – na época, ele ainda a chamava de A Negra – e sorriu levemente.
— Isso mesmo. Eugeo e eu também abrimos nossos corações um para o outro. Posso comer a fatia de torta dele no jantar, e ele apenas rirá e me deixará escapar impune.
— Sinto muito, Kirito, mas no momento em que você comer minha torta, nosso laço estará quebrado para sempre.
Ronie e Tiese riram daquilo. Mas o que Eugeo dissera já começava a fazer sentido.
A partir daquele dia, com a permissão do administrador do dormitório, as duas meninas levaram suas espadas de treinamento de carvalho platinado do salão de treinamento para seus quartos para que pudessem polir as espadas e curar os danos que haviam causado na prática. Não demorou muito para que estivessem brandindo as espadas de madeira como se fossem extensões de seus próprios arms.
Se ao menos aqueles dias rigorosos, mas agradáveis, na academia pudessem ter durado para sempre. Mas apenas um mês e meio depois, Eugeo e Kirito usaram a Espada Rosa Azul e a Lâmina do Céu Noturno para atacar outros Discípulos de Elite a fim de salvar Tiese e Ronie, e foram levados para a Igreja Axiom como punição. Eles escaparam das celas subterrâneas e lançaram um ataque à própria Igreja, derrotando os todo-poderosos Cavaleiros da Integridade um após o outro, culminando na impensável derrubada da Administradora, a governante absoluta da humanidade. E durante essa luta, Eugeo pereceu.
A lembrança de Tiese soluçando e desejando poder ver Eugeo novamente quase trouxe lágrimas aos olhos de Ronie de novo. Ela as conteve e estendeu a mão direita.
Um espadachim não escolhe sua espada. A espada escolhe seu mestre. Não importa a espada, contanto que eu lhe dê afeto e abra meu coração, ela responderá da mesma forma.
Ela sentiu como se sua mão estivesse sendo atraída para a terceira espada da esquerda, uma com cabo de couro preto da mesma tonalidade do cabelo de Kirito, mas com guarda e pomo prateados que brilhavam suavemente. O cabo novo em folha era um pouco áspero ao toque, mas ela percebeu que, se cuidasse dele, logo se sentiria muito confortável.
Ronie inspirou, expirou e ergueu a espada.
Era pesada. O peso se fez sentir por todo o seu braço, expressando o senso de ser da espada, desde seus dedos, passando pelo pulso, cotovelo e ombro, até o âmago de seu corpo.
Mas não era uma sensação desagradável. Muito parecida com a espada de treinamento de carvalho platinado e a espada padrão com a qual lutara em duas guerras, Ronie sentia que esta também logo se abriria para ela, assim que ela lhe demonstrasse um pouco de amor.
Ela apertou o cabo e descansou o lado chato da lâmina na mão esquerda, apreciando sua presença, quando uma voz disse gentilmente:
— É essa, então?
Ronie virou-se para Asuna e assentiu com firmeza. A subdelegada guardou as outras três em suas bainhas, devolveu-as aos suportes na parede e contornou a mesa para ficar à esquerda de Ronie.
— Você deveria dar um nome à espada, Ronie. Assim que decidir, vá ao escritório de administração e peça para registrarem sua decisão no registro do arsenal da cavalaria.
— Eu… eu vou.
Ela se sentiu confusa com isso a princípio, nunca tivera uma espada que precisasse de um nome, mas fazia sentido que nomear a própria espada fosse obrigação do dono. No passado, a Administradora aparentemente criara, destruíra, distribuíra e confiscara Objetos Divinos por capricho. Mas agora todas as armas, armaduras e acessórios em toda a Catedral Central eram contabilizados no papel.
Asuna lhe deu um sorriso e olhou para o lado esquerdo de Ronie.
— O que você fará com essa? Se for devolvê-la ao exército, posso enviá-la ao escritório de comando com o mensageiro de amanhã.
— Uh… ah, b-boa ideia… — Ela murmurou, pega um pouco de surpresa pela pergunta.
A espada padrão que ela sempre mantinha ao seu lado era de fato propriedade de Ronie, na Janela de Stacia, seu nome aparecia perto da letra sagrada P, de Possuidor, mas de acordo com as regras do Exército Guardião Humano, estava apenas emprestada. Se ela substituísse sua arma e não precisasse mais da antiga, ela deveria ser devolvida ao exército.
O cabo e a bainha de couro eram de um marrom escuro simples, e não havia decorações ou enfeites de qualquer tipo. Era uma arma prática, mas de boa fabricação, com um nível de prioridade de vinte e cinco, feita de aço-croi do sul. Isso não era barato de produzir, e Ronie cuidava bem dela, então ainda havia muita vida útil nela.
E, para dizer a verdade, ela deveria ter recebido uma espada de cavaleiro padrão um ano atrás, quando fora nomeada aprendiz de Cavaleira da Integridade, mas como as coisas estavam tão agitadas na época, isso fora adiado. Ronie e Tiese eram tão apegadas às suas espadas que simplesmente continuaram usando-as.
Mas agora que a subdelegada espadachim lhe fornecia uma nova espada, chegara o momento de seguir em frente. Ainda assim…
— …
Ronie ficou ali, espada nova em uma mão, pomo da espada antiga sob a outra, paralisada. Asuna assentiu em compreensão.
— É natural se sentir assim. Eu dificultei muito as coisas para Kirito porque não queria abrir mão da minha primeira espada.
— Huh…? — Ronie disse, surpresa. Ela encarou. — Você também não, Lady Asuna…? Isso foi… no mundo real?
— Bem, não exatamente. Há muito tempo, Kirito e eu lutamos em um lugar que não era nem o mundo real nem o Underworld. Na verdade… eu não sabia nada sobre o lugar, e Kirito me ensinou a lutar.
— Pensar que alguém com seus poderes divinos já foi uma novata…
— Bem, claro que fui! Sou apenas um ser humano comum como você, Ronie… apenas uma garota comum. — Asuna anunciou com uma risada. E ainda assim, suas feições eram tão belas que estavam além do humano, e Ronie teve que semicerrar os olhos diante de seu brilho.
— Hum… o que aconteceu com aquela sua primeira espada, Lady Asuna?
Asuna olhou para a palma da mão, como se relembrasse a sensação daquela mesma lâmina. Sua cabeça se ergueu novamente.
— Por recomendação de Kirito, nós a derretemos em lingotes – barras de metal – e usamos esses como material para uma nova espada. Ele disse que, dessa forma, a alma da espada seria transmitida… Ele pode ser muito sentimental quando se trata de espadas, sabia.
— Hee-hee… Isso parece com ele.
As garotas riram juntas por alguns momentos. Quando o momento passou, Asuna disse:
— Mas suponho que isso não te ajude agora… Não podemos derreter uma espada pertencente ao exército, e você já tem uma nova espada…
— …Na verdade, depois do que você disse, eu me decidi. Vou devolver esta espada às forças principais.
Ela pousou a nova espada sobre a mesa e desfez os fechos de seu cinto de espada. Tirou a espada padrão, com bainha e tudo, e a entregou a Asuna.
— Tem certeza…? Se eu pedir a Liena, tenho certeza que ela providenciará para que você fique com esta também…
— Sim, tenho certeza. Tenho pensado que esta espada está leve demais para mim ultimamente, de qualquer forma… Tenho certeza que a próxima pessoa precisará dela mais do que eu.
— Tudo bem — disse Asuna. — Então devolverei esta ao comando do exército com o mensageiro amanhã.
Ela pegou a espada com destreza e a pendurou no lado direito de seu próprio cinto. Uma espada comum do exército podia ser leve, mas combinada com a divina Luz Radiante em seu quadril esquerdo, era muito peso. No entanto, Asuna continuou ao redor da mesa de trabalho, leve como uma pluma, e pegou uma bainha de couro preta com finas incrustações de prata que entregou a Ronie.
Ronie a pegou e inclinou a cabeça, guardou a nova espada dentro e a prendeu ao cinto. Ela se endireitou, sentindo o novo peso em seu corpo. Asuna a encarou diretamente nos olhos e disse:
— Ronie… cuide bem de Kirito.
— Oh… s-sim, minha senhora! — Ela respondeu, um pouco surpresa, mas conseguiu fazer uma saudação de cavaleiro. — A Aprendiz de Cavaleira da Integridade Ronie Arabel arriscará sua vida para proteger o delegado espadachim!
Asuna retribuiu a saudação e sorriu para ela.
— Bem, não desperdice sua vida por aí. Quero que vocês dois voltem vivos, mas se Kirito te disser para correr, quero que você o escute.
Ronie sentiu um lampejo de emoção por trás daquelas palavras. Ela baixou as mãos e perguntou:
— Hum… tem certeza que você não quer acompanhá-lo…?
— Só um pouquinho. — Asuna brincou, mas Ronie tinha certeza de que era uma resposta honesta. A subdelegada apenas balançou a cabeça, no entanto, e continuou. — Kirito e eu não podemos estar ambos longe de Centoria neste momento. Há tantas decisões para o conselho deliberar, e o descontentamento dos antigos nobres conosco não vai desaparecer tão cedo…
— Sinto muito… — Ronie disse por reflexo. Asuna piscou surpresa, depois se recuperou com um sorriso e balançou a cabeça.
— Não, Ronie. Não é nada pelo que você precise se desculpar. De forma alguma.
— Mas… eu também sou de nascimento nobre, e até me tornar pajem de Kirito, nunca tive qualquer dúvida ou receio sobre o sistema de nobreza…
— Ainda assim, seu pai e o pai de Tiese ocupavam cargos importantes na guarnição da cidade e no governo, não é? Vocês não eram como os nobres de alta categoria que forçavam servos a trabalhos árduos em suas propriedades particulares para que pudessem viver no luxo.
— …
Ronie curvou-se silenciosamente novamente, desta vez em pedido de desculpas.
No topo de uma colina não muito longe da Catedral Central ficava o antigo Palácio Imperial, onde o governo imperial e os quartéis da guarda imperial ainda funcionavam como antes, e seu pai continuava a trabalhar como capitão de pelotão.
Mas os Cavaleiros Imperiais, que estavam acima da guarda imperial, haviam sido completamente desmantelados, e muitas das funções da guarda haviam sido transferidas para o Exército Guardião Humano sob a liderança da General Sortiliena Serlut. No futuro, as guarnições pertencentes aos quatro impérios seriam fundidas ao Exército Guardião para que o próprio exército pudesse ser reduzido a um tamanho mínimo. Isso porque a ameaça do Território Sombrio havia passado, é claro – mas Ronie não sabia se seu pai ainda teria o mesmo emprego quando isso acontecesse.
Ela sabia que se seu pai trabalhador fosse redesignado com a unidade ou transferido para um cargo de gerência, ele continuaria a cumprir seus deveres. Ele não era como os nobres de alta categoria que perderam suas enormes rendas não merecidas e tiveram que aceitar empregos pela primeira vez que desprezavam e negligenciavam… ela pensava.
Mas dentro dele, e talvez dentro de Ronie também, ainda devia existir aquele entendimento, o autoconceito Eu sou um nobre, não um plebeu. E enquanto aquele senso herdado de consciência de classe existisse, Ronie e os outros Arabel não eram fundamentalmente diferentes dos nobres superiores.
— Lady Asuna, talvez… — Ela começou a dizer. Mas não conseguiu continuar.
Ela não podia sugerir: Talvez devêssemos eliminar não apenas as categorias de nobreza, mas o conceito de nobreza em si. Não quando ela estava em posição de se tornar uma Cavaleira da Integridade, a classe mais exaltada de todas, graças à sua vantagem privilegiada. E ela não conseguia se separar dessa ambição. Receber um número de Cavaleira da Integridade, armadura prateada, um dragão para voar e a chance de servir Kirito pelo resto de sua vida… Era o único sonho que Ronie tinha. Era o que a impulsionava.
Asuna inclinou a cabeça, instando-a a continuar. Ronie balançou a cabeça e murmurou:
— Eu só ia dizer… seria possível permitir que Tiese escolhesse sua própria espada também…? Ela também tem usado uma espada do exército todo esse tempo…
— Essa era minha intenção. Recebi permissão para conceder uma espada a Tiese também.
— Fico feliz em ouvir isso. Obrigada.
Esperançosamente, isso ajudaria Tiese a recomeçar e iniciar um novo capítulo… Embora Ronie soubesse que não cabia a ela decidir isso.
Elas deixaram o arsenal enquanto os elementos de luz começavam a se apagar e os sinos das sete horas tocavam. Asuna anotou a hora de saída no livro e desceu as grandes escadas em direção ao escritório de assuntos gerais no segundo andar. Deixada sozinha novamente, Ronie contemplou o céu noturno, com seu último toque de roxo, através das enormes janelas ao lado da entrada do arsenal. Ela soltou o ar que estava prendendo.
Na Academia de Esgrima, onde passara apenas meio ano, havia uma regra de que jantar deveria ser comido até as sete horas e, se você se atrasasse sem uma desculpa válida, não recebia nada. Não havia tal regra na Catedral Central, é claro, então você podia conseguir uma refeição quente no refeitório do décimo andar a qualquer hora antes das nove. Depois disso, a cozinha ao lado tinha pratos menores pré-preparados que podiam ser comidos a qualquer momento.
Ela deveria estar com fome depois de toda a correria que fizera ao longo do dia, mas por algum motivo, não estava com vontade de comer, então Ronie voltou para seu quarto.
Normalmente ela pegaria a plataforma automática até o vigésimo segundo andar, mas com o peso da nova espada ao seu lado, ela escolheu subir as escadas para se acostumar.
Quase dois anos atrás, depois que Kirito e Eugeo escaparam da prisão, eles supostamente subiram correndo estas escadas até o quinquagésimo andar, lutando contra Cavaleiros da Integridade pelo caminho. Não havia vestígio daquela batalha agora, mas ela tentou adotar a mentalidade deles enquanto subia os lances de escada até chegar ao vigésimo segundo andar, respirando pesadamente.
Seu quarto ficava algumas portas adiante, no lado direito do corredor. Como eram aprendizes, ela dividia os aposentos com Tiese, mas sua parceira não estava lá dentro. Supondo que ela estivesse jantando, Ronie atravessou a sala de estar até seu próprio quarto.
Coincidentemente, a disposição — uma sala de estar com dois quartos individuais — era exatamente a mesma da suíte de Kirito e Eugeo no dormitório dos Discípulos de Elite, embora os quartos aqui fossem muito maiores. Seu espaço em casa antes de se mudar para a academia era apenas metade deste tamanho, só Ronie se sentia bastante desconfortável com tanto espaço. Mas à medida que adquiria móveis de seu agrado e mudava o design, ela descobria que se sentia cada vez mais em casa.
Na parede direita, ao entrar no quarto, havia uma grande janela voltada para East Centoria. A cama e a cômoda ficavam à esquerda, com uma pequena mesa à direita. Na parede oposta à janela havia um par de ganchos de montagem como os do arsenal. Ela caminhou até lá, removeu sua nova espada e a colocou ali. A bainha de couro preta combinava perfeitamente com o interior de móveis predominantemente marrom-escuros.
— Vou pensar bem e te dar um nome que combine com você. — Ela garantiu à espada, depois removeu sua armadura cinza e a colocou no suporte à direita do suporte da espada. Agora que se sentia muito mais leve, queria apenas se jogar na cama. Mas a jornada de amanhã precisava de preparativos, e ela tinha que fazer as malas.
Kirito dissera que ela deveria manter seus pertences dentro de uma mala padrão de tamanho médio, o que significava que ela tinha algumas decisões difíceis a tomar. Como uma garota prestes a completar dezessete anos, ela queria levar o máximo de roupas possível, mas esta não era apenas uma viagem de lazer; ela ia como guarda-costas de Kirito, então itens médicos e reagentes de artes sacras tinham prioridade.
Ronie precisaria examinar o que tinha à mão para saber o que deveria estocar na botica. Mas primeiro…
— …Quero um banho… — Ela murmurou, saindo do quarto e levando apenas uma muda de roupa íntima.
Os aposentos residenciais da catedral se estendiam do vigésimo ao trigésimo andar, com um banheiro compartilhado para cada andar. Normalmente, Ronie e Tiese usavam o de seu andar, mas de vez em quando… especialmente sabendo que estava prestes a deixar a Catedral por um tempo prolongado, havia um lugar diferente que ela gostava de ir.
Ronie continuou por todo o corredor até o poço vertical no ponto mais ao norte do andar. Ela ajustou o botão medidor para o ponto mais alto, o nonagésimo andar, depois pressionou o botão de metal.
Isso liberou o número necessário de elementos de vento para encher o recipiente na parte inferior do disco levitante e logo enviou Ronie para cima.
Meio minuto depois, a subida da plataforma começou a diminuir até parar, e ela abriu a porta de metal novamente.
Havia outro corredor curto à frente que terminava em uma bifurcação para cada lado. Cortinas brancas pendiam do teto logo antes da bifurcação e, misteriosamente, as cortinas eram pintadas com uma forma muito estilizada do caractere para banho.
As cortinas penduradas foram ideia de Kirito, e ele pintara o caractere nelas, mas ninguém sabia exatamente qual era o propósito daquilo. Apenas a Subdelegada Espadachim Asuna parecia reconhecê-lo, e ela manteve o silêncio com nada mais do que um sorriso contido e levemente irritado.
Cada vez que você caminhava pelo corredor, aproximava-se da cortina com perplexidade, levantava-a e tirava do caminho — a parte inferior tinha uma longa fenda vertical no meio — e então chegava à bifurcação. Depois disso, havia mais cortinas penduradas para os caminhos da esquerda e da direita.
A cortina azul-escura do lado direito dizia HOMENS em branco. A cortina vermelho-carmim do lado esquerdo dizia MULHERES. Essas exibições pelo menos faziam um certo sentido, exceto pelo motivo de precisarem ser escritas em cortinas penduradas. Então Ronie seguiu pela cortina marcada para mulheres. O corredor virava à direita em direção a uma sala espaçosa.
A sala, que apresentava grandes prateleiras que a atravessavam como paredes divisórias, não estava vazia. Três mulheres do departamento de artífices estavam vestidas com os trajes de uma peça do estilo oriental, secando os cabelos molhados enquanto sentavam em cadeiras de vime ao longo da parede. Elas começaram a se levantar quando viram Ronie, mas ela estendeu as mãos para mantê-las no lugar.
As mulheres pararam, meio levantadas, depois se sentaram novamente e inclinaram a cabeça em cumprimento.
— Boa noite, Lady Cavaleira.
— Como vai, minha senhora?
— Boa noite. — Ronie respondeu educadamente, depois correu para o lado oposto da sala. Assim que ficou atrás das prateleiras, soltou um suspiro de alívio.
Ela não fora elevada ao nível de cavaleira aprendiz tão recentemente, mas ainda achava muito estranho receber tratamento diferente de mulheres mais velhas. Mesmo que se tornasse uma cavaleira de pleno direito, Ronie sentia com certeza que a maneira ousada e orgulhosa que a Comandante Fanatio exibia nunca lhe viria naturalmente.
Ela rapidamente tirou as roupas e as colocou em uma cesta na prateleira, junto com a muda de roupa íntima limpa que trouxera, depois pegou uma toalha branca e a pressionou contra o peito ao abrir a porta de vidro nos fundos.
Ela foi recebida por uma súbita onda de vapor branco e espesso, então entrou rapidamente e fechou a porta atrás de si. O vapor se dissipou, e ela foi saudada por uma visão que nunca deixava de lhe tirar o fôlego.
O enorme espaço ocupava cerca de metade do nonagésimo andar da Catedral Central. O chão e os pilares eram feitos de mármore branco puro, e as paredes sul e leste eram um enorme painel de vidro, criando uma vista noturna completa de Centoria. Só isso já o tornava ainda mais luxuoso que o antigo salão do trono imperial, mas ainda mais impressionante era a incrível quantidade de água aquecida que cobria o chão, que descia em uma série de degraus.
A câmara de banho tinha 40 mels de norte a sul e 25 de leste a oeste. As passarelas que cercavam o banho tinham 2 mels de largura, e tinha cerca de um mel de profundidade, resultando em um cálculo aproximado de 874 mels cúbicos. Convertido em medida líquida, isso era astronômicos 874.000 lirs. E, de fato, do outro lado da parede oeste – o lado além da cortina masculina – havia um banho simetricamente disposto do mesmo tamanho, então a quantidade total de água era o dobro desse volume.
Este era o Grande Banho, ou como Kirito gostava de dizer: “A instalação mais luxuosa da Catedral Central.”
Antes da Guerra do Underworld, apenas trinta Cavaleiros da Integridade tinham permissão para usar este espaço, e não havia parede divisória, então frequentemente acontecia de apenas uma pessoa ter o dobro da quantidade de água para si. Mas com a reestruturação da instituição, o banho foi aberto a todos os outros membros do corpo docente e dividido em lados masculino e feminino.
Havia cerca de vinte pessoas usando-o agora, mas como o banho era do tamanho de um pequeno lago, não havia nenhuma sensação de superlotação.
Apesar disso, Ronie caminhou até o canto sudeste vazio e mergulhou o dedo do pé na água cristalina. Pareceu quente a princípio, mas sua pele se ajustou enquanto ela descia os degraus até sentar no último degrau.
Com água quente até o pescoço, ela sentiu uma sensação avassaladora de alívio que simplesmente não existia nos banhos de tamanho prático dos andares residenciais. Isso entorpeceu sua cabeça e a fez gemer:
— Unhhhh…
— Grandes banhos são simplesmente os melhores.
— Realmente são… — Ela concordou, depois olhou ao redor em pânico. De alguma forma, havia alguém sentado logo à sua esquerda.
Quando o vapor que pairava sobre a superfície se desfez e revelou o rosto da pessoa ali mesmo, Ronie recuou novamente.
Ela tinha cabelos castanho-claros curtos o suficiente para que as pontas molhadas grudassem na nuca, e grandes olhos azul-claros. Ela estava sentada um degrau acima de Ronie e era tão pequena e delicada quanto uma criança. Na verdade, ela parecia uma menina de uns dez anos, mas por dentro, não era nem de perto tão inocente.
— B-boa noite, Lady Fizel. — Ela disse, tão desajeitadamente quanto as mulheres no vestiário haviam cumprimentado Ronie. A menina bateu os dedos na superfície da água.
— Não me venha com essa de “Lady”. Você é mais velha que eu, Ronie.
— M-mas… você é uma cavaleira de verdade, Lady Fizel…
— Grrr. Por que sinto que já fizemos essa cena umas cem vezes? — resmungou a menina, que ergueu as pernas ao nível da superfície e chutou os pés para espirrar água. Seu nome era Fizel Synthesis Twenty-Nine.
Durante a Guerra do Underworld, ela tivera um status especial de “aprendiz numerada”, mas depois, recebera uma promoção adequada, e agora era uma Cavaleira da Integridade de pleno direito. Ela tinha uma armadura prateada ajustada para sua pequena estatura e um dragão chamado Himawari, ou Girassol, que usava principalmente para reconhecimento, por todo o reino humano.
— Não tenho te visto ultimamente, Lady Fizel. Você estava em outra missão? — Ronie perguntou.
Fizel afundou até a boca ficar no nível da água.
— Sim. Os remanescentes dos Cavaleiros Imperiais do oeste estão agindo de forma estranha, então fui verificar. Na verdade, Linel ainda está lá, eu só voltei para reportar e reabastecer os suprimentos.
— Entendo… Aldares Wesdarath V foi o único imperador cujo corpo nunca foi encontrado, correto? Você supõe que haja alguma relação aí?
— Mmm, a arte de Liberação de Memória da Irmã Fanatio queimou completamente o Palácio Imperial do oeste até o chão, entende. O imperador já era um homem idoso naquela época, então não consigo imaginar que ele tenha sobrevivido. Mas certamente há pessoas que gostariam de fazer você pensar que ele está vivo.
Ela podia estar soprando bolhas na superfície da água enquanto falava, mas certamente não era o tipo de coisa que uma criança de dez anos falaria. Fizel, no entanto, não era necessariamente tão velha quanto parecia. Ela nascera na Catedral e, junto com sua parceira, Linel Synthesis Twenty-Eight, não passara pelo Ritual de Síntese, mas por algum motivo, quando a Administradora escolheu tornar as meninas aprendizes de Cavaleiras da Integridade, ela realizara a arte de congelamento de vida nelas ainda crianças, em vez de no auge de seu crescimento e valor de vida, como era costume. Em outras palavras, as meninas manteriam sua aparência atual sem envelhecer – visualmente, pelo menos.
O pensamento fez Ronie querer abraçar as meninas com força para confortá-las, mas ela nunca o fizera de fato. Não apenas elas eram cavaleiras seniores para ela, mas dizia-se que tinham números oficiais como aprendizes porque haviam matado os cavaleiros anteriores com esses números. Além disso, elas supostamente tentaram matar Kirito e Eugeo com facas revestidas de veneno paralisante e, durante a guerra, também massacraram sozinhas toda a tropa goblin invasora que contornara a retaguarda do Exército Guardião Humano. Em outras palavras, as histórias eram inumeráveis, e todas eram horripilantes. Não havia nada de assustador em conversar com elas, em si, mas eram claramente pessoas com quem você queria ter certeza de que estava demonstrando o devido respeito.
— Mais importante, Ronie…
Ronie se endireitou desajeitadamente com o choque de ouvir seu nome.
— S-sim?
— Eu ouvi as notícias. — Fizel sorriu, flutuando na superfície do banho. — Você vai acompanhar Kirito em sua viagem a Obsidia?
— Er, bem, eu…
A viagem deles ao Território Sombrio era ultrassecreta, mas Ronie logo percebeu que provavelmente era inútil guardar segredos da melhor agente de inteligência da Catedral.
— …Sim, vou. — Ela admitiu.
— Se você pudesse me trazer uma lembrancinha, eu apreciaria uma seleção de ervas arcanas da guilda dos magos sombrios.
— …Eu… eu vou tentar…
— Ah-ha-ha-ha! Estou só brincando. — Fizel disse, exibindo um sorriso apropriado para a idade. Ela se sentou ereta no degrau mais alto e contemplou a paisagem através da janela de vidro.
Ronie seguiu seu exemplo e viu, no fundo da escuridão, as luzes de East Centoria tremeluzindo como estrelas. Muitos de seus edifícios eram construídos no estilo tradicional de madeira e, em vez de lamparinas a óleo, usavam lanternas feitas de papel ou tecido fino. Elas faziam a luz da cidade parecer um pouco mais quente, de alguma forma.
Muito além, a setecentos e cinquenta kilors de distância, ficava o Portão Oriental. Obsidia jazia a mais de dois mil kilors além disso. Ela aprendera na academia que o nome da cidade vinha da palavra sagrada obsidiana, mas a professora não sabia o que deveria significar.
Ela se viu fazendo perguntas bastante bobas como: Será que vou entender quando vir por mim mesma? Estou realmente indo para lá, para o outro extremo do mundo?
— Quando você for lá… — Fizel murmurou. Ronie olhou de volta para a jovem cavaleira sênior.
— Sim…?
— Hmm… Bem, a guerra acabou agora, então espero estar apenas pensando demais…
Não havia ninguém por perto, e o fluxo vigoroso de água fumegante do bico na parede teria abafado qualquer som que pudesse ter passado, mas Fizel se inclinou para perto de Ronie em um sussurro conspiratório mesmo assim.
— Mantenha os olhos abertos em Obsidia. Sempre se cuide.
— Eu… eu vou…
— O Pacto de Paz dos Cinco Povos está ativo agora, mas as terras sombrias ainda são governadas pela Lei do Poder — alertou Fizel. — O Comandante Iskahn é o homem mais poderoso no momento, e ele está na facção pela paz; Lady Sheyta também está lá, para ajudá-lo a manter as coisas sob controle na superfície… Mas mesmo aqui, existem brechas e lacunas nas muitas camadas do Índice de Tabus e da Lei Humana Básica que nos prendem, que pessoas inescrupulosas podem interpretar em seu próprio benefício. Lá, a lei é muito mais vaga, então pode haver ainda mais gente má à espreita por onde quer que você vá.
Ronie sentiu como se a temperatura da água tivesse caído. Ela estremeceu involuntariamente, e Fizel estendeu a mão para dar um tapinha na mão dela.
— Desculpe, desculpe, não quis te assustar.
— N-não, estou bem. Levarei seu conselho a sério.
— Mm-hmm. Quando você voltar, nossas missões provavelmente terão terminado, então podemos convidar Tiese para uma pequena festa de encerramento para comemorar.
— Sim, isso seria maravilhoso! — Ronie concordou.
Fizel sorriu e se levantou.
— Nesse caso, estou saindo agora. — Ela disse com um aceno.
Enquanto os pés da jovem cavaleira batiam na superfície de mármore da passarela, Ronie curvou-se para ela mais uma vez.
Fizel era a vigésima nona cavaleira. A trigésima era Alice, a Cavaleira Osmanthus, mas ela partira para o mundo real no final da Guerra do Underworld. O trigésimo primeiro, Eldrie do Chicote de Escama de Gelo, perecera protegendo Alice. Seus números estavam agora aposentados, então se Ronie e Tiese fossem promovidas a cavaleiras oficiais, uma provavelmente seria a Trigésima Segunda, e a outra, a Trigésima Terceira.
Ela ansiava por aquele dia, sem sombra de dúvida. Mas isso também a enchia de uma dolorosa apreensão, um sinal claro de que ela ainda não estava pronta para isso. A habilidade de Ronie com a espada e as artes, juntamente com sua força mental, ainda não chegava nem perto da dos cavaleiros superiores como Renly, ou mesmo Fizel e Linel, as crianças.
Um passo de cada vez.
Lento ou não, o único caminho a seguir era um passo de cada vez. Contanto que ela não desistisse de seu autoaperfeiçoamento e tentasse aprender com afinco, ela alcançaria o lugar que desejava estar.
— …Ronie Synthesis Thirty-Three…
Ela olhou ao redor rapidamente para se certificar de que não havia ninguém ali. Ninguém a ouvira experimentar o nome, mas ela afundou a cabeça debaixo d’água por pura vergonha. Ela soprou bolhas em um fluxo constante até finalmente ficar sem fôlego.
Tradução: Gabriella
Revisão: Pride
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